UMA VARINHA ENLOUQUECIDA



As férias já tinham acabado e Gina dava um último abraço apertado em Alvo enquanto James olhava atravessado, um pouco enciumado, antes de entrar no trem. Harry segurava a mão de uma Lily impaciente, que o arrastava tentando dar só uma olhadinha dentro do Expresso Hogwarts.

– Nem pensar, mocinha. Assim você quebra todo o encanto.

– Mas eu quero, pai! – choramingou – É rapidinho!

– Não senhora. Você vai ter a sua vez! Cadê o Ron e a Mione, com a Rose? – perguntou a Gina.

– Estavam aqui agorinha...ah! Ali vêm eles.

Rose acompanhava os pais com um sorriso estampado no rosto e uma bela bolsa de bottons, que fazia barulhos engraçados enquanto caminhava. Bastou que Rose encostasse em Alvo para Peter aparecer na Plataforma. Assim que avistou os amigos, correu na direção deles.

– O-obri-obrigado pe-pela co-coco-coruja, Rose!

Ela sorriu para o amigo, feliz que ela tenha gostado de seu presente.

– Eu adorei a tiara que você me deu – e apontou para uma tiara vermelha com uma borboleta dourada que adornava seus cabelos.

– O ál-álbum de con-cons-constetee-constelações é mui-muito de-demais, Al!

– Sabia que você ia gostar! E eu curti o minigame! Meu pai me ensinou a usar.

Peter sorriu. O Expresso Hogwarts soltou seu apito de alerta. Passos apressados desviavam dos obstáculos e, aos poucos, a Plataforma de embarque foi se esvaziando. Alvo olhava à procura de alguém.

– Não vejo o Jonathan.

– Vai ver que eles não vão de trem. Esqueceram que agora eles são celebridades? Você viu que eles foram a capa da edição de Natal do Profeta Diário! Devem andar de escolta, agora.

– O pa-pai do A-Alvo tam-também f-foi, né? E-Ele ta-tava na ca-capa tam-tamb-também, né?

– Mas o dindo não conta. Volta e meia ele é capa do jornal.

– Ei! É melhor vocês entrarem, senão vão perder o Expresso. – Ron alertou.

– Mas faltam o Jonathan e a irmã dele – Alvo insistiu.

– Tem certeza de que eles já não entraram? – Mione perguntou.

– Não entraram não, mãe. É a primeira vez que eles vão usar a Plataforma 9¾. Será que eles não vão conseguir passar?

– Ora, Rose, é claro que vão! Só devem estar atrasados.

– E se eles perderem o trem, tia? – Alvo perguntou.

– Tem sempre o carro do vovô Weasley!

Hermione olhou atravessado para as idéias perigosas que Rony dava ao pequeno grupo, enquanto Harry abria um largo e saudoso sorriso e Gina tentava ficar séria, para apoiar a amiga.

– Ch-Chegaram! – apontou Peter.

Jonathan se apressou a empurrar o carrinho enquanto Lizzie se dirigia ao bagageiro, após um breve aceno a Harry.

– Oi, gente! Poxa, tenho tanta coisa pra contar! Vocês não vão acreditar no que aconteceu.

– Por que você demorou tanto? – Rose perguntou.

– Foi a Lizzie. Ela queria passar no Beco Diagonal pra comprar umas coisas e a gente precisou trocar dinheiro trouxa por dinheiro bruxo lá no Gringotes. Aliás, o Beco Diagonal é simplesmente demais!

– É melhor você colocar a bagagem no trem e deixar para conversar na cabine – disse Gina, afetuosamente – Vocês não querem perder o Expresso, não é?

Em pouco tempo, os quatro já estavam em uma cabine, junto com Détrio e Timmy. Todos falaram um pouco sobre as comemorações em família e os presentes que ganharam. Rose e Alvo evitaram falar dos presentes valiosos, falando apenas da bolsa expansiva e da nova vassoura. Peter estava feliz com seu álbum e Jonathan comentou que ganhou um bisbilhoscópio da Diretora McGonagall e ele achou tão legal que desmontou pra ver como funcionava.

– Então você quebrou o bisbilhoscópio! – afirmou Timmy.

– Não. Só não consegui montar de volta porque acho que ele precisa de magia pra fazer isso. Além do mais, eu tenho outra coisa em mente.

– O que você vai fazer? – Rose perguntou.

– Você vai ver. Deixa ficar pronto que eu te mostro.

– Eu vi você e sua irmã na capa do Profeta Diário. Agora você é oficialmente uma celebridade. Até trouxe ele aqui. Achei que você pode não ter lido, por ser filho de trouxas. Quero dizer, sido criado por eles.

– Eu li sim, Détrio. Minha irmã assinou o jornal e recebemos lá em casa. Foi um choque pra todo mundo quando a coruja entrou em casa e minha mãe quase desmaiou quando viu a gente se mexendo nas fotos. Foi muito legal!

– Eu não li – disse Timmy – Estava de férias no Himalaia e acho que a coruja se perdeu. Posso ler?

Détrio entregou a Timmy o jornal com as dobras exaustivamente marcadas. Um sinal de que muitas pessoas haviam manejado o papel. No centro da página, duas fotos, lado a lado, refletiam dois momentos: a fama instantânea e o convívio com ela. Os Dumbledore pareciam espremidos no fundo da foto, de mãos dadas e olhar confuso. Já Harry se mostrava calmo, conversava com todos e não fugia mais do enquadramento. No título em letras garrafais lia-se O Mundo da Magia ganha dois presentes este ano.

Após uma espera de 10 anos, os bruxos puderam, finalmente, conhecer os já famosos herdeiros do saudoso e excentíssimo bruxo que foi Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore: Jonathan e Elizabeth. Seu testamento, revelado após o fim da Grande Guerra pelo duente Apops Kracker, funcionário aposentado do Banco Gringotes, gerou grande repercussão na comunidade mágica e muitos o consideraram uma fraude.

Segundo o Ministro Kingsley, os jovens Dumbledore estiveram protegidos por um forte feitiço que repelia qualquer elemento mágico que tentasse penetrar numa área de 2km dos herdeiros. “Tivemos muito trabalho durante esses anos para tentar neutralizar o feitiço do saudoso Alvo Dumbledore e a verdade é que não conseguimos. Ele era admirável e sempre soube das coisas antes mesmo que acontecessem. Acredito que, por isso, o feitiço perdeu seu efeito quando as crianças completaram a idade necessária para entrar para a escola”.

