A PROVIDÊNCIA NATALINA



A estrada principal que levava a Ottery St. Cachpole já era vista logo abaixo deles e Harry começou a diminuir a altitude. O vasto campo, que parecia uma grande manta de retalhos costurada a mão, dava lugar ao branco deixado pela neve do inverno gelado de Dezembro. O carro descia cada vez mais até que, um pouco mais afastado da cidade, uma construção irregular chamava atenção, pois era fisicamente impossível que conseguisse se manter de pé. A única explicação plausível era também a absoluta verdade: pura mágica. Somente quando o carro tocou o chão, Harry desligou o botão de ilusão, que deixava o carro invisível.

– Chegamos! – disse enquanto estacionava dentro do ampliado barraco de ferramentas do patriarca Weasley, que estava cheio de coisas de trouxas, como sempre.

Harry adorava chegar na casa dos sogros. Aquela velha sensação ao olhar para o lugar que o acolheu fora de Hogwarts enchia seu coração com uma coisa quente e seu estômago logo reclamava, reconhecendo o cheiro dos temperos Weasley. Tudo lembrava a Harry a primeira vez que vira A Toca: a ampliação desordenada à medida que os filhos foram nascendo, com a construção de vários andares absolutamente inaceitáveis para os padrões dos engenheiros trouxas e o jardim em volta, parcialmente cuidado.

O letreiro torto enfiado no chão continuava lá, sinalizando que ali era a morada-mor dos Weasley: seu QG. As botas de borracha continuavam em volta da porta de entrada, as galinhas castanhas e gordas continuavam ali, aparentemente em menor número do que antes e um velho e conhecido caldeirão enferrujado agora era a morada de uma raríssima Flor Cantante, presente dos Delacour, que acordava os moradores com uma bela canção da manhã.

Mas as coisas haviam mudado muito nesses últimos 19 anos. O Sr Weasley ganhou uma gratificação considerável no salário do Ministério e, depois de se aposentar, resolveu lecionar em Hogwarts, o que era de igual prestígio. A Sra Weasley finalmente havia se deixado convencer por Gina e lançou seu primeiro livro: Na cozinha com Molly Weasley: um manual para bruxas inexperientes. A venda na Floreios & Borrões foi um absoluto sucesso, o que lhe rendeu muitos galeões e ela já estava para lançar o segundo volume, com receitas mais complexas.

Nenhum de seus filhos morava mais n`A Toca. Todos tinham suas próprias casas e famílias, mas era sempre possível encontrar vários Weasleys em casa para o jantar, sem falar nas crianças que amavam a casa da avó. Essas, sim, pareciam não abandonar A Toca de jeito nenhum. Portanto, a Sra Weasley sempre tinha a casa cheia e muito trabalho para fazer e ela, simplesmente, amava tudo isso.

Quem já conhecia os Weasley há mais tempo e olhava de fora, mais atentamente, poderia perceber que a casa estava ainda maior, com novos quartos que foram colocados aqui e ali, ampliando de forma desordenada o mais novo andar. Com seus filhos casados, ela teve o trabalho de ampliar cada quarto para que, onde antes dormiam solteiros, pudessem dormir casais. E com uma penca de netos que volta e meia estavam sempre dormindo por lá, eram necessárias novas dependências. Molly e Arthur tinham a maior casa, mais maluca e barulhenta das redondezas.

Alvo, James e Rose saíram correndo e gritando para uma senhora que já aparecia na porta da casa, limpando as mãos em seu avental. A Sra Weasley continuava a bondosa mulher de sempre, com seu rosto rechonchudo e rosado, seus cabelos ainda ruivos e com braços capazes de abraçar o mundo, como toda avó parece ter. Queria olhar para cada um de seus netos para garantir que tinham se alimentado bem e queria logo saber tudo sobre suas aventuras e descobertas em Hogwarts. Victorie foi a última a se aproximar, afinal, não fazia bem a uma garota de quase 17 correr como uma criança. Molly tratou de empurrar os netos para dentro e colocou suas mãos perigosamente na cintura, com seu olhar para a filha, prestes a dar um bom sermão.

– Ginevra Weasley!! Quem deu ordem para que você pegasse o carro de seu pai e fosse buscá-los em Londres? Você prendeu Jorge no armário de casacos com um feitiço e levei horas para tirá-lo de lá!! Sabia que ele tinha que voltar para fechar a loja?

Gina deu um largo sorriso e um beijo no rosto rosado e enfurecido da mãe, que pareceu amolecer um pouco. Não era segredo que sua caçula sempre foi sua favorita. Gina sempre conseguia ultrapassar a barreira dos sermões mais rápido do que qualquer um dos seus irmãos.

