O ESCONDERIJO DE MACBEER



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O ESCONDERIJO DE MACBEER


 Finalmente, Harry Potter se encontrava sozinho em seus aposentos, após um longo dia de palestra e bate papo com os alunos. Tinha acabado de enviar corujas contando tudo para Rony, Mione e Gina, incluindo sua visita rápida à sala comunal da Grifinória e uma partida de snap explosivo com seus filhos e alguns amigos deles. Harry compreendia a grandeza do evento de McGonagall e sentia-se feliz por colaborar com aquele momento. Era uma sensação diferente defender Hogwarts sem precisar erguer a varinha para isso. Parecia-lhe algo muito mais nobre do que uma guerra. Estava cansado, afinal. Por mais que tentasse não transparecer, já não era o jovem de 17 anos de antes. Tudo o que precisava era de um bom banho e uma massagem de Gina. Bem, teria que deixar a massagem para as férias.


Mal tinha vestido seu pijama para dormir quando um patrono, em forma de cisne, surgiu no meio de seus aposentos e ele logo soube de quem se tratava. A questão era: por que Cho Chang lhe enviava um patrono falante àquela hora?


 


Harry. Fuga de Azkaban. Precisamos de você, imediatamente. Explicações na lareira.


 


Imediatamente, Harry aumentou as brasas e aguardou o contato de um de seus aurores. Estava impaciente. Uma crise assim, do nada, não fazia sentido. A segurança em Azkaban estava mais severa desde a Segunda Grande Guerra. Quem poderia ter arquitetado isso? Quantos teriam fugido? As brasas começaram a se mexer e logo ele pôde identificar o rosto de Luna Lovegood. Suspirou.


– Olá, Harry! Como vai? Espero que não tenha lhe acordado, mas é uma coisa boa, afinal, precisamos de você.


– Quem fugiu de Azkaban?


– Tenessa e Cho estão com o administrador verificando isso.


– O que aconteceu, Luna?


– O dia estava lindo hoje, mas acho que era atividade de luminosins, você sabe como eles adoram pintar o céu com luz e cores antes de tempestades. Acho que uns sete ou oito, talvez dez prisioneiros de Azkaban conseguiram fugir depois de uma explosão e os dementadores não parecem muito felizes, apesar de sugar a alegria dos outros. O que é bem paradoxo, não acha? Seria muito legal da sua parte se pudesse dar uma passada aqui, sabe?


– Estou indo imediatamente. Vou falar com a diretora e partir.


– Ótimo. Ah, Harry! Eu recomendo chocolates... E colar de rabanetes, eles afastam os zonzóbulos. Tem muitos deles por aqui.


Harry conjurou novas vestes em seu corpo e saiu apressado de seus aposentos. A situação era alarmante, mas Luna parecia fazer tudo soar muito diferente do que realmente era. Preocupar-se mais com zonzóbulos do que dementadores era um feito e tanto, tinha de admitir. Seus passos ecoavam altos no silêncio dos corredores e em poucos instantes atraiu a atenção de um animago. O Sr Beezinsky veio voando ao seu lado e Harry encarou, com uma expressão interessante, um zangão com listras amarelas e roxas. Segundos depois, um homem loiro, alto e esguio com vestes roxas o acompanhava e Harry reconheceu o bruxo que o acompanhou até os sereianos.


– Algum problema, Prof Potter?


– Boa noite, Sr Beezinsky. Fuga de Azkaban. Receio ter de me ausentar.


– Por Merlim! Quantos escaparam? Como?


– Ataque à fortaleza. Ainda não tenho os números exatos, mas precisamos nos mobilizar imediatamente.


Quando alcançaram a estátua dos aposentos da diretora, Sr Beezinsky fez uma breve reverência e se comprometeu a avisar os outros adultos do ocorrido. Mal Harry tinha erguido o pulso para bater à porta, ela se abriu, revelando uma McGonagall de robe rosa e cabelos presos em grampos. Sua expressão estava espantada.


– Por Merlim, Prof Potter! – disse ao colocar suas mãos no peito. – Fuga em Azkaban!


– Exato. Diretora, vim comunicar minha saída imediata e não sei quando poderei voltar.


