O Alquimista



Minerva McGonagall balançava a cabeça com um ar de sofrimento sobrenatural. Naquele momento, talvez estivesse pensando em pedir sua aposentadoria mais cedo e encerrar sua carreira, mas, pensando pelo lado positivo, esse seria o último ano de Sirius Black e seus amigos, ou melhor, seu amigo, James Potter. Parecia que sempre os dois eram os motivos de balbúrdia e discórdia. Entretanto, hoje, por mais estranho que parecesse, Sirius não parecia ser o culpado da vez, já que o quase duelo foi entre Amanda Stonebreaker e Marlene McKinnon... Isso era muita informação para uma mente já cansada como a da diretora da Grifinória.
    - Vou perguntar a Poppy se sobrou um gole daquela poção que ela deu à Srta Prewett – ela pensou alto. – Eu preferiria ver elefantes cor de rosa voando sob minha cabeça do que ter que aturar esses baderneiros juniores.
    Sorte ou azar, nenhum dos três alunos que seguiam em seus calcanhares pareciam ter reparado em sua observação infeliz. Amanda estava bufando. Graças aos céus ela não era um dragão, porque senão todos já teriam se queimado, tamanha a ira do ar que expirava. A raiva a deixara rubra, e ela parecia ter esquecido como se fazia para afrouxar os dedos fechados rigidamente contra os punhos. Em despeito à sua fúria, Sirius e Marlene trocavam olhares significativos. Vez ou outra, eles riam sem motivo um para o outro. Marlene sentia o rosto queimando de vergonha, Sirius sentia-se mais feliz do que nunca. Estava convicto agora: Após o sermão de Minerva, ele se declararia para Marlene.
    Isso é... Se Amanda o deixasse sair vivo dessa.
    Esse pensamento súbito fez Sirius se atentar a um interessante e importante detalhe: Não estavam indo para a sala de McGonagall, mas sim, para as Masmorras, obviamente para a sala de Slughorn.
    - Eam... Professora...? – disse, cauteloso.
    - Que é? – ela respondeu demonstrando que sua paciência estava no limite.
    - Por que exatamente estamos indo para sala do Tio Slu.. – Minerva o lançou um olhar de soslaio antes que ele pudesse completar a frase – cof-cof... Ai, engasguei... He-he... – ele simulou e prosseguiu. – Por que exatamente estamos indo para a sala do Professor Slughorn?
    Minerva apontou para Amanda, e não disse mais nada, como se seu dedo estirado tivesse uma autoridade incontestável. Sirius olhou quase sem querer para a garota, e agradeceu pelo fato de que um olhar não pudesse matar, pois sem sombra de dúvidas, essa era a intenção dela.
    Quando chegaram à porta do diretor da Sonserina, os três alunos fizeram cara de culpados, quase que inconscientemente. Quando Slughorn os atendeu, após uma série de murmurinhos, os olhos pequenos se arregalaram de tal forma que Sirius pensou por um instante delirante presenciar como se dá início a um infarto do miocárdio, ao vivo.
    - Mas o que foi agora? – Murmurou, num ganido pesaroso.
    - Mais confusões, envolvendo os meus alunos... – Minerva apontou para Sirius e Marlene, com olhar fulminante para ambos – e sua aluna – seu dedo apontou para Amanda, que soltou um gemido de nojo.
    - Mas será possível que não temos nenhum, mas nenhum, momento de paz? – o professor lançou olhares incrédulos para os alunos à sua frente.
    - Parece que não... – Minerva comentou, suspirando.
    - Não está muito tarde, Minerva? – ele olhou para o relógio de pulso, secando a testa com a outra mão. – Vamos deixar para ama...
    - Não, não... – ela o interrompeu, resoluta. – Vamos resolver isso muito rápido, detenção para os três aprenderem a não se atacarem nos corredores!
    Sirius olhou para os dois professores e pensou se eles mesmo não quebrariam a regra de se “atacaram nos corredores” visto a raiva com a qual se encaravam agora, e em despeito do clima tenso, levantou o dedo, como se estivesse se oferecendo para responder a uma pergunta valendo pontos para a Grifinória. Os olhos de Minerva e Slughorn pousaram sob ele.
    - Hum-hum... – ele limpou a garganta, tentando parecer solene. Marlene e Amanda também o olhavam. – Eu posso resumir a história, e garanto que as meninas não vão precisar de detenção.
