OUVINDO CONVERSA ALHEIA



CAPÍTULO 11:


OUVINDO CONVERSA ALHEIA


- Malfoy era um ser repulsivo, que não valia o ar que respirava, mas morrer assim...

Harry não respondeu ao comentário de Hermione. Não sabia o que sentir em relação à morte de Draco. Por um lado, chegava a sentir-se grato por alguém ter dado fim ao sonserino, poupando-o do trabalho. Por outro, percebia a realidade de que ele fora um colega de escola, desvirtuado e punido por Voldemort, assassinado por lobisomens.

- E os pais dele? O jornal diz algo sobre eles? – Perguntou Ron, esticando os olhos para o papel nas mãos de Hermione.

- Acharam Narcissa na mansão também. Aparentemente embalando um bebê imaginário, no quarto que era de Draco. Os médicos do Saint Mungus dizem que a dor e o choque da perda a fizeram enlouquecer. Não fala coisa com coisa, e refere-se ao filho como se ele ainda fosse recém nascido. Está internada na mesma ala em que estão os pais de Neville...

- Em compensação, o repórter conta que quando comunicaram a Lucius, em Azkaban, o que acontecera ao único filho e à esposa, ele não emitiu uma palavra sequer. Limitou-se a virar as costas... – Harry não parecia surpreso, só nauseado com a atitude do comensal.

- E aonde estaria Snape quando aconteceu? – Assim que a pergunta saiu de sua boca, Ron encarou o amigo, arrependido.

- É uma boa pergunta, Ron. – Harry o tranqüilizou. - Snape fez o juramento inquebrável a Narcissa de salvar Draco a qualquer custo, e se Fenrir pôde matá-lo, ou Voldemort deu jeito em Snape, o que é improvável, ou Seboso estava longe dali. Talvez em alguma missão...Ou simplesmente escondido, afinal, o ministério todo está atrás dele.

Hermione o questionou com os olhos, desconfiada da aparente calma com que ele falava do ex professor.

- Não se engane, Mione. Eu ainda pretendo acabar com ele, quando nos encontrarmos.

Harry levantou-se e caminhou até a beira do rio, onde ficou olhando para as águas correntes, as mãos nos bolsos, imóvel. Ron fez menção de juntar-se a ele, mas foi contido pela mão de Hermione em seu braço.

- Deixe-o um pouco... Toda aquela informação sobre os Horcruxes, a notícia sobre Draco, planejar o que faremos em seguida,...rever Gina... Ele precisa assimilar tudo isso.

- Concordo com as outras alternativas, mas rever minha irmã só pode ter feito bem a ele.

- É claro que ele gostou. Mas agora terá que se despedir novamente, sem saber quanto tempo, ou pelo que passarão antes de se encontrarem outra vez. Harry precisa dela perto, Ron, mas não a pode ter, e isso é injusto demais.

- Concordo! Eu, tenho você aqui comigo, já Harry ...

A vermelhidão que tomou conta de suas faces, quando ele ouviu a própria voz pronunciando a frase, parecia poder iluminar todo um campo de quadribol. Ficou muito quieto, encarando seus pés, esperando pela reação de Hermione ao comentário. Ela apenas sorriu por um momento, depois ajeitou com os dedos uma mecha rebelde dos cabelos ruivos, e então pediu:

- Ron, você me promete uma coisa?

- Claro...- Murmurou, erguendo os olhos.

- Quando tudo isso terminar, quando não houverem mais buscas ou lutas a serem travadas, nós dois vamos ter uma longa conversa... E nenhum dos dois sairá dela enquanto tudo não for dito.

Ron pegou a mão que mexia em seus cabelos, e beijou-lhe os dedos.

- Prometo!


==*==


O Menino que Sobreviveu decidiu que estava cansado de pensamentos sombrios e sacudiu-os para longe. Tinha algumas horas antes de seguir com os amigos para Hogwarts, e tentaria relaxar até lá. Observou, sorrindo, Ron e Mione entretidos em guardar os utensílios do delicioso jantar. Ron, aliás, ocupava-se em limpar a panela, literalmente. De dentro do jipe, somente os pés esticados para fora da porta denunciavam a presença de Bull. Não muito longe, Bicuço tentava pescar sua refeição nas águas frias e rasas. Edwiges já partira, retornando à Ordem da Fênix. Os olhos de Harry finalmente renderam-se à voz em seu peito, e ele olhou para a cabana. Segundos depois, estava ao pé da escada, seguido pelo olhar levemente desconfiado de Ron e pelo francamente satisfeito de Hermione, que advertiu ao ruivo:

- Ele não vai mordê-la, sossegue!

Harry entrou no aposento iluminado apenas pelo luar, e esperou alguns momentos até os olhos acostumarem-se com a penumbra. Quando conseguiu distinguir aonde Gina estava, abriu um largo sorriso. O saco de dormir de Rony jazia, vazio e esquecido, junto à janela. Gina encontrava-se acomodada, parecendo extremamente confortável, entre as cobertas de Harry, usando o suéter dele como travesseiro. Sentou-se no chão, próximo a ela, e ali ficou, silencioso e nostálgico, velando seu sono.

- Você deveria descansar também... – A voz estava clara o suficiente para Harry saber que ela não dormia há pelo menos alguns minutos.

- Desculpe, não queria acordá-la...

- Sem problemas... – Mas ele quase conseguiu ouvi-la pensando: “ Queria sim!” – Venha dormir um pouco...- Disse, batendo no chão ao seu lado.

Harry pegou alguns cobertores e os estendeu a pelo menos um metro da garota. Deitou-se, e imediatamente, um suspiro exasperado se fez ouvir.