– Mamãe, eu não sou mais uma criança. Tomei as preacuções necessárias e, além disso, eu estava morrendo de saudades do meu marido – e pungou nos ombros de Harry como costumava fazer quando ainda eram adolescentes – Não poderia deixar Jorge ir buscá-lo! E Harry veio dirigindo na volta – sorriu.

– Você está passando dos limites, mocinha – desviou os olhos para o genro e suavizou o seu tom – Olá, Harry querido! Que alegria saber que você se tornou professor em Hogwarts! Vamos, vamos, entre.

Harry não podia deixar de pensar que a Sra Weasley não mudaria nunca. A sua cozinha já não era mais aquela pequena e um tanto apertada. Com a prosperidade dos membros da família, a casa parecia muito maior por dentro. A mesa de madeira escovada estava absurdamente gigante e as paredes da sala foram retiradas para que a expansão da cozinha pudesse acomodar a família e seus constantes convidados.

O relógio de parede já estava com excesso de ponteiros e o Sr Weasley tinha aumentado o tamanho dele para comportar tantos parentes. Molly não permitiria que nenhum membro da família fosse excluído. Era o seu jeito de manter os olhos em todos e Harry sempre sorria ao olhar sua cara feliz indicando em casa. Os ponteiros de Rony e Hermione ainda indicavam que estavam no trabalho, portanto, ele teria que esperar mais um pouco até abraçar os amigos.

– Papai!

Uma garota de cabelos ruivos pulou no seu pescoço e o abraçou forte.

– Tava com saudade! – disse, com os olhos cintilantes.

– Eu também, Lilly!

– Eu gostava mais quando o senhor era auror porque voltava pra casa mais vezes!

– Não se preocupe, querida. É só por um ano. Logo logo vai voltar tudo a ser como antes.

Foi impossível não ouvir Rose na sala.

– Como assim meus pais não estão? Então...então... ninguém sabe das minhas notas? – Rose choramingou.

– Infelizment non, querrida. Sinto muito! – disse Fleur, alisando os cabelos da sobrinha, que cruzou os braços e afundou na poltrona da nova sala.

– Podiam ter mandado para alguém da família. Victorie recebeu a dela – disse olhando invejosa para a prima que abria um largo sorriso diante do pergaminho com sua avaliação.

– Ela foi bem?

– Excelent, como toda monitorra-chef deve serr – disse, sem ocultar seu orgulho de mãe.

Rose não pôde deixar de sorrir para a prima. Guilherme ainda não tinha chegado, pois um trabalho de última hora não permitiu que ele pedisse para ser liberado, como Fleur havia conseguido. Eles continuavam a morar no Chalé das Conchas, isolado em um rochedo e de frente para o mar, com as paredes caiadas e engastadas de conchas. Ambos trabalhavam no Gringotes e Gui era presidente do Conselho de Interesses Mágicos, que intermediava as questões financeiras e os acordos entre os bruxos e duendes, de forma imparcial. Ambos haviam prosperado e o barulho do mar dentro da casa só era abafado pelos gritos dos seus dois filhos mais novos: Dominique, com 10 anos e Louis, de 7. Evidentemente, na casa da avó não era diferente.

– Victorie!!! Louis, Victorie chegou!!! – gritou Dominique pulando no colo da irmã, que a encheu de beijos.

– Dominique, filha. Já disse parra pararr de grritar assim! Não é bonito parra uma menina!

A garota fez apenas um sinal com a cabeça, mas Rose sabia que a prima não levava isso muito a sério. Ela brigou com Louis que queria o colo da irmã também e Fleur teve que intervir na discussão. Bastou a Sra Weasley chegar na sala para que tudo estivesse na maior calma. Dominique sentou do lado de Rose e a encheu de perguntas sobre Hogwarts. James e Alvo chegaram, arrastando Hugo, pela gola.

– Eu disse que a gente achava ele, vovó! – disse James, triunfante.

– Onde foi que você se meteu, menino? Que preocupação! – era possível perceber que Hugo diminuía à medida que a vó brigava com ele. Tinha uma expressão de culpa que lembrava muito o Rony.

– Ele tava no lago, vó! – James entregou.

– No lago congelado?! Sozinho? – Molly colocou as mãos na cadeira e isso não era um bom sinal – Hugo Weasley...você não tem noção? Imagine se Hermione chega aqui e eu não sei onde você está porque uma certa mocinha – e olhou de canto de olho para a filha - que deveria tomar conta de você resolveu fugir. E aí, você resolve fazer a mesma coisa!! Escute aqui, rapazinho...

Gina resolveu ignorar a mãe e voltar para a cozinha, onde se preparava para pegar Harry de surpresa e dar-lhe um beijo que mostraria o quanto ela sentiu a falta dele, realmente. Foi impedida de fazer o que queria pela entrada dos filhos na cozinha.

