Capítulo X



Oi, oi povo!!!


Nana!! Poética sim, nossa quando li seu comentário anterior fiquei encantada!!rs Estava beeemmm poético!!!rsrs E bem observadora também, isso não se pode negar.


É... o Draco é apaixonante nessa história e a Hermione então... São protagonistas fantásticos.


Fico muito contente em saber que está gostando dessa minha adaptação/tradução.


Outra coisa, posso até imaginar o que você faria, mas sempre podemos nos surpreender, não é? Rsrs


 


Aninha!!!! Finalmente você apareceu por aqui!!! Já estava com saudades dos seus comentários! ^_^


Sim, sim, o Draco tem muito o que pensar e decidir ainda e a cara de buldogue vai dar o que falar ainda.... Ô garota chata!!!>_<


Então... sobre a Ceres e o Arthur... a história deles está sendo montada aos poucos, mas já dá pra se supor muitas coisas, o principal é saber o porque dessa mágoa toda, se bem que já dá pra ter uma idéia... E sim... o Draco provavelmente sentiu ciúmes da Hermione... rsrs


 


Beijos e boa leitura.


 


*****


 


O natal se aproximava. O inverno, prematuro e rigoroso, tinha coberto de neve a floresta e o vale. Depois, caíra uma geada forte, endurecendo o espesso tapete branco, e agora era em trenós que os jovens Weasley se comunicavam com Runsdorf.


Acabavam de chegar nessa tarde e sentarem-se ao redor de um belo fogo, feito por Hermione com grossos pedaços de lenha. Nimue, toda rosada pela corrida ao ar livre, já abrira o livro para pedir explicações ao seu amigo Alexis, pois o impulso para os estudos que o menino lhe dera não tinha esmorecido e a antiga menina preguiçosa tornara-se uma estudante modelar.


— Seu pai não quis acompanhá-los hoje, Ron? — perguntou o professor.


Fazia um mês que o administrador viera duas vezes à casa do seu velho amigo.


— Não, papai estava ocupadíssimo quando saímos. Mas, esta noite, quando for a Düfelden, virá dar-lhe um aperto de mão e trazer-lhe o livro prometido.


— É verdade, há uma grande festa esta noite em casa do arquiduque. Ginny ainda não se decidiu a ir assistir a ela?


— Oh! Embora a contragosto terei que ir. Papai o deseja tanto! — disse Ginevra com uma caretinha de aborrecimento — Se você pudesse substituir-me, Mione!...


— Ora, muito obrigada! E pensa que eu aceitaria? Só se fosse para dar uma olhadela. Talvez eu gostasse de ficar, mas só por um momento, escondida num cantinho, porque me parece que essas festas oficiais devem ser insípidas até o mais alto grau.


— Pois não se engana — disse Ronald — É como se a gente estivesse cumprindo uma obrigação, uma tarefa pesada, eis tudo. Provavelmente lá encontraremos os Malfoy?


— O conde e sua irmã, somente. A Condessa Narcissa está muito doente.


— Ainda?! E o que tem essa pobre senhora?


— Julgo-a fatigadíssima, acabrunhada com a incessante luta que precisa travar para manter a sua condição aos olhos do mundo e resolver o difícil problema de fazer com a sua família viva com um pouco mais do que nada.


— Mas o que resultará disso? Um dia, os recursos lhe faltarão de todo. De uns tempos para cá acho o conde mais sombrio. Dir-se-ia que anda preocupado, atormentado mesmo.


— Sim, talvez, que o poderá saber? — murmurou Hermione.


Ela também o tinha notado. Recearia ele alguma catástrofe iminente? Esta suposição era plausível e também explicava a grande melancolia que o semblante de Luna demonstrava, assim como o desânimo que Hermione notara na sua discípula de inglês.


— E dizer que o conde poderia talvez salvar tudo! — disse Alexis, com pesar.


Leve pancada na porta interrompeu-o. Era o Conde Draco, que trazia um papel na mão.


— Venho transmitir um convite — disse ele, depois de um cumprimento cordial — Ao mesmo tempo, senhor professor, desejaria comunicar-lhe uma descoberta que fiz há pouco na biblioteca.


