BABADOS FORTÍSSIMOS



Demorou muito até que os lufos acalmassem os ânimos um pouco e deixassem a Prof Trelawney se movimentar para receber os cumprimentos dos outros professores. Sibila, sua irmã mais nova, estava feliz e afirmava para quem quisesse ouvir que tinha dito em reservado para a irmã que a conjuntura estelar de Andrômeda estava alinhada com o mapa astral de Carmelita e, portanto, era óbvio prever o resultado do duelo.


Alvo e Peter gritavam, agitavam e sorriam com os seus colegas, com a alma absolutamente leve de tanta felicidade. Enquanto isso, James olhava torto para o irmão: era um misto de ciúmes e sentimento de traição. No íntimo, o grifinório achava uma desonra Alvo comemorar a derrota do seu pai. Harry pareceu ler a mente do filho, pois em seguida tratou logo de dirigir-lhe a palavra.


– James?


O garoto olhou com certa pena para o pai.


– Foi um grande duelo, James. A Profª Trelawney venceu porque foi a melhor. Ela mereceu a vitória e Alvo tem todo o direito de comemorar.


– Mas...mas não é justo, pai! Você é o chefe dos aurores! Você é Harry Potter! Você derrotou...


– James Potter! – seu tom estava elevado, em repreensão – Sabe que não gosto disso.


– Mas... mas você é nosso pai.


– Aqui sou apenas mais um professor, James. Não quero que você olhe para seu irmão como se ele fosse um traidor, pois não é. Dei o meu melhor e fui vencido. Acontece, sabe?


– Não com o senhor. O senhor nunca foi derrotado, pai.


– Você se engana – seu filho olhou assustado para ele – Sua mãe me derrota todas as vezes.


– Ah, pai. Por favor! – e revirou os olhos.


– Sério. Não consigo vencer uma simples discussão com ela – e passou a mão nos cabelos, desconcertado.


– Foi incrível, Prof Potter! – Jonathan se aproximou extasiado, interrompendo-os – Quero dizer, pena que o senhor não venceu, mas ainda assim foi incrível!


- Obrigado, Sr Dumbledore.


As bochechas do garoto estavam rosadas e os olhos brilhavam maravilhados por tudo o que via. Aquela reação sempre levava Potter a pensar se Alvo Dumbledore se permitia essa diversão tão pura quando criança.


– Quero duelar assim um dia. Os feitiços, os contra-feitiços...uau! Está tudo gravado bem aqui na minha mente – e apontou para a própria cabeça.


– Só no próximo ano, John – disse Rose, que se aproximava com outras meninas – Esse ano não poderemos participar do clube de duelos.


– Vai ter clube de duelos?


– Você é meio distraído, não é não? – e sorriu para o amigo e depois para o tio.


– Está vendo, James? É para causar esse tipo de entusiasmo que a Exibição de Duelos acontece. Vocês têm uma noção de como é duelar e devem aprender que saber perder é uma virtude.


James revirou os olhos enquanto o pai respondia a algumas perguntas das primeiro-anistas que estavam com Rose. Ele ainda estava relutante em aceitar a derrota do pai, principalmente porque já imaginava as piadinhas infames que ouviria dos sonserinos. Alvo aproveitou que o terreno estava seguro com Harry por perto e se aproximou do irmão, com o rosto corado, um largo sorriso e os cabelos bagunçados.


– Nossa! Foi demais, não foi?


James lhe lançou um olhar de desdém, que Harry não pôde deixar de recriminar.


– James...


– Pai – começou Alvo, sem jeito - Er...desculpa...se...


– Ela foi maravilhosa, não foi? Eu achei um grande duelo. Parabéns para a diretora da sua Casa, Al.


Alvo sorriu aliviado por seu pai não estar bravo por ele se sentir muito feliz com a derrota dele. Embora tenha começado uma conversa com Rose e Jonh e quisesse conversar mais com seu pai, não conseguiu ficar no Grande Salão por muito tempo. Peter e os outros garotos passaram como um furacão, arrastando-o para a Sala Comunal da Lufa-Lufa, onde os mais velhos já estavam organizando uma mega festa. Havia muita besteira para se comer e os fogos de artifício para festas de sala dos artigos Weasley eram soltos de minuto a minuto. Todos os lufos sorriam à toa e alguns se arriscavam a entoar canções bruxas.


– Será que é assim que a gente se sente quando ganha a Taça das Casas? – Timmy perguntou enquanto engolia as balas babosas emborrachadas da Dedos de Mel.


– Só pode ser! – sorriu Alvo – Eu nunca me senti assim antes.


Todos ao redor concordaram. Peter e Alvo deram uma volta inteira na sala para tentar roubar umas tiras de alcaçuz que os mais velhos estavam devorando. Enquanto caminhavam, foram parados aqui e ali por alguns alunos que nunca tinham falado com eles antes. Praticamente todos os lufos simpatizaram demais com a atitude de Alvo de comemorar a vitória da diretora da Casa, mesmo sobre seu pai. Parecia, para Alvo, que a partir daquele momento, os que ainda desconfiavam de sua lealdade com a Lufa tinham em mãos a prova de que Alvo era 100% lufo.


– Ei, o que vocês estão fazendo aí? Todo mundo está lá – disse Détrio, se referindo aos primeiro anistas.


– O Al parece que foi rebatizado porque não ficou chateado com a derrota do Prof Potter – Peter respondeu fazendo Al ficar sem graça.


– Ah, sim! – e deu uns tapinhas no colega – Foi mal, Potter, mas venceu a melhor, não é?


– Eu acho que depois que ela derrotou o Prof Pratevil já merecia ganhar, Détrio. Vocês viram a cara dele depois, disfarçando que tava tudo bem?


– Eu vi, Al! – disse Timmy, se aproximando – Ele é patético!


– Mas vamos deixar essas coisas para lá – falou Détrio, enforcando Timmy e Alvo num abraço camarada – Hoje é dia de comemoração e amanhã também, pra quem conseguir uma namorada hoje.


– Ao que parece, o Détrio já arranjou uma vítima. Coitada!


– Não enche, Peter! Que culpa tenho eu se sou charmosamente precoce?


Os outros colegas reviraram os olhos e soltaram piadinhas infames de incredulidade. Pouco tempo depois, toda a coragem de Détrio sumiu, assim como os dos seres masculinos da sala comunal. De uma forma geral, os meninos lufos não podiam se aproximar de nenhuma garota em particular sem que ¾ das pessoas desviassem a atenção para eles.


– Eu não sei quanto a vocês, mas eu vou dormir – Alvo deu uma boa espreguiçada, seguida de um bocejo.


– Qual é, Potter! Tá cedo! – Détrio reclamou.


– Fiquem aí e amanhã vocês me contam se alguma corajosa encarou o Détrio. Boa noite.


Alvo cumprimentou os amigos, brincou com Détrio e virou-se para seguir ao dormitório, contudo, acabou se chocando com Lavínega Strausse.


– Ai! – a garota por pouco não se encharcou com seu suco de melancia.


– Desculpa! Foi sem querer!


– Tá. Certo. Ei, Potter, sinto muito pelo seu pai.


– É, eu também.


– Mas foi legal você não ficar bolado com isso e festejar com a gente.


– Obrigado – e sorriu meio sem jeito, assim como ela.


– Er... Então tchau.


A menina se afastou e Alvo se viu rodeado pelos amigos.


– Vai lá puxar mais papo com ela! – Détrio incentivou.


– O que?


– Al, cara, é uma garota.


– Sério, Peter? Não tinha reparado – disse, com ironia.


– Vai lá falar com ela! Pela honra da gente! – Détrio tentou dramatizar.


– Vocês tão loucos? Ela tem cabelo rosa – falou, baixinho.


– E daí? – Timmy interveio.


