Capítulo VI



Oi, oi povo!!!


Pois é, o Draco apareceu e a Hermione tenta a todo custo não formar sua primeira impressão dele, será que ela conseguiu? E o que ela faria se ele soubesse da opinião dela?? Só lendo pra saber!!rsrs


Nana, pois é... O que gostei dessa história quando li pela primeira vez foi justamente isso, a personagem principal me lembrou muito a Hermione, tanto que o máximo que mexi na personagem foram as características físicas... Espero que você goste desse capítulo, vou aguardar sua opinião. ^^


 


Aninha menina, como você ousa sumir desse jeito!!! Sua malévola, cadê a atualização da sua fic?!?!? Quero muito saber o que o Sev vai fazer!!!!! ><


Bom, sobre o seu comentário agora...


Né? Tem horas que o Draco não é muito convincente em negar a profissão... E o que você achou da Hermione? Presta atenção nesse que vai estar bem interessante, rsrs


E sim, vamos nos trombar ainda no MSN, rsrsrs


 


Bjs.


Façam suas apostas e boa leitura!


 


***


 


Aguaceiros diluvianos tinham caído durante toda a noite e nessa manhã o céu estava ainda sombrio, pesado de chuva. A mudança de temperatura provocara em Alexis uma dolorosa crise reumática. O professor, tendo tomado muita friagem na véspera, a conversar longo tempo com Ronald sob as árvores do parque, espirrava seguidamente, mostrando lastimável semblante. Hermione procurava distraí-los e compensar com a sua jovialidade a melancolia desse dia aborrecido.


Como Rosa estivesse ocupada junto da condessa, foi Otávia quem trouxe a refeição do meio-dia. A pobre velha se arrastava, porque as suas pernas reumáticas faziam-na também sofrer muito nesse dia.


— Você precisa de um pouco de repouso — disse Hermione, fitando com piedade o pobre rosto fatigado — Ficará doente se continuar assim.


— Eu tenho saúde vigorosa, apesar de minha idade. É apenas este reumatismo que me incomoda. Tanto pior, se preciso andar do mesmo modo — acrescentou, com um sorriso resignado.


— Mas parece-me que na sua idade você já trabalhou bastante, para poder descansar — observou o professor.


— Enquanto os meus amos precisarem de mim, não pensarei em descansar. Irei até o fim, eis tudo. Eu nasci neste castelo e desde menina sirvo os meus senhores! Era então o bom Conde Cepheus que possuía Runsdorf.


— Você o conheceu? — interrompeu Hermione — Nunca se soube, realmente, o que foi feito dele?


— Jamais, jamais, senhorita! De noite eu o tinha visto muito alegre e amável, como sempre, conversando com a irmã, que chegara aqui alguns dias antes e que ele conduzia ao seu apartamento. Deviam ser onze horas mais ou menos. À uma hora, a Condessa Lyra chamou minha mãe, que a servia como camareira durante suas estadas em Runsdorf. Pediu um calmante dizendo que não podia dormir, pois que seu irmão lhe contara algumas estranhas histórias indianas que não lhe saíam do espírito. Minha mãe achou-a muito esquisita, muito agitada, e repetiu isso aos homens da Justiça que depois vieram fazer investigações. Na manhã seguinte, ele havia desaparecido. Um senhor tão bom! Não se assemelhava em nada aos outros. Isso não quer dizer que eu esteja reprovando o procedimento do Conde Abraxas e de seu filho! — acrescentou precipitadamente, toda confusa, como se acabasse de praticar um sacrilégio — Eles também eram justos, mas a seu modo. O Conde Cepheus, porém, tinha qualquer coisa que o tornava mais atraente, qualquer coisa que agora torno a encontrar em meu jovem senhor, o Conde Draco. Este, sim, parece-se muito com ele, em tudo... em tudo.


Falando, tirou do bolso um envelope e o estendeu a Alexis.


— E eu que tinha esquecido isto! Quando voltava da chácara onde fui procurar ovos, sob uma chuva terrível, encontrei o Sr. Ronald Weasley, que vinha de carro e me pediu para trazer-lhe esta carta, pois assim evitava de vir até aqui com esse tempo horroroso. Um belo rapaz, esse Sr. Ronald, tão belo quanto o pai. Lembro-me muito bem do Sr, Arthur Weasley, nos grandes bailes que se davam aqui, nas caçadas em que o Conde Lucius convidava toda gente da região...


Hermione fez um movimento de surpresa:


— O Sr. Weasley era convidado de Runsdorf?


