A Primeira Revelação
Se não tivesse acabado de engolir, Virginia teria se engasgado com o sorvete.
- Não me insulte, está bem? Só porque o achei interessante e atraente não significa que eu esteja...
Ela estava zangada, Ronald reparou, satisfeito. Era sempre um bom sinal. Quanto mais perto Virginia chegava da raiva, mais fácil extrair informações dela.
- Então, você deu uma olhada geral?
- É claro que olhei. - ela disparou. - Apenas por precaução.
- Você olhou porque estava nervosa.
- Nervosa? Não seja ridículo! - Mas ela começou a tamborilar os dedos na mesa. - Ele é só um homem.
- E você, apesar dos seus dons, é uma mulher. Será que preciso lhe dizer o que acontece quando se juntam um homem e uma mulher?
Virginia cerrou os punhos, a fim de se impedir de fazer algo drástico.
- Não, muito obrigada. Se eu decidir torná-lo meu amante, o problema é meu.
Contente por ela ter perdido o interesse pelo sorvete, Ronald assentiu, enquanto comia.
- Mas o problema é que sempre existe o risco de você se apaixonar por ele. Vá com cuidado, Virginia.
- Há uma grande diferença entre amor e paixão. - ela retrucou, com afetação.
Em seu lugar embaixo da mesa, Flucke levantou a cabeça e emitiu um latido baixo.
- Ela está apaixonada, Rony, pode apostar!
- Flucke... – Virginia se assustou.
- Obrigada pela ajuda, Flucke.
- Comportem-se, voces dois. Estou falando sério.
- Não se preocupe comigo. Vá atender a porta. - A campainha tocou meio segundo depois. Rindo consigo mesmo, Ronald a viu sair em disparada.
“Maldição” - Virginia pensou quando abriu a porta da frente, ele estava tão bonito... Os cabelos estavam despenteados pelo vento. Trazia uma mochila velha no ombro e havia um furo no joelho da calça jeans.
- Oi! Acho que estou um pouco adiantado.
- Tudo bem. Entre e se sente. Só preciso dar um jeito numa... numa bagunça na cozinha.
- Mas que maneira de se referir ao seu irmão. - Ronald entrou na sala com toda calma, trazendo a tigela de sorvete quase vazia. - Olá. - Assentiu a cabeça amigavelmente para Johnny. - Você deve ser Johnny Varshall.
Virginia estreitou os olhos, mas falou com gentileza suficiente.
- Johnny, este é o meu irmão, Ronald. Ele estava de saída.
- Ah, posso ficar mais um pouco. Gosto muito dos seus livros.
- Obrigado. – agradeceu Johnny.
- Fiquei muito contente com sua visita, querido. - Um rápido lampejo de eletricidade perpassou-os quando Virginia tirou a tigela da mão dele. - Apareça sempre, está bem?
Ele desistiu, pensando em dar uma passada na casa de Parminda e discutir a atual situação de Virginia com mais profundidade.
- Cuide-se, irmãzinha. - Ronald lhe deu um longo beijo. – Até mais ver, Varshall
Levou seu irmão até a porta e voltou para dentro.
- Agora, se puder me dar só um minutinho, começaremos em seguida. - Jogou os cabelos para trás, satisfeita ao ouvir o barulho da motocicleta. - Quer tomar um chá?
Johnny estava com a testa franzida e as mãos nos bolsos.
- Prefiro café. - Seguiu-a em direção à cozinha.
- Que tipo de irmão ele é?
- Ronald? Normalmente um irmão muito irritante.
- E você tem mais irmãos, não é? Quero dizer, você é a sétima filha.
- Sim, tenho o Gui, que trabalha em um banco, o Carlinhos que trabalha na Romênia, o Percy que é vigia, os gêmeos Fred e Jorge, donos de uma loja de brincadeiras e Ronald.
- E seus pais têm quantos irmãos?
- Mamãe tinha dois irmãos, que já morreram há bastante tempo, e papai é o sétimo filho. Meu pai, o de Parminda e tio Andrew nasceram no mesmo dia. Eles são trigêmeos.
- Está brincando? - Johnny apoiou os quadris na mesa, enquanto ela abria uma latinha. - Parece tão raro quanto ser a sétima filha de um sétimo filho.
- Minha avó teve quatro filhos antes dos trigêmeos e meu pai foi o último a nascer.
Balançando a cabeça, Virginia mediu as ervas para o chá.
- Tais coisas sempre são raras.
Johnny esfregou a cabeça de Flucke, quando o cachorro se encostou na sua perna.
- Puxa, mas isso é interessante.
