Capítulo VII



Oi, oi povo!!!


 


Bom, como expliquei lá na descrição da fic, essa adaptação é de uma obra que aqui no Brasil, foi dividida em dois volumes, portanto esse é o penúltimo capítulo do primeiro livro. Gostaria nesse momento de saber (se possível) a opinião de todos que estão lendo, acharam interessante? Vale apena continuar com esse tipo de projeto? Seria interessante trazer outras histórias dessa coleção adaptadas? Votem, dêem a opinião de vocês, gostaria muito de saber o que acham.


Sobre os comentários...


Nana!!! Fico sempre feliz em ler seus comentários!! Espero que goste desse próximo!!!! Aliás, cadê a atualização da sua?? Vou te contar viu, você e a Aninha, são duas malévolas!! Estou esperando a atualização das fics de vocês e nada!!! Isso é muita maldade!!rsrsrs


 


Angel, seja muito bem vinda!!! Fique a vontade, leia e depois me diga o que achou!! Ficarei esperando ansiosa seu comentário. E estou aguardando atualização lá na sua fic!


 


Bjs e Boa Leitura!!!


 


*****


 


Meia hora mais tarde, o professor e seus filhos se achavam na carruagem de Ronald, no caminho da floresta. O jovem conseguira convencê-los a ir jantar em Nunsthel, aproveitando a esplêndida temperatura da tarde.


— Papai se sentirá muito feliz por vê-los à sua mesa! E, na volta, contemplarão a floresta ao luar. É feérica[1]!


A refeição foi alegríssima. A própria melancolia de Alexis se atenuava ao contato com os Malfoy e os Weasley. O administrador e seu amigo, sorrindo, ouviam os moços e, de vez em quando, intrometiam-se na conversa com uma ou outra palavra.


Como, a propósito de Parkinson, se viesse a falar de Conde Malfoy, Ronald exclamou:


— Já me esquecia, papai, de lhe transmitir o convite dele. O conde disse-me que ficará encantado de o ver em Runsdorf e me fez grandes elogios do senhor.


A fisionomia do administrador se tornou subitamente sombria. Sem responder, pôs-se a enrolar entre os dedos as migalhas de pão.


— Nunca nos disse, me modesto amigo, que salvou das chamas a tia do...


Arthur ruborizou-se e os seus lábios tremeram. Um relâmpago perpassou-lhe pelo olhar ao voltar-se para o professor.


— Suplico-lhe, não falemos mais nisso, Adrian! — disse ele quase com violência — É um túmulo que jamais deverá ser reaberto.


Interrompeu-se e, passando com nervosismo a mão pela fronte, continuou num tom ainda alterado, mas procurando sorrir:


— Você vai julgar-me um tanto nervoso, meu amigo. De fato, às vezes o sou, sem nenhuma razão.


Ao proferir estas palavras, fez um movimento impaciente de ombros e no seu olhar apareceu uma expressão dolorosa que Hermione não deixou de notar.


Às nove horas, Ronald levou os convidados para Runsdorf. Fez o carro tomar o caminho mais longo, o que passava em frente ao chalé rosa, e que era o mais pitoresco, principalmente à claridade do luar.


Uma luz azulada iluminava misteriosamente a relva e dava aos troncos das árvores aparência fantasmagórica. Banhava as encostas por grandes blocos de granito, que desciam até o vale. Dir-se-ia uma paisagem de sonho, de um mundo irreal adormecido na eternidade.


Numa volta do caminho divisou-se o chalé. A luz que saía das janelas dos apartamentos maravilhosamente decorados parecia um desafio à pálida claridade do luar. Ao redor da encantadora vivenda, viam-se grandes lanternas de vidro rosado, presas por braços de ferro delicadamente forjados, projetando claridade intensa sobre a estrada e iluminando o magnífico jardim.


— Está sempre assim — disse Ronald, refreando o cavalo para dar tempo aos companheiros de verem bem a linda residência — A princesa Karkaroff não suporta a escuridão, tem necessidade de luz, sempre de muita luz...