— Certamente, e bem íntimo! Calcule que ele salvou de um incêndio do pavilhão de caça a Condessa Ceres – hoje a senhora cônega - , nessa época bem mocinha. Ele a tirou do meio das chamas com risco de sua própria vida e ficou doente por muito tempo por causa das queimaduras. Naturalmente, o Conde Lucius e a esposa, e a Condessa Ceres lhe demonstravam o seu reconhecimento. O Sr. Weasley vinha freqüentemente tomar chá aqui; caçava com o senhor conde e fazia música com a nossa jovem condessa. Depois, subitamente, deixou de aparecer, para sempre... Mas eu a estou prendendo com as minhas tagarelices e o almoço esfria...


Depois que Otávia saiu, Alexis estendeu a carta ao pai, dizendo num tom desapontado:


— Ron me comunica que não pode encontrar aquele volume de Dickens que eu lhe pedi. É uma pena. Mionezinha, se você fosse uma irmãzinha bem amável, sabe o que faria?


— Não, não sei.


— Pois bem, iria ver na biblioteca do castelo se descobria esse livro para mim.


A jovem deixou transparecer alguma contrariedade, ao objetar:


— Receio incomodar alguém.


— Oh, nessa hora não há perigo. Otávia disse-nos que os seus patrões costumam almoçar muito tarde. Além disso, já que o próprio conde nos convidou para irmos à biblioteca, não pode haver nisso nenhum inconveniente.


— Está bem, Alexis. Irei já.


A biblioteca não ficava longe do apartamento dos Granger. Um dia, ao passarem por ali, Otávia a mostrara. Hermione, tendo batido delicadamente e não obtendo resposta, empurrou a porta entreaberta e entrou na sala, grande e escura, cuja parede oposta às janelas estreitas e fundas estava ocupada por antigas estantes. Três enormes lustres holandeses pendiam da abóbada ornada de nervuras esculpidas. No chão ladrilhado de mármore, viam-se espalhadas diversas peles de urso branco e preto. À entrada, duas armaduras soberbamente tauxiadas pareciam guardar o santuário.


Dir-se-ia que estava deserto. Mas, avançando alguns passos, Hermione viu o Conde Draco sentado diante de uma secretária cheia de livros e de papéis.


Imóvel, a caneta na mão, ele a fitava. Na verdade era uma encantadora aparição, essa esbelta e formosa jovem, com um vestido claro de pregas harmoniosas, na meia obscuridade dos altos vidros coloridos, entre as armaduras faiscantes, que pareciam projetar um reflexo de ouro sobre a tez clara e nos grandes olhos claros.


Notando que fora percebido, o conde pousou a caneta e levantou-se.


— Peço-lhe perdão, senhor conde; eu julgava não incomodar ninguém a esta hora — disse Hermione, com certo embaraço.


— Mas não me incomoda, senhorita. Acabo de terminar este trabalho. E, quando estou mergulhado em algum estudo interessante, nada ouço do que se passa à minha volta. Assim, pois, peço-lhe e também ao seu pai que nunca se privem de entrar aqui a qualquer hora.


Falava com fria cortesia, sem deixar a sua altivez habitual e sem mostrar a afabilidade com que se dirigia a Alexis.


— Agradeço-lhe, senhor conde, mas fique certo de que não abusaremos dessa autorização. Hoje, o nosso pobre Alexis está sofrendo muito de reumatismo e vim procurar um livro para distraí-lo. Ele desejava ler A pequena Dorrit, de Dickens. Encontrarei essa obra aqui?


— Em tradução francesa, sim.


— Ele gostaria de lê-la no original.


— Então conhece assim tão bem o inglês?


— Muito bem. Papai fala-o e escreve corretamente e nos ensinou desde pequeninos.


— Ali existe certo número de livros ingleses. Talvez eu descubra o que a senhorita deseja. Meu tio-avô, o Conde Cepheus, sabia essa língua e tinha reunido uma coleção das suas obras preferidas. Mas, em geral, o estudo do inglês não entra nos programas de instrução de nossa família. Por minha parte, lamento-o, e se fosse possível, sem causar transtornos, pediria algumas lições ao professor Granger.


— Será um prazer para ele, porque tem paixão por ensinar — disse Hermione com fria polidez.


Enquanto trocavam essas palavras, o conde se dirigia para uma das estantes. No momento de abri-la, voltou-se para Hermione, com fisionomia subitamente endurecida.