– Daí que ela tem cabelo rosa. Que tipo de garota tem cabelo rosa?


– Do tipo que gosta de rosa – concluiu Peter, com certa ironia.


– Por que vocês não falam com ela?


– Qual é o problema? Tem medo de garotas? – Détrio provocou, imitando um frangote.


Os meninos tentaram abafar os risos, mas foi difícil. Alvo endureceu o olhar para o colega e se aproximou dele, levantando seu dedo indicador ameaçadoramente, numa segurança do que fazia que nem mesmo ele se achava capaz.


– Eu não tenho medo de garotas, ao contrário de você que sequer ameaçou uma conversa com alguém e fica aí cantando de galo. Não queira me empurrar pra ninguém só porque você tá se borrando de medo.


O rosto de Détrio inchou e ficou vermelho e ele ameaçou partir pra cima de Alvo, mas Peter, Timmy e Sandro, colegas de quarto, o seguraram. Peter fez sinal para que o amigo se mandasse enquanto eles acalmavam o outro. Alvo não queria discutir com Détrio, que era sempre o mais divertido da turma, mas o colega tinha sido um grande idiota. O lufo entrou bufando de raiva no dormitório vazio, trocou suas vestes e se jogou na cama, mantendo os braços sob a cabeça. Não sabia exatamente por que tinha exagerado daquele jeito, aquilo era muito mais a cara de James. Alvo sempre se sentia o inseguro ao lado da auto-afirmação do irmão. Será que aquele era um “eu” que ele desconhecia? Adormeceu imaginando como seria divertido meter o dedo na cara de James numa boa briga de irmãos. Ele ficaria chocado.


Alvo já estava no 13º sono, ganhando o Torneio de Duelos com honra ao mérito e sendo ovacionado na Sala Comunal quando as pessoas começaram a desaparecer. Um buraco surgiu no chão da sala oval, revelando uma escadaria velha e empoeirada, enquanto o garoto andava para trás a fim de evitar cair. Alvo sacou sua varinha, disse lumus e começou a descer, vagarosamente. A escada era estilo caracol e parecia que o garoto descia uma torre invertida. As janelas davam para o lado externo de Hogwarts, onde ouvia ao longe seus amigos da Lufa-Lufa. Continuou descendo e descendo até parar um pouco por conta da tontura e depois continuar. No fim do caminho não existia nada e Alvo xingou uns nomes bem feios. Uma luz brilhava na escuridão e aumentava aos poucos, chamando sua atenção. O lufo tateou à frente, mas não havia nada além de pedras. A luz agora tinha o tamanho de uma bola de basquete e até parecia uma, então o garoto resolveu esperar. De uma forma muito estranha, sabia que ela chegaria até ele. Demorou alguns minutos em silêncio no mesmo lugar até que uma bolha capaz de encobrir Hagrid saltou da parede, assustando-o. Deu vários passos para trás, procurou a escada para fugir, mas não havia nada além dele e a bolha num salão oval. Ela tinha uma luminosidade azul e parecia pulsar como vida, como se fosse um universo repleto de estrelas, mas não era nada que Alvo já tivesse visto ou ouvido falar. Uma parte dele quis tocar na coisa e a outra quis correr. O garoto se viu esticando o braço ao máximo, enquanto seu corpo se negava e envergava para trás. Com um estalo, a bolha azul se pocou e ele se atirou no chão, cobrindo a cabeça.


– Alvo, você está bem?


O garoto abriu os olhos e encarou um Peter assustado.


– O que... O que aconteceu?


– Cara, você é sonâmbulo – Détrio disse, aparentemente esquecendo a briga anterior.


– Eu não sou... Sou?


– Você fez coisas esquisitas: andou em círculos, xingou e se entortou todo – relatou Timmy de sua cama, segurando com força seu lençol de estimação e com os olhos arregalados.


– O que aconteceu? – Peter perguntou enquanto ajudava Alvo a retornar para a cama.


– Sei lá... tive o sonho mais doido do mundo.


– Como foi? – perguntou curioso Sandro, colega de quarto.


– Eu tava na sala comunal, aí todo mundo sumiu... e tinha uma torre invertida com escadas e... e uma bola de basquete trouxa e... – fitou o nada por um momento, apertando os olhos na esperança de recordar algo, mas sua mente parecia ter dado um branco – Eu não lembro de mais nada – e olhou para Peter com a expressão mais sincera do mundo.


– Como é? – perguntaram os companheiros.


– Velho...isso é muito estranho – disse Sandro.


– Só ficou estranho porque a gente descobriu que ele é sonâmbulo – Peter falou, enquanto voltava para a cama – Quando eu acordo nem lembro o que estava sonhando.


– Eu também não – concordou Timmy – Eu tento, mas não lembro de nada.


– Exatamente – reafirmou Alvo.


– Depois dessa do Al eu vou é voltar a dormir – disse Peter – E Al, da próxima vez que for dar uma de sonâmbulo, vê se não pega a varinha e ilumina o quarto todo.


Todos deram risada e voltaram para suas cobertas. Alvo encostou a cabeça no travesseiro e tentou se lembrar do sonho, mas foi em vão. Ele já tinha se perdido em algum cantinho do seu subconsciente. Deu um longo suspirou e dormiu.


O café da manhã de Hogwarts estava especial no Dia dos Namorados. Bolos de três andares com bonequinhos se beijando, tortinhas do amor que faziam a pessoa ficar com cara de apaixonado por três segundos, pudim com cauda de noiva comestível, casadinhos e beijinhos espalhados por todo lugar. Além disso, havia um poleiro de cupidos que ganhavam vida a um simples acendo de varinha, iam até a pessoa, recebiam o recadinho, disfarçavam muito bem e entregavam ao seu destinatário. Mas nada dava tanto o que falar quanto Pirraça, que saía pelo Castelo acertando flechadas de paixonite aguda nos descuidados. Aparentemente, alguém havia deixado o material encantado à mercê do poltergeist e quem fosse atingido passava cinco minutos declarando seu amor à primeira pessoa que visse: fosse menino ou menina. O constrangimento foi tanto que Minerva solicitou ao Barão uma ajudinha.


A maioria dos casais da escola estava esperando a visita ao Café Madame Poddifot para entregar seus presentes, mas, enquanto isso, pareciam entregues a um grude matinal sem fim. Lena estava tão agarrada a James que pareciam siameses. Jonathan e Rose chegaram mais tarde do que de costume e estavam sentados na mesa da Lufa-Lufa a fim de evitar a animação dos amigos grifinórios que iriam para Hogsmeade. Peter contava com ar divertido o ataque de sonambulismo do amigo, que engolia o café da manhã, constrangido.


– Não sabia dessa sua habilidade especial, primo – disse, em meio a risadas.


– Eu não sou sonâmbulo.


– Verdade, verdade – interveio Peter, levantando a mão e pedindo a atenção – Você só falou sozinho no quarto, andou em círculos e fez contorcionismo. Claro, o fato de estar sonhando não tem nada de importante.


– Definitivamente, não é sonambulismo – completou John e todos caíram na gargalhada, inclusive o próprio Alvo.


– Tio Harry já sabe disso? Oh, Merlim, James já sabe disso??


– Rosie... – Alvo falou em tom de ameaça.


– Eu sou sua prima, Al. Que tipo de parente eu seria se não espalhasse para toda a família?


– Do tipo amigona.


Rose deu um sorriso bem maroto.


– E é exatamente por isso que Hogwarts inteira ainda não sabe.


– Rá, rá! Muito engraçado – disse Al desgostoso, enquanto os outros riam dele.


– Olha! – Peter cutucou John – Os sonserinos chegaram. Sua irmã não deveria estar com eles? Ou será que ela está com o corvinal? – disse, com tom de brincadeira.


