EM CASA PARA O NATAL



Os quatro dias de pré-avaliações passaram muito rápido. História da Magia, Defesa Contra as Artes das Trevas, Feitiços, Transfigurações, Herbologia, Astronomia e para os mais velhos ainda tinha Adivinhação, Runas Antigas, Aritmancia, Trato das Criaturas Mágicas, Estudo dos Trouxas e Magia da Arte. As pré-avaliações eram bem mais fáceis do que as provas finais de Hogwarts, afinal, elas serviam para sinalizar aqueles alunos cujos professores precisavam dar uma “atenção especial”. Sem falar que as notas eram enviadas por coruja para os responsáveis pelos alunos, para que eles também dessem sua cota de puxões de orelha. Tudo para salvar essa nova geração que só pensava em se divertir com as novidades e dava pouca importância aos costumes antigos. Minerva McGonagall estava certa de que o estudo do Ministério sobre a liberação da Wizardnet na escola viraria um pesadelo logo logo.

A neve já cobria toda a extensão das terras de Hogwarts e o nascer do sol já trazia um laranja-avermelhado que parecia derramar magia sobre o lugar. O Natal se aproximava e era tempo de retornar, por alguns dias, para o aconchego de suas famílias. As provas tinham frustrado com muitos desejos de presentes de natal dos alunos, especialmente as de Transfiguração e Feitiços. Com as notas chegando por correio antes das festas, estava claro que Papai Noel deixaria um saco de carvão em algumas casas. Ainda assim, o clima era de alegria dentro do castelo, já que, por alguns dias, eles poderiam esquecer essa rotina louca de aulas e trabalhos. Um coro de fantasmas ensaiava as canções de natal que iriam apresentar no Grande Salão e a Srta Trelawney enfeitava a árvore de natal com bolas enfeitiçadas com figuras de bruxos, guirlandas dançantes e estrelas brilhantes. Alguns alunos mais entusiasmados a ajudavam com o wingardium leviosa.

O dia anterior havia sido de muita euforia, pois a maioria dos alunos estava nos dormitórios fazendo suas malas. Eles trocavam endereços com os amigos e marcavam encontros durante o recesso. Alguns prometiam enviar presentes, enquanto outros juravam escrever todos os dias para os seus amores. Os primeiro-anistas estavam loucos para voltar para casa e contar tudo o que aprenderam e vivenciaram sobre a magia. Desta vez, poucos alunos ficaríam na escola, mas os festejos seriam tão grandiosos como se todos estivessem lá.

O Expresso Hogwarts já estava na estação de Hogsmeade aguardando o que, dali a poucos minutos, seria uma bela viagem de paisagem branca até a Estação de Londres. O último jogo de quadribol entre a Sonserina e a Corvinal foi uma lavada de 240x50 O time da águia perdeu seu goleiro logo no início com um balaço certeiro de Klaus Larvineck e seu substituto não conseguiu proteger os aros muito bem.

A maioria dos alunos já estava na fila para as carruagens, em busca dos melhores lugares (e reservados) do trem. Malfoy e Elizabeth caminhavam apressados pelo Grande Salão, arrastando seus malões na direção de Khai.

− Oi.

− Oi. – respondeu entristecido para a amiga.

− Pensei que você estava feliz por não ter que voltar para casa no natal – disse.

− Ah, Lizzie, eu estou! Vai ser meu primeiro natal em anos. Só não queria estar sozinho aqui.

− Eu queria ficar, para ler mais e aproveitar para vasculhar o castelo. Mas como você já sabe, meus pais rejeitaram completamente minha idéia. Se eles soubessem como enfeitiçar cartas, teriam me enviado um berrador. Bom, quanto a minha poção...

− Lizzie, você já me deu tudo escrito, já me explicou dez mil vezes o que eu tenho que fazer! Malfoy, diz pra ela que ela já esta sendo paranóica.

− Você está sendo paranóica!

− Viu?

Lizzie cruzou os braços, encolheu os lábios e estreitou os olhos. Era óbvio que a sonserina não gostava de ser criticada.

− Por outro lado – continuou o sonserino – Se você fizer algo errado a gente perde mais outros tantos dias para preparar uma outra poção e, nesse meio tempo, o outro grupo pode descobrir coisas antes de nós. Se você acha que agüenta a pressão dela e não vai estragar tudo...

− Eu não vou! Poxa...até parece que vocês não confiam em mim!

− Quando se trata de poções, eu só confio em mim, Khai.

− A gente já tem que ir, se quisermos pegar uma cabine vazia – alertou Malfoy.

− Então...Feliz Natal, Khai.

A garota estendeu a mão para o colega em sinal de bons festejos e adeus. Khai chegou a olhar a mão dela estendida por alguns pouquíssimos segundos, até apertá-la.