- Ah, por Merlin!

Gina levantou-se e puxou toda a sua cama improvisada para perto dele, e antes que ele pudesse, ou quisesse, reclamar, ela já estava ajeitando a cabeça em seu peito.

- Gina, Ron não vai gostar...

- Você não está confortável?

- É claro que estou, mas...

- Então deixe meu irmão comigo. Eu dou conta... – Bocejou, já se entregando ao sono novamente.

- Não duvido! - Respondeu, ajustando o cobertor até que ela estivesse bem protegida da madrugada fria. Segurando-a junto a si, fechou os olhos também.

Alguns minutos depois, Ron, que viera buscar seu jogo de xadrez bruxo, na intenção de entreter Hermione, encontrou os dois dormindo a sono solto. Havia algo de tão certo na cena, que não conseguiu sequer sentir ciúmes da irmã...


==*==


Severus Snape atravessou o corredor escuro e fétido, com somente o som de seus próprios passos ecoando nas pedras irregulares das paredes. Parou em frente à única porta por ali, e antes de entrar, puxou a capa até as orelhas, em uma tentativa vã de esconder a horrível cicatriz que descia por seu pescoço. O hipógrifo fizera bastante estrago quando o atacara, na noite em que fugiu de Hogwarts, e agora faltava-lhe um bom pedaço da carne do ombro e braço esquerdos. Contorceu a boca, num sorriso irônico. Nenhum de seus “colegas” preocupara-se com sua aparência, quando lhe trataram os ferimentos. As lacerações causadas pelo animal o forçaram a vários e difíceis tratamentos, a maioria ministrados por ele mesmo, e em uma dessas ausências... Draco Malfoy fora castigado. Baniu esses pensamentos da mente, assumindo a fria expressão costumeira. Bateu à porta e entrou sem esperar resposta. Lord Voldemort estava em pé, próximo a sua poltrona, observando Nagini, enrodilhada a seus pés.

- Ah, Severus! – O tom era calmo e frio, mas Snape estava ciente do brilho perigoso no olhar vermelho. – Descobriu quem foi?

- Sim. Bastou um pouco de Veritasserum ...

Voldemort ergueu a mão fina e muito branca, silenciando-o .

- Não desperdice meu tempo com detalhes de suas armações. Quem foi?

Os olhos de Snape estreitaram-se perante a advertência, mas ele se controlou. Ainda não era hora de responder à altura. Antecipando a reação de Voldemort, sibilou:

- Potter.

Surpresa e ira tomaram conta do semblante viperino.

- Sozinho?

- Olho Tonto Moody entregou Bellatrix e os outros ao ministério. Mas foi Potter que amaldiçoou Bella.

- Imbecil! Derrotada por ... Mas o destino de Bella não é o que interessa, agora. Quero saber o que Potter fazia lá!

Snape estava curioso com a atitude de Voldemort. Parecia ...preocupado demais. Tomando cuidado para que o Lord não percebesse o que lhe ia na cabeça, argumentou:

- Potter tem fixação pela memória dos pais. Provavelmente estava em uma visita sentimentalóide ... Não acredito que soubesse que há algo escondido naquele terreno, ou o que Bellatrix fazia no lugar. É obtuso demais para raciocinar tão longe...

Os olhos de fenda encontraram os seus, e cintilaram maliciosamente. Voldemort sentou-se, apoiando o queixo nas mãos cruzadas.

- Eu já estive naquela mente, e você o subestima. Mas,... Conte-me Severus... Não o incomoda que eu lhe negue esse segredo? Não quer saber o que está naquele porão?... Nenhuma curiosidade?

Snape fechou os punhos dentro da capa, mas respondeu em tom servil.

- Tenho certeza que Milorde me contará, se e quando achar necessário. Espero merecer a sua confiança, na ocasião.

Nagini movera-se pelo chão, e agora estava a sua frente, a cabeça erguida indo de um lado para o outro, como se fosse atacá-lo. Ignorou-a .

- Eu também, Severus. Detestaria me desfazer de um servo tão útil e leal...

Sabia que estava sendo testado, então escolheu permanecer em silêncio. Voldemort o encarou, parecendo levemente divertido com a situação.

- Mas tenho que reconhecer, e dar-lhe crédito, pela espantosa boa vontade com que aceitou a morte do filho de Narcissa, e, é claro, as conseqüências para ela. – O nome Narcissa foi pronunciado vagarosamente.

Para esse golpe ele havia se preparado. Levantou o que sobrara dos ombros, indiferente.

- Só prometi ajuda aos Malfoy, porque eram aliados de Milorde também, a missão era importante, e o menino meu aluno. Nada mais.

- É claro... Você pode ir, agora. Mas esteja preparado, logo precisarei de seus úteis serviços.

Continuou encarando-o maliciosamente, enquanto Snape fazia uma discreta reverência e saía da sala. Era divertido ver o quanto Severus conseguia disfarçar a própria ambição, como subjugava sua raiva. Ah, sim! Sabia que na primeira oportunidade, seu melhor servo tentaria tomar seu lugar, assim como a maioria de seus comensais. Por isso nenhum deveria conhecer seu segredo. E por isso também, chamou o único que tinha mais medo que soberba.

- Rabicho! Acorde, inútil! Há preparativos a serem feitos. Viajaremos ao cair da noite.


Distante dali, Harry Potter abriu os olhos, incrédulo. Havia acontecido outra vez! Entrara na mente de Voldemort e assistira parte da conversa. Mas isso não era o mais surpreendente....

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