– Pare com isso! – disse o amigo, sério. John olhou chateado para o colega e depois encarou os dois sonserinos na porta – Na certa ela já tomou café antes da gente chegar. A pontualidade dela é irritantemente britânica, acredite.


Malfoy e Macbeer chegaram mais tarde do que o usual para o café da manhã, trajando roupas de moda bruxa sem deixar faltar o verde da Sonserina. Na realidade, eles gostariam muito de evitar a euforia de quem iria para Hogsmeade, embora Deymon já conhecesse o lugar. Eles mal puseram os pés no Salão Principal e um grupinho de garotas, a maioria corvinais, se aproximou deles, fazendo-os recuar alguns passos e trocar olhares confusos.


– Fala você! – cutucou Stella, do 1º ano da corvinal.


– Não, você! – retrucou sua colega Lola.


– Ai! Deixa que eu falo! – uma terceira garota também da corvinal, contudo um pouco mais velha, resolveu tomar a frente – Hum... Oi!


Assustados, os meninos olharam com desconfiança para as garotas.


– Vocês estão falando com a gente? – Khai perguntou.


– Não, com a porta. Claro que estamos falando com vocês! – disse, impaciente, a menina mais velha.


– O que vocês querem? – disse Malfoy, um pouco rude.


– É que a gente não viu o Tiago ainda e queríamos saber se vocês sabem onde ele está.


– Eu tenho cara de babá de corvinal?? – Khai falou irritado – Pouco me importa o que ele faz ou deixa de fazer.


– Mas vocês andam juntos o tempo todo. São amigos, não são? – perguntou, inocente, Lola.


Malfoy respirou fundo enquanto os olhos de Khai quase saltaram das órbitas de raiva.


– Temos... negócios em comum – Deymon falou, desgostoso.


– E...hum...esse negócio seria a Dumbledore? – Stella perguntou esperançosa.


– É claro que não! – esbravejou Khai.


– Então eles não estão namorando? – uma quarta garota, da lufa-lufa resolveu falar.


– Você é surda? Não! – Khai assumiu uma postura de briga, fazendo o grupinho recuar – Agora saiam daqui antes que eu azare vocês!


– Vocês ouviram – Deymon completou, seco – Por que não vão procurar ele lá fora?


Os garotos passaram pelo grupinho empurrando-as e ignorando os chiliques que elas começaram a dar. Sentaram na mesa como se nada tivesse acontecido, mas tinham atraído uma certa atenção com o incidente da porta e agora recebiam olhares tortos de todos os lugares do Salão.


– Que saco! – disse Deymon, largando o talher com força no prato – Até quando ele não tá com a gente é como se estivesse.


– A gente tem que dar um jeito nele, Malfoy. Ele nem foi de grande ajuda naquilo.


– Ele deu a informação, Khai. E eu dei minha palavra que ele ia andar com a gente.


– E daí? Você foi chantageado – sussurrou.


– E daí que eu dei minha palavra, Macbeer. Ponto final.


– Por mim a gente acabava com ele – disse o colega colocando um pedaço de tortinha de amor na boca, sem saber e quando voltou a si, Malfoy estava rindo – O que foi?


– Nada. Vi uma coisa engraçada...na outra mesa.


– Vê a Lizzie? – disse, ainda de boca cheia.


– Não. O irmão dela tá ali com aquele grupinho. Ela já deve ter comido e se enfurnado na biblioteca. Depois de comer, a gente procura ela.


Malfoy serviu-se de tudo na mesa, exceto a torta que Khai insistia para o colega provar. Assim que se deram por satisfeitos, ambos se levantaram e seguiram para fora do Salão, com uma expressão feliz. Os rostos dos garotos foram se tornando duros quando as mesmas meninas do início retornaram da área externa com braços cruzados, nitidamente revoltadas, e pararam na frente deles.


– Mentirosos! – disse Stella.


– Como é que é? – perguntou Malfoy, ofendido.


– É isso mesmo! Mentirosos! – confirmou a outra menina.


– Qual o problema de vocês? Ficaram malucas, foi? – Khai falou.


Uma das meninas ameaçou avançar no garoto, mas foi impedida pela colega.


– Vai me dizer que vocês não sabem que a Elizabeth tá namorando com o Tiago?


– O que??? – disseram, surpresos, em uníssono.


Khai mergulhou numa profunda apatia repentina, enquanto Deymon ficou muito irritado.


– Elizabeth não namora aquele garoto.


– E o que ela está fazendo lá fora com ele, debaixo de uma árvore? Com risinhos e tudo?


– Conversando – o garoto deu de ombros.


– Ninguém conversa juntinho daquele jeito em pleno dia dos namorados – constatou a corvinal mais velha.


– Elizabeth não namora ele, já disse. Ele é um idiota! – continou defendendo a amiga.


– Mas ela está – insistiu Stella.


– E por acaso vocês viram eles se beijando? – as meninas trocaram olhares confusos que as denunciaram – Estão vendo? Vocês é que são burras demais pra entender alguma coisa, não é Khai? Khai??


As meninas começaram a discutir com Malfoy e ele deu pouca importância ao que elas diziam. Notou que o colega não estava ao seu lado e logo imaginou que ele engoliu a pilha das meninas, indo conferir com os próprios olhos. O garoto deu as costas para o grupinho escandaloso e foi em direção à área externa. Evidente que eles sabiam que Elizabeth não achava nada demais no corvinal, mas o sonserino temeu que o colega enxergasse com o sentimento equivocado. Há tempos Deymon desconfiava que Khai tinha uma queda pela colega e isso, aliado a uma pré-disposição a odiar o chantagista, era uma combinação explosiva. Contudo, o encontrou a poucos passos da escada de acesso, paralisado em choque com os olhos fixos em um determinado casal.


Certamente, Deymon esperava qualquer coisa, exceto aquilo: os dois estavam juntinhos, sorrindo abertamente e tecendo calorosos comentários sobre algum livro. Por vezes, o garoto enconstava a cabeça no ombro da sonserina ou colocava um doce diretamente em sua boca, enquanto ela lhe afagava os cabelos loiros. Malfoy sentiu seu corpo estremecer em desagrado com aquilo e olhou para o colega: Khai tinha o punho fechado com força. Com certeza a cena não acabaria bem.


Deymon voltou a observar os dois e reparou que cada vez que uma garota da escola chegava para espiar o atípico casal, eles intensificavam os carinhos. Uma idéia passou pela cabeça dele e o fez sorrir. Nesse momento, o corvinal ajeitou gentilmente uma mecha do cabelo da sonserina para trás da orelha, olhando disfarçadamente para o lado. O grupinho que recentemente irritara Malfoy agora soltava grunidos de raiva. Deymon matou a charada, entretanto Khai não resistiu e virou-se com raiva, partindo para dentro do Castelo. Pouco depois de se divertir às custas dos outros, de braços cruzados e sorriso aberto, o sonserino notou que estava só.


– Khai? – olhou ao redor e nada viu.


Malfoy retornou para o Salão Principal, mas não viu o colega. Não havia ninguém no hall do lado de fora exceto aquelas meninas irritantes que certamente viram para onde ele foi, mas o garoto não lhes dirigiria a palavra. Resolveu procurá-lo na sala comunal, no dormitório, na biblioteca, no banheiro da Murta, no corujal, enfim, onde fosse preciso para encontrá-lo. Se seu palpite estivesse certo, estar com o pseudocasal hoje seria um martírio. Além disso, embora não assumisse, estava receoso de que o colega tivesse realmente se magoado. Entrou na Câmara das Passagens justamente quando a diretora McGonagall anunciava a partida para Hogsmeade.


– Os alunos com autorizações dos responsáveis que farão a visita à vila de Hogsmeade, por favor, dirijam-se aos diretores de suas respectivas Casas na saída. Eles irão conferir a autenticidade das assinaturas. Lembrando que os alunos do 1º e 2º anos permanecerão no território da escola.