− Feliz Natal, Lizzie. Feliz Natal pra você também Malfoy.

− Idem.

Deymon deu as costas antes que Khai conseguisse esboçar qualquer movimento amistoso. Lizzie fez sinal para que ele ignorasse Malfoy, pois ele ainda precisava desenvolver parte de seu cérebro. O sonserino não pôde deixar de sorrir com o comentário da colega. Foi com uma grande angústia que Khai se viu ficando para trás, enquanto aqueles que considerava seus melhores amigos caminhavam lado a lado, conversando, para fora do Salão.
Eles colocaram seus malões juntos com o restante dos primeiro-anistas e se dirigiram para os barcos, já que as carruagens só eram permitidas para alunos veteranos. Tiago Richards e Bruce Briniwick entraram junto com os sonserinos, sob o protesto do corvinal. Bastou um olhar atravessado de Malfoy para que Bruce calasse a boca.

Logo ao lado do grupo estavam Alvo, Peter, Rose e Jonathan, que acenava freneticamente para a irmã. O grupo conversava sobre os presentes de natal e o que de melhor havia acontecido para eles até agora em Hogwarts. Peter estava notavelmente entristecido, afinal, longe de Hogwarts, ele voltaria a gaguejar e ser motivo de gozação dos meninos do seu bairro mais uma vez. A travessia foi bastante tranqüila, embora Alvo, vez por outra, olhasse para o Lago com certo receio. Ele jurou que algo passou bem embaixo deles e Rose revirou os olhos, cansada das histórias de monstro do primo.

Assim que desembarcaram na Estação de Hogsmeade, Jonathan não pôde deixar de conter o sorriso diante do Expresso que o levaria de volta para casa. Ele, assim como sua irmã, nunca havia andado de trem na vida. Ficou parado um tempo, abobalhado com a visão que tinha do vermelho da locomotiva e a fumaça de uma caldeira mágica ansiosa em trabalhar. Ele correu para alcançar sua irmã, que já se adiantava. Deu um breve aceno para Malfoy e puxou Lizzie para mais perto dele. Antes que pudesse falar uma palavra, gritos e correria surgiram do outro lado.

− Lá estão eles! Ali! – alguém gritou.

A cena que se sucedeu deixou muita gente confusa e com medo de que algo ruim estivesse acontecendo. As crianças saíam da frente rapidamente, outras eram atropeladas, algumas meninas gritavam e muitas cabecinhas curiosas surgiram das janelas do trem para observar o grupo de bruxos adultos que se engalfinhavam para ver quem chegava primeiro no lado leste da plataforma. Jonathan e Elizabeth nem tiveram tempo de raciocinar, pois o grupo os alcançou rapidamente.

Flash!

− Como vocês se sentem sendo os herdeiros do grande Alvo Dumbledore?

− Uma foto para o Profeta Diário!

Flash!

− O que vocês acharam da Escola de Magia e Bruxaria da Inglaterra? É verdade que estão pensando em estudar em outro lugar?

− Srta Dumbledore, é verdade que lida com as Artes das Trevas?

Flash!

− Uma declaração para o Profeta!

− Aqui, por favor, sorriam para o Almanaque de Celebridades da Magia!

Flash!

As luzes dos flashes constantes deixavam os dois irmãos atordoados, sem saber para onde olhar e não conseguiam ver alguma coisa que não fosse um ponto luminoso bem na frente deles. As perguntas vinham uma atrás da outra e eles não sabiam o que fazer ou dizer. Na verdade, eles nem conseguiam entender direito, pois todos falavam ao mesmo tempo, ávidos em conseguir a primeira declaração dos jovens herdeiros de Dumbledore. As duas crianças deram as mãos e foram espremidas pelos adultos ao redor, em completo estado de pânico. Eles nunca haviam passado por isso antes.

Flash!

Por cima do mar de repórteres, uma figura pequenina parecia se aproximar rapidamente.

Flash!

A pequena figura agora já se destacava por atrás dos jornalistas e fotógrafos.

Flash!

Já era possível identificar que se tratava de Hagrid, vindo ao socorro dos jovens Dumbledore.

Flash!

− Muito bem, já chega! – disse com sua voz grossa – Deixem as crianças, elas precisam pegar o trem.

E foi se metendo entre os repórteres, dando espaço para as crianças respirarem atrás dele.

− Você não pode fazer isso! E a liberdade de imprensa?

− E a liberdade de ir e vir? – a voz de Potter soou imponente.

Um grande burburinho se formou entre os repórteres.

− Harry Potter! Em Hogwarts novamente! Então é verdade!

− Sim – disse, calmamente.