— Eu aceitaria de boa vontade, mas permita-me uma observação, senhorita: ontem tive a impressão de que a senhorita via, com desagrado, o meu interesse por seu irmão; sua atitude pareceu-me, de certo modo, a de uma pessoa que suporta, por delicadeza, uma visita irritante. Ora, a senhorita há de compreender que eu não poderia concordar em ver as minhas relações com seu pai apenas toleradas, e muito menos em sentir contra mim essa desconfiança tão bem estampada em seu rosto e da qual não conheço o motivo. Não poderia eu conhecer essa razão, sem me mostrar demasiado indiscreto?


Falava em tom frio, ligeiramente mordaz, fitando a sua interlocutora com certa ironia um pouco altaneira.


Vivo rubor subiu às faces de Hermione. Então ele adivinhara a sua desconfiança, o seu receio, esse observador penetrante? Pois bem! Ia francamente dizer-lhe a verdade.


— Não se enganou, senhor conde — respondeu ela dominando a emoção, a fim de falar com tanta frieza como ele tinha falado — A sua presença junto de meu irmão me é penosa, desagradável mesmo.


— Ora bem, isso é que é sinceridade! — replicou Draco num tom de aprovação mesclado de ironia — Continue, peço-lhe, senhorita.


— Eis o que se passou em meu espírito: o senhor se ocupa de medicina como amador e eu receei que não visse em meu irmão mais do que um objeto para os seus estudos. Ora, é-me penoso pensar que só essa curiosidade científica, por mais honrosa que seja, o atrai para ele.


Por um instante a surpresa se refletiu no olhar do conde. Mas quase imediatamente a sua fisionomia se iluminou, um sorriso assomou-lhe aos lábios.


— O interesse científico existe, com efeito, mas a senhorita enganou-se quanto à sua exata natureza. Esse interesse, eu o sinto em extremo grau diante de todo ser humano que sofre; sinto um apaixonado desejo de aliviar dores, de curar. Como cristão convicto, nunca separo a alma do corpo sofredor, sabendo que, freqüentemente, as dores de um se refletem sobre a outra. Assim, sendo seu irmão um menino encantador e tão resignado, considerei como seria bom devolver à vida normal o seu corpo enfermo, cuja alma eu percebia ser belíssima e singularmente atraente. A senhorita vê, pois, que estou bem longe da curiosidade materialista que me atribuiu.


Sua voz, primeiro calma e breve, tornara-se pouco a pouco vibrante. Hermione, com o espírito subitamente aliviado, disse vivamente:


— Vejo que me enganei, senhor conde. Perdoe-me a desconfiança. Entretanto, não lamento haver-lhe falado com franqueza, porque assim pude conhecer a nobre maneira pela qual o senhor considera a profissão de médico, geralmente compreendida de outro modo.


A fisionomia do conde entristeceu, ao replicar com ironia mesclada de certa amargura:


— Sou um idealista. Aliás, isso convém a um amador. Mas, senhorita, a palavra amador não será a principal causa da sua inquietude? Talvez a senhorita tenha pensado: “Esse Conde Malfoy, que sem dúvida procura objetos para exercitar-se, sob a orientação do Dr. Slughorn, julga provavelmente que nos sentimos muito felizes por vê-lo interessar-se pelo meu irmão e exercer nele a sua ciência!”


De novo o rosto de Hermione se tornou cor de púrpura. Incontestavelmente ele deveria possuir o dom de ler seu pensamento!


— Devo responder-lhe afirmativamente — disse ela sem baixar as pálpebras sob o olhar desses olhos cinza-prateado e profundos.


— A senhorita é muito altiva e não serei eu que a censurarei por isso. Entretanto, pode tranqüilizar-se, porque, mesmo me chamando Conde Malfoy, nunca me permitiria pensar que uma natureza humana, seja ela a do mais miserável dos meus rendeiros, poderia ser objeto das minhas observações sem o controle do prático qualificado.


— Errei, confesso-o com toda a franqueza. Mas considere que eu não o conhecia. Agora, compreendo o móvel elevado do seu interesse por Alexis, pelo meu pobre Alexis tão bom e paciente... E agradeço-lhe!


Ele perguntou sorrindo:


— Esse interesse, então, não mais lhe provocará contrariedade?


— Nenhuma. Sentir-me-ei mesmo muito feliz por ver meu irmão apreciado pelo senhor. Aliás, já soube ganhar seu coração.


— Pobre menino! Eu desejaria ter a necessária ciência para curá-lo, pelo menos para tentar. Sim, parece-me que ainda encontrarei alguma coisa, tanto hei de procurar.


