DA MENTE, AS DORES.



CAPÍTULO 13:


DA MENTE, AS DORES.


- Então, suas aventuras os trouxeram de volta para a escola? Interessante... - Brincou Remo Lupin, enquanto abraçava cada um dos três.

Continuava mal vestido e grisalho, um ar de preocupação velada, mas os olhos brilhavam, e Harry desconfiou que a razão disto fosse a presença da massa de cabelos rosa chiclete, que passou como um raio por Lupin, e veio unir-se aos três em um único, apertado e atrapalhado abraço, quase derrubando-os.

- Como é bom ver vocês! Veja Remo, estão inteiros mesmo!... – Tonks era só sorrisos, enquanto circulava o trio, como que para verificar se não lhes faltava nenhum pedaço realmente.

- Estamos bem! Estamos bem! – Resmungava Rony, enquanto ela lhe examinava o rosto, a procura de sabe-se lá o que, deixando-o encabulado.

- Venham todos, vamos entrar. A Profª. MacGonagall já está a espera de vocês. Depois colocaremos todos os assuntos em dia...

- Como souberam que estávamos chegando?

- A escola pode estar temporariamente inativa, Harry, mas ainda é Hogwarts. A diretora sabe de suas presenças desde que atravessaram os portões.

Harry parou de andar, assim como Ron e Mione, e olhou em volta, saudoso. O castelo parecia maior, sem a turba de estudantes circulando, e extremamente silencioso, mas ainda lhe transmitia a sensação de estar em casa. Quando passaram pelas portas do salão principal, em direção às grandes escadarias, Harry espiou para dentro e seu queixo caiu. Havia alguns estudantes lá! Aparentemente terminando um tardio desjejum. Hermione, que também os avistara, questionou Tonks.

- O que eles fazem aqui? Estão tendo aulas?...

O semblante de Tonks turvou-se, e ela olhou para Lupin, que explicou:

- Muitos deles perderam os pais, mães ou ambos nesta guerra. Bem como irmãos, tios, primos... Algumas famílias acreditam que seus filhos estejam mais seguros aqui do que em suas casas, e a escola jamais lhes negaria abrigo. Acredito que vocês terão algumas surpresas agradáveis, quando juntarem-se aos seus colegas, mais tarde... Agora temos que ver a diretora.

Subiram rapidamente e em silêncio. Quando estavam em frente à gárgula tão conhecida, foi que o coração de Harry grudou em seu estômago. A sala de Dumbledore! Lupin leu seus pensamentos, e disse em voz baixa.

- A sala agora é da diretora MacGonagall, Harry... Não é fácil, para qualquer um de nós, entrar aqui. Mas procure concentrar-se nisso. – Voltando-se para a gárgula, murmurou:

- Pirulitos de sangue!

Apesar do nó no peito, os três jovens sorriram, diante da senha. Minerva MacGonagall continuara a tradição dos nomes de doces para dar acesso à sua sala, mas escolhera um doce para vampiros! Vencida a escada em caracol, Lupin bateu à porta e entrou sem demora, seguido de perto por Tonks, Ron e Mione. Harry esperou um pouco, preparando-se, e então entrou.

A sala permanecia a mesma, com exceção dos inúmeros instrumentos prateados, que zuniam e fumegavam em cima das mesas na época de Dumbledore, e que agora haviam sumido. Foram substituídos por uma nova remessa de livros. A diretora encontrava-se em pé, olhando em direção ao campo de quadribol, pela imensa janela a frente de sua mesa. Andou com passos firmes até eles, os olhos brilhavam, e a expressão em seu rosto fez Harry temer uma detenção.

- Potter, Granger e Weasley... Graças a Merlin, estão bem!

E para surpresa de todos, abraçou-os fortemente também, mas sem a falta de jeito de Tonks. Enquanto ela cumprimentava Hermione, Harry voltou-se para a mesa da diretora, e seus olhos bateram em uma moldura dourada. O olhar azul cintilava para ele por sobre os óculos de meia lua, e o queixo pousou nas mãos entrelaçadas, numa repetição perfeita e cruel da atitude que adotava quando vivo. O Dumbledore do retrato sorriu para o rapaz. Com o coração pesado, Harry desviou os olhos para a redoma cristalina, que continha o que viera buscar. A relíquia de Gryffindor jazia, resplandecente, no mesmo lugar, e ao seu lado estava o chapéu seletor.

- Sentem-se. Temos muito que conversar...- Depois que todos estavam acomodados, a diretora concentrou-se em Harry. - Fico feliz em perceber que as poções o salvaram do Lessonergi, Sr. Potter! Espero que tenha agradecido a sorte de ter a Srta. Granger por perto. Se ela não tivesse diagnosticado corretamente o feitiço e agido com rapidez... – Todos na sala, mesmo os retratos, sorriram para Hermione, que enrubesceu, lisonjeada. – E agora peço que me contem o que aconteceu até aqui, e o que os trouxe de volta a Hogwarts.

