CAÇANDO O JAVALI



CAPÍTULO 24:


CAÇANDO O JAVALI



- MENTIROSO! – Harry apertou as mãos em torno do pescoço de Monstro. – Não se atreva a caluniá-lo...

O elfo piscou, continuando a sorrir maldosamente. Perpassou os olhos pelos boquiabertos Ron, Mione e Gina, e centrou-se novamente em Harry.

- Mas meu Senhor, Monstro está dizendo a verdade... Dumbledore, sim!

Harry soltou uma das mãos, erguendo-a ameaçadoramente, mas o punho fechado do rapaz foi seguro no ar por Moody, que o olhou severamente antes de rosnar para que só ele ouvisse.

- Não lhe dê essa satisfação! É exatamente o que ele quer! – Harry respirou fundo e baixou as mãos, embora permanecesse encarando perigosamente a pequena criatura. Monstro sacudiu as orelhas, e olhou um a um, desafiador.

- Monstro respondeu a pergunta! Monstro não entende porque tanta confusão... Não é culpa de Monstro se o velho andou metido no que não devia...

- Não é possível! – A voz de Ron tomava tons de raiva, também. – Dumbledore não teria levado Harry até aquela caverna, expondo-o a tantos perigos, se... Não faz sentido!

- Mas a magia dos elfos o impede de mentir para Harry... – Sentenciou nervosamente Hermione.

- Será que Monstro pode ir agora? Já incomodaram Monstro o suficiente?...

Contendo novamente o braço do jovem, Moody analisou o elfo com o olho mágico, enquanto o normal permanecia em Harry.

- Há uma explicação, Potter. Mande-o responder a mim...

- Você ouviu! Responda o que Moody lhe perguntar, e sem mais mentiras!

Ganindo baixo em protesto, Monstro ergueu os aquosos olhos cinzentos para Olho Tonto.

- É de Alvo Dumbledore que está falando?

Toda a satisfação abandonou o corpo do velho elfo, que encolheu-se, afundando o grande nariz no próprio peito. Os garotos tinham a atenção fixa em Moody agora, Hermione apresentando o brilho de uma lembrança no olhar.

- Não... – Monstro sussurrou contra a vontade.

- Então o A se refere a qual Dumbledore?

Rilhando os dentes, com as mãos castigando as orelhas novamente, Monstro sacudiu-se raivoso antes de responder.

- Aberforth.

Uma série de lembranças passaram com raios pela mente de Harry. Dumbledore sentado na cabana de Hagrid, falando sobre o irmão que tivera problemas por ter praticado feitiços impróprios com um bode. “Não tenho certeza se ele sabe ler...” dissera o Diretor na ocasião. E depois uma foto, uma foto que vira nas mãos de Moody, onde um bruxo de aparência esquisita e olhar fugidio sentava-se entre os membros da Ordem da Fênix. Aberfoth, o irmão de Dumbledore! Uma última lembrança, mais uma sensação na realidade, agitou-lhe as idéias, mas não conseguiu retê-la.

- Monstro pode ir? – Dessa vez a voz indicava desespero. Harry consultou Moody com o olhar.

- Deixe que se vá! Se precisarmos, você o chama novamente.

- Volte para Hogwarts, então. E não repita nada dessa conversa, ou do que houve nessa casa hoje, a quem quer que seja. Nunca!

Disparando um último olhar rancoroso ao grupo, Monstro foi-se, com o estalo característico. Dobby curvou-se diante de Harry.

- Meu Senhor Harry Potter também quer que Dobby se vá?...

- Mas não para tão longe. Fique por perto, podemos precisar de você logo...

Sorrindo em despedida, Dobby sumiu também.

Sentando-se no grande sofá, Harry voltou a atenção para Olho Tonto, que coçava o queixo pensativamente.

