PERGUNTAS DO MINISTÉRIO



CAPÍTULO 18


PERGUNTAS DO MINISTÉRIO


Os flamejantes cabelos de Gina confundiam-se com as chamas, e os olhos brilharam para Harry por um momento, antes dela anunciar: - Volto já! – E desaparecer.

Ele virou-se para Hermione, a sobrancelha arqueada exigindo uma explicação. A amiga corou, devolvendo o olhar, mas não conseguiu conter o riso.

- Ah, Harry! Não resisti... E agora, pelo menos, vocês dois sabem como é que você se sente, não é? – Harry ergueu a outra sobrancelha também. – Olhe, eu vou preparar um chá. Acho que estamos todos precisando! Você fica e ... conversa um pouco com Gina, o.k.?

Levantou-se e, para nova surpresa do amigo, girou a varinha na direção de Ron, ainda adormecido no sofá, dizendo baixo:

- Muffliato! ... Pronto, isso deve evitar que vocês o acordem. Agora, com licença! – Ainda com o enorme sorriso, tomou o rumo da cozinha.

Uma nuvem de fumaça verde precedeu Gina, que desta vez viera de corpo inteiro, como a criatura no peito de Harry ficou feliz em constatar. Observou-a enquanto saía da lareira, espanando a fuligem das roupas. O desabafo com Hermione baixara suas defesas, e agora a falta que sentia da ruiva fez suas mãos formigarem, em expectativa. A moça endireitou-se, e então os olhos castanhos capturaram os verdes. Uma parte pequena, bem pequena, do cérebro de Harry alertava para os fatos de que haviam perguntas a serem feitas, explicações a serem dadas, que o ciumento irmão dela dormia ali perto, e que não tinham tempo disponível... mas esta parte também calou-se, quando ela se aproximou.

Gina passeou o olhar pela figura do rapaz, saudosa. Levando a mão aos rebeldes cabelos negros, indagou com voz suave:

- Aonde é que a minha ausência lhe causa dor, Harry?

Ele segurou-lhe a mão junto ao peito, enquanto a puxava pela cintura, encaixando-a em seu abraço.

- Escolha qualquer pedaço, e eu lhe garanto que ele dói quando não está por perto...

Gina sorriu.

- Precisamos conversar... – Sussurrou.

- Eu sei. – Ele beijou os cabelos ruivos que lhe adornavam a testa.

- Mais tarde?...

É! – Exigiu a criatura em seu peito. – Mais tarde! – Harry ergueu-a até que os olhos de ambos estivessem à mesma altura, e sorriu, beijando-a .


Bom tempo depois, ele encontrou Hermione à mesa, bebendo tranqüilamente em uma das coloridas canecas dos gêmeos. Ela franziu a testa, estranhando vê-lo sozinho.

- Onde está Gina?

- Acordando os irmãos. Segundo ela, temos muito a conversar...

- Não duvido!

Harry encarou a amiga, que sorria de canto.

- Não pense que vai sair ilesa de sua travessura, Mione. – Disse, num falso tom ameaçador. – Vai ter volta... – Prometeu, olhando para o amigo sonolento que adentrava a cozinha. Hermione arregalou os olhos em resposta.

- Estou com um zumbido estranho nos ouvidos... – Comentou Ron, sentando-se em frente a Harry.

- Não admira, Hermione o enfeitiçou...

- Como é que é?!?

Hermione moveu a varinha em um floreio gracioso, finalizando o feitiço. Mas não chegou a se explicar, pois nesse momento Gina surgiu, empurrando os renitentes irmãos.

- Ai, Gina! Acabamos de deitar... O que há de tão urgente a essa hora da matina?... – Jorge tinha o rosto inchado, e Fred mal conseguia manter os olhos abertos.

- Papai está com o ministro, nesse exato momento. Mamãe está lá com ele, e nós três – sinalizou para si mesma e para os gêmeos – também temos que ir. Já estamos sendo esperados. Eu devia avisar a vocês pela lareira, mas quando vi que Harry estava aqui, contei a Moody e vim pessoalmente...

Todos se calaram, surpresos. Gina mostrou as cadeiras.

- Sentem-se. Eu vou explicar tudo...

Depois que estavam acomodados, com Hermione servindo chá para cada um, Gina começou.

- Essa madrugada, Percy apareceu na sede da Ordem...

- Percy? Mas como? – Jorge estava bem desperto, agora.

- Como é que o bossal conseguiu entrar? – Completou Fred.

- Mamãe... – Concluiu Ron, melancólico.