Do lado de fora, Lizzie e Tiago observavam os alunos atravessarem a ponte suspensa em direção à vila.


– Até que enfim! Pensei que eles não iam embora nunca.


– Lizzie... obrigado pelo que você está fazendo por mim.


– Não tem nada que agradecer, Tiago. Você ainda me deve 3 galeões e aquele livro sobre fantasmas que você me falou.


– Eu sei, eu sei. Mas você podia ter se negado.


– E perder a oportunidade de ser odiada por todas as meninas do 1º e 2º anos? – e sorriu, divertida.


– Se não fosse por você elas ficariam no meu pé.


– Verdade. Eu vi algumas até com poção do amor na mão. Por isso você contratou meus serviços até o fim do dia, namorado fake.


– Acha que Macbeer e Malfoy vão implicar?


– Deymon eu acho que já entendeu pela cara dele naquela hora e depois ele explica pro Khai. Além disso, são negócios, Tiago. Eu não preciso da aprovação deles pra fazer ou não o que eu quero. Já cansei de ficar aqui. Vamos lá no Hagrid?


– Claro.


Os dois desceram o caminho para a cabana do Guarda-Caças de braços dados, decepcionando as meninas que ainda tinham alguma esperança. Passaram o resto do dia tomando chá e fingindo comer bolinhos, enquanto escutavam as histórias de Hagrid sobre a Floresta. A tarde ainda reservou uma pequena discussão do pseudocasal com Jonathan num corredor e uma partida de priscobol de Alvo e alguns amigos na área externa. Apesar dos acontecimentos estranhos que aconteceram na escola, havia agora uma atmosfera de bonança. Malfoy não conseguiu encontrar o colega e grande parte dos alunos que foram para Hogsmeade já estavam de volta. Se cansou e desistiu de procurar quando esbarrou com Khai na esquina do corredor do 4º andar.


– Que bosta de dragão! Te procurei o dia inteiro! Onde você se enfiou?


– Eu tava por aí – disse, desanimado.


– Pensando idiotices, com certeza.


O garoto ergueu os olhos para o colega, magoado.


– Por Merlim, você está assim por causa daquilo no jardim?


– Malfoy, como ela pôde? Ele é um idiota, um chantagista, um... Como ela pôde, Malfoy? Depois daquilo que fizemos no dia do quadribol?


– Shh! Você tá louco, Khai? – disse, tapando a boca do colega e olhando ao redor – Quer que alguém descubra, seu idiota? – sussurrou – Cara, você tem que aprender a manter esse bico calado. Para a sua informação, Lizzie só estava fingindo.


– É?


– Você não consegue enxergar um palmo diante do nariz. Vamos, anda logo. A essa hora ela já deve estar no dormitório.


Minutos depois, dois vultos saíram detrás da tapeçaria do mesmo corredor. Os dois garotos estavam pálidos e em choque, com os olhos arregalados e tapando a boca, em descrédito. Oliver e James tinham pego um atalho pelas passagens secretas e, sem querer, ouviram a conversa dos garotos.


– Eu não acredito! Eu sabia que tinha alguma coisa estranha, Oliver. Eu te disse!


– Cara, não acredito. Eles trapaçaram!


– Mas não vai ficar assim, Olie. Eles vão me pagar muito caro. Foi aquele bolinho, cara. Aquele maldito bolinho, lembra? Foi a coisa mais diferente que comi. Você lembra a cara do menino que entregou aquele pacote?


– Foi um novato, com certeza. Se eu vir o rosto dele lembro, com certeza.


– Vem. Nós vamos resolver essa parada com a diretora amanhã bem cedo. Eles me pagam! Sonserinos trapaceiros de uma figa!


Os dois chegaram na sala comunal com as mãos fechadas e os olhos saltando faíscas de raiva atrás do primeiro anista. Como não o encontraram, resolveram reunir o time de quadribol num lugar reservado do lado de fora e contar tudo o que haviam descoberto. Rose conversava sobre invenção de feitiços quando viu o grupo passar. Assim como todos os outros achou que o primo já tinha criado uma nova estratégia de jogo e queria se reunir o quanto antes. A garota estava tentando resistir à tentação de falar algo relacionado a Tiago e Lizzie, por consideração ao amigo, que já estava bastante chateado com a situação. Ela ficou um tempo na Sala Comunal bufando, fazendo caretas e suspirando alto enquanto terminava uma redação sobre o Bicho Papão para DCAT. Após se despedir de Jonathan, que ainda estava terminando o primeiro parágrafo, Rose subiu as escadas em direção ao dormitório feminino. Mal abriu a porta do seu quarto quando recebeu um travesseiro voador na cara. Ainda em choque e boquiaberta, viu Barbra se aproximar com o sorriso mais maroto do mundo.


– Já soube da novidade? Angélica tá namorando!


– Não tô nada. Pára!


E outro travesseiro voador assassino passou a centímetros de distância da colega que saiu saltitando pelo quarto.


– Tá namorando! Tá namorando!


Logo Tina e Flicka também entraram no coro, fazendo Angélica corar como um pimentão vermelho. Rose havia fechado a porta e sentado em sua cama, muito curiosa, ao lado da colega.


– Quem é seu namorado, Angélica?


– É brincadeira delas, Rosie! Eu não tô namorando.


Foi Barbra quem, novamente, puxou o coro.


– Com quem será? Com quem será? Com quem será que Angélica vai casar? Vai depender. Vai depender. Vai depender se... Gustav vai querer!


Angélica revirou os olhos.


– Tá namorando o Gustav?


– Não, Rosie.


Barbra se jogou na cama ao lado de Rose e piscou os cílios rapidamente para a colega.


– Ele roubou um beijo dela que eu vi.


Angélica ficou vermelha de novo e Rose sorriu, surpresa.


– Sério?


– Seríssimo, minha querida. Eu queria saber uma magia para compartilhar a imagem que eu tenho aqui na minha cabeça. Aê! A Angélica não é mais BV! – e todas riram.


– Mas a gente não se falou depois disso.


– Claro! Vocês são dois envergonhados. Pelo menos ele teve coragem de roubar um beijo. Eu acho que você devia falar com ele agora. É a sua vez.


– Eu também acho, Barbra. Ele não vai saber o que você achou se você não falar com ele.


– Sim, Tina, mas eu vou falar o que? Na frente dos amigos dele?


– Escreve uma cartinha e marca um encontro, longe dos amigos. Quem sabe ele não rouba outro beijo? – Flicka disse marota e todas riram, novamente.


Conversaram exaustivamente sobre o que escrever, fantasiaram como seria o encontro e desejaram boa sorte para a amiga. Rose estava separando as vestes do dia seguinte quando Tina Rossalvo lhe cutucou.


– Toma.


– O que é isso?


– Aquela revista que prometi, lembra? Duas Faces, edição especial da Madame Bisbiota. Aquela que foi proibida de circular. Bom, é apenas uma cópia dela.


– Ahh!


– Desculpa a demora, mas tive que mandar várias corujas para minha tia para convencer que era caso de vida ou morte.


– Não precisava tanto. Mas obrigada, Tina. Vou ler depois, agora estou com sono. Boa noite.


Pela manhã, Rose desceu as escadas junto com as garotas que passaram pelos meninos dando risadinhas. Eles começaram a dar socos e empurrões no colega, ovacionado-o e logo depois seguiram para a aula. Rose se despediu das meninas e ficou esperando Jonathan, que tinha vestido a roupa ao contrário de tanto sono que tinha. Havia demorado para terminar a redação. Oliver passou por ela, deu bom dia e depois retornou.


– Rose, hoje sua primeira aula é de que?


– História da Magia. Por quê?