– Mãe! Mãe! A senhora disse que nos daria o envelope com nossas notas se achássemos o Hugo! A gente achou. Cadê?

James estava ansioso pelo relatório das pré-avaliações da escola. Alvo não parecia tão ansioso assim, pois estava com uma terrível cara de preocupação. Com um simples movimento de varinha, dois envelopes pousaram suavemente nas mãos das crianças. Contudo, eles já haviam sido abertos por Gina, e Harry, evidente, já sabia da nota dos dois há muito tempo.

– Ahá!!! Eu disse que eu ia passar!! Aquele professor achou que ia me tirar dos treinos de quadribol? Claro que não! Eu não ia deixar um professor chato me... – James se deu conta de que estava diante de Harry, também professor da escola – Hum...desculpe! E você, Alvo?

Alvo estava com uma cara de quem acabara de pegar um ar depois de vomitar horas seguidas. Estava pálido e seu olhar, perdido no papel. James tomou as notas das mãos do irmão e leu.

– Deplorável? Você tirou um Deplorável?

– Dá um tempo, James! – disse Gina que segurou as mãos do filho mais novo – Está tudo bem, meu amor! Você vai se recuperar, não se preocupe.

– Mas mãe, ele me odeia! Esse professor me odeia! Ele me trocou de lugar no primeiro dia de aula!

– Ele trocou praticamente todos de lugar, Alvo. Ele não está lhe perseguindo – disse Harry, calmamente.

– Deplorável? – James disse, irônico.

– Pára!

– James, quer fazer o favor de parar? – diante do olhar sério de Gina, James tirou o sorriso de ironia dos lábios – Meu amor, eu não estou zangada com você e nem o seu pai. Sabemos que não estava se sentindo bem na semana das provas.

Alvo empalideceu.

– Sabem?

– A diretora falou comigo depois de mandá-lo à Madame Pomfrey. Está tudo bem, Alvo. Você só terá algumas aulas extras nos fins de semana para compensar.

O garoto empalideceu ainda mais.

– Com ele? Não pode ser com a diretora McGonagall? – sua voz era de súplica.

Nesse momento a Sra Weasley entrava na cozinha, acompanhada de perto pelos netos.

– Bom, eu preciso de uma força-tarefa Weasley para desgnomizar um jardim! Quem se candidata?

– Eu!! – responderam as crianças, em coro. James chegou a revirar os olhos e Victorie não queria acreditar que teria que fazer isso.

– Muito bem! Victorie, você é a supervisora. Não deixe que eles se percam, por acaso, de novo. – disse olhando nos olhos azuis de Hugo.

Assim que as crianças saíram, ela pediu que Harry a deixasse na cozinha com as mulheres, para que adiantassem os preparativos da ceia. Ele aproveitou para colocar os malões dos filhos e das sobrinhas em seus quartos e pretendia tirar um bom cochilo no antigo aposento de Gina, que agora era dos dois. Pouco tempo depois, Harry acordou de sobressalto. A Toca tremia como se um terremoto estivesse acontecendo naquele momento. Abriu a porta a tempo de ver Hugo descendo por último as escadas, seguindo seus primos. Da porta, Harry distinguiu uma conhecida e divertida voz.

– Ho! Ho! Ho! Feliz Natal! – disse Jorge, vestido a caráter e com um saco vermelho nas costas.

As crianças já faziam algazarra, loucos para ganhar os presentes do tio. Eram sempre os melhores e mais gostosos, altamente criticados por todos da família e sempre faziam a Sra Weasley ter acessos.

– Jorge Weasley! Eu já disse para você parar de trazer as coisas de sua loja para dentro de casa e muito menos para dar às crianças! Não queremos outro processo nas costas por causa dos trouxas que vão parar no hospital!

– Mãe, não se pode acabar com uma tradição familiar destas!

– Tradição familiar! Eu vou já lhe mostrar o que é tradição familiar!

– Molly, vamos deixar as crianças se divertirem. Dessa vez elas juram que não vão oferecer os doces para trouxas, certo crianças?

– Sim, vovô Weasley! – disseram em uníssono, num tom que beirava à ironia.

A Sra Weasley saiu resmungando uma azaração incompreensível e Jorge piscou para todos!

– Muito bem, façam fila. Tenho kits Weasley especiais para cada um!

Harry se aproximou de Gina, que acabava de mudar, pela quinta vez, a decoração da mesa de jantar.

– Amor, está tudo lindo – disse, dando-lhe um longo abraço.

– Não sei, Harry. Ainda está faltando algo!