- Creme e açúcar? – perguntou Gina, tentando mudar o assunto da conversa.
- Sim, obrigado. Aposto que você dá boas risadas na época do Halloween.
Ela lhe ofereceu uma xícara.
- As crianças vêm de longe para ganhar doces da bruxa. Creio que algumas delas ficam desapontadas ao ver que não uso um chapéu pontudo, nem saio voando no cabo de vassoura. A maioria das pessoas tem uma ou outra idéia pré-concebida acerca das bruxas. Ou pensam na velha oferecendo maçãs envenenadas ou no espírito transparente com uma varinha de condão com estrela na ponta dizendo que não há lugar como o nosso lar. Receio que não me encaixe em nenhuma dessas categorias.
- É exatamente por isso que eu preciso de você. - Depois de deixar a xícara na mesa, Johnny abriu a mochila. - Tudo bem? - perguntou, tirando o gravador.
- É claro.
Ele apertou o botão de "gravar", depois tornou a remexer na mochila.
- Passei o dia debruçado sobre os livros, na biblioteca, nas livrarias. - Retirou da mochila um livro fino, de capa macia, e passou-o para ela. - O que pensa sobre isso?
Arqueando a sobrancelha, Virginia leu o título: "Fama, Fortuna e Romance: Rituais com Velas para Todos os Usos". Jogou o livro no colo dele, com força suficiente para fazê-lo se encolher.
- Espero que você não tenha pago muito por essa droga.
- Seis dólares e noventa e cinco centavos, fora as taxas. Então, você não faz esse tipo de coisas? – perguntou Johnny.
“Paciência” - ela disse a si mesma, tirando os sapatos e dobrando as pernas no sofá. A saia vermelha e curta que usava subiu até o meio das coxas.
- Acender velas e recitar cânticos engraçadinhos? Você acredita mesmo que um trouxa qualquer seja capaz de realizar magia apenas lendo um livro?
- Você tem de aprender em algum lugar. Trouxa?? Não precisa pegar pesado!
Resmungando, Virginia pegou o livro novamente e o abriu.
- "Para provocar ciúmes" - leu, enojada. - "Para conquistar o amor de uma mulher". "Para obter dinheiro". Tornou a fechá-lo com força. - Pense bem, Johnny e agradeça pelo fato de não dar certo para todo mundo. Imagine que você esteja sem dinheiro, com as contas se acumulando. Você queria muito comprar um carro novo, mas seu crédito está estourado. Então, acende algumas velas, faz um pedido, talvez até dance nu para acrescentar algum efeito. E... "abracadabra"! - Ela levantou os braços. - Você se descobre recebendo um cheque de dez mil dólares. O único problema é que sua adorada vovozinha teve de morrer para lhe deixar o dinheiro.
- Tudo bem, então é necessário ter cuidado com a maneira como se formula o encantamento.
- Raciocine comigo. - disse fazendo uma careta de impaciência. - Todos os atos têm conseqüências. Alguém deseja que o marido seja mais romântico. Shazam!, subitamente ele se transforma num autêntico Don Juan com todas as mulheres da cidade. - Virginia emitiu um suspiro. - A magia não é para os despreparados ou irresponsáveis. E, certamente, não pode ser aprendida através de alguns livros tolos.
- Tudo bem. - Impressionado com tal raciocínio, Johnny estendeu as mãos. - Estou convencido. Mas a questão que eu quis salientar é que pude comprar este livro numa livraria por sete dólares. Significa que as pessoas estão interessadas.
- As pessoas sempre estiveram interessadas. - Ela se virou, e os cabelos escorregaram pelos seus ombros. - Já houve épocas em que tal interesse fez com que essas pessoas fossem enforcadas ou queimadas. - Virginia bebericou o chá. – Hoje em dia, as pessoas se tornaram um pouco mais civilizadas.
- Aí está. - ele concordou. - É por isso que quero escrever uma história sobre este assunto agora. Hoje, temos telefones celulares, fornos de microondas, aparelhos de fax e e-mail e, ainda assim, as pessoas continuam fascinadas com a magia. Posso partir de vários pontos de vista. Usar lunáticos que sacrificam bodes...
- Não com minha ajuda.
- Tudo bem, eu já imaginava. De qualquer forma, isso seria fácil demais... Comum demais. Estive pensando em explorar o mesmo enfoque cômico que usei em "Descanse em Paz", talvez acrescentando um pouco mais de romance.
Luna subira no colo dele, e Johnny a afagava, deslizando os longos dedos nos pêlos macios.