O jovem Jonathan Dumbledore seguiu a tradição familiar e entrou para a Casa Grifinória. Sua gêmea, Elizabeth, contudo, foi direcionada, de acordo com o Chapéu Seletor, para a Casa Sonserina, o que causou nova repercussão no mundo bruxo. Sua defesa surgiu de um velho conhecido de todos nós: Harry Potter, o eterno Menino-que-sobreviveu. De acordo com Potter, a carapuça negra que envolve a história Sonserina deve ser retirada, pois a Casa tem a possibilidade de começar de novo. “O fato de ser da Sonserina significa estar ligado às Artes das Trevas? Por favor, não julguem as crianças desta casa como se fossem seguidores de Voldemort(sic)”.

Este ano, Harry Potter, chefe dos Aurores, retornou a Hogwarts a pedido da Diretora Minerva McGonagall para substituir o Professor Calton Prescott, que lecionava Defesa Contra as Artes das Trevas. A comunidade bruxa está empolvorosa com a possibilidade de os filhos conhecerem a lenda em pessoa. Os alunos de Hogwarts não falam de outra coisa, como Rosely Campbell, no 4º ano da Grifinória: “Eu encontrei com o Professor Potter no corredor e pedi que assinasse meu livro de DCAT! Ele já virou relíquia da nossa família”. E suas aulas são bastante concorridas, o que cogita a possibildade de manter Harry no cargo para atrair mais alunos para a escola. “As aulas dele são demais! Eu nunca aprendi tanta coisa com outro professor!”, exclamou Hortêncio Juiceville, 6ª ano da Corvinal.

O segundo filho de Harry Potter, Alvo Severo, também iniciou seu ano letivo. Contudo, ele decepcionou muitos fãs da família Potter após entrar para a Lufa-Lufa. Era esperado que ele acompanhasse o irmão, James Potter, e a prima, Rose Granger Weasley, na Casa Grifinória. Harry Potter, no entanto, está feliz e confiante. “Tenho certeza de que Alvo será um excelente lufo. Não podemos nos esquecer de que todas as Casas de Hogwarts são importantes”.

Nos resta agora acompanhar de perto o desenvolvimento dessa nova e interessante geração que inicia sua vida no mundo bruxo. Ficamos na expectativa de que os Dumbledore continuarão brilhantes e polêmicos, assim como os Potter. A comunidade mágica tem uma dívida eterna com essas famílias que lutaram para nos salvar de um futuro incerto e sombrio. 19 anos depois, temos apenas que nos preocupar com o fato de as escadas que se movem, pararem. Saiba mais na página 5.

Willyanna Meriva


– Uau! Qual a sensação de sair na capa de jornal, John?

– Demais, Timmy! É a primeira vez que eu me vejo me mexendo numa foto – disse animado.

– Tô morrendo de fome! Acho que vou atrás de doces. Vocês vêm?

– Eu vou, Détrio. Minha mãe está numa dieta nova e fez sanduíche com pasta de libélula com molho de beterrabits.

Timmy mostrou a pasta laranja avermelhada dentro do pão e Rose jurou ter visto as asinhas do inseto. Assim que os dois saíram, Jonathan se ajeitou na cadeira, ansioso. Se curvou para os amigos e tocou no assunto que todos haviam evitado até agora:

– Algum de vocês perderam em alguma matéria?

– Tirei um E em Transfiguração – Rose disse chateada e Alvo balançou a cabeça, negativamente.

– E-eu ti-tirei A. E pe-peper-perdi em Herbo-Herbo-Herbobo...

– Herbologia? Eu também! Legal! A gente vai estudar junto, então! E você, Alvo?

– Eu passei em Herbologia com E.

– Mentira! – disse, Jonathan, surpreso e alegre.

– Mas perdi em Transfiguração – disse, fatídico.

– Então você vai estudar com minha irmã.

– Ela perdeu???

– Perder é pouco, Rose. Ela fez O escândalo! Tirou um T. – seus amigos arregalaram os olhos – A cena foi horrível. Primeiro, nós tivemos que esperar chegar em casa porque minha mãe tinha deixado as cartas com as notas em casa e ela não podia dizer nada, porque não entendia o que significava cada nota. Aí quando a gente chegou, ela foi direto olhar o dela e soltou um gritão. Meu pai até reclamou. Aí ela começou a ter um ataque de raiva e disse que o Professor Pratevil a reprovou de propósito.

– Mas ela não foi bem na prova prática. Eu vi. Eu tava lá.

– Sim, Alvo. Mas e a prova teórica? Tenho certeza de que ela acertou tudo, pelo menos, ela tem certeza disso. Escreveu uma carta pra Diretora na mesma hora. Meu pai até ameaçou tirar a gente de uma escola que tem perseguição com os alunos.

– Hogwarts não tem perseguição! – Rose protestou.

– Então me diz: você acha que minha irmã pode ter errado tudo? Seja justa!

– Não...mas isso não dá o direito de dizer que a escola tem perseguição. E o que a diretora disse?

– Marcou uma audiência com ela após o jantar de boas-vindas e isso não é tudo. A gente deu entrevista lá em casa.

– Para o Profeta Diário? – perguntou Alvo, curioso.

– Não. Olha, as pessoas iam ficar atrás da gente se não déssemos a entrevista para alguém, não é? Então ela apareceu lá e meu pai nem queria deixar, mas a Lizzie disse que tinha que ser ela.

– Ela quem? – perguntou Rose, curiosa.

– Rita Skeeter.

Rose e Alvo pareciam chocados e Peter tinha a expressão de quem não estava entendendo absolutamente nada.

– Mas minha mãe sempre diz que Rita Skeeter só escreve mentiras!

– Mas foi ela que escreveu o livro sobre meu avô, não foi? Lizzie leu esse livro.

– Ela leu o livro da Rita? Minha mãe diz que boa parte daquele livro é mentira.

– Mas então ele tem verdade.

– Sim, mas... mas minha mãe vive dizendo que a Sra Skeeter não é um modelo de jornalista séria. Sua irmã errou feio.

