ESCOMBROS ASSOMBRADOS




CAPÍTULO 6:

ESCOMBROS ASSOMBRADOS

O local era um porão escuro e fétido, o ambiente úmido cercando como água gelada os poucos que ali estavam. Na parede oposta à única porta, em uma cadeira de espaldar alto e braços, Voldemort sentava-se placidamente, a cabeça escorada em uma das mãos, no rosto viperino um sorriso frio que não chegava aos olhos de fendas.

Na sua frente, uma mulher de longos cabelos platinados, que já fora bela, estava ajoelhada. Narcissa Malfoy ofegava e soluçava, as mãos finas no chão sujo em atitude de humilde súplica. Os olhos febris e enlouquecidos de angústia e medo.

- Mestre, por favor! Não o tire de mim!...

Voldemort sequer se mexeu.

- É apenas um garoto... Em uma próxima missão... fará melhor... Por favor!!!

- Próxima missão? – Voldemort falou lentamente – Quantas missões como matar aquele velho você acha que ele teria?... Se não fosse por Severus , Dumbledore ainda estaria vivo. Não Cissy, ele falhou em sua missão mais importante, aliás como o pai dele fez também, e os dois serão castigados.

- Mestre, não...

- Cale-se mulher! Senão será castigada antes deles! Bella! Suma com essa inútil daqui!

Um vulto encapuzado aproximou-se e estuporou Narcissa. Sussurrando outro feitiço, Belatrix Lestrange levou o corpo inerte da irmã, flutuando, para fora do aposento. Voldemort levantou e aproximou-se da pessoa restante. Alguém forte, o rosto escondido pela capa, que rosnou em expectativa.

- Vá, delicie-se! Mas faça logo, antes que Severus volte. O juramento inquebrável que fez a Narcissa vai obrigá-lo a tentar salvar Malfoy. Por isso esperei até agora... Vou fazer do castigo ao imprestável garoto um exemplo para meus não tão fiéis seguidores. Não tolerarei falhas. De ninguém! Agora vá!

O sujeito não esperou uma segunda ordem. Emitindo um asqueroso som que parecia salivação, rugiu triunfante e saiu rápido da sala. Voldemort voltou à sua cadeira, encostou a cabeça no espaldar, e disse, em um tom assustador carregado da mais fria ameaça:

- E agora, o que fazer sobre Harry Potter?... – Sorriu outra vez, ao escutar os primeiros gritos desesperados de Draco Malfoy.


=*=


- Deixe ver se eu entendi. Você pensou no que fora feito de Malfoy, e algum tempo depois, viu Voldemort castigando-o?

Ron encarava o amigo, surpreso. Hermione parecia decididamente estressada.

- Ah, Harry! – Disse ela – Voldemort está entrando em sua mente novamente...

- Não está. Eu é que entrei na dele. E ele não estava castigando Draco pessoalmente, estava ordenando a alguém que o fizesse. De qualquer modo, foi muito rápido e eu não vi mais que isso.

- Você acha que ele percebeu você?

- Não, acho que não.

Hermione ficou parada, olhando para o nada enquanto mordia o lábio inferior. Harry piscou para Rony antes de dizer:

- Diga lá Mione! Nós conhecemos essa sua cara...

- Bom... Só pensei que, se você conseguisse entrar na mente de Voldemort sem ele perceber, seria muito útil, não é? Você sabe, entrar por querer e não sem controle do que acontecia, como ontem ou no ano retrasado...

- Você comeu muitas panquecas com molho de rum do Bull. – Rony concluiu, abismado – Ficou tonta.

Hermione ergueu os ombros, indiferente. Mas Harry sabia que ela voltaria à idéia logo. Ele mesmo não a achara de todo má, se conseguisse descobrir como faze-lo. Pegando a capa e a varinha, levantou e encaminhou-se para a porta, dizendo aos amigos:

- Vamos embora. Quero ver logo o que acontece na casa de meus pais.

Bull os aguardava à porta do restaurante.

- Então rapaz? Pronto?

Harry consentiu e eles tomaram a direção oposta a do cemitério. Passaram pelas casinhas bem jardinadas, por poucas pessoas que os olharam curiosas e saíram dos limites da vila. O terreno ali era mais elevado, a relva verde chegando-lhes a altura dos joelhos e o que antes fora uma estrada, agora era pouco mais que uma trilha. Chegaram então ao pé de uma colina, quase no topo desta o começo de um bosque com árvores muito altas. Antes das árvores, invadidos por mato rasteiro, sobre o que pareceu um piso de pedras, cercado por curtos pedaços de paredes quebradas, estavam os restos da casa de seus pais. Apenas madeira velha e tijolos quebrados, amontoados desordenadamente.