– Ah, nada! Você está com uma expressão de bom humor e pensei que o milagre do quadribol tinha acontecido com você.


– Engraçadinho!


Alguns minutos depois Jonathan apareceu, esbaforado e vermelho.


– Tá certo agora?


– Tá sim, seu distraído! - e sorriu.


Rose e Jonathan caminhavam com os alunos do primeiro ano da Corvinal para a aula de História da Magia, animados como sempre. Rose estava acostumada a ser a mais entusiasmada com os estudos, mas tinha horas em que o jovem Dumbledore a superava. O garoto conversava extasiado sobre o reflexo da Revolta dos Duendes no desenvolvimento de leis específicas para a categoria quando foi interrompido por um empurrão vindo de trás.


– Desculpe – disse Tiago – Oh! – constatou sem graça que se tratava do irmão gêmeo não satisfeito com o estado “ficante” dele com Lizzie.


– É. “Oh”! – respondeu, ríspido.


– Desculpe – repetiu – É que empurraram alguém lá atrás e... Enfim, desculpe – e seguiu adiante.


– Parece que ele tá pedindo mais desculpas pela Lizzie do que pelo esbarrão – sorriu Rose.


– O que é que seu primo está fazendo? – John apontou para o corredor, ignorando a frase da amiga.


Rose olhou para trás e viu James pegando Finelius Flowerwet, um grifinório do primeiro ano, pela gola da camisa e arrastando-o para o lado inverso da aula. Não parecia nada amigável. A garota abriu caminho pelo mar de alunos, com John ao seu lado.


– James! James!


Ele olhou para ela, mas continuou andando. Ao se aproximar do primo, notou que alguns membros do time de quadribol o acompanhavam e tinham as mesmas caras enfezadas.


– James, o que você está fazendo com o Finelius?


– Weasley... – a cara de súplica do menino era incontestável.


– Não se meta, Rose. Isso é um assunto de quadribol e você não sabe nada sobre isso.


– Não é que eu não saiba, James, eu só não vejo tanta graça. E o que é que ele tem a ver com quadribol?


– É melhor vocês voltarem para a sala – disse Oliver com calma, enquanto os outros continuavam seu caminho – Nós só vamos resolver um mal entendido e depois ele volta.


– Mas...


– Depois você fica sabendo – insistiu Oliver.


– Vem, Rose. Não vai adiantar nada. Vamos – e puxou a amiga pelo braço.


– Isso não está me cheirando bem, John.


– O Finelius deve ter derramado suco de abóbora na vassoura de alguém. Do jeito que ele é distraído, é bem capaz. Não acho que eles vão machucá-lo.


O primeiro anista parecia ainda menor, caminhando no meio do time de quadribol da Grifinória. Estava assustado, com medo e olhava desesperadamente para os lados, em busca de um salvador. Não sabia o que tinha feito de errado e as pessoas no corredor apenas abriam caminho para a comitiva.


– Pra-pra onde vocês estão me levando?


– Já descobrimos tudo e agora você vai falar com a diretora – disse James, categórico.


– Do... do que é que vocês...


– Ah! Não banque o inocente. Lembro muito bem que foi você quem me entregou um pacotinho com um bilhete no dia do jogo de quadribol. Ou vai ter a cara de pau de mentir na minha frente?


O garoto engoliu a saliva com dificuldade, enquanto confirmava que tinha sido ele.


– Como você pôde trair sua própria Casa? Ainda por cima com os sonserinos??? – esbravejou revoltado Hugh Breaksville, batedor.


– Menos, Ville – disse Oliver, alcançando o grupo e tocando o ombro do colega.


– Eu... eu não fiz isso – Finelius tentou se defender.


– Não adianta mais mentir, garoto. James ouviu a conversa dos sonserinos sobre “Depois daquilo que fizemos no dia do quadribol?” – relatou Bob Ho.


– E foi justamente nesse dia que ele teve um mal estar super estranho – concluiu Georgina.


– Mas eu... mas eu...


– Vamos para a sala da diretora McGonagall resolver tudo. Ninguém pode enfeitiçar uma comida e dar para um estudante e ficar por isso mesmo. Quero aqueles sonserinos explusos daqui! – falou James, com os dentes trincados – E você vai contar como eles te convenceram a fazer isso – completou, com faíscas nos olhos.


O pequeno grifinório queria dizer que não tinha visto os sonserinos que James afirmava serem os culpados, que não fazia idéia do mal ao time que causaria apenas entregando o presente e que morria de medo de parar na sala da diretora. Contudo, diante do olhar assassino do capitão do time de quadribol, achou que confirmar tudo era a melhor saída para continuar vivo.


Caminharam a passos ritmados e apressados em direção ao 7º andar, onde ficava a estátua que guardava a entrada da sala da diretora. A dois corredores de alcançá-la, o silêncio cortante foi interrompido por um miado agudo. Todos sentiram o corpo estremecer, exceto James. Ele já contava com o surgimento de Madame Norra. Segundos depois, vindo Merlim sabe de onde, apareceu o zelador Argo Filch, com uma expressão contorcida que a muito custo lembrava um sorriso de prazer.


– Muito bem, minha querida! Pegamos esses alunos fora das salas de aula. Serão expulsos, ah, serão! Vou levá-los agora para a sala da diretora.


– Ótimo! – disse James, dando um passo à frente, com o primeiro anista a tiracolo.


O zelador olhou desconfiado para o garoto. Conhecia de longe as artimanhas daquele Weasley Potter e não gostava nem um pouco da expressão impetulante em seu rosto. Onde Hogwarts iria parar se os alunos não se importavam mais em quebrar as regras e sofrer detenção? Cada vez mais Filch sentia falta dos castigos de antigamente, com correntes e frias noites nos calabouços, ao som de gritos de horror.


Em pouco tempo a comitiva estava subindo as escadas de mármore que davam para a porta da sala da diretora. Argo bateu 5 vezes, ansioso.


– Entre, Sr Filch – disse uma voz cansada.


– Com licença, diretora. Encontrei esses meninos fora da sala de aula.


Minerva McGonagall ergueu a mão requerindo um momento. Escrevia em um pergaminho com sua pena branca de cisne negro algo que, a julgar pela sua expressão, parecia muito importante. Assim que terminou, enrolou calmamente o pergaminho, como num ritual, lacrou com o símbolo da escola e entregou a uma coruja parda, ansiosa por sua nova missão. Só então ergueu os olhos para o curioso grupo diante de si.


– É melhor terem um bom motivo para que todo o time de quadribol da Grifinória esteja nesta sala.


– Viemos fazer uma denúncia – James disse, seguro de si.


Os olhos cansados da diretora pousaram no pequeno aluno, espremido entre os colegas e de olhar no chão. James tocou o ombro do garoto e o fez avançar postando-se à frente do grupo.


– Diretora McGonagall, a senhora sabe das circunstâncias estranhas em que passei mal no útimo jogo. Eu, assim como meus colegas, achavámos que tinha sido apenas um grande azar, mas ontem eu e Wood ouvimos, sem querer, uma conversa suspeita. Os senhores Malfoy e Macbeer deixaram escapar “depois daquilo que fizemos no dia do quadribol?” – e gesticulou com as mãos para salientar a fala dos outros – Então eu pensei: o que aconteceu de diferente nesse dia? É aí que ele entra – disse, empurrando o garoto para frente – Conta o que você sabe para a diretora.


O garoto piscou nervosamente e se demorou a fixar seus olhos em algum objeto na sala. Mexia as mãos e sentia vontade de vomitar.


– O que aconteceu, Sr Flowerwet?


Por mais que o tom da voz de Minerva parecesse amigável, o garoto sentiu seu corpo retesar em pânico: a diretora sabia o seu nome.