– Bom, ela disse pro meu pai que a Sra Skeeter tinha escrito um livro sobre nosso avô e que tinha feito de tudo para descobrir a verdade e ela acha que só a Rita vai descobrir as coisas sobre nossa família.

– E vocês aceitaram isso?

– A Rita foi muito legal com a gente. Ela tinha uma pena de repetição rápida muito legal. A gente nunca vai descobrir nada, sabe? Somos crianças! Pelo menos agora a gente tem alguém para fazer isso. E de graça.

– Sabe aquela vozinha que fica na cabeça da gente falando que vocês vão se arrepender? É isso que ela ta falando agora na minha – disse Rose, desgostosa.

***

Quando Lizzie finalmente achou Deymon, se surpreendeu: ele estava na mesma cabine de Tiago Richards e Bruce Briniwick.

– Oi, Elizabeth! – disse Tiago, imediatamente.

– Ah...oi – e se sentou ao lado de Malfoy.

– Você agora tem um gato? – e apontou para o felino negro de olhos verdes em seu colo.

– Gata. Acabei de comprá-la. Seu nome é Nefertiti.

– A rainha egípcia bonita. É...ela é bonita mesmo.

– Não tinha mais nenhuma cabine livre – Malfoy se explicou, desgostoso, enquanto Tiago mexia com o animal.

– Como foi de Natal? – Tiago perguntou.

– Péssimo. E você?

– O meu foi bom.

– Pára, Tiago! Não tá vendo que eles não querem conversa? – Bruce cochichou.

– Severo Snape já apareceu para você? – continuou, ignorando o amigo.

– Não. Na verdade, nem olhei a figurinha direito. Não tive tempo, sabe?

– Eu tenho certeza de que ele vai aparecer para você.

– Por que?

– Porque ele foi diretor da Sonserina e Professor de Poções. Você tem a ver com ele.

– Hum...quem sabe ele não me dá umas dicas, né? – falou irônica.

– Ele não pode. A figurinha não tem magia para falar.

– E por que alguns quadros falam e outros não?

Malfoy, que ouvia com desdém a conversa dos dois, parou para prestar mais atenção.

– Eu acho que tem a ver com quantidade de magia, sabe? Alguns bruxos, antes de morrer, mandam pintar um quadro especial, acho. Mas eu posso descobrir isso direito.

– O que é isso? Sabedoria Corvinal?

Tiago sorriu, encabulado.

– Eu ouvi alguém dizer. Vou ficar te devendo uma resposta melhor.

– É melhor não dizer que vai ficar devendo, porque eu vou cobrar.

– Pode cobrar! – disse, sorridente.

Algumas meninas abriram a porta da cabine, abruptamente.

– Ah! Então é aqui que você...está – a voz da corvinal sumiu quando notou a presença dos dois sonserinos. – Nós...hum...tem espaço na nossa cabine se vocês quiserem ficar mais à vontade – disse a outra garota do 3º ano da corvinal, virando-se diretamente para os meninos de sua Casa.

Antes que Lizzie dissesse alguma coisa em defesa dos sonserinos, Malfoy a deteve, segurando seu braço com força e com uma expressão de que não valia a pena brigar.

– Claro! – Bruce respondeu prontamente, animado com as meninas mais velhas – Não podemos deixar duas corvinais sozinhas, não é, Tiago?

– Não, claro. – disse com bem menos empolgação – Bom, então até mais – despediu-se dos sonserinos.

Lizzie deu adeuzinho e Malfoy pareceu mecher os lábios.

– Finalmente vamos ter paz nesse vagão! – disse enquanto passava para a outra poltrona e esticava as pernas.

– Você não suporta ele, né Malfoy?

– Não. É um grande falador e fica querendo se meter nas coisas dos outros.

– Mas você bem que prestou atenção quando ele falou das pinturas que falam.

– É claro! Informação gratuita é sempre bem-vinda. Para alguma coisa tinha que servir essa suposta amizade dele com você.

– Falando nisso, obrigada pelo livro.

– Hum... você recebeu.

– Lógico que recebi. Você mandou para mim, não foi? Aquilo e o Kit de Poções que o Prof Slughorn me mandou salvaram o meu Natal. Tem poções realmente interessantes naquele livro.

– Espera! O diretor da nossa casa te mandou presentes?

– É. Isso não é normal? Ele é meu fã. Já me chamou até pro Clube do Slug.

– Pro quê?

– Um clube particular para as pessoas que ele considera talentosas.

Malfoy colocou a mão na testa e abaixou a cabeça, não acreditanto em tanta bobagem do diretor da sua Casa. Aquilo era vergonhoso e puro puxa-saquismo.

– Eu trouxe uma coisa.

A garota meteu a mão no bolso da calça e tirou dois embrulhos verdes pequenos. Guardou um de volta e entregou o outro ao sonserino. Malfoy abriu desconfiado e segurou nas mãos uma corrente de prata com o brasão da Sonserina cravejado de esmeraldas semi-verdadeiras. No verso, estava escrito em letras de caligrafia perfeita: “Nada pode nos deter.”

– “Nos deter”?

Ela puxou a corrente que carregava no pescoço, idêntica.

– Somos amigos, não somos?

Malfoy olhou atentamente para a garota diante de si. Ele sempre soube que na Sonserina era cada um por si e Merlim por ninguém. Sabia que não seria bem aceito, por conta da herança vergonhosa de sua família. Sabia que não teria amigos. Colegas, sim, mas amigos... E será que ela estava sendo sincera? Seu olhar dizia que sim, mas Deymon foi criado para ficar sempre com o pé atrás. Então ele se lembrou da forma como ela o defendeu e como ele se sentiu naquele momento. Deymon não tinha ninguém por ele em Hogwarts. Nem Khai. Ela tinha, mas escolheu ficar com eles. Malfoy sorriu. Pela primeira vez, Lizzie viu Deymon sorrir de verdade, ainda que ele disfarçasse ao olhar para a corrente.

– Somos amigos, não somos? – repetiu.

– Somos sim, Carter.

– Se somos amigos, você vai continuar me chamando pelo sobrenome?

– Não...Lizzie. – ela sorriu e depois ficou séria.

– Então eu vou lhe contar uma coisa: o Prof Pratevil me deu um T.