Quando Harry parou para olhar pela primeira vez a casa onde nascera, Rony aproveitou:

- Empreste a capa.

Harry o olhou sem entender.

- Se tem alguém lá em cima é melhor sabermos, não acha?

- Então vou eu...

- Não. Quem quer que esteja lá, tenha a certeza que não está atrás de mim. Além do mais, você é o herói. Se me pegarem, confio que conseguirá salvar seu pobre amigo...Você não pode se dar ao luxo de ser pego agora. – Completou, mais sério.

Hermione adiantou-se, segurando o ruivo pelo braço.

- Ron... Tenha cuidado.

Ele sorriu para ela, pegou a mão em seu braço e beijou-a, antes de dizer a Harry:

- Se estiver tudo o.k., vou disparar faíscas verdes com a varinha. Se não, vermelhas. Aí vocês correm lá me resgatar, certo? –Mas o olhar dizia claramente “ corram para longe!”. Ron sumiu por baixo da capa.

Harry esperou ansioso, andando de um lado para outro, enquanto Hermione não tirava os olhos do terreno da casa e Bull olhava de um para o outro, preocupado. Algum tempo depois, que pareceram horas, as faíscas verdes voaram alto e Harry disparou colina acima, deixando Mione e Bull para trás. Rony o esperava sentado no que deveria ter sido a porta de entrada. Harry diminui o passo até parar. Quando Rony ergueu o polegar, sinalizando que estava tudo bem, ele entrou lentamente nas ruínas. Bull, que chegara com Hermione, segurou-a e a Rony, dizendo que o deixassem ir sozinho.

Não havia móveis ou objetos para se ver, apenas escombros espalhados. A madeira gasta e envelhecida dando um ar de desalento ao lugar, os toscos pedaços de paredes desenhando vagamente a planta da casa. Harry olhava para tudo em expectativa, a sensação boa de que poderia achar algo que pertencera aos pais enchendo-lhe o peito. Lentamente andou pelo espaço, quando algo bem diferente atiçou-lhe os sentidos. Parou bruscamente e aspirou o ar, como se estivesse farejando algo.

- O que foi, cara? – Pediu Ron, aproximando-se – Viu algo?

- Não vi. Senti. Há magia aqui, magia poderosa.

- Bom, seus pais...

- Não, é diferente. Essa magia não pode ser resquícios de meus pais. É magia negra.

- Como sabe? Eu não sinto nada diferente.

- É a mesma sensação ruim que tive quando entrei naquela maldita caverna com Dumbledore. Ele me explicou o que era...

Hermione, que viera com Bull para perto, olhou descrente.

- Você acha que Voldemort andou por aqui recentemente?

- Ele ou seus capangas. Só não consigo atinar o porque...

Nesse momento os olhos de Harry brilharam intensamente, e ele virou-se, dividido entre incredulidade e satisfação, para os amigos.

- Dumbledore contou que Tom Riddle era extremamente ligado à história e a lugares significativos em sua vida. E disse que ele escolheria locais e objetos assim para esconder seus Horcruxes...

- E que lugar mais significativo para esconder parte de sua imortalidade, do que a casa onde você quase o matou! – Hermione completou o raciocínio.

- Isso explicaria os vultos vistos aqui. Podem ser os servos de Voldemort, cuidando para que ninguém se aproxime o suficiente para descobrir. – Disse Ron.

- Vamos procurar! Qualquer coisa, qualquer detalhe que pareça anormal pode mostrar o esconderijo. Tenham cuidado, provavelmente há feitiços protetores...

Até Bull, que não estava entendendo muita coisa, embrenhou-se na busca, levantando os entulhos mais pesados para os garotos. Procuraram por toda a tarde, e ao anoitecer, Bull tentou convencê-los a voltar no dia seguinte.

- Não podemos. - Decidiu Harry - Temos de achá-lo antes de algum comensal aparecer por aqui.

- Bem, vou descer pegar algo para comermos então, antes que a escuridão venha de uma vez...

Depois que Bull se foi, Harry olhou ao redor, descansando um pouco os braços doloridos. Foi aí que seus olhos caíram sobre o poço. Um pequeno poço, feito de tijolos vermelhos, situado nos fundos do terreno e que passara despercebido até ali. A mesma sensação que o levara até a vila e à antiga casa dos pais, o mesmo sentimento inexplicável de que era o que tinha de fazer, o levou até o círculo de tijolos. Ron e Mione, ao verem o amigo caminhar resoluto até lá, seguiram-no.

- Está lá embaixo. Tenho certeza.

- Ora, ora, muito bem! Você até que é razoavelmente esperto, Potter...

Os três viraram na direção da voz, embora Harry já a tivesse reconhecido. Com dois comensais às costas e a varinha apontando direto para o coração de Harry, estava Bellatrix Lestrange.


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