Oh, McKinnon!



Três garotos saíram da passagem aberta da sala do diretor de Hogwarts, Albus Dumbledore, com as expressões entre frustradas e raivosas. Os trajes iam esvoaçando conforme eles pisavam duro, passos largos e precisos, em direção às masmorras. Havia uma discussão, em baixo tom, mas definitivamente, uma discussão.
    - Eu falei, eu avisei que... – Travis falava em tom de superioridade.
    - Ah, cala sua boca, Lestrange! – Severus bradou, com cara de tédio.
    - Agora, vamos ficar sob a mira do velhote aí... – Domini acenou com a cabeça para trás, deixando bem claro de qual velhote falava. – E por pura sorte não fomos expulsos.
    - Bletchley... Na boa, o que você tem de músculos te falta de cérebro, não é? – Severus virou-se para ela, parando de andar. – Ele não pode nos expulsar por causa de um ataque de pânico da profetisa anã.
    - Snape, o que você tem de nariz, não tem de esperto – Domini revidou, fechando os dedo contra os punhos enormes. – Que ataque de pânico? Nós piramos a garotinha lá, ela nem merecia, o Longbottom, sim, aquele idiota amante das plantinhas. Eu queria tanto que ele me chamasse para um duelo... – Os olhos claros de Domini faiscaram de maldade.
    - Longbottom? Duelo? Hump... Sonha... – Travis riu em deboche.
    - Longbottom deve pedir para a mãezinha dele amarrar os cadarços do seu tênis até hoje... – Severus caçoou.
    - Por que vocês não pagam para ver?
    Uma voz firme, convicta e definitivamente muito próxima deles ressoou no corredor, fazendo os três virarem-se, dando de cara com Frank Lonbottom, de braços cruzados na frente do corpo, olhando para eles com olhos indecifráveis. Eles arregalaram os olhos: por essa, eles, definitivamente, não esperavam.
    - Então? Implicar com uma garota é fácil, não é? Por que não implicam comigo? – Frank estava irreconhecível.
    Domini deu um soco no ar, parecia extremamente feliz pela provocação e deu um paço a frente com um olhar dissimulado em direção a Frank. Severus o segurou pelo braço, os olhos tão arregalados que poderiam saltar a qualquer momento.
    - Está maluco? Quer ser expulso de verdade?
    - Ele está me provocando! – Domini se defendeu.
    - Ah, estou mesmo – Frank afirmou. – Mas eu não sei se essa expressão existe no vocabulário de vocês... Eam... “Luta sem covardia”... Então, eu explico: um contra um, entendem? E Bletchley... Meu problema não é contigo – O dedo de Frank desenhou um arco no ar, apontando diretamente para Severus. – É com você.
    Travis e Domini olhara simultaneamente para Severus, que, do nada empalidecera. Frank tinha um olhar seguro, cheio de decisão. Deu dois passos para frente, mas manteve uma certa distância dos Sonserinos.
    - Vamos lá... Como os garotos te chamam? Err... Ranhoso! Ranhoso, se algo de pior tivesse acontecido à minha Alice, eu te levaria direto para o inferno!
    - Longbottom, meça suas pala... – Severus começou, se inclinando para frente, mas Frank rosnou, com o dedo quase tocando a ponta no nariz do outro.
    - Você não sabe do que eu sou capaz... Você não sabe com quem está brincando!
    - Ei, ei... Você é minoria aqui, Longbottom! – Travis se colocou na frente dele.
    - Quem disse? – James Potter surgiu atrás de Frank, com um olhar zombeteiro por cima dos óculos. – Assim, é fácil, três contra um... Quero ver dois contra dois!
    - Epa! Não, não... – Sirius surgia no fundo do corredor, vindo sabe-se lá de onde, pensou James. – Três contra três! Estamos em números iguais, isso é o que eu chamo de “feliz coincidência”.
    Frank olhou de relance para os dois amigos. “Eu heim...” pensou, balançando a cabeça. Sirius e James pareciam ter um imã para confusão, apareciam sempre nos melhores – ou piores, dependendo do ponto de vista – Momentos. Não que Frank ligasse, já que de Sonserinos não se esperava nada além de covardia.
    - Potter – Severus ergueu uma sobrancelha e um risinho de canto apareceu nos lábios finos – Black. Vocês sempre tão prestativos, não? Agora eu entendi o excesso de confiança do Longb...
    Antes que Severus terminasse a frase, Frank, em fração de segundos – assustadoramente, ninguém percebeu isso. – sacou a varinha, apontou para o rapaz, o agarrou pelo colarinho e o fez desequilibrar, dando um passinho involuntário para frente.
