A Mulher Misteriosa



- Mas o que Dumbledore está fazendo aqui...?
          James Potter arregalou os olhos, pressionando o dedo contra o pontinho no qual se lia “Albus Dumbledore” no pergaminho encantado aberto discretamente na sua frente e na de seu amigo, Sirius Black. Os dois estavam estrategicamente escondidos em um dos becos entre o corredor e uma das escadas de acesso para o andar superior do corredor onde a sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas aconteceria. Estavam de olho no Mapa do Maroto, esperando ver a movimentação dos alunos, mais precisamente a de Peter Pettigrew, que os estava inquietando, e também poderiam ver quando o professor – que nunca antes havia se atrasado – chegasse à sala.
          Mas, parecia que ao invés de Samuel McHale, o ex-Auror, aposentado por invalidez pelo Quartel general de Aurores depois de ter perdido a esposa, também auror, numa das batalhas e ter sido declaro incapacitado emocionalmente de lutar e transformado em professor por aproveitamento por seu grande conhecimento na arte de combate contra os bruxos das Trevas, era o Diretor quem tomava a frente, o que significava uma coisa: McHale não estava atrasado. Ele não estava em Hogwarts. E provavelmente, não estava nesse mundo, considerando o tempo de guerra em questão.
          - Não sei não – Sirius enrugou a testa, vendo que todos os pontinhos antes espalhados pelos corredores estavam entrando na sala de aula. De onde estavam, não viam nenhum deles, somente através do Mapa mesmo. Um dos pontinhos estava rodando, provavelmente procurando pelos dois. Acima dele, lia-se “Remus Lupin” – Aluado está nos procuran...
          Mas Sirius parou de falar por um momento. James o olhou, desviando os olhos do pergaminho. O amigo deslocou o dedo para outra região do Mapa, fazendo com que o outro o acompanhasse.
          - O que a Clearwater está fazendo fora do Castelo? – Sirius apontou para um pontinho em movimento, nele, a descrição “Rachel Clearwater” podia ser lida.
          James deu de ombros.
          - Não sei. A pergunta mais certa seria como Filch não a pegou antes de chegar até lá...
          - Para onde ela está indo?
          Sirius fez um trajeto possível com o dedo e se admirou, arregalando os olhos cinzentos, numa espécie de espanto súbito. James parecia ter chegado à mesma conclusão e deixou o queixo cair. Eles se entreolharam, incrédulos.
         - O que essa louca está pretendendo fazer? – James arfou.
         - Seja lá o que for – Sirius sacou a varinha e murmurou “malfeito, feito” rapidamente, entregando o Mapa já fechado para James e se antecipando – eu vou atrás dela, não parece ser boa coisa...
         - Mas... Almofa...? – James começou, pegando o Mapa do Maroto, mas ficou olhando desoladamente o amigo sair apressando pelo corredor, dando instruções à jato.
         - Não! Você entra na sala, Dumbledore está lá! – Sirius começou a correr. – Eu me viro!
         - E o que eu digo a ele? – James perguntou, quase aflito.
         - Diz que estou com caganeira! – Sirius respondeu impaciente, rosnando, e aumentou a corrida, resmungando consigo mesmo. – Mas que merda, será que eu tenho que pensar em tudo?
         - Ah, com muito prazer... – James virou nos calcanhares e correu para a sala de aula, escondendo o Mapa do Maroto dentro das vestes.