– É claro, Sr Potter! Eu compreendo a sua obrigação com a comunidade bruxa, é claro. Venha, utilize minha lareira. Vou arranjar um professor substituto. Talvez o Prof Pratevil não se incomode em realocá-lo...


– Sobre isso diretora, talvez eu possa indicar alguém. Encaminharei uma coruja confirmando assim que possível.


Harry pegou um punhado de pó de flu e falou seu destino, claramente. Um lampejo de fogo verde o engoliu e, em segundos, estava em Azkaban.


A manhã raiou em Hogwarts prometendo um belo dia para aulas ao ar livre. Khai e Deymon se dirigiram para o banheiro dos meninos e caminharam muito lentamente, sem muita disposição para as aulas. O garoto Malfoy estava com uma expressão muito pior do que o colega.


– Ei, Malfoy! Conseguiu terminar o pergaminho sobre Transfiguração de Líquidos? – perguntou Lyu Ho.


Deymon olhou surpreso para o outro primeiro anista. Quase nunca falava com ele.


– Er... Sim. Ontem.


– Posso pegar seu livro? Bachking fez a idiotice de colocar fogo no meu na aula de feitiços.


– Por que não pega o dele?


– Porque ele queimou o dele antes de reduzir o meu a cinzas – disse, com muita raiva.


Malfoy deu de ombros. Seu colega entendeu aquilo como um sim e voltou correndo para o dormitório a fim de terminar sua lição. Deymon coçou a cabeça, se perguntando o porquê de tamanha mudança, até que se lembrou da vassoura nova da companhia do pai e do time de quadribol. Agora, tudo fazia sentido.


– E pensar que muito em breve eles vão nos detestar novamente – falou para Khai, mas o outro estava parado, em choque. – O que foi agora?


– Transfiguração de Líquidos.


– Não me diga que esqueceu? É a segunda aula, Macbeer! Prof Pratevil vai devorar a sua alma em doses pequenas de detenções semanais e a Carter vai avadar você.


– Droga! – disse e voltou correndo para o dormitório.


Malfoy lavou-se e encontrou o outro jogado no beliche, lendo desesperadamente o livro de transfiguração. Balançou a cabeça negativamente para o outro e retirou de sua mochila um pergaminho, atirando-o ao amigo.


– Vê se muda as coisas para não parecer que copiou de mim. Se tivesse tudo no livro, o Prof Pratevil não passaria esse trabalho.


– Valeu, Malfoy.


– Que seja. Quero de volta na primeira aula e antes do Prof Potter chegar.


O sonserino seguiu para o Salão Principal para o seu desjejum, acompanhado por alguns membros do time de quadribol: Seth Hiccock, Callum Darkmouth, Lucius Morbinavell e Vector Pendraconis. Falavam sobre a nova vassoura que Draco havia mostrado e se o primeiro anista estava pensando em se candidatar à vaga para o time no ano seguinte. Não precisou de muito tempo para o garoto sacar qual era a intenção deles, mas fingiu não entender, para render a conversa. Queria muito participar do time, de qualquer maneira. Ele não conseguiu sentar-se próximo a Elizabeth por conta do grupo que o colocou no meio da mesa, junto a Amélia Bulstrode, Bella Parkinson e seu grupinho de sonserinos rebeldes. Aquilo meio que mexeu com Dumbledore, mas ela seguiu fingindo que estava tudo bem. Até Madeline Cascavel e Veruska Tim-Morbidom se sentiram mais à vontade para sentar e falar com ela e Tiago.


– Isso é estranho – sussurrou o garoto. – Me sinto quase aceito.


– Quase – salientou a amiga.


Mal tinham tocado nos pratos quando a diretora pediu a palavra.