A sua voz tinha vibrações apaixonadas, uma chama iluminava o seu olhar. Antes de ter podido refletir, Hermione exclamou num impulso:


— Mas o que o impede de adquirir essa ciência? O senhor seria muito bem capaz de fazê-lo!


Um véu pareceu cair repentinamente sobre o rosto de Draco, uma ruga vincou-lhe a alta fronte, quando, numa voz que voltava a ser breve e altiva, respondeu:


— Outros o farão em meu lugar, outros que não se chamem Conde Malfoy. Há nomes que obrigam os seus possuidores a contar com eles e o meu é desses!


Depois destas palavras, pôs-se a procurar o livro pedido e, encontrando-o, entregou a Hermione. Disse mais algumas palavras de cortesia e voltou para o seu lugar na secretária, enquanto a moça se retirava da biblioteca.


Ela se sentia verdadeiramente feliz agora que sabia serem infundados os seus receios. O conde acabava de revelar-se uma alma correta, dotada de elevados sentimentos, sabendo apreciar a franqueza. Por que haveriam certos preconceitos de entravar os impulsos dessa alma, obscurecer a chama dessa inteligência? Hermione lamentava sinceramente esse grande senhor, assim sujeito à inação que acreditava ser determinada pelas tradições.


 


*****


 


Desde esse dia, as relações se estabeleceram, quase que cotidianas, entre os Malfoy e seus hóspedes.


O conde, em primeiro lugar, pedira ao professor pare lhe ensinar inglês. Depois, um dia, tendo Luna lamentado não conhecer essa língua, Hermione ofereceu-se para ensiná-la, o que ela aceitou.


As relações de estudos, de uma parte e de outra, se tornaram mais cordiais. Os professores deparavam em seus alunos espontânea amabilidade e uma grande e viva inteligência. O conde, principalmente, espantava Adrian Granger pela facilidade com que aprendia e pela profundeza de suas idéias.


— Ele é incrivelmente bem dotado do ponto de vista intelectual! — dizia o professor aos filhos.


Todos os jovens Malfoy, aliás – com exceção da indolente Ariadne –, mostravam apreciar muito os estudos. Essa tendência se contrapunha aos hábitos dos ancestrais. A Condessa Narcissa considerava esses hábitos com muito pouca simpatia, mas não impedia as lições suplementares dadas aos mais velhos, nem às relações assíduas entre eles e os seus hóspedes. A distinção e o valor moral destes, as maneiras reservadas lhe garantiam a sua boa educação. Quanto aos filhos, ela os sabia bem persuadidos de sua superioridade e que jamais a esqueceriam em suas relações com esses burgueses, favorecidos pela sua amizade.


Agora, muitas vezes, o conde, Luna e as crianças vinham sentar-se junto de Alexis, no parque. Conversavam, tomando café. Alexis, a pedido de Draco, lia um capítulo da História da Polônia, que o professor há pouco terminara. As observações singularmente judiciosas do conde, suas reflexões, que demonstravam rara elevação de espírito, encantavam Adrian e davam a Hermione novas ocasiões de deplorar que essa nobre, vibrante natureza, apaixonada por um ideal e tão admiravelmente dotada, estivesse destinada a consumir-se numa existência moralmente estéril.


Luna e ele se mostravam visivelmente satisfeitos com as suas relações com os Granger. A altivez um pouco melancólica da jovem condessa se atenuava ao contato com os hóspedes, deixando entrever o seu temperamento jovial, sem dúvida sufocado pelos cuidados com a sua condição de nobreza. Hermione, em sua amizade mais freqüente com a condessa, descobria nela uma alma encantadora, muito afetuosa, inteiramente devotada à família e principalmente ao irmão mais velho. De seu lado, o professor elogiava o tato, a bondade amável do Conde Draco e a sua delicada solicitude a respeito de Alexis, que demonstrava por ele uma admiração entusiasta.


Muitas vezes, o senhor de Runsdorf e sua irmão se achavam reunidos aos jovens Weasley em torno da cadeira de Alexis. Essas entrevistas eram perfeitamente cordiais. Draco e Luna mostravam apreciar a natureza amável de Ronald e Ginevra e o seu espírito cultivado. Por sua vez, os filhos do administrador se espantavam por acharem tão exatas as asserções entusiastas do Dr. Slughorn sobre os notáveis dons e as cativantes qualidades do seu nobre aluno.