O moço interrompeu a frase. Por detrás das grandes vidraças de uma janela do primeiro andar, acabava de aparecer uma forma curvada, vestida de branco. Hermione distinguiu de relance um rosto pronunciadamente feio, abatido, e uns olhos penetrantes que produziram nela uma sensação de repulsa.


— A princesa... — murmurou Ronald.


Logo que o carro passou pela frente do chalé e ia deixá-lo para trás, a porta se abriu e um homem de alta estatura apareceu no limiar. Num golpe de vista, Hermione reconheceu Argus.


O velho tomou um caminho que encurtava muito, por atalhos, o trajeto até Runsdorf.


— É o velho Sr. Filch, não é? — perguntou Ronald — Que belo exemplo de devotamento dão esses antigos servidores! Esse é velhíssimo! Foi contemporâneo da Princesa Karkaroff. Muito moço ainda, entrou para o serviço de Abraxas Malfoy, que o fez seu criado favorito. A irmã de Abraxas também depositava nele uma confiança absoluta. Provavelmente agora lhe apraz falar com ele sobre o passado, porque sempre o encontro por aqui quando volto à noite para casa. Viu a princesa, Mione?


— O suficiente para me convencer de que é de uma fealdade notável.


— Sim, mas o seu espírito era, parece, incomparável: vivo, brilhante, original. Oh! Original ela ainda é, e sempre! Vive numa quase completa solidão, e jamais, depois de sua volta da Rússia, pôs os pés em Runsdorf. Seus sobrinhos-netos vêm vê-la raramente, segundo dizem. Quando sua sobrinha, a cônega, está em Runsdorf, passa, algumas vezes, dois ou três dias no chalé. Suponho que então elas devem abismar-se em dissertações sem fim sobre a grandeza desaparecida de sua raça.


Rindo muito, o jovem continuou:


— Felizmente essas orgulhosas damas do passado não estão me ouvindo, porque provavelmente não devem admitir que sua família seja assim comentada, com irreverência, sem consideração pela sua superioridade de outrora!


Além, em outra curva do caminho, surgia Runsdorf, mais sombrio do que nunca, quase fantástico sob a claridade do luar, que parecia aumentar exageradamente as suas dimensões. O velho solar tinha o aspecto sinistro de imensa e negra prisão. Ronald, estendendo a mão na direção do castelo, prosseguiu:


— E, entretanto, não se pode duvidar de que sua influência sela nula para o futuro. Eles se empenham numa luta silenciosa contra as idéias modernas, perdendo tudo o que têm de bom, de legítimo. Serão vencidos irremediavelmente. E, no entanto, os jovens Malfoy são tão bem dotados!


— Sim, são muito atraentes — disse o professor — Confesso que esse jovem Conde Malfoy me inspira grande simpatia. E a Condessa Luna é encantadora.


— De um encanto perfeito! — disse Ronald com entusiasmo contido — E o seu destino será escolhido assim: ou envelhecer inutilmente entre essas antigas paredes, ou esposar algum personagem mais ou menos idoso, mais ou menos horrível e desagradável. Isso pouco importará, contanto que a nobreza dele seja digna da sua. A não ser que ela entre para um Capítulo como a tia...


— Talvez não, Ron. Com as qualidades que possui, é bem possível que seja escolhida por um jovem de sua casta, também bem dotado.


Ronald meneou a cabeça.


— Sim, isso poderia acontecer, mas será grande sorte! A nobreza arruinada procura a fortuna; a outra também não deseja outra coisa. Ora, os Malfoy parecem estar metidos em grandes apuros... Enfim, veremos! — concluiu o jovem Weasley, tocando com o chicote o dorso do cavalo, o que fez o carro mudar ligeiramente de rumo, em direção a Runsdorf.


 


*****


 


Nessa noite, quando ia preparar-se para dormir, Hermione sentiu vontade de ver o lago sob a luz do luar. Ninguém, segundo Otávia, freqüentava essa parte do castelo e assim, pois, não via nenhuma inconveniência em atender a esse inocente desejo.