– O que? – Malfoy arregalou os olhos – Mas você acertou a prova escrita toda. Tudo o que você falou para mim estava certo. Você podia tirar até um D, porque você não foi bem na prática, né? Vamos ser realistas. Mas Trasgo? E eu achava que ele gostava de você.

– Eu também achava.

– Vai ver que ele quer ficar mais tempo com você.

– Eu já enviei uma coruja para a diretora para falar sobre o assunto. Ele não pode fazer isso.

– Tomara que ele seja expulso!

– Se ele não for, eu vou tornar as minhas aulas com ele um verdadeiro inferno.

Em pouco tempo, o Expresso chegou a Hogmeade e as crianças voltaram à escola. O Salão Principal estava todo decorado. Tapeçarias de todas as Casas se misturavam às faixas de boas-vindas encantadas, que pareciam dançar sob um céu incrivelmente estrelado. A comida estava uma delícia. Os elfos da cozinha tinham caprichado tanto nos doces e tortas que fazia pena comer. Lucy olhava fixamente para o pudim de três andares e três coberturas caramelizadas diante de si, incapaz de comer ou deixar qualquer lufo destruir essa obra-prima culinária. Peter estava claramente emburrado com a amiga e Alvo ria da cara dele. Todos conversavam animadamente, contando as aventuras de Natal. Apenas uma sonserina não havia comido praticamente nada e mantinha seu olhar sério na mesa dos professores, sem conversar com niguém.

Finalmente, o jantar terminou e as crianças, pouco a pouco, foram deixando o Grande Salão para aproveitar o resto da noite e colocar as histórias das férias em dia. Elizabeth, Khai e Deymon estavam parados ao pé da escadaria, quando Jonathan, Alvo, Peter e Rose passaram por eles. Imediatamente, John se aproximou da irmã.

– Quer que eu vá com você?

– Não precisa, Jonh. Eu prefiro ficar sozinha. Vai ficar com seus amigos – e apontou o nariz na direção do trio que o aguardava.

– E o que eles estão fazendo aqui? – perguntou se referindo aos sonserinos.

– Só estão me fazendo companhia até a diretora chegar.

– Então eu também fico – disse resoluto – Gente, eu vou esperar a diretora com minha irmã.

– A gente espera você – Alvo falou enquanto se aproximava.

Rose e Peter trocaram olhares surpresos e receosos, enquanto acompanhavam Alvo. Deymon e Khai estavam com expressões de quem havia acabado de comer um pacote inteiro de vomitilhas e Lizzie lançava ao irmão seu olhar assassino. O estranho grupo ficou reunido sem trocar uma só palavra e chamavam muita atenção. Eles olhavam para as paredes de pedra, para seus próprios pés, mordiam os lábios, balançavam no mesmo lugar e tamborilavam com os dedos nas pernas, sem se esforçar para pensar em um assunto para conversar. Quando a diretora saiu do Salão, estava acompanhada dos Professores Potter e Pratevil e olhou para o interessante grupo com curiosidade.

– Sua comitiva, srta Dumbledore?

Lizzie respirou fundo.

– Não, diretora.

– Só estamos fazendo companhia – John disse assumindo uma postura de defesa da irmã.

– Eu já posso ir sozinha daqui. Obrigada.

Os sonserinos imediatamente deixaram o local. Jonathan se retirou pouco depois junto com seus amigos. Aproveitando a deixa, Harry se despediu da diretora e do colega e tomou o caminho para a cabana de Hagrid, com quem havia combinado um chá e o resgate de boas lembranças. O Prof Pratevil também se retirou, para a surpresa da sonserina.

– Siga-me, srta Dumbledore.

As duas figuras caminharam até a Câmara de Passagens chamando a atenção de quem ainda estava por ali e gerando cochichos. Quando a diretora se dirigiu à moldura que as levaria para o sétimo andar, o sangue da sonserina pareceu congelar em seu corpo e ela parou.

– Para onde vamos?

– Para minha sala, é claro!

– Diretora McGonagall, poderíamos...hum...por favor...ir para outro lugar? Por favor.

Minerva olhou para a aluna, procurando entendê-la: seu olhar era de súplica. Parecia que a diretora havia proposto que ela se atirasse numa arena para lutar com um basilisco, tamanha era a súplica no olhar daquela criança.

– Eu não estou pronta.

Estas palavras saíram quase inaudíveis da boca da sonserina e Minerva lançou-lhe um olhar maternal e de compaixão. Decerto ela já sabia que existia um retrato de Dumbledore em sua sala e ainda não estava pronta para aquele encontro. Embora não fosse uma atitude comum, ela resolveu não pressionar a garota.

– Vamos para a sala do diretor de sua Casa, então.

Chegaram rapidamente ao escritório do Prof Slughorn, que parecia ter vestido suas roupas com uma certa velocidade mágica, pois havia esquecido sua touca de dormir na cabeça. Os tons verde e pastel não chamavam tanta a atenção quanto à lua e estrelas que se moviam. A diretora limpou suavemente a garganta e indicou o desleixo do professor, que retirou o chapéu e pediu desculpas.

– Entrem, por favor!

A sala do professor era uma velha conhecida da garota, que cumpriu sua detenção fazendo poções no grande caldeirão, no lado esquerdo da sala. As estantes com os potes e ingredientes particulares e os diversos livros sobre poções, eram um grande atrativo para Elizabeth. Contudo, as inúmeras fotografias de Slughorn com celebridades mágicas, sorrindo orgulhoso, que praticamente faziam a parede de pedras negras desaparecer, causavam uma certa náusea na sonserina.

– Sente-se, srta Dumbledore – ao passo que a garota se acomodou, a diretora continuou – Concordei nesta pequena reunião para esclarecer alguns pontos sobre o assunto que sua coruja trouxe para mim, no natal. Quero deixar claro, minha querida, que não existe perseguição nesta escola. O Prof Pratevil me explicou o porquê de sua nota e, embora tenha sido radical em sua decisão, ele está correto.

O rosto da sonserina enrubesceu de raiva com as palavras da diretora e a garota contraiu as mãos, num esforço para segurar sua angústia.

– E por que o professor me deu T?

– A senhorita assinou como Elizabeth Carter, quando o professor já havia lhe informado que não aceitaria. Evidente que foi apenas um lapso, certo?

A garota não sabia o que pensar. Estava com vontade de azarar o professor.

– Evidente, diretora.