− Estão dizendo que voltou para lecionar Defesa Contra as Artes das Trevas, sua especialidade. – disse um repórter.

− Bom, não posso dizer que se trata de uma especialidade minha, mas estou lecionando sim, à pedido da Diretora McGonagall.

– E como fica o trabalho dos aurores, no Ministério?

– O Ministério possui uma excelente equipe de aurores que trabalha com eficiência, estando eu lá ou não – falou, bastante seguro de si.

− Diga-nos, Harry, é verdade que a jovem Dumbledore tem alguma tendência às Artes das Trevas?

− Nunca ouvi tamanho absurdo! Ela é uma jovem estudante como qualquer outra em sua idade.

− Mas ela é da Sonserina.

− E o fato de ser da Sonserina significa estar ligado às Artes das Trevas? Por favor, não julguem as crianças desta casa como se fossem seguidores de Voldemort.

Mais uma vez um burburinho se formou. Enquanto Harry distraía os jornalistas e fofoqueiros de plantão, Hagrid indicou um caminho seguro para que as crianças alcançassem o Expresso em segurança.

− Por aqui, crianças! – indicou Arthur Weasley – Pode deixar, Hagrid. Eu as levo daqui.

− Certo, Prof Weasley.

− O que foi isso tudo? – perguntou John, ainda assustado.

− Vamos, entrem e eu lhes explicarei.

Já dentro do Expresso, Arthur encontrou uma cabine vazia para conversar com os Dumbledore. Assim que as duas figuras assustadas se sentaram, o patriarca Weasley começou a lhes explicar o ocorrido.

− Escutem, crianças e prestem muita atenção. Hoje vocês se depararam com os repórteres do Mundo da Magia e, acreditem, eles foram até comportados para o que alguns costumam fazer. Vocês são os descendentes de Dumbledore e isso os torna tão interessantes para a mídia quanto Harry Potter. Ninguém nunca soube da existência de vocês, já que seu avô era um homem extremamente fascinante e genial e criou a proteção que os manteve seguros até este ano. Sabe, ele era uma figura e tanto: nada passava despercebido por ele e nada acontecia que ele já não esperasse. Portanto, vocês são um dos maiores segredos da história da magia. Vocês são notícia fresca para eles! E vamos lembrar que esta é a primeira vez que vocês dois aparecem em público, já que chegaram diretamente em Hogwarts voando em vassouras. Ninguém havia conseguido tirar uma foto de vocês, entendem? Ninguém nunca entrevistou vocês.

Os irmãos pareciam compreender o porquê do alvoroço.

− E é por isso que eles estão tão empolvorosos. – completou Arthur.

− Mas perderam o interesse quando viram o Prof Potter.

− Sim, Elizabeth. Acredito que o fato de Harry lecionar Defesa Contra as Artes das Trevas também dá uma excelente primeira página, não é? Ainda mais quando ele aparece de tão bom grado para dar declarações.

− Ufa! Ele livrou a nossa pele, isso sim! – John deu um longo suspiro e passou a mão pelos cabelos, aliviado.

Arthur riu com a característica tão transparente do rapaz.

− Eu pensei que eles iam pegar a gente e nos balançar até que disséssemos alguma coisa.

John gesticulava enquanto falava, divertidamente. Arthur voltou a sorrir.

− Eles sabem onde moramos? Por que se sabem, vão estar lá, não é? – perguntou a garota.

− É possível.

− Hum... e eles podem aparecer assim, numa residência trouxa? Quero dizer, eles não vão chamar atenção? – continuou a questionar.

− Se seus pais permitirem que eles entrem, não devem chamar não.

− Então ta resolvido, Lizzie. Meu pai nunca que ia deixar esse povo todo entrar na fazenda e botar a gente na parede como fizeram hoje.

− É verdade. Mas Prof, essa perseguição não vai acabar até que a gente fale com eles, não é?

− Vocês são crianças, portanto, não são obrigadas a dar nenhuma entrevista.

− Mas se eles não vão nos deixar em paz, eu acho melhor resolver isso logo pra gente continuar com a vida normalmente.
Jonathan parecia concordar com a irmã.

− Acho que isso não vai ser possível.

− Como assim, Professor? – Lizze estava intrigada.

− É de fato muito triste, mas não acredito que vocês consigam “continuar com a vida normalmente”, entendem? Vocês serão acompanhados pela mídia até estarem mais velhos, como Harry ainda é e como os filhos dele já são. Infelizmente, crianças, o nome Dumbledore atrai olhares curiosos, invejosos e maldosos até. É preciso que vocês estejam atentos e cientes disso. Vocês devem tomar muito cuidado com suas amizades e com quem falam – e olhou com certa preocupação para Elizabeth.

– O Senhor está se referindo ao Malfoy?

