O começo de um Futuro



- Não. - Mas mesmo assim se sentou na mesinha de centro. - Tudo o que você tem me falado... Não estava inventando nada daquilo.
- Não, eu não inventei nada. Sou uma bruxa, como minha mãe, meu pai, todos os meus irmãos, como a mãe da minha mãe e a mãe dela, por muitas gerações atrás. Não saio por aí voando em cabos de vassoura, embora tenha feito muito isso em Hogwarts, e não faço feitiços contra jovens princesas, nem distribuo maçãs envenenadas.
- Faça mais alguma coisa. – Johnny pediu.
Um lampejo de impaciência passou pelo rosto dela.
- Não sou uma foca amestrada.
- Faça mais alguma coisa. - ele insistiu. - Você consegue desaparecer ou...
- Ora, Johnny, sinceramente...
Ele estava de pé outra vez.
- Escute, me dê uma chance. Estou tentando ajudá-la. Talvez você pudesse... - Um livro voou para fora da estante, indo bater direto na cabeça dele. Fazendo uma careta de dor, Johnny esfregou o lugar atingido. - Tudo bem, tudo bem. Não precisa se incomodar.
- Isto não é um espetáculo de circo. - ela disse, com firmeza. - Apenas fiz uma demonstração drástica e óbvia, porque você é um cabeça-dura. Você se recusa a acreditar nas coisas que estão debaixo do seu nariz e desde que estamos desenvolvendo algum tipo de relacionamento, prefiro que não me ache uma louca. - Virginia alisou a saia do vestido. - E, agora que acredita, vou lhe dar um tempo para pensar a respeito, antes de seguirmos em frente.
- Seguir em frente. - ele repetiu. - Talvez o próximo passo seja conversarmos sobre isso.
- Agora não.
- Mas que droga, Virginia, você não pode me atirar tudo isso de repente e depois sair calmamente. Meu Deus, feiticeiras não existem... Não existiam, pelo menos até agora.... Meu Deus, você é uma feiticeira!
- Sou uma bruxa. - Ela jogou os cabelos para trás. - Creio que isto já está bem claro para você.
A cabeça de Johnny começou a girar outra vez. A realidade fizera uma curva longa e lenta.
- Tenho milhões de perguntas.
Ela pegou a bolsa.
- Você já me fez várias dentre estas milhões. Escute as gravações. Todas as respostas que lhe dei são verdadeiras.
- Não quero ouvir as gravações, quero conversar com você.
- No momento, só importa o que eu quero. - Ela abriu a bolsa e retirou uma esmeralda pequena, presa numa correntinha de prata. Deveria saber que havia um motivo para ter se sentido compelida a guardá-la na bolsa, naquela manhã. - Aqui está. - Aproximando-se dele, passou a correntinha pela sua cabeça.
- Obrigado, mas não gosto de usar jóias.
- Então considere como um amuleto. - Virginia o beijou nas duas faces.
Johnny examinou a pedra, desconfiado.
- Que tipo de amuleto?
- Para iluminar sua mente, incentivar a criatividade e... Está vendo esta pedrinha roxa acima da esmeralda?
- Sim.
- É uma ametista. - Ela sorriu, roçando os lábios nos dele. - Serve para protegê-lo de qualquer tipo de bruxaria. - Com a gata já aos seus pés, Virginia se encaminhou para a porta.
- Gina, estou cansada. Quero irrrrr para a minha casa. – Luna falou, deixando Johnny mais perplexo ainda.
- Ela.... fala? Mas, gatos não falam!!!
- Mas eu falo... E sou muito mais inteligente que muitos humanos.
- Vá dormir, Johnny. Seu cérebro está cansado. Quando acordar, conseguirá escrever. E quando chegar o momento certo, você me encontrará. – E falando isso, desapareceu no ar.
Para Johnny pareceu que as moléculas de Gina simplesmente haviam se desintegrado. Aquilo era impossível!!!