Harry hesitou por um momento, mas decidiu que devia contar todos os detalhes. O cerco estava se fechando e precisaria de toda a ajuda. Os ex diretores, incluindo Phineas Nigellus, ajeitaram-se em suas molduras, curiosos. Harry então resumiu tudo o que os três viveram e descobriram, desde a noite em que Alvo Dumbledore lhe falara pela primeira vez sobre os Horcruxes, até as descobertas de Gina e a viagem para Hogwarts. Quando contou a passagem pelo túnel do poço, foi a vez de Ron corar perante os elogios. Intencionalmente, não contou sobre a invasão à mente de Tom Riddle e suas seqüelas. Não queria que todos soubessem e o olhassem com receio de que surgissem fendas em seu nariz... Quando finalmente fez a pausa final na narrativa, o único som que se ouviu foi o assobio admirado de Nigellus. O retrato de Dumbledore sorriu novamente, orgulhoso.

- Extraordinário... – Foi o comentário de MacGonagall. – O olhar severo, e admirado pelo que ouvira, passeou pelos três, antes de centrar-se em Harry, outra vez. – E o que vieram buscar em Hogwarts, Sr. Potter?

Ele respirou fundo, sabendo a dimensão do que estava para pedir.

- A espada de Godric Gryffindor, Professora. Preciso dela para destruir os Horcruxes que sobraram. Não conseguimos pensar em outra forma...

MacGonagall empalideceu, mas não respondeu imediatamente. Olhou para a espada e para Harry, respirando fundo.

- Você percebe que está me pedindo um dos maiores tesouros da história mágica, Sr. Potter?

- Se me permite opinar, Minerva...- Todos se sobressaltaram ao ouvir a voz rouca. O retrato de Dumbledore enfim manifestava-se. – Meu conselho é que empreste a espada. O motivo que trouxe Harry até ela não poderia ser mais importante.

MacGonagall estudou cuidadosamente o rapaz a sua frente.

- Está bem. – Respondeu após alguns minutos. – Vou confiar que sabe o que está fazendo, Harry.

Registrando o uso de seu primeiro nome, Harry agradeceu, sorrindo. A diretora levantou-se, e com um gesto da varinha, abriu a redoma, tirando de lá a bela peça incrustada de Rubis. Colocou-a cerimoniosamente em frente ao rapaz, sobre a mesa.

- E agora? - Questionou Lupin. – Qual é o próximo passo?

Rony levantou-se e caminhou até sua mochila, que deixara próxima à porta. Tirou de lá o estojo de seu jogo de xadrez bruxo, e diante do olhar inquisidor de MacGonagall, abriu-o, revelando a taça dourada. Colocou-a sobre a mesa, enquanto Harry respondia:

- Temos que destruir a taça de Hufflepuff. Pensei na Sala Precisa ...

- E como fará isso? – Tonks estava com os cabelos cor de vinho, a testa franzida de preocupação. Harry ergueu os ombros, sem resposta.

- É uma pena que tenha que ser feito... – MacGonagall admirava a taça. – Mais uma relíquia histórica perdida... – Recuperando o ar objetivo, indagou. – Quando?

- Pode ser agora? Não sei o quanto ira demorar...

MacGonagall assentiu, e apanhando a taça, dirigiu-se à porta. Harry levantou-se e pegou a espada. Um estranho calor espalhou-se dos dedos até o ombro, e ela pareceu vibrar em sua mão por um segundo. Olhou surpreso para o retrato do mais recente ex diretor, e este desejou, sério:

- Boa sorte, Harry!


O pequeno grupo chegou ao sétimo andar em silêncio, todos pensando no que estava para acontecer. No ponto certo do corredor, Harry parou, e estendeu a mão para a professora. A voz dela soou categórica e decisiva, como só MacGonagall conseguia ser.

- Eu vou entrar com você. Os outros ficam aqui, não há razão para todos se arriscarem. Lupin, se não sairmos em tempo razoável, olhe para a porta e deseje poder salvar-nos... Harry, solicite o que precisa.

Voltando-se para a parede, ele imaginou um lugar seguro para arrebentar o Horcrux de Tom Riddle, e abriu a porta. A sala encontrava-se completamente vazia, à exceção de uma mesa baixa. No centro desta, havia um desnível que Harry julgou ser do tamanho exato da base da taça. MacGonagall pensou o mesmo, pois encaixou-a na circunferência, e imediatamente um “clique” soou alto. Harry tentou mover a taça, inutilmente. Ela estava perfeitamente presa.