- Então... – Resumiu ele, com sua voz rouca.. – Temos Régulus, um bruxo medíocre, protegido pela mãe, metido a comensal. Temos Bartolomeu, que eu posso apostar meu olho como é o bom e velho Crouch, e que seria “o bruxo importante” que seu elfo mencionou. E finalmente, Aberforth Dumbledore! Temo dizer que sei pouco sobre ele, Potter. Como já lhe contei, só o vi uma vez, e a impressão não foi das melhores.

- Mas, como os três acabaram juntos nessa? – Indagou Gina. – Esse Bartolomeu será o Crouch pai ou o filho?

- O pai, com certeza! Conheci o suficiente de Bartô Jr. para saber que ele jamais trairia Riddle.

- E eu conheci o pai dele o suficiente para saber, Potter, que ele dificilmente se tornaria aliado de um comensal da morte, ou mesmo de um bruxo de reputação duvidosa como Aberforth. Muita coisa não encaixa nessa história.

Hermione acompanhava o diálogo entre Harry e Moody, silenciosa. Na pausa que se seguiu, ela lembrou com voz preocupada.

- Precisamos descobrir se os três sabiam sobre todos os Horcruxes. Talvez tenham destruído mais que um... Ou pelo menos descoberto onde esteja.

- A resposta para todas essas perguntas encontra-se em um único lugar. E esse lugar é aonde Aberforth Dumbledore estiver.

- Você sabe onde ele está? – Ron soou esperançoso.

- Não. – Devolveu Moody. – Mas sei quem sabe. – Levantando-se devagar, anunciou aos jovens. – Preparem-se! Vamos voltar à Hogwarts. Vou falar com os Weasley... Suponho que gostará de ir conosco? – Os dois olhos fixaram-se em Gina.

- Claro! – O grande sorriso que ela lançou a Moody fez o estômago de Harry afundar. Não deveria deixá-la ir... Moody percebeu algo em sua expressão, pois antes de sair da sala, alertou por sobre o ombro:

- Antes de decidir, lembre-se que ela sabe se cuidar e que, talvez, o lugar mais seguro seja onde você esteja... Mesmo que não concorde com isso.

- Decidir?... – Gina voltou-se para Harry, as mãos na cintura e os olhos faiscando.

- Venha Mione, vamos arrumar nossas coisas... – Ron puxou Hermione pela mão e tratou de sair dali rapidinho. Conhecia bem aquele olhar da irmã. Hermione foi com ele sem contestar, deixando Harry sozinho com a fúria da ruiva.

- Você não vai tentar me impedir, vai?

- Gina...

- Você ouviu Olho Tonto? Até ele sabe que não preciso ser poupada, como se fosse um bebê indefeso!

- Mas,...

- Quem foi atrás de Slughorn, descobrindo sobre como destruir esses malditos pedaços de alma daquele ser decrépito? Quem achou VOCÊ, coisa que nem Voldemort conseguiu? Por que acha que agora não vou poder ajudar?

- Eu não...

- Sei me defender tão bem quanto Hermione ou Ron, se você não percebeu ainda...

Harry avançou três largos passos, segurando-a pelos ombros.

- Posso falar?

Gina bufou furiosamente. No entanto calou-se, esperando.

- Não vou tentar impedi-la de ir a Hogwarts conosco, desde que seus pais concordem. Mas vou pedir... – Falou mais baixo, enfatizando a palavra. – Pedir para que permaneça na escola, quando sairmos de lá atrás de Aberforth. – Antes que ela manifestasse a contrariedade que queimava nos olhos castanhos, ele continuou. – Você ainda é de menor, Gina. Não quero que se meta em encrencas com o Ministério, utilizando magia fora de Hogwarts.... Acha que Umbridge deixaria passar a oportunidade de tentar por as mãos em todos nós, usando para isso uma acusação contra você?

A fúria amainou um pouco. Harry sentiu os braços sob suas mãos relaxarem, enquanto ela questionava:

- E eu vou ficar para trás? Assistindo, inerte, a vocês se arriscando?

- Não. Se estiver disposta, tenho algo muito importante para entregar à sua habilidade, Gina... Sua habilidade investigativa. Deixe-me explicar...