Adrian Granger mostrou-se logo interessado e indagou, curioso:


— De que se trata?


Draco sentou-se junto de Alexis e estendeu ao professor uma folha amarelada.


— Veja isso. Eu estava remexendo em antigos papéis quando encontrei a ata do enlace do meu tio-avô Cepheus. Tinha esquecido completamente – se algum dia eu soube, o que não tenho certeza – o nome de sua esposa, morta antes da sua volta para a Áustria. Ora, acabo de ver que minha tia-avó chamava-se Ella Granger.


— Granger! Com efeito, meu pai dizia que o ramo mais velho de nossa família emigrara para as Índias, mais ou menos em meados do século XVIII. Era essa ramo que guardava os papéis concernentes à origem dos Granger. Havendo certa discórdia entre esse ramo e o mais recente separaram-se definitivamente, sem que jamais procurassem notícias, tanto de uma como de outra parte.


— Pois bem! Tudo agora se esclarece. O casamento foi celebrado em Bombaim, como prova o documento que o senhor tem nas mãos. Quanto ao jovem Gröninger, tão misteriosamente desaparecido, não há dúvida de que era o último descendente desse ramo mais velho. Que coisa singular, descobrir assim uma aliança entre as nossas famílias!


Hermione julgou – teria sido fantasia? – perceber uma vibração alegre em sua voz.


Sim, devia ter sido uma ilusão. Por que haveria o Conde Malfoy de ficar satisfeito com essa aliança desigual? Seus preconceitos, sua educação deviam naturalmente levá-lo a censurar o seu tio-avô.


— Ainda descobri isto, num dos cantos da biblioteca — acrescentou Draco, apresentando ao professor dois veneráveis volumes, de antiqüíssima encadernação, muito estragada pela umidade. Um era um livro de horas, o outro um saltério manuscrito, sendo os dois guarnecidos de iluminuras interessantes — Deixo-os em seu poder, caro professor, pode examiná-los à vontade. Agora, o convite. Minha tia pede-lhe que vá tomar chá com ela, Srta. Granger!


A cônega, que voltara para o Capítulo pouco depois da agressão contra o sobrinho, se encontrava agora em Runsdorf, a fim de passar ali as festas do Natal.


— Estão convidados também o senhor e a senhorita Weasley — acrescentou o conde — Minha tia e Luna ficarão satisfeitíssimas.


Quanto à primeira, os jovens Weasley não estavam bem certos do seu contentamento. Em todas as ocasiões que a tinham encontrado, aliás poucas, sentiram sempre, sob a polidez da grande senhora, uma forte dose de frieza. Entretanto, diante da amável insistência de Draco, viram-se obrigados a aceitar o convite e a seguirem o jovem conde, deixando Nimue entretida numa discussão de história com Alexis, enquanto o professor se concentrava no exame daqueles preciosos volumes que os seus olhos fitavam com ternura.


Quando o conde, tendo atravessado, junto com os convidados, os longos corredores sombrios, ia abrir a porta do salão vermelho, o rumor de uma risada se fez ouvir. Franziu as sobrancelhas e murmurou:


— Dir-se-ia a Baronesa de Parkinson...


Hermione teve uma sensação de mal-estar. Porque o barão e a filha tivessem estado ausentes de Düfelden, ela não mais os vira desde o encontro no parque de Runsdorf. A perspectiva de se achar em companhia deles só lhe podia causar extremo desagrado.


Estavam lá, com efeito, há pouco instantes, pois ainda se conservaram de pé, diante da cônega e de Luna. Ao entrar a Srta. Granger, Pansy lançou-lhe um olhar hostil, franzindo ligeiramente a boca.


A expressão de Luna, ao contrário, iluminou-se de alegria ao perceber os Weasley. Quanto à cônega, seria impossível adivinhar, sob a sua polidez suficientemente afável, se estava ou não descontente com a iniciativa do sobrinho de convidar Ginevra e Ronald para o chá.


Hermione, tendo trocado com os Parkinson um cumprimento breve, foi sentar-se bem longe deles, junto de Luna e dos Weasley, enquanto o conde tomava lugar entre Pansy e o barão.


— A recepção de Suas Altezas esta noite promete ser soberba — disse o barão — Não se decidirá a aparecer, minha senhora?


