SEM FÔLEGO



CAPÍTULO 27:


SEM FÔLEGO!


Gina Weasley esfregou a nuca e depois as têmporas, antes de alongar os braços, tentando diminuir o desconforto causado pelas longas horas que permanecera na mesma posição. Sentada à um canto da vazia biblioteca de Hogwarts, contemplou a infinidade de livros sobre a mesa e cadeiras próximas a si. A luz dourada do archote às suas costas mostrou-lhe as milhares de páginas amareladas, incrustadas com a poeira do tempo e desuso, cheias de histórias, instruções, teorias e afins, mas que nada haviam lhe revelado sobre o que procurava, pelo menos até aquele momento. Franziu as sobrancelhas, sentindo-se frustrada, e antes que a exasperação a tomasse, levantou-se com a firme intenção de permitir-se um intervalo, antes de continuar a busca.

Pela enésima vez na noite, seu olhar procurou pela alta e estreita janela, a única por ali que abria em direção à Hogsmead. A preocupação substituiu o cansaço em sua mente...O que estaria acontecendo? Por que a demora?

Como se respondendo à sua pergunta, a porta da biblioteca abriu-se, o rangido das antigas dobradiças soando alto no silêncio absoluto da enorme sala. Gina chegou a desenhar um aliviado sorriso, quando surgiram as figuras de Ron e Hermione, aparentando estarem bem e inteiros. O sorriso apagou-se rapidamente, ao tomar consciência de três assustadores fatos... Hermione tinha o rosto contraído, e a olhava entristecida, os olhos escuros contrastando com sua palidez, e Ron... Quando os olhares dos dois irmãos se encontraram, o transtorno explícito no semblante do mais velho congelou os movimentos da caçula. Algo estava muito errado! Procurou por ele no espaço atrás do irmão, a ausência fazendo seu coração falhar várias batidas...- ” Harry!”

- Aonde ele está?

- Gina, escute...

- Porque ele não veio com vocês?...

- Ele está na ala hospitalar... – Hermione começou a explicar, com voz entrecortada.

Foi como se as palavras funcionassem como um estopim. Mal foram pronunciadas e a garota já se afastava dos dois, disparando rumo ao corredor. Ron a seguiu até a porta.

- Espere! Não poderá entrar lá... – As palavras do irmão perderam-se entre as paredes, substituídas pelo som de seus próprios passos, conforme corria para as escadas. Em sua aflição, amaldiçoou seus pés, que pareciam tão lentos, e os corredores do castelo, que nunca foram tão infinitamente longos...


Ron observou a irmã correr e sumir por uma curva do caminho, soltando o ar dos pulmões, desalentado. Sabia o que ela iria encontrar quando chegasse à enfermaria, e seu coração condoeu-se pela mais nova... Voltou para junto de Hermione, pronto a chamá-la para irem atrás de Gina, quando deparou-se com o choro sentido e silencioso da amiga. De cabeça baixa, os ombros sacudindo levemente, ela extravasava finalmente todas as emoções contidas naquela noite.

- Aquele feitiço de Snape era para mim... – Lamentou, com voz fraca, sem erguer os olhos.

- Mione... – Chamou-a Ron, suavemente. Hermione soluçou alto, fazendo-o esquecer dos próprios pensamentos sobre culpa e temor, enquanto a puxava para si, envolvendo-a em um reconfortante abraço. – Shh... Vai ficar tudo bem... Ele vai ficar bem...– Sussurrou, com mais certeza do que realmente possuía. Embalou-a de leve, sentindo de encontro ao peito o tremor convulsivo da sempre sensata e corajosa Hermione.

Com o pranto correndo livre, ela o encarou, sem esperanças.

- Talvez... Talvez ele se salve mais uma vez... Mas até quando, Ron?... Quantas vezes mais? Que chances Harry, você, eu, Gina... e os outros,... temos de sair dessa guerra vivos? ...Nós ainda nem enfrentamos Vo-o-oldem-o-ort...E agora... Harry... está...