– E-e-eu... eu entreguei um presente... e...e ele tava enfeitiçado, mas eu juro que não sabia de nada, diretora!


– Calma, calma, criança. E todos vocês também – disse, diante da indignação expressiva dos outros – Sr Flowerwet, como foi que você conseguiu esse presente?


– Eu me atrasei para o café no dia do jogo e quando passei palo retrato da Mulher Gorda, ele estava flutuando bem na minha frente, com 1 galeão em cima. Tinha um bilhete com letra de menina que dizia para entregar pra ele e ficar com a moeda.


– E você viu quem estava fazendo o presente flutuar?


O garoto titubeou com a pergunta. Mexia com as mãos nervosamente enquanto evitava olhar para o rosto inquisidor da diretora. Contudo, se deparava com a expressão inquieta de James. Podia-se ler facilmente “vamos! Fale!” no rosto do capitão. Antes que Minerva perguntasse pela segunda vez, ele respondeu:


– Er... eu... vi... mas assim, eu não tenho certeza de quem era não.


– Sr Potter, não vejo nenhuma prova que incrimine os estudantes que citou.


– Mas diretora, eu ouvi eles conversarem. Eu tenho certeza de que se a senhora investigar vai descobrir que os sonserinos trapacearam.


– Sr Potter, sugiro que modere suas acusações. Até onde eu sei, uma conversa entreouvida não prova nada. Posso investigar, contudo, todos vocês, especialmente o senhor, Potter, estão prontos para assumir as consequências?


O grupo trocou olhares significativos, certos de que seriam vitoriosos e concordaram.


– Sr Filch, poderia fazer a gentileza de trazer os senhores Malfoy e Macbeer e... a senhorita Dumbledore até minha sala?


Diante do último nome citado uma onda de cochichos se espalhou na sala. Os quadros dos ex-diretores que pareciam em sono eterno agora remexiam-se. Todos, exceto um: Alvo Dumbledore continuava com as mãos cruzadas sobre a barriga e a expressão tranquila de quem dormia. Ignorando o ruído ao redor, Minerva prosseguiu:


– Devo supor que ainda possua a moeda, Sr Flowerwet?


– Sim, senhora.


– Seus amigos tocaram nela?


– Não, senhora.


– Sr Wood, poderia acompanhá-lo até o dormitório para que ele traga o galeão? – o garoto assentiu – No fim deste corredor você encontrará um adulto para acompanhá-los pelo trajeto. Enquanto a vocês, sentem-se.


Cadeiras surgiram do nada e os grifinórios se instalaram em silêncio. Alguns minutos depois, Wood retornou com o primeiro anista e, pouco depois, o barulho da porta se abrindo despertou o ex-diretor Dumbledore, que se espriguiçou e pareceu se entreter com a própria barba. Assim que os sonserinos se depararam com o time de quadribol no canto da sala e o menino que entregou o presente a Potter no dia do jogo, souberam que estavam bem encrencados.


– A srta Dumbledore conseguiu um passe para a Ala Hospitalar, mas já vou trazê-la, diretora.


– Sr Filch, caso a Madame Pomfrey não libere a criança, não quero que insista.


– Sim, diretora – disse, a contragosto e fechou a porta atrás de si.


– Bom dia Sr Malfoy e Sr Macbeer. Hoje eu recebi uma denúncia acerca do jogo de quadribol entre Grifinória e Sonserina. Como se trata de um assunto que reflete na formação do caráter dos senhores, devo averiguar. O fato é que o Sr Flowerwet entregou um presente sem identificação do remetente ao Sr Potter e ele alega que a origem vem dos senhores.


– Isso mesmo! – bradou o time da Grifinória.


– Senhores e senhoritas, peço que permaneçam em silêncio – disse, austera e depois se virou para os sonserinos – Esta é uma acusação muito séria que pode levar à expulsão – ameaçou e os dois alunos ficaram pálidos – Contudo, posso atenuar a punição se a verdade vier à tona por espontânea vontade. Os senhores têm algo a dizer?


– Diretora – começou Malfoy – Nós não fizemos nada. Nesse dia passamos a manhã no Salão Principal com os sonserinos. Não há nenhuma prova contra a gente. Isso é um absurdo! Meu pai ficará sabendo.


– Mentirosos! Caras de pau! – começaram a gritar os grifinórios.


– Vocês que são mau perdedores! – Malfoy bradou de volta.


– Senhores, não vou admitir discussões na minha sala. Mais uma palavra e tirarei 30 pontos de cada um – todos abaixaram a cabeça e ficaram em silêncio – Sr Flowerwet, poderia me trazer o galeão que você encontrou junto com a caixa?


O garoto caminhou lentamente pela sala, até a mesa super organizada da diretora e depositou a moeda dourada.


– Os senhores têm certeza de que não têm mais nada a acrescentar? – disse mais uma vez, olhando para os sonserinos.


A diretora tinha quase certeza que, de fato, aquelas crianças estavam envolvidas no incidente. Embora não pudesse ficar provado que o bolinho realmente estivesse enfeitiçado. Em seu íntimo torcia para que os grifinórios estivessem equivocados, pois aquilo arruinaria os planos que tinha em mente. Diante do silêncio dos sonserinos não teve escolha: puxou calmamente sua varinha e murmurou para a moeda.


Reverto Possessor!


A moeda adquiriu um brilho intenso e flutuou em direção a Finelius que, a um aceno de cabeça da professora, pegou o galeão. A diretora lançou um olhar significativo aos garotos acusados no canto da sala e notou que eles trocavam olhares. Esperou alguns segundos, na esperança de que contariam a verdade, mas nada aconteceu. Triste, agitou a varinha mais uma vez, sem dizer uma palavra, e o galeão saltou das mãos do grifinório em direção a Khai e ficou tocando-lhe o braço, insistindo para que o garoto a pegasse. Os grifinórios abriram sorrisos vencedores enquanto os sonserinos trocaram olhares entristecidos. Certamente seriam expulsos.


– Este feitiço revela o último dono de um determinado objeto. Sr Macbeer, antes que esse galeão chegasse às mãos do Sr Flowerwet, o senhor o manipulou. Imagino que saiba o quanto isso é grave – disse, séria.


– A moeda é minha – falou, de repente, Malfoy.


A diretora se espantou com o subido acesso de amizade do sonserino, enquanto o sorriso de satisfação nos lábios de James aumentou. Aquilo estava saindo melhor do que ele esperava.


– Evidentemente, a senhora sabe que Macbeer não tem condições financeiras de esbanjar galeões. A moeda é minha. Pode me expulsar, diretora.


– Não! Malfoy! Mas a idéia foi minha! – mentiu Macbeer.


– Cala a boca, Khai! – bradou o colega.


– Aposto que a Dumbledore também tem a ver com essa trapaça! – gritou James para a diretora.


– Ela não tem nada a ver com isso! – disseram, em uníssono, os sonserinos.


Um silêncio constrangedor surgiu logo após, pela defesa efusiva dos garotos. Ficou óbvio, pela expressão dos dois que, apesar de cada um querer assumir a culpa para livrar o outro, ambos queriam defender Elizabeth. Nesse instante, a porta da sala se abriu e todos os olhares se voltaram para a cena: Argo Filch puxava com certa força uma menina que lutava desesperadamente para não entrar.


– Por favor... Você não entende... – suplicou pela última vez.


– Filch, solte a criança e Elizabeth, me desculpe querida, mas foi necessário.