    Silêncio absoluto. Sirius era uma caixinha de surpresas, e a surpresa dessa vez era como livrar as duas que duelaram no corredor de uma detenção. Todos ficaram estranhamente curiosos, mesmo sabendo que deveria ser um absurdo.
    - Que seja breve, ao menos! – Slughorn praguejou, dando espaço para os quatro entrarem.
    A varinha de Slughorn se agitou no ar e do nada duas cadeiras se colocaram à frente de sua mesa, fazendo companhia a outras duas que ali já estavam. Marlene olhou para a mesa do professor, pressionando o lábio para não rir, quando viu uma caixa de abacaxis cristalizados aberta. Essa era a explicação para tanto mau humor – interromperam seu momento íntimo com os seus amados abacaxis.
    - Sr Black? – a voz de Minerva trouxa Marlene de volta para uma realidade menos doce que os abacaxis de Slughorn. – Poderia começar?
    Sirius deu um sorrisinho e a diretora da Grifinória sentiu vontade de esquecer aquela regra que os impede de enfeitiçar alunos. Ele percebeu e, sabiamente, decidiu não provocar mais, dessa forma, começou a explicar sua versão dos fatos.
    - Bom... eu estava passando pelo corredor, quando ouvi a voz do Frank meio alterada. Logo em seguida, eu ouvi a voz do Snape e do James, então eu pensei que provavelmente o assunto não era Quadribol – ele fez uma pausa, olhando os professores. – Aí, eu fui ver o que era, e percebi que Frank estava meio revoltado com aqueles caras da Sonserina, pelo que fizeram com a Alice e tal. Então eu fui dar uma moral para ele não perder a cabeça, como James já estava fazendo...
    - Ah, claro... – Minerva rolou os olhos. Até parece, Sirius Black e James Potter evitando uma balbúrdia era a mesma coisa que um Duende de Gringotes distribuindo galeões na rua.
    - E daí... – Sirius continuou, antes que a professora ficasse mais desconfiada – eu cheguei lá, nós tentamos manter a calma... Eu nunca tinha visto Longbottom tão revoltado! Oh, ele estava irreconhecível! Se bem que ele tinha motivos, se fosse eu...
    - Sr Black, não estamos pedindo que trace o perfil comportamental de Frank Longbottom... – Slughorn o encarou, com ar de tédio.
    - Ah, claro... Desculpe – ele sorriu amarelo. – Voltando então... Daí, nós estávamos tentando tirar o Longbottom dessa, quando a Stonebreaker... – E apontou com o polegar para Amanda – chegou, e contou uma lorota para aquele monstro do Bletchley...
    - Não é lorota! – ela protestou, se inclinando como se quisesse bater nele.
    - Garota, você disse que eu te beijei a força! Isso é um mentira tremenda!
    - Ah, é mesmo – Marlene comentou, malignamente. – Pelo que eu vi esses dias... Não parecia que você não estava concordando com o beijo, loira aguada.
    - Ninguém te pediu palpite, franga! – Amanda rosnou de volta.
    - Prefiro ser franga a ser uma cadela – Marlene cantarolou.
    - Ai, Merlin...! – Sirius revirou os olhos.
    - Ei! Ei! – Minerva interrompeu o início de briga. – Deixem o Black concluir!
    Amanda e Marlene se calaram, mas continuaram trocando olhares fulminantes. Sirius olhou de uma para outra, depois suspirou pesado e prosseguiu.
    - Mais uma vez, retomando a história... Então, James e eu rimos da mentira mal contada da Stonebreaker, e ela ficou toda nervosinha, se aproveitou da minha distração e conjurou um feitiço estuporante.
    Sirius virou-se lentamente para Marlene, sua expressão antes tensa, suavizou-se num sorriso. Marlene enrubesceu.
    - Marlene foi tão ágil em lançar um contra feitiço a tempo. O contra feitiço mais incrível que eu já vi. É uma bruxa incrível, você, McKinnon...
    - Ah, para! – Marlene deu uma tapinha no ar, sem jeito. – Isso não foi nada...
    - Pura sorte! – Amanda revidou
    - Puro senso de justiça! – Sirius bradou, solenemente. – Você foi uma covarde!