— Eu teria dito não, mas esta manhã recebi um recado da arquiduquesa pedindo-me para fazer uma exceção, ao menos por esta vez, em meus hábitos de recolhimento. Assim, pareceu-me difícil uma recusa.


— Oh! Seria mesmo impossível o seu não comparecimento, minha senhora! — exclamou Pansy — Com a sua beleza, vai ser a rainha da noite.


A cônega franziu as sobrancelhas.


— Deixemos de lado essa consideração — disse ela secamente — Para uma mulher da minha idade, isso é secundário!


Pansy meneou a cabeça com alguma vivacidade. Não podia, certamente, compreender que alguém abdicasse totalmente o desejo de ser admirada, tivesse esta ou aquela idade.


— Naturalmente vê-la-emos também, não é, condessa? — perguntou o barão, dirigindo-se a Luna.


— Sim, já que é preciso...


— Ora, então nunca mais se tornará sociável? — perguntou Pansy com ar de reprovação.


— Creio que não, pelo menos no que se relaciona a essas aborrecidas festas oficiais. Se se tratasse de pequenas reuniões íntimas, festa entre amigos, então o caso seria diferente.


Luna, toque uma sonata de Mozart ou de Beethoven, com o Sr. Weasley, que é excelente violinista, segundo me falaram — disse o Conde Draco saindo do silêncio que guardara até então.


— Mas falta-me o violino — disse Ronald, rindo.


— Oh meu caro, devemos ter pelo menos um; vou procurá-lo.


Enquanto Draco se afastava, Luna dirigiu-se para uma velha estante de carvalho onde estavam guardados os álbuns de música. Folheou-os, pedindo a opinião de Ronald, que tinha se aproximado dela. No salão, Pansy palestrava com a cônega, sem que, pelo visto, notasse a palidez do rosto dela.


— Olhe, Mione, a bela tia do conde parece estar sentindo alguma dor — disse Ginevra em voz bem baixinha à amiga.


— Ah! Eis o que necessitávamos! — disse Luna, inclinada sobre um álbum — Esta magnífica sonata de Beethoven, a minha preferida. A senhora tem a parte do violino, titia? É a Sonata em lá, Opus 12.


— Não, essa não, Luna. Não posso ouvi-la com agrado.


A cônega voltara-se para a sobrinha e falava com voz áspera, um pouco ofegante. Seus olhos pareciam ter perdido a visão e as mãos, pousadas nos braços da poltrona, tremiam visivelmente.


— Que coisa singular! — disse Ronald — A sonata é tão bela! Entretanto, não é só à senhora que desagrada, condessa. Papai também não pode suportá-la! Por isso eu e Ginevra sempre evitamos tocá-la em sua presença.


A cônega apoiou a cabeça no espaldar da poltrona e cruzou as mãos sobre os joelhos, a fim de dissimular a sua agitação. Agora, um rubor escaldante tingia as suas faces. Evidentemente, a simples evocação da sonata produzia nela forte emoção.


O conde reapareceu, trazendo o violino. Pouco depois, os dois musicistas começavam um noturno de Chopin. Hermione, ouvindo-os, pensava:


“Como tocam com alma! Como combinam bem!”


E, fitando Luna, notou com surpresa na sua fisionomia uma expressão de felicidade que lhe era pouco habitual. Parecia que um raio de sol a iluminara subitamente.


Voltando maquinalmente o olhar para Ronald, Hermione o viu iluminado por essa mesma claridade interior, absorto numa alegria íntima, enquanto tocava fitando Luna, como se ela o estivesse inspirando.


Lembrou-se da mútua simpatia que visivelmente atraía um para o outro, desde o princípio das relações entre os Malfoy e os Weasley, esses dois seres igualmente bons e dotados dês mesmos elevados sentimentos: o alegre e leal Ronald, a altiva e melancólica Luna.


“Pobre Ron!... Pobre Luna!...” — pensou ela com compaixão. “Caminham para a dor, porque nunca... Nunca!”


Involuntariamente, Hermione procurou os olhos do Conde Malfoy e viu que ele também fitava Luna e Ronald; viu sua fisionomia anuviar-se progressivamente.


