Irmãos e Inimigos



Antes da primeira aula do dia, Hogwarts inteira sabia do ataque de Comensais da Morte que custava a vida de Edward Prewett.
      E isso nem se devia em todo à carta recebida por Alice, pois era só alguém ter aberto a edição matinal d’O Profeta Diário para ler tal notícia. Assim fez a maioria dos alunos assinantes do jornal. Um clima de luto, revolta e medo pairava pelos corredores, todos com medo de abrirem no dia seguinte o jornal e se depararem com a informação de que um de seus entes queridos havia também morrido.
     A matéria era categórica, não ocupava lugar de destaque, mas estava na primeira página, com informações complementares na página 3, juntamente com uma foto do rapaz muito bonito e risonho que ele era:


Novo ataque de Comensais da Morte mata jovem na noite de ontem.

Na noite de ontem, por volta das 09:00h, Edward Prewett, de 18 anos, foi cercado num bairro trouxa por dois bruxos assumidamente seguidores das Trevas. O jovem quando surpreendido estava na presença de uma trouxa (já devidamente obliviada) e não houve testemunhas – exceto ela – do ataque.
Antes de obliviada, a menina trouxa, cuja identidade foi mantida em sigilo, relatou que era namorada do rapaz, não sabia que ele era bruxo e que ele foi abordado por uma mulher pálida de cabelos negros e expressão de louca e por um homem imenso que lembrava um lobo – palavras da mesma.
O rapaz foi morto por uma maldição imperdoável e seu corpo foi depositado na frente da casa de sua família, como um aviso. No local, a Marca Negra foi conjurada logo em seguida. Chace Prewett, pai do rapaz, é Auror do Ministério da Magia e há tempos vem trabalhando para capturar os bruxos seguidores das Trevas, que atualmente estão cada vez mais mandando seus “avisos” sobre uma possível guerra. Não sabe-se de onde surgiu esse possível “Império das Trevas”, mas cada dia mais o Mundo Mágico vem sendo ameaçado por Aquele-que-não-deve-ser-nomeado e seus seguidores.
A família Prewett está inconsolada e os pais do rapaz, Chace e Stella Prewett, não quiseram falar com nossa redação. Entretanto, Antonella Prewett, prima do rapaz, afirma que ele começaria seu treinamento para Auror ainda esse ano: “Edward sempre quis lutar, estava disposto a se afiliar à alguma Ordem que pudesse o aceitar mesmo sem ser Auror ainda. Tio Chace não aceitava isso de jeito algum, mas ele sempre foi um teimoso” relatou a bela jovem à nossos repórteres.
Fabian Prewett, primo do pai da vítima, descreve Edward como um jovem talentoso e corajoso. “Meu sobrinho era um legítimo guerreiro Gryffindor. O Mundo Mágico com certeza perdeu um perfeito soldado, ele fará falta para todos nós”, diz o Auror. Molly Weasley, também prima de Chace Prewett, diz que Edward era um rapaz muito prestativo: “Dudy, era assim que a irmã dele o chamava, sempre foi muito gentil conosco. Várias vezes ele me ajudou com Bill, Charlie e Percy, meus filhos, e ele era muito bom em entreter crianças. Seria um ótimo pai se o tivessem dado a chance de viver...” A Sra Weasley não conseguiu dar final a sua entrevista, pois teve uma crise compulsiva de choro e está grávida de um mês, não sendo recomendado a ela emoções fortes.
 O Ministério da Magia se pronunciou com possíveis suspeitos do ataque, partindo da descrição feita pela jovem. A mulher parece ser Bellatrix Black e o homem parece ser Fenrir Greyback.