Puxou o ferrolho, abriu a pesada porta de carvalho e se achou na galeria, iluminada apenas pela claridade que penetrava através das grandes vidraças e que se estendia em longas faixas pelo pavimento de mármore.


O escuro lago mostrava-se, nessa noite, transformado numa grande toalha de prata líquida. Ao contrário, a estranha capela erguia-se mais negra, mais lúgubre, sob o clarão branco da lua, que iluminava a fachada dos edifícios ao redor do lago, e de tal modo que Hermione distinguia, no lado oposto do pátio, as vidraças das altas janelas, até então sempre fechadas.


Avançando, fitou por um momento o lago prateado, sepulcro líquido de muitos membros de uma família outrora rica e poderosa, derradeira morada dessa linda Paola, cuja morte levara o esposo ao suicídio. Juntando as mãos, a jovem fez uma prece comovida em tenção de todos esses mortos desconhecidos.


Quando ergueu os olhos, viu que uma das portas defronte ia-se abrindo lentamente. Logo uma figura alta e esbelta, vestida de negro, surgiu no limiar envidraçado.


A despeito de sua habitual energia, foi com dificuldade que Hermione reteve uma exclamação de susto, porque tudo o que a velha Otávia lhe contara veio-lhe subitamente ao espírito.


A aparição, com andar deslizante, chegou-se até a beira do lago; ali caiu de joelhos, curvando um pouco a cabeça para a água prateada. Hermione observou o seu admirável perfil, a cabeleira escura, o corpo, cuja elegância lhe pareceu incomparável. Que maravilhosa e fascinante visão nesse cenário de lenda! Seria a pobre Condessa Paola rezando pelo seu esposo culpado? Ou Bellatrix, a jovem que preferira morrer prisioneira a consentir num casamento odioso? Ou alguma outra dessas condessas Malfoy que ali tinham levado uma vida de secretos martírios? Otávia dissera que esse apartamento estava agora sempre desocupado e que a primeira condessa que não quisera habitá-lo fora a pobre Paola, por não poder habituar-se com a proximidade da fúnebre capela.


De súbito, a aparição curvou mais a cabeça, escondendo o rosto entre as mãos. Hermione julgou ver levantarem-se-lhe os ombros, como sacudidos por soluços. Depois, as mãos caídas novamente sobre o colo, a desconhecida levantou-se com um movimento impetuoso e andou rapidamente para a porta envidraçada, por onde desapareceu.


Alguns instantes mais tarde uma luz surgiu nas janelas, através das grandes cortinas de tecido leve, cor púrpura, que caíam por detrás das vidraças. Logo, os sons de um harmônio chegaram aos ouvidos de Hermione. Mãos de artista faziam o instrumento vibrar, davam-lhe alma, ou antes, comunicavam-lhe a da misteriosa musicista. E essa alma devia ser bem triste, magoada, dolorosa, ferida em todos os seus ideais, a se avaliar pelas frases melancólicas, atormentadas, pungentes em sua simplicidade, que Hermione ouvia com profunda emoção.


Bruscamente a harmonia mudou. Tornou-se dura, cruel, triunfante, para cessar em seguida, como num soluço.


Hermione voltou para o seu quarto e abandonou-se, comovida, numa poltrona. Teria tido alguma alucinação? Ou então vira mesmo um dos fantasmas de que falara Otávia?


Meneou a cabeça, pondo-se a rir. Seus nervos, sobre excitados um instante pela estranheza da cena, retomaram o equilíbrio. Os Malfoy provavelmente tinham alguns hóspedes, que talvez até fossem parentes, e um deles viera rezar pelos mortos da família. A pobre senhora devia ter muitos pesares, a se julgar pela atitude e pela música, belíssima, porém tão triste!


Rosa, na manhã seguinte, trouxe o café com leite muito tarde. Desculpou-se, dizendo que a senhora cônega havia chegado na véspera, à noite, sem prevenir ninguém, e que por isso se achava sobrecarregada de serviços.