    - Você riu de mim!
    - E você mentiu!
    Minerva e Slughorn balançaram as cabeças simultaneamente, como se com isso dissessem um para o outro que aquele caso ia longe ainda.

Enquanto isso, James comemorava sua conquista sozinho e em silêncio, embora quisesse realmente gritar para todos.
    Ele entrou no Salão Comunal da Grifinória sorrindo, mas quando Emmeline o viu, ele tratou de simular novamente. A loira estava sentada ao lado de Remus – que, inclusive, percebeu a simulação de longe –, e liam um livro qualquer. Ela fingiu indiferença, mas o olhava de canto de olho, querendo por tudo que houvesse de mais sagrado saber que diabos Lily o havia dito de tão trágico. Remus revirou os olhos, sabendo que isso tinha uma explicação muito óbvia: mais uma tática de guerra de James. Restava agora saber onde ele queria ir com aquela tristeza fingida.
    - Jay...? – Remus falou, ao ver que ele os evitou.
    - Sim? – James levantou os olhos, numa simulação de profunda depressão. Remus se segurou para não rir.
    - Que houve?
    Emmeline agradeceu por seu namorado fazer a pergunta que ela queria ter feito. A cada novo momento, ela se surpreendia com quanto ele era perfeito e a completava, mesmo que quase sem querer. Coisa de garota apaixonada, mesmo.
    - Nada... Só estou repensando algumas... Coisas... – Ele falou, devagar. – Minhas.
    - Ah, sei... – Remus fingiu entender.
    - Ei... Você viu Peter? Eu não o vi desde cedo. – James, tratante incontrolável, mudou de assunto sabiamente.
    - Ele está lá em cima – Remus apontou para as escadas, e prosseguiu tentando não rir .– Por favor, não faz escândalo... ele está estudando.
    - ESTUDANDO? – James deixou o queixo cair.
    - Eu pedi para não fazer escândalo, não pedi?
    - Mas, como não? E por que cargas d’água ele está estudando?
    Remus deu de ombros.
    - Não faço a menor idéia. Há pouco, ele entrou aí, eu perguntei onde ele havia estado o dia inteiro, e ele respondeu que estava na biblioteca.
    - E você acreditou? Como é inocente... – James debochou.
    - Eu não teria acreditado, se ele não tivesse carregado de livros quando voltou. – Remus respondeu impaciente.
    James arregalou os olhos, fazendo uma pausa. Depois, balançou a cabeça, se encaminhando para as escadas.
    - Eu vou ver isso com meus próprios olhos...
    - Valeu, James, eu também confio cegamente em você... – Remus murmurou, enquanto o amigo subia correndo escadas a cima.
    Emmeline soltou uma risadinha engraçada e deu um beijo na bochecha dele. Remus riu, e beijou sua testa quando ela afundou sua cabeça no ombro dele.
    - Eu sei mais ou menos o que houve... – ela comentou, se odiando por ser tão fofoqueira.
    “Fofoqueira, não...” Sua mente matutou. “Só estou preocupada com meus amigos...” Se auto convenceu.
    - Lily – Remus não perguntou, afirmou.
    - Exatamente... Lily, Lily... Lily!
    E como na lenda da Bloody Mary, a menção tripla do nome fez Lily se materializar na entrada do Salão Comunal. Emmeline sentiu medo do poder de suas palavras por um momento. A menina ruiva, muito diferente de James, não encenava, estava realmente triste.
    “como eu pude ser tão insensível!” ela pensava, achando que à essa altura James a estaria odiando. Pobre Lily.
    - Lil... – Emmeline começou, mas Lily subiu as escadas sem ao menos olhar para o lado – Cara, eu odeio quando ela me deixa falando sozinha! – a loira protestou.
    - Isso está indo longe demais... – Remus se levantou, fechando o livro com raiva.
    Os olhos de Emmeline o fitaram em pura confusão. Ele andou rápido, se dirigindo às escadas também. Na metade da subida, olhou para a namorada, com olhos de quem pede desculpas.
    - Só um momento, amor, eu vou ali matar o James e já volto.
    - Ah, tudo bem, amor... – Ela jogou um beijinho para ele – Mas tenta não sujar o chão de sangue e volta logo.
    - Eu vou tentar, prometo. – Ele devolveu o beijo e completou a subida.
