Capítulo II



Oi, oi povo!!


Bom, gostaria de agradecer todos que pararam para ler essa adaptação, aos amigos que apoiaram.


Aninha, a primeira a comentar!! \o/


Valeu flor, fico contente em saber que você gostou e pode esperar que a Hermione vai ter muito trabalho pra quebrar esse orgulho.


Artemis: ficarei aguardando sua opinião


Brenda:  fico contente que tenha gostado do primeiro capítulo e espero que os próximos não a decepcione.


 


Bjs para todos e vamos para o próximo capítulo.


 


***


 


Numa tépida tarde de primavera, perfumada pelas exalações da mata, uma carruagem corria pela ampla estrada de Runsdorf, que atravessa grande floresta. A penumbra do crepúsculo impedia os viajantes de verem além de um raio muito restrito e, pouco a pouco, a sonolência se apoderou do professor e de Alexis, fatigados pela viagem.


Hermione, entretanto, estava bem acordada e um pouco melancólica. Havia saído de Viena com algum pesar, pois ali deixara suas amigas; mas nem seu pai nem Alexis suspeitaram dessa tristeza que ela sabia dissimular. Na estação de Düfelden experimentara certa desilusão e secreta amargura ao encontrar, à sua espera, apenas uma carruagem de aluguel mandada pela condessa. Os senhores de Runsdorf deveriam possuir, decerto, equipagens e criados. Sem dúvida, porém, julgavam os novos hóspedes pessoas de muito pouca importância e não quiseram incomodar-se por causa deles.


Passado o primeiro momento de contrariedade, a razoável Hermione pensou:


“Contudo, que nos importa isso? Estamos suficientemente bem instalados neste veículo e não entrou em nossas combinações com a Sra. Malfoy o usufruto de suas carruagens!”


Depois de algum tempo a estrada entrou num declive sensível. Por fim, chegaram ao término da viagem. À claridade das lanternas, Hermione distinguiu uma extensa grade e, no fim de um pátio, que parecia enorme, imponente fachada cujas numerosas janelas, do andar térreo, estavam brilhantemente iluminadas. No pátio, diversos pontos luminosos indicavam a presença de numerosas carruagens.


O cocheiro fez entrar o seu lastimável carro e o parou diante de uma grande escada em forma de círculo. Nesse instante ouviu-se o galopar de um cavalo. Um cavaleiro apeou e estendeu um papel ao criado de libré[1] escura que ali aparecera.


— Telegrama para o Barão de Parkinson.


O criado afastou-se. O professor e Hermione desceram do carro. Enquanto o pai desentorpecia as pernas dando algumas passadas pelo pátio, a jovem subiu a escadaria a fim de procurar alguma pessoa da casa a quem se apresentar.


O vestíbulo abobadado, ornado de troféus de caça, estava bem iluminado, mas deserto. Som de orquestra, ritmando uma valsa, chegou aos ouvidos de Hermione, que, perplexa, não sabia para que lado se dirigir, quando apareceu de novo o velho criado, alto, direito e seco, cujas sobrancelhas brancas se destacavam no semblante rígido, em que os olhos eram dois pontos agudos e brilhantes.


— Somos as pessoas esperadas pela Condessa Malfoy — disse Hermione.


Ele envolveu-a com um olhar desconfiado e suas sobrancelhas tiveram um rápido franzir.


— O senhor professor Granger e seus filhos? Muito bem, senhorita. Vou determinar que os conduzam ao seu apartamento. Querem entrar para aqui, enquanto vou avisar a camareira?


O espaçoso compartimento designado deveria ser o vestiário, sem dúvida, pois nele se via grande número de luxuosos casacos femininos e sobretudos. Hermione sentou-se numa banqueta, e logo seu pai veio reunir-se a ela.


— Que imponente, esse criado! — disse o professor sorrindo — Se os patrões lhe estão em proporção...