- Minha idéia é centralizar o enredo em uma mulher, uma jovem deslumbrante que, por acaso, é feiticeira". Como ela lida com os homens, com o trabalho, com... sei lá, com as compras do supermercado? Ela deve conhecer outras bruxas. Sobre o que conversam? O que fazem para se divertir? Quando você soube que era uma bruxa, Virginia?
- Provavelmente quando levitei no meu berço. - Virginia respondeu calmamente e viu o riso se formar nos olhos dele.
- É esse tipo de coisa que eu quero. - Ele se recostou na cadeira e Luna se aconchegou em seu colo, como uma manta. - Sua mãe deve ter tido um ataque.
- Ela já estava preparada para isso. - Virginia mudou de posição e seus joelhos roçaram levemente nos quadris de Johnny.
Ele nem pensou que haveria qualquer coisa mágica no rápido lampejo de calor que sentiu. Era apenas uma reação química.
- Eu já lhe disse que nasci com esse dom.
- Certo. - O tom de voz dele a fez respirar fundo. - E nunca a incomodou pensar que era diferente?
- Saber que eu sou diferente. - ela corrigiu. - É claro que não. O único inconveniente é perder o controle.
Johnny queria estender a mão e tocar os cabelos dela, mas pensou duas vezes.
- Isso lhe acontece com freqüência? Perder o controle?
- Não tanto quanto acontecia antes de me tomar adulta. Tenho um temperamento forte, e às vezes faço coisas das quais me arrependo depois, mas há algo que uma bruxa responsável nunca esquece: o poder jamais deve ser usado para prejudicar ou ferir alguém.
- Então, você é uma feiticeira séria e responsável?
Ela empinou o queixo.
- Evidente que sim.
- Mas você pegou aquelas fotos... da sobrinha daquela senhora e do gênio em geometria.
“Como ele sabia disso? Ele não perdia nada”. - Virginia pensou com desgosto.
- A senhora Diggory não me deu muitas opções. - Embaraçada, deixou a xícara na mesa com um gesto rápido.
- É assim que se faz?
- Sim, mas... - Mordeu a língua. - Você está se divertindo às minhas custas. Por que faz perguntas, se não vai acreditar nas respostas?
- Não preciso acreditar nelas para ficar interessado. Quer dizer que você não fez nada a respeito do baile de formatura?
- Não foi o que eu disse. - Virginia cruzou os braços, emburrada, enquanto Johnny cedia à tentação e brincava com seus cabelos. - Simplesmente removi uma pequena barreira. Qualquer outra coisa, além disso, teria sido interferência.
- Que barreira?
- A garota é terrivelmente tímida. Apenas dei um pequeno impulso à sua autoconfiança. O resto fica por conta dela.
- É assim que você trabalha? Dando "impulsos" às pessoas?
Ela virou a cabeça e fitou-o direto nos olhos.
- Depende da situação.
- Andei lendo um bocado. As bruxas costumavam ser consideradas as mulheres mais sábias e inteligentes dos vilarejos. Preparavam poções, feitiços, prevendo acontecimentos, curando os doentes.
- Minha especialidade não é a cura, nem a vidência.
- E qual é a sua especialidade?
- Feitiços e Poções. - Talvez por uma questão de orgulho ou apenas por diversão, ela não tinha certeza, mas no mesmo instante enviou um relâmpago cruzando o céu.
Johnny olhou na direção da janela.
- Parece que há uma tempestade se aproximando.
- Pode ser. Por que não respondo logo algumas de suas perguntas, para que você possa voltar para casa?
Diabos, ela queria que ele fosse embora. Porém, fosse como fosse, não queria que os acontecimentos se precipitassem tão depressa.
E a maneira como ele a tocava, com a ponta dos dedos em seus cabelos, provocava-lhe pequenos lampejos de medo.
E isso a deixava irritada.
- Não estou com pressa. - ele disse calmamente, enquanto indagava-se se, caso tivesse coragem e a beijasse novamente, experimentaria aquela mesma sensação arrebatadora da outra vez. - Um pouco de chuva não me incomoda.
- Vai chover forte. - Virginia murmurou para si mesma.
- Vocês usam terra de cemitério?
Ela sentia-se prestes a perder o controle.
- Ora, faça-me o favor...
Virginia tentou, realmente tentou, não ficar ofendida. Imagine, alguém pensando que ela se esquivava em volta das sepulturas!
- Johnny, estou fazendo o possível para me lembrar de que você escreve para divertir as pessoas e que, certamente, tem direito a uma boa quantidade de licença poética.
Ele tinha de beijar-lhe os dedos. Tinha mesmo.