O excelente doutor vinha freqüentemente a Runsdorf e a melhor amizade o tinha unido ao professor. Achava-se, pois, ali, nessa tarde de setembro, sentado junto ao grupo na pequena clareira do parque a que Alexis tanto gostava de ir. Inclinado para o professor, ele lhe falava a meia voz e decerto eram ainda elogios ao Conde Malfoy que saíam de seus lábios.


A alguma distância, Draco ouvia, sorrindo, a conversa entre Alexis e Nimue. O jovem Granger havia empreendido a tarefa de fazer penetrar o amor pelos estudos nesse cérebro recalcitrante e, com grande surpresa dos seus, a travessa menina concordava, alegremente, em ficar quieta junto dele, ouvindo as suas lições, que, dadas sob forma original, a viva inteligência de Nimue assimilava prontamente.


— Você é um notável professor, meu caro Alexis — disse o conde, depois que a lição estava terminada — Você vai fazer de Nimue um poço de ciências. Mas Maia e Áquila esperam-na lá embaixo. Veja que grandes sinais lhe faz minha irmã.


— Al está transformando a sua irmã numa pessoa ajuizada, Ron — disse Hermione a Ronald, enquanto preparava o café. — Os brinquedos já não tem a mesma atração para ela.


— Acredito! Ela agora não tira o nariz dos livros! Papai, segundo dizem, também foi assim. Somente aos treze anos é que se pôs a estudar com vontade e recuperou amplamente o tempo perdido.


— Seu pai tem uma inteligência notável, não se falando em todas as outras qualidades que lhe são reconhecidas — disse o Conde Draco — Infelizmente, ainda não o pude julgar por mim mesmo, pois nos temos encontrado muito pouco. Porque ele nunca os acompanha? Eu teria imenso prazer em travar relações com ele. Quando eu era criança, de quatro anos mais ou menos, sempre o via aqui em casa.


— Então meu pai vinha a Runsdorf? — perguntou Ronald, com surpresa.


— Muito freqüentemente mesmo! Ignorava-o? Pois eu o admirava muito; ele se mostrava muito gentil comigo e eu lhe votava ardente afeição. Foi minha velha Otávia que me lembrou tudo isso, pois, para lhe ser franco, devo confessar que as minhas recordações não são muito precisas. Mas a soberba fisionomia do Sr. Weasley me ficou no espírito e quando o encontrei, mais tarde, ele já pai de família e eu um adolescente, não achei nenhuma diferença. Olhe, veio-me uma lembrança agora. Eu me achava no pátio com Otávia, certo dia em que, ao voltar da caça, o Sr. Weasley acompanhava meu pai e minha tia Ceres. Ele me tomou em seus braços e me fez dar algumas voltas ao redor do pátio. Eu ria, ria e gritava: “Mais, mais!” De súbito, o cavalo deu um salto e empinou. Foi uma coisa momentânea. O Sr. Weasley firmou a rédea e logo dominou a montaria. Saltou por terra um instante depois e me colocou nos braços de minha tia, que estava pálida de susto. Ela disse, então, com voz trêmula: O senhor não devia continuar a montar esse animal raivoso! É muita imprudência de sua parte!”


— Minha tia Ceres me amava muito e sempre fui o seu sobrinho favorito — acrescentou o Conde Malfoy.


— Arthur nunca nos falou que mantivera um relacionamento íntimo com os seus parentes, senhor conde — observou o professor.


— Nem para nós, seus filhos, ele nunca falou nisso — disse Ronald, que se mostrava espantadíssimo — Falou-nos que conhecera o Conde Lucius, mas eu julgava que ele o tivesse visto por acaso, ou que era um conhecimento apenas cerimonioso.


— Ignoravam que ele salvou a vida de minha tia?


— Não, isso eu sabia. Não que ele me tivesse falado. Soube-o acidentalmente por um estranho.


— Nossa dívida de reconhecimento subsiste sempre e eu gostaria de lhe tornar a dizer. Às vezes pergunto a mim próprio que circunstâncias puderam romper essas relações entre minha família e ele — acrescentou o conde pensativamente.


Ninguém ali o poderia esclarecer sobre o assunto. Hermione, entretanto, já pusera reparo na singular expressão, misto de sofrimento e irritação escarnecedora, que sempre aparecia no semblante do Arthur Weasley todas as vezes que se falava nos senhores de Runsdorf. E agora ela considerava a possibilidade de que o orgulho dos Malfoy talvez houvesse ferido o nobre e altivo Weasley, que se retirara dignamente, sem fazer alarde.


Agora também se explicava a sua recusa em vir a Runsdorf.


A Srta. Granger fez o café e se aproximou, trazendo uma xícara para o professor e outra para o Dr. Slughorn, que tinha o rosto voltado para cima e parecia abismado em uma súbita meditação.