A sonserina cruzou os braços e ergueu uma das sombrancelhas, claramente indignada com a insinuação do professor.

– Sinto muito, Elizabeth, mas você está apenas començando a conhecer as histórias da magia e precisa saber que os Malfoys não são um exemplo de conduta no mundo bruxo.

– Por que? Porque os avós do Deymon e o pai dele eram Comensais de Voldemort?

Arthur e Jonathan olharam assustados e surpresos para Elizabeth, que mantinha a mesma expresão de indignação de antes. O patriarca Weasley não sabia se estava mais chocado por ela estar ciente de que os Malfoy eram Comensais ou da nítida ausência de receio ao pronunciar o nome do ex-Lorde das Trevas.

Harry abriu a porta da cabine a tempo de compreender as últimas palavras da sonserina. A julgar pelas expressões dos outros dois no local, a conversa não pretendia chegar a este ponto. Fechou a porta atrás de si enquanto todos os olhares se direcionavam para ele.

– Oh! Olá, Harry! – disse Arthur – Eu estava...

– Como é que você sabe que os Malfoy foram Comensais? – o irmão interrompeu o Sr Weasley.

– Eu leio, John. Além disso, não sou surda e posso muito bem ouvir os cochichos dos outros alunos. Não me diga que você não sabia disso?

Ela deu um sorriso cínico e Jonathan desviou o olhar para a janela, enquanto cruzava os braços, chateado. Ele detestava quando a irmã ficava tirando onda da sua “intelectualidade superior”, como sempre dizia, e fazia ele passar por burro.

– Não sabia que seu amigo era um Comensal da Morte – provocou.

– Ele não é um Comensal!! – gritou.

– Ok, por favor, acalmem-se. Pensei que estava explicando sobre os repórteres, Sr Weasley.

– Eu estava, Harry. Disse que precisam tomar cuidado porque o sobrenome deles causa as mais diversas reações.

– E como fomos parar em Comensais, Malfoys e Voldemort?

– Porque o caro Professor aí quer me afastar do meu amigo.

As palavras da sonserina soaram sinceras e Harry teve pena dela. Olhou entristecido para a jovem Dumbledore e se aproximou o bastante para fitá-la, pronto para falar a verdade sobre o conceito de amigo daquela família. Harry estava preocupado por, possivelmente, magoar a criança diante dele.

– Elizabeth, eu garanto a você que conheço os Malfoys muito mais do que eu mesmo gostaria. Portanto, posso lhe dizer, com toda a certeza, que eles não são do tipo que mantêm uma amizade sem que tirem vantagem disso. Você é uma Dumbledore e isso interessa a eles.

Harry definitivamente não estava preparado para o que viria a seguir. A garota explodiu e levantou da poltrona, se dirigindo claramente para ele e Arthur.

– Sabe qual é o problema de vocês?? – gritou – Julgam as pessoas pelo sobrenome e pela herança dos atos das famílias. Nunca lhes passou pela cabeça que Deymon possa ser diferente do resto dos Malfoy? Que eu seja diferente do grandioso Dumbledore que vocês tanto veneram?

– Lizzie...

– Não, John. Eu tô de saco cheio dessa baboseira! Todos vocês são uma cambada de velhos que vivem do passado e esquecem que o que importa é o agora! Eu ouvi o senhor dizer – e apontou perigosamente seu dedo para Harry – que os repórteres não deviam julgar os sonserinos como se fossem seguidores de Voldemort. Mas vocês fazem exatamente isso: julgam, julgam e julgam! Eu acabei de entrar pra essa escola e no Mundo da Magia e posso lhes dizer, com toda a certeza, que a pessoa mais insuportável e esnobe que eu vejo é o seu filho James “com o rei na barriga” Potter!

– Agora chega, mocinha! Você está insultando a minha família e isso eu não vou permitir!

– Eu sei que a verdade dói.

– Lizzie!! Você não pode falar assim!! Meu pai não ia gostar nada disso. Nós somos irmãos e eu nunca vi você fazer isso. O que é que deu em você?

Um silêncio constrangedor tomou conta da cabine, interrompido pelo apito do trem e o movimento das engrenagens que o impulsionavam para Londres. Antes que Harry ou Arthur dissesse algo, Jonathan tomou a iniciativa.

– Ok, é isso aí. Podem nos dar licença, por favor? – e abriu a porta.

Arthur e Harry trocaram olhares confusos, sem entender o repentino gesto do garoto.

– A conversa agora é entre irmãos – disse, firmemente.

– Vamos, Harry – ascentiu Arthur – É melhor mesmo que eles resolvam isto.