 
Edgar Bones e Benjamin Fenwick sentaram-se nas carteiras à frente de Frank Longbottom. Edgar olhou de relance para Frank, que o encarou de volta, como se perguntasse “o que foi?” com o olhar. Os dois se encararam por um momento.
         - Algo errado, Ed? – Frank resolveu perguntar, afinal.
         - Alice – Edgar respondeu.
         - O que há de errado com Alice?
         - Nada de errado com Alice, estou te perguntando onde ela está.
         Frank olhou para a carteira ao seu lado, vendo que estava vazia. Franziu a testa como se ele mesmo estivesse se perguntando onde estaria Alice. Voltou a olhar para Edgar e agora Benjamin também estava olhando de um para o outro. Parecia que nenhum dos três estava se entendendo.
         - Onde está Alice? – Frank perguntou.
         - Foi exatamente o que eu te perguntei – Edgar fez cara de tédio.
         - Oi, meus amores... – Alice pulou na cadeira, como surgida do nada e sorridente.
         - Ah, olha ela aí! – Benjamin sorriu para Alice.
         - Falavam de mim? – Alice inclinou a cabeça de lado, piscando os olhos para eles.
         - Onde você estava? – Frank a perguntou, ligeiramente confuso.
         - Como onde eu estava, meu amor? – Alice o sorriu. – Eu estava...
         Edgar, Benjamin e Frank continuavam olhando para a menina, esperando que ela os dissesse onde estava, mas a pequena garota parou de falar e mordeu o lábio inferior, franzindo a testa e se concentrando, como se tentasse lembrar onde estava antes de entrar na sala de aula. Por fim, virou-se para o namorado.
         - Eu estava com você no corredor! –ela falou, ainda que meio incerta.
         - Estava? – Frank ergueu uma sobrancelha.
         - Estava sim! E aí aquela mulher misteriosa apareceu e falou que sentia muito pela morte do meu irmão.
         - Falou...? – o rapaz ergueu a outra sobrancelha.
         - Isso deve ter sido depois que você a deixou sozinha com a mulher – Benjamin comentou inocentemente.
         - Eu deixei Alice sozinha com a mulher...? – ele virou os olhos para o rapaz lufano.
         Edgar deu um riso sem humor. Frank o olhou de cara feia.
         - Qual é a graça, hein?
         - Nenhuma – Edgar ergueu as mãos. – Só estou achando muito estranha essa perda de memória de vocês dois, depois da aparição dessa tal – e ele ergueu os dedos para abrir aspas imaginárias no ar – “mulher misteriosa” na escola.


 


E como se a menção da mulher loira pudesse a trazer até eles, a figura de Catherine Mayfair se materializou na porta da sala de aula, seguida por Albus Dumbledore e Remus Lupin, colocando para dentro os alunos mais atrasados e pasmos com a presença do diretor e da mulher misteriosa.
          Murmurinhos quase inaudíveis e olhadelas chocadas entre alunos eram percebidas, naquele clima de “mas que diabos está acontecendo aqui?” que se instalou imediatamente no local. Lily Evans e Dorcas Meadowes sentaram-se lado a lado, e nas carteiras da frente, Emmeline Vance e Marlene McKinnon tomaram seus assentos. As amigas estavam se entreolhando tão pasmas quanto o resto dos alunos. A presença nada esperada daquela mulher havia cortado a história emocionante do beijo de Dorcas e Domini pela metade.



Remus Lupin sentou-se ao lado de Peter Pettigrew, que se encolheu um pouco ao perceber o amigo chegando e fechou ligeiramente a mochila no seu colo, colocando-a imediatamente no tampão no interior da mesa. Remus estava mais preocupado por não estar vendo James e Sirius, que deveriam estar sentados nas carteiras da frente.
         - Onde estão James e...
         - Presente...! – James apareceu correndo antes que Remus terminasse a pergunta e se jogou na sua carteira. Remus o olhou desconfiado. James sorriu amarelo para o amigo.
         - ...Sirius? – terminou ele, olhando de Peter para James.
         - Ele está oficialmente com caganeira – James respondeu solicitamente.
         Remus meneou a cabeça, cansado.
         - Jay, por favor...
         - Foi ele quem me mandou dizer isso! – James fez cara de inocente e virou-se para frente, assim que ouviu Dumbledore limpando a garganta.
         Assim vários alunos o fizeram. Num instante, toda a atenção da sala de aula estava voltada para as figuras à frente da sala, o homem velho e respeitável, Diretor de Hogwarts, e a belíssima mulher misteriosa e loira...
         “Espera aí?”
         Belíssima mulher misteriosa e loira?
         James Potter arregalou os olhos na mesma hora em que a viu.
         Quem era aquela mulher?
         - Mas que p...? – ele murmurou. Remus fez um “shh!” atrás dele, o cutucando no ombro para que se calasse.