— Tive que desfazer as malas, arranjar o apartamento, preparar uma porção de coisas, porque a Condessa Ceres gosta de ver tudo muito bem disposto à sua volta.


— Onde fica o apartamento dela? — perguntou Hermione, cortando o pão em fatias.


— É aquele que dá sobre o lago. A Princesa Karkaroff o habitava quando moça. A senhora cônega o escolheu depois que ela o deixou. É o mais belo, o mais luxuosos do castelo. Mas nem que me dessem uma fortuna trocaria o meu pobre quarto por ele!


Quando Rosa saiu, o professor voltou-se para a filha:


— Então, eis o seu fantasma, Hermione!


— Sim, tudo se explica. A cônega foi rezar por sua mãe diante do lago que é o seu túmulo. Entretanto, o desespero que vi é incompreensível, ao se considerar que ela era uma criancinha, ainda inconsciente, na época em que morreu a Condessa Paola. Em todo caso, a aparição dessa soberba criatura na beira do lago, sob o luar, foi realmente fantástica. Eu desejaria que o senhor a visse, papai!


— Infelizmente não posso solicitar dessa orgulhosa senhora a repetição da cena — disse rindo o professor — Que vai fazer você esta manhã, Hermione?


— Já que hoje é o seu dia de dar as lições, papai, irei à casa da velha Bagshot. Vai fazer quinze dias que não vejo a pobre mulher.


Bathilda Bagshot, nonagenária viúva de um lenhador, vivia pobremente num pequeno casebre da floresta. Tinha sido, na mocidade, ajudante de cozinha em Runsdorf. Um bom homem, seu parente, a esposara, apesar de certa fraqueza de espírito da mulher, e a fizera feliz tanto quanto lhe permitia a sua modesta posição. Morreu quase centenário, deixando a companheira, meio paralítica. O único filho a abandonara, há muitos anos, sem quaisquer recursos para subsistir. Felizmente, Arthur Weasley morava ali. Compassivo e generoso, encarregou sua filha mais velha de cuidar da pobre mulher, a fim de que nada lhe faltasse. Um dia Hermione acompanhou Ginevra à casa dela e a velha Bathilda demonstrou tal contentamento que a jovem voltou ali muitas vezes trazendo-lhe sempre alguns doces, que eram recebidos com tocante reconhecimento.


Bathilda, que sempre tivera temperamento um pouco esquisito, era geralmente taciturna. Entretanto, às vezes – por pouco tempo, aliás –, tornava-se loquaz[2]. Então, proferia frases desconexas, acompanhadas de grandes gestos das mãos descarnadas. Depois, repentinamente, caía num mutismo de que nada a tirava.


Nessa manhã, entrando no casebre, Hermione viu logo que ela se achava num desses dias. Bathilda, ao vê-la, piscou o único olho que lhe restava, depois de um acidente que sofrera uns doze anos atrás.


— A senhora vem de Runsdorf? Um belo castelo... Conheço todos os cantos. Eu era curiosa e sempre me ralhavam por isso... E vi... Oh! Vi tantas coisas! A senhora conhece Argus? Sim, eu o vi... e o Conde Abraxas, na galeria... ele estava tão pálido... Sim, era bem isso... e o cofre era bem pesado...


— Que cofre? — perguntou Hermione maquinalmente.


— O cofre... e a água descia... vi bem o buraco... Oh! Se vi bem!


Interrompeu-se, o olhar perdido, e Hermione não conseguiu tirar-lhe mais nenhuma palavra.


A jovem só deixou o casebre depois de o ter posto em perfeita ordem. Tomou o caminho que passava defronte do chalé, porque dali poderia deliciar-se com uma vista encantadora do vale. Nessa manhã, o sol de setembro iluminava as encostas recobertas de matas e os prados ao fundo, atravessados por faiscante e tortuosa ribeira. As folhagens começavam a tomar tons de ferrugem e de ouro velho, as urzes cobriam de largos tapetes róseos as charnecas, onde bebiam em ondas o sol claro e doce. Hermione andava com passo apressado em meio ao misterioso silêncio da floresta.