Harry ainda olhava com um misto de sentimentos impossíveis de identificar para a sonserina. Ela estava ao mesmo tempo certa e errada. Deu-lhe uma lição e ao mesmo tempo lhe ofendeu. A única coisa que ele tinha certeza era de que a jovem Dumbledore era uma grande incógnita, enquanto Jonathan era um vidro translúcido. E ambos, ambos, lembravam Alvo Dumbledore.

Quando saíram da cabine os Professores puderam notar que a discussão tinha juntado uma boa platéia. Nessa hora Harry sentiu muito a falta da amiga Hermione que, com certeza, se lembraria de colocar um feitiço abafatório na cabine. As crianças, ao perceberem que a discussão havia terminado, aos poucos retornavam para seus lugares, cochichando baixinho. Harry sabia que não haveria outro assunto nas conversas até voltarem para casa. Quando deu por si, Potter percebeu que Rose, Alvo e Peter estavam com uma expressão bem confusa, olhando para ele e Arthur. Harry notou também a figura solitária encontada no canto, com seu casaco preto alinhado, fechado até a gola e com os braços cruzados. Ele notou que o jovem esboçava um breve sorriso, mas não era o típico sorriso vitorioso de arrogância dos Malfoy. Era um diferente, que Harry nunca pensou que os Malfoy podiam ter: era o sorriso de satisfação por uma amizade.

– Vô...tio...o que é que aconteceu ali?

– Pai, ela falou do James e todo mundo ouviu. Inclusive...

– Eu!

James saiu da cabine ao lado com o rosto em chamas. Sua expressão indicava que ele estava bem zangado. Nicolau, Lena, Oliver e Lucy colocaram a cabeça para fora do compartimento, ainda em choque.

– Ela estava fora de si, James. Falou sem pensar – Harry tentou aliviar a situação.

– E o senhor vai deixar por isso mesmo? – cobrou.

– James – seu tom era de aviso.

– Se fosse eu dava uma boa lição nela pra aprender a deixar de se achar a dona da verdade. Você tem que fazer alguma coisa!

– Não fale comigo ensse tom, rapazinho!

– Mas pai...

– Sem “mas”, James. Eu sei o que eu devo fazer. Agora volte para sua cabine. Aliás, todos vocês.

– É melhor escutar seu pai, James – aconselhou seu avô.

Revoltado, James entrou em sua cabine com seus amigos. O trio de calouros se encaminhou para o vagão seguinte, onde ainda restava um compartimento vazio. Harry observou que Malfoy continuava imóvel, imerso em seu próprio mundinho. Ele notou que o garoto esbolava um sorriso conhecido: o sorriso vitorioso de arrogância dos Malfoy.

– Eu já vou, Harry. Molly já deve estar..hum...nervosa pelo meu atraso. Sabe como é...os meninos chegam hoje e ela está...bom, você conhece a Molly.

Crack! Com o barulho de algo se quebrando, o Sr Weasley desapareceu.

– Você também, Malfoy. Arranje uma cabine.

– Esta é minha cabine, Prof Potter – disse, apontando para o compartimento onde os Dumbledore conversavam.

– Acredito que eles não vão sair logo.

– Então vou ter que esperar.

– Você pode arranjar outra cabine, Malfoy.

Harry fez um esforço absurdo para continuar calmo. O garoto já começava a irritá-lo.

– Ao contrário de outras pessoas, Professor, eu seleciono aqueles que merecem minha companhia. E, neste caso, só existe uma pessoa a bordo desse trem.

Harry voltou a fitar aquele loiro: seus olhos de um azul acizentado e seu nariz tão elevado quanto a sua arrogância lhe permitia. Era a cópia quase fiel de seu pai. Quase, porque Deymon parecia ter conseguido algo verdadeiro, algo que Draco nunca teve.

– Eu acho que...

Mas Harry não pôde continuar sua frase. Foi interrompido pelo barulho da porta da cabine, aberta por um Jonathan sorridente.

– Pronto!

– Como assim, pronto? – perguntou um Harry surpreso.

– Assim! Pronto! – disse com um largo sorriso nos lábios – Onde estão meus amigos? O senhor sabe, Professor?

– No próximo vagão, acredito.

Enquanto Jonathan se distanciava, Elizabeth se encostou na porta da cabine e permitiu que Deymon entrasse.

– Prof Potter, sinto muito se o ofendi. Não foi minha intenção.

– Eu sei, Srta Dumbledore.

Ela torceu o nariz, contrariada. Não gostava de ser chamada assim.

– Mas eu realmente quis dizer aquilo sobre os julgamentos – concluiu.

– Eu sei disso também e por isso, me desculpe.