- A senhora pode conjurar algum tipo de escudo ao meu redor? Algo que me proteja tanto de mágica, quanto de estilhaços, por exemplo?

- É claro. Mas acho melhor atacarmos...

- Professora, ter ligação com Riddle já me ajudou antes. Talvez ajude agora, também.

Sem argumentos, MacGonagall colocou-se em frente a Harry, deixando a mesa entre eles, e ergueu a varinha. Harry segurou a espada com as duas mãos, ergueu-a sobre a cabeça, e encarou a taça, lembrando-se de tudo o que ela representava.

- Me desculpe, Helga... – E abaixou a espada, com toda a sua força.

O escudo de MacGonagall o cercou no mesmo instante, mas mesmo assim ele foi atingido por um forte redemoinho de energia, que arrepiou seus cabelos, e quase o fez derrubar a arma, desorientado. A força mágica liberada pela taça, rodopiou pela sala, afetando seus sentidos, desequilibrando-o .Procurando concentrar-se, firmou os pés no chão, e ergueu novamente a espada, dessa vez pela lateral do corpo. Guiando-se pelo instinto, já que a visão estava desfocada, e ele não conseguia enxergar nitidamente, atingiu o Horcrux pelo lado, finalizando assim o estrago do primeiro golpe. A copa da taça voou longe, disforme, e rolou pelo chão. Harry teve a sensação de ouvir um lamento agoniado, mas durou só alguns segundos. O redemoinho cessou, e a sala voltou à quietude da normalidade. MacGonagall estava encostada à parede, arfante. Parecia que manter Harry protegido pelo escudo fora difícil, pois a professora mostrava sinais de exaustão.

- Como foi que... Qualquer outro teria... Meu Deus, Potter! Como foi que resistiu a isso?

- Seu escudo, professora...

- Eu não consegui mantê-lo mais que dois segundos. Toda aquela magia o atingiu em cheio, mas você meramente... – O ar faltou-lhe, e ela cambaleou.

Lembrando-se, incomodado, de que não contara à diretora sobre suas novas aptidões, Harry andou até ela, a fez apoiar-se em seu braço e guiou-a para fora. Lupin andava de um lado para outro no corredor, enquanto Ron, Mione e Tonks encontravam-se sentados no chão, ao lado da porta, os olhos arregalados de apreensão. Todos pularam quando a porta se abriu.

- Por Merlin, o que aconteceu? – Lupin assustou-se com a palidez de MacGonagall, fora o fato de Harry a estar sustentando em pé.

- Estou bem, Remo. Só preciso tomar fôlego.

- Desculpe Minerva, mas você vai até Madame Pomfrey. Tonks, você a acompanha?

Tonks consentiu, e tomando o lugar de Harry, afastou-se com a diretora. Os quatro voltaram para dentro da sala. Harry absteve-se de contar detalhes, resumindo o máximo o que acontecera ali dentro. Sentia-se... incomodado. Apanhou os pedaços da taça e entregou-os a Ron, que os guardou novamente no estojo de xadrez. Depois, alcançando sua mochila, que ficara no corredor, colocou ali a espada. Olhou para os amigos então, inquieto.

- Mais um, faltam quatro. – Rony proferiu em voz alta o pensamento de todos.


=*=


- Harry, eu tenho que me retirar agora, para tomar minha poção... MacGonagall deve ficar por um tempo na ala hospitalar, e tenho certeza que ela, como eu, deseja conversar com vocês sobre o que farão em seguida. Por que não descem até o salão principal? Encontrem-se com os colegas que estão aqui, eles devem estar almoçando agora. Mais tarde Tonks se juntará a vocês, o.k.?

Os três concordaram, Ron principalmente, antevendo uma deliciosa refeição. Quando chegaram às portas do salão, todas as conversas silenciaram, e então os alunos e professores presentes explodiram em cumprimentos, abraços e perguntas sobre eles. Mesmo os que só os conheciam de vista. A boa surpresa prometida por Lupin, materializou-se na forma de Neville Longbotton e Luna Lovegood, ambos muito felizes em rever o trio.

O almoço transcorreu lento, já que todos tinham muito o que conversar. Como haviam poucos estudantes, a refeição era servida na mesa da Grifinória para todos, e por algum tempo, Harry se viu realmente de volta aos anos de escola em que Voldemort era uma ameaça bem mais distante que agora. Neville estava contando sobre a viagem de sua avó para a França, fugindo da guerra, e a discussão que tiveram quando ele se recusou a ir.

- Ela só concordou que eu ficasse na Inglaterra, quando a profª. MacGonagall se comprometeu em me receber aqui. Não acho que na França estaríamos mais seguros. Prefiro ficar perto da Ordem e de onde vocês estão.