— Não gosto nada dessa fisionomia. O olhar é desagradável...


Hermione interrompeu-se ao ouvir ruído de vozes por detrás de uma porta deixada entreaberta. Eram palavras pronunciadas por uma voz masculina, clara e fria:


— Lamentamos que essa infeliz ocorrência nos prive do prazer de sua companhia quase ao fim da reunião.


A porta abriu-se e uma jovem com vestido de tule rosa apareceu, acompanhada por um homem de seus cinqüenta anos, alto e forte, de rosto emoldurado por barba meio grisalha e bem cuidada. Atrás deles vinha um moço esbelto, trajado com elegância aristocrática.


Os dois primeiros lançaram um olhar entre surpreso e quase desdenhoso sobre Hermione e seu pai, que se levantaram. O professor pareceu por alguns instantes indeciso, mas por fim fez um gesto como querendo significar: “Estou aqui!”


— O senhor professor Granger, suponho? — perguntou, então, o homem mais moço, com cortesia ligeiramente altiva.


— Ele mesmo. É o senhor Conde Malfoy que tenho a honra de falar?


— Sim, sou o Conde Draco Malfoy. Já o atenderam, senhor professor?


— Sim, senhor conde.


— Está bem. Sejam, pois, bem vindos a Runsdorf.


Tendo assim cumprido os deveres de hospitalidade, convidou pai e filha a se sentarem novamente e voltou-se para os convidados, junto dos quais um lacaio era todo mensuras.


— Desejo que o acidente sofrido por seu tio não tenha conseqüências graves — disse ele dirigindo-se à moça, que se detivera para abotoar a sobreveste de cetim branco — Talvez o seu criado se tenha alarmado exageradamente.


— Segundo o seu costume, aliás. Esse bom Wilhelm é como um cão fiel e se desespera ao menor sofrimento do dono — disse ela sorrindo com zombaria, deixando entrever o brilho de seus finos dentinhos.


Era, na verdade, uma linda criatura: pequenina, mimosa, delicada como uma boneca de luxo. O rosto era emoldurado por um cabelo tão escuro como a noite e bem conformado, os olhos negros cintilavam. Os seus movimentos eram graciosos, às vezes impacientes, como os de criança mimada. A uma observação do senhor de barba grisalha notou-se um franzir de suas escuras sobrancelhas.


— A Srta. Parkinson lamenta deixar o baile — disse o Conde Malfoy com um sorriso que Hermione julgou levemente sarcástico — O pobre conselheiro bem poderia ter escolhido outra oportunidade para cair desastradamente da escada!


O rosto da moça contraiu-se ligeiramente, mas, logo tornando-se à suavidade natural, retrucou com um graciosos tom de censura:


— Julga-me, pois, assim tão frívola? Lamentar-me por causa de um baile quando o meu pobre tio sofre! Não, pode estar certo! Sinto-me apenas enervada e não consigo abotoar este casaco. Um pouco de paciência papai... Já estou pronta! Até breve, então, não é conde?


— Até breve — disse o Sr. Parkinson apertando a mão do conde — Contamos com o senhor para a nossa reunião do dia 15, se nada houver de grave com o meu irmão.


— Talvez eu possa comparecer — respondeu o conde, sem empenho.


Nas suas maneiras corteses havia certa condescendência altiva, que não escapou a Hermione. Ele parecia, na verdade, mais um soberano honrando os seus vassalos do que o dono da casa acompanhando convidados.


Os três saíram do vestiário. De passagem a Srta. Parkinson lançou um olhar curioso para a moça modestamente vestida que retomara o seu lugar na banqueta. O véu que lhe cobria o rosto deixava entrever a tez admirável e os olhos mel, luminosos e altivos de Hermione, que encontravam as pupilas escuras e brilhantes da Srta. Parkinson. A linda criatura, entretanto, logo virou desdenhosamente a cabeça e pousou a mão sobre o braço que o Sr. Malfoy lhe oferecia.


