OS SENTIMENTOS DE TOM



CAPÍTULO 19:


OS SENTIMENTOS DE TOM


Os quatro aterrizaram no conhecido piso de pedras escuras da cozinha de Grimmauld Place. Antes que conseguissem levantar, a voz da Sra. Weasley soou alta e chorosa, enquanto suas mãos erguiam Ron com urgência.

- Rony! Ah, Rony!

E com o filho firmemente seguro junto ao peito, desatou no choro. Ron passou os braços em torno da mãe, confortando-a em tom calmo:

- Está tudo bem mãe... Calma...

- Não está nada bem! – Agora ela sacudia Ron. - Como você pôde partir numa loucura assim sem avisar, sem explicar...Eu não sabia se estava inteiro, se tinha abrigo, se estava se alimentando... Como você pôde? Como vocês puderam???? – Largou Ron, voltando-se para Harry e Hermione. Respirou fundo, soluçando, e então amarrou-os em um abraço tão forte quanto o que dera no filho, caindo no choro novamente. O Sr. Weasley deixou a mulher desabafar um pouco, e então separou-a gentilmente dos jovens.

- Molly, deixe-os respirar... Os meninos nos contarão tudo, mas agora acalme-se! Já conversamos sobre a necessidade do que eles estão fazendo... – falou, calmo. A Sra. Weasley afastou-se relutante. Corajosamente, limpou as lágrimas e sorriu aos garotos.

- É claro... É que eu estava tão preocupada, e com tanta saudade... Mas olhe para vocês! Estão magérrimos! - Cutucou a cintura de Harry e a do filho, que coraram. – Só comendo besteiras, aposto!

Hermione sorriu, divertindo-se com a descompostura que os dois levavam. Mas Molly Weasley não esquecera dela.

- Você também, mocinha! Está tão abatida... – Completou a bondosa senhora, segurando o queixo de Hermione para analisar-lhe melhor as feições. – Vão lavar essas mãos, e depois sentem-se! Vou alimentá-los como se deve! E aí, conversaremos.– Ao passar por Ron, a caminho do antigo fogão, abraçou-o mais uma vez.

- Graças por estarem bem!...

- Meninos, subam e guardem suas coisas. Vão usar o quarto de sempre. Hermione, você pode ficar com Gina. Ela está com o antigo quarto de Sirius... – O Sr.Weasley olhou constrangido para Harry. – A não ser que você queira...

- Não! – Harry afirmou depressa. – Não... Deixe para as meninas! Sirius com certeza ficaria encantado! – Sorriu ao imaginar o padrinho cedendo os aposentos para as amigas, com uma cerimoniosa e brincalhona reverência. – Aonde está Bull? – Perguntou, percebendo a demora do amigo em vir cumprimentá-los.

- Estava impaciente esperando por vocês, e saiu um pouco para espairecer. Logo voltará para o café e vocês o encontrarão... O mingau está quase pronto, apressem-se! – A Sra. Weasley empurrou gentilmente Ron em direção ao hall de entrada, e ficou olhando com uma ternura cheia de lágrimas para o trio que se afastava.

Eles encaminharam-se para os andares superiores. Enquanto passava cuidadosamente pelo retrato da Sra. Black, torcendo para não acordá-la, uma sensação agoniante perpassou o cérebro de Harry e sua cicatriz formigou. Segurou-se no corrimão da escada, respirando fundo. Ron, já no alto dos degraus, voltou-se para averiguar porque o amigo demorava.

- Harry! – Desceu ligeiro, com Hermione em seus calcanhares. – O que houve, cara? Está branco como papel!

- Não sei... Uma sensação ruim. Mas já passou... Deve ser essa casa, as lembranças ... – Endireitou o corpo, tentando sorrir. – Vamos, já estou bem. – Flagrou o olhar trocado entre os dois amigos. – Não aconteceu nada, o.k.?

- O.k. ... – Hermione não pareceu convencida, muito menos Ron. Deixaram Harry subir à frente, trocando novo olhar cheio de significados às suas costas.

O quarto permanecia absolutamente igual. Os dois rapazes largaram suas mochilas por ali, atirando-se nas camas em seguida.

- Estou morto! Se não fosse pelo buraco gigante em meu estômago, nem desceria... – Ron parecia mesmo com dificuldades para se mexer.

- Se não fosse a comida da sua mãe, eu também não...

- Impressionante! Tantas coisas importantes acontecendo, e os dois pensando em comida. Típico! As barrigas funcionam mais que as cabeças... – O tom irônico e frio era inconfundível. Foi o retrato de Phineas Nigellus que manifestara-se. Harry nem abriu os olhos.

- Veio aqui só para nos criticar, ou tem algo útil a fazer?