- Então você não passa muito tempo em cemitérios.
Ela reprimiu rapidamente a irritação, e uma faísca de desejo.
- Vou aceitar o fato de que você não acredita no que eu sou. Mas não vou tolerar, absolutamente, ser considerada um motivo de riso.
- Não seja tão intensa. - Johnny afastou-lhe os cabelos dos ombros e fez uma leve massagem em sua nuca. - Eu admito que, normalmente, realizo esta tarefa um pouco melhor. Diabos, agüentei doze horas de entrevistas com aquele romeno maluco que jurava ser um vampiro. Não tinha nem um espelho na casa. Obrigou-me a usar um crucifixo o tempo todo, sem mencionar o alho - Johnny lembrou, com uma careta. - De qualquer forma, não tive nenhum problema em agradá-lo, e ele acabou se revelando uma arca do tesouro em matéria de informações. Mas, você...
- Mas eu... - Virginia incitou-o, fazendo o possível para ignorar o fato de que ele formava uma trilha de fogo em seu braço com a mesma perícia e sensualidade com que afagara Luna.
- Acontece que eu não acredito, Virginia. Você é uma mulher forte e inteligente. Tem estilo e bom gosto, sem mencionar o perfume delicioso. Não posso simplesmente fingir que aceito que você acredita nisso tudo.
O sangue começava a ferver nas veias de Virginia. Ela não iria, não poderia, tolerar o fato de que ele era capaz de enfurecê-la e seduzi-la ao mesmo tempo.
- E assim que você consegue o que quer? Fingindo?
- Quando uma senhora de 92 anos me conta que seu marido morreu com um tiro, em 1922, porque era um lobisomem, não vou chamá-la de mentirosa. Vou pensar que ela é uma tremenda contadora de histórias ou então que de fato acredita no que está dizendo. É disso que eu vivo. Ilusões. E isso não faz mal a ninguém.
- Ah, tenho certeza que não, não quando você vai embora, depois bebe uns drinques com os amigos e dá boas risadas ao falar sobre a lunática que entrevistou. - Os olhos dela flamejavam. - Tente fazer isso comigo, Johnny e acabará com verrugas na língua.
Vendo que ela estava realmente zangada, Johnny engoliu o sorriso.
- O que estou querendo dizer é que eu sei que você tem muitas informações, muitos fatos e lendas, e que é exatamente isso que estou procurando. Calculo que esta reputação de feiticeira que você construiu provavelmente aumenta em cinqüenta por cento as vendas da sua loja. É um belo atrativo. Mas não precisa fazer este jogo comigo.
- Você acha que finjo ser uma bruxa apenas para aumentar as vendas da minha loja? - Virginia começou a levantar-se devagar, temendo que, se ficasse muito próxima dele, poderia causar-lhe algum dano físico.
- Eu não... Ei! - Johnny deu um pulo, quando Luna cravou as unhas em suas coxas.
Virginia e a gata trocaram um olhar de aprovação.
- Você entra em minha casa e tem a coragem de me chamar de charlatã e mentirosa.
- Não. - Ele se desvencilhou da gata e ficou de pé. - Não foi essa minha intenção, absolutamente. Quis apenas dizer que você pode ser sincera e direta comigo.
- Sincera e direta com você?
Ela andou de um lado para o outro da sala, tentando em vão recuperar o controle. Por um lado ele a seduzia contra sua vontade e, por outro, zombava dela. Pensava que ela fosse uma fraude. Ora, aquele idiota insolente tinha sorte por ela não tê-lo deixado com um par de orelhas de meio metro! Sorrindo maliciosamente, ela se virou.
- Quer que eu seja sincera com você, Johnny?
O sorriso deixou-o aliviado, mas só um pouco. Johnny receou que ela começasse a lhe atirar coisas.
- Só quero que você saiba que pode relaxar. Você me fornece os dados e eu cuido da ficção.
- Relaxar... - ela repetiu, assentindo. - É uma boa idéia.
- Nós dois devíamos relaxar. - Seus olhos reluziam quando deu um passo na direção dele. - Que tal acendermos a lareira?
Não há nada como um fogo acolhedor, para ajudar a relaxar.
- Boa idéia. - Vou acender o fogo.
- Ah, não. - Virginia pousou a mão no braço dele. Pode deixar que eu faço isso. Ela girou o corpo, pegou sua varinha e estendeu-a na direção da lareira. No instante seguinte, as chamas irromperam com um rugido, as toras de madeira lançaram faíscas, a fumaça ergueu-se no ar.