Alguns minutos mais tarde reapareceu o lacaio, seguido por uma criatura idosa com uma lanterna.


— Se o senhor quiser acompanhar Otávia, senhor professor, ela o conduzirá aos aposentos que lhe foram destinados.


— Mas é preciso que carreguemos meu filho; ele não pode andar — disse o professor Granger.


Saíram para o vestíbulo. No limiar, o Conde Draco observava o Sr. Parkinson e a filha, que tomavam uma luxuosa carruagem estacionada na frente do velho veículo dos viajantes, que fora recuado para lhe dar lugar.


O Sr. Malfoy afastou-se um pouco, lançando sobre o professor e a filha um olhar distraído. A carruagem partiu, o carro de aluguel pode aproximar-se de novo. O professor e Hermione carregaram Alexis, como o faziam de costume, e subiram lentamente os degraus da escadaria.


O conde ainda estava no vestíbulo, ocupado em endireitar uma das armas antigas que ornavam as paredes. Voltou-se, dirigiu um olhar rápido para o grupo formado pelo professor e seus filhos e disse imperiosamente:


— Argus!


Sua mão, ao mesmo tempo, designava Hermione, que segurava o irmão pelos braços.


O impassível semblante do criado mostrou uma ligeira contração; mas, adiantando-se logo para Hermione, ofereceu-se para substituí-la.


— Ah! Não, muito obrigada! Já estou habituada a fazer isto e ele é tão pouco pesado!


De fato, era bem leve o pobre Alexis. Sob o esplendor das luzes, o seu belo rosto parecia de uma brancura marmórea, o que tornava ainda mais enternecedores e expressivos os grandes olhos melancólicos. Hermione surpreendeu um olhar de compassivo interesse dirigido pelo conde ao jovem enfermo.


Ao sair do vestíbulo bem iluminado, os visitantes, conduzidos pela velha Otávia, tomaram por diversos corredores escuros, muito largos, de altas abóbadas, onde seus passos ressoavam estranhamente. Enfim, a criada abriu uma porta, dizendo:


— Eis o seu apartamento, senhor professor.


Entraram num aposento às escuras, onde a velha se apressou a acender uma lâmpada. Depois, ela afastou-se a fim de ir iluminar o caminho para Argus e o cocheiro, que deviam trazer as malas.


Quando as bagagens já haviam sido transportadas, Otávia avisou que ia servir-lhes o jantar.


— Devem estar com fome, acrescentou, fitando-os com interesse.


— Oh! Nenhuma! — disse o professor, enquanto se acomodava numa poltrona — Acho que temos principalmente necessidade de dormir, não é, Hermione?


— É preciso comer um pouco, papai... Mas temos o resto das nossas provisões de viagem — acrescentou Hermione, voltando-se para a criada.


— Pelo menos, vou trazer-lhes um caldo quente; será reconfortante e fará muito bem ao seu irmão — disse Otávia com um sorriso bondoso.


Era uma velhinha enrugada, cujo rosto agradável se emoldurava numa toca preta. Hermione sentiu logo grande simpatia por ela, ao contrário do que lhe ocorrera com o solene Argus, que parecia considerá-los do alto de um pedestal.


Quando Otávia saiu, a moça começou a examinar o apartamento. Compunha-se de quatro peças grandes, forradas de tapeçarias desbotadas, guarnecidas de móveis sólidos e pesados, mas sem nenhuma graça. Uma impressão de majestosa frieza se desprendia desses grandes cômodos escuros, dos quais somente uma parte era agora iluminada pelo candeeiro que Hermione levava consigo.


O coração da jovem se afligiu com o sentimento de tristeza que o invadiu nesse melancólico início de uma vida nova. Foi essa, entretanto, uma impressão fugitiva. Logo a dócil Hermione se dominou, considerando a situação de modo mais objetivo.