Nigellus bufou.

- Sim, heroizinho, tenho algo a fazer aqui. A diretora MacGonagall pediu que averiguasse se vocês já estavam por aqui e inteiros. Se tem disposição para ser mal educado, avalio que se encontre em plena forma. Minha missão está cumprida. Com licença... – E foi-se, a caminho de sua moldura em Hogwarts.

- Carinha simpático... – Alfinetou Ron. Sorriu, olhando para a porta. – Acho que Hermione já deve estar pronta para descer... – Saltou da cama, com incrível agilidade para alguém que estivera tão cansado a poucos minutos, no exato instante em que Hermione batia à porta, chamando-os. – Você não vem? – Franziu o cenho para o amigo, que continuava imóvel, e agora ria baixinho.

- Quando foi que você e Hermione aprenderam a comunicar-se telepaticamente? Ou você costuma pressentir a chegada dela antes que aconteça?...

As orelhas de Ron avermelharam-se, mas ele não deixou de responder.

- Muito engraçado, Senhor “ Eu não ouso partir enquanto Gina não voltar...”

Hermione entrou, quase sendo atingida pela guerra de travesseiros que os dois travavam.

- Parem com isso! Sua mãe está nos esperando...- Observou as fumegantes orelhas de Ron e os óculos de Harry, agora completamente fora do lugar. – O que é que está acontecendo?...

- Nada... Conversa de homem. – Ron parecia tão culpado quanto Harry, que segurava o riso a duras custas. Hermione encarou os dois, e depois desceu, resmungando. Os amigos a seguiram.



- Harry! – O abraço de Bull era quase tão sacrificante para as costelas, quanto os de Hagrid. – E então, em quantas encrencas se meteram na minha ausência? – Soltou Harry para cumprimentar Ron e Mione.

- O de sempre... Comensais, dementadores, lobisomens... – Ron brincava, mas se arrependeu quando escutou o arquejo indignado da mãe.

- E você brinca, Ronald Weasley?... Francamente! Sentem-se, vamos comer!

- Onde está papai? – Ron perguntou, entre a primeira e a segunda colheradas no delicioso mingau.

- Voltou ao ministério. Quer acompanhar seus irmãos... O ministro não conseguiu arrancar nada de mim ou de seu pai, e ficou ainda mais furioso por isso. E Umbridge... – Serviu o prato de Mione com um pouco a mais de força que o necessário. – Umbridge está louca para arranjar problemas para vocês.

Harry olhou para as marcas nas costas de sua mão. Por que será que não estava surpreso...

- E então? Não vão nos contar o que andaram aprontando?

Harry continuou a comer, deixando novamente para Hermione o encargo de resumir os últimos dias. Ela omitiu engenhosamente detalhes das passagens mais perigosas, ciente dos olhos cada vez mais assustados da Sra. Weasley.

Depois de bem alimentados, ficou difícil para os três manterem os olhos abertos. Ron abriu um enorme bocejo, enquanto Mione e Harry encaravam o vazio, desligados. Molly percebeu, e indicou- lhes a porta com um sorriso terno.

- Arthur e os meninos não estarão de volta antes do almoço. Moody, Lupin e os outros tão pouco... Por que não sobem e tiram uma soneca? Parecem estar precisando!

- É verdade. Estão dormindo em pé... – Concordou Bull.

Os três não precisaram de mais incentivos, e logo estavam a caminho de seus quartos. Harry mal tirara os óculos, preparando-se para deitar, quando um estampido soou alto ao lado da sua cama, e sua cintura foi cingida por dois bracinhos fortes.

- Mestre Harry Potter! – As orelhonas de Dobby chacoalhavam freneticamente. – Mestre Harry Potter! Dobby ouviu sua voz! Dobby quase não acreditou! O Mestre está em casa! – Apertou-o mais um pouco. – Dobby estava preocupado! Mestre não chama mais Dobby...

- Tudo bem Dobby! Mas eu preciso dos meus ossos...

O elfo imediatamente soltou-o, mas ficou por perto.

- Mestre perdoa Dobby! É que Dobby está muito feliz! – Rony riu da cena, o que fez que Dobby corresse a abraçar seus joelhos.

- Jovem Senhor Weasley! Dobby sente sua falta também!

- Estou vendo... – Divertiu-se Ron. – Tem cuidado de todos por aqui, Dobby?

- Dobby faz o que pode, mas os bruxos aqui não escutam o que Dobby fala... – Levou as mãos à boca e seus grandes olhos encheram-se de água. Guinchando, correu para a parede mais próxima.