O conde não apoiou o barão, grande apaixonado pela música, quando este reclamou uma segunda peça musical a dois instrumentos. Também a cônega nada pediu. O violino parecia provocar sensações desagradáveis ou demasiadamente fortes em seus nervos, porque algumas vezes – principalmente quando Ronald tocava com grande sentimento uma ou outra frase mais patética – ela parecia conter a custo uma crispação do corpo.


— Agora, você devia tocar A tarde, de Schumann. Sabe interpretá-la de modo particular, Luna — disse o conde à irmã.


— O álbum de Shumann não está aqui. Onde poderei encontrá-lo, titia?


A cônega levantou-se e se dirigiu para o aposento vizinho. Pela porta aberta de par em par, Hermione viu-se curvar-se sobre uma estante, procurar um pouco.


— Srta. Granger! — chamou ela.


Hermione levantou-se e foi ter com ela. A cônega designou-lhe a estante, dizendo:


— Minha querida filha, quererá prestar-me o obséquio de procurar aí o álbum que Luna pediu? Minha vista está muito fraca de uns tempos para cá. Às vezes, só com muito esforço é que consigo distinguir as letras.


— E não consultou ainda um especialista, minha senhora? — curvando-se para a estante.


— Não. Que importa!


O tom demonstrava uma suprema indiferença.


Hermione encontrara o volume procurado. Ao tirá-lo da estante, fez tombar outro livro, um volume admiravelmente  encadernado, encimado por uma coroa de conde sob a qual estavam inscritas estas palavras: “À minha querida irmã Bellatrix – lembrança de Andromeda”.


— Bellatrix?... Foi a jovem que morreu neste apartamento, não é? — perguntou Hermione.


— Sim, neste mesmo aposento.


— Que destino triste! Seu pai então não a amava?


— É provável que sim, mas agiu nessa circunstância como o teria feito qualquer outro conde Malfoy. E Bellatrix não foi a única que passou por tal prova, mas... É coisa que se pode suportar, apesar de tudo.


As últimas palavras foram pronunciadas com certa amargura dolorosa.


— E, no entanto, a Condessa Belatrix morreu, não a pode suportar! — disse Hermione — Compreendo-a perfeitamente. A obrigação de casar-se com um homem antipático era horrível.


— Sim, também sou de sua opinião. Sustentada pelo orgulho de casta, renuncia-se com relativa facilidade a uma união, que entretanto seria toda a felicidade. Mas deve ser insuportável martírio a obrigação de um enlace de conveniência, pelo qual se sente até invencível repulsa. Assim, pois, compreendo Bellatrix, que preferiu a prisão e a morte.


A cônega estava apoiada à mesa e tinha o rosto encostado à mão pálida. Seus lábios se contraíram com amargura, as pálpebras abaixadas escondendo os olhos soberbos.


Diante dela, Hermione fitava a coroa de conde estampada no rico volume. Pensava nas jovens frontes sobre as quais esse círculo de ouro tinha pesado tanto, naqueles que ele havia assassinado com os seus espinhos ocultos. E, entretanto, quantas a tinham desejado e a desejavam ainda, como aquela elegante convencida cuja voz zombadora chegava até ali!


Hermione dizia de si para si que detestava essa coroa e com ela todo o passado de orgulho dos Malfoy. Sem eles, Bellatrix não teria tido morte tão triste; sem eles, Luna não teria que por um fim doloroso ao seu sonho inconsciente; sem eles, todos os Malfoy, tão bem-dotados, não estariam sucumbindo sob a carga de tantos preconceitos.


— A coroa parece hipnotizá-la, senhorita — disse uma voz sarcástica.


Hermione, voltando-se, viu a poucos passos dela, no limiar da porta, o Conde Malfoy e o Barão de Parkinson. Fora este que lhe dirigia a palavra.


— O senhor não é bom observador — replicou a jovem no mesmo tom — Eu a fitava quase com indignação, porque, encimando este nome, ela recorda a triste sorte de uma infeliz condessinha.


— Pobre Bellatrix! Ela foi na verdade uma vítima — disse o conde em tom de amargura — Não há nada terrível como as casas soberanas onde a razão de Estado assassina os corações e destrói os futuros. Mas isso é verdadeiramente uma coisa odiosa. Sim, odiosa!