À volta do caminho viu o chalé banhado de sol, coberto por um vermelho manto de briônia[3]. Era, na verdade, uma fascinante moradia. Por um instante a jovem parou para admirar as finas esculturas nos balcões de madeira e a coleção de begônias, de todos os tons rosa, que ornava a frente da residência.


Quando voltava a cabeça, viu duas pessoas que saíam do caminho que levava diretamente a Runsdorf. Uma era o Conde Draco, a outra... (Hermione teria reconhecido entre mil esse corpo incomparável, ao qual se aliava tão bem o andar flexível e majestoso.) Não poderia haver engano, tanto mais que a pessoa trazia o mesmo vestido preto, muito severo, um pouco comprido, com o qual Hermione vira a fascinante aparição da véspera.


Um chapéu, porém, nessa manhã, cobria-lhe a cabeleira, escondendo em parte a fronte. Todavia, quando ele se aproximou, Hermione pode observar com rápido golpe de vista o rosto da desconhecida. Como era bela! Seria verdadeiramente impossível imaginar-se traços mais harmoniosos, tez de brancura mais delicada. Os magníficos olhos claros, aveludados, que demonstravam surpresa um pouco altiva, encontraram-se com os de Hermione.


O conde se descobriu e adiantou-se para a jovem, que se apressou em andar depois de o ter cumprimentado.


— Srta. Granger, já que se oferece uma ocasião, quererá permitir-me apresentá-la a minha tia, a Condessa Ceres Malfoy?


Certo interesse apareceu nos belos olhos da condessa, que achava, talvez, essa jovem burguesa suficientemente distinta para lhe merecer alguma atenção. Estendeu a formosa mão branca para Hermione, num gesto que não teria desmerecido a mais orgulhosa das soberanas; seus lábios pronunciaram uma frase muito simples e condescendente. A Srta. Granger respondeu-lhe com a graça habitual, mas um pouco reservada. Entretanto, não estaria sonhando? Então, essa formosa mulher era tia do Conde Draco?... Deveria ter uns quarenta anos. Sob o sol claro que a envolvia, era fácil a qualquer pessoa convencer-se de que não existiam artifícios nessa juventude e beleza. Disse-lhe o conde:


— Está passeando bem cedo hoje, senhorita! E o ar da floresta lhe fez um bem maravilhoso!


De fato, a frescura fascinante de Hermione, a vida profunda e intensa do seu olhar justificavam essa reflexão do Conde Draco, feita num tom de discreta admiração.


— Gosto tanto desta floresta!... E principalmente a esta hora.


— A senhorita tem razão. Era esta também a minha hora predileta — disse a cônega com sua voz um pouco baixa, mas muito harmoniosa — Como eu gostava de ver o róseo diamantino das urzes, que pareciam pérolas cor-de-rosa. Eu gostava de remexer com os pés os matinhos úmidos e ouvir o canto do despertar dos pássaros. Sim, como eu gostava disso tudo!


As últimas palavras foram ditas quase num murmúrio com lábios ligeiramente trêmulos.


— E agora, minha tia?


Ela ergueu a cabeça, esboçando um sorriso em que Hermione percebeu grande amargura.


— Agora, meu caro Draco, sua tia é uma mulher velha que já viveu, refletiu e nada conservou desses poéticos entusiasmos da juventude.


— Uma mulher velha!? — exclamou Hermione.


E a admiração refletida em seu olhar revelava à bela condessa quanto era sincero esse protesto. Mas aquilo que seria lisonjeiro para outra mulher parecia, ao contrário, desagradar à cônega, porque uma ruga de contrariedade riscou a sua fronte.


— A aparência não quer dizer nada — disse ela com ligeiro movimento de ombros. — Certas pessoas conservam até a velhice uma alma jovem, ingênua e cheia de ilusões; outras são velhas aos vinte anos. Em nossa família há geralmente destas últimas. As responsabilidades de um grande nome nos envelhecem depressa.