– Contudo, pedi ao professor para reavaliar sua prova teórica e concordamos em aumentar sua nota para Péssimo. A senhorita fez uma excelente prova teórica, contudo, não posso dizer o mesmo de sua prova prática. Não há condição de você passar nesta matéria.

A garota estava visivelmente arrasada. Não esperava um desfecho destes.

– A partir de agora, senhorita, para evitar novos equívocos como este, gostaria que assinasse todos os seus trabalhos com o sobrenome Dumbledore. É possível, querida?

Ela olhava aflita para a diretora. Não queria ter que assinar como alguém que não é, mas a julgar pela determinação da diretora, parecia que esta batalha já estava vencida. Deu de ombros, passou a mão pelos cabelos delicadamente e aceitou o pedido da diretora.

– Excelente, srta Dumbledore. Agora vamos tratar de outros assuntos. Chegou ao meu conhecimento que a senhorita ofendeu dois de nossos professores no Expresso Hogwarts. Por isso, 30 pontos serão retirados de sua Casa.

– Mas diretora, eu...

Minerva ergueu sua mão, fazendo um claro sinal para que a garota se calasse.

– E sei também que estava sob estresse e que só o fez para defender seu amigo. Por isso, lhe concedo 20 pontos pela defesa da honra da amizade e por ensinar algo aos nossos professores.

A garota sorriu aliviada.

– Entretanto, outro fato chegou ao meu conhecimento. Prof Slughorn?

O Professor de Poções, que até agora assistia à discussão passivamente, levantou e se aproximou da sonserina, cruzando os braços diante da garota. Ele nem precisava explicar nada, pois ela já sabia do que se tratava e sabia também que iria matar o Khai.

– Srta Dumbledore – começou sério e austero – Eu notei que alguns ingredientes de minha reserva particular diminuíram, mas achei que poderia ser engano meu. Curiosamente, esses ingredientes se encaixam em uma poção polissuco encontrada em uma das masmorras pelo Prof Pratevil. E o aluno que estava lá é um de seus amigos que seguia à risca uma recomendação, muito bem escrita, devo acrescentar, para a finalização da poção. Isso foi obra sua. Para que, srta Dumbledore?

Elizabeth mantinha um olhar receoso para o diretor de sua Casa, pois ele era muito inconstante e parecia querer mostrar serviço para a diretora McGonagall.

– Professor, me desculpe por pegar os ingredientes sem sua permissão, mas como o senhor me deu algumas amostras na minha detenção, eu achei que não faria mal uma ou duas a mais. Me desculpe. E a poção...bom...eu só queria provar para mim mesma que era capaz. Encontrei a receita na biblioteca, já tinha o que precisava e fiquei curiosa. Me desculpe – disse cabisbaixa e num tom absolutamente sincero – Por favor, não me expulse da escola.

– Expulsar a senhorita? Hoje, não. – a garota sorriu e ele continuou – Entretanto, serei obrigado a punir minha própria Casa. 30 pontos serão retirados por pegar ingredientes indevidamente e por desenvolver poções complexas sem a supervisão de um adulto. E a senhorita está suspensa das minhas reuniões particulares.

Elizabeth estava boquiaberta e triste. Lentamente, baixou seu olhar para os pés, pois sabia que todos na Sonserina iriam odiá-la. Ela nem fazia questão de não participar do clube de seletos do professor, mas eram pontos preciosos para a Casa que estava em último lugar.

– E 10 pontos serão creditados pela excelente poção polissuco de um aluno do primeiro ano. Você tem um belo futuro na área, minha cara.

– E cumprirá dentenção, srta Dumbledore, com o Prof Hagrid, nos próximos três sábados no final da tarde, a partir da semana que vem. Ele tem alguns afazeres na Floresta Proibida.

– Na Floresta Proibida? Mas...mas eu pensei que era proibida!Tem... coisas... monstros lá. Eu li nos livros – disse assustada.

– Sim, por isso estará com nosso Guarda-Caças. Acredito que resolvemos as pendências com a senhorita e não gostaria de ter novas conversas como esta tão cedo, certo?

– Sim, diretora McGonagall.

Assim que saíram da sala, Elizabeth caminhou rápida e silenciosamente ao lado do professor, que a olhava intrigado. Embora sua expressão estivesse vazia, sua mente explodia em fúria. Por que Khai tinha que ser tão burro? Por que o Prof Pratevil estava pegando no pé da garota? Por que eles queriam tanto que ela fosse uma Dumbledore? O que ela não conseguia compreender era por que todas aquelas pessoas defendiam incondicionalmente aquele velho. Antes de entrar na sala comunal, o professor a parou por um instante.

– Por que estas ações desnecessárias, minha querida? Dumbledore foi um excelente bruxo. Muitos dariam tudo para ser descendente dele.

– Acho que eles estão assustados – o professor levantou uma das sombrancelhas, não compreendendo e ela continuou – Por eu estar na Sonserina, eu acho. Eles estão com medo de que eu seja uma nova bruxa das trevas.

– Oh, é claro que não. Eu vejo em você uma bruxa persistente, inteligente e extremamente agradável, embora tenha um certo desrespeito pelas regras. Não acredito que seja capaz de nenhuma maldade.

– Obrigada.

– Além disso, a Casa Sonserina, há tempos, se desligou das ações das trevas. Somos todos mocinhos agora.

Elizabeth entrou na Sala Comunal, um tanto vazia, e encontrou seus colegas sentados na poltrona aguardando por ela. Lançou um olhar assassino para Khai, que olhou timidamente para Malfoy e em seguida para os próprios pés. A garota seguiu para o seu quarto, onde passou a noite olhando para o teto de pedras negras.

A semana transcorreu traqüilamente com as típicas aulas chatas do Prof Binns e as incríveis aulas teóricas de Harry. Ron, Mione e Gina o ajudaram a preparar um planejamento de aulas que eles sempre quiseram ter em DCAT e o resultado disso era sua popularidade também como professor. Minerva estava plenamente satisfeita com o ex-aluno e já ensaiava investidas para um segundo ano em Hogwarts. As aulas de Transfiguração eram as mais tensas. A maioria dos alunos havia perdido nas pré-avaliações, portanto cada gesto do Prof Pratevil era calculado para atingir exatamente a fraqueza do aluno, forçando-o a se dedicar mais nos estudos para a aula seguinte.