    Quando Remus chegou à porta do dormitório masculino, com os dentes cerrado e se controlando para não gritar com James, se espantou com Peter falando tanto, como se contasse uma história.
    - E então, eu decidi que não quero se o idiota do grupo – Peter falou, seu rosto estava sério e segurava um grosso livro aberto, do qual parecia estar tirando algumas anotações. – Eu preciso ter um “quê” a mais.
    James percebeu Remus ali e eles trocaram um olhar confuso.
    - Peter, eu acho muito, muito bom mesmo, que você esteja se interessando em estudar – Remus comentou, orgulhoso. – Isso poderá garantir boas notas nas suas NIEMs, e...
    - Rem... – James interrompeu, Peter fez uma careta. – Não é nada disso que você está pensando... Não tenta embarcar na vassoura que já está no ar, não... – e olhou para Peter, com ar de riso. – Conta pra ele, Pet...
    Peter encarou James duramente. Estava com raiva por não levá-lo a sério. “Idiota” pensou, incapaz de reproduzir o pensamento em palavras, óbvio. Mas Remus era inteligente, Remus o entenderia. Claro. Dessa forma, virou-se para ele, com ar de sábio.
    - Eu decidi que vou ser Alquimista. – Falou, cheio de si.
    Remus ficou inexpressível. Como é isso? James fez um barulho de riso e o garoto loiro o olhou duramente. Isso não era pra rir. Peter fechou o livro que tinha em mãos, mostrando-o para Remus. A capa estava rota, num preto desbotado e as letras estavam quase ilegíveis, mas dava para ler “Alquimia básica – um guia para sábios” e logo abaixo, o nome do autor “Nicholas Flamel”. Aquilo fez Remus sentir vontade de rir também, se a situação não fosse tão embaraçosa.
    - Peter... – ele mediu as palavras para tentar não magoar o amigo – eu não sei... mas Alquimia não se aprende assim... da noite para o dia...
    - Eu sei, mas estou me dedicando! – Peter sorriu, apontando para a pilha de livros ao seu lado.
    - Estou vendo... mas... bom, até hoje alguns cientistas se perguntam se Alquimia é realmente... err... verdade absoluta.
    Peter soltou um gemido de incredulidade, com o se Remus tivesse dito uma heresia grande, algo do tipo “eu sou o próprio Merlin”.
    - Você não conhece muito bem as obras de Flamel, não é? – Peter se sentiu mais inteligente que Remus pela primeira vez na vida.
    - Eu conheço sim... acho que você é quem não conhece as publicações científicas recentes, que contradizem essas obras, não é? Como por exemplo, aquelas que afirmam que não é quimicamente possível transformar qualquer metal em ouro, ou que a pedra filosofal não passa de um mito.
    Bom... Pelo menos, há cinco segundos atrás, ele era mais inteligente que Remus.
    - Eu não acredito nelas. – Peter fez cara de nojo.
    - Aham... – James começou, mas o olhar mortífero de Remus o fez calar imediatamente.
    - Pet, eu não vou discutir isso com você, continue seus estudos e tire você mesmo suas conclusões... – e apontou o dedo para James, que fez cara de “O-ou...” – Você e eu, conversa, agora.
    - Mas... O que foi que eu fiz?! – James fingiu inocência.
    Remus não parecia muito disposto a brincadeiras, isso era tão notável que James andou com a cabeça baixa para o seu lado, esperando por sua sentença de morte. Remus abriu a porta, apontando com o queixo para o corredor. O menino saiu, ainda com a cabeça baixa. Remus o seguiu, olhando para céu, como se suplicasse à alguma força superior para lhe dar paciência com esses amigos estranhos que ele tinha.
    Peter os esperou sair, se sentindo humilhado, e deu um murro da sua cama, tamanha a raiva que sentia.
    - Ai, ai... – ele gemeu, quando o punho doeu por ter batido na quina do estrado de madeira maciça. – Merda! – ele sacodiu a mão. – Tudo bem, não acreditem na minha competência. Eu vou mostrar para vocês quem vai rir por último!
    E praguejando os dois, ele voltou a abrir o livro e tomar notas das partes mais importantes, decido a se esforçar e sonhando com seu nome naquelas malditas revistas que Remus falara, comprovando que a Alquimia era o futuro do mundo.

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