Os Weasley aceitaram, depois de muita discussão com a filha, que ela seguisse para a escola. Molly Weasley só consentiu após a promessa solene de Olho Tonto de que ele manteria os dois olhos atentos à garota.

Preferindo evitar a rede de Flu, constantemente vigiada pelo Ministério, Olho Tonto preparou uma chave de Portal que os levaria diretamente à sala da diretora de Hogwarts. Munidos de suas mochilas, Harry levando presa às costas a espada de Gryffindor, os cinco se reuniram aos demais na cozinha para as despedidas.

- Por que não vão amanhã? – Indagou o preocupado Sr. Weasley, enquanto abraçava pela segunda vez seu filho.

- Há alguns assuntos que Lupin e eu queremos tratar com Potter, e quanto mais cedo melhor. – Esclareceu Moody, sempre sucinto. Harry o olhou ansioso, mas não estranhou.

- Gina, prometa que não fará loucuras! Que escutará ao Moody e à Profª. MacGonagall... E que não sairá...

- Mamãe, por favor! Já prometi... – A voz de Gina saiu abafada, devido ao esmagador abraço da mãe.

Enquanto a soluçante Sra. Weasley despedia-se de Ron e Hermione, Bull aproximou-se de Harry, e ao contrário do que seria de se esperar, anunciou alegremente.

- Direi somente até logo, Harry, pois devo seguir para Hogwarts em breve... – Diante das sobrancelhas arqueadas do rapaz, o homenzarrão sinalizou para a bruxa baixinha que observava a cena, meio afastada.

- A profª. Sprout teve a gentileza de me convidar para conhecer o castelo... E como você vai para lá, talvez eu seja de alguma utilidade, também... – Esclareceu, meio corado e muito feliz.

- Ótimo! Nos vemos lá então!

- Vamos, Potter!

Ao voltar-se para Olho Tonto, Harry se viu ceifado pelos braços afetuosos da Sra. Weasley, que esmagando-o de encontro ao peito, murmurou.

- Você, você mais do que todos deve ter cuidado!... Não o deixe pegá-lo Harry! Não o deixe...

- Não deixarei!

Depois do abraço forte e silencioso do Sr. Weasley, Harry juntou-se aos amigos em torno da velha frigideira enegrecida que Moody transformara em portal. A um sinal do ex auror, todos colocaram suas mãos na peça, sorrindo em última despedida para os que ficavam, e desapareceram da cozinha.

Arthur Weasley sustentou a mulher, cujas pernas bambearam devido à forte emoção. A boa senhora ofegou alto, respondendo ao seu coração de mãe que lhe avisava que antes que visse os filhos, Harry e Hermione novamente, muitos perigos teriam passado por eles, e muitos danos teriam sido feitos. Danos esses que nem seu imenso amor poderia curar... Escondendo o rosto no ombro do marido, a Sra. Weasley chorou.


O violento puxão no umbigo os levou até o tapete ornamentado da bonita sala circular onde a diretoria de Hogwarts residia. A atual diretora, que acabara de servir-se de uma xícara de chá fumegante, derrubou a louça, pulando de susto ao deparar-se com o grupo estatelado no chão.

- Céus! Alastor? Harry... Mas... O que houve? – Já recuperada do sobressalto, tratou de ajudá-los a levantarem-se, puxando Hermione pela mão.

- Precisamos de você, Minerva. – Moody erguia-se com esforço, e Ron adiantou-se para auxiliá-lo, enquanto Harry, com Gina observando-o de perto, esquadrinhava com atenção o retrato de Dumbledore. O diretor no quadro luziu os olhos atentos ao grupo, sem manifestar-se.

- A recíproca é verdadeira. – Respondeu MacGonagall. – Estava agora mesmo decidindo se mandaria Lupin buscá-los ou se iria eu mesma, Alastor. Vocês precisam ficar sabendo do que andou acontecendo por aqui. – Apontando para as cadeiras à volta de sua mesa, comandou. – Acomodem-se e sirvam-se de um pouco de chá. Vou buscar Remo e Tonks, e volto já!

