Surpresa para Virginia Weasley



Johnny estava trabalhando naquela surpresa com a maior concentração que podia. A inspiração havia surgido de repente e ele nunca deixava uma boa idéia passar despercebida.
Sentiu uma pontadinha de preocupação ao se lembrar de que haiva deixado a porta dos fundos da casa de Virginia destrancada. Mas calculava que, com a reputação dela, e com o cachorro, que mais parecia um monstro, rondando pelo quintal, ninguém se atreveria a entrar. De qualquer forma, desconfiava que Virginia já devia ter providenciado algum tipo de feitiço protetor para a casa.
“Tem que ser perfeito.” - disse a si mesmo enquanto lutava para arrumar uma braçada de flores (compradas dessa vez) num vaso. Mesmo assim, elas pareciam ter vida própria, com as hastes se enroscando e os botões pendendo para os lados errados. Depois de várias tentativas, o arranjo ainda dava a impressão de que as flores tinham sido enfiadas no vaso por uma descuidada criança de dez anos. E, pelo que Johnny notou, pareciam se mexer. Quando finalmente terminou, depois de uma incrível hora, havia enchido três vasos e estava feliz por reconhecer que jamais daria um bom diretor de cenário. E as flores tinham o mesmo perfume das flores mágicas de Gina.
Um rápido olhar no relógio o avisou de que o tempo estava ficando escasso. Ajoelhou-se diante da lareira e acendeu o fogo, o que exigiu mais tempo e muito mais esforço do que Virginia precisaria, mas, enfim, conseguiu fazer com que as chamas se erguessem alegremente na lenha.
Satisfeito, levantou-se para verificar o cenário que montara com tanto cuidado. A mesa estava posta para dois, com uma toalha branca que ele encontrou na gaveta de um dos armários da sala de jantar, depois de fuçar por quase toda a casa.
A porcelana também era dela, muito bonita e antiga, e Johnny achava que poderiam ser de seus ancestrais.
Perfeito, concluiu.
Mas não, nada estava perfeito. O que era um jantar a luz de velas sem música? Como podia ter se esquecido da música? E das velas, também. Afinal, aquele era para ser um jantar à luz de velas. Correu para o aparelho de som e vasculhou por entre uma enorme coleção de CDs. As Esquisitonas? As Bruxas de Carmesina? Duendes Enigmáticos? O que era aquilo? Será que não havia nenhum CD normal naquela casa?
Bem no canto, viu algo que conhecia: Chopin. Na mesma hora decidiu-se por ele, embora estivesse mais sintonizado com os Rolling Stones do que com a música clássica. Ligou o aparelho, inseriu o disco e assentiu com aprovação ao ouvir os primeiros acordes. Então, iniciou a busca pelas velas. Dez minutos depois, havia conseguido distribuir uma dúzia delas por toda a sala.
Mal teve tempo de se parabenizar quando levou um susto que o fez cair sentado no sofá. Virginia, que havia surgido do nada, franziu a testa ao ver Johnny naquela posição. Quando conseguiu se recompor, levantou-se e a envolveu num beijo longo e apaixonado. Querendo receber seu próprio agrado, Flucke fez o possível para se intrometer entre eles.
- Olá - Johnny falou, quando seus lábios se separaram. – Você quase me matou de susto.
Em toda parte havia o perfume das flores e das velas, e o delicioso soar dos violinos. O fogo ardia suavemente na lareira. Não era sempre que alguma coisa a fazia perder o equilíbrio.
Olhou para ele e o luzir das velas formou dezenas de estrelas em seus olhos.
- Você fez tudo isso para mim? - Virginia entregou-lhe a garrafa de champagne que havia trazido e o envelope para que pudesse afagar o pêlo de Flucke. - Ora, ora... Que lindo. Estamos comemorando alguma coisa?
- Achei que poderíamos comemorar.
- Ótimo, poderemos comemorar isso. – disse, colocando o envelope nas mãos dele. – Será um jantar de parabéns para você. - respondeu Virginia.
- Por que estou recebendo os parabéns?
- Por sua história.
- Você gostou?
- Não. Não gostei.
- Não? Como assim?
- Eu simplesmente adorei. E, assim que me sentar e tirar os sapatos, vou lhe dizer porque.
- Parece uma idéia excelente.
Com um suspiro longo e prazeroso, Virginia tirou os sapatos enquanto ele atravessava a sala para pegar a outra garrafa de champanhe que havia deixado no balde de gelo. Virou as duas garrafas para ela, mostrando-lhe os rótulos idênticos.
- Telepatia? - perguntou.
- Tudo é possível.
Johnny deixou o envelope de lado, enfiou a segunda garrafa no gelo e abriu a primeira, com um alegre estampido. Serviu a bebida e, depois de entregar uma taça a ela, tocou-a num brinde.
- A nós.
- Sempre. - Virginia murmurou e bebeu.
Tomando-lhe a mão, levou-o para o sofá, onde poderiam admirar o fogo abraçadinhos.
- Então, o que o levou a fazer isso?
- Queria lhe mostrar o meu lado mais romântico.
Rindo, ela roçou os lábios no rosto dele.
- Eu gosto de todos os seus lados.
Sorrindo, Johnny apoiou os pés na mesa de centro.
- Bem, passei um bocado de tempo tentando arrumar as flores, elas pareciam vivas.
Virginia olhou em volta.
- Onde você as comprou? – perguntou intrigada,
- Naquela Floricultura aqui perto. A Madame Flowers.
- Esta explicado porque elas pareciam vivas. São Flores Mágicas. Flores Imortais. Elas nunca morrem e têm vida própria. Mas tenho que concordar que seus talentos não abrangem os arranjos florais. Elas deram muito trabalho para serem colocadas nos vasos? Geralmente, elas não gostam disso.