    - Meu excesso de confiança, Snape, significa que eu estou farto de você... que eu quero vingar o que você fez com Alice!  Eu dou conta de você sem mais ninguém por perto, se eu fosse você... não duvidaria.
    James e Sirius se entreolharam, perplexos. Frank estava possuído, era a única explicação. E isso era simplesmente fabuloso. Os dois rapazes pareciam ter se comunicado por telepatia, e começaram a aplaudir e dar vivas a Frank.
    - Aêêê, Frank! – James bradou, logo após deu um assovio alto.
    - Muito bom, queremos bis! Faz de novo, faz de novo! – Sirius batia palmas acima da cabeça.
    - Que palhaçada é essa? – uma garota loira, com os olhos inchados, se aproximava andando rápido.
    James olhou dela para Sirius. Sirius piscou para ele, que olhou novamente para ela, reparando nos olhos fundos e tristes, ligeiramente molhados. James fez um sinal de positivo, dando um risinho bobo. Sirius fez uma reverência de “obrigado”.
    Amanda passou por entre os garotos da Grifinória, e parando perto de Domini, ela virou-se, o puxando pela manga das vestes. Estava pálida e os lábios tremiam, como se fosse voltar a chorar.
    - Amor – ela murmurou teatralmente. – Ele... – e apontou para Sirius – me agarrou a força!
    - QUÊ??? – Sirius exclamou, deixando os ombros caírem.
    - Ele me beijou à força, eu tentei me soltar dele, mas... eu não consegui, foi horrível! – Amanda começou a chorar convincentemente.
    James e Sirius, entretanto, conseguiam achar alguma graça, porque romperam na gargalhada. Amanda fechou a cara, comprimindo os lábios numa linha fina. Domini estava confuso, parecia não ter assimilado nada do que ela falava. “Desde quando Sirius Black precisa pegar alguma garota na marra?” Ele pensou, e agradeceu por ninguém poder ler sua mente. Aliás... Se alguém lesse sua mente, sua fama de “porrador” num segundo se esvairia pelo ralo, água abaixo.
    - Ai, ai... – Sirius tentava recuperar o fôlego. – Stonebreaker... você é uma sádica, eu devo admitir...
    Os demais olhavam de Amanda para ele, muito quietos, tentando entender alguma coisa. Amanda fervilhava de ódio de Sirius. Era insuportável vê-lo ali, rindo da sua desgraça. Aquilo a fez ser insensata. Num piscar de olhos, a garota sacou sua varinha e apontou diretamente para Sirius, completamente longe da cena, rindo de se acabar e nem prestando atenção no que ela estava fazendo. Ela apontou sua varinha, gritando com vontade.
    - ESTUPEFAÇA!
    Mas, do outro lado do corredor, uma voz mais firme e convicta bradou:
    - PROTEGO MÁXIMA!
    O contra feitiço foi conjurado com tanta confiança e exatidão que acertou em cheio Amanda. Essa se desequilibrou e se estatelou no chão, de costas. Travis e Severus abriram caminho para deixar o corpo inerte dela deslizar pelo mármore, como se fosse um esfregão de limpeza encerando o chão.
    Sirius parou de rir imediatamente, somente agora se dando conta do que acontecera.
    - Da próxima vez que decidir atacar alguém na covardia e contar mentiras deslavadas, sua loira branquela e azeda, certifique-se que não há alguém observando sua conduta inadequada, Loira burra!
    Marlene McKinnon vinha andando, guardando a varinha por dentro da veste, com um sorriso de vitória no rosto e cruzando os braços. Atrás dela, Lily Evans e Emmeline Vance pareciam amedrontadas. James, Frank e, claro, Sirius, estavam embasbacados. Severus, Domini e Travis deram um passo para trás.
    - Não ofende as loiras, Lene... – Emmeline falou, mas Lily deu uma cotovelada em suas costelas.
    - Cala a boca, garota, não se mexe com Lene na TPM! – Lily murmurou.
    - Desculpa, amiga, você é uma loira inteligente – A morena piscou para a amiga.
    - Obrigada... – A menina jogou um beijinho para Marlene. Em seguida virou-se para Lily. – É, ainda tem algo de Marlene naquele monstro ali...
    - O que foi isso? – Sirius perguntou, assim que conseguiu fechar a boca.
    - Ah... – Marlene corou. – Acho que foi uma descarga de adrenalina... Isso é muito comum em situações...
    - Você... – Sirius a interrompeu, entorpecido – Me... Defendeu?
    Marlene olhou de relance para as amigas. Domini ajudava Amanda a se levantar.
    - Bom, eu só fiz o que qualquer um faria... – Ela falou em tom humilde.