Franzindo a testa, Johnny pegou a pedra verde e olhou-a novamente. Iluminar a mente. Tudo bem, estava precisando disso. Naquele instante, seus pensamentos estavam tão claros quanto fumaça.
Passou o dedo pela ametista que fazia companhia à esmeralda. Proteção contra bruxarias... Levantou a cabeça e ouviu o barulho do carro de Virginia se afastando.
O que ele realmente precisava era pensar, e não dormir. No entanto, acabou concluindo que homem nenhum seria capaz de pensar depois do que acontecera nos últimos quinze minutos. Voltou lentamente para a sala a fim de examinar o teto com mais atenção. Não podia negar o que vira, o que sentira. Mas, talvez com o tempo, pudesse formular algumas alternativas lógicas.
Dando início a tal processo, assumiu sua posição favorita para a meditação. Deitou no sofá. Não gostava da idéia de que poderia ter sido levado a um transe ou de ter sofrido uma alucinação, mas era uma possibilidade. Bem mais fácil de se acreditar, agora que estava novamente sozinho. E se não acreditasse nisto ou em qualquer outra explicação lógica, ele teria de aceitar que Virginia era exatamente o que sempre afirmara ser: uma feiticeira.
Johnny tirou os sapatos e tentou refletir, mas Virginia preenchia-lhe todos os pensamentos.
“Truques” - disse a si mesmo, enquanto seu coração dava um pulo desagradável no peito. Era mais sensato presumir que fossem truques e tentar racionalizar a maneira como ela os produzira. Como uma mulher conseguiria erguer um homem de mais setenta quilos a quinze centímetros do chão?
Cabos de aço... Só podia ser!
Ela tinha dito para escutar as gravações. Era o que ele ia fazer. Virando-se no sofá, apertou os botões do gravador até voltar a fita para o começo.
A voz aveludada de Virginia fluiu do pequeno aparelho.
- Não é necessário pertencer a uma convenção de bruxas para ser uma feiticeira. Você faz parte de algum clube, Johnny?
- Não. Tais grupos geralmente possuem regras feitas por outras pessoas. E adoram delegar tarefas.
Virginia continuou falando, ele continuou perguntando, mas Johnny começou sentir dificuldade de acompanhar as palavras. Se fechasse os olhos, quase podia acreditar que ela estava ali, enroscada ao seu lado no sofá.
E então, Johnny adormeceu.
Quando acordou, quase duas horas já tinham se passado. Sentiu os olhos pesados de sono e piscou várias vezes, olhando no relógio enquanto se obrigava a se sentar no sofá. Não devia se surpreender por ter dormido tão pesado. Nos últimos dias, seu sono se limitava a rápidas cochiladas. Automaticamente, estendeu a mão para a garrafa na mesa e bebeu um longo gole do refrigerante morno.
Tudo aquilo podia ter sido um sonho. Exceto por... Seus dedos tocaram a pedra que pendia da corrente em seu peito. Tudo bem, então, ele decidiu. Iria parar de retroceder e de duvidar da própria sanidade mental. Ela havia feito o que fizera. E ele havia visto o que ela fizera.
Não era assim tão complicado, na verdade. Mais uma questão de acostumar o pensamento e aceitar algo novo. Tempos atrás as pessoas acreditavam que viagens espaciais eram apenas frutos da fantasia. Por outro lado, há muitos séculos a feitiçaria já era aceita sem questionamentos.
Talvez a realidade tivesse muito a ver com o século vivido. Tal possibilidade fez com que seu cérebro se acionasse.
Johnny bebeu mais um gole do refrigerante e fez uma careta quando recolocou a tampa na garrafa. Não estava apenas com sede, percebeu. Estava faminto. E muito, muito mais importante do que seu estômago, era a sua mente. A história inteira parecia se desenrolar dentro dela.
Foi até a cozinha e fez um sanduíche gigantesco, preparou o café mais forte do planeta e depois começou a trabalhar.