Com um balançar de varinha, os copos de vidro foram adiquirindo linhas em vermelho bordô, que formavam lindos desenhos animados de natal. Gina era realmente exigente em se tratando de decoração. Depois de deixar de jogar pelas Harpias, ela entrou no ramo da moda bruxa e se saía muito bem, como já era de se esperar. As encomendas de decoração de casas, festas e vestidos de casamento não paravam de chegar em casa e Harry tinha muito orgulho. Depois de ter um de seus vestidos de noiva estampando a edição de natal da Wiccas e Cia, ele sabia que faltava pouco para Gina efetivamente abrir sua própria loja na Alameda Dimensional, a área nobre de vestuário.

– Olá, Harry. Oi, Ginny!

– Oi, Angelina! Jorge ainda vai fazer a mamãe ter um infarto com essas coisas.

– Eu sei, mas não consigo tirar essas idéias da cabeça dele. Como foi o Alvo na escola?

– Ele está na Lufa-Lufa.

– Lufa-Lufa?

– Está super animado e nós também. Ele me falou tanto da sala comunal que eu fiquei triste por nunca ter conhecido nos meus tempos de Hogwarts.

– Faltou pouco, né? - ambas riram, em cumplicidade.
Harry, sabendo que já tinha perdido o mando de campo, resolveu sair discretamente da cozinha e deixar as duas amigas conversarem. Angelina Johnson, a ex-artilheira da Grifinória, havia se tornado uma morena muito bonita e forte. Ela e Gina passaram muito tempo juntas quando jogavam pelas Harpias e, no fim, depois de tanta enrolação de Jorge e pressão da caçula Weasley, eles acabaram assumindo o romance.

Fred e Roxanne, de 10 e 7 anos, mostravam para os primos a nova invenção do pai a pedido deles: uma geleca mutante. Bastava colocar o anel do poder e a geleca se transformava naquilo que o bruxo pensava. Uma gosma verde surgiu no meio da sala e correu como um raio em direção à cozinha. Pouco tempo depois, a Sra Wesleay enxotava, nervosa, um cachorro verde com antenas de ET e rabo de macaco para fora da cozinha, enquanto as crianças gargalhavam.

– Agora é a minha vez!

Roxanne tentou pegar o anel de Fred, que se recusava a entregar. O contato dos dois com o anel deixou a geleca maluca e ela explodiu, deixando a sala coberta de um muco verde e gosmento.

– Ainda esta em fase de teste! – disse Jorge sob o olhar mortífero de Fleur.

Com um gesto da varinha, ela deixou a casa brilhando de limpa, enquanto a Sra Weasley puxava Jorge pela única orelha para uma longa conversa na cozinha.

– Boa noite, família! – disse Percy enquanto surgia pelas chamas verdes da chaminé da sala, com o corpo coberto de pó, que sumiu quando sua esposa, Audrey, balançou a varinha logo atrás.

– Molly! Lucy! – gritaram para as primas gêmeas, de 8 anos.

– Lilly! – gritou Molly.

– Roxy! – gritou Lucy!

As quatro se abraçavam e davam pulos e gritos de alegria.

– Olá, Audrey, querida!

O Sr Weasley prontamente abraçou sua nora favorita. Não era novidade para ninguém, mas Molly já havia notado como Fleur ficava cada vez que Arthur só enxergava Audrey diante de si. Mas não era para menos: ela havia assumido a Seção de Controle de Mau Uso de Artefatos Trouxas e mantinha Arthur e seus experimentos longe de qualquer investigação.

Percy abraçou a mãe e tratou de cumprimentar todos na sala, como sempre fazia. Harry se incomodava muito com o tratamento político do cunhado, agora assessor-chefe do Ministro, e sempre fugia das discussões sobre as legislações da magia que ele insistia em puxar. Jorge também não agüentava o ar de “eu sou o bam bam bam do ministério agora” e já se preparava para baixar o nariz empertigado do irmão. Enquanto Percy se distraía conversando com Harry e estendia a mão para pegar um bolinho de abóbora, Jorge injetou o caldo de megapimenta. Assim que Percy engoliu o primeiro pedaço, seu rosto ficou vermelho e saiu fumaça pelas suas orelhas, nariz e boca. Jorge caiu no chão de tanto rir.

– Você não vai crescer nunca??? – gritava a Sra Wealey, socorrendo Percy com uma jarra de água quase a zero graus. As crianças riam a valer.

Guilherme chegou pouco depois para a alegria da família. Ele trouxe o Sr e a Sra Delacour, juntamente com Gabrielle, seu marido Pierre Fauchard e o pequeno Leonard, de 2 anos: o xodó da meninada. Em seguida foi a vez de Luna e Dino Thomas, com o Sr Lovegood e Lucy. Andrômeda Tonks chegou acompanhada de Ted e Harry notou quando o olhar do afilhado encontrou o de Victorie e ambos ficaram vermelhos. A Sra Weasley já ameaçava mandar um berrador para Carlinhos, quando ele aparatou perto da árvore de Natal. Sua mãe não se conformava pelo fato do filho não querer se casar com ninguém. Estava tudo quase pronto e Harry ansiava pela chegada de Mione e Ron.