Ela sorriu para ele e fechou a porta atrás de si. Harry tentou imaginar o que os dois irmãos haviam conversado e como Jonathan havia dobrado a teimosa irmã que tinha. Depois de algum tempo refletindo, sorriu para si mesmo. Tinha certeza de que ninguém jamais saberia o que aconteceu ali e, ao mesmo tempo, sabia que tudo estava resolvido. Bem ao estilo Dumbledore. Harry resolveu continuar no Expresso Hogwarts para evitar possíveis conflitos caso ele saísse. Bom, era o que ele mentia para si mesmo, porque, na verdade, ele queria matar a saudade de um tempo que não voltava mais. Deixou sua mente vagar enquanto a paisagem o levava para muito longe.

– Ficou muito tempo esperando lá fora? – disse ao sentar de frente para o amigo.

– Não muito. Por que está frio aqui?

– Ah! É que meu irmão abriu a janela pra jogar um bicho fora.

– O que vocês dois conversaram?

– Coisas de irmãos, Deymon.

O garoto já sabia que não adiantaria continuar.

– Olha...hum..eu...

– Relaxa, Malfoy – falou despreocupada com um leve aceno de mão e desviou sua atenção para a paisagem branca do lado de fora da janela – Eu acho que vou mandar um presente para ele.

– O que? – perguntou Malfoy, que não acompanhou a súbita mudança de assunto.

– Pro Khai. É o primeiro natal dele, então acho que ele merece um presente.

Malfoy deu de ombros, pouco se importando.

– Algo com que eu possa matá-lo se ele não tomar conta da minha poção direito.

Deymon mal pôde conter o ligeiro sorriso e balançou a cabela negativamente para a garota como se dissesse “você não tem jeito mesmo”.

Jonathan entrou em duas cabines erradas antes de encontrar seus amigos. Assim que abriu a porta correta, percebeu que todos se calaram repentinamente.

– Interrompo? – perguntou sorrindo e fechando a porta.

– O que foi tudo aquilo, John? – Rose não agüentou esperar.

– Foi só um grande mal-entendido de intenções – sorriu e se sentou ao lado da morena arruivada de cabelos cacheados.

– O-o q-que vo-vo-voocês con-conver-falaram? – Peter perguntou ainda chateado por estar gaguejando.

– Coisa de irmão, Pete.

– Ela griou com meu pai.

– Pois é. Mas ela não estava tão errada assim não. Pisou na bola no lance do James, verdade. Ei! O que vocês acham que vão ganhar de Natal?

– O-o que? – Alvo parecia confuso.

– Mas e o que aconteceu? – Rose ainda estava interessada.

– Ah, gente, esquece! Já passou. O que interessa mesmo é o natal. O carrinho de doces que vocês falaram já passou por aqui?

– Ainda não – Alvo disse.

– Alvo, será que você pode me emprestar dinheiro bruxo pra eu comprar? É que eu queria provar de tudo um pouco e não tenho aqui...

– Claro, John! Até compro o carrinho todo se quiser. Garanto que meu pai nem vai ficar zangado.

Jonathan abriu um largo sorriso, junto com Peter.

– Mas não precisa exagerar, né? – Rose cortou logo o barato dos meninos.

A chegada à Londres foi bem agitada. Muitos pais esperavam na Plataforma 9 ¾, ansiosos pelo reencontro. Assim que o Expresso Hogwarts apontou na última curva, aqueles que ainda permaneciam sentados se levantaram, limpando as vestes. Misturado ao som do freio acionado estavama as vozes de centenas de crianças, loucas para chegar em casa.

No desembarque era possível observar todo o tipo de reações: pais chorando pela saudade, crianças abraçando os parentes pelo reencontro, irmãos apertando as mãos ou dando pulos de alegria. Havia também os mais comedidos, que se permitiam apenas um breve abraço, troca de palavras e logo se dirigiam para a saída. Tinha rostos risonhos de felicidade, mas era possível encontrar expressões sérias dos pais de braços cruzados e as mães com a mão na cintura. As notas das pré-avaliações realmente haviam chegado.

Harry desceu do trem acompanhado por James, Alvo e Rose. Pediu aos irmãos Dumbledore que permanecessem com ele até seus pais chegarem, para evitar o assédio da mídia. Por isso, Malfoy tinha logo ido embora e Lizzie estava de braços cruzados ao lado de John, que se divertia comendo feijõeszinhos de todos os sabores. Vitória Weasley chegou logo depois, com seu belo sorriso de veela, herdado da mãe.

– Quem vem nos buscar, pai? – perguntou James após se despedir dos seus amigos.

– Provavelmente o Rony.

Através da névoa criada pela fumaça do Expresso, que já se espalhava pela plataforma, Harry pôde notar um ponto vermelho que se aproximava. Ele sorriu ainda mais quando percebeu que o cabelo era longo demais para ser Rony e seu coração pareceu capotar de felicidade. Fixou seu olhar no que via, enquanto as crianças continuavam a esperar que algum parente aparecesse.