Proferiu estas palavras com tal indignação que, decerto, ofendeu a cônega, porque ela ergueu altivamente a cabeça, lançando sobre o sobrinho um olhar de grande surpresa.


— É uma dura obrigação, concordo, mas é inseparável da nossa classe. E será preciso aceitá-la, quando se apresente a ocasião, nem que por esse motivo tenhamos de sofrer o resto da existência!


Draco abria a boca para replicar, mas calou-se e, voltando-se para Hermione, perguntou:


— Esse é o álbum de Shumann, Srta. Granger? Levo também o da condessinha Bellatrix. Há nele lindas peças de cravo que Luna nos fará ouvir.


Afastaram-se para o salão vizinho. A cônega deu um passo para segui-los, mas o barão disse a ,eia voz, num tom sardônico:


— Decididamente o Conde Malfoy tem grande simpatia pela família Granger!


— Ela o merece! — replicou a cônega com naturalidade.


— Oh! Nunca o pus em dúvida! Mas a jovem Hermione é... Sim, verdadeiramente, é belíssima, muito fascinante e...


A cônega o fitou, um clarão em seus belos olhos claros.


— Que está imaginando, barão?


— Ora, uma coisa muito natural, parece-me! E infelizmente não será a primeira vez que se veria um grande senhor apaixonar-se por uma professora, linda e embusteira...


A cônega interrompeu-o com um gesto altivo.


— A Srta. Granger não é uma intrigante nem vaidosa, e muito menos embusteira. Quanto ao meu sobrinho, ele sabe muito bem o respeito que deve ao seu nome e, não podendo oferecê-lo a essa moça, saberá afastar de si qualquer sentimento impossível.


— O amor, ás vezes, se impõe tiranicamente, minha senhora!


— Sempre, desde que se queira, é possível ter o domínio sobre si próprio.


Depois dessa réplica, pronunciada com orgulhosa segurança, a cônega entrou no salão vizinho.


Luna estava sentada ao piano, mas o seu rosto retomava a expressão tristonha, o ar de cansaço. Tocava quase maquinalmente, sem a alegria e o encantamento de há pouco.


— A senhora vai dar-nos o imenso prazer de ouvi-la tocar, senhora cônega?


— Não toco há muitos anos, a não ser para mim mesma, muito raramente.


Hermione já a ouvira numa dessas raras ocasiões, na noite em que, pela segunda vez, fora contemplar o lago negro.


— Entretanto, a senhora tem grande talento para a música, minha tia — disse o Conde Draco.


— Sim, os meus amigos pretendiam convencer-me disso — replicou ela em tom frio.


E, continuando a conversar, mudou o assunto da palestra.


Argus trouxe o chá. Luna levantou-se para servi-lo. Mas sentou-se quase imediatamente, levando a mão à testa.


— Sinto uma horrível dor de cabeça. Srta. Hermione, quer fazer-me o obséquio de me substituir?


O olhar invejoso de Pansy seguiu Hermione quando ela se dirigia para a mesa de chá. Ninguém poderia contestar que a jovem professora revelava no andar a mais perfeita elegância e nos gestos uma graça muito natural. A burguesinha simples parecia estar perfeitamente à vontade nesse meio aristocrático. Surda tempestade levantou-se na alma da Baronesa de Parkinson, a ponto de fazê-la esquecer todas as conveniências.


— Não, hoje não quero tomar chá. Dê-me um copo d’água com açúcar — disse ela repelindo com um gesto a xícara que a jovem lhe oferecia.


Hermione ruborizou-se, um clarão passou em seu olhar. Mas o conde já se levantava e agitava violentamente o cordão da campainha.


— Não se incomode, Srta. Granger. Argus trará o copo d’água para a baronesa.


Pansy, por sua vez, tornou-se cor de púrpura. A palestra havia cessado, todos os olhares se fixavam nos três. Hermione, dominando a penosa emoção, dirigiu-se para Ginevra Weasley, oferecendo-lhe a xícara de chá que a baronesa recusara. Imediatamente o barão retomou habilmente o fio da conversa, pois como diplomata, nada o embaraçava. Para ele, a falta de polidez da filha não fora desagradável a ninguém, tanto que um brilho de satisfação se notava em seu olhar ao fitar a cônega visivelmente preocupada, um vinco de grande contrariedade a sulcar-lhe a fronte.