***
Virginia se sentou no terraço ensolarado da casa de Parminda, invejando e admirando o jardim maravilhosamente arquitetado pela prima. Daquele ponto em Londres conseguia avistar as águas intensamente azuis da baía.
Ali estava bem escondida dos roteiros turísticos, parecendo a um mundo de distância do burburinho de Londres e, principalmente, dele. Ele precisava de algum tempo para digerir aquilo tudo
Ela entendia porque Parminda morava ali. Naquela montanha, moravam a serenidade e o isolamento tão necessários à sua prima mais nova. Virginia sempre ia pra lá quando seu coração se tumultuava. O local era muito parecido com Parminda. Adorável, acolhedor, sem nenhuma malícia ou maldade.
- Saídos do forno! - Parminda anunciou, trazendo uma bandeja ao atravessar a porta da varanda.
- Ah, meu Deus, Parminda... biscoitos de chocolate. Os meus preferidos! Deve ter dado tanto trabalho...
- Hum, Virginia... Esqueceu-se que eu também sou bruxa e tenho uma varinha?
Com um risinho de alegria, Parminda deixou a bandeja na mesa de tampo de vidro.
- Senti um impulso de fazer os biscoitos hoje cedo. Agora entendo por quê.
Mais do que disposta, Virginia deu a primeira mordida no biscoito. Seus olhos se fecharam enquanto o chocolate cremoso se derretia em sua boca.
- Então... Fiquei surpresa ao vê-la por aqui no meio do dia.
- Aproveitei para tirar um longo intervalo do almoço. - Virginia deu mais uma mordida no biscoito. - Emily tem tudo sob controle.
- Ela tem sim, com certeza. Mas e você, tem?
- Eu não tenho sempre?
Parminda pousou a mão sobre a de Virginia. E antes que ela tentasse afastá-la, sua tristeza melhorou um pouco.
- Não posso evitar sentir o quanto você está inquieta, Virginia! Eu gostaria de ajudá-la.
- Bem, você gosta de plantas e você tem o dom da cura . - Virginia falou, com um sorriso. - Que tal um pouco de essência de Helleborus Black?
Parminda também sorriu. A erva Helleborus, mais conhecida como "heléboro-negro", supostamente tinha o poder de curar a loucura.
- Está preocupada com sua sanidade, querida? Ou com a de Johnny?
- Com a dele. - Encolhendo os ombros, Virginia pegou outro biscoito. - Ou poderia escolher o modo mais fácil e preparar uma mistura com ovos de cinzal.
- Uma poção do amor? - Parminda também experimentou um biscoito. - Para alguém que eu conheço?
- Johnny, é claro.
- É, claro. As coisas não vão indo bem?
Uma leve ruga apareceu na testa de Virginia.
- Não sei como vão as coisas. Só sei que eu preferia não ser tão escrupulosa. Afinal, "amarrar" um homem é um procedimento bastante simples.
- Mas não muito satisfatório.
- Não. - Virginia admitiu. - Não posso imaginar como seria. Para dizer a verdade, Parminda, depois que Harry morreu, nunca pensei seriamente em como seria ter um homem apaixonado por mim, E também nunca pensei em me apaixonar novamente. O problema é que, desta vez, meu coração está envolvido demais para meu gosto.
- Você já falou com ele?
Surpresa com a dor rápida e intensa que lhe atingiu o peito, Virginia fechou os olhos.
- Não posso falar nada, quando eu mesma não tenho certeza absoluta.
- É impossível sobreviver sem amor, Virginia.
E mudando de assunto, Virginia continuou.
- Você acha que fomos mimadas demais, Parminda?
- Mimadas? Em que sentido?
- Em relação às nossas expectativas. - Virginia fez um gesto de desamparo.
- Não creio que saber que o amor pode ser profundo, verdadeiro e duradouro, signifique ter sido mimada.
Virginia se levantou com um resmungo de irritação.
- Odeio não estar no controle.