Dizendo isso, desapareceu pela porta. Harry sentou-se de modo automático, mais uma vez tocado pela presença quase palpável naquela sala. Gina aproximou-se da bandeja indicada pela professora e conjurou mais xícaras, enchendo-as em seguida, e passando-as aos demais. Moody não aceitou, permanecendo silencioso, o cenho franzido em concentração. Harry sabia que o fato da diretora decidir mandar chamá-los era o motivo de sua preocupação.

- Ora! Ora! O herdeiro dos Black de volta à Hogwarts! Em que encrencas estará enfiado agora?

A voz de Phineas Nigellus ecoou alto pela sala, fazendo os outros quadros resmungarem, incomodados em sua fingida soneca. Os olhos azuis do retrato de Dumbledore estreitaram-se diante da crítica velada.

- Você, do alto de sua arrogância sem motivos, deveria tentar nos ajudar, ou pelo menos não atrapalhar, ao invés de ficar aí gorgolejando ironias amargas e inúteis!

As palavras de Hermione saíram cortantes e certeiras, provocando um rápido sorriso em Olho Tonto, risadas em Harry, Ron e Gina, satisfação na imagem de Dumbledore e indignação calada na de Nigellus.

Nesse instante, a porta abriu-se novamente, dando entrada à MacGonagall, Lupin e Tonks, que logo correu a abraçar os jovens. Lupin também saudou-os, brevemente porém, não contendo por muito tempo sua preocupada curiosidade.

- Deu certo? Os pelúcios acharam alguma coisa?

À guisa de resposta, Harry caminhou até sua mochila, da onde tirou das dobras da capa de invisibilidade o estojo de madeira. Abrindo-o com cuidado, retirou de dentro o camafeu, e em seguida expôs aos olhos dos presentes seu conteúdo, entregando os restos dourados ao estupefato Lupin. MacGonagall e Tonks o cercaram também, igualmente impressionadas. Dumbledore recostou-se em sua poltrona no quadro, cruzando as mãos sob o queixo, e disse com voz satisfeita:

- Bravo, Harry! Bravo!

Sorrindo para o retrato, o rapaz sentou-se novamente, e em conjunto com os amigos, contou desde a descoberta dos pelúcios, até a conversa com Monstro.

- Então, foi mesmo Régulus... – Lupin era pura descrença.

- Com a ajuda de Crouch! Mas como?... – Tonks não ficava atrás.

- Suponho que o plano agora seja conversar com Aberforth? – Minerva MacGonagall estava surpresa, mas ainda assim firme.

- Pensei que você saberia onde encontrá-lo. – Explicou Olho Tonto.

- E sei! Alvo costumava falar sobre o irmão, comigo. Nunca vi duas criaturas com o mesmo sangue serem tão diferentes...

Harry sorriu, amargo.

- Pode acontecer, Professora. Veja minha mãe e tia Petúnia...

- Ou eu, e o bolorento do Percy... – Atalhou Ron, desgostoso.

MacGonagall quase sorriu, mas logo voltou à austeridade.

- O fato de Aberforth estar envolvido na busca pelos Horcruxes, torna o que vou lhes relatar ainda mais preocupante, talvez... – Com as mãos fortemente entrelaçadas sobre a mesa, a diretora falou a todos, mas olhava diretamente para Harry.

- Severus Snape foi visto em Hogsmead, ontem à noite. Nas imediações do Cabeça de Javali, para ser exata. Ele e pelo menos mais dois bruxos foram vistos por Madame Rosmerta e mais alguns aldeões.

A mesma sensação de reconhecimento assolou Harry, mais forte dessa vez. Porém, foi sobrepujada pela fúria cega que tomou conta de suas entranhas. Snape! Em Hogsmead! Antes mesmo de MacGonagall terminar o que tinha a contar, Harry já possuía uma certeza: Snape estava ali a mando de Riddle, e o alvo seria, mais uma vez, a escola.