Rose, Alvo, Peter e John andavam cada vez mais unidos e os trabalhos que faziam juntos, de acordo com a cooperação intercasas, rendiam muitos pontos para a Grifinória e a Lufa-Lufa. O quarteto continuava a estudar próximo à entrada da sala da diretora e Rose já fazia os primeiros testes das orelhas extensíveis. Peter e Alvo passavam horas na biblioteca lendo sobre pedras e quadros, enquanto John praticava feitiços de multiplicação e convocatórios com mais sucesso do que Rose esperava.

Já os sonserinos passavam maus bocados. A maioria ainda tinha dificuldade em dividir o trabalho com outras Casas, o que gerava conflitos constantes e acusações de descaso. Durante toda a semana, a única vez que Lizzie dirigiu a palavra para Khai foi para discutir e ela foi extremamente dura com o colega, que se afastou do trio e andava sumido. Deymon permanecia em seu próprio mundinho, indiferente à briga dos companheiros, se comportando como sempre. Tiago da Corvinal parecia ganhar algum terreno e Lizzie não agüentava os cochichos das meninas quando ele estava conversando com ela ou estudando juntos, na biblioteca.

No final de semana começou a maratona de aulas extras para os alunos que haviam perdido matérias. Embora a maioria tenha, eventualmente, escorregado em apenas uma, alguns estavam praticamente sem tempo livre. A aula do Prof Pratevil era a mais cheia. Enquanto as crianças se acomodavam, ele lançava um olhar intimidador para a sonserina que havia questionado a sua nota.

– Mantenham as duplas das aulas. – avisou quando viu Alvo ameaçar se sentar com um colega lufo - E se o seu parceiro tiver sido mais bem-sucedido do que você, como não é o caso do Sr Potter, acomodem-se com o mais próximo.

Assim que todos se acomodaram, ele continuou.

– Hoje vamos todos transfigurar água em vinho – alguns alunos pareciam animados com a simplicidade da tarefa – Eu disse que HOJE vamos TODOS transfigurar água em vinho. Isto quer dizer que vocês só sairão desta sala, quando TODOS conseguirem transfigurar água em vinho.

A animação inicial se transformou em receio. Imediatamente, Elizabeth sentiu todos os olhares da sala em sua nuca. Olhou para o lado e encarou um par de olhos verdes. Alvo tratou de enfiar a cara no livro, rapidamente. Foi um martírio. Demorou um tempo até que o primeiro aluno obtivesse o resultado positivo. O professor logo o encarregou de auxiliar alguém. A maioria estava bastante nervosa e, por isso, a água virava rum ou chá mate.
Alvo notou que Elizabeth perdia a paciência com facilidade, dava longos e pesados suspiros e, vez ou outra, simplesmente abandonava a varinha e cruzava os braços. Ele havia conseguido suco de uva da última vez, mas não conseguia ir além disso.

– Você está fazendo o movimento errado – a garota cochichou, enquanto Alvo apoiava o rosto em seu punho.

– Que?

– Você está fazendo o movimento errado – sussurrou mais uma vez.

– Se você sabe como é, por que sua água só vira limonada?

– É essa droga de varinha. Ela não funciona.

– Sei – Alvo disse, não acreditando.

Elizabeth olhou para trás e notou que o professor estava de costas, analisando os feitos dos alunos da última fileira. Então ela falou, baixinho:

– Você está colocando o movimento no braço, mas é o pulso que se movimenta. Assim!

E mostrou a Alvo como fazer, delicadamente. Contudo, ela só conseguiu uma limonada. Ele olhou desconfiado para ela, que deu de ombros.

– Se não quer tentar, problema é seu.

Ele olhou novamente para ela, extremamente desconfiado. Uma sonserina querendo ajudar era algo fora do comum. Provavelmente, o suco dele viraria limonada e o professor caçoaria dos dois. Contudo, a curiosidade foi mais forte e ele poderia jogar o líquido fora antes que o professor percebesse. Respirou fundo e, sob os olhares ansiosos da sonserina, conjurou o feitiço. A garota revirou os olhos.

– Você está fazendo errado de novo – sussurrou e pegou em sua mão.

Alvo não sabia explicar por que aquilo lhe deixou completamente travado. Ele imaginava que todos os sonserinos tivessem mãos frias e duras, como eles pareciam ser, mas as dela eram macias e quentes. Ele olhou com atenção o movimento da mão dela sobre a sua e, quando ela soltou, ele o repetiu, desta vez, fielmente. Ao analisar o conteúdo do copo, não pôde acreditar: era puro vinho.

– Uau! Você é incrível! Deu certo! Mas por que não dá certo pra você? – cochichou.

– Já disse – ela tinha a cara emburrada – É essa varinha estúpida que só faz o que quer.

– Sem conversas paralelas – ralhou o Professor ao se aproximar dos dois – Acredito que já esteja difícil o suficiente para vocês.

Quando olhou o conteúdo do copo de Alvo, o professor arregalou os olhos, surpreso.

– Um vinho perfeito. Interessante, Sr Potter. Talvez você não seja uma completa perda de tempo. Limonada... nada promissor, Srta Dumbledore.

O Prof Pratevil lhe lançou um olhar de desdém, mas o que realmente doeu na alma da garota foi o prazer com que ele disse cada sílaba de seu sobrenome. Elizabeth pôde sentir seu rosto começar a queimar em fúria e cerrou os punhos, olhando para a sua varinha. O professor deu um leve sorriso de vencedor, imperceptível.

– Sr Potter, ajude a Srta Dumbledore, senão ficaremos todos presos aqui.

Alvo fez menção de contar ao professor que Elizabeth o havia ajudado, quando a garota deu um chute em sua canela e ele se contorceu de dor.

– O que foi, Potter?

– Nada, senhor. Eu bati a canela enquanto descia do banco – ao passo que o professor se afastou, ele olhou para a garota, desgostoso – Por que você fez isso? Doeu!

– Eu não pedi que me defendesse, Potter.

Alvo deu um leve muxoxo.

– E o que vamos fazer agora? – perguntou, ainda emburrado.

– Me dê a sua varinha.

– Que?

– Eu não consigo com a minha. Me dê a sua varinha, agora – e esticou a mão para recebê-la.

– Mas eu...

