PERAMBULAÇÕES



A semana começou com muito burburinho entre os alunos, durante as aulas. Todos já sabiam que Harry e o Prof Pratevil tinham mergulhado no Lago e, evidente, apenas Harry era questionado sobre o que havia lá. O assédio foi tanto que ele, como professor, teve que proibir o assunto durante suas aulas. Teoria de Feitiços de Proteção eram mais relevantes para DCAT.

Os sonserinos e lufos já estavam adaptados aos novos dormitórios, contudo, privacidade era algo raro. Aos poucos, o ritmo das aulas foram retomadas, mas o medo de que algo acontecesse ainda existia. Foi no segundo dia de aula que a diretora McGonagall apresentou as duas figuras mais enigmáticas que os alunos haviam visto.

– Bom dia a todos! Como vocês sabem, desde os últimos acontecimentos Hogwarts está sob investigação do Ministério. Com a inundação da semana passada, concordamos que, para a segurança de vocês, deveríamos ter mais bruxos adultos experientes transitando na escola. Por isso, o ministro Shacklebolt ofereceu dois de seus funcionários para reforçar a segurança de Hogwarts. Eu gostaria de apresentar a vocês o Sr Barbossa Williack e a Srta Gupta Chernovil, funcionários do Departamento de Desastres Mágicos.

Os dois bruxos se levantaram e cumprimentaram os alunos que aplaudiram depois que os professores da mesa os incentivaram. O Sr Williack possuía uma vasta e longa barba ruiva, amarrada em três elásticos, e uma juba selvagem no lugar dos cabelos. Seus olhos eram estreitos e extremamente ágeis; treinados para ver cada movimento que acontecia no Salão Principal e reagir imediatamente. Era corpulento e quase chegava a 2m de altura, embora não tivesse nenhuma ligação com gigantes. Usava uma veste grafite, com uma estranha corda amarela-berrante amarrada na cintura e um chapéu cinza velho com a ponta caída para frente. A Srta Chernovil tinha a pele alva como neve, cabelos longos, lisos e de um loiro-esverdeado e usava vestes verde-musgo. Era esbelta, tinha feições frágeis, mas seus olhos revelavam que ela era uma mulher perigosa: tinham um estranho brilho vermelho faiscante.

As crianças, embora estivessem seguras, não omitiam o medo das figuras estranhas que circulavam livremente pelo castelo. Mas isso era algo que Minerva tinha que aceitar, se ainda quisesse manter a escola funcionando. A pressão dos pais assim como da imprensa estavam atingindo em cheio a diretora. Hogwarts estava virando a manchete preferida do Profeta Diário: Inundação em Hogwarts aflige pais e alunos, O que está acontecendo com a escola?, McGonagall é o que Hogwarts precisa? e até mesmo Hogwarts enlouquece após retorno de Harry Potter.

Logo após o café da manhã da sexta-feira, Alvo, Rose, Peter e Jonathan caminharam normalmente até a estufa nº 3, onde iriam tratar de protobetúberas com o Prof Longbottom. Contudo, a aula não durou nem 20 minutos, pois Timmy Bunglinton, o leão da Lufa-Lufa, se machucou feio. Ele utilizava luvas de couro de dragão muito gastas e, assim que começou o procedimento para retirar a seiva de cera da planta, de forma errada, recebeu um jato de gosma roxa direto na pele. Pelos gritos e choro de dor do garoto, aquilo parecia doer mais do que Neville havia explicado. O professor cancelou imediatamente a aula e levou Timmy para a Ala Hospitalar com muita pressa. Com o tempo vago, Al e Rose decidiram fazer uma visita a Hagrid com os amigos.

– Será que ele está em casa, Al?

– Acho que sim, Rose. Tem fumaça saindo da chaminé, olha! – e apontou para a grossa fumaça.

– O que é que ele está queimando? – John perguntou.

– Vamos lá ver – Alvo disse e tomou a frente, em direção à cabana.

Quando ia bater na porta, ela se abriu e uma grande poltrona saiu por ela, fazendo o garoto saltar para o lado, numa velocidade mágica.

– Olá, Hagrid!

O grandalhão se assutou.

– Por Merlim! Rose! Alvo! Não vi vocês. Como vão? Olá Peter, oi Jonathan.

– Oi, Hagrid – responderam.

– Vocês não deveriam estar na aula? – perguntou olhando de esguelha com uma sombrancelha erguida, enquanto colocava a poltrona de cabeça para baixo para tomar um sol.

– Teve um acidente na aula e fomos liberados – John explicou.

– Espero que não tenha sido nada grave.

– Nada que a Madame Pomfrey não possa cuidar – Peter sorriu.

– O que você está fazendo, Hagrid?

– Ah, Alvo, é que eu ainda não tive tempo de secar as minhas coisas, sabe? Desde a...a...enfim, desde aquele dia.

– Esteve muito ocupado? – Rose perguntou, fingindo admirar as abóboras da plantação.

– Todos estivemos. Com tantas coisas acontecendo...nunca vi tantas reuniões na escola.

– O que o senhor estava queimando, Prof Hagrid?

– Uma sopa especial para o canino. Oh, por Merlim! Nem convidei vocês para entrar. Vamos, vamos! Mas aviso que tudo ainda está um pouco úmido. Vou fazer um chá para nós. E Jonathan, me chame de Hagrid, já falei. Não me faça ficar chateado com você.

– Sim, senhor...digo, Hagrid.

A cabana do Guarda-Caças tinha um cheiro de cachorro molhado e ainda estava úmida, como ele havia alertado. Na certa, o feitiço para secar de Hagrid não tinha surtido o efeito esperado. Havia um grosso casaco largado numa cadeira e animais mortos amarrados numa corda, que deveriam ser o almoço de Asafugaz, o antigo Bicuço. Canino estava aconchegado no que parecia ser um cesto de roupa suja e mal levantou a cabeça para olhar os visitantes. O cão agora possuía um pêlo branco ao redor do fucinho e seus olhos pareciam cobertos por uma nuvem: estava velho.

– Não liguem para ele. Está velho e cansado. Temo que a hora dele esteja se aproximando – disse choroso e fungando dramaticamente – Não sei o que farei quando ele se for. Sua única alegria agora é encontrar a... enfim – cortou bruscamente – como andam os estudos? – perguntou enquanto servia chá para todos e ofertava uma bandeja com bolinhos que as crianças aceitaram apenas por educação, mas não comeram.

– Vão bem – Rose respondeu displicente – Hagrid...o que é tudo isso?

A garota se referia às novas aquisições da cabana do Guarda-Caças. Havia uma prateleira repleta de potes com plantas, pedras, penas, pequenos animais visguentos mergulhados num líquido amarelo e crinas de unicórnio.

- Desde quando você se interessa por herbologia e ingredientes para poções?

Rose estava intrigada e deixou Hagrid nervoso.

– Ora, Rosie...er...hum...eu preciso saber dessas coisas para...para...para tratar criaturas mágicas, é claro!

– Sei...

Antes que Rose contra-argumentasse, um barulho de algo pesado caindo e água batendo no chão, junto com um grito de susto chamou a atenção de todos. Jonathan tinha um caldeirão enfiado na cabeça e seu corpo estava tenso e encharcado. Os amigos riam da cara dele quando Hagrid arrancou o caldeirão, rapidamente em auxílio.

– Jonathan, você está bem? Merlim! Está todo molhado. Espere!

Hagrid pegou seu guarda-chuva, que na verdade era sua varinha, e lançou um feitiço no garoto, que fechou os olhos com força, rezando para que o Guarda-Caças não o transformasse numa xícara de chá, acidentalmente. Um vento forte e morno o atingiu, secando parcialmente suas roupas, deixando-as úmidas e com cheiro de cachorro molhado, sem falar no emaranhado que era o cabelo do garoto: tão selvagem quanto à juba do Sr Williack.

– Bom...hum...pelo menos está menos molhado – disse Hagrid, sem jeito.

– É. Obrigado, Hagrid. Se já é difícil secar a sua casa, imagino como não foi secar o castelo todo.

– Bom, foi até fácil – disse se servindo de um grande pedaço do próprio bolo – É verdade que tivemos ajuda dos elfos, né?

– Algum deles se machucou?

– Oh, não Rose. Eles são muito espertos e têm uma magia diferente da gente, por isso podem aparatar em Hogwarts. Trataram de salvar suas peles assim que a inundação começou. Mas foram muito úteis na hora de secar tudo: eles conhecem o Castelo melhor do que qualquer bruxo. O grande problema que tivemos foi o coitado do Filch pedindo demissão aos berros. Ele achou que provocou a inundação porque tirou uma pedra solta da infiltração do térreo, certo de que um aluno havia rabiscado a pedra. Bobagem, eu digo. Uma pedrinha de nada não faria nenhuma diferença no jogo que Hogwarts está jogando...

– Hogwarts está jogando? – as crianças perguntaram, atônitas.

– Eu não devia ter dito isso. Escutem aqui, não vão se meter em encrenca, ouviram? Eu não devia ter dito...

– Que tipo de jogo é? E...Hogwarts pode mesmo jogar? Como uma pessoa de verdade? – Alvo perguntou afoito.

– Eu não vou dizer mais nada.

– Ah, Hagrid, por favor!

– Não, não. Minha boca está selada, Rose.

– Você já começou, Hagrid. É só terminar.

– Nada disso, mocinha. Eu não disse nada tão importante como... – e parou bruscamente, tapando a boca – Ora, vocês não vão arrancar mais nada de mim. É melhor vocês irem andando, porque Jonathan precisa trocar de roupa. Sem falar que vocês devem ter alguma coisa para estudar. Vão, vão, vão.

– Mas Hagrid...

– Sem “mas”! Ora, até parece que estou vendo seus pais me atazanando o juízo – e deu um largo sorriso – Vamos, vamos logo. Eu tenho que terminar de arrumar a cabana antes da minha próxima aula.

As crianças saíram da cabana e seguiram a trilha que os levava de volta ao castelo. Pararam na entrada do corredor oeste da escola e se sentaram.

– Você precisa trocar de roupa, John. Está cheirando mal – disse tapando o nariz.

– Daqui a pouco, Rose. Então? O que vocês acham? Hogwarts está jogando?

– Deve ser a idéia dos professores, né? Mas jogando o que?

– Um jogo de detetive, Al?

– É...tem várias pistas mesmo, Peter.

– Para mim deve ser algo mais complexo, sabe? Hogwarts não jogaria um jogo qualquer – Rose defendeu.

– E Hogwarts pode jogar?

– Olha, John, como Hogwarts é Hogwarts eu acho que pode. Tudo aqui é diferente de tudo no mundo, não é?

– Eu acho que a gente tinha que dar um jeito e olhar a tal pedra que o Sr Filch achou. Se for igual à que temos?

– Eu também acho, John, mas como vamos fazer isso? – Peter perguntou.

– Bom...eu acho que tenho uma idéia.

– Alvo!

– Rose, você tem idéia melhor?

A garota abriu a boca por um instante, mas a fechou em seguida. Por fim, resolveu manter a postura receosa.

– A gente pode se encrencar, sabia?

– Mas não vamos.

– Como você pode ter certeza? James foi pego.

– Porque ele deu mole.

– Alvo, isso não está me cheirando bem.

– Eu acho que vamos achar uma pista importante lá. E ninguém vai nos ver.

– Eu ainda acho...

– Com licença – John cantarolou, pedindo a palavra com a mão – Será que podemos participar da conversa?

– Desculpe – Rose falou.

– Eu tenho uma capa da invisibilidade.

A garota revirou os olhos.

– Uma o quê? – Peter perguntou, confuso.

– Capa da invisibilidade. Uma capa especial que deixa a gente invisível. A gente pode usar ela para descer de noite e dar uma olhada na infiltração.

– Você tá louco? Tem bruxos do Ministério aqui, além dos professores! – Jonathan alertou.

– Qual a parte da capa da invisibilidade você não entendeu?

– E se eles puxarem a capa?

– Eles teriam que ver primeiro, não é?

– Desde quando você tem essa capa? - Peter perguntou, um pouco chateado pelo colega não ter falado antes.

– Ganhei no Natal. Desculpa, mas era tipo um segredo de família ainda.

– Não vai caber todo mundo nela, não é?

– Eu acho que só três, Peter.

– Então...como vamos fazer isso? – Rose perguntou com os braços cruzados.

– Acho que o mais justo é tirar na sorte – ele se levantou e apanhou 3 gravetos no chão, limpando-os – Quem tirar o menor está fora.

Os três respiraram fundo e se posicionaram ao redor de Alvo. Rose foi a primeira a segurar o graveto do meio, Jonathan escolheu o da direita e Peter o da esquerda. No três eles puxaram e olharam o resultado.

– Droga! Eu nunca tenho sorte nessas coisas – Jonathan exclamou.

– Bom, então está resolvido. Sábado à noite nós vamos pegar a capa e subir até a torre pra pegar você, Rose. Depois descemos até o térreo e ficamos lá com a capa, certo?

– E se pegarem a gente?

– Não vão pegar. Vê se relaxa, Rose. Vamos entrar.

O castelo ficava estranhamente vazio enquanto as aulas aconteciam. Os quatro deram uma passada rápida pelo térreo, olhando com curiosidade a infiltração. Dali seguiram para a Ala Hospitalar para saber do colega e Madame Pomfrey garantiu que ele iria se recuperar. As outras aulas foram tranqüilas e quando a última havia terminado, Deymon, Khai e Lizzie conversavam discretamente no corredor esquerdo do terceiro andar. O local era proibido desde o início das aulas, por não estar ativo há anos, mas agora havia se tornado o corredor de acesso à turma de Poções. Praticamente todos os alunos já tinham saído, rumo ao Salão Principal para jantar, mas, ainda assim, os três cochichavam.

– Vai ser amanhã à noite – Deymon informou.

– Droga! Maldita detenção.

– Pense assim: se formos pegos você fica livre.

– Pára com isso, Khai. Não seremos pegos, porque vamos usar a minha capa.

– Vê se encontram algo de útil.

– Falando nisso, eu acho que encontrei a oportunidade perfeita para aquilo.

– Aquilo o quê, Deymon?

– Aquilo. A poção que você fez.

– Nossa! Pensei até que você já tinha usado.

– Não, esperei o melhor momento.

– Pra que vai ser?

Khai perguntou ansioso, mas o grupo foi interrompido por passos ritmados vindo em sua direção. Amélia Bulstrode, Gilbert Goyle, Stella Qwysking e Vinny Bachking ficaram até mais tarde na sala para terminar uma atividade que o Prof. Slughorn passou.

– Olha só: os três patetas! – Vinny disse, enquanto seus amigos riam e Lizzie revirava os olhos.

– Pensei que depois que seu pai fez o maior escândalo você teria saído da escola como um bom elfo doméstico – Goyle provocou.

– E eu pensei que Hogwarts tinha parado de aceitar Trasgos na escola depois que seu pai entrou – Malfoy rebateu.

Goyle ia revidar, mas Bulstrode tomou a frente. Ela tinha outros interesses em Malfoy. Embora a família dele tivesse a fama de traidora, nos últimos anos o pai de Deymon se destacava cada vez mais e continuava a se envolver em ações abscuras. Desde o Natal, quando Amélia comentou que Malfoy era seu colega, seus pais tinham lhe passado instruções, pois a engenhosidade para fugir das batidas do Ministério era de interesse da família da sonserina.

– Você devia saber o seu lugar, Malfoy. Devia cumprir o seu dever e se juntar ao nosso grupo. Talvez assim a gente possa te perdoar.

– Me perdoar? Pelo quê? – perguntou com os braços cruzados.

– Por ser neto dos seus avós traidores.

– Você acha realmente que Malfoy iria querer entrar no grupo de vocês? Faça-me o favor! – disse Elizabeth, enquanto desdenhava com a mão.

– Vocês não têm nada a oferecer. São dois fracassados. Nós temos o poder de devolver o orgulho sonserino para a família dele. E você? O que tem a oferecer?

Nesse momento o Prof Slughorn apareceu no corredor e estranhou a disposição dos alunos.

– É melhor se apressarem ou perderão o jantar – disse, olhando para as carinhas de psedo-inocência.

– Professor, eu gostaria de saber se poderia conversar com o senhor, no domingo.

– Claro, claro. Sinto sua falta em nossas reuniões particulares.

– Será que posso levar Malfoy? – perguntou assim que o professor voltou a caminhar.

Slughorn parou e encarou a sonserina e depois o seu amigo.

– É sobre aquilo? Ah, claro! Prepararei algo especial para nós...hum...existem pratos e bebidas tradicionais que a senhorita precisa conhecer e creio que o Sr Malfoy há de concordar comigo. Nos vemos no domingo, ao meio-dia. Agora todos vocês vão logo jantar. Não é bom ficar perambulando por aí.

– Já vamos descer – Lizzie respondeu com um sorriso e uma piscadela que fez o professor sorrir. Assim que ele virou a esquina, o sorriso da sonserina foi substituído por um olhar de superioridade – Eu posso abrir caminhos, Bulstrode!

– É o seu nome.

– É o meu talento – rebateu – Você tem algum?

Khai deixou escapar um riso.

– Do que você está rindo, idiota? Você é uma sombra inútil. Um zero à esquerda.

– Ei! Olha lá como fala! Eu não escolho minha companhia pela força física, e sim pela inteligência – Deymon defendeu o amigo.

– O Khai tem muito mais a oferecer do que você, que tem o QI de um verme-cego.

Khai se sentiu honrado e feliz pela defesa que seus amigos fizeram. Estufou o peito e lançou um olhar superior, o que fez alguns dos sonserinos se perguntarem se ele teria algo de especial. Seus amigos o prezavam pela inteligência. A frase “O Khai tem muito mais a oferecer do que você” continuava a ressoar em sua mente. Sorriu e corou.

– Repita! – disse Bulstrode com o olhar de raiva.

– Repetir que você tem o QI de um verme-cego?

Amélia sacou sua varinha e a apontou violentamente para a garota. Elizabeth olhou para Khai e Deymon com um ar de ironia e fez a melhor cara de insanidade má que podia.

– Você tem certeza que quer me ver sacar a minha varinha?

Deymon e Khai deram alguns passos para trás, fingindo receio e logo os sonserinos que estavam com Amélia ficaram com medo. Eles tinham presenciado o que ela podia fazer.

– Eu não assumirei as conseqüências.

Bulstrode titubeou. Enquanto Lizzie movia lentamente a mão na direção do bolso, Khai e Deymon exibiam feições de terror. Os outros sonserinos estavam perdendo a cor dos rostos e quando Lizzie, num movimento repentino, sacou sua varinha, eles saíram correndo, empurrando uns aos outros. Assim que desapareceram do corredor, os três caíram na gargalhada.

– Viram só a cara deles? – a garota riu ainda mais – Uhh! – brincou – Eles têm medo de mim – todos riram – A cara de terror que vocês fingiram deve ter sido demais para eles ficarem assim.

– Quem disse que era fingimento? Toda vez que você puxa a varinha eu entro em pânico – Malfoy brincou.

– Idiota! – ela respondeu, dando um leve soco no amigo, que sorriu.

– Isso foi muito bom. Temos que fazer mais vezes.

– Com certeza, Khai. Eu daria tudo para mostrar a covardia deles para a escola. É com isso que vou recuperar o orgulho sonserino? – Malfoy revirou os olhos.

– Eu não vou esquecer nunca a cara de medo deles.

– Lizzie, você realmente soa psicótica falando daquele jeito.

– Você não sabia, Khai? Eu sou o que todos temem – disse, entrelaçando os dois em cada braço – A parte má de Dumbledore – e soltou uma risada má, forçada, fazendo os amigos rirem.

Assim que saíram da Câmara das Passagens, ainda sorrindo, deram de cara com Peter, Jonathan, Rose e Alvo. Aos poucos, os sorrisos sumiram e a carapuça sonserina encobriu suas feições. Os três se soltaram e passaram pelo meio do quarteto. Khai e Deymon se chocaram, propositalmente, com Peter e Alvo em cada ponta, lançando um olhar de rivalidade. Elizabeth passou entre Jonathan e Rose, tocando com carinho o ombro do irmão, sorrindo, e medindo a grifinória de cima a baixo, com olhar de desprezo. Assim que o grupo entrou no Salão, Rose deu um tremelique.

– Uhh! Vocês notaram a energia negativa que ela deixou aqui?

– Pára, Rose! Minha irmã não tem energia negativa.

– Você ta brincando, né John? Deu até frio na espinha.

– Isso é implicância sua. Eu conheço minha irmã.

– Você acha que conhece, mas não conhece mais. Ela é uma sonserina agora, como eles. É um caso perdido.

– Ah, pára! Isso já tá enchendo o saco! Não fica julgando ela só porque é da Sonserina. Ninguém coloca ou tira nada da cabeça dela e você não sabe nada da nossa história – disse, magoado, e seguiu para o 7º andar, sozinho.

Rose estava atônita.

– O que eu disse de errado?

– Nada. Mas se ele diz que sabe quem ela é, ele sabe – Peter explicou.

– Rose, pensa se fosse o Hugo. Você não deixaria ninguém chamar ele de idiota.

– Ei!

– Tá vendo? – Rose abaixou a cabeça – Eu acho que a gente deve parar de falar mal da Lizzie...

Lizzie? – Rose perguntou, com uma ruga na testa.

– Elizabeth, tanto faz. A gente tem que parar de falar mal dela quando estiver junto com ele. Mesmo que a gente tenha um motivo.

– Agora, eu acho que você devia correr para falar com o John.

– Vocês não vêm?

– Não, isso é coisa de grifinório – Peter riu e Alvo também – Nós vamos para cama.

– Tchau, prima – e saíram sob o olhar raivoso da garota.

O sábado transcorreu como um dia qualquer. Alguns poucos alunos apoveitavam o dia nublado para fazer as tarefas pendentes, mas a maioria conversava alegremente pelo pátio ou jardins do castelo. Era o primeiro fim de semana depois da inundação, então, sempre havia um professor por perto.

Rose não conseguiu encontrar Jonathan na noite anterior ou durante todo o dia. Aparentemente, ele estava muito chateado com a amiga. Peter trocou algumas palavras com ele na aula extra de Herbologia e John pediu para ficar sozinho. Assim que todos tiveram tempo livre, Alvo, Rose e Peter foram assistir ao treino de James. O jogo contra a Sonserina se aproximava e Potter dava bronca no time por pequenos erros. Era até divertido ver o terceiro anista gritando com Jeremiah Newton, o apanhador do 5º ano.

– James precisa relaxar. Eles estão dando duro.

– Ah, Rose, é quadribol! E contra a Sonserina! É um clássico dentro de Hogwarts! – Alvo tentava justificar o comportamento do irmão.

– Mas o time de James não é o melhor?

– Sim, mas os sonserinos trapaceiam.

– Mas a Madame Hooch não vai deixar ninguém roubar, Peter!

– Mas eles podem dar um jeito. O jogo promete ser cheio de faltas, com os balaços todos em cima do James.

– Ano que vem vai ser a gente, Peter.

– Tomara! – e uniram as mãos em compromisso.

A noite chegou mais rápido do que os alunos gostariam. Uma chuva fina ainda caía, se despedindo de mais um dia em Hogwarts. Havia muita agitação dentro da escola, pelos corredores e salas comunais. Sábado costumava ser a noite de visitas nas Salas entre as diferentes Casas, mas os professores pediram que os alunos evitassem, pois havia um toque de recolher imaginário. Somente alunos acompanhados poderiam caminhar. Esse era o caso dos cinco de detenção que aguardavam na Câmara das Passagens.

– Tiago? O que você está fazendo aqui? – Lizzie perguntou surpresa.

– Detenção – disse dando de ombros – Eu voltei depois da janta ontem para pegar uma coisa na sala de Poções e o professor não gostou da minha explicação. Aí...detenção.

– O que você foi pegar?

– Foi besteira minha. Deixa pra lá.

Além deles, estavam James Potter, um garoto da Sonserina do 6º ano e uma garota da corvinal, também sexto anista. Esses dois últimos pareciam ter brigado entre si, pois lançavam olhares de raiva, constantemente. O primeiro a chegar foi o Prof Slughorn, seguido por Hagrid. Elizabeth parou bruscamente quando James começou a segui-los.

– O que você está fazendo?

– Cumprindo minha detenção – disse, com um sorriso irônico.

– Hagrid, ele... ele vai com a gente?

– Sim, Elizabeth. Vai ser ótimo, não? Vamos ter tempo para nos conhecer melhor. Hagrid, Potter e Dumbledore – disse, com olhos marejados – Como nos velhos tempos.

A garota revirou os olhos quando o Guarda-Caças voltou a caminhar na frente e fez cara de quem ia vomitar. James não gostou e lançou caretas para a sonserina, deixando claro que o desprazer era recíproco. Essa era uma noite de andanças na Floresta Proibida, mas também havia muita movimentação dentro do castelo.

Alvo e Peter montaram um plano para não serem vistos. Potter dormiu com a roupa do corpo, uma trouxa e a capa de invisibilidade por debaixo das cobertas. Assim que a luz da sala provisória se apagou, Alvo aninhou a trouxa e o travesseiro para parecer que ainda estava ali. Com cuidado e vestido com a capa, desceu do tribeliche e encontrou Peter na última cama. Alvo cutucou o amigo que fez o mesmo processo, tomando cuidado para cobrir todo o falso corpo com o lençol, enquanto Alvo o protegia com a capa. Mesmo estando escuro, não queriam ser surpreendidos com o lumus de algum professor. Sob a capa, tiveram que esperar a ronda e, assim que a Prof Trelawney entrou na sala, eles se espremeram e saíram para o corredor, no momento exato em que ela conjurava uma lamparina. Permaneceram grudados à parede do lado de fora, sem respirar, até que a professora passou por eles. O coração dos lufos batia enlouquecido, enquanto eles tomavam o rumo da passagem para o 7º andar.

Rose estava sentada na Sala Comunal sozinha, fingindo fazer uma tarefa que nem foi passada. Essa e a espera por James eram suas desculpas caso algum professor aparecesse. Alvo combinou de cutucar o retrato da Mulher Gorda debaixo da capa para que ela reclamasse e Rose, próxima à entrada, pudesse ouvir. Dito e feito. Enquanto a Mulher Gorda abria a passagem para Rose, Alvo e Peter entraram e ela pôde escorregar para debaixo da capa. Dessa forma, todos saíram sem ser vistos, o que deixou a guardiã da passagem extremamente confusa.

O trio não encontrou obstáculos para chegar ao térreo, onde pretendiam dar uma olhada bem de perto na tal pedra solta que Filch havia descoberto. Se tivesse um professor de prontidão ali, eles estariam perdidos, mas o lugar estava absolutamente vazio. Os três pararam por um instante, ouvindo barulho em algum canto dali e taparam a boca, encolhendo-se ainda mais sob a capa. Ninguém apareceu. Decidiram olhar a infiltração com a proteção da capa o máximo possível.

– Aqui continua molhado – sussurrou Peter.

– É. Muito estranho que aqui continue assim depois da inundação. Deve dizer algo, né? – Rose respondeu no mesmo tom baixo.

– Vamos achar logo essa pedra, antes que apareça alguém – Alvo disse, enquanto segurava a capa aberta, escondendo os outros dois.

Lumus! – Rose sussurrou e eles começaram a tatear a parede.

Após alguns minutos, Peter a encontrou.

– Está aqui!

– Shh! – repreenderam os outros dois.

– Tire com cuidado – Alvo alertou.

Havia uma tensão no ar. E se, ao retirarem, eles provocassem uma segunda inundação? Seria o fim da escola. Mas Alvo sabia, de alguma forma, que isso não aconteceria. A curiosidade falava mais alto. Peter foi o primeiro a examinar e, em pouco tempo, suspirou desgostoso.

– Não é nada.

– Como assim não é nada? Deve ser como a outra pedra e temos que molhar com a água do lago para aparecer as inscrições – Rose afirmou e fez menção de colocar a pedra maciça na poça abaixo deles, mas Peter segurou sua mão.

– Não é isso. Veja!

Peter mostrou o outro lado da pedra onde havia, de fato, algo talhado. Era a imagem tosca de um homem lendo com uma varinha na mão e, acidentalmente, acertando o feitiço em algo que parecia um porco espinho, ou, provavelmente, Madame Norra sendo eletrocutada.

– James – ela suspirou.

– O que? – Alvo olhou ao redor confuso. Não estava acompanhando.

– Filch tinha razão. Um aluno esteve aqui. Olha!

Alvo deu uma olhada e viu o desenho na pedra que Rose segurava.

– Isso é tão James.

– Totalmente – a prima revirou os olhos – Toma, Peter, coloca no lugar. Bom, estávamos errados. Só nos arriscamos aqui, como eu tinha dito. Agora vamos logo antes que peguem a gente e nos coloquem em detenção. Ou pior: nos expulsem.

Peter já estava se levantando e limpando a mão na roupa quando Alvo exclamou:

– Rose, olha!

A prima olhou e não viu nada.

– Ali, na parede. Tem alguma coisa ali, bem ali no alto!

– Onde? – Peter caçava o que o amigo via.

– Ali, ó! Tá... meio que ficando mais claro agora?

– Por Merlim! Eu to vendo! – Rose ficou extasiada.

– Shh! – Alvo reclamou.

– É algum tipo de símbolo – Peter concluiu – Está vindo das pedras. Deve ser o jogo que Hogwarts está jogando, como Hagrid falou. Tem que ter a ver com a voz da escadaria!

– Eu vou copiar – Rose disse, enquanto tirava um pergaminho e uma caneta do bolso – Peter, me coloca no ombro pra eu ver melhor e Alvo, ilumina com sua varinha.

Lumus – obedeceu, deixando a capa um pouco de lado.

– Você anda mesmo com pergaminhos para onde quer que vá, né? – Peter falou enquanto agachava para Rose subir.

– Você trouxe uma caneta? Isso é artigo proibido!

– Eu trouxe na bolsa e não pretendo usar para trabalhos. É só para emergências.

– Se a tia Mione descobre...

– Ah! Cala a boca, Al!

Rose posicionou o pergaminho ao lado da inscrição e copiou: tinha um hexágono no meio, sustentado por duas barras, como se fossem pernas. Tinha dois arcos acima do hexágono, um maior do que o outro e uma barra vertical de cada lado. Dentro do hexágono e acima dos arcos, tinha um símbolo que lembrava o jogo da velha. Depois que Peter a ajudou a descer, Rose se aproximou do primo, em frente à infiltração e levantou o pergaminho a fim de que os três pudessem analisar, sobre a luz da varinha.

– O que vocês acham que é? – Peter perguntou.

– Deve ser uma runa – respondeu a garota – Minha mãe tem uns livros sobre isso em casa. Lembra muito os desenhos que vi.

– Então a gente pode achar o que é na biblioteca – Alvo disse, sorrindo, mas logo ele se desfez – Estou ouvindo barulhos. Rápido, pra debaixo da capa! Nox!

Os minutos seguintes foram tensos e angustiantes. Os três permaneceram encostados na parede ao lado da porta do Salão Principal, esperando. Mas um silêncio estranho tomou conta do saguão, como se o universo não ousasse respirar. Eles começaram a caminhar para a Câmara das Passagens e mal se deram conta de que estavam quase correndo. Então, se chocaram com algo e todos foram para o chão, gemendo. Ao levantarem as cabeças, os dois grupos estavam absolutamente surpresos.

– O que vocês estão fazendo aqui? – Alvo perguntou, enquanto Rose empurrava o pergaminho para mais fundo no bolso.

– O que vocês estão fazendo aqui – Malfoy revidou.

– Não é da sua conta – defendeu Peter.

– E por que o que fazemos seria da conta de vocês? – Khai zombou.

– Não sabia que tinha uma capa, Potter.

– O mesmo vale pra você, Malfoy.

– Não está com medo de receber uma detenção, Weasley? E manchar sua imaculada reputação – Malfoy continuou a provocar.

– Eu não tenho medo de nada – respondeu a garota, com o nariz empinado.

– Shh! Estou ouvindo passos. Escondam-se! – Alvo alertou.

Os dois grupos entraram, rapidamente, debaixo de suas capas e se espremeram, lado a lado, na parede lateral da entrada para a Câmara. Dali surgiu um Prof Pratevil de varinha em punho, iluminando tudo. A centímetros de distância, a luz intensa quase deixou Alvo cego. O professor deu alguns passos em direção à infiltração e parou no meio do caminho, quando Rose respirou um pouco mais alto e Peter tapou sua boca. Ele parecia dividido e permaneceu ali, no que pareceu uma eternidade.

– Eu sei que você está aí – bradou – Não pode se esconder de mim. Accio...

Antes que terminasse, porém, Harry surgiu do Salão Principal.

– Prof Pratevil? O que faz aqui? Não deveria patrulhar o 1º andar?

– Ouvi vozes vindas daqui, Prof Potter. Deve ter alunos fora das camas.

Harry já ia responder que o ajudaria a averiguar a suspeita, quando notou um pedaço de tênis conhecido, na parede.

– Deve ter sido eu, sinto muito.

– Mas eram cochichos. Mais de uma voz.

– Eu estava aqui dentro e não ouvi nada. O Prof Longbottom esteve aqui agora há pouco – mentiu – Se tivesse outra pessoa aqui, ela não teria onde se esconder a não ser que saísse do castelo.

O Prof Pratevil lançou um olhar para a porta.

– Eu vou dar uma olhada – Harry disse, mas antes que chegasse no meio do caminho ela foi aberta.

– Pai? – James parou.

Hagrid surgia atrás do garoto com a sonserina ao lado.

– Oh! Olá, Harry. Estava esperando?

– Sim – era verdade – Pensei que podia te ajudar levando eles para os dormitórios, afinal, precisamos do nosso Guarda-Caças lá fora. Falando nisso, viu algo suspeito?

– Não, nada. E obrigado, Harry. Bom, já vou então. Vejo vocês daqui a uma semana. Estão em boas mãos agora – e se retirou.

– Você se importa de encaminhar a Srta Dumbledore, Prof Pratevil? Enquanto checa aquilo?

– Não. Vamos, Srta Dumbledore – respondeu a contragosto. Harry havia se oferecido a ajudar, não ele.

Assim que todos desapareceram na Câmara, os dois grupos escondidos respiraram à vontade.

– Tenho certeza de que meu tio viu a gente aqui – sussurrou.

– Shh! – ralhou Malfoy e Rose não gostou.

– Em silêncio agora – Alvo disse, quase inaudível.

Os dois grupos trataram de voltar aos dormitórios antes que dessem falta deles nas camas. Saberiam pela manhã se Harry realmente salvou todos eles. O que as crianças não faziam idéia é que existia mais uma pessoa que foi salva naquele momento.

Tiago ainda processava o que tinha visto e ouvido, imóvel e estirado em um dos degraus da escadaria, atrás de uma pilastra. Fingiu entrar em sua Casa quando Prof Slughorn o deixou, mas estava morto de fome e se arriscou a uma ida ao Salão para tentar achar algo para comer. Ouviu passos atrás de si e aquele foi o único lugar que pensou para se esconder. Deduzia, agora, que aqueles deveriam ser os sonserinos. Quando tomou coragem para sair dali, ouviu novos passos e petrificou outra vez. Quase foi descoberto quando uma abelha passou ao seu lado e ele deu um tapão nela, que bateu contra a escada e morreu. As três vozes conhecidas o chocaram e ele escutou e observou, atentamente. O encontrão dos dois grupos sob capas de invisibilidade e tudo o que ouviu, junto ao que já sabia, pareceu fazer o maior sentido do mundo. Aos poucos, um sorriso iluminou seu rosto: tinha um plano ousado e absolutamente infalível.

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