Ela vinha caminhando a passos lentos, como se soubesse que Harry estaria olhando para ela totalmente enfeitiçado e abobalhado, igualzinho ao dia do seu casamento. Ela se divertia com isso e seu coração se aquecia ao ter a certeza de que aquele homem realmente se entregava ao amor ilimitado que sentia. Para ela, isso era tudo de que precisava para viver. Seus cabelos longos e lisos, sem nenhuma volta sequer, balançavam ao vento, ofertando a Harry a visão de uma deusa. Uma deusa de cabelos cor de fogo que, assim como o elemento, era forte, persistente, explosiva e quente. Ele sorria e se perguntava se realmente era merecedor de uma mulher como Gina.

Desde o início das aulas em Hogwarts ela não via o seu marido e estava morrendo de saudade. O único contato que tinha através de cartas ou pela lareira, pois Harry não podia se ausentar da escola. Gina sentia falta de tê-lo todos os dias para poder acordar e se deparar com aqueles intensos olhos verdes que a fitavam toda manhã, como se o dono desse olhar houvesse acabado de descobrir que a amava.

– Olha a mamãe ali! – apontou Alvo.

Todos finalmente conseguiram vê-la. Gina resolveu apressar o passo. James e Alvo deram um longo abraço da mãe, enquanto Harry fazia cara de hipogrifo molhado invejando a cena e esperando a sua vez. Quando Gina conseguiu se desvencilhar das crianças, Harry deu um longo abraço e um breve beijo na sua mulher, sob os protestos dos filhos.

– Senti sua falta – sussurrou no ouvido da ruiva.

– Eu também, meu amor – e passou delicadamente sua mão nos cabelos revoltos do marido.

– Pensei em você todos os dias, Gina – continuou falando baixinho.

– Como vamos para casa? – James resolveu interromper logo de uma vez.

– De carro, é claro! Oi Rosie! Vitória, querida! – deu um beijo nas sobrinhas.

– No carro novo do vô Weasley? – perguntou excitado.

Gina deu uma piscadela para o filho que ficou todo animado.

– Pensei que o Rony vinha buscar a gente.

– É, amor, mas ele e Mione andam cheios de coisas para frazer e com segredinhos sobre aquele trabalho. E você sabe como nossa amiga é: vai forçar meu irmão a trabalhar até o último instante. Ou até minha mãe enviar um berrador pro Ron.

– Mãe, eu quero te apresentar meu amigo. Esse é o Peter Canaghan: ele é filho de trouxas.

– Oi, Peter!

– Pr-praz-prazer em co-com-conhe-conhecê-la.

– O prazer é meu. E vocês devem ser os Dumbledore!

– Eu sou Jonathan e essa é minha irmã mal-humorada Elizabeth.

Lizzie lançou-lhe um olhar assassino.

– E então? Estão gostando da escola?

– Muito! – disse o garoto enquanto colocava mais um feijãozinho na boca – A gente...eca! Ovo podre! – e cuspiu desesperadamente.

Gina deu um largo sorriso, pois achou o jovem Dumbledore bem divertido.

– P-pai!!

Após o grito, Peter sumiu na multidão, retornando instantes depois com duas figuras ainda assustadas com tanto movimento bruxo. Steve e Martha Canaghan logo ficaram à vontade com Harry e Gina, que era especialista em desenvolver conversas agradáveis.

O grupo passou longos minutos conversando, até que quase todo mundo já tinha partido da plataforma. Potter achou melhor esperar pelos Carter do outro lado. Assim que atravessaram, eles puderam notar o grande movimento na estação King`s Cross por conta dos festejos natalinos. Havia muita gente por lá preocupados demais em carregar seus pacotes para dar atenção aos malões e às gaiolas com corujas dos Potter. Em pouco tempo, Jonathan identificou os pais e a tia na passarela superior. Gritou por eles e acenou. A família desceu rapidamente e John pulou nos braços do pai, enquanto Lizzie era abraçada por Dona Ana e Tia Anatéia.

– Ficamos esperando na Plataforma.

– Nós tentamos encontrar vocês, Lizzie, mas quase fomos expulsos por insistir na existência de uma tal Plataforma 9 ¾! – explicou Tia Anatéia.

– Plataforma 9 ¾! Como é que iríamos achar o tal Expresso Hogwarts numa plataforma que não existe? Vocês não poderiam vir em um trem normal? – perguntou o Sr Carter.

– Somos bruxos, pai – sussurrou John – não dá!

– Vimos várias pessoas esquisitas passando por aqui, mas sabe como seu pai é, né filha? Pra pedir informação é terrível!