– Eu fiz você acertar, Potter. Agora me dê a sua varinha – disse, num tom ameaçador e com os dentes semicerrados.

Alvo olhou para a expressão da sonserina e para sua mão esticada diante de si. Estava receoso de entregar sua amada varinha para a garota que, obviamente, fez o que fez para se beneficiar depois. Ela continuava encarando ele tão profundamente que Alvo podia jurar sentir um peso enorme em sua consciência o impelindo a ceder à ordem da garota. Então ele esticou o braço oferecendo a sua varinha para ela. Antes de chegar nas mãos de Elizabeth, o Prof Pratevil a confiscou.

– Com a sua varinha, Srta Dumbledore! – e olhou para Alvo com seus terríveis olhos vazios – está confiscada até o fim da aula, Sr Potter. Use seu talento, Srta Dumbledore, se é que possui alguma herança genética do grandioso bruxo que foi seu avô.

Aquilo definitivamente soou como a gota d´água para aquela criança. Impedida de lançar uma azaração sobre o professor, agarrou sua varinha com fúria e tratou de repetir o encantamento uma vez, duas, três... Alvo já havia contado doze tentativas e nem em limonada a água se transformava agora. O rosto da sonserina estava vermelho e o lufo notou uma lágrima nervosa que escorreu pelo seu rosto. Alvo se sentia extremamente angustiado, impotente e com muita pena da garota, que chorava em silêncio, dizendo o feitiço e fazendo-o com perfeição. Entretanto, não conseguia nenhum resultado positivo. Então, tudo aconteceu muito depressa. Ela parou, abruptamente, olhou com ódio estampado no rosto para sua varinha e disse algo que Alvo nunca havia ouvido antes.

– Iste varinha vacerrosa a inferni! Sola delirium!

Foi aí que pareceu para ele que a garota já não controlava mais nada. A varinha em sua mão começou a disparar feitiços em todas as direções, explodindo copos, espatifando livros e jogando cadeiras para o ar. Algumas crianças tiveram cortes no rosto e nas mãos, enquanto se protegiam e o professor empunhou sua varinha para desarmá-la. Elizabeth chorava e pedia para parar, mas não conseguia. O Prof. Pratevil foi desarmado e lançado longe, o que fez as crianças entrarem em pânico.

– Saiam da sala! – bradou o professor.

As crianças corriam desembestadas e gritando porta afora. Elizabeth chorava compulsivamente, enquanto o professor olhava atônito para o fato de que a varinha parecia suspender a garota no ar. Alvo tentou trazer a sonserina para o chão, mas foi lançado violentamente de encontro ao professor, que amorteceu sua queda. A garota chorava e suplicava para parar. Ela não conseguia soltar a varinha, que continuava a lançar feitiços aleatórios com violência e destruía a sala de aula. Foi então que Harry Potter apareceu na entrada da sala e, por alguns segundos, permaneceu tão atônito quanto o Prof Pratevil. A varinha de Elizabeth, pressentindo o perigo, atacou Harry enquanto a sonserina gritava e ele desviou com facilidade, desarmando-a. Não era segredo que expelliarmus era o feitiço de maior precisão de Harry. Elizabeth sentiu um estalo e a varinha voou de sua mão, fazendo-a cair de joelhos. Ela pôs as mãos no rosto e correu para fora da sala chorando, enquanto Harry checava se Alvo estava bem. Ele tentou alcançá-la, mas havia muitas crianças no corredor assustadas e ele ajudou o Prof. Pratevil a encaminhá-las para a enfermaria.

– Onde está Alvo? – Harry pareceu se dar conta de que o filho havia sumido no mar de crianças.

– Ele foi atrás dela – disse Lavínea Strauss, a garota de cabelos cor-de-rosa.

Quando Alvo finalmente a alcançou, ela estava agachada na ponte para Hogsmeade, chorando compulsivamente. Ele se aproximou vagarosamente da garota, que abraçava seus joelhos cobertos por seu vasto cabelo negro. Assim que Alvo tocou seu ombro, a garota se afastou, de sobressalto.

– Se afasta de mim! – gritou.

– Calma.

– O que você quer? – continuava, agressiva.

– Ajudar. Eu sei que você não teve culpa no que aconteceu lá – disse enquanto se sentava ao seu lado – A coisa fugiu do controle, eu vi. O professor te provocou.

– Por que você está fazendo isso?

– Você me ajudou. E eu não acho justo você levar a culpa por algo que não fez. Bom, não de propósito, né?

A sonserina enxugou as lágrimas no casaco de sua roupa e se levantou, junto com Alvo.

– Eu não preciso de ajuda. Eu sei me defender.

– Por que você é tão chata? Eu só quero fazer o certo.

– Eu não me importo com isso.

Elizabeth fez menção de voltar para o castelo, mas foi impedida por Alvo, que tomou a sua frente, segurando-a pelos ombros.

– Olha, você pode ser expulsa da escola, sabia? Pára com esse orgulho idiota.

– Me larga, Potter.

– Você ouviu ela.

No segundo seguinte, Alvo sentiu um leve sufocamento, pois ele foi puxado pela gola da roupa e depois jogado no chão. Khai ainda estava com o rosto avermelhado e os pulsos fechados, ameaçando socar o lufo. Malfoy estava ao seu lado, com o nariz empinado e os braços cruzados.

– Cai fora, Potter! Não se mete onde não é chamado.

– Qual o problema de vocês? – se levantou – Eu só estou querendo ajudar.

Desta vez foi Malfoy quem o empurrou.

– Ninguém pediu sua ajuda, Potter - disse, com desprezo – Qual o problema da sua família? Não cansam de querer bancar os heróis e bom samaritanos? Patético.

– Você não tem direito de falar da minha família.

– Eu falo de quem eu quiser – e empurrou novamente o lufo.

– Não fala não.

– Se não o que? Vai me bater, Potter? – e o empurrou novamente.

– Você vai engulir isso – e empurrou sonserino de volta.

– O que está acontecendo aqui?

Harry chegou de sopetão, falando com autoridade e percebeu um princípio de briga. Os sonserinos que haviam tocado suas varinhas em seus bolsos, voltaram atrás e as deixaram guardadas. Harry não gostou nem um pouco de ter visto o filho de Malfoy ameaçando o seu, mas sentiu orgulho quando Alvo não se deixou abater e o enfrentou. Harry teve vontade de puni-los e retirar pontos de suas Casas, mas não seria correto, já que nada havia acontecido, de verdade.