– Eles estão demorando não é? – Gina pareceu ler os pensamentos do marido.

– Não sabia que o trabalho deles estivesse dando tanto trabalho.

– Daqui a pouco eles chegam. Mione sabe como a mamãe fica louca quando o Ron chega atrasado do trabalho. Ela só está calminha assim porque sabe que Mione está tomando conta do Roniquinho dela – e sorriu.

Com tantos primos em casa, era impossível controlar a energia das crianças. A Sra Weasley até colocou um feitiço de proteção na árvore para preservar a decoração. Fleur conversava animadamente com Gabrielle, enquanto Gui brincava com o sobrinho, sob os olhares atentos de Hugo e Lílian. Ainda saía fumaça da boca de Percy e Audrey o consolava, baixinho, enquanto Ted e Victorie saíam à francesa. Do outro lado da sala, Jorge sorria descaradamente e atiçava os sobrinhos e filhos com fogos de artifício dentro de casa. Xeno Lovegood divertia Andrômeda Tonks com suas histórias, enquanto Gina e Harry trataram de conversar com Lucy e Dino.

– Lorcan e Lysandro não vêm? – perguntou Gina, se referindo aos outros filhos de Luna.

– Ah, eles não podem não. Estão na Nova Zelândia estudando os pirigulins, com o pai.

– Pirigulins?

– É. Os pingüins gelo-limão de 3 polegadas. Eles são excelentes dançarinos.

– Você não sente a falta dos meninos? – Harry perguntou.

– Ah, sim, sinto muito. Mas sempre damos um jeito de nos falarmos. Depois de amanhã, meu pai, eu e Dino vamos visitá-los. Não dá para ser hoje, senão vamos assustar os pirigulins – disse, calmamente.

– Mas nós temos a Lucy para nos alegrar sempre, não é amor? – e a abraçou, carinhosamente.

Harry olhava para o amigo com admiração. Afinal, ele era o segundo marido de Luna, tratava os filhos dela como se fossem dele e não tinha ciúmes do ex. Harry e Rony costumavam se divertir com o casamento de Luna com Rolf Scamander, até que eles terminaram por causa dos narguilés. Quem diria, afinal, que Luna provaria a existência deles? Cerca de um ano depois, ela e Dino assumiram o romance e casaram em pouco tempo. Mesmo com o fato de Dino não poder ter filhos, esse casamento parecia muito equilibrado e Harry se sentia muito feliz ao ver o amor verdadeiro dos dois.

– Ah, Harry, parabéns pelo Alvo. Lucy ficou muito feliz por alguém da família ter entrado na casa dela.

– Obrigado, Dino. Nós também estamos muito felizes por ele.

– Lucy disse que ele é excelente na vassoura.

– Eu ouvi algo pelos corredores também. Uma pena que não haja espaço para ele no time ainda.

– E como você vai fazer, Harry? – Gina perguntou maliciosa – Vai torcer pela Grifinória de James ou pela Lufa-Lufa, de Alvo?

Harry fez uma cara de quem tivesse acabado de ser estuporado.

– Ai, Gina, não complica as coisas não – disse, passando as mãos pelos cabelos bagunçados, com um olhar de partir o coração.

James iniciava uma partida de priscobol, com Fred, Dominique, Louis e Hugo. A brincadeira consistia em passar a bola de energia com a melhor jogada de efeito para o outro. Enquanto isso, Alvo, Rose e Lucy estavam sentados no quintal conversando.

– Não fica assim, Al. Você recupera essa nota. A gente sabe que você não estava se sentindo bem.

– Eu sei, Rosie, mas você não sabe como é ver o sorriso irônico do James e ainda mais quando ele balbucia De-plo-rá-vel...

– Tudo se recupera quando se tem amigos de verdade para ajudar. Então eu tenho certeza que você vai superar essa matéria – Lucy falou, sincera.

– Tá vendo? Vamos lá, Alvo! É Natal! Você não pode ficar com cara de coruja que perdeu a encomenda. Vamos brincar com os meninos, vai!

Alvo sorriu para a tentativa da prima de levantar seu astral. Ele sabia que ela detestava esses jogos e aceitou. Tinha mesmo que se divertir pra esquecer Hogwarts um pouquinho. Eles nem perceberam quando Mione e Ron aparataram na porta d´A Toca e entraram. A Sra Weasley os recebeu calorosamente, já oferecendo chá para recuperar as energias depois de tanto trabalho. Assim que entraram na sala, Harry abriu um largo sorriso. Rony e Mione falaram com todos e deram um abraço caloroso em Harry e Gina.

– O Sr e a Sra Granger não vem mesmo? - perguntou Gina.