Na mesa bronze e azul da Corvinal, uma jovem deixava discretamente suas lágrimas caírem sobre o jornal aberto.
      Alguns alunos repararam a cena, mas como nenhum deles era muito amigo dela, que nunca dera muita abertura para ninguém sobre sua vida, apenas murmuravam um “sinto muito” ou davam um leve aperto no seu ombro, como um consolo. Sabiam que Rachel Clearwater fora namorada do rapaz morto.
     Muito diferente das demais três mesas, onde os alunos estavam amuados e apáticos, a mesa verde e prata prosseguia sua vida como se nada tivesse acontecido. Aliás, havia até alguns alunos que davam risinhos e jogavam comentários jocosos no ar. Narcissa Black estava impressionada com a matéria, mas não parecia nenhum pouco abatida com a acusação contra sua irmã. “Ainda bem que Lucius não se meteu nessa”, foi o único comentário tecido a respeito do ataque, depois foi debater com as amigas qual seria o melhor jeito de livrar-se das olheiras com maquiagem.
     Outro membro da família Black, no entanto, parecia animado demais para quem tinha uma prima sendo acusada de homicídio. Regulus Black mostrava o jornal para os amigos como se fosse um certificado de honra ao mérito em periculosidade máxima.
     - Estão vendo? – ele falava com brilho nos olhos negros. – Bella, ela sempre fora fiel ao Lord das Trevas, agora está fazendo sucesso!
     - Sucesso? – Severus Snape resmungou num sorriso sem humor. – Ela está sendo acusada de matar alguém, isso não é fazer sucesso, ela foi burra o suficiente para se deixar ver e agora será caçada.
     Regulus o olhou inexpressivelmente, se privando de comentários. O ignorou então e prosseguiu no seu relato como ser um legítimo Black.
     - Bella honra o nome da família, não é como uns e outros que nos dá desgosto só com sua existência maldita... – e o rapaz apontou com o queixo para a mesa da Grifinória, onde seu irmão mais velho, Sirius Black, estava sentado e desolado, como o resto dos amigos de Alice Prewett.


Edgar Bones levantou-se correndo da sua mesa ornamentada de Amarelo e Preto, sua expressão era tensa e trazia consigo o jornal que acabava de ler.
     Parou ao lado de James Potter e Remus Lupin. Estava ofegante, como se a ponto de chorar. Dorcas Meadowes o observou de canto de olho, mas não era hora para flertes ou qualquer outro tipo de idiotice que pudesse fazer. Estava, assim como suas amigas, num momento de constrangimento pela perda de Alice.
     - Onde está Alice? – perguntou, aflito.
 James deu de ombros. Remus parecia não tê-lo ouvido. Estava com a musculatura tão tensa que parecia incapaz de mexer-se.
     - Ela soube pelo jornal? – insistiu o lufano.
     - Não, os pais dela escreveram uma carta, ela recebeu antes d’O Profeta Diário chegar.
     - Oh, céus, ela deve estar arrasada! – Edgar estalou os lábios. – Vou ver se a encontro...
     - Edgar – o rapaz sentiu uma leve mão em seu ombro e só então se deu conta que Rachel Clearwater estava parada logo atrás dele, com os olhos inchados. – Eu vou com você.
     Ele passou o braço pelos ombros da garota, como se a tentasse consolar, e os dois saíram dali, ganhando o corredor para procurarem pelo casal sumido.