Sirius Black parecia saber exatamente para onde ia e corria numa velocidade tão grande que sua capa voava atrás dele. Logo, ele já estava fora do Castelo. Naquele horário, todos estavam em aula e foi fácil para ele sair despercebido, já que estava ciente que Argus Filch estava preocupado com outras coisas três andares acima, antes dele ter deixado o amigo com o Mapa do Maroto. Um pensamento não o deixava: o que a garota da Corvinal estava fazendo sozinha fora do Castelo? Logo ela, que nunca, nunca mesmo, se meteu em uma única confusão em sua vida acadêmica? Rachel Clearwater era uma daquelas alunas invisíveis, que só se sabia que existia quando se escutava alguém comentar coisas do tipo “ah, sabe aquela garota da Corvinal, uma que quase não fala, bonitinha, mas meio sem graça? É, uma que anda muito com a Héstia Jones...” e nos últimos dias o nome da garota tinha entrado em movimentação por ter sido ligado à tragédia com o nome de Edward Prewett, o irmão de Alice, assassinado por bruxos das Trevas. Mas daí a de uma hora para outra ela resolver arrumar confusão, isso era uma grande novidade.
        E grandes novidades e confusões eram com Sirius Black mesmo.
        O rapaz parou um momento, ofegando e passando a mão pelos cabelos para tirá-los dos olhos, olhando agora para os possíveis caminhos que tinha trilhado com o dedo no Mapa do Maroto. Rachel tinha dois possíveis caminhos a fazer: um a levaria para o portão de saída de Hogwarts, ou seja, o caminho que ele descartou, porque seria o caminho mais patético a escolher, já que nesse caminho, tudo o que ela encontraria era o portão fechado; o outro, a levaria direto para o Lago Negro. E esse caminho foi exatamente o caminho que o preocupou. Não era lá uma boa hora – nem o lugar mais legal – para tomar um banho.
        Sirius voltou a correr, agora rumando em direção ao Lago Negro. Ainda tinha um bom caminho a percorrer, mas parecia que entre as árvores do lugar, conseguia ver alguma movimentação ao fundo. Pelo que via no Mapa, a garota não parecia correr, então, ele poderia alcançá-la facilmente.
        - Rachel! – ele gritou, tentando chamar a atenção.
        A silhueta a frente estancou um pouco, girando a cabeça, mas ao perceber que alguém a seguia, tomou uma carreira. Sirius deu um tapa na testa.
        - Mas que gênio... – se parabenizou pelo ato de esperteza em gritá-la.
        Sirius então percebeu que Rachel estava tentando se esconder dele, quando a menina cortou caminho e embrenhou por dois arbustos mais cheios. Então, tentou ser mais esperto dessa vez.
        “Se for para brincar de esconde-esconde...”
        De repente, um grande cão preto estava pronto para farejar uma mocinha que queria fazer algo de bastante errado por ali.


 
Amanda Stonebreaker estava sentada sozinha em uma carteira no fundo da sala de aula e escrevia freneticamente em seu pergaminho. Algo dizia a Severus Snape que nada tinha a ver com a matéria da aula que assistiam, já que a maioria dos alunos parecia estar a ponto de dormir com todo aquele blá-blá-blá sobre História da Magia.
         Narcissa Black, em uma carteira quase ao seu lado, tendo por companheira Stephenie MacNair, estava enrolando uma mecha de seus cabelos loiros com os dedos, entediada e trocando olhares significativos com Travis Lestrange, locado do outro lado da sala, ao lado de Domini Bletchley, que perdera 5 pontos para Sonserina por chegar atrasado na aula e, mesmo assim, parecia estar sob efeito de algum tipo de poção entorpecente, visto sua cara de idiota feliz.
         Também tinha os Corvinos, e entre eles Severus reparara que Héstia Jones estava completamente inquieta. A menina parecia prestes a chorar e seus dedos tamborilavam na mesa. Na hora da chamada, quando fora cantado o nome da amiga Rachel Clearwater, dissera que essa estava indisposta e descansava no Salão Comunal. O rapaz apertou os olhos, como um bicho encarando sua presa, especulando a melhor maneira de atacar. De repente, Héstia ergueu os olhos e o encarou. Ele por um momento se assustou, mas manteve-se a encarando. Assim permaneceram por alguns segundos, até que Héstia lentamente virou os olhos para o professor que pedia novamente atenção da turma para uma nova página do livro.
         Severus virou a página conforme o indicado e olhou de relance novamente para Amanda, no fundo da sala. Agora, ela o olhava. A loira mexeu os lábios lentamente para ele, balbuciando algo.
         - Colocando a ideia no papel – ele a entendeu dizer, depois dando um sorriso de malícia.
         Severus não esboçou nenhuma emoção e voltou a fitar a página de seu livro. Héstia observou os dois pelos cantos dos olhos. Sua intuição a dizia que armavam algo.