Satisfeita, ela abafou o fogo, de forma a transformá-lo em brasas vivas e acolhedoras.
Baixando os braços, voltou-se para Johnny. Ficou feliz ao ver que ele não apenas estava branco como papel, mas também que ainda não conseguira fechar a boca.
- Melhorou? - Virginia perguntou com doçura.
Johnny sentou em cima da gata. Luna miou um protesto e escapuliu, apesar das desculpas murmuradas.
- Eu acho que...
- Parece que você está precisando de uma bebida. Com um giro rápido, Virginia estendeu a mão. – Accio! - Uma garrafa de cristal levantou vôo de uma mesa a cinco metros de distância e foi aterrisar em sua palma. - Conhaque?
- Não. - Ele emitiu um profundo suspiro. - Obrigado.
- Pois acho que eu quero. - Virginia estalou os dedos.
Uma taça de conhaque flutuou no ar e permaneceu suspensa, enquanto ela servia a bebida. Estava se exibindo, ela sabia, mas isso lhe dava uma imensa satisfação. - Tem certeza de que não quer um pouco?
- Tenho.
Encolhendo os ombros, ela enviou a garrafa de volta para a mesa. O cristal fez um leve ruído contra a madeira, quando pousou.
- Agora, - ela disse, enroscando-se no sofá ao lado dele. - Onde estávamos, mesmo?
Alucinação, Johnny pensou. Hipnotismo. Só podia ser!
Abriu a boca, mas só conseguiu gaguejar. Virginia continuava sorrindo, aquele leve sorriso felino. Efeitos especiais. De repente, tudo ficou tão claro que ele riu da própria estupidez.
- Deve haver um fio por aqui. - ele disse, levantando-se para verificar por si mesmo. - Foi um belo truque. Por um minuto, você chegou a me enganar.
- É mesmo? - ela murmurou.
- Contratei uma empresa especializada em efeitos especiais para me ajudar a montar uma festa, no ano passado. Você devia ver as coisas que eles conseguiram fazer.
Johnny pegou a garrafa de cristal, procurando algum tipo de mecanismo engenhoso. Mas tudo o que viu foi antigo cristal irlandês. Encolhendo os ombros, foi até a lareira e se abaixou. Desconfiava de que ela tivesse um aparelho pequeno instalado sob a lenha, algo que pudesse acender com um tipo de controle remoto minúsculo escondido na mão. Subitamente inspirado, levantou-se de um pulo.
- O que acha disso? Nós trazemos um sujeito para a cidade. Ele é um cientista e se apaixona por nossa heroína depois enlouquece tentando explicar tudo o que ela faz, tentando tornar lógico. - A mente de Johnny disparava. - Talvez ele se infiltre em uma das cerimônias dela. Você já participou de alguma cerimônia?
Virginia havia exorcizado a fúria e, em seu lugar, achava apenas graça.
- Naturalmente.
- Ótimo. Então poderá me dar os detalhes. Faríamos o sujeito vê-la realizar algo extraordinário, como levitar, por exemplo. Ou este truque do fogo, foi muito bom. Podíamos ter uma fogueira, que ela acende sem usar nenhum fósforo. Mas ele não tem certeza se é apenas um truque ou se é real. E a platéia também não sabe.
Ela deixou que o conhaque a aquecesse por dentro. Os arroubos de raiva eram tão cansativos.
- Qual é o objetivo da história?
- Além de provocar calafrios e sustos, acho que se trata de saber se esse sujeito consegue lidar com o fato de que está apaixonado por uma feiticeira.
Subitamente triste, Virginia olhou dentro do copo.
- Você poderia se perguntar se uma bruxa é capaz de lidar com o fato de que está apaixonada por um homem comum.
- É exatamente por isso que preciso de você. - Johnny se aproximou devagar, sentando-se ao lado dela. - Não somente o ponto de vista da feiticeira, mas da mulher também. - Novamente confortável, ele deu uma palmadinha no joelho dela. - Agora, vamos falar sobre feitiços e feitiçarias.
Balançando a cabeça, ela deixou o copo na mesa e riu.
- Tudo bem, Johnny. Vamos falar sobre magia.
Trecho do próximo capítulo:
- E não é justo tentar me influenciar. - Parminda acrescentou quando sentiu Ronald entrando em sua mente, eu já decidi.
- Só estou querendo evitar que você desperdice meu dinheiro. - Resignado, Ronald observou as pessoas que se reuniam na fila. Sentiu-se um pouco mais animado ao avistar o homem que vinha andando lentamente, na direção oposta.
- Ora, ora - disse. - Que agradável coincidência.
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