A garota sorriu.

– Pai, deixa eu te apresentar umas pessoas – disse John animado quando o outro grupo se aproximou – Esses são meus amigos Alvo e James Potter, Rose Weasley e Peter Canaghan. E os pais deles.

– Oi, crianças – disse a Sra Carter, com um sorriso largo nos lábios que fazia sua bochecha ficar rosada.

– Prazer! Bill Carter!

– Eu sou Harry Potter!

Harry deu um belo sorriso ano notar que o robusto senhor diante dele não esboçou nenhuma expressão anormal. Sentiu-se aliviado ao perceber que o seu nome era tão comum quanto qualquer outro no mundo trouxa. O Sr Carter ignorava totalmente o fato de estar diante de uma pessoa considerada tão importante no mundo da magia e o tratou como um simples pai de um amigo do filho. Harry estava radiante, afinal, não ter que lidar com sua fama era algo realmente raro de acontecer.

– Esta é minha esposa Ginevra e nossos mais recentes amigos. Sr e Sra Canaghan.

Os adultos logo se cumprimentaram.

– Vocês são todos...

– Bruxos? – completou Gina para a Sra Carter – Apenas nós dois. Os Canaghan são trouxas.

– Trouxas? – se exaltou o Sr Carter.

– Calma, pai. Trouxas é como os... bruxos – falou num tom quase inaudível – chamam os nascidos de família sem tradição em... magia – sussurrou mais uma vez – Não quer dizer que tenha o mesmo significado para a palavra que usamos.

– Não gosto disso, Lizzie – disse, seco.

– Desculpe-me – pediu Gina, sincera. Tinha esquecido que às vezes os trouxas reagiam muito mal e nem sempre aceitavam serem chamados assim.

– O Sr Potter é um dos nossos Professores na escola! – John mudou de assunto.

– É mesmo? Nossa, adoraria conhecer a escola um dia.

– A senhora não vai poder, tia – disse Lizzie – Os não-bruxos não conseguem se aproximar do castelo por conta dos feitiços repelentes.

– Vocês estudam num castelo? Que interessante! Oh, é mesmo uma pena! – exclamou entristecida.

– Espero que nossas crianças não tenham dado muito trabalho.

– Nada além do que se espera de duas crianças ativas e curiosas – sorriu Harry.

James torceu o nariz, cruzou os braços e desviou o olhar para o outro lado, sendo cutucado por uma Gina nada feliz.

– Então eles foram impossíveis! – respondeu tia Anatéia, sorrindo.

– Olhe a hora! Já temos que pegar a estrada. Será uma longa viagem até NewCastle.

– Nós também devemos partir. Deixamos alguns familiares sozinhos em nossa casa – alertou Sra Canaghan para o marido.

Os adultos se despediram, assim como as crianças. Antes de cada família partir para caminhos diferentes, Harry chamou Bill mais afastado e lhe explicou, clara e superficialmente, a importância que seus filhos adotivos tinham para o mundo da magia. Falou brevemente sobre Dumbledore e o deixou alerta acerca dos repórteres bruxos.

– Boas festas! – saudou Harry e todos retribuíram.

Alvo e Rose eram os mais excitados para contar tudo o que aconteceu em Hogwarts e James também falava sobre suas recentes proezas. A família Potter-Weasley-Delacour chegou ao estacionamento bem falante e feliz, a que os trouxas que observaram a cena atribuíram ao legítimo espírito do natal.

– Vamos passar em casa? – perguntou Alvo.

– E deixar a vovó Weasley esperar ainda mais pelos seus queridos netos recém-chegados de Hogwarts? – o tom de Harry era divertido – Por favor! Eu ainda quero viver muito!

Todos riram com Harry, que já dava a partida no Aston Martin DB5 64 que chamava atenção no estacionamento. O carro era bem antigo, mas também muito famoso, afinal, Sean Connory dirigiu um modelo parecido em 007 – Contra Goldfinger. Não foi espanto algum quando, já fora da vista dos trouxas, o carro desapareceu e levantou vôo. A Toca os aguardava mais uma vez.

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Comentários (3)

  • Sheila Costa

    Carol, muito obrigada pelo comentário!! Valeu!Gabriel, essa fic é, de fato, o início de uma série. Muita coisa vai rolar ainda =P Eu só preciso de tempo para esquematizar tudo e escrever. Já está tudo certo na minha mente =DBeijocas e obrigada! 

    2012-03-22
  • Gabriel Santos Lemos

    Melhor fic que já li, tem direitos autorais? porque quero fazer uma série com esse livro. se sim me reponde, e tal, você pode ser minha produtora.

    2012-01-08
  • a Carol Potter Evans

    Amei isso!

    2011-09-11
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