O seu formoso semblante parecia entristecer-se e Hermione julgou ver a mesma sombra tristonha no rosto do conde. Logo, porém, ele sorriu, fazendo um gesto amigável na direção do caminho.


— Eis o Sr. Weasley e Nimue.


A cônega estremeceu e Hermione teve a impressão de que ela procurava dominar-se para não recuar. Seus lábios tornaram-se, subitamente, cor de cera, suas mãos se crisparam no cabo da sombrinha. Por fim, ergueu a cabeça orgulhosamente, voltando-se para os que chegavam: Ronald e sua irmãzinha.


Então, Hermione, que a observava com discreta surpresa, notou que a calma reaparecia em sua fisionomia. Também pode perceber um pouco de irritação ou impaciência quando Ronald, a chamado de Draco, veio inclinar-se ante ela.


— Minha tia, o Sr. Ronald Weasley, filho do administrador, esse valente Arthur Weasley que a salvou outrora do incêndio.


Hermione mais uma vez julgou ver estremecer a cônega, provavelmente pela lembrança do terrível perigo do qual Arthur a havia salvo. Foi, porém, com voz muito calma, glacial mesmo, que ela respondeu:


— Não o esqueci. Seu pai é o homem mais corajoso que vi em minha vida e o senhor pode orgulhar-se de ser seu filho.


Oh! Desta vez, era bem evidente a viva emoção no seu formoso rosto! Draco fizera a pequena Nimue, um pouco intimidada pela majestade daquela senhora, chegar-se para perto de sua tia; a menina ergueu para ela os grandes olhos azuis, semelhantes aos dos pai.


— Eis a encantadora pequenina Weasley — disse alegremente o conde — Ela se tornou amiga muito querida de Maia, de Ariadne e de Áquila.


A cônega acariciou os cachos ruivos de Nimue. Depois, desviou dela o olhar e disse com a mesma frieza:


— Sim, ela parece muito gentil, mas vamos, Draco, estamos prendendo a Srta. Granger.


Em seguida, inclinou-se ligeiramente e se dirigiu para o chalé, acompanhada pelo sobrinho, que se despedira amigavelmente de Ronald com um aperto de mão e cumprimentara Hermione com a sua habitual cordialidade respeitosa.


— Essa moça é realmente bonita e muito distinta — disse a cônega num tom de aprovação — Suponho que está destinada, algum dia, a tornar-se esposa do jovem Weasley, não é?


O conde tinha a mão no cabo da campainha. Esta foi agitada com tal violência que a Condessa Ceres exclamou:


— Mas você está louco, Draco? Que vai minha tia pensar desse carrilhão desordenado?


— Creio que ela está um pouco surda — replicou ele tranqüilamente — Em caso contrário, saberei desculpar-me deste movimento impetuoso. Quando à pergunta que me fez, não posso respondê-la por não estar a par dos projetos do administrador e de seu filho. Evidentemente, esse enlace poderia ser feito. Os Weasley são ricos, mas julgo que não são interesseiros e a Srta. Granger é daquelas que podem casar-se com quem melhor lhe aprouver. A classe social é a mesma, nada os separa.


Um lacaio de libré clara, com galões de prata, abriu a porta. No momento de franquear o limiar, logo após sua tia, Draco voltou-se Hermione tomava então o atalho, com Ronald e Nimue. O rosto do conde se contraiu, vincando-lhe a fronte uma profunda ruga. A sua expressão, entretanto, já havia retomado a habitual calma e altivez quando entrou no vestíbulo, decorado de pinturas mitológicas e de flores de colorido ardente.


No atalho, Hermione e Ronald conversavam em termos admirativos sobre a bela cônega. Mas Nimue disse subitamente, sacudindo os cachos ruivos:


— Sim, ela é lindíssima, mas não me parece muito amável e tive a impressão de que não lhe agradei. Não o percebeu, Mione?


— Talvez não goste muito de crianças, minha querida. Ron, não é seu pai que vejo ali embaixo, na clareira?