“Aqui há a largueza necessária”, pensou ela. “E é tudo o que nos faltava. Nesta morada antiga tudo é grandioso e velho, não muito alegre a princípio... mas nos acostumaremos bem depressa e talvez acabemos por gostar muito dela. De dia, ao sol pleno, estes aposentos não serão tristes e com os nossos móveis, que vão chegar, nos arranjaremos agradavelmente. Além disso, os cômodos são grandes e perfeitamente arejados. Alexis ficará muito bem aqui.”


Aproximou-se de uma janela e abriu-a. À indecisa claridade da lua velada, distinguiu um largo espaço descoberto, no qual se erguia uma espécie de colunata circular. Ao longe adivinhavam-se as árvores agitadas pelo vento.


“Sim, Alexis terá muito ar e papai também”, pensou ainda Hermione com satisfação.


Fechou a janela e voltou para junto do pai. A criada entrava trazendo uma sopa fumegante e um cesto com utensílios do serviço de mesa.


Hermione, ajudando-a a dispor sobre a mesa os talheres, observou:


— Chegamos em má hora, não? Essa reunião deve dar-lhe muito trabalho, não é verdade?


— Muito, com efeito, senhorita. A senhora condessa lembrou-se tarde demais de que deviam chegar hoje, sem o que ela talvez lhes tivesse pedido para demorarem mais um dia. Mas isto aqui não dá muito trabalho! Um pouco mais de serviço não nos incomoda, eu e Argus já estamos acostumados.


Ela, entretanto, parecia alquebrada de fadiga e Hermione, por compaixão, não quis que ficasse para servi-los.


— Vá descansar, agora! Encarrego-me do resto — disse ela amigavelmente.


— Descansar, eu? — murmurou Otávia com um sorriso melancólico.


Afastou-se, depois de lançar um último olhar na instalação dos viajantes.


Terminada a refeição, retiraram-se todos para os respectivos quartos. Hermione escolhera o que lhe pareceu menos exposto ao sol; mas de dia deveria ser bem claro, graças às três grandes e altas janelas. A jovem, depois de fazer uma prece fervorosa, deitou-se no cômodo leito encostado à parede mais comprida do aposento.


— Que vento frio! — murmurou Hermione de repente. — Hum! Esta tapeçaria em que se agita! Será que existe alguma porta detrás?


Afastou a tapeçaria em que o leito se encostava. Havia ali de fato uma porta fechada com ferrolho muito enferrujado. Aproximando a mão, Hermione verificou que o ar passava por várias frestas. Levantou-se, tornou a vestir o penhoar e afastou a cama. Depois de algumas tentativas conseguiu puxar o ferrolho. Tomando o lampião, abriu a porta de carvalho, que rangeu sinistramente, e avançou alguns passos por uma galeria lajeada de mármore branco e preto, em cuja parede se viam largas janelas, apenas separadas por pequenos espaços guarnecidos com retratos. A vidraça de uma delas estava quebrada e dali provinha o vento frio que penetrava no quarto de Hermione pelas fendas da porta.


A jovem aproximou-se e olhou para fora.


— Que lugar estranho! — murmurou, sem poder conter um ligeiro tremor.


À sombria claridade da lua, que se escondia entre as nuvens, viu um pequeno lago escuro, num pátio interno encaixado entre edifícios de um só andar, num dos quais se estendia a longa galeria em que Hermione se achava. No meio do lago aparecia uma capela, baixa, encimada por uma cruz muito grande; uma estranha construção achatada, mal acabada, que pareceu à Hermione de cor negra, como o próprio lago.


“É lúgubre!” pensou, impressionada.


Voltou em seguida para o quarto, puxou o ferrolho e afastou o leito, para evitar a corrente de ar. Deitou-se e logo dormiu, apesar da desagradável sensação que lhe causara o estranho lago negro e a fúnebre capela.


 


 




[1] Libré: uniforme usado pelos criados de casas nobres.

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