- Infelizmente, foi isso mesmo. Mamãe deu o endereço a ele, em um pergaminho escrito pelo próprio Olho Tonto. Claro que ela achou que fosse usá-lo para visitá-la...Mas isso não é o que importa. Percy estava a mando de Scrimgeour. Segundo ele, o ministro ficou furioso por não ter encontrado Harry em Hogwarts. Exigiu que MacGonagall e Moody contassem para onde vocês três tinham ido. Obviamente, os dois se negaram a falar. Vocês podem imaginar bem a discussão que se formou...

Harry concordou, imaginando a cena. Apostou mentalmente em MacGonagall.

- Como vocês não fizeram nada expressamente ilegal, ele não pôde fazer outra coisa, a não ser voltar para o ministério com sua frustração. Mas quando soube que os três estiveram na Travessa do Tranco ontem, resolveu chamar todos da nossa família para interrogatório, e acredito que deverá procurar os pais de Hermione também. Está decidido a encontrá-los, de qualquer maneira...

Ron e Mione arquejaram, incrédulos. Harry limitou-se a perguntar:

- Quem foi que nos viu?

- O próprio Percy. Ele foi mandado junto com os aurores para a Travessa, mas aparatou atrasado. Porém, como fez questão de gabar, a tempo de vê-los se esgueirando por um beco próximo ao incêndio. Correu contar ao ministro...

Fred, Jorge e Rony bufaram, indignados com o irmão.

- O que eu não entendo, é por que Rufus nos persegue, quando deveria estar grato pela ajuda! – Rugiu Rony.

- Concordo. Nós prendemos comensais da morte em duas ocasiões, Harry ajudou a liquidar Greyback, e ainda resgatamos o Sr. Olivaras. A raiva do ministro não se justifica... – atalhou Hermione.

- Ele me vê como um belo golpe de publicidade que não consegue aplicar, mas está com certeza exagerando...

- Sr. Olivaras? Percy não falou nada sobre ele... Como assim o resgataram?

- Nós o encontramos na Borgin e Burkes, encarcerado e sob a maldição Imperius. Fabricava varinhas para os capangas de Riddle, pelo jeito. Fred e Jorge o deixaram no Caldeirão Furado para ser encontrado...

- E o fogo?

- Eu incendiei as varinhas, e bem... o resto da loja também.

- O pessoal do ministério conseguiu salvar boa parte, embora Borgin não vá poder usufruir dela tão cedo... De qualquer maneira, Percy não sabe que Fred e Jorge estavam lá! Seremos interrogados só por sermos seus amigos e irmãos de Ron. Ninguém sabe que vocês estão aqui, também. Por isso avisei Olho Tonto, ele estava arrancando os cabelos de preocupação, quase tanto quanto papai e mamãe...

- Mas se nos chamaram ao ministério, é questão de tempo até virem bisbilhotar por aqui...

- Jorge tem razão... Inferno! Seus pais estão sendo pressionados e vocês serão em seguida! Parece que nós é que somos os bandidos nessa história...

A raiva começava a borbulhar em Harry, e o olhar tornava-se sombrio. Gina segurou sua mão, preocupada, e falou em tom conciliatório.

- Dê um desconto ao ministro, Harry. Não é só a ganância de tê-lo como aliado que move Rufus Scrimgeour. Ele, meus pais, Olho Tonto, boa parte do ministério, todos os outros membros da Ordem e seus amigos em geral, estão preocupados agora é com a segurança de vocês três... Estão em maior perigo desde ontem à noite!

- Como assim?

Gina suspirou, apertando com mais força sua mão.

- Azkaban foi invadida. Soltaram alguns comensais, entre eles Malfoy e... Bellatrix.

Harry digeriu a notícia, silencioso. Depois passou a mão pela nuca, exasperado.

- Ah que ótimo! Fantástico! Isso com certeza facilita tudo...

- Foi Voldemort em pessoa?

- Não, Mione. Foi... Snape.

Harry levantou-se de repente, arrastando a cadeira com força. Andou de um lado para o outro, como uma fera enjaulada, acompanhado pelos olhos dos amigos, até parar próximo à janela, ainda sem emitir uma palavra. Os Weasley e Hermione se entreolharam, apreensivos com as notícias e preocupados com ele. Gina odiou o que estava por fazer, mas continuou.

- Não é só isso... Eles levaram também... Mundungo Fletcher.

- Dunga? Snape libertou Dunga? O que é que aquele coitado vale para ele ou Voldemort?

Fred enunciou em voz alta a dúvida de todos. Harry continuou de costas, imóvel.

Gina ergueu as mãos, indicando que também não fazia idéia. Depois levantou-se, e caminhou até Harry, abraçando sua cintura. Os irmãos desviaram os olhos.

- Há uma notícia boa, pelo menos. Stan Shunpike.