- Ah, Severus...– O tom rouco de Moody denotava que sua raiva igualava-se à de Harry. Foi provavelmente seu treino como auror que o fez atinar para algo que a diretora ainda não esclarecera. – Mas qual a relação de Aberforth Dumbledore com a visita de Snape à Hogsmead?

Minerva respirou fundo, mas antes que pudesse responder, o retrato de Dumbledore manifestou-se.

- Meu irmão é o dono do Cabeça de Javali. Eu comprei a estalagem para ele há muitos anos...

Claro! Harry, agora com facilidade, lembrava-se da primeira vez que a Armada de Dumbledore reunira-se no pub sujo e escuro. O homem que lavava copos por trás do balcão lhe parecera familiar. E o pub tinha cheiro de... cabras. O mesmo pub que agora Snape andava rondando...Refazendo-se, Harry dirigiu-se ao retrato.

- Professor... o Senhor... desconfiava que seu irmão sabia sobre os Horcruxes...? Que os estava procurando também?

- Não, meu caro Harry. Infelizmente, esse procedimento de meu irmão me passou despercebido. Como muitas outras coisas, aliás... – Não havia arrependimento na voz, apenas tristeza.

Seguiu-se um momento de silêncio, e então Lupin levantou, dirigindo-se à diretora e Moody.

- Acho que o melhor agora é descansarmos, e amanhã iremos a Hogsmead falar com Aberforth, concordam?

- Não. Vamos hoje! – Todos olharam para Harry, que sem se perturbar, continuou.- Algo me diz que amanhã pode ser tarde!

Lupin e Moody trocaram um olhar de consentimento.

- Muito bem! Mas não devemos ir todos. Se Snape está cercando a escola, não podemos descuidar da defesa. Lupin irá comigo, Potter, Weasley e Granger. Tonks, você fica com Minerva. Se posso fazer uma sugestão... Mantenha a jovem Weasley por perto...

- Com certeza, Olho Tonto! - Tonks piscou para a garota, que no entanto voltara-se para Harry.

- Vou começar o que me pediu, agora mesmo! E você... Tenha muito cuidado! Só banque o herói se for certeza que vai sobreviver...- Olhando para os outros, atalhou. – Tenham cuidado todos vocês!

Harry, ignorando os olhares que desviavam-se em todas as direções, abraçou-a

- Eu não sou muito fácil de ser pego. Como você disse ainda hoje, foi a única que conseguiu...- Beijou sua testa demoradamente, e então, afastou-se em direção à porta. Moody o impediu a meio caminho.

- Sua capa, Potter! Se Snape estiver lá fora, você será o primeiro alvo, não duvide disso!

Harry pegou a capa de invisibilidade na mochila, e com um último olhar para o retrato de Dumbledore e para Gina, saiu da sala, seguido pelos amigos, Moody e Lupin. Gina acompanhou-os com os olhos, rezando silenciosamente pelo seu retorno seguro. Depois virou-se para as duas bruxas mais velhas.

- Preciso de acesso livre à toda a biblioteca, inclusive à ala reservada. E também todo e qualquer livro que vocês possuam que trate, mesmo que brevemente, da história de Hogwarts...


O grupo não encontrou viva alma entre os corredores do castelo, com exceção de Pirraça que, receoso da reação de Olho Tonto, contentou-se em voar veloz sobre eles, assobiando alto. Harry espichou os olhos na direção da cabana de Hagrid quando alcançaram os jardins. O amigo deveria estar dormindo, pois não se avistava por aqueles lados qualquer ruído ou claridade. Apertando o passo, o rapaz alcançou o claudicante Olho Tonto.