 
James Potter estava estarrecido com a presença daquela mulher. Não só ele, mas todos ali, exceto Remus. Remus só estava... incomodado. Ligeiramente incomodado. Ainda.
         - Caríssimos – Dumbledore se dirigiu gentilmente aos alunos do sétimo ano da Grifinória e Lufa-Lufa ali presentes – eu gostaria de apresentá-los a senhorita Catherine Mayfair.
         O Diretor fez um gracioso gesto em direção à mulher e ela reverenciou a turma. Os garotos, praticamente todos, suspiraram com sua demonstração de delicadeza. Menos James, ainda em choque.
         - É com pesar que eu comunico que o professor McHale teve que se ausentar por motivos pessoais, então, a Srta Mayfair estará temporariamente assumindo o cargo de professora de Defesa Contra Artes das Trevas.
         O anúncio fez começar imediatamente um burburinho entre os alunos. OK, McHale não era tão velho, tinha por volta de seus 30 anos, mas era experiente, treinado e competente. Mas aquela mulher ali? Mal tinha 20 anos e por sua aparência, devia saber muito de moda e boas maneiras, mas de Defesa Contras Artes das Trevas? Dumbledore estava caducando, mais um caso para a Ala de Doenças Prolongadas do St. Mungus.
         - Silêncio...
         Dumbledore apenas sussurrou e todos o respeitaram no ato. Catherine não parecia nenhum pouco intimidada por todos aqueles olhos curiosos que avaliavam sua competência como professora. Apenas continuava sorrindo. O Diretor prosseguiu.
        - Catherine é uma amiga querida que atendeu meu chamado, veio dos Estados Unidos especialmente para nos ensinar o que ela leciona para seus alunos lá sobre Criaturas das Trevas...
        Novamente, uma nova onda de comentários. Criaturas das Trevas...? No sétimo ano? Mais um vestígio de que Dumbledore andava babando nas barbas, só poderia ser.
        - Eu tenho certeza que não estamos deixando uma boa impressão para nossa convidada... – disse o velho homem, dessa vez com o tom de voz mais próximo à repreensão.
       Os alunos se encolheram. Ele os fitou severamente. Catherine o olhou com um sorriso travesso e quase divertido, voltando a mirar a turma quando ele retomou a fala.
       - Como eu estava dizendo... – Dumbledore começou, mas resolveu parar. Olhou para a mulher e lhe dirigiu um sorriso. – Pensando melhor, vou deixar que a própria Catherine se apresente a vocês.
       A bela loira então meneou a cabeça e deu um passo a frente, se dirigindo à turma. Quando ela falou, aqueles que antes tinham se encantando pela sua graciosidade, ficaram embasbacados pelo timbre doce e sedutor de sua voz.
        - Bom dia, alunos de Hogwarts. É um prazer estar aqui – disse Catherine.
        James deixou escapar um palavrão baixinho quando a ouviu.
        Remus escondeu o rosto entre as mãos. Podia ouvir toda engrenagem rodando na cabeça do amigo, quando vagarosamente virava-se para olhá-lo por trás daqueles óculos de aros redondos. Ahh... tudo começava a fazer sentido agora.
        Havia vezes em que ter amigos inteligentes demais era meio complicado.