- Dobby Mau! Dobby Mau! Não deve falar assim dos honrados bruxos amigos de Mestre Harry Potter... – Harry impediu-o de martelar a parede com a própria cabeça, enquanto Ron literalmente se dobrava de rir. “Mestre Potter” segurou o pequenino pelos ombros, tentando acalmá-lo.

- Dobby, escute... Eu e Ron vamos dormir um pouco. Você desce e fica de olho. Assim que Gina e os gêmeos chegarem, você vem nos acordar, o.k.?

- Sim, Mestre Harry Potter! Dobby fica de olho! Dobby obedece seu mestre!

- Então vá!

Feliz por ter uma ordem direta a cumprir, o elfo esqueceu seu desespero e desapareceu, com o habitual estalo. Harry deitou-se, relaxando pela primeira vez em muitas horas. Ao seu lado, Ron também não demorou a adormecer.


A grama que circunda o lago de Hogwarts estava aquecida pelo sol poente, e Harry, estirado no chão, observava os lentos movimentos da lula gigante. Sua atenção foi desviada para a jovem de cabelos vermelhos que caminhava em sua direção. Gina chegou, sorrindo, e sentou ao seu lado, aproximando-se... Antes que pudesse enlaçá-la, Dobby surgiu e cutucou-lhe o braço dolorosamente.

- Mestre Harry Potter! Dobby deve acordá-lo! Os amigos do Mestre chegaram! Mestre!

- Já acordei! Já acordei! – Zonzo, e infeliz pela interrupção de seu sonho, Harry colocou os óculos. Deparou-se agradavelmente com Gina, sentada aos pés de sua cama. Dobby estalou outra vez, “indo buscar algo para o Mestre beber...”.

Os olhos castanhos brilharam divertidos para Harry.

- Você acordou com um humor ótimo, pelo que posso perceber...

- É que Dobby me tirou de um sonho... muito bom.

- Ah, é? E com o que sonhava?

Harry olhou para o amigo na cama ao lado, que espreguiçava-se sonolento, e depois sorriu novamente para Gina.

- Eu lhe conto mais tarde...

Ron finalmente abriu totalmente os olhos, tomando consciência da presença da irmã.

- Gina! Como foi lá?...

- Umbridge pegou pesado?

- O que foi que ela falou?

- Se vocês dois pararem de tagarelar, nós contaremos as nossas “entrevistas”... – Fred entrava, seguido de Jorge.

- Esperem.! Vou buscar Hermione...

Gina apressou-se para fora, enquanto os gêmeos acomodavam-se no chão, parecendo perfeitamente satisfeitos. Quando as meninas voltaram, foi Jorge que começou a narrativa.

- A velha sapa começou com a ladainha de que nós o estaríamos ajudando Harry, se dedurássemos a ela seu paradeiro.

- É! – Continuou Fred. – Segundo ela, “o Ministério tem amplas maneiras de proteger o Sr. Potter, ou ajudá-lo no que quer que esteja precisando, mesmo que sua arrogância juvenil não o deixe acreditar nisso...” – A imitação da voz da ex professora saiu perfeita.

- Aí, nós tivemos que esclarecer a ela que você é que tinha amplos poderes e condições para ajudar o Ministério, e de fazer o trabalho deles quando fosse necessário... O que está sendo freqüente... Ela não gostou muito de ouvir isso! – Jorge sorria abertamente.

- Mudou o tom imediatamente, e ordenou que disséssemos por onde vocês três andavam. Alegou serem ordens expressas do Ministro, e que poderia usar de métodos não convencionais para nos tirar a informação... Então, com a colaboração do nosso chocolate preferido, nós fomos capazes de jurar convincentemente que não fazíamos a mínima idéia.

- Nem o “chazinho” que ela nos serviu abalou nossa convicção! Teve que nos liberar...– Concluiu Jorge.

Harry lembrou-se da ocasião em que Umbridge tentara lhe servir Veritaserum camuflado como chá. Certas coisas nunca mudam...

Fred levantou-se, gesticulando para o irmão.

- Vamos embora! Já perdemos muito tempo com a loja fechada por causa das ordens ministeriais... e vocês sabem: tempo são galões!

- À noite voltaremos... – Jorge despediu-se com um aceno.

Após a saída dos gêmeos, Harry voltou-se para Gina, que permanecia silenciosa e muito séria.

- E como foi a sua conversa com nossa querida ex professora?

Ela remexeu-se, inquieta.

- Umbridge usou outra tática comigo. Passou vários minutos descrevendo toda a forma de horrores que os comensais e Voldemort fariam com vocês, se os pegassem... – Arrepiou-se, enojada, e Harry segurou sua mão, puxando-a para perto. – Quando eu afirmei que não sabia onde estavam, ela começou a descrever suas últimas “transgressões” Harry, e insinuou abertamente que para conseguir fazer tudo aquilo... enfrentar Fenrir e Bellatrix, e...bom ela disse que você... – Respirou fundo, tomando coragem. – Ela disse que acredita, bem como vários outros dentro do ministério, que você esteja utilizando artes das trevas, e que deve ser impedido...