Harry não soube o que responder, diante de tal declaração de confiança do amigo. Luna levantou os olhos imensos para eles, focando-se em Ron. Hermione mexeu-se, inquieta.

- Meu pai me mandou de volta para cá, por não poder cuidar de mim como gostaria, devido ao trabalho. Também tem medo que o ministério tente alguma represália, me seqüestrando, ou algo assim...Vocês sabem, a revista sempre denuncia os casos de abusos do ministro...

Eles não sabiam, mas era Luna, e tal frase, vinda dela, parecia absolutamente normal. A tarde passou rápida, com tanto a ser dito e revisto, e quando a imensa lua cheia já iluminava o castelo ,Tonks reapareceu, com notícias da diretora. MacGonagall estava bem, e os encontraria no dia seguinte. A bruxa os havia levado ao salão comunal da Grifinória, e achavam-se agora sentados em suas velhas poltronas preferidas, em frente à lareira.

- O que você e Lupin fazem por aqui? - Hermione quis saber. Harry também já tinha pensado nisso, e voltou-se curioso.

- Comensais tem sido vistos nos arredores de Hogsmead com freqüência. Achamos que eles tentarão entrar em Hogwarts, em breve. Isso aqui é a arca do tesouro, para eles. Há aurores no vilarejo, e os membros da Ordem revezam-se em duplas aqui na escola.

Nisso, a cicatriz de Harry ardeu. Tanto e tão repentinamente, que ele escorregou para o chão, agoniado. Os amigos o cercaram, Rony erguendo-o .

- O que foi? Voldemort?

- Ele sabe que levamos a taça. E não está feliz... Mas há algo mais. Uma ameaça mais próxima...- A dor continuava cada vez mais forte, e a sensação de perigo transformou-se em certeza. Harry aprumou-se e disse para Tonks:

- Chame MacGonagall e os outros professores. Hogsmead está sendo atacada, depois será Hogwarts.

A bruxa não parou para perguntar como ele sabia. Disparou em direção ao retrato. Os amigos sabiam o que Harry faria em seguida, e aguardaram.

- Dobby!

As enormes orelhas de morcego apareceram, mas antes que o elfo pudesse dizer qualquer coisa, Harry ordenou.

- Avise Moody e os membros da Ordem que Hogsmead está sendo atacada. Já!

O elfo sumiu, mais rápido ainda que o normal. Harry pegou a varinha e a espada, e saiu pelo buraco, os amigos em seu encalço. Quando chegaram ao saguão, encontraram MacGonagall mandando os alunos permanecerem nos salões de suas casas, e Tonks discutindo com Neville e Luna.

- Nós vamos! Já ajudamos Harry antes.

- É verdade Tonks. E toda a ajuda será bem vinda. Eles sabem como enfrentar o que está lá fora...

- O que?...

Como para responder a pergunta da diretora, um frio intenso invadiu o castelo, e uma sensação de tristeza eterna, que todos já conheciam, instalou-se. Harry confirmou, antes de sair em disparada.

- Dementadores.

Correram até os portões, Harry, Ron e Mione, Tonks, MacGonagall, Sprout, Flitwick, Neville e Luna. Harry lamentou intimamente a impossibilidade de Lupin, e a ausência de Hagrid. Assim que saíram das terras da escola, ele comandou.

- No Três Vassouras. – E aparatou. O grupo se entreolhou, todos surpresos. Era um bruxo adulto que os coordenava, e o fazia com firmeza. Aparataram também.

Harry surgiu no meio do salão da taverna. Distinguiu na escuridão, a silhueta de Madame Rosmerta, escondida, espiando por entre as cortinas cerradas da janela. Ela pulou de susto quando todos aqueles bruxos aparataram quase juntos, entre suas mesas. Mas sorriu aliviada, quando reconheceu-os. Harry sinalizou para que ela permanecesse ali, e saiu para a noite.

O maior grupo de dementadores que já vira, sobrevoava a praça de Hogsmead. Harry reconheceu alguns aurores do ministério e outros, moradores da vila, tentando enfrentá-los. Estavam decididamente levando a pior. Quando preparava-se pra conjurar seu patrono, viu algo que fez seu sangue gelar nas veias, e a ira endurecer suas entranhas. Os outros estacaram atrás de si, estarrecidos. Os dementadores não vieram sozinhos.

O lobisomem cercava uma bruxa, encurralando-a contra uma parede. Seu rosnado alto demonstrava o quanto se divertia, aterrorizando a vítima antes de atacar. Harry soube na hora de quem se tratava...







N/A: Não queiram me matar! Teve a luta com a taça! 
No próximo capítulo...

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