- O esforço valeu a pena. Sabe, fiz algumas correções no roteiro. Pensei muito em você. Recebi um telefonema muito animador do meu agente. Pensei em você mais um pouco.
Ela deu uma risadinha e recostou a cabeça no ombro dele.
- Parece que você teve um dia muito produtivo. Por que seu agente estava tão animado?
- Bem, acontece que ele recebeu uma oferta de um produtor interessadíssimo.
Virginia endireitou o corpo, fitando-o com alegria.
- O seu roteiro.
- Foi aceito logo na primeira tentativa.
Parecia um tanto estranho... Era maravilhosamente estranho ter alguém tão contente por ele.
- Na verdade, é apenas o esboço, mas desde que parece que a sorte está me sorrindo, já temos um acordo em andamento. Vou deixar o roteiro "descansar" por alguns dias, depois darei mais uma olhada. Só então o enviarei para ele.
- Não é sorte. - Virginia fez outro brinde com as taças.
Pela primeira vez em sua vida adulta, Johnny sentiu que iria ruborizar. Então, em vez disso, beijou-a.
- Obrigado. Eu não teria conseguido se não fosse por você.
Com um riso leve, ela se recostou no sofá.
- Detesto discordar de você... Portanto, não vou.
Distraído, Johnny deslizou a mão pelos ombros dela. Sentia-se imensamente bem e se deu conta pelo fato de estar sentado ali, ao final do dia, com alguém que era importante para ele.
- Que tal alisar meu ego e me dizer por que gostou do roteiro?
Virginia estendeu a taça, para que ele tomasse a enchê-la.
- Duvido que seu ego precise ser alisado mas, de qualquer forma, vou lhe dizer.
- Fique à vontade e não se apresse. Não quero que se esqueça de nada.
- Todos os seus livros possuem uma trama. Mesmo quando há sangue espalhado por todos os lados ou algo terrível arranhando a janela, existe neles uma qualidade que vai além dos sustos ou do medo. Neste roteiro, embora seja bem provável que você faça alguns corações dispararem com a cena do cemitério e com aquele negócio no sótão, você dá um passo adiante. - Virginia virou o rosto para ele. - Não é somente uma história de feitiçarias e do poder de conjurar forças do bem e do mal. É sobre pessoas, sobre acreditar em coisas maravilhosas e confiar em seu coração. É um tipo de celebração divertida pelo fato de ser diferente, mesmo quando isso é difícil. No final, apesar do terror, da dor e do sofrimento, existe o amor. E isso é o que todos nós desejamos.
- Você não se importou por eu ter feito Cassandra preparar seus feitiços com terra de cemitério ou com os cânticos junto ao caldeirão fumegante?
- Foi horrível, bruxas de verdade não fazem isso, mas considerei como licenças poéticas. - Virginia respondeu, arqueando a sobrancelha. - Creio que achei possível tolerar essas coisas em nome da sua criatividade. Mesmo quando ela se dispôs a vender a alma ao demônio para salvar Jonathan.
Encolhendo os ombros, Johnny esvaziou a taça.
- Se Cassandra possuía o poder para o bem, a história não teria muito impacto se, ao menos uma vez, ela não tivesse de enfrentar o poder do mal. Veja bem, existem alguns "mandamentos básicos para o terror”. E, embora essa não tenha se tornado exatamente uma história de terror, acho que tais mandamentos ainda se aplicam.
- O máximo do bem contra o máximo do mal? - ela sugeriu.
- Este é um deles. Outro: os inocentes precisam sofrer. - Johnny acrescentou. - Depois, há sempre o rito de passagem. E é preciso que jorre sangue destes mesmos inocentes. E o bem deve, através de muitos sacrifícios, sempre triunfar.
- Parece justo.
- Há mais um, o meu preferido. - Johnny passou o dedo pela nuca de Virginia, provocando-lhe um arrepio. - A platéia deve pensar, e continuar pensando, que qualquer que seja o mal que tenha sido eliminado, ele ainda poderá se erguer novamente, mesmo depois da cena final.
Ela pressionou os lábios.
- Todos nós sabemos que o mal sempre se ergue novamente.
- Isso mesmo. - Ele sorriu. - Do mesmo jeito que todos nós nos perguntamos, de vez em quando, se há realmente alguma coisa fazendo barulho dentro do armário no meio da noite, depois que as luzes estão apagadas e quando estamos sozinhos. - Mordiscou o lóbulo da orelha dela. Ou o que realmente está fazendo aquele barulho de galhos na janela, esperando pronto para assumir sua forma e...

Trecho do Proximo Capitulo
Nesse momento, a campainha tocou. Virginia deu um pulo. Johnny riu. Ela praguejou.
- Quer que eu atenda? - ele perguntou.
Ela endireitou o corpo com dignidade e puxou a saia para os joelhos.
- Sim, por favor.
Quando Johnny se afastou, ela estremeceu de leve. Ele era bom, admitiu. Tão bom que ela, com todo seu conhecimento, fora enganada direitinho. Ainda estava decidindo se deveria ou não perdoá-lo quando Johnny voltou para a sala acompanhado de um homem magro e grandalhão, que equilibrava uma enorme bandeja. Ele usava um smoking branco e gravata borboleta vermelha. Bordado no bolso do paletó estava o nome Chez Paolo.

Notas da Autora : E ae, o que vcs estao achando? Bjux a todos e comentem... Por favor, eh claro!


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.