    - Não leva a mal... – Frank ergueu a mão, em sinal de “não me mate” – mas, Oh, McKinnon! Eu nunca presenciei um “Protego Máxima” tão, tão... Perfeito!
    - Verdade, nem eu! – James balançou a cabeça, despertando de um transe existencial.
    Sirius, entretanto, parecia estar em estado de Alfa. Nem quando Amanda finalmente se levantou e partiu para cima de Marlene ele saiu da concentração superior.
    - Isso não vai ficar assim, McKinnon! OUVIU? Isso não VAI FICAR ASSIM! – A loira gritou.
    - Claro que não, vamos comentar com Slughorn o tipo de covardia que os alunos dele andam fazendo pelos corredores, atacando alunos. – Marlene revidou serenamente.
    Antes que a briga se estendesse por mais tempo, Minerva McGonagall se aproximou, acompanhada por Alice Prewett, ainda pálida e meio abatida. A expressão da diretora da Grifinória era de decepção. Alice, porém, olhou para Frank com olhar duro – Sabia exatamente o que ele estivera prestes a fazer. Frank ruborizou, andando como um gato escaldado para o lado da namorada.
    - Eu ouvi os gritos – ela comentou, olhando de Amanda para Marlene. – Eu não acredito que você, Srta McKinnon, tão centrada e inteligente, está se metendo numa dessas...
    - Professora... – Sirius cutucou o ombro de Minerva. – Desculpa, a culpa foi minha.
    - Por que eu não me surpreendo com isso, hã? – ela fez ar de tédio.
    - Não, é sério. Eu provoquei a Stonebreaker, e ela se irritou. Como eu estava distraído, Marlene me defendeu de um feitiço estuporante – Sirius se ajeitou, fez uma pose solene e seu olhar agora era cheio de suspense. – Se não fosse McKinnon aqui... Oh, eu estaria estuporado e inconsciente à essa altura.
    Marlene sentiu vontade de chorar, não de tristeza, mas de emoção, porque após a declaração, Sirius lançou a ela um olhar tão sincero, tão intenso e tão... Apaixonado, como ela nunca, mesmo, tinha visto dentro daqueles olhos lindos, num tom cinza com rajadas pretas que ela tanto amava. Ela nunca vira nos olhos de Sirius o mesmo sentimento que dispensara por ele, mas agora... Ela poderia jurar que viu de relance uma chama diferente.
    - Admiro sua nobreza em defender as garotas, Sr. Black... Mas isso não é bem assim... – Minerva olhou duramente para as duas. – Quero que as duas me sigam – e girou nos calcanhares, olhando para Frank e Alice. – Sr. Longbottom, eu estava levando Srta Prewett para o Salão Comunal, espero que o Sr ainda se recorde o caminho e a deixe em segurança lá, agora mesmo, se me entende...
    Frank fez um “sim” com a cabeça, e pegando Alice pela cintura, sumiu de vista o mais rápido que pôde. Depois, a professora virou-se para os três baderneiros da Sonserina, que agora – quem os viu, que os vê – pareciam os três porquinho com medo do sopro do lobo mau derrubar a cabaninha de palha deles.
    - Eu não sei se estou bem lembrada, mas acho que estão em detenção e deveriam estar o mais longe possível das confusões, pelo bem da vida acadêmica de vocês – ela apontou o corredor – agora, sumam da minha frente em 5 segundos e eu esqueço que os vi aqui...
    Sem pestanejar, os três saíram correndo. James deu um risinho baixo. “Que covardes...” pensou. O olhar de Minerva o encarava assim que ele levantou a cabeça. “o-ou...”
    - Eu não sei como isso acontece... mas sempre que se fala em confusão, vocês dois estão no meio – ela fez referência a Sirius como sendo o “mais um” dos dois citados.
    - É... Magnetismo o nome disso, tipo positivo com negativo se encontram, professora, tipo, somos atraídos... – James começou a falar fazendo um gesto com as duas mãos se encontrando no ar, mas Minerva respirou tão ameaçadoramente que ele desistiu da explicação de física – Ok, parei, parei... – E deu um risinho amarelo.
    Minerva revirou os olhos. Lily também. Emmeline mordia os lábios para não rir. Sirius estava ocupado demais olhando para Marlene, como se ela fosse o último lançamento de moto da Harley Davidson. Ela evitava o olhar dele para manter-se concentrada, mas estava corada e, assim como Emmeline, mas por um motivo muito mais nobre, se esforçava para não sorrir. Amanda olhou de um para o outro com pura raiva. Abriu a boca para falar algo, mas a professora foi mais rápida, apontando para Lily e Emmeline.