Hogsmead estava escura e silenciosa, devido ao adiantado da hora. Lupin caminhava com Hermione uns cinqüenta passos a frente de Moody e Ron, e entre os quatro, oculto pela capa, ia Harry. Ao chegarem à praça, dividiram-se, varinhas em punho e olhos atentos a qualquer movimento ou barulho. Nada. Apenas o rumor suave da brisa entre as folhas das árvores, e uma ou outra porta batendo dentro das casas espalhadas pelo vilarejo. Harry arrepiou-se. Esse silêncio pesado era atemorizante, e só fazia fortalecer seu pressentimento de que algo estava prestes a acontecer... Algo ruim.

Olho Tonto sinalizou para que se reunissem, e tomando a dianteira, iniciou a subida da rua íngreme que levava ao Cabeça de Javali. Lupin ficou para trás, cuidando da retaguarda. A estalagem estava silenciosa e às escuras, e antes que Harry batesse à porta, Moody puxou a varinha para o alquebrado trinco. Pelo visto, Olho Tonto não queria anunciar suas presenças a Aberforth, ou a quem estivesse com ele. Porém, o trinco não cedeu ao feitiço. Resmungando, Moody tentou um novo movimento, mas a porta permaneceu imóvel.

- Nosso amigo está com medo... – Murmurou de si para si, antes de indicar para todos se afastassem, empunhando a varinha, dessa vez com um movimento largo. Hermione, no entanto, pousou a mão graciosamente no ombro do bruxo.

- O Senhor me permite? – Diante do consentimento de Moody, ela ergueu a própria varinha, e Harry pode visualizar sua boca pronunciando sem sons:

- “Bombarda!” “ Silêncio!”

Com efeito, a explosão que se seguiu fez a porta abrir-se completamente, mas sem um único ruído. Moody rosnou algo e entrou. Harry e Ron saudaram a amiga com sorrisos, Harry espiando por baixo do tecido da capa, e Lupin com uma reverência, que fez as faces da menina corarem, e as sobrancelhas de Ron franzirem. Ainda em silêncio, seguiram Olho Tonto.

O salão principal da estalagem apresentava-se com as cadeiras ajeitadas sobre as mesas, e o chão razoavelmente limpo fez Harry pensar que Aberforth não abria o estabelecimento aos fregueses a dias, pelo menos. Até mesmo o forte cheiro que sempre reinara ali parecia mais suportável. Moody, guiado por seu olho mágico, subiu alguns degraus da barulhenta e antiga escada que serpenteava em um dos cantos da sala, em direção ao patamar cercado por um corrimão que aparentava estar bambo. Subitamente, o chefe da Ordem resfolegou e atirou-se para o lado, derrubando algumas mesas, um segundo antes de um feitiço cortar o ar, bem aonde ele estivera pouco antes.

Ron e Mione se esconderam por trás do balcão e Lupin correu para Moody, protegendo-o e a si mesmo como podia, enquanto os feitiços continuavam a voar sobre eles. Harry, protegido por sua capa, apenas encostou-se à parede junto da escada, estudando rapidamente a situação. Quem os estava atacando era um bruxo alto e encapuzado, que achava-se no alto dos degraus, em posição privilegiada para atacar, e manejava a varinha com perícia e rapidez, protegendo-se do contra-ataque atrás da grossa parede que ladeava o fim da escada.

Lupin e Moody, escondidos atrás das mesas derrubadas, e Ron e Hermione, protegidos parcialmente pelo balcão, entretinham o encapuzado, facilitando para que Harry subisse sem ser percebido, sempre esquivando-se cuidadosamente dos feitiços que atravessavam o ar. Quando achava-se próximo o suficiente, mirou o centro do peito do misterioso atacante, e estuporou-o. O bruxo cambaleou, e o movimento derrubou seu capuz, mostrando a Harry um rosto mal cuidado, com olhos mortiços, mas extraordinariamente parecido com o de Alvo Dumbledore. Esse mesmo rosto contorceu-se em desagrado e susto, antes de seu dono desequilibrar-se, dobrando-se por sobre o corrimão, despencando antes que Harry pudesse segurá-lo. Finalizou a descida com um baque surdo no chão, aonde permaneceu em uma posição estranha, braços e pernas em ângulos incomuns, absolutamente imóvel.









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