 
Alice Prewett sentiu-se, de repente, fora de si.
         Não estava mais na sala de aula. Estava em algum lugar estranho e ao mesmo tempo, conhecido, mas um tipo de lugar que não lhe era me nada muito familiar, como se o conhecesse, mas só de vista, não pelo ângulo que o via agora. Sentia necessidade de respirar. Precisava de ar... ar, por favor, ar! Ela tentava desesperadamente respirar, mas seus pulmões não a obedeciam, era como se estivesse... se afogando.
         - Alice...?! – Frank se abaixou, colando a cabeça na mesa, nitidamente desesperado. A namorada tinha a expressão estarrecida e os olhos arregalados num terror de enregelar a nuca. Edgar e Benjamin viraram-se discretamente para trás ao ouvirem o nome da menina, mas ao perceberem como ela estava, tiveram que se segurarem o máximo possível para não alarmarem a turma inteira, já que Catherine continuava falando sobre si e suas vocações.
         Alice baixou a cabeça e conseguiu tomar um fôlego. Mas sua expressão de horror não se suavizou. Quando ela ergueu o olhar, seus olhos não se dirigiram para o namorado, mas para Edgar Bones.
         - Rachel!!! – foi tudo o que ela disse.
         - Que tem ela? – Edgar virou o corpo inteiro no impacto da palavra.
         - Há algo errado com o Sr, Sr...? – Catherine veio deslizando em direção ao rapaz da Lufa-Lufa, Edgar fechou os olhos, odiando-se por alarmar aquela mulher.
         - Bones – respondeu ele, olhando para ela. – Edgar Bones.
         - Sr Bones, algo errado? – repetiu Catherine, sorridente.
         - Estou preocupado com minha amiga – ele virou a cabeça em direção à Alice.
         Catherine olhou para a pequena garota, assim como todos os alunos. Alice estava pálida, seus lábios arroxeados e as mãos trêmulas. Óbvio que ela não estava bem.
         - O que acontece...? – Dumbledore se aproximou, olhando para os alunos, mas Alice se antecipou.
         - Diretor, Srta Mayfair, estou me sentindo um pouco mal, por favor, deixem que eu vá até a Ala Hospitalar... – ela implorou. Olhou para Catherine, mas algo a mandou desviar o olhar. Frank se mexeu ao seu lado, mas ela o deteve sentado. – Edgar me leva, não é, Ed?
         - O quê...? – Frank exclamou, incrédulo, olhando para o rapaz, que sem pestanejar já estava de pé.
         - Claro, eu já estava me preparando para isso... – ele se colocou ao lado de Alice, pegando-a pela cintura. – Eu prometo cuidar bem dela, Frank... mantenha a... calma...
         Frank lançou a ele um olhar tão furioso que Edgar preferiu ignorar. Alice explicaria depois toda situação, não era uma hora para ter ciúmes, por Merlin!
         - Certo, Sr Bones, mas volte para a aula assim que a deixar aos cuidados da Madame Pomfrey... – Catherine disse, mas Edgar a ignorou também. Ela sentiu-se desafiada e semicerrou os olhos assim que ele desapareceu com Alice porta a fora.


 
O cão negro fincava as patas no chão, farejando Rachel Clearwater.
         Meteu o focinho numa capa com o símbolo da Corvinal, abandonada nos arbustos onde a menina havia se escondido momentos antes. Ao mexer ali, sua varinha rolou de um dos bolsos internos, denunciando que ela deixara tudo para trás.
         Isso fez o cão correr, jogando terra encima das vestes deixadas para trás, indo direto para as margens do Lago Negro.


 
Edgar Bones parecia levar consigo uma boneca de pano, mas Alice virou-se e espalmou suas mãos no seu peito, tomando fôlego. Ele a mirava angustiado, enquanto ela tentava falar algo com muito custo.
         - Rachel... – ela balbuciou – acho que ela está para fazer uma besteira!
         - O que, Alice? – Edgar a agarrou pelos braços, desesperado.
         - Acho que ela vai tentar se matar! – a menina começou a chorar.
         Edgar empalideceu. Ele olhou para frente, por cima da cabeça de Alice, lembrando do que Héstia Jones tinha falado. Rachel não estava no Salão Comunal e não tinha ido a aula...
         - O que você viu, Alice? – Edgar implorou, sacudindo a garota quase estupidamente.
         - Eu não sei direito! – Alice gritou, levando às mãos ao rosto.
         - Você precisa me dizer!
         - Eu não vi! Eu só vi que... – ela parou por um instante e olhou para Edgar profundamente. As mãos dele apertavam seus braços de modo violento, mas ela pouco parecia se importar, porque os olhos castanhos do rapaz eram doentiamente frustrados de desespero. – Parecia que ela sentia dificuldade de respirar, era como se ela estivesse... dentro d’água! É isso, dentro d’água!
         - Dentro d’água? – ele repetiu, num sussurro, como se estivesse repassando mentalmente lugares para uma possível morte com água.
         - Era um lugar que me parecia conhecido, mas eu não consigo me situar... – Alice fechou os olhos. Geralmente visões são flashes tão rápidos e instáveis que não deixam detalhes muito nítidos para se agarrar. Fora que isso era uma novidade para ela, não se tinha visões assim sem a ajuda de objetos divinatórios... mas ela as tinha.
         - Poderia ser uma banheira? – ele arriscou. – O banheiro da Murta que Geme, sei lá?
         - Não... – Alice respondeu sem abrir os olhos – não era um lugar fechado e... – abriu os olhos imediatamente, como se isso a tivesse iluminado as ideias – claro! O Lago Negro! É o único lugar aberto com água no terreno!
         Edgar sem demoras largou os braços da garota e a pegou por uma das mãos, puxando-a consigo para uma corrida desenfreada rumo ao Lago Negro.

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