    - Vocês duas, juntem-se ao Sr Potter e ao Sr Black no caminho do Salão Comunal...
    - Não... – Sirius exclamou, somente agora desviando os olhos de Marlene. – Se a Sra Vai levá-las, eu também vou.
    - Você está pedindo uma detenção? – Minerva o fitou incrédula.
    - Não, estou tentando ser justo. A culpa não foi delas, como eu já disse, e eu estou disposto a assumir minha parcela de culpa. Eu posso ser tudo, menos injusto, a Sra tem que concordar.
    - Que seja, que seja...! - ela fez um movimento com a mão, virando-se para caminhar até sua sala. – Então, venham comigo... se eu pegar mais alguém no corredor, eu juro que vou distribuir suspensões em massa! – ela falou em tom alto, e ouviu-se passos mais distantes dali começando uma corrida – Bando de curiosos juvenis!
    James, Lily e Emmeline se entreolharam, confusos, por um momento. De repente, James sorriu para Lily, e ela corou, dando um sorrisinho de canto. Emmeline sentiu que seu olhar não era mais necessário na cena, e que ela estava sobrando. Então, quando começaram a caminhar para o Salão Comunal, ela tratou de ir na frente, cantarolando qualquer coisa sem sentido, só pra fingir – mal e porcamente – que não estava prestando atenção na conversa dos dois.
    - Lene é sempre tão impulsiva assim? – Ele perguntou, jogando o cabelo para trás.
    - Não... Só quando mexem com quem está quieto – ela comentou, apertando as mãos.
    - Foi espetacular! Sirius agora está se sentindo o último sapo de chocolate da Dedos de mel.
    Lily riu. Emmeline disfarçou para dar uma olhadinha para trás. Quando percebeu os olhos dos dois encima dela, virou-se ligeiramente e andou mais rápido. “oh, droga, eu sou uma péssima observadora!”.
    - Então, Lily... pensou no que eu te disse? Não estou te pressionando, mas... Só pra saber – James perguntou em tom casual.
    - Ah... – O coração de Lily disparou. – Eu... Bom...
    - Ok, não precisa terminar, já entendi – Ele bufou. – Será que algum dia eu vou ter chance com você?
    - Não é bem assim, James... – Ela mordeu o lábio. – Eu... Puxa, entenda meu lado...
    - Ah, eu entendo. Estou entendendo você há 6 anos... Vou ganhar um diploma de Cientista Sênior em comportamento de Lily Evans, que vai ser entregue junto com o troféu do prêmio “O pentelho persistente do ano”...
    Lily não agüentou e gargalhou. Emmeline não disfarçou e virou o corpo todo para trás para ver o que tinha acontecido. James estava, estranhamente, sério.
    - Que foi? – Ele quis saber.
    - Você é cômico! – Lily falou quase sem ar.
    - Sei... então é isso. Eu sou o bobo da corte da princesinha, não é?
    Ela parou de rir abruptamente. Emmeline voltou a andar com uma expressão de “ih, sujou...” no rosto e correu para o Salão Comunal
    - Não, James... Eu só comentei que...
    - Que eu sou palhaço demais para você, a garota mais séria que eu já conheci.
    - Eu não disse isso, por favor...
    - Olha, Lily – James fez um sinal com mão, encerrando o assunto –, chega. Eu já entendi. Não precisa mais me dar foras, eu estou desistindo, Ok? Nunca mais vou te perturbar, ou te pediu nada... Eu reconheço, eu perdi. Sou um fracassado...
- Não fala assim! – ela arregalou os olhos.
    - Não, tudo bem... Eu ainda tenho um pinguinho de orgulho e amor próprio, sabe? Vou tentar resgatá-los antes que seja tarde. Mas saiba, Lily Evans, eu não me arrependo de nada... você, definitivamente, vale a pena. Espero que você encontre um cara mais sério e centrado que eu, que te faça feliz pra valer. Eu... bom, eu... Vou ver se depois de terminar a escola, eu entro para uma trupe circense trouxa, para fazer mágicas para as crianças e velhos bêbados. Acho que nisso eu sou bom. Com licença. Não quero mais tomar seu precioso tempo...
    - Mas... James...? – Lily ficou parada, com a mão estendida, vendo o garoto caminhar com a cabeça baixa, profundamente desgostoso.
    Mas, na verdade, James abaixou a cabeça para que ela não percebesse que em seus lábios havia um sorriso de pretensão. “Eu amo esse negócio de psicologia reversa... Benditos sejam os psiquiatras trouxas...” ele pensava, enquanto entrava pela abertura do Salão Comunal da Grifinória.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.