– Srta Dumbledore e Alvo, me sigam. E quanto a vocês, espero que essas varinhas permaneçam em seus bolsos.

Harry caminhou com as crianças apressadamente pelos corredores, se dirigindo para a sala de aula onde tudo aconteceu. Os outros alunos cochichavam e apontavam para a sonserina, desviando com medo dela e lançando olhares atravessados. Assim que passaram pela porta, Harry a trancou e lançou um feitiço abafatório, deixando-os a sós com a diretora McGonagall, Prof Carmelita Trelawney e o Prof Pratevil. A sala estava um completo caos e a varinha da sonserina estava nas mãos da professora de feitiços, que a analisava com curiosidade.

– Srta Dumbledore, algo de muito grave aconteceu nesta sala. Conte-nos.

– Eu... eu... eu não sei bem. Eu só estava tentando fazer o feitiço.

– Foi sem querer, diretora. Ela não quis fazer mal – Alvo se intrometeu, atraindo os olhares dos professores.

– O que você viu, Sr Potter?

– Bom, ela estava mesmo tentando fazer o feitiço. Estava tudo certo só que a varinha simplesmente não fazia certo. Aí ela ficou com muita raiva da varinha e falou umas coisas esquisitas.

– O que, Sr Potter? – perguntou a Prof Trelawney, ansiosa.

– Não sei bem. Parecia latim. Terminava com sola delirium.

– A senhorita sabe latim? – a diretora perguntou à garota.

– Sim, senhora. Aprendemos na igreja.

– A senhorita deu uma ordem a sua varinha?

– Não me lembro, diretora McGonagall. Foi... eu não tive a intenção. Só estava chateada.

– Para ter feito um feitiço desses, a senhorita deveria estar furiosa – Prof Trelawney afirmou – Srta Dumbledore, você amaldiçoou sua própria varinha.

– Que? – as crianças disseram, em uníssono.

– É um feito raro e nada admirável, devo dizer – a diretora já parecia recriminá-la – Alguns bruxos costumavam amaldiçoar varinhas de seus inimigos para que se confundissem e atacassem seus próprios donos. É evidente que a senhorita desconhece estes fatos, uma vez que este ano é seu primeiro contato com o Mundo da Magia. Contudo, essas ações são absolutamente imperdoáveis nesta escola.

– Mas eu não quis... por favor... – e sua voz se esvaiu.

– Ela não fez por mal, diretora. Eu estava lá, eu vi. O Prof Pratevil e meu pai viram quando a varinha a ergueu no ar. Ela não podia ter feito aquilo, poderia?

– Por que a defende tanto, Sr Potter? – o Prof Pratevil perguntou o que todos queriam saber.

– Porque eu sei que ela não fez nada, ora. Seria injusto não dizer o que sei ou deixar ela levar a culpa, se não teve a intenção.

– Viraram amigos, agora? – continuou o professor.

– Ele não é meu amigo – disse, seca, gerando incômodo na sala.

– Srta Dumbledore, o Prof Potter já removeu o encantamento de sua varinha. A partir de agora, nada de latim além dos feitiços dos livros, compreendeu? Muitos de nossos encantamentos têm origem nesta linguagem e a senhorita invocou um deles, sem a intenção. Não irei puni-la, mas está de sobreaviso que, se algo do gênero ocorrer mais uma vez, será expulsa desta escola. Compreendeu?

– Sim, diretora McGonagall – respondeu cabisbaixa, enquanto pegava sua varinha contra a vontade. Seu desejo era de quebrá-la em mil pedacinhos.

– E não adianta livrar-se de sua varinha – a Prof Trelawney pareceu ler seus pensamentos – Isso a colocaria em uma situação delicada.

– Eu sei. Li no livro que a diretora me deu no Natal. Um bruxo não pode quebrar a varinha que lhe escolheu ou convencer alguém de fazê-lo premeditadamente, pois sua magia desaparecerá. A ligação do bruxo com a varinha remonta a séculos e até hoje mistérios cercam esta conexão tão simples e poderosa.

– Que bom que o leu, Srta Dumbledore – Minerva disse encantada e ponderosa – Todas as segundas e quartas, após as atividades escolares, às oito horas da noite, a senhorita terá aulas particulares comigo, para desenvolver sua habilidade com a varinha. Vamos trabalhar para que descuidos, como o de hoje, não aconteçam – a garota ficou branca como um fantasma e Minerva continuou – nossos encontros serão na sala vazia do quinto andar, ao lado da armadura de bronze.

– Sim, senhora – disse aliviada.

– E 5 pontos serão creditados à Lufa-Lufa, pela defesa da justiça, promovida pelo Sr Potter. Agora, vocês devem se retirar e descansar. E srta Dumbledore, ignore os comentários pelos corredores. O que aconteceu nesta sala não passou de uma magia mal-feita com resultados desastrosos, compreenderam?

Era evidente a vontade da diretora que não comentassem sobre a maldição efetuada pela sonserina e ambos concordaram. Ao saírem da sala, uma série de curiosos esperavam pelas informações ou a possível expulsão da sonserina, mas as duas crianças caminhavam caladas. Assim que chegou na entrada da Câmara de Passagens, Malfoy e Khai vieram ao seu encontro.

– Você está bem?

– Você está falando comigo? – e lançou um olhar ainda desgostoso para o garoto.

– Você foi expulsa?

– Não, Malfoy. Tudo não passou de uma magia mal-feita com resultados desastrosos – mentiu – Agora tenho aulas às segundas e quartas à noite com a diretora.

– Aulas à noite, detenção com o Guarda-Caças, aulas extras de Feitiços e Transfiguração... desse jeito não sobra muito tempo para os nossos projetos, não é?

– Pensa que não sei? Droga!

– Lizzie, você está bem? O que aconteceu? – Jonathan parecia bem transtornado e tinha a expressão de quem tinha acabado de saber.

– Foi um erro que cometi. Seu amigo Potter estava lá – e apontou para o lufo que estava logo atrás - Ele te conta com mais detalhes. Eu vou dormir. Minha semana não dá pra ficar pior.

E saiu a passos largos tomando o caminho do seu dormitório.

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