Sirius Black olhava com ódio para a mesa da Sonserina.
     Ela podia ver seu irmão mais novo, Regulus, feliz e satisfeito, como se tivesse lido a notícia que ganhara na loteria. Os irmãos Black se negavam desde sempre. Sirius e Regulus podiam ser irmão, mas eram em tudo diferentes, por isso, passavam a maior parte do tempo ignorando um ao outro. Não se falavam – exceto quando era inevitável ou quando brigavam – e se não fosse pelo mesmo sobrenome, ninguém diria que eram parentes, ainda que fisicamente fossem semelhantes, ambos altos, elegantemente magros e com cabelos negros e lustrosos. A maior diferença era que os olhos de Regulus eram pretos e os de Sirius tinham um tom acinzentado.
     Aquela alegria descabida estava irando Sirius. Era como uma abelha o ferroando incomodamente. Para o rapaz, o pior destino que poderia ter acontecera no dia em que nasceu: ser um Black. Sua família o desprezava, com razão, tanto que desde o ano anterior ele passara a viver com a família Potter, tendo abandonado sua casa, seu irmão idiota e sua mãe psicótica.
     Numa explosão de raiva, não mais se contendo em sua irritação, Sirius levantou-se resoluto da mesa. Os outros alunos da Grifinória acompanharam com os olhos, confusos, o trajeto do rapaz até a mesa da Sonserina. Regulus e os demais alunos também o questionavam as intenções com os olhos. Ao chegar no irmão, o puxou pelas vestes estupidamente, fazendo com que levantasse involuntariamente.
    - Está feliz, seu grande idiota? – Sirius falou num rosnado, encarando o irmão.
    Regulus riu debochadamente, fazendo o irmão trincar os dentes.
    - Claro que estou, é sempre bom lembrar-se que ainda existem membros da família que se lembram disso...
    Se o rapaz Sonserino ia dizer algo a mais, ninguém saberia dizer, pois Sirius fechara o punho, deferindo um soco no rosto do irmão, no qual continha toda sua raiva. Regulus vacilou e caiu com o tronco sobre a mesa, fazendo dois garotos afastarem-se de suas cadeiras e alguns pratos e copos caírem, quebrando sua porcelana.
    Isso foi o suficiente para começar uma guerra entre casas. Regulus se recompôs tão rapidamente quanto pôde, havia um filete de sangue fluindo de seu nariz e estava já com a varinha em punho. Sirius também sacara a sua. A essa altura, todos na mesa da Sonserina estavam de pé, assim como os alunos da Grifinória se aproximavam para ver a situação. Os monitores da Lufa-Lufa e da Corvinal tentavam organizar seus alunos para não comprarem a briga, mas parecia impossível.
No entanto, Regulus ergueu a mão para aqueles que pareciam querer ajudá-lo com seu irmão.
    - Não! – ele gritou. – Sirius é um problema meu, eu o resolvo e muito bem sozinho!
    - Nossa, falando assim até parece homem – Sirius zombou, assim que o irmão se aproximou. Já não havia nenhum sorriso no rosto de Regulus, mas sim uma determinação assassina.
    - Duele comigo para vermos quem é o homem aqui, seu traidor do sangue maldito! – ele disse, apontando a varinha para o outro.
    Antes que os irmãos pudessem dar início ao seu duelo pela honra, os professores e diretores das Casas já estavam impedindo o pior. Ninguém conseguia se entender no meio da bagunça: alunos gritavam acusações, calúnias e xingamentos, mas ninguém parecia capaz de explicar nada.
    - SILÊNCIO!
    E todos,alunos e professores, se calaram, ao som amplificado da voz de Albus Dumbledore retumbar no Salão Principal. O diretor e toda sua postura respeitável se aproximou dos irmãos Black. Todos que estavam em seu caminho se afastaram sem nem ao menos ser solicitado. Sirius e Regulus estavam um ao lado do outro, ainda se entreolhando com ódio.
    - Queiram, por favor, ambos seguir-me – o Diretor falou numa voz cortês.
    Os irmãos não ofereceram resistência e acompanharam Dumbledore. James, Remus e Peter abriram caminho por entre os demais alunos, a tempo de ver Sirius acenara para eles como quem diz “deixa comigo”. Depois que os três deixaram o local, os monitores e professores conseguiram finalmente colocar ordem entre os alunos.
    - McGonagall não está aqui, repararam? – Lily comentou com as amigas enquanto voltavam para a mesa.
    - Alice deve estar com ela – Dorcas arriscou.
    - Gente, coitada da Alice... – Emmeline suspirou. – Estava tão feliz.
    - Alice é tão meiga, tão delicada, ela não merecia isso – Marlene completou, triste.
     Remus sentou-se novamente ao lado de James. Havia aquela sensação de algo a dizer que deixava James completamente nervoso.
    - Foi ele, não foi? – perguntou ele ao amigo.
    O rapaz loiro não o olhou. Apenas assentiu com a cabeça.
    - Fenrir Greyback me transformou no monstro que eu sou – Remus cochichou, tão baixo que ninguém poderia ouvir por baixo de toda a conversação dali.
    Ninguém, exceto Emmeline Vance, sentada ao lado do namorado. Ela deixou o queixo cair ao ouvir tal declaração.

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