– Hu-hum – Rony balançou negativamente a cabeça - Eles se comprometeram em passar o Natal na casa dos Jones. Sinceramente, não vejo graça do Natal na casa de trouxas e...

Rony resolveu parar de falar quando se deparou com o olhar repreensivo de Mione.

– Nós precisamos de um banho, urgentemente. – disse Mione, cansada, enquanto Rony se jogava na poltrona do lado da árvore de Natal.

– Ah...precisamos mesmo?

– A não ser que você queira passar o natal transfigurado num porco, porque você está cheirando mal, Ron.

– Ah Mione! Deixa eu descansar, vai? Só 5 minutinhos!

– Bom, eu vou tomar um bom banho e quando eu sair, você vai direto para lá, ok?

Rony abriu um largo sorriso.

– Cadê a Rose e o Hugo?

– No quintal, brincando. Rosie está ansiosa pelos resultados da pré-avaliações. Como ela se saiu? – Luna perguntou.

– Bem – disse Mione.

– Ela está chateada porque Rosie tirou um Excede às Expectativas no meio de Ótimos. Eu queria ter um boletim cheio de Es na minha época – completou Ron.

– Transfiguração, não foi? – perguntou Harry.

– Isso mesmo.

– O novo professor é linha dura. Ela deve ter ficado nervosa e errado algo insignificante. Alvo tem medo dele, eu acho. Tirou um D.

– Caraça, Harry! – disse Ron.

– E como ele está?

– Está bem, Mione. É só esperar James cansar de abusar ele – respondeu Gina.

– Bom, então eu vou subir e ficar apresentável antes de falar com as crianças – e olhou para o marido na poltrona – 5 minutos, ouviu, Ronald?

– Sim, senhora! – e conjurou um relógio ao seu lado, fazendo Mione sorrir enquanto subia para o quarto.

– Muito trabalho? – Harry perguntou de forma geral para não levantar suspeitas.

– É. E muito chato, também, principalmente porque Hermione não faz pausas, sabe? Isso acaba com meu estômago delicado.

– Seu estômago não é delicado, Ron. Ele sofre de distúrbio alimentar reverso – brincou Gina.

– Que seja. Eu estava louco pra vir pra casa e comer alguma coisa. Quando sai o jantar, alguém sabe me dizer?

– Porque não belisca alguma coisa na cozinha? – Dino perguntou.

– Eu tentei, mas minha mãe quase bateu em mim com a tigela do peru.

Todos riram. Pouco tempo depois Rony subiu a contragosto, quando Mione parou no meio da escada, cruzou os braços e ergueu a sombrancelha. Gina e Lucy estavam na cozinha, ajudando com os toques finais da ceia e Dino e Harry decidiram ir ao quintal brincar com as crianças até a hora do jantar. Quando Hermione surgiu na porta, Rosie e Hugo saíram correndo e abraçaram a mãe.

– Oi, meus amores! Tudo bem?

– Você disse que não ia demorar! – Hugo reclamou.

– Desculpe, meu amor. Tive muito trabalho hoje – e alisou o cabelo ruivo do filho.

– Mãe...e as minhas notas?

– Não quer saber depois da ceia? - brincou.

– Não! – disse aflita.

– Eu imaginei – sorriu e entregou a carta para a filha.

Rose passou os olhos pela carta de Hogwarts e ficou entristecida. Os primos se aproximaram para ver o que havia.

– O que foi, Rose? – Alvo perguntou, preocupado.

– Tirei um E.

– Você tá assim porque tirou um E?? – disse James surpreso e revirou os olhos – Você é mesmo filha da tia Mione.

Os primos parabenizaram Rose pelas excelentes notas e voltaram a brincar.

– Filha, saiba que eu estou muito orgulhosa de você. Sei que esse professor é muito exigente e tenho certeza de que você terá um resultado brilhante no final do ano – e a abraçou, carinhosamente.

– Vem, Rose, vamos brincar – Alvo puxou a prima, que o seguiu sob protestos.

Assim que o sol sumiu por completo, detrás das colinas, a voz sonora da matriarca Weasley ressoou em todos os cantos da casa:

– A ceia está na mesa!

Como mágica, todos da família trataram logo de assumir seu lugar na mesa farta da família Weasley. Peru, porco recheado, bolo de doces, bolo de abóbora, torta de uva com camadas de neve, jarras de suco e cerveja amanteigada. A comida flutuava na mesa em direção aos pratos e a alegria natalina tomava conta da mesa, nas conversas divertidas e risos descontrolados. Harry olhou para cada um sentado na enorme mesa da família e uma sensação calorosa invadiu seu coração. Todo ano era a mesma coisa: difícil de lembrar o que todos os adultos ali passaram e uma alegria de ver que a luta deles resultou em um futuro despreocupado para as crianças. Somente o retrato de Fred, Lupin e Tonks, sob a lareira, lembrava-o das terríveis perdas durante a Grande Guerra. Seu olhar encontrou o de Alvo, que sorriu para ele, inocente. Não havia melhor época do mundo do que essa, para Harry.