Harry voltou-se, sem deixar que ela se afastasse.

- Eles o levaram na fuga?...

- Não. Depois que Snape e os comparsas deixaram a ilha, Stan conseguiu pegar a varinha de um guarda caído perto de sua cela, e abrir a porta. Depois disso, reanimou o mesmo guarda, que deu o alarme. Agora o ministro lhe concedeu status de herói...

- Eles o inocentaram, então?

- Sim. Stan também relatou em detalhes aos aurores como tudo aconteceu, inclusive entre Mundungo e Snape. Parece que Dunga foi levado à força...

Houve um barulho vindo da sala, e em seguida ouviram a voz ansiosa do Sr. Weasley.

- Aonde vocês estão?

Ron levantou-se num salto, indo encontrar o pai. Os outros o seguiram. Na sala, Arthur Weasley sufocava o filho em um abraço apertado e emocionado. Ron retribuía, tão satisfeito quanto.

- Ronald! Como você está? Estávamos tão preocupados... e tão orgulhosos. – Abraçou o filho novamente.

- Está tudo bem, pai! Estou bem! Nós estamos...

O Sr. Weasley soltou o filho, olhando ao redor.

- Harry! Hermione! Graças a Merlin! – E abraçou-os também, emocionando-se novamente. Mas logo recobrou-se. – Temos muito a conversar, mas não pode ser agora. Fred, Jorge e Gina devem ir ao ministério. Gina? Achei haver mandado que desse o recado pela lareira...

- É... Bom... Pensei que seria melhor vir até aqui, já que era tão importante...

- Sei... – O bom homem sorriu para Harry. – Agora vão! E tomem cuidado com o que falam a Umbridge, ela é quem irá conversar com vocês. O ministro está... fora.

- Umbridge?! Isso chega a ser um insulto! Achei que enfrentaríamos Rufus, mas a velha sapa será moleza! Esperem um pouco...

Sorrindo maquiavelicamente, Jorge disparou em direção à loja, de onde voltou minutos depois com três barras de chocolate. Fred, que já sabia do que se tratava, comeu a sua rapidamente, extremamente satisfeito. Gina, por sua vez, olhou do doce para o pai, e depois para os irmãos, desconfiada.

- O que é que isso faz, Jorge? – Perguntou o Sr. Weasley, ressabiado.

- Barras de Chocolate Cara Dura. Nós as bolamos para os alunos que precisam dar desculpas convincentes por alguma falha, mas não conseguem mentir diante de MacGonagall, por exemplo. Quem comer essa belezinha, terá pelas próximas duas horas tamanha cara de pau, que nem Veritasserum conseguirá arrancar alguma sinceridade dali...

- Eu vou fazer de conta que não ouvi nada disso, para não ter que contar a sua mãe... Vocês três devem ir, Umbridge pode desconfiar e mandar alguém aqui.

Gina engoliu o chocolate, e decidiu testar sua eficiência. Foi até Harry, e diante de um abismado pai, três enciumados irmãos e uma divertida Hermione, beijou-o. Alguns segundos e muitos resmungos dos gêmeos depois, soltou-se.

- Não ouse desaparecer até eu voltar. Fique com papai.

- Sim senhora! – Brincou Harry, ainda balançado pelo beijo.

O Sr. Weasley esperou os filhos saírem, e então encarou os três, sério.

- Quando me contou que vocês estavam com os gêmeos, Moody sugeriu que seria bom se fossem comigo até a Ordem. Lá conversaremos com mais calma e segurança... Lupin e Tonks já estão a caminho, e Bull está louco para ver vocês! Sem falar em Dobby...

Harry estudou os amigos, buscando sua opinião. As faces de Ron se iluminaram, e Hermione pareceu bem feliz com a idéia também. De repente, Harry pôde ver com clareza o quanto os dois estavam exaustos. Isso o fez tomar a decisão.

- Nós aceitamos. Precisamos mesmo de mais opiniões sobre o que fazer... Mas e Percy? E se ele aparecer?

O bondoso semblante do Sr. Weasley anuviou-se.

- Ele não poderá retornar. Moody já deu um jeito. Agora vamos!

- Via Flu?

- Não. O ministério está de olho para pegá-lo em uma lareira qualquer, Harry. Vamos com isso...

Tirou um jornal velho das vestes, e os jovens entenderam que era uma chave de portal. Todos seguraram o papel, e logo estavam sendo puxados pelo umbigo para a sede da Ordem da Fênix. O último pensamento de Harry antes do solavanco, é que estava a caminho da casa de Sirius...

Hermione pensava em como iniciar a conversa difícil que ela e Ron queriam ter com o amigo.







Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.