O jovem conde continuava de pé, apoiando à lareira, braços cruzados sobre o peito. Um sorriso irônico entreabria os seus lábios e só modificou a expressão do rosto quando Hermione se aproximou, estendendo-lhe a xícara de chá.


— Obrigado, senhorita, e perdão — acrescentou em voz baixa, designando Pansy com o olhar.


A Baronesa, com modo visivelmente perturbado, acabava de tomar o copo d’água que Argus, respeitosamente, lhe entregara.


— Draco, não posso lembrar-me do nome daquele general, muito amigo de seu pai, que você encontrou outro dia — começou a dizer a cônega, voltando-se para o sobrinho.


O conde aproximou-se dela  e Hermione voltou para o seu lugar. Ficou ali até a saída dos Weasley. Depois, despediu-se da cônega, que subitamente se tornara muito fria para com ela.


Entrando na sala onde estavam o professor e Alexis, a jovem encontrou fazendo-lhes companhia o novo capelão. O bom padre Flitwick morrera um mês antes. Sentindo que estava próximo os seus últimos dias, chamara para substituí-lo um antigo missionário, íntimo amigo dele. Padre Fryderik, quinze anos mais moço do que o amigo, vira-se constrangido ao repouso devido à saúde arruinada. O Conde Malfoy, a pedido do extinto, dera-lhe a sucessão no castelo, e bem depressa todos, em Runsdorf e nos arredores, apreciavam a bondade, a ternura, a caridade, a nobre inteligência do novo capelão.


Desde os primeiros momentos, padre Fryderik havia demonstrado particular simpatia pelo professor e seus filhos, talvez porque também fosse de origem polonesa. A isso, aliás, se limitava tudo o que tanto os Granger como os senhores de Runsdorf sabiam a respeito desse santo homem, muito discreto sobre a sua vida. Só contara, na verdade, a sua origem.


— Hermione, você hoje se demorou pouco no apartamento da condessa — observou o professor.


— O estritamente necessário, papai, porque os Parkinson estavam lá e, como sabe, tenho pouca simpatia por eles. O senhor foi muito bom em vir fazer companhia ao papai e a Alexis, reverendo — acrescentou Hermione, cumprimentando respeitosamente o padre.


— Mas isso é um prazer para mim! Questionávamos acerca de lingüística...


— E a propósito desses curiosos livros que o conde nos trouxe. Ele esqueceu-se de levar a ata de casamento de seu tio-avô, Hermione. Lembre-me, pois de devolvê-la na primeira ocasião em que o virmos.


O professor, falando, havia tomado de sobre a mesa a folha amarelada.


— Imagine, reverendo, o Conde Cepheus Malfoy foi casado com uma Granger! Seu sobrinho-neto acaba de sabê-lo por este documento.


O dia baixava; padre Fryderik estava sentado num canto meio escuro. Entretanto, Hermione julgou vê-lo estremecer.


— De verdade? — perguntou ele num tom de polida indiferença — Ei-los, então, encantados com uma tal aliança?


— Encantados?


Hermione soltou um risinho de ironia.


— E por quê? Primeiro, nem temos certeza se essa senhora era mesmo da nossa família. Em segundo lugar, pouco nos importa, na verdade, que ela tenha tido a honra de chamar-se Condessa Malfoy.


— Sim, essa honra é bem ilusória, bem efêmera — disse o padre com a voz alterada — É bem melhor chamar-se Granger do que Malfoy.


Interrompeu-se e ficou alguns instantes em silêncio, absorvido em algum pensamento melancólico. Hermione aproximou-se de uma janela e apoiou a fronte contra a vidraça. Seus lábios murmuraram maquinalmente:


— Sim, padre Fryderik tem razão... é melhor ter o nome de Granger do que o de Malfoy. Sim, muito melhor, não há a menor dúvida.


E, com um ligeiro movimento de impaciência, voltou-se, dirigindo-se para o quarto, abismada em reflexões.

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