— Está sonhando, senhor doutor? — perguntou Hermione maliciosamente.


— Não, minha querida menina. Pensava apenas que a senhorita deve ter em seus ascendentes alguma aristocrática avó que lhe legou essas mãos fidalgas.


Hermione sorri alegremente. Ela já estava acostumada às pequenas manias do velho e os dois entabulavam sempre, a esse respeito, vivas discussões. Até então, porém, elas nunca tinham ocorrido em presença do Conde Malfoy. Hermione, embora censurasse os Malfoy pelos seus preconceitos, não se reconhecia no direito de ofendê-los sem necessidade, tanto mais que o conde e sua irmã se mostravam muito naturais, muito simples e cordiais com referência ao professor e seus filhos. Não ligou, pois, muita importância à observação do doutor e adiantou-se para o jovem senhor de Runsdorf oferecendo-lhe o café. Entretanto, não se sabe que bicho picara o velho e o incitava nesse dia à discussão.


— A senhorita decerto está com uma enorme vontade de me responder, Srta. Hermione, que a distinção e a elegância não são apanágio exclusivo da nobreza, pois que se encontram também na burguesia – e talvez mesmo em grau mais alto, não é?


— Sim, talvez! — respondeu a jovem com um sorriso de ligeira zombaria — Não é comum ver-se em simples filhas do povo aquilo que se convencionou chamar porte real? Enquanto na aristocracia o senhor também encontrará um bom número de...


Interrompeu-se, embaraçada pela presença do conde. Se bem que ele não pudesse tomar essa apreciação em caráter pessoal ou familiar, poderia, reconhecendo essa verdade, sentir-se ofendido.


Em todo caso, ele não deu mostras de tal. Sua fisionomia séria apenas demonstrava certa ironia. Estendendo a mão para tomar a xícara que Hermione lhe oferecia, disse com calma:


— Um bom número de tipos mais que ordinários, fisicamente falando. Concluo sua frase, senhorita, acrescentando que não posso contradizê-la. Sim, a vulgaridade física existe em nossa casta, e a burguesia, é preciso reconhecer, produz ás vezes flores muito aristocráticas.


As pálpebras do Dr. Slughorn tiveram o pequeno movimento que lhe era habitual nos momentos de viva surpresa. O Conde Malfoy passava por ser muito avaro de cumprimentos. Entretanto, não era esse, aparentemente, um elogio dirigido a Hermione Granger?


Ela, porém, desprovida de faceirice, não viu em todo o caso nada disso. Respondeu, pois, com, simplicidade:


— O fato é incontestável e é preciso ser-se o Dr. Slughorn para negá-lo.


— Perdão, perdão, não estou negando nada! Digo somente que em tese certos dons físicos se transmitem nas raças patrícias, quando elas se conservam sem enlaces desiguais.


— Em tese... sim, talvez.


— Ah! É uma felicidade que concorde! — exclamou maliciosamente o velhinho — Com as suas idéias modernas...


— O senhor, doutor, está ainda no século XIV! — disse Ronaldo, rindo.


— Como eu — disse o Conde Draco com um sorriso meio amargurado — Sim, sei que sou um conservador. Quem de nós tem razão? Nós, encarniçados defensores dos últimos restos dos nossos privilégios, ou os que abraçam as novas idéias? Essas concessões salvarão a nobreza da ruína que ameaça as velhas instituições? Não é mais honroso refugiar-se na glória passada, deixando extinguir nomes, opiniões, costumes que não podem mais ser compreendidos hoje, do que se lançar na peleja com a esperança quimérica de conservar a nossa classe no mundo?


Uma espécie de ceticismo doloroso se adivinhava sob o seu tom calmo.


Hermione não pode conter um vivo movimento de protesto.


— A ação sempre será mais honrosa do que a inércia. Olhe, um soldado que se deita no campo de batalha para esperar a morte, porque vê comprometida a vitória, e um outro que combate até o último suspiro, quase sem esperanças. Qual dos dois o senhor estimaria mais, senhor conde?


A fisionomia de Draco contraiu-se ligeiramente, sob esses belos olhos profundos. Em seguida, tornou a mostrar-se altivo como nos primeiros dias, respondendo num tom glacial:


— Nós não nos poderemos compreender, senhorita, pelo menos quanto a esse assunto...