Harry não se surpreendeu com isso. Vinha sendo acusado de tomar o partido das trevas desde seu segundo ano em Hogwarts. O que o surpreendeu foi o pulo que Hermione deu, e o tom rosa forte que cobriu não só as orelhas, mas todo o rosto de Ron.

- O que foi? – Encarou os dois. – Por que essas caras? Que Umbridge pensa o pior possível sobre mim, não é novidade...

Hermione agitou-se pelo quarto, enquanto Ron e Gina permaneciam constrangidos e silenciosos.

- Alguém quer explicar o que está acontecendo?

Foi Ron que teve coragem para responder.

- Harry, nós temos observado você nos últimos dias... E...

Olhou para Hermione em busca de apoio.

- E achamos que você está... mudando.- Hermione completou, sustentando o olhar surpreso de Harry.

- Mudando? Mudando como? – A voz saiu baixa, mas distintamente perigosa.

- Você... realmente tem usado os poderes que assimilou da mente de Voldemort...

- É claro. E foram muito úteis, não foram?

- Sim, foram... Mas... Harry, você parece estar... gostando de utilizá-los.

- Espere um pouco, Hermione. Há poucos dias atrás, você saltitava com a hipótese de eu entrar na mente de Riddle. Disse que seria “ muito útil” se não me engano... Então, que tal me dizer exatamente qual é o problema? Não parece mais uma boa idéia?

- Harry, na praça em Hogsmead, eu estava na sua frente quando não conseguiu conjurar seu patrono. Um feitiço que você domina perfeitamente há quatro anos! Pôde conjurá-lo em seguida, mas... algo o impediu na primeira tentativa, não foi?

Harry não respondeu. Largou a mão de Gina e andou até a janela, dando as costas aos amigos.

- E na Borgin... – Dessa vez foi Hermione que buscou ajuda em Ron.

- Na Borgin, você pareceu realmente disposto a deixar aquelas pessoas lá, no fogo...

- Pessoas, Ron? ...Pessoas? – A voz ficava mais alta a cada palavra. Harry virou-se, encarando os três enfurecido. – Comensais! E eles o teriam deixado lá sem piscar, se a situação fosse inversa!

- E é isso que nos diferencia deles!

- Eu estava com raiva! Em Hogsmead e na loja! Com raiva! Entenderam? Isso me torna um bruxo das trevas?...

- Nós não achamos que esteja consciente do que está acontecendo, Harry. É claro que não escolheu o lado das trevas! Mas de alguma maneira, os sentimentos que assimilou de Voldemort parecem tomar o comando, em algumas ocasiões, quando você se altera... Até agora, você reassumiu o controle, mas temos medo... Precisa bloquear...

- Nós estamos tentando ajudá-lo, Harry! E veja, já está se descontrolando...

- Um louco teleguiado pelo Lord das Trevas? É isso que pensam que eu me tornei?... De todas as pessoas... – Distanciou-se alguns passos, repentinamente tomado pela frieza. – De todas as pessoas, vocês são os únicos que jamais poderiam suspeitar...

Gina moveu-se tão rápido, que quando Harry viu estava sendo empurrado em direção ao espelho pendurado na parede do quarto, sem tempo para reação.

- Olhe para você! – Ela o segurava com uma força surpreendente para seu tamanho. – Olhe para seu rosto, Harry! Agora!

Ele olhou para o espelho a contragosto, e sentiu medo do que viu. Não havia alterações físicas, os olhos continuavam verdes, os cabelos despenteados, a cicatriz em forma de raio no mesmo lugar...Mas a expressão estava...maligna. Os olhos não pareciam os seus, estavam...frios, mortiços. Entendeu naquele instante a preocupação dos amigos. Realmente não parecia ele mesmo, parecia...

Ficou olhando para a própria imagem, até a expressão do reflexo mudar lentamente para um semblante surpreso e temeroso. E subitamente não sentiu mais as mãos de Gina segurando-o, e Ron e Mione desapareceram, junto com o resto do quarto. Estava agora em uma sala vagamente familiar, com muitos retratos nas paredes e móveis antigos circundando uma enorme lareira. O rosto no espelho tornou a modificar-se. O crânio muito branco, as fendas como nariz e os olhos vermelhos de Voldemort surgiram. Harry escutou a conhecida voz fria ordenar, calma e zombeteiramente.

- Tragam nosso convidado! Está na hora de conversarmos, ele e eu...





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