A garota caminhou alguns passos inseguros, ouvindo sussurros que se espalhavam como um turbilhão, vindo de todos os lados. Encontrou o olhar dos amigos, notou o time de quadribol no canto oposto e o menino que havia entregado o bolinho enfeitiçado. Pela expressão de todos, o plano tinha sido descoberto e eles estavam em maus lençóis. Evitou a todo custo olhar adiante, acima da diretora, mas a curiosidade foi mais rápida do que a razão e, por alguns segundos, seus olhos encontraram o retrato de Alvo Dumbledore, na ponta da cadeira, com um olhar surpreso e feliz, contudo, ao mesmo tempo, parecia analisar a garota. Elizabeth desviou rapidamente o olhar para o chão e depois para os colegas. Eles estavam bem encrencados e, apesar de ter seus próprios problemas pessoais, ela não poderia deixar que eles fossem expulsos. Em seus piores pesadelos a garota tinha pensado nessa possibilidade e respirou fundo antes de fazer o que tinha que ser feito:


– Já descobriram tudo, não é?


– Lizzie! Shh! – disseram os colegas baixinho, fazendo gestos para que ela se calasse.


– Você está envolvida nisso, srta Dumbledore?


– Sim, senhora – disse, mexendo nervosamente com as mãos.


– Elizabeth! – bradou Malfoy, a plenos pulmões.


– Eu... Na verdade... A culpa é minha – e olhou de relance para Potter, encarando imediatamente os pés.


– Lizzie, não faz isso – pediu Khai – Diretora... – o garoto tinha um olhar de súplica tão verdadeiro que Minerva ficou sem reação – A culpa é minha, só minha.


– Não seja idiota, Khai. Tem a carta... Eu... – olhou de novo para Potter e depois para a diretora – Eu que escrevi.


A diretora, que estava apreensiva e tinha uma postura mais dura, pareceu relaxar um instante. Um meio sorriso apareceu em seus lábios, mas o desfez antes que alguém pudesse notar. Minerva sabia que seria um caso muito difícil de ser verdade, mas aquilo era a melhor saída para o bem maior. Não poderia deixar que tudo o que tinha lutado e planejado fosse em vão.


– Foi você quem fez a poção para enfeitiçar o Sr Potter? – perguntou, fazendo-se de séria.


– Hã? Que poção? – se espantou, com uma veracidade absurda – Diretora, do que é que vocês estão falando? – e olhou para os grifinórios e depois para os sonserinos.


– A poção para me tirar do jogo!


– O que? Mas eu... Mas... Então é por isso que estão aqui? – olhou, surpresa, para os colegas – Diretora, não tem poção alguma. Eu não fiz poção nenhuma, muito menos coloquei naquele bolinho. Eu não... Eu não faria...


– Elizabeth! – recriminou Malfoy, captando os pensamentos da amiga – Não faça isso.


– Mas Malfoy, isso é ridículo! Ele está nos acusando de sermos os culpados pela perda da partida? – olhou com descrédito para o capitão do time – Eu não acredito – disse, desapontada.


– Todo mundo sabe que você é boa em poções! Você colocou uma poção atordoante naquele bolinho! – bradou Potter.


– Eu não fiz isso.


– Você me enviou aquele bolinho!


– Eu...foi.


– E escreveu aquela carta!


– É...


– Diretora, isso não é óbvio? – argumentou.


– Sim, Potter. É tão óbvio que você não consegue enxergar.


Elizabeth encarava o chão, fazendo a melhor cara de garota-que-tem-seu-diário-lido possível. Tinha muito que agradecer aos filmes trouxas. Mexia nervosamente as mãos e batia com os pés no chão, olhando de relance, sem graça, para todos na sala.


– Sr Potter – continuou a diretora – O que dizia o bilhete dentro do bolinho?


– Que... Que ela era minha fã de quadribol, que desejava boa sorte, que tinha o recheio que eu gostava e... e... – olhou para a garota como se visse um verme-cego se transformar em hipogrifo – Você só pode tá de brincadeira!


Os grifinórios estavam de boca aberta, assim como Khai, que finalmente tinha entendido tudo. Malfoy cutucou o colega para que ele mudasse de expressão e, embora a diretora tivesse notado, fingiu que não. Minerva tinha certeza de que a garota estava mentindo para proteger os amigos e aquilo tinha algum valor, sem falar que salvava a diretora de uma situação bem complicada.


– Diretora... Eu não acredito! Só pode ser uma armação, diretora. Eles estão armando! Isso é... Isso seria contra a natureza!


– De que natureza o senhor está falando, James Potter? – levantou-se séria e com toda a autoridade e altivez inerentes a um diretor de Hogwarts – Estaria o senhor se referindo à absurda idéia de que alunos da Grifinória e Sonserina não podem ter um relacionamento? Mais do que nunca, é preciso desmitificar essa lenda de que os sonserinos são escolhidos para esta escola por razões distorcidas. Salazar Sonserina construiu Hogwarts como homem de valor e tinha sua visão de mundo que foi respeitada pelos outros diretores. Não é porque alguns ex-alunos da Casa fizeram escolhas não convencionais no passado que devemos projetar esse ranço nos novos. A Sonserina é uma Casa tão digna quanto a Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa e eu pretendo garantir que todos saibam disso. Vocês, jovens, têm a chance de mudar essa resistência criada pelos adultos, mas se deixam envolver pelas conversas sobre o passado e não vêem que o presente é diferente. Se continuarem assim, que tipo de sociedade teremos no futuro? Que tipo de pessoas seremos? A intolerância leva a guerra, que gera baixas terríveis. Mas a compreensão de que somos diferentes e o respeito mútuo pode nos levar à paz. Não deve existir a divisão entre bruxos das trevas e os outros. Somos todos bruxos.


Um barulho ensurdecedor, como se toda a vidraça se quebrasse ao mesmo tempo invadiu o ouvido de todos. Foi então que notaram se tratar dos aplausos de pé dos ex-diretores de Hogwarts:


– Bravo! Muito bem! Excelente discurso! – diziam, orgulhosos.


McGonagall agradeceu a todos pelo elogio e sentou-se, para dar fim àquela situação. Embora os sonserinos de fato terem feito uma brincadeira de mau gosto com os grifinórios, aquilo era puro reflexo da rivalidade exacerbada entre as Casas. Eles eram culpados, mas também eram vítimas. Mas a defesa da amizade que a diretora presenciou lhe deu esperanças de que estivesse certa em sua teoria. Os sonserinos só precisavam de uma chance e o primeiro passo, por incrível que fosse, tinha sido dado por aquele mesmo grupo ao aceitarem um corvinal. Por outro lado, aceitando a versão da garota, Minerva se via na obrigação de punir o time de quadribol, por levantar suspeita sem provas e querer manchar a dignidade de outra Casa. Mas isso seria muito injusto, pois a suspeita era verdadeira. Respirou fundo e decidiu encerrar aquela discussão alterando o foco.


– Bom, senhores, acredito que ficou claro para todos o grande mal entendido acontecido aqui. Por esse motivo, não darei punição aos senhores referentes ao caso do presente do dia dos namorados. Contudo, os senhores – e se dirigiu aos grifinórios – Caminharam sozinhos e sem autorização pelos corredores, sem falar no fato de retirarem, contra a vontade, um aluno de sua aula. Por isso, 2 pontos serão descontados de cada um. Quanto aos senhores – e se dirigiu aos dois sonserinos – Mesmo sendo os autores da entrega não contaram a verdade quando tiveram a chance. Entendo que queriam proteger a sua amiga, mas isso não justifica omitir os fatos para a diretora da escola. Portanto, 5 pontos serão descontados de cada um - ninguém ousou questionar suas ações e ela continuou - Agora, Sr Filch, poderia encaminhá-los para suas salas? Com certeza estão perdendo a oportunidade de adquirir um conhecimento precioso.