— Sim, é ele com efeito. Vá dizer-lhe bom dia, Nimue, porque você ainda não o viu esta manhã.


Alguns instantes depois, Arthur Weasley, deixando os guardas-florestais aos quais dava instruções, chegava ao atalho e estendia a mão a Hermione, um franco sorriso a iluminar-lhe a grave fisionomia.


— Que passeio matinal, senhorita! Foi a Nunsthel?


— Não, fui somente ver a velha Bagshot, que encontrei em seus dias de divagação. Falou-me de Runsdorf, do Sr. Filch, do Conde Abraxas, em frases cortadas e imprecisas.


— Sim, são sempre as lembranças de Runsdorf que a fazem delirar. Parece que o seu espírito ficou particularmente abalado durante o tempo em que lá esteve.


— Papai, há pouco vimos a tia do Conde Malfoy — disse Nimue, tomando-lhe a mão.


— A velha princesa do chalé, de quem você tinha tanto medo no ano passado?


— Não, aquela a que chama cônega... O que quer dizer cônega?


O rosto do administrador, um pouco animado pelo passeio a cavalo que acabava de fazer na floresta, contraiu-se ligeiramente, as pálpebras bateram e baixaram por um instante.


— Sim, acabamos de encontrar junto do chalé o conde e a tia conversando com a Mione — disse Ronald — E fomos apresentados a ela muito amavelmente. Que maravilhosa beleza! Mas que frieza e orgulho! Entretanto, disse-me que jamais esqueceu o que o senhor fez por ela e que eu poderia orgulhar-me de ser seu filho.


Um riso sardônico se formou nos lábios de Arthur Weasley. Voltando-se para a clareira murmurou:


— Eu também nunca o esqueci! Certos acontecimentos contam dobrado em nossa existência.


E em voz alta chamou:


— Longbottom, quer trazer o meu cavalo, faz favor?


Um guarda-florestal adiantou-se, trazendo pelas rédeas o belo baio marrom que relinchava alegremente. Arthur curvou-se para a filha e beijou-a na fronte.


— Até a noite, pequena Nimue. Ron, avise Ginny do almoço no pavilhão de caça com o arquiduque. Longbottom veio trazer-me o convite imperioso de sua Alteza. Lembranças ao meu amigo Adrian, Srta. Granger, e até domingo.


Pôs o pé no estribo; mas a pequenina mão de Nimue segurou-o pela manga.


— Papai, o senhor não me respondeu. O que é uma cônega?


— Agora não tenho tempo para lhe explicar, minha filha. Pergunte a Ron.


Saltou para a sela e afastou-se, cavalgando com tanto garbo e tão jovem na aparência que se diria o irmão mais velho do filho.


Hermione despediu-se de Ronald e de Nimue e encaminhou-se rapidamente para Runsdorf. Todos esses encontros tinham-na retardado e só lhe restava tempo para chegar na hora justa da lição de inglês de Luna.


— Ah! Viu minha tia? — disse a jovem condessa, a quem ela falou de seu passeio — Não lhe pergunto como a achou, porque a resposta é sempre a mesma. Sua beleza é daquelas, raríssimas, que não se discutem. Mas o que vale mais é a sua bondade. Ela nos ama muito. Quando ao seu espírito, ao mesmo tempo cintilante e delicado, pouco o demonstra, principalmente fora do seio da família. Às vezes, mesmo, ela se mostra singularmente taciturna.


Meneando a cabeça, Luna acrescentou com tristeza:


— Dir-se-ia que existe nela algum profundo sofrimento moral.


Hermione, lembrando-se da cena noturna, pensou, sem ousar dizê-lo, que Luna provavelmente tinha razão.


 




[1] Feérica: pertencente ao mundo das fadas; mágico; maravilhoso; deslumbrante.


[2] Loquaz: Falador; eloqüente.


[3] Briônia: espécie de planta medicinal (http://www.plantasquecuram.com.br/ervas/brionia.html).

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