Sem respostas, o rapaz a abraçou mais forte, deixando que ela desabafasse à vontade. Hermione chorou por algum tempo, amparada por Ron, até que as lágrimas aliviaram seus medos, e ela puxou o ar profundamente, a coragem de uma Grifinória nata voltando a luzir em seus olhos. Afastando-se um pouco, olhou em direção à saída.

- Vamos atrás de Gina... Ela deve estar precisando desse seu ombro amigo também...- Enunciou mais calma, embora os lábios ainda tremessem.

Ron passou carinhosamente as mãos pelas faces úmidas, enxugando-lhe as lágrimas, enquanto pedia silenciosamente aos céus para que, da próxima vez, fosse mais eficiente em protegê-la e em ajudar ao melhor amigo. Erguendo o queixo de Hermione com o dedo indicador, beijou-a de leve, antes de estampar um discreto, mas encorajador, sorriso.

- Essa é a minha garota!...

Levando-a pela mão, encaminhou-se para a enfermaria.


Gina avançou diretamente para o alto e largo vulto, que só poderia ser Hagrid, e que achava-se sozinho, guardando as portas duplas da Ala Hospitalar. Os grandes olhos de besouro brilhavam estranhamente, e ao ver a jovem Weasley aproximando-se, suspirou, triste por ela também.

- Olá, pequena Gina... - Cumprimentou, enquanto esticava os grandes braços para impedi-la de entrar.

- Hagrid, me deixe passar! – Rosnou a garota, desviando-se de seu gesto amigável.

- Não!... Ninguém pode passar ... Ordens da Diretora MacGon...

- Pro inferno! Eu quero ver como ele está! Quero saber o que aconteceu!

Hagrid a encarou, penalizado. Reconheceu o medo por trás da raiva, e as brilhantes lágrimas prontas a saltar dos olhos castanhos. Com a gigantesca mão espalmada, despenteou os cabelos ruivos, dizendo bondosamente.

- Todos estamos preocupados, êh... Vamos deixar a diretora e Madame Pomfrey ajudá-lo, é o melhor que pode fazer por ele, pequena...

Gina olhou para as portas fechadas e de volta para o amigo, baixando os olhos em seguida. Só havia tristeza em sua voz, quando voltou a falar.

- Como ele está? Pode me dizer isso?...

Os olhos negros do guarda caças marejaram, e ele tentou soar firme, sem muito sucesso.

- Está bem machucado, isso eu vi. Mas temos de esperar pra saber mais... Lupin está cuidando de Olho Tonto, que também se feriu, mas deve sair logo para nos contar o que foi que houve, afinal...

- Queria vê-lo... – Resumiu a menina, e Hagrid remexeu-lhe os cabelos novamente, tentando confortá-la. Gina abraçou-se à cintura do grande amigo, escondendo o rosto contra o tecido rústico de suas roupas, e ali, finalmente, chorou. E foi assim que Ron e Hermione os encontraram, muitos minutos depois.

= * =

- E então, Papoula?

Antes de responder, Madame Pomfrey acabou de aplicar a pasta escura, preparada com um conjunto de poderosas plantas com propriedades antibióticas, sobre o ferimento de Harry, que estava deitado de lado sob a cama, inconsciente, tão branco quanto os lençóis e respirando de forma irregular.- Fiz o que podia... – Murmurou a enfermeira, preocupada, depositando cuidadosamente uma larga faixa de tecido claro, embebida em uma poção incolor sobre a pasta, e prendendo tudo com ataduras mágicas, finalizando o curativo.- Não está sangrando, por enquanto, e já tratei para que não haja infecção, mas ele foi atingido nos pulmões, e receio que minhas poções só tenham aliviado por pouco tempo os sintomas... Ele precisa de um medi bruxo, Minerva! Urgente! Se não fecharmos os ferimentos internos, a hemorragia poderá levá-lo...

MacGonagall voltou-se para Tonks, que achava-se por perto, esperando por ordens.

- Vá pela lareira de minha antiga sala. Tem pó de Flu sobre o anteparo. Traga o mais experiente neste tipo de tratamento. Estupore-o se for preciso, mas o traga aqui sem demora!

Tonks assentiu com a cabeça, lançou um último olhar para Harry, e outro mais intenso e breve para Lupin e sumiu porta afora. MacGonagall aproximou-se da cama onde Alastor Moody recuperava-se, dormindo profundamente, graças a uma das poderosas poções de Madame Pomfrey, já que por ele ainda estaria em pé, escorado em sua única perna, segurando um dos olhos com as mãos, mas próximo a Harry. O olho destruído jazia no criado mudo a seu lado e Lupin, que tratara do chefe da Ordem da Fênix, encontrava-se sentado na cama mais próxima, os ombros caídos revelando toda sua fadiga.

- Remo, precisamos cuidar das coisas em Hogsmead... Aberforth e Malfoy... Não podem ser encontrados pelos moradores da vila. Também é preciso procurar por algum sinal de Snape...

Lupin resumira rapidamente para as três mulheres e a Hagrid o que acontecera, enquanto prestavam os primeiros socorros aos dois bruxos feridos. A única reação de MacGonagall fora um olhar admirado na hora, mas agora providências tinham que ser tomadas.

- Eu vou... – Concluiu resignadamente, olhando pesaroso para o leito de Harry. – Se houver alguma alteração...

- Eu o chamo imediatamente, não se preocupe! – Concluiu a diretora, com um olhar firme. – Leve Flittwick e Hagrid com você.

- Os meninos devem estar ansiosos aí fora...

- Deixe que eu mesma falo com eles... Vamos!

- Minerva!

Ao som da voz da enfermeira tanto a diretora quanto Lupin apressaram-se para perto da cama de Harry. Madame Pomfrey tinha uma das mãos sobre a testa do rapaz, que agora agitava-se levemente.

- Febre! Se a temperatura dele subir muito, começara a se debater, e o ferimento...

Lupin resmungou uma imprecação e a diretora tocou ela mesma a testa de Harry.

- Você pode controlá-la?

- Vou tentar, mas ele precisa tratar desse pulmão, rapidamente!

- Faça o que puder, por agora! Tonks tem ordens para não demorar, logo teremos ajuda...- Fez um único e surpreendente carinho nos cabelos revoltos de Harry, e retomou a atitude severa, chamando Lupin enquanto caminhava para a porta.

- Vamos, Remo.


Gina, Ron e Mione praticamente voaram para cima da diretora, assim que ela pôs os pés para fora da Ala Hospitalar. Hagrid também aproximou-se, embora parecesse mais calmo. Tonks havia passado por eles como um furacão, sem dar qualquer notícia sobre Harry, e a ansiedade em saber do amigo fez os jovens esquecerem que se tratava de Minerva MacGonagall, diretora de Hogwarts.

- O que está acontecendo? – Exigiu Gina, segurando com firmeza o braço da bruxa mais velha. Ninguém mais passaria por ala sem dar explicações.

- Ele melhorou? Madame Pomfrey conseguiu? – Ron não chegou a erguer a voz, mas parecia tão disposto quanto a irmã em conseguir informações, assomando sobre a diretora e Lupin com toda a sua altura.

- Aonde foi Tonks? – concluiu Hermione, sem lembrar de ralhar com os outros pelos maus modos.

Lupin chegou a sorrir diante da cena. Ia começar a falar quando recebeu um olhar cortante da diretora, que gesticulou em direção às escadas.

- Vá! Eu falo com eles. Hagrid, por favor, acompanhe Remo. Ele precisará de sua ajuda.

Lançando um silencioso pedido de desculpas aos garotos, os dois partiram a passos largos. MacGonagall voltou-se para os três ansiosos pares de olhos a sua frente, colocando brevemente sua mão sobre a de Gina, que ainda segurava seu braço.

- Harry, como vocês sabem, foi seriamente ferido. E também, foi atingido por um feitiço muito forte, que infelizmente, ainda não conseguimos discernir qual é. – Hermione engoliu em seco, e Gina, que fora informada pelos amigos de tudo que se passara, rugiu algo parecido com “Seboso!”. Ron permaneceu com os olhos fixos na diretora, que continuou. – Está fraco, com sérias dificuldades para respirar e começa a ter febre. O quadro geral é preocupante, mas tudo que é possível está sendo feito.

Os três começaram a falar ao mesmo tempo, mas o tom de MacGonagall subiu, sobrepondo-se.

- Não, vocês não podem vê-lo agora. Talvez mais tarde, depois que ...

Nesse momento vozes alteradas soaram pelo corredor, e logo surgiram Tonks, cujos cabelos estavam em um tom tão vermelho quanto suas faces, e que exalava fúria por todos os poros, e um bruxo conhecido dos meninos, principalmente de Ron e Gina. Era o jovem medi bruxo que tratara do Sr. Weasley, quase dois anos antes, quando ele foi atacado no Ministério da Magia. Com um uniforme verde claro, e carregando uma valise que desprendia aromas estranhos, o Dr. Augusto Pye parecia muito nervoso também.

- Era o único nessa especialidade que estava lá, Minerva! Como não podia demorar... – Esclareceu Tonks, olhando com desgosto para o empertigado medi bruxo.

- Diretora MacGonagall! Quero deixar bem claro minha revolta com essa situação! Atendimentos a domicílio não são prática no Saint Mungus! Não posso ser ameaçado ... – Apontou acintosamente para Tonks, que bateu a ponta da própria varinha na cabeça, debochando. – .. e trazido praticamente à força para Hogwarts, cada vez que um de seus estudantes estiver com dor de barriga e não aceitar ir para o hospital...

- Boa noite, doutor! – Cortou MacGonagall, com sua voz mais intimidadora e o olhar mortífero destinado aos alunos mais bagunceiros. O medi bruxo calou-se instantaneamente. – Se o senhor já terminou sua reclamação, a um atendimento a ser feito. Quando souber de quem se trata, entenderá. Por aqui, por favor! – Comandou, abrindo a porta da enfermaria para o bruxo, que desapareceu por elas. A diretora olhou para os jovens. - Tonks, leve-os para o salão da Grifinória, e certifique-se de que descansem um pouco, e se possível alimentem-se. - Gina esboçava uma reação contrariada, quando foi impedida por um gesto imperioso da diretora.– Sem discussão, Srta. Weasley! Não podem fazer nada aqui, e não serão de ajuda se estiverem doentes de cansaço quando ele se restabelecer...

Hermione puxou a amiga pela mão, e Ron também a incentivou a aceitar, empurrando-a de leve.

- Vamos Gina! Precisamos mesmo conversar...

Ainda relutante, a jovem seguiu Tonks, olhando uma vez mais para as portas que escondiam Harry Potter de seus olhos. Caminhou em silêncio, olhos baixos, sem perceber os olhares solidários que recebia dos três bruxos que a acompanhavam, até chegarem ao quadro da Mulher Gorda, e à visão familiar e reconfortante das poltronas de couro em frente à grande lareira da casa Grifinória.

Os três se jogaram sobre as almofadas macias, enquanto Tonks dirigia-se a uma das mesas.

- Que tal um pouco de cerveja amanteigada? Estamos precisando...E talvez alguns bolos de caldeirão... O que acham?

Enquanto os Weasley davam de ombros, sem se interessar muito, Hermione ergueu inquisidoramente as sobrancelhas para Tonks.

- Cerveja amanteigada? Como?...

- Bem, eu convivi com dois dos originais Marotos, e ainda tenho alguma proximidade com um deles... – Sorriu discretamente. – É praticamente impossível não aprender algumas artimanhas... Volto já!

Gina acompanhou com os olhos a saída de Tonks, para depois puxar o assunto.

- Contem novamente o que aconteceu, por favor...

Hermione narrou os fatos acontecidos, desta vez com mais calma, desde a saída do castelo, a história de Aberforth e finalmente o ataque de Snape. Escutando as palavras dela, a culpa assaltou Ron outra vez, e ele amparou a cabeça com as mãos, suspirando inconformado.

- Mas... Se Snape morreu...

- Também não temos idéia de como ele desapareceu, Gina. Foi o tempo de verificarmos o que acontecia com Harry, e o corpo sumiu. – Concluiu Hermione.

- Vocês tem certeza que ele realmente foi morto?

- Ele foi atingido por dois Avadas... Um só já seria definitivo!

Ron ergueu a cabeça, e sorriu amargamente para Hermione.

- Não necessariamente...

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer, Hermione, que se a maldição lançada por aquele pústula do Rabicho foi tão fraca e falha quanto a minha, Snape pode muito bem estar vivo!

Gina arregalou os olhos para o irmão, surpreendida com o auto desprezo contido em suas palavras. Hermione apenas o encarou por um instante, parecendo pronta a desfiar um de seus sermões. Abriu a boca, para fechá-la novamente um segundo depois, indo sentar-se ao lado do rapaz, que voltara a tombar a cabeça sobre os braços. Colocou a mão em seu ombro, falando em tom conciliador.

- Você lembra das explicações sobre as Maldições Imperdoáveis, Ron? – Ele resmungou algo incompreensível. – Somente um bruxo que queira realmente matar, é capaz de conjurar o Avada Kedavra de forma eficaz... – Outro resmungo. – O fato de você não querer assassinar alguém só lhe traz mérito Ron, e não o contrário.

- Mérito? Foi Rabicho... Rabicho, que salvou Harry esta noite! Se ele, e você também, tivessem dependido só de mim, estariam mortos a essa hora! Que mérito há para mim nisto?

As últimas palavras saíram praticamente gritadas, e ele levantou-se, caminhando cheio de raiva até as janelas, aonde permaneceu olhando para os jardins, imóvel. Gina e Hermione se entreolharam, preocupadas. A caçula Weasley aproximou-se do irmão, e tocou-lhe o braço de leve.

- Você é a pessoa em que Harry mais confia nessa vida! Nem Dumbledore, nem Sirius, Moody, Lupin ou eu mesma! Você! Você e Hermione! E ele confia assim, porque sabe que quando precisar, estarão lá para ele!

Hermione achegou-se também, e abraçou-o pela cintura, encostando a testa em suas costas.

-Duelou com Lestrange de igual para igual, partiu em minha defesa sem hesitar, e se sua maldição não matou Snape, teria sido o suficiente para desacordá-lo, no mínimo... Não tem motivo para duvidar disso! Eu sei! Vi acontecer!

Ron permaneceu sem reação por alguns momentos, e então respirou fundo, relaxando os ombros. Virando-se de frente para as garotas, enlaçou cada uma com um braço.

- Eu já disse que amo vocês?

- Não! – Respondeu Hermione, piscando para Gina. – Mas nós sabemos...

O buraco do retrato abriu-se, e uma porção de garrafas e uma bandeja repleta de bolos adentraram ao salão, guiados pela varinha de Tonks.

- Hora de comer, pessoal! Pelo menos um bolinho cada! Senão Minerva irá me azarar e terei que descontar em vocês... Depois irão dormir um pouco, também...

- Sem chance! – Atalhou Gina. – Queremos esperar por notícias de Harry! – Ron e Hermione concordaram enfaticamente, e Tonks aceitou a derrota.

- O.k.! Mas precisam se alimentar, pelo menos, depois vou eu mesma atrás daquele doutorzinho reclamão, e trago notícias.

Depois de algumas poucas mordidas, e outros tantos goles de cerveja amanteigada, o assunto voltou para Rabicho e Snape.

- De onde surgiu Rabicho? Estaria com Snape o tempo todo? E por que matá-lo, salvando a Harry? – Questionou Tonks.

- Eu acho que Seboso não tinha idéia que ele estava lá! Lembram-se que Harry nos contou que Voldemort não confiava mais em Snape? Talvez tenha colocado o ratão para segui-lo e vigiá-lo... – Respondeu Ron.

- Vigiá-lo eu concordo, mas matar o braço direito de Voldemort, defendendo Harry Potter? Isso não foi feito a mando de Tom Riddle, com certeza! – Sentenciou Gina.

- Rabicho possuía uma dívida pesada para com Harry... Foi salvo por ele de Remo e Sirius... Deve ter visto ali a oportunidade ideal para saldá-la, sem o Lord por perto, e como sempre odiou Snape... Talvez o próprio rato tenha levado o corpo do velho Seboso, para presentear a Voldemort com o traidor morto...– Tonks parou de falar, observando surpresa a garota sentada à sua frente.

Hermione congelara um movimento de levar a garrafa à boca, olhando para o vazio, estática.

- O que foi, Mione?

Ela ergueu os olhos temerosos para Ron, aspirando o ar profundamente.

- Rabicho levou Lestrange e talvez Snape, e provavelmente teve tempo de perceber a seriedade dos ferimentos de Harry... Supondo que ele ouviu toda a explicação sobre RAB também...

- O Cara de Cobra já deve estar sabendo de tudo! – Completou Ron, acompanhando o raciocínio. – Desde as traições de Snape, o que Rabicho utilizará para justificar seu assassinato, até...

- O fato de que Harry encontra-se sem condições para defender-se! – Sussurrou Gina.

- E que deve estar aqui em Hogwarts... – Terminou Hermione. Os olhos dos quatro encontraram-se em mútua compreensão. – Ele virá.

Tonks ergueu-se em um salto.

- Vou falar com Minerva!

Os três jovens não hesitaram.

- Vamos com você!



== * ==

Dor. Respirar doía. Era a principal sensação que Harry podia distinguir, juntamente com pensamentos confusos e desencontrados e algumas vozes que falam baixo dentro de sua cabeça. Sentia calor, enjôo, angústia...Sem conseguir qualquer reação, foi tragado novamente pela escuridão.

No que pareceu ser muito tempo depois, o cérebro voltou a registrar movimentos externos por alguns segundos, e Harry, ainda sem ar e não lembrando bem o porque do fato e aonde estava, entendeu uma frase solta ao redor.

- Está feito! Depende do organismo dele agora... As próximas horas serão determinantes.

A voz soou conhecida, mas não houve tempo para lembranças. Algo frio tocou suas costas, e a dor amainou, segundos antes da escuridão vencer outra vez. Porém, lapsos de consciência, mesmo que enevoada pela dor e mal estar, tornaram-se mais freqüentes... Viu um homem de cabelos negros apontando a varinha para Hermione... Snape! ... – “Ele se foi! Mione está bem...”- Respondeu uma voz que tinha perfume de flores. A imagem sumiu, e ele sentiu-se calmo. Lembrou-se do próprio corpo caindo... havia se machucado! Por isso a dor...De repente a voz estava ralhando com ele... “É, você bancou o herói, sim...Trate de sobreviver, Potter!” Estou tentando...- Pensou, injuriado. A voz com perfume riu e depois disso algo muito macio e suave cobriu os lábios de Harry. - Melhorou! - Várias vozes rindo responderam ao seu pensamento. A escuridão voltou.

Havia qualquer coisa envolvendo suas costas, algo úmido em sua testa, e ouvia ruídos ao redor... Lentamente a consciência voltava, e com ela as memórias do que acontecera. Respirar já não doía tanto, e ele tentou mexer um pouco as pernas e braços. Estavam entorpecidos... Sua boca encontrava-se ressequida, e não conseguiu falar. Tentou os olhos, e esses responderam ao comando. Primeiro só houve luz e borrões brancos. Piscou algumas vezes, e os contornos da ala hospitalar de Hogwarts, banhada pelo sol, desenharam-se diante dele. Por intuição soube que estivera por longo tempo desacordado.

Havia alguém sentado próximo. A figura levantou, aproximando-se.

- Não tente levantar, Potter. Vou colocar seus óculos, mas é necessário que permaneça quieto...

A voz era firme, e o homem curvou-se ajeitando os óculos de Harry em seu rosto. Os olhos ainda embaçados divisaram uma cabeleira amarelada, que lembrava muito a juba de um leão... Harry escutou a voz de Madame Pomfrey anunciando alto que ele estava acordando, e uma porção de vultos agitaram-se em sua direção. Antes que eles chegassem, olhou para o bruxo ao lado da cama, e dessa vez a voz funcionou, embora saísse rouca e falha.

- Bom dia, Ministro...








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