Argo Filch caminhava à frente do grupo que permanecia calado. Somente o barulho de pés arrastados era possível de ouvir. Embora nenhum som saísse de suas bocas, as trocas de olhares eram bastante significativas, quando correspondidas. James ainda olhava atravessado para a garota, num misto de descrédito, surpresa e desconfiança. A menina tinha o rosto vermelho de vergonha e procurava encarar o chão. Os grifinórios mais velhos foram os primeiros a serem deixados na aula de DCAT e os sonserinos seriam os próximos. Assim que chegaram ao corredor que dava acesso para a sala, Lizzie quebrou o silêncio:


– Sr Filch, se o senhor quiser já podemos ir sozinhos daqui. A sala está bem ali – apontou – E o senhor ainda tem que levar ele.


Filch pareceu mensurar a possibilidade dos alunos fugirem da aula, mas além da sala de poções transferida para o mesmo corredor, havia apenas um pequeno hall de armaduras.


– Humm – gruniu – Tenho mesmo mais o que fazer. Agora andem logo!


O zelador observou as crianças caminharem em silêncio e decidiu seguir em frente, dando uma última espiada antes de sumir ao dobrar a esquina. Quando sentiu que o ambiente estava seguro, Malfoy comentou, olhando para o teto:


– Você foi fantástica! Nossa! – passou a mão no rosto, em alívio – Não sei o que seria da gente se você não tivesse bolado aquilo tudo. Seríamos expulsos fácil. Obrigado – sorriu e esticou a mão para a amiga.


Contudo, a garota tinha a expressão totalmente inversa, de pura raiva. Sacou rapidamente a varinha do bolso e a posicionou no pescoço de Malfoy. O garoto arregalou os olhos, assustado e com medo. Khai sentiu o corpo gelar e ficou paralisado, sem saber o que fazer, olhando de um para o outro. Elizabeth conduziu Deymon para o hall vazio, não dando chance para que pegasse sua varinha.


– Não tente fazer nenhuma gracinha, Malfoy – disse, séria.


Os dois garotos trocaram olhares nervosos e ela continuou.


– Macbeer, se você ousar tocar a sua varinha eu juro por Merlim que passará o resto dos seus dias sentindo gosto de bosta de dragão – e lançou um olhar assassino para o colega que parou o movimento no meio do caminho.


– Lizzie, o que você está fazendo? Pare! – pediu Khai.


– Você me deve, Malfoy – disse, olhando profundamente nos olhos do garoto e ignorando o outro – Vocês não foram expulsos, mas eu serei motivo de piada nesta escola enquanto estudar aqui – pressionou a varinha no pescoço do colega, fazendo-o gemer – Eu estava com um mau pressentimento sobre isso. Eu vou cobrar essa dívida, Malfoy, a cada momento. Você me deve... e muito. O que eu vou passar aqui vai ser o inferno e vocês – olhou para o outro garoto, pálido, e depois para Deymon – Vão pagar muito caro por isso. Petrificus Totalus!


– Não! – gritou Khai.


O corpo de Malfoy ficou duro como pedra e, rapidamente, ela se virou para o colega, ameaçando-o.


– A ideia foi dele, portanto, deve receber logo a punição devida. Se você o libertar do feitiço, Khai, vai desejar nunca ter me conhecido – havia faíscas de fogo saindo dos olhos da garota, o que fez o menino engolir a saliva com dificuldade.


Elizabeth tirou a varinha do bolso da calça de Malfoy e parou diante do garoto.


– Você me deve, Malfoy – disse para os olhinhos inquietos do garoto – É melhor ficar de bico calado, porque, nesse exato momento, eu estou com muita, muita raiva dos dois. Anda! – e fez sinal com a varinha para Macbeer seguir para a sala de aula.


O sonserino fez uma cara de pena para o amigo, que revirou os olhos. Lizzie e Khai foram embora, deixando Deymon preso ao feitiço e encoberto pela armadura do hall. Ele não podia emitir nenhum som e não tinha como sair daquela situação sozinho. No início sentiu raiva da garota, mas depois, com o longo tempo para pensar, entendeu o que ela quis dizer com tudo aquilo. Certamente, ele merecia um bom soco por tê-la colocado naquela situação. Imaginou como seria horrível se pensassem que ele estava a fim do boçal do Potter e vomitaria, se o feitiço permitisse. Quando a aula acabou, os alunos passaram apressados e ninguém o notou. Khai ainda parou no meio do caminho, mas levou um puxão violento da garota, que o fez andar a sua frente. Não haveria mais aulas naquele corredor até depois do almoço e Malfoy fechou os olhos: não tinha outro jeito a não ser esperar a raiva da amiga passar.


O silêncio do corredor foi perturbado pelo som de passos apressados. Pelo barulho estalado, parecia um sapato feminino e Malfoy achou que Lizzie tinha entendido que foi o suficiente, mas a pessoa passou direto para a sala de aula. Ouviu vozes no corredor de uma menina perguntando sobre as provas finais do primeiro ano. Depois de alguns minutos, os passos da garota sinalizavam que estava voltando. De repente, ela se atrapalhou na hora de guardar os livros e tudo caiu no chão.


– Que bosta de dragão! – reclamou Rose e Deymon, imediatamente, não queria mais ser encontrado.


Ao colocar o livro dentro da bolsa extensível que ganhou do pai, Rose deixou cair uma série de bugigangas femininas. Quando recolheu o espelho, o reflexo do sol cintilou sobre algo estranho no hall. Receosa, a garota foi se aproximando, enquanto Malfoy se amaldiçoava por não saber como se tornar invisível com um feitiço não-verbal.


– Olá? Tem alguém aí? – perguntou a garota, puxando a varinha das vestes.


O coração da garota foi acelerando pela adrenalina, enquanto o garoto entrava em pânico. Ser salvo por uma Granger-Weasley era um castigo humilhante demais. Fechou os olhos e quis estar em outro lugar: no meio de uma guerra, torturado pelo Prof Pratevil ou até mesmo em Azkaban, menos ali.


– Por Merlim! – disse a garota, colocando as mãos na boca e recuando um pouco.


Deymon abriu os olhos e encarou a parede. Rose olhava espantada para ele, enquanto um dilema se formava na sua cabeça. “Não fique muito amiga dele, Rosie”, tinha dito seu pai no dia do embarque, quando viu o garoto loiro pela primeira vez. “Não tente indispor os dois antes mesmo de entrarem para a escola!” havia comentado sua mãe. De fato, Malfoy era um garoto prepotente, arrogante e que pouco se importava com os outros. Contudo, não seria legal de sua parte deixá-lo preso a uma azaração. Rose sabia que seu pai provavelmente pioraria aquela situação, mas tinha certeza que sua mãe, embora quisesse dar uma boa lição, faria a coisa certa.


Finite Incantatem!


O garoto saiu do estado imóvel, com um longo suspiro.


– Você está bem? Quem fez isso com você?


Deymon lhe lançou um olhar de desprezo e respondeu com outra pergunta:


– Quem foi que te pediu pra fazer alguma coisa? Garota intrometida.


– Ei! Eu devia ter te deixado aí, apodrecendo o dia todo.


– Com certeza seria melhor do que correr o risco de você arrancar o meu olho com esse feitiço mal executado.


– Mal executado? Mal executado!? Eu te liberei do feitiço, seu idiota ingrato.


– Ainda sinto minhas mãos dormentes – disse, caminhando para fora.


– Você não vai nem me agradecer?


– Eu não te pedi para fazer nada – e fez sinal de desdém com a mão, de costas.


A grifinória sentiu suas orelhas ficarem vermelhas.


– Eu devia te deixar do mesmo jeito! Eu devia te deixar pior! Eu... Argh!


Malfoy tinha desaparecido rapidamente o corredor, provavelmente pegando algum atalho após a esquina. Rose começou a reclamar sozinha, sentindo-se uma imbecil por ter ajudado o sonserino: apertava as mãos com força e bufava de raiva.


– Garoto arrogante! Idiota! Estúpido! Da próxima vez eu... Argh! – e seguiu para sua sala comunal.


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