Interrompeu-se, franzindo as sobrancelhas. Hermione, seguindo a direção do seu olhar, voltou a cabeça e viu avançando, numa alameda vizinha, Luna, acompanhada por uma criaturinha vestida de cambraia[1] malva, com um grande chapéu branco que tornava ainda mais delicada a sua fina e linda figura. Hermione lembrou-se logo dessa fisionomia, principalmente dos olhos grandes e negros que fixavam nela, com expressão de surpresa irritada, quase com malevolência.


O conde murmurou, retendo um gesto de impaciência:


— Na verdade, Luna poderia dispensar-se...


Levantou-se com vagar e foi ao encontro das duas jovens.


— Finalmente o descobrimos! — exclamou a Srta. Parkinson, estendendo-lhe a mão — Agora, então, deu para brincar em pastorais?


— É uma pastoral vir conversar alguns instantes com amáveis hóspedes, enquanto se respira este ar cálido e delicioso? Verdadeiramente, eu o ignorava. Vieram reunir-se à nossa companhia?


— Não, mamãe mandou procurá-lo porque vão servir o chá — disse Luna — Pansy quis acompanhar-me...


— Sim, porque adoro o seu velho parque — disse a Srta. Parkinson com graciosa vivacidade — Deve-se estar muito bem nesta clareira e já lamento o termos vindo incomodá-lo.


Seu semblante, entretanto, não exprimia esse pesar.


— Tenho que fazer as apresentações — disse o conde, voltando-se para os seus hóspedes — Creio, senhorita, que já encontrou em sociedade o Sr. Ronald Weasley e a Srta. Ginevra, não é?


— Efetivamente, neste inverno... — disse Pansy, num tom meio seco, estendendo a mão a Ginevra e respondendo com uma inclinação de cabeça ao cumprimento de Ronald.


— Mas não conhece a Srta. Granger, nem o professor e seu filho, meu amigo Alexis. A Srta. Parkinson, uma companheira de convento de minha irmã.


O tom era breve, sem cordialidade. Hermione observou que o conde assumia com essa linda criatura o mesmo ar de cortesia altiva que ela notara na noite de sua chegada, quando ele a acompanhava e ao pai. Como o professor, cumprimentando Pansy, lembrasse o curto encontro no vestiário, ela respondeu com indiferença desdenhosa:


— Verdadeiramente, não me lembro.


— Nunca supus que tivesse memória tão curta — disse o conde num tom de seca zombaria.


Dirigindo-se ao pequeno grupo que se mantinha de pé ao redor dele, acrescentou, com súbita cordialidade:


— Então, agora vou abandoná-los. Não se esqueça de dizer ao seu pai, Sr. Weasley, quanto eu desejo que ele os acompanhe em suas visitas aqui. Até amanhã, meu caro Alexis.


Em seguida, inclinou-se ante Ginevra e Hermione. Um observador teria notado nesse cumprimento certa deferência, que não existia no que ele dirigira há pouco à Srta. Parkinson. E a linda Pansy foi decerto esse observador, porque o seu rosto se crispou; os seus olhos negros se fixaram durante alguns instantes em Hermione. Em seguida afastou-se em primeiro lugar, logo após um pequeno cumprimento impertinente.


— Parece muito apressada, senhorita! — disse Draco, num tom mordaz.


Ela voltou-se para ele com um clarão no olhar.


— E o senhor, conde, parecia pesaroso por ter de deixar esse grupinho. Estou desolada, pois a minha visita foi a causa desse aborrecimento.


Havia em seu modo de falar uma ironia meio agressiva. Mas seus olhos fitavam com doçura acariciadora o frio semblante do jovem conde.


— Pode tranqüilizar-se. Eu já ia voltar para o castelo. A senhorita somente me privou de tomar a minha xícara de café, que eu não tive tempo de engolir.


Pansy se pôs a rir.


— Foi realmente uma grande privação? Luna, em compensação, vai servir-nos agora mesmo um chá.


— Ele não valerá o café da Srta. Granger, verdadeiramente perfeito, não é verdade, Luna?


—Delicioso! Aliás, a Srta. Hermione possui o dom precioso de fazer bem tudo o que faz.


— É uma perfeição, pois — disse secamente Pansy — Hum! Começo a desconfiar... Minha prima Bullstrode tinha uma professora que ela qualificava de oitava maravilha e nos proibiu de lhe fazer a menor censura. Pois imaginem qual foi a sua surpresa quando certo dia um sobrinho de seu esposo, riquíssimo, veio lhe anunciar a sua intenção de esposar essa moça de obscuro nascimento! A espertinha manobrara admiravelmente para capturar a bela presa!