Depois de tanta algazarra e da melhor comida do mundo, as crianças já cochilavam nos sofás e poltronas. Percy e Audrey se despediram e levaram as gêmeas para o quarto. Jorge acordou Fred e levou Roxanne. Gui e Fleur já haviam subido para os quartos logo depois que os Delacour e Lovegood partiram. Andrômeda se recolheu pouco depois do jantar para o quarto de hóspedes e Carlinhos tratou de aparatar para a Romênia. Teddy e Victorie, aproveitando a calmaria, namoravam perto da lareira, trocando beijos e carinhos.

– Eu estou vendo você-ês! – cantarolou James.

– Sai daqui, James! – ralhou Victorie.

– Vai dormir que isso não é horário pra criança fora da cama! – falou Ted.

– Eu não sou criança – reclamou – Eu vou contar pra todo mundo o que vocês estão fazendo aqui! Ô paiê...

– Pára de ser chato, James! – Victorie levantou irritada – Eu vou subir. Boa noite, Teddy.

– Boa noite, Vic – deu um beijo estalado e a viu subir as escadas – Você tinha que se meter, né, James?

– Ah, Teddy! Você ficou o dia todo com ela de beijinho e abracinho e nhé nhé nhé...amorzinho – e beijou a própria mão várias vezes, fazendo Ted rir.

– Eu já vou subir pra dormir.

– Ah, não...fica mais aqui. Vamos conversar! – pediu.

– Quem mandou você chatear sua prima? Da próxima vez, vê se não atrapalha – saiu bagunçando os cabelos do moreno.

Harry apareceu logo depois, com Lílian dormindo no colo.

– Hora de dormir, James. Aconteceu alguma coisa?

James cruzou os braços e sentou, irritado.

– O Teddy agora virou um chato. Não larga a Victorie e me trata feito criança!

– Eles não estavam aqui agorinha?

– O senhor também viu? Eu falei que vi também.

– Você interrompeu eles? Ai, ai...nem fala isso pra sua mãe. Vamos, vem pra cama.

Harry subiu as escadas, passando por Rony que já estava no 13º sonho, babando na poltrona e impediu que James acordasse o tio. Hermione já descia decidida a isso.

– Ron? Rony? Ronald!

– Hã?! O que?! Que foi, Mione?

– Você está babando.

– Ah, tá! – limpou a boca e voltou a cochilar.

– Rony!

– O quêêê?

– Vai pra cama!

– Tô indo, Mione. Vai na frente.

– Ronald Weasley! Seus filhos já estão lá em cima, não me faça arrastar você até lá!

– Tá bom, tá bom. Calma, amor. Você fica linda irritada comigo, mas hoje é Natal. Essas rugas vão aumentar e daqui a pouco você vai ter que usar aquelas poções que minha mãe... – diante do olhar mortífero da esposa, ele aparatou rapidinho.

Ainda não tinha amanhecido quando Alvo abriu os olhos e colocou seus óculos. James dormia atravessado na cama, com o corpo meio descoberto e Lílian continuava debaixo das cobertas. Calçou os sapatos e desceu para a sala, na expectativa de encontrar o seu presente. Encontrou Rose sentada na poltrona ao lado, olhando fixamente para um pacote grande e vermelho com seu nome.

– Rosie? – sussurrou e ela pareceu sair do transe.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou baixinho.

– A mesma coisa que você, ué! Por que não abre o seu presente?

– Ninguém acordou ainda. Eu não posso simplesmente pegar e abrir os meus presentes.

– Por que não?

Dito isso, Alvo procurou seu presente. Abriu uma caixa de feijõezinhos de todos os sabores e ofereceu a Rose, que se recusou. Identificou uma série de pacotes iguais e pegou o seu, tratando logo de vestir o tradicional agasalho Weasley. Achou também o presente de Duda Dudley: um boné do Manchester United autografado. O primo de Harry nunca entendia que Alvo não torcia para nenhum time trouxa. Ele futucou mais e encontrou uma embalagem enorme, cumprida e seus olhos brilharam.

– Isso é... – ela nem conseguiu completar tamanha euforia do primo.

– É! É! Ééééééé!!!

– Shhh!

Alvo dava pulos de alegria com o pacote na mão.

– Ganhei uma vassoura nova! Espera, tem um bilhete. Parabéns, meu amor, pelo primeiro ano em Hogwarts. Te amo, mamãe.

– Abre o seu, Rose. Vai!