– Bom dia a todos! Gostaria de agradecer pelo dia de ontem. Conversei com alguns alunos e pude notar que a visão de mundo de vocês foi realmente ampliada. Fico feliz por ter colaborado com um pouco a mais além do ensino acadêmico. Os palestrantes também ficaram entusiasmados com as conversas durante a tarde e acredito que possamos fazer disso um evento anual em Hogwarts! – houve aplausos e muitos professores concordavam com ela. – Devo, contudo, trazer uma notícia nada agradável para vocês. Fui informada, durante a noite, sobre um incidente mágico extremamente grave. Como logo vocês poderão ler no Profeta Diário, alguns bruxos conseguiram escapar de Azkaban – uma onda de gritinhos de terror e burburinho se formou no Salão. – O Ministério já está providenciando a captura dos fugitivos e, por esta razão, o Prof Potter estará ausente por tempo indeterminado – pôde-se ouvir comentários chateados dos alunos, enquanto James, Alvo e Rose pareciam bem preocupados. – Por hoje, vocês terão o horário livre, mas amanhã chegará uma outra pessoa para substituí-lo. Espero que usem o tempo extra para colocar os estudos em dia, especialmente os que prestarão NOMs e NIEMs no fim do ano.


Dito isso, todos voltaram suas atenções para conversas sobre a fuga em Azkaban, o novo professor que substituiria Harry Potter e alguns ainda comentavam sobre a palestra. Alvo e Rose logo se levantaram e sentaram junto de James e seus amigos, seguidos por Peter e Jonathan.


– Estou preocupado com nosso pai – o tom de Alvo era apreensivo.


– Eu também estou muito nervosa. Será que meu pai também está com ele? – perguntou Rose.


– Ora, Al, é o trabalho dele e eu acho que o tio Rony também deve ter sido chamado. Qual é, gente! Sabemos que eles lidam com o perigo todos os dias – afirmou James.


– Mas não algo assim.


– Ser auror não é algo fácil, Alvo. Não seja idiota. Papai sabe o que faz, afinal, ele é ele não é?


– Mesmo assim, primo. Parece que foram alguns bruxos perigosos.


– E são muitos aurores, Rose. Não é como se nossos pais fossem caçar cada um pessoalmente. Mamãe e tia Mione não deixariam eles irem se não achassem que dessem conta do recado. Acho que vocês estão preocupados à toa – respondeu, mordendo um pedaço de bolo.


James estava preocupado, mas não poderia deixar transparecer para os menores. Ele era o mais velho e tinha que tomar conta dos outros, afinal de contas. Mas ele, de fato, acreditava que Harry e Rony estavam bem, senão nunca teriam sido admitidos para um trabalho tão perigoso. Além de terem se safado há anos contra o ex Lorde das Trevas, é claro. James nunca tinha contado para ninguém, mas sabia de muito mais detalhes do que seus pais suspeitavam. Tinha conseguido que Teddy contasse a maioria das coisas quando ainda era muito novo, chantageando-o ao descobrir que ele namorava Victoire escondido.


Pouco antes de o café terminar, as corujas invadiram o Salão Principal. Todos os alunos se inquietaram nos bancos, aguardando a edição do Profeta Diário cair em seus colos. Elizabeth abriu seu jornal com rapidez, cuja capa estampava a manchete Fuga em Massa de Azkaban e a fotografia do Administrador, Viterlino Delciber, junto ao Chefe dos Aurores, Harry Potter. Ela folheou avidamente até encontrar a página da matéria e passou a ler, acompanhada de Tiago e das meninas que se acotovelavam ao seu lado.


 


FUGA EM MASSA DE AZKABAN


Ministério teme que fugitivos promovam nova onda de pânico


 


Na noite de ontem, a prisão de segurança máxima do Mundo da Magia, a temida Azkaban, foi novamente violada. Segundo o Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt, onze dos doze prisioneiros cumpriam pena por associação com o ex-Lorde das Trevas e o Primeiro Ministro Trouxa foi avisado sobre a situação. “Trata-se de uma ação planejada e executada por bruxos com alto conhecimento de magia. Estamos tomando as medidas cabíveis para recapturar os fugitivos e peço à comunidade bruxa que permaneça atenta e vigilante, entrando em contato assim que avistá-los. Não tentem capturá-los sozinhos, pois são indivíduos perigosos”, afirmou o Ministro.


 


O Administrador da prisão, Sr. Viterlino Delciber, instaurou uma comissão para investigar os bruxos com acesso à ilha, pois julga que a fuga foi facilitada por alguém. É fato também que alguns dementadores, após o ocorrido, espalharam-se em busca dos prisioneiros. “Estamos trabalhando em conjunto com o Ministério da Magia para encontrar e recolher os criminosos. Os dementadores não têm permissão para atacar cidadãos inocentes. Temo, apenas, que a morte chegará depressa para os fugitivos que cruzarem seus caminhos”, ressaltou.


 


De acordo com Sr. Harry Potter, chefe do Quartel General de Aurores, “a situação é extremamente delicada. Uma fuga de Azkaban, mesmo com precedentes, é inadmissível. Os aurores estarão trabalhando à paisana, dentro e fora do Ministério. Agradecemos à população que nos informar sobre o paradeiro de algum fugitivo ou caso avistem os dementadores”.


 


Os recentes acontecimentos remetem a célebres fugas da prisão de segurança máxima. Até hoje, o Ministério da Magia não sabe explicar como o ex-assassino, posteriormente absolvido, Sirius Black, conseguiu escapar dos dementadores sem o auxílio de bruxos das trevas. O Ministério levou dois anos para encontrá-lo e depois perdê-lo, novamente. A fuga em massa, proporcionada pelo ex-Lorde das Trevas, também consta na história da ilha, pois muitas famílias perderam seus entes queridos após o ocorrido em janeiro de 1996.


 


Além de recapturar os fugitivos, o Ministério deve se preparar para travar uma luta com a sociedade. Para Charles DeVillian, presidente da FROG (Frente de Reivindicações à Ordem e Governança), responsável por defender e encaminhar projetos de interesse da comunidade bruxa, “Azkaban não passa de uma prisão obsoleta. Já ficou comprovada sua incapacidade em reter os prisioneiros de alta periculosidade. Imaginem vocês se o ex-Lorde das Trevas não tivesse morto? Onde ele ficaria preso, aguardando o beijo da morte? Em Hogwarts? Em um dos cofres do Gringotes? Certamente, não seria em Azkaban”, defendeu.


 


Na página seguinte a lista com todos os nomes dos fugitivos, suas fotos para identificação e o contato para emergências do Ministério da Magia.


 




Rabastan Lestrange


Rodolfo Lestrange


Aleto Carrow


Amico Carrow


Walden MacNair


Antonio Dolohov


Thor Rowle


Khaleb Macbeer...




 


Quando chegou a parte do nome Khaleb Macbeer, Elizabeth não conseguiu mais ler. Ergueu os olhos e procurou Malfoy, no meio da mesa. Segundos depois ele a encarava e levantou-se sem maiores explicações, dirigindo-se ao lugar onde ela estava sentada.


– É o pai dele? – perguntou a garota.


– Com certeza, Carter.


– Onde Khai está?


– No dormitório. Merlim! Ele vai ficar muito mal. Ainda bem que não está aqui no Salão.


– Acabou de chegar – constatou Tiago, apontando para a entrada.


Khai acenava com a cabeça para os amigos, sorrindo levemente por ter terminado de copiar o trabalho de Malfoy a tempo de beliscar alguma coisinha no café da manhã. Sua nota não seria lá muito boa, porque teve que mudar algumas coisas e errar em outros pontos, mas, pelo menos, não teria problemas com o Prof Pratevil ou Lizzie.


Logo que entrou no Salão notou que o local foi silenciando aos poucos e todos começaram a encará-lo e apontar para o Profeta Diário. Ele se aproximou da mesa da Sonserina e pescou para ver a manchete do jornal. Empalideceu na mesma hora, encarando Lizzie e Deymon, que tinham se levantado. Foi a confirmação que ele não queria: seu pai estava entre os fugitivos. O garoto cambaleou um pouco, virou-se e saiu correndo porta afora, seguido pelos dois amigos.


– Você não vai com eles? – perguntou Veruska a Tiago.


– Não. Macbeer não vai muito com a minha cara, então, prefiro não atrapalhar. Vou pegar o material deles e sentar na mesa da Corvinal. Obrigado pela companhia, meninas.


– Eu pego as coisas do Malfoy para você não precisar, sabe? Ir lá no meio.


– Obrigado, Cascavel.


Lizzie e Deymon correram até a Câmara das Passagens a tempo de ver o quarto quadro da direita se fechar. Eles trocaram olhares incertos. Aonde Macbeer iria no segundo andar? Certamente estava desorientado e aquilo os fez ter pena do garoto. A senha era rabo de porco e em pouco tempo estavam em um corredor vazio. Ouviram uma porta se fechar do lado esquerdo e tomaram o rumo para lá, correndo de forma desenfreada. Estavam receosos de que o amigo fizesse alguma besteira.


Ao cruzar o cotovelo do corredor, Lizzie estagnou. Deymon olhou para ela e avaliou a possibilidade de Khai estar em qualquer outra sala, mas lhe parecia improvável. Ninguém gostava de ficar ali, pois a companhia não era nada agradável.


– Fique aqui, Carter. Eu vou entrar.


A garota assentiu e ficou apenas olhando o menino entrar no banheiro feminino; o banheiro da Murta Que Geme. Há alguns meses ela tinha protagonizado um acidente estranho justamente ali. Aquilo ainda fazia seu sangue ferver e jurava que teria retorno. Acreditava que o fato de Murta ser uma garota morta, não significava que podia tentar matar os outros estudantes, assustando-os. A porta se abriu e Deymon colocou o rosto para fora. Estava com uma expressão surpresa, ansiosa e lívida.


– Você precisa ver isso!


– Mas...


– Murta não está aqui. Venha, rápido! – e esticou a mão para ela.


Lizzie avaliou aquilo com cautela, mas tinha de acreditar em seu amigo e entrou com ele. O banheiro continuava o mesmo de sempre, exceto pelo fato de não haver água em lugar nenhum. Poderia até se passar por um lugar comum, não assombrado. As mesmas portas gastas, o mesmo chão de pedra e alguns espelhos oxidados nas pontas, mas havia algo que não fazia parte daquele cenário antigo.


– O que é isso? – apontou para o lugar onde antes estava a pia.


– Um buraco.


– Você acha que a Murta foi por aí?


– Não. Acho que Macbeer desceu aqui.


– Você está pensando em ir atrás dele, Malfoy? Mas e se não for ele?


Malfoy lhe deu um meio sorriso e seus olhos diziam que ele ia arriscar do mesmo jeito.


– Eu tenho uma suspeita. Se eu não voltar, chame ajuda.


– Mas...


Elizabeth não pôde falar mais nada, pois o garoto se jogou pelo buraco na parede, que, na verdade, fazia parte do encanamento do castelo. O caminho era escuro e havia um cheiro forte de mofo e algas vindo de algum lugar. Colocando as mãos na lateral, Deymon notou que outros pequenos desvios se abriam a partir do cano principal por onde escorregava. Decidiu manter as mãos próximas ao corpo, a fim de não se machucar no caminho. Ele se sentiu jogado para um lado e depois para outro, mas sempre para baixo. Parecia que iria atravessar o planeta e aparecer do outro lado do mundo. Aos poucos, sentiu que o túnel se nivelava de forma a diminuir sua velocidade. Ainda assim, foi jogado e deslizou no chão frio e com uma fina camada de água. Levantou-se, limpou as vestes e puxou a varinha.


– Lumus!


O garoto olhou ao redor e percebeu que se encontrava em uma câmara alta o suficiente para um adulto ficar de pé. Tinha um caminho adiante e ele teve a intenção de ir para lá, quando ouviu um barulho vindo do cano. Instantes depois, Elizabeth foi jogada e ele teve de desviar da trajetória, para não ser derrubado no chão.


– O que você está fazendo aqui? – sussurrou, zangado. – Eu disse para você ficar lá no banheiro!


– E você acha que eu ia ficar lá esperando a Murta voltar? Além disso, a passagem estava se fechando – disse, limpando as vestes.


– Aquilo fechou? – perguntou, espantado.


– Fechou. Como a gente vai voltar para lá?


Deymon estava com cara de quem tinha comido feijãozinho sabor bosta de dragão.


– Agora que você está aqui e ninguém vai saber onde a gente se meteu, temos que dar um jeito. Deve ter alguma saída para lá – e apontou com a varinha o caminho adiante.


– Deymon – disse a menina, segurando o braço do amigo. – E se tiver algum dos hungús aqui? Ou trasgos? Ou aranhas gigantescas? Hagrid disse que tem acromântulas na Floresta.


– Então eu acho melhor você sacar a sua varinha e ficar atenta. Agora, vê se fica calada e aponta isso para bem longe de mim – disse, referindo-se à varinha da colega.


Lizzie fechou a cara e caminhou ao lado do garoto, dizendo impropérios mentalmente. Quando ele iluminou o chão, notaram que estavam pisando em esqueletos de roedores, corujas e toda a sorte de bichos que um dia entrou ali. As crianças trocaram olhares nervosos e permaneceram colados um ao outro, atentos a qualquer barulho.  Depararam-se então com um entulho de pedras.


– Parece que alguma coisa desabou aqui – constatou Malfoy.


– Deymon, você acha que Khai realmente continuaria andando?


– Eu não sei, mas não tem saída do lado de cá, não é?


– A gente devia voltar e olhar direito.


– Está com medo, Carter? – perguntou, com um sorriso provocador e escalou as pedras, passando pelo buraco – O caminho continua aqui – disse.


Lizzie suspirou e escalou os destroços, alcançando Malfoy do outro lado. Detestava ser desafiada e não suportava que a chamassem de medrosa. Na verdade, não era medo. Era aquela mesma sensação estranha que sentiu quando viu os bruxos pela primeira vez, de que algo não ia acabar bem. Sentia, no seu íntimo, que alguma coisa estava errada com aquele lugar. Quando viu a primeira fileira de ratos, revirou os olhos.


Deymon tinha o olhar atento, a respiração acelerada e um sorriso no rosto. Aquilo estava lhe parecendo uma aventura e, desde que estranhas coisas tinham acontecido na escola, poderiam estar no caminho certo. Quem sabe, descobririam o dono da voz? Aquele parecia um bom lugar para alguém pedir socorro. Era escuro e, certamente, a pessoa estaria sozinha. Era essa certeza que o levava adiante, sem raciocinar direito sobre os perigos que poderia encontrar.


Os dois seguiram por um túnel longo e podiam ouvir o som de gotas de água chocando-se no chão de pedras e em poças. Foi então que perceberam uma mudança na atmosfera. Encararam, abismados, uma câmara comprida e iluminada por uma estranha luz verde. Parecia que estavam de volta à sala comunal da Sonserina. Caminharam cautelosamente, observando as altas colunas de cada lado.


– Malfoy, parecem cobras – sussurrou a menina, no ouvido dele.


– O quê?


– As colunas! Parecem cobras – repetiu, baixinho.


O garoto forçou a vista e viu a que ela se referia. As colunas eram formadas por cobras em alto relevo, dando voltas e mais voltas até o alto. Deymon não soube dizer exatamente como foi que a ideia surgiu em sua mente, mas lhe pareceu tão óbvia que soltou um riso nervoso. Foi repreendido por um tapa da amiga e olhou feio para ela, que fazia sinal de silêncio. Ele parou e escutou. Seria algum descendente do basilisco que Harry Potter tinha encontrado na Câmara Secreta de Salazar? Trocou o peso das pernas e voltou a escutar. Além do constante pinga-pinga vindo de todos os lugares, havia algo mais.


– O que eu vou fazer? Por que isso está acontecendo? Eu não quero que ele volte, eu não quero que ele volte. Vai ser ruim, muito ruim – murmurava Khai, absorto em seus problemas.


Lizzie e Deymon trocaram olhares significativos e caminharam para a frente. O barulho dos seus passos nas poças d`água denunciaram a presença dos dois e, por pouco, Deymon não foi atingido por um feitiço estuporante que passou a centímetros do seu braço esquerdo. Aquilo o fez recuar e colocar a garota atrás de si, automaticamente.


– Khai, somos nós! Eu e Lizzie.


– O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou, atônito. – Vocês não deviam estar aqui. Como entraram? – o garoto parecia desesperado, angustiado e nervoso.


– Calma, Khai. Estávamos preocupados com você e te seguimos – explicou o garoto.


– Oh! Eu esqueci de fechar logo – disse, em um tom receoso.


Os dois entraram no campo de visão de Macbeer, ainda de varinha em punho e ficaram abismados com a visão que tinham. Uma estátua enorme de pedras ocupava o fim da Câmara tão alta quanto o teto, que se perdia no breu. Um homem estava esculpido nela e tinha a barba enorme, quase alcançando a barra das vestes. Era grandioso. A única coisa estranha era o fato de o bruxo estar de boca aberta. No chão, um esqueleto de uma enorme cobra ocupava boa parte do espaço.


– Oh, meu Deus! – falou Lizzie, encarando os restos mortais do basilisco.


– Se diz Merlim, Carter. Por Merlim! – corrigiu Malfoy, ainda encarando aquilo tudo. – Macbeer! Você encontrou a Câmara Secreta de Salazar Sonserina!


– O quê? – perguntou a garota, confusa. – Aquela da história que você me contou outro dia? Tá de brincadeira!


– Mas como? Quando? – questionou ao amigo.


– Foi... Sem querer. Vocês não deviam estar aqui – disse Khai, torcendo a varinha nas mãos.


– Você é descendente de Salazar Sonserina? – Malfoy continuou perguntando, enquanto se aproximava do outro.


– Não. Minha família não tem nada a ver com ele – respondeu, encarando as paredes.


– Então...


O interrogatório de Malfoy foi interrompido pela garota, que pousou a mão em seu ombro, enquanto encarava Khai. Ela deixou o amigo para trás e se aproximou do outro, tocando-lhe as mãos nervosas. Macbeer encarou, embasbacado, as mãos quentes da garota e suspendeu seu olhar.


– Você está bem?


Aquelas três palavras tiveram um efeito catastrófico no garoto. Em instantes, sentiu uma força invisível apertar a sua garganta, como se desse um nó. Seu estômago revirou, suas pernas tremeram e sentiu vontade de vomitar. Então sua visão ficou embaçada, tomada pelas lágrimas que jorraram como duas nascentes de seus olhos. Por fim, desabou no chão, chorando, segurando firme as mãos da garota.


– Ele... Ele...


– Nós sabemos – Lizzie disse.


Ficaram em silêncio até Khai conseguir conter as lágrimas e sentar-se direito, largando as mãos da garota, com certa relutância. Ela e Malfoy acompanharam o outro e ocuparam um lugar seco no chão.


– Belo lugar você achou – disse Deymon, fazendo Khai sorrir.


– Eu meio que esbarrei nele, sabe?


– Isso foi hoje? – perguntou a sonserina.


– Ah...não – respondeu, desconsertado. – Eu esbarrei na entrada durante o natal.


– No natal? E não falou nada para a gente?


Diante da pergunta da colega, Khai encarou o chão. Encontrar a Câmara Secreta foi uma coisa tão fantástica que ele queria manter para si durante algum tempo. Nunca na vida tinha conquistado o direito de ter um segredo tão valioso. Agora tinha chegado o momento de dividir isso. A única alegria era que o local não tinha sido contaminado pela presença de um corvinal. Isso seria o fim, com certeza. Eles dois estarem ali não era uma agressão à memória de Salazar, pois Deymon era sangue-puro e Elizabeth, mesmo não tendo certeza, era uma Dumbledore e aquilo devia servir de algo. O difícil era explicar para eles o porquê de não falar nada. Certamente, não iria revelar tudo.


– Deixe-me explicar do começo, então. Eu passei no banheiro da Murta só para abusar ela mesmo, porque tinha feito aquilo com você, Lizzie. Depois de expulsá-la do banheiro, fazendo ela sumir pelo encanamento da privada, fiquei lá passando o tempo. Ninguém nunca entrava ali mesmo e não estava muito no clima de natal, sabem? Aí descobri que em uma das torneiras tinha uma cobra esculpida e fiquei com aquilo na cabeça. Apareci outras vezes no banheiro, sempre mandando a Murta descarga abaixo, porque ela é muito chata e enxerida. Então eu sonhei com... – encarou a garota e desviou o olhar. – Uma corrida de hipogrifos e o prêmio era um baú do tesouro e uma cobra. Então, ela disse que era só mandar abrir em língua de cobra e pronto. Então...


– Espera! Espera aí! Você é ofidioglota? – perguntou Malfoy, surpreso.


– Er... Sou. Minha mãe era. Foi por isso que meu pai casou com ela, achando que tinha alguma relação com Salazar Sonserina, mas acabou meio chateado porque ela não tinha.


– E você nunca disse para a gente? – questionou o sonserino.


– Não é muito legal falar com cobras, mesmo no Mundo da Magia, Malfoy.


– Sim, Macbeer, mas você é um sonserino. Isso, tipo, te coloca lá no topo.


O garoto sorriu, meio sem graça, olhou para os amigos e desviou o olhar.


– Não achei que devia falar sobre isso, mas se você acha...


– Não – disse a menina, de repente.


– Por que não, Lizzie? Khai vai ficar famoso na Sonserina!


– Não, claro que não. Esse tem que ser o nosso segredo, entendem? Para que a gente tenha sempre no olhar essa sensação de que somos melhores do que todo o resto de sonserinos que sequer sonham em pôr os pés aqui; que sequer sonham em conhecer alguém que fale a língua das cobras; ou tenha um pai que faça vassouras fantásticas e compre times de quadribol.


– Ou tenha um grande bruxo como avô – completou Malfoy.


– Isso também. Temos que jurar manter segredo.


– Podemos fazer um feitiço. Khai, você pode ser o fiel do segredo. É muito justo porque foi você quem descobriu. O que acha? – perguntou o sonserino.


– Você sabe como fazer? – Khai indagou ao colega.


– Sim, eu sei. Meu pai me mostrou, uma vez. Bom, vamos precisar das varinhas, mas isso vai ser meio perigoso por causa da Lizzie. A gente pode acabar sem a mão no processo – disse Malfoy.


– Idiota. Minha varinha está bem controlada, ouviu? Wingardium Leviosa!


Instantes depois, algumas pedrinhas próximas a eles começaram a flutuar. Malfoy deu de ombros.


– Não temos muita escolha, de qualquer jeito. Levantem. Agora, Khai você mantém a palma da mão direita para cima e eu e Lizzie posicionamos as nossas viradas para baixo, acima da sua. Segurem a varinha na mão esquerda. Bom. Agora você repete comigo o seguinte, Lizzie: A entrada para a Câmara Secreta de Salazar Sonserina fica no banheiro do segundo andar, na pia marcada pelo símbolo da cobra. Eu, daí você fala seu nome bruxo, escolho Khai Macbeer como fiel do segredo.


A garota assentiu segura, compreendendo a importância da magia que fariam.


– Você, Khai, vai repetir a mesma coisa, menos o final. Ao invés disso, você fala: Eu, Khai Macbeer, aceito ser o fiel do segredo. Então contamos até três e falamos juntos fidelius. É muito importante que você tenha bem clara a intenção de fazer o feitiço, porque o difícil mesmo é sentir a magia.


Todos concordaram e seguiu-se um longo silêncio enquanto se concentravam. Malfoy foi o primeiro a falar e os outros encararam surpresos um fio azul royal que saía da ponta da varinha e parecia ser absorvida pela mão dele. Elizabeth falou logo em seguida e sentiu uma beliscada dentro de si, como se algo estivesse sendo retirado. Para Khai, era como se algo estivesse sendo acrescentado ao seu corpo. Por fim, todos disseram o feitiço e olharam, encantados, o fluxo azul de energia fluir de um para outro, sendo depositado na palma da mão de Khai, que a fechou, sentindo-a quente. Depois disso, os três sentaram com sorrisos nos rostos.


– Foi até fácil – disse Lizzie.


– É porque a intenção era forte, vocês sacaram a importância. Muito da magia é sentir o fluxo – explicou Malfoy.


A garota o encarou, surpresa.


– E eu perdi tantas horas-aula com professores chatos tendo você como especialista em sentir a magia?


O garoto sorriu, sem graça.


– Minha mãe me ensinou isso. Khai, como fazemos para voltar? Tem alguma saída por aqui?


– Não. A saída é a entrada.


– Mas como vamos subir naquele cano? É impossível! – exclamou a garota.


– Vocês não viram a corda?


– Que corda? – perguntaram em uníssono.


– Da primeira vez que eu achei a passagem, eu não entrei. Roubei do armário do Filch muitos metros de