Um sorriso iluminou o rosto de Parminda, enquanto também se levantava.
- Pois tenho certeza de que você está no controle, querida. Por tanto tempo quanto sou capaz de me lembrar, você sempre conseguiu o que queria, somente com a força de sua personalidade.
Virginia lhe enviou um rápido olhar.
- Imagino que esteja dizendo que eu era tirânica e irritante.
- De maneira alguma. Mas o que mais a ilustra é a sua voluntariedade.
Longe de ser apaziguada, Virginia se abaixou para sentir o perfume de uma petunia totalmente desabrochada.
- Creio que deveria considerar isso como um elogio. Mas o fato de ser voluntariosa não me ajuda muito, no momento.
Seguiu pelo estreito caminho de pedras que serpenteava através dos canteiros floridos e do emaranhado das trepadeiras. - Há mais de uma semana que não o vejo, Parminda. Meu Deus... - acrescentou. - Estou parecendo uma dessas choronas que vivem se lamentando.
Parminda teve de rir, enquanto dava um rápido abraço na prima.
- Não, nada disso. Você está parecendo apenas uma mulher impaciente.
- Bem, estou mesmo impaciente.
- Você ligou para ele?
- Não. - Virginia comprimiu os lábios. - No início, não liguei porque pensei que seria melhor dar um pouco de tempo a nós dois. Depois... - Ela sempre fora capaz de rir de si mesma. – Não liguei porque estava morrendo de raiva por ele não ter tentado arrombar a minha porta. Ele telefonou algumas vezes, na loja e em casa. Mas desligava assim que eu atendia. Parminda - Virginia falou, pacientemente, - tente se manter dentro da programação. Você deve sentir pena de mim, e não procurar desculpas para ele.
Obediente, Parminda fez uma expressão de tristeza.
- Tudo bem, tudo bem, senhorita....
- É este seu coração mole, como sempre. - Virginia beijou-a no rosto. - Mas eu a perdôo por isso.
Enquanto caminhavam, uma vistosa borboleta amarela esvoaçou diante delas. Distraída, Parminda estendeu a mão e a borboleta pousou timidamente em sua palma. Ela parou para acariciar as frágeis asas.
- Por que você não me conta o que pretende fazer a respeito deste escritor que a está deixando tão maluca?
- Estive pensando em passar algumas semanas na Irlanda ou então, ir para Ottery St. Catchpole .
Parminda liberou a borboleta com suas melhores bênçãos, depois se virou para a prima.
- Eu lhe desejaria uma boa viagem, mas também gostaria de lembrá-la de que fugir apenas adia o problema. Não o soluciona.
- E é por isso que ainda não comecei a arrumar as malas. - Virginia suspirou. - Parminda, quando o vi pela última vez, ele acreditou que eu sou o que sou. Quis lhe dar um tempo para se acostumar com a idéia.
- Talvez ele precise de mais alguns dias. - falou, cautelosa. - Pode ser que ainda não tenha sido capaz de aceitar este fato.
- Eu sei. - O olhar de Virginia se estendeu para o horizonte, onde a água da baía encontrava o céu. Era impossível saber exatamente o que haveria além do horizonte. - Parminda, eu serei dele antes do amanhecer. Disto eu tenho certeza. O que ainda não sei é se irei me sentir feliz ou miserável depois desta noite.


Trecho do próximo capítulo:

- Acho que não vou conseguir me acostumar com isso tão cedo.
Virginia se limitou a lhe entregar as flores.
- Segure-as um pouco para mim, enquanto eu arrumo essa bagunça.
- Accio varinha.
Johnny pôde ouvir um barulho vindo em sua direção, e só teve tempo de se abaixar quando a varinha passou perto de sua cabeça.
Fez um único gesto e o quarto todo estava arrumado.
- É tão fácil assim? – Johnny perguntou.



Nota da Autora: Hoje eu estou meio sem criatividade para nota da autora... Então, peço que comentem... Bjux


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.