Motivada pela vontade e pelo primo, ela cedeu. Vestiu o agasalho e abriu delicadamente a embalagem e deu de cara com uma bolsa lateral, bege, com alguns botons mágicos.

– Tem dois bilhetes! – disse a garota
Eu achei que você fosse precisar, já que é tão parecida com sua mãe. Te amo, papai.
Meu amor, essa bolsa é muito especial. Ela tem um feitiço de expansão que permite que você coloque quantos livros quiser e outro de sustentabilidade para que nunca pese. Se eu tivesse isso desde o primeiro ano de Hogwarts, teria evitado muitas quedas nos corredores por causa dos livros. A idéia foi do seu pai e sei que você fará bom uso. Tem um outro presentinho secreto aí dentro. Te amo demais! Mamãe.


Ela abriu a mochila e puxou um livro grande e pesado. Em sua capa em relevo trabalhado com letras prateadas podia-se ler Hogwarts – uma longa história, livro ilustrado, escrito por Gheromin Gerrane. Era a vez de Rose saltitar descontrolada.

– Eu não acredito! A mamãe conseguiu! Uau! Sabe que existem apenas 7 edições ilustradas desse livro? O Sr Gerrane atualizou ele e melhorou muito! Todos os segredos da escola estão aqui!

– Shhh! Nem todos, né? – falou Alvo, se referindo às escadas.

Rose sentou na cadeira e começou a folhear as páginas do livro, com a mochila ao lado. Alvo admirava a nova Flashfire X3, modelo profissional, cabo bem desenhado, madeira de lei e com aerodinâmica praticamente impecável. Foi então que ele reparou em um pacote verde com seu nome, que não estava ali antes, e abriu espaço entre os presentes. Abriu curioso a embalagem e algo caiu no chão.

– Um roupão? – perguntou para si mesmo e chamou atenção da prima, que soltou um grito abafado e apontou para o corpo do primo. Alvo havia desaparecido – Uau! É uma capa da invisibilidade! Eu sempre ouvi meu pai falar dela, mas ele disse que ela tinha ficado velha e ele jogou fora.

– Então ele comprou outra...mas não se faz mais esse tipo de capa. Bom, não na legalidade por causa da proteção aos animais. Ele deve ter comprado outra há muito tempo, só pode. Tem um bilhete?

– Aqui. – e leu em voz alta - Use com a sabedoria dos Potter: não seja pego! Rose, a gente pode procurar a voz com isso!

– Shh! Quer que alguém te ouça? Eu não acho que seu pai quis dizer isso, não.

– Olha, você acabou de ganhar um livro que conta tudo sobre Hogwarts e eu tenho um jeito pra gente descobrir tudo sobre Hogwarts...você acha mesmo que não querem que a gente pesquise sobre Hogwarts?

– Pra quem achava que só seguia as idéias de James, você está muito empolgado, viu?

– E o que você acha?

– Eu acho que você tem que guardar essa capa e eu esse livro. Muita gente mataria pra ter o que a gente tem agora, Al. Não é uma boa espalhar isso por aí!

– Tá, você tem razão.

Em pouco tempo, Alvo já retornava com um sorriso iluminado.

– Que foi, Al?

– Você não sente? – perguntou.

– O que?

– O seu coração bater mais forte, o sangue correr mais rápido e a magia escorrer pelo seu corpo? Hogwarts é mais do que uma escola, Rose. Eu sei, dentro de mim, que Hogwarts é mais do que tudo que está escrito e somos nós que vamos descobrir isso – abriu os braços e se jogou na poltrona - Eu amo ser um bruxo!

Rose olhava curiosa para o primo. Seu rosto estava vermelho, os olhos brilhando como nunca e parecia nem respirar. Ela sorriu.

– Eu também acho tudo isso Alvo. Hogwarts faz a gente descobrir quem realmente somos.

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Comentários (2)

  • Sheila Costa

    Oi, Hilary!!Bom te ver por aqui!Nossa! Bom saber que eu posso surpreender antigos leitores ^^A fic vai evoluindo conforme os personagens descobrem novas pistas =PVai aproveitando com carinho porque logo logo ela acaba =DDe repente, se vc se lembra ainda do que te fez parar a leitura, me ajuda a editar para ficar mais interessante. A não ser que seja o fato do Alvo ser lufo =P Aí não tem mudança mesmo hehehehehe!Obrigada por voltar ^^

    2011-04-09
  • Prado Soares

    caraca sheu... qnd vc começou a escrever, juro q não imaginava que sairia algo tão maravilhoso! vou parar por aqui hj, já são uma e meia da madrugada e amanha é dia! to amando a fic, flor. super msm. uma pena que desisti de acompanhar qnd vc comecçou. bem, agr eu to smp aqui... sauhasuashusah bjzinhoz ;*

    2011-04-08
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