Nesse instante Pansy encontrou o olhar de Draco, que dizia claramente, não sem ironia: “A que propósito nos conta essa história?” Enrubesceu um pouco e se interrompeu, enquanto Luna declarava com um ligeiro movimento de ombros:


— Essa jovem era decerto uma intrigante e uma faceira. Mas a Srta. Granger, que pertence a excelente família, possui raras qualidades de espírito e de coração e uma grande distinção moral.


— E muito de bondade, de franqueza e de devotamento pelos seus — acrescentou Draco.


Pansy lançou, de lado, um rápido olhar para ele; mas a fisionomia do jovem conde ficou impenetrável e não sofreu a menor alteração quando Luna continuou, não sem malícia, porque sabia bem quanto a Srta. Parkinson era invejosa:


— A esses dons, a Srta. Granger reúne ainda os do encanto e da beleza, como você pode constatar.


— Sim, não é feia, à primeira vista, mas os traços não tem nenhuma regularidade.


— Oh! Isso nem se percebe nessa fisionomia sedutora! E que olhos admiráveis! Que tez deliciosa!


Pansy mordeu os lábios. Mas sem dúvida ficou satisfeita ao ver que o conde não se associava ao entusiasmo da irmã, porque logo se mostrou alegre de novo e contou um incidente acontecido a uma personalidade eminente de Düfelden, a cidade próxima onde ela e seu pai habitavam então, na residência do Arquiduque Dumbledore.


Lá embaixo, na clareira, o Dr. Slughorn perguntava a Hermione:


— Como acha essa pequena Parkinson, senhorita?


— Lindíssima, incontestavelmente.


— E arrogante como uma nova aristocrata que é — acrescentou Ronald.


— Nova aristocrata?


— Sim, sua nobreza é bastante recente — explicou o doutor — Camron[2] Parkinson, bávaro de nascimento, prestou serviços diplomáticos ao Estado austríaco e recebeu por isso o título de barão. Hábil, flexível e intrigante, soube tornar-se indispensável, como conselheiro, ao Arquiduque Dumbledore, que lhe confiou o cuidado de administrar toda a sua fortuna.


— E esse barão é rico? — perguntou o professor.


— Sim, e sua filha há pouco recebeu herança de um tio — esclareceu Ginevra. É uma importante herdeira. A conselheira Trelawney pretende que ela se case com o Conde Malfoy.


O Dr. Slughorn, indignado, lançou um olhar sobre a Srta. Weasley.


— O Conde Malfoy? Como pode a senhorita dar crédito a semelhante idéia, saída do cérebro inventivo da conselheira? Onde estão pergunto-lhe, os graus de nobreza dessa jovem?


Ronald teve um sorriso cético ao responder:


— Ora! Sua fortuna diminuirá as distâncias!


O doutor lanço-lhe um olhar enviesado.


— Sr. Weasley, se o senhor conhecesse o conde como eu conheço, não diria tal tolice, permita-me a expressão. Nem todo o ouro do mundo o decidiria a esquecer que devido ao seu nome, ele só poderá unir-se a uma família tão nobre quanto a dele.


— Mas e se ela lhe agradar?


— Nada alterará isso. Vamos, eu o conheço e sei que alma enérgica é a sua.


“Ele devia então empregar essa força de caráter em reagir contra os preconceitos de sua família” — pensou Hermione, afastando-se para chamar Áquila e as meninas. “Há pouco não pude resistir e fi-lo compreender o meu modo de pensar e percebi que o magoei. Devia ter-me calado, talvez. Não somos da mesma escala social e, como ele o disse, não nos poderemos jamais compreender neste ponto. Entretanto, se a comparação que fiz lhe mostrou a aberração de que é vítima...”


Logo, porém, ela levantou os ombros, dizendo de si para si que era uma louca em pensar assim. O conde bem pouco devia importar-se com o que ela pensasse a seu respeito! O único resultado de sua franqueza seria o de afastá-lo dos Granger.


“Se isso acontecer ficarei aborrecida por causa de Alexis” — pensou Hermione. “E o meu pai deplorará ter perdido esse aluno cordial e atencioso. Sim, teria sido melhor que eu me calasse... Não, não lamento nada! Parece-me que cumpri o meu dever. Ademais, o conde possui caráter muito elevado para me guardar rancor por causa dessa apreciação um pouco impetuosa, mas sem maldade.”


 




[1] Cambraia: Tecido de linho ou de algodão, muito fino.


[2] Camron: de origem escocês- gaulesa, significa nariz torto. Uma variante de Cameron.

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