Super Heroi



Num piscar de olhos, Hogwarts inteira já sabia que Alice Prewett estava na ala hospitalar. Claro, os comentários de corredor eram os mais bizarros possíveis, como por exemplo, que Alice havia pirado de vez ao descobrir que o irmão morrera (já haviam matado o pobre rapaz, o que demonstrava que eles estavam ficando realmente ótimos em adivinhação) e que Frank e Domini tinham marcado um duelo para o final da noite, já estava inclusive rolando apostas. Outro comentário interessante era que os garotos da Sonserina estavam em detenção pelo resto do ano, o que com certeza era um mito dos mais mentirosos. No entanto, os companheiros de Frank e Alice da Grifinória estavam mais preocupados em saber a verdade, e logo assim que aula de adivinhação terminou, uma grande multidão se amontoava na porta da Ala Hospitalar, fazendo Poppy Pomfrey sair do sério.
    - Saiam daqui! A pequenina precisa descansar! – ela gritou, fazendo os alunos arregalarem os olhos e obedecerem no ato.
    Alice estava dormindo sob efeito de poções tranquilizadoras. Frank não saía do lado dela nem para ir ao banheiro, segurando e acariciando a mão da namorada, com olhar ainda de raiva. Com certeza, se Madame Pomfrey não o tivesse segurado ali, ele teria ido até o inferno, se preciso, para acabar com a raça dos três malditos da Sonserina. Aos outros alunos, só restou voltarem ao Salão Comunal.
    - Coitada da Alice – Lily comentou num suspiro, andando ao lado de Sirius, Remus e Emmeline. – Vocês sabem quem foram da Sonserina?
    - Pelo que Gregory, da Lufa-Lufa, disse, foram Lestrange, Bletchley e Snape. – Remus comentou, enquanto envolvia a cintura de Emmeline.
    Lily parou de andar abruptamente, fazendo Sirius, que vinha logo atrás dela, meter a cara em seus cabelos vermelhos.
    - SNAPE? – Ela sentiu o rosto ruborizar – Ah, mas eu...!
    - Ai, Lily... não pense em... – e a loira ficou falando sozinha quando Lily saiu pisando forte – ...me deixar falando sozinha, sua vaca... – completou, rolando os olhos, quando os cabelos evoaçantes de Lily desapareceram numa curva a frente.
    - Será que é melhor ir atrás dela? – Sirius estava alerta.
    - Acho que não, deixa-a resolver com o ranhoso sozinha, ela tem jeito pra coisa. – Emmeline recomendou.
    Os três continuaram andando, com passos lentos. Sirius se espreguiçou, como quem nada queria, e olhou para o relógio. Remus o observou de canto de olho. Um pouco mais à frente deles, Marlene, James e Dorcas estavam parados com alguns outros alunos, inclusive a Corvina que falara com Alice na aula, Rachel Clearwater, e o Lufano – e agora se entendia o que Dorcas estava fazendo ali – Edgar Bones.
    - Eu tentei ver Alicinha, mas Madame Pomfrey me escorraçou de lá, como se eu fosse um cachorro sarnento! – Edgar comentou, ofendido.
    - Algo contra cachorros? – Sirius parou perto deles, sorrindo. – Comentário preconceituoso esse, Bones.
    - Ow, Black... Nada contra os caninos... – Edgar sorriu, cumprimentando o rapaz.
    - Acho bom mesmo... Vamos então... Quem me ajuda a quebrar a cara dos Sonserinos? – Sirius perguntou em tom irônico.
    - Estou nessa, claro – James se ofereceu na hora, levantando o braço, como um aluno prestes a responder uma pergunta difícil. – E deixe o Ranhoso para mim... Adoraria quebrar aquele nariz enorme dele...
    - Opa, tarde demais, acho que Lily já vai fazer isso. – Emmeline cantarolou.
    - Hã? – A testa de James enrugou.
    - Ela estava com a gente – a loira apontou para Remus e Sirius, demonstrando quem era o “a gente” dela - mas saiu decidida quando Remus contou que o Ranhoso estava no meio da zona, e pelo que conheço daquela ruiva, ela é bem esquentada... Eu não gostaria de estar na pele ressecada dele...
    - E VOCÊS DEIXARAM ELA IR SOZINHA? – o garoto berrou, encarando Remus, Emmeline e Sirius, como se tivessem mandado Lily para a forca.
    Silêncio constrangedor. Todos olhavam James como se ele agora fosse pular em cada um e mordê-los até a morte. Parecia um maníaco, serial killer ou qualquer coisa mais demoníaca. Os três se entreolharam, com expressão de “como assim?”. Dorcas, Marlene, Rachel e Edgar pareciam cogitar a hipótese de saírem correndo dali enquanto ainda dava tempo de não serem contaminados com a loucura.
    - James... Você precisa de terapia, irmão... – Sirius quebrou o silêncio, e parecia que falava sério. Por mais incrível que parecesse isso.
    - Argh! – O rapaz deu as costas e saiu correndo pelos corredores.
    Mais um momento de silêncio constrangedor. Remus e Sirius se entreolharam novamente. Quando o assunto era Lily, James era um perfeito idiota histérico, fato. Dessa vez, quem quebrou o silêncio foi Rachel.
    - Alguém sabe o que Alice disse quando eles leram a carta? – Rachel perguntou para quem a quisesse responder, apertando suas mãos.
    - Que carta? – Marlene parecia ter perdido alguma parta da história.
    - A história toda começou porque Snape roubou, ou achou, sei lá, a carta que o irmão da Alice mandou pra ela, e leu em voz alta, debochando... Era coisa de família, Alice tem muito cuidado com esse irmão, os pais e os primos. Ela é uma fofa, não é? – Edgar falou convicto e sorria de canto ao se referir à Alice, enquanto Dorcas o mirava como se fosse algo de comer, com chantily e uma cereja no topo.
    - Como você sabe disso? – Emmeline parecia ofendida por saber menos que ele. – Essa é a história mais completa e verdadeira que ouvi até agora...
    - É, eu estava começando a acreditar que Domini tinha agarrado Alice na frente de Frank e eles tinham assumido um caso... – Dorcas comentou, fazendo todos olharem para ela, perplexos. Ela levantou as mãos como defesa. – Eu ouvi isso, não inventei!
    - Nossa, Dorcas... Era mais fácil acreditar que o Lestrange tinha anunciado que era o verdadeiro Papai Noel do que nessa história sem cabimento – Marlene estava com os olhos arregalados de incredulidade.
    - Ai, vai ver se eu estou no banheiro da Murta que Geme, vai... – Dorcas lançou à amiga um olhar fulminante.
    - Frank me contou a verdade, eu falei com ele agora pouco, antes da Madame Pomfrey me arrancar de lá – Edgar explicou antes que Dorcas e Marlene se engalfinhassem ali.
    - E o que tinha na carta? – Rachel insistiu. – Era má notícia? Eu ouvi Gardner, da Sonserina, comentando que... – Ela engasgou. – Comensais mataram... O irmão dela...
    - Ah, fala sério, ninguém o matou! Alice só está preocupada porque parece que o Edward quer se unir à Ordem da Fênix... Eu não entendo, eu acho bárbaro que ele queira isso!
    Rachel deu um gemidinho, levando a mão à boca, quando ouviu isso.
    - Alice está em pânico porque o irmão quer lutar na Ordem? – Sirius parecia ter sido agredido verbalmente, tamanha decepção na voz. – Meu, Alice é estranha mesmo...
    - Ela não é estranha, ela tem zelo pela família... – a voz de Remus era sonhadora. – E eu ouvi dizer que o irmão dela tinha se ferido seriamente na Copa de Quadribol...
    - Isso foi verdade! – Edgar começou, como quem quisesse dar partida para uma fofoca – Frank me contou, foi algo sério, ele passou um tempão no St, Mungus...
    - Vai ver é por isso, ela já quase perdeu o irmão, não quer que isso aconteça novamente – Remus concluiu, brilhantemente. Emmeline parecia estar levitando de tanto orgulho do namorado.
    - Edgar... – Rachel falou em tom tão baixo que o rapaz se esforçou para ouvir. – É verdade que a família dela está sendo... Perseguida?
    Silêncio constrangedor, terceiro tempo. Dessa vez, era para Rachel que olhos curiosos apontavam. Isso fez Emmeline lembrar de um detalhe que fazia toda a diferença: Naquele dia em que se declarara idiotamente para Remus, Alice e Frank comentaram de uma suposta paixonite de Edward, apontando para mesa da Corvinal e dizendo “Rachel”. Emmeline sentiu-se uma detetive investigativa, e agora estava literalmente voando de orgulho. Além de ter um namorado lindo e inteligente, ela própria era fera. E humilde.
    - Ah, desculpa, Rachel... – Falou em tom casual. – Você foi namorada do Edward, foi?
    Silêncio constrangedor, seguido de bochechas ruborizadas e olhos aflitos por respostas – A comunicação estava realmente difícil ali, parecia que todos falavam línguas diferentes.
    Rachel estava com um olhar perdido, e Emmeline quase se arrependeu por ter feito a pergunta tão maldosa... Quase. A curiosidade era maior. E ela não era má por isso, pois Dorcas e Marlene já estavam eriçadas também para ouvir a resposta. Meninas são assim, precisam saber que tipo de garota atrai um rapaz tão lindo quanto o irmão de Alice, mesmo sabendo que nunca teriam chance com ele. Rachel era normal, bonita do jeito dela, mais normal e meio brega no jeito de se vestir. Rezava a lenda que não dava idéia para garoto nenhum, era tímida e recatada. Nem Sirius se atrevia a dar em cima dela.
    - Bom... – depois de algum tempo, ela respondeu – Edward e eu, nós tivemos um... relacionamento. Eu não sei se éramos namorados de fato... Mas ele agora tem uma... Humm... namorada... de verdade, oficial... Que não é de Hogwarts...
    Como todo bom período de silêncio constrangedor sempre vem seguido de uma revelação bombástica, nessa hora, todos ali, sem se importarem em parecerem indelicados e insensíveis a aparente dor de Rachel, deixaram seus queixos caírem. Dorcas e Marlene se entreolharam, fazendo um “oh!” baixinho. Sirius fez um muxoxo – quem diria, a recatada Clearwater sendo trocada pela “outra”. Ironia ferrada essa, da vida, quando uma garota super difícil decide namorar um cara que não dá o valor que ela merece. Edgar e Remus foram os únicos que não pareciam se importar com a declaração, estavam indiferentes, pelo menos, demonstravam estar.
    - Namorada oficial? – Marlene não aguentou. Sentiu uma ligeira pena de Rachel.
    - É...
    - Não estuda em Hogwarts? – Dorcas seguiu a linha “conte-me tudo, não esconda-me nada” iniciada pela amiga – É de outro país ou é mais velha?
    - Ela não é bruxa. É trouxa. Ele se apaixonou por uma trouxa... E aí nós terminamos... o que nem começamos.
    Esse foi o golpe de misericórdia: Havia uma garota, não bruxa, trouxa, responsável pelo término do namoro. Novamente, um “oh!!!” das meninas, incluindo Emmeline dessa vez, e Remus e Edgar participaram da comoção geral.
    - Eu queria saber como isso funciona... – Sirius comentou, com ar de pensador. – Tipo, se o código de ética mágica nos diz que não devemos contar os nossos segredinhos aos trouxas, exceto em casos de familiares próximos... Como será que é namorar uma trouxa? E se eles terminassem?
    - Fácil... Seria obliviada, oras! – Edgar respondeu, triunfante.
    - Ou tachada de louca quando saísse por aí gritando “meu ex namorado é um bruxo, que voa de vassoura e mata pessoas com um bastão de madeira” – Remus fez uma sábia colocação.
    - Ou... – Rachel parecia a um piscar de olhos de chorar – não contar que se é bruxo, não é?
    - Ow... – Emmeline gemeu.
    - Esse cara é esperto, heim? – Sirius riu, maliciosamente. – Uma namorada no mundo mágico, uma no mundo trouxa...
    - Ai, isso só podia vir de você, não é, Black? Como você é idiota! – Marlene soltou, olhando para ele com raiva. Ainda não tinha superado o beijo com a Sonserina peituda.
    Sirius, dessa vez, não esperava por essa reação. Ficou com cara de idiota na frente de todos, olhando para a garota raivosa à sua frente. Inverteram-se os papéis: agora Rachel os olhava com queixo caído, assim como Edgar, os únicos ali que não estavam acostumados com aquele tipo de comportamento bipolar.
    - Qual o seu problema, McKinnon? – O moreno cruzou os braços na frente do corpo, tentando manter a pose, mas por dentro, se odiava profundamente por ser tão estúpido.
    - Não, qual é o SEU problema, Black! – A garota falou quase gritando. – Não respeita a garota aqui? Que você não respeita ninguém é fato, mas tenta fingir ser um cavalheiro às vezes, ser cavalo todo o tempo é constrangedor! Se ser cavalheiro é assim tão difícil para você, tenta pelo menos ser humano!
    - Uhu, adorei... – Dorcas murmurou, escondendo o rosto, para não mostrar que sorria.
    - Isso! – Emmeline comemorou baixinho, por trás de Sirius, fazendo um gesto de conquista com a mão. Remus a olhou assustado. Rachel e Edgar sentiram que estavam no lugar errado, se entreolhando ligeiramente.
    Marlene estava começando a abrir os olhos, isso era ótimo! Lily ia ficar orgulhosa da amiga se tivesse visto essa cena.
    Mas a ruiva estava mais preocupada em acabar com outro idiota. Com o uniforme voando atrás de si e a respiração descompassada por andar tão rápido, parou na frente da sala de Minerva, onde sabia que os alunos ainda estavam. Às vezes, rádio corredor era útil, embora o último aluno que a contou sobre os Sonserinos ainda estarem com Minerva, e Slughorn estar com eles também, disse em tom macabro que estavam sendo torturados para confessarem a traquinagem. Ele estava com sorte por Lily estar com tanta pressa, senão ela o passaria um sermão sobre contar mentiras, digno de um prêmio “a chata do ano”. Mas o sermão que Severus levaria seria muito, muito, muito pior.
    Ao levar a mão à porta, para avisar sua entrada, reparou que tremia, devido a adrenalina, que a impedia de pensar, inclusive. Estava entretida olhando para seu tremelique, quando uma mão tocou seu ombro. Ela deu um pulo, como um gato que se olhou no espelho e pensou estar prestes a ser atacado por outro felino.
    - Ai, droga! – praguejou, levando a mão ao peito, quando viu James.
    - Desculpa...! – Ele ficou ligeiramente sem graça. – Eu vim evitar uma tragédia.
    - Como é? – Lily arqueou a sobrancelha.
    - Não faz isso, não dá audiência para o Ranhoso... Você não sabe que ele faz essas coisas para provocar?
    - Ah, jura? Mas que tipo de otário faz coisas idiotas para chamar a atenção? – Ela retrucou, cheia de ironia. Essa doeu em James.
    - Olha, isso é diferente... – James vestiu a carapuça, ligeiramente suas bochechas ficaram ruborizadas. – O que eu digo é que cão que ladra, não morde. Ele está fazendo isso para chamar a atenção, aposto que isso nem foi idéia dele, parece mais coisa do Lestrange... não dê importância, ignorar isso é o melhor a fazer, porque... – James apontou para a porta, fazendo um clima de suspense – Se você entrar por essa porta, e gritar com ele lagartos e cobras, ele vai se achar o ser mais importante da Terra... E isso vai ser o fim.
    - Ah, isso é... Eu odeio esses garotos que se acham os todo poderosos e não passam de crianças mimadas em busca de um pouquinho de mérito e aplausos – Novamente, essa doeu. Ele preferia um direto de esquerda bem no olho a ouvir isso de Lily.
    Isso fez James pensar: “Que tipo de idiota sou eu?”. Fácil, o tipo que é idiota por esporte, seu próprio alterego respondeu. Ele olhou dentro dos olhos verdes de Lily, completamente sério. Ela enrijeceu os músculos, nunca o vira sério desse jeito antes, e isso dava medo. James tirou os óculos por um momento, ficando quase cego, mas manteve o olhar nos olhos de Lily. Aquela tonalidade linda dos seus olhos seria o guia para um momento de cegueira. Ela não ousou se mexer.
    - Lily – ele começou, seu tom de voz era formal e sério, como nunca se dirigira a ela antes – Eu sei que ajo como um idiota, ou melhor, eu sei que você me acha um idiota e nem se esforça para manter isso em segredo. Mas... Olha pra mim agora, que eu quase não enxergo você. Olha bem, está vendo meus olhos? Consegue ver minhas pupilas? A cor deles?
    - Consigo... – Ela respondeu, quase hipnotizada, olhando fixamente para os olhos castanho-claros dele.
    Pôde reparar que a tonalidade dos olhos de James ia ficando mais escura nas extremidades, terminando num círculo quase negro. Era lindo, nunca tinha reparado naqueles olhos, talvez por causa dos óculos de lente grossa que ele usava. Era um James que ela nunca tinha visto, ou nunca se permitira aceitar que via. Logo ela, que sempre tentava ver o lado do Bem das pessoas, nunca pensou que ele tivesse um lado bom. Ou melhor, nunca admitiu ver um lado bom nele. Isso, em partes, era culpa dele mesmo.
    E vê-lo assumindo isso acionou o sistema de alerta dela. “Cuidado, maroto contra atacando” o aviso piscava em neon dentro da mente de Lily, e ela desejou dar um tapa no próprio rosto para tentar ficar sã e não sucumbir aos olhos de James. Seu coração acelerou involuntariamente, assim como sempre bate involuntariamente, e não escolhe por quem bate. O dela batia por ele há tempos, só faltava ela admitir. “Não!” ela se disse internamente. “Não seja orgulhosa como ele, você não odeia isso?” Parecia que havia um anjo e um demônio dentro de Lily, deixando-a louca, travando uma batalha para lhe roubar a sanidade. Ela desejou gritar, mas James parecia ter ensaiado alguns passos de hipnose, pois ela não conseguia sequer respirar agora, tamanha a intensidade do que estava sentindo.
    - Eu sei que eu erro, Lily – ele continuou – mas a nobreza não está em não errar, e sim em assumir que erra. Eu só queria que você entendesse que esse sou eu, não queria me fazer diferente do que eu sou para te impressionar, como o Ranhoso faz. Eu acho que quando a gente gosta... ama alguém – a menção da palavra “ama” fez Lily tremer – você a aceita com seus defeitos e suas qualidades. Se todos fossem iguais, perfeitos, educados e comportados... como você, por exemplo, o mundo seria monótono e chato, porque todos seriam os mesmo, não haveria nada para quebrar a rotina. É isso, eu gosto de você, mesmo quando você é mandona e chata. Eu achei que você poderia gostar de mim como eu sou, idiota e egocêntrico.
    Nenhuma palavra definiria tão bem Lily naquele momento como “perdida”. Estava perdida. Não sabia o que falar, tentava voltar a respirar, mas a sinceridade que via nos olhos de James, sem lentes para atrapalhar, era impressionante. Parecia que ele era o Super Homem, tirou os óculos e virou um super herói. Sentiu-se ligeiramente tonta, e precisava dizer algo, mas... Dizer o quê?
    - James... Eu... – ela tentou, mas James levantou a mão, pedindo que calasse.
    - Não, não diz nada... – ele se aproximou dela, colocando a mão em seu rosto, tentando se guiar, já que não enxergava nada direito.
    O coração de Lily batia de um jeito tão frenético que quase poderia ser ouvido de longe. Ela temeu que ele o pudesse ouvir e tudo estivesse acabado no momento que ele voltasse a ser o mesmo estúpido convencido de sempre. Os joelhos de Lily tremiam, ela não podia sai dali... Então, apenas fechou os olhos, deixando seu corpo relaxar. A respiração de James estava tão próxima dela, que sentia seu calor. Quando a ponta do nariz dele encostou no dela, a porta de Minerva se abriu abruptamente, fazendo os dois pularem devido ao susto extraordinário que levaram.
    - Ow... Senhorita Evans? Senhor Potter? – Minerva os olhava como se acabasse de ver um casal de ursos panda acasalando.
    - Ah, desculpa... Professora McGonagall – Lily estava vermelha, tão vermelha quanto seus cabelos. – Eu precisava... Falar com a Senhora e...
    - Achou que eu estava na boca do Potter? – Ela levantou uma das sobrancelhas.
    Lily calou-se, completamente constrangida. James encaixou novamente os óculos no nariz, satisfeito por conseguir enxergar de novo.
    - Desculpe... – Ele falou, sem demonstrar qualquer arrependimento ou constrangimento .– Acho que não fui feliz na escolha do lugar, não é?
    - Não mesmo! Minha porta não é um cantinho de namoros!
    - Nós não estávamos namor... – Lily tentou se explicar, mas James foi mais rápido.
    - Eu sei, professora, mas não há nenhuma placa aqui que impeça o aluno de se redimir de erros, de provar sua nobreza e coragem, seja na sua porta ou em qualquer lugar dentro do território de Hogwarts. Então, não estamos errados, estamos? – James piscou espertamente para a diretora. Minerva ficou sem fala.
    - Circulem... – foi tudo o que disse, antes de girar nos calcanhares e sair andando.
    - Professora McGonagall! – Lily a seguiu insistentemente. – E os Sonserinos baderneiros?
    - Ah, sim... Eu os mandei para Dumbledore. O que fizeram é grave, temos uma aluna hospitalizada por isso, e eles merecem um corretivo. Vou saber notícias da Senhorita Prewett. Com licença.
    - Toda... – Lily estava atônita. – James... Eles estão com Dumbledore! Inconsequentes!
    - Eles fizeram por onde, não?
    Quando Lily olhou novamente para James, e ele estava novamente de óculos, ela já o via com outros olhos. Ele estava com ar de justiceiro. Ela estava sem graça, então, decidiu que não o olharia novamente nos olhos, até se recuperar do trauma que foi mergulhar naqueles olhos tão sinceros. James não parecia sem graça, mas respeitou a menina e não tocou novamente no assunto. Ele podia ser idiota, egocêntrico e bobão, mas uma coisa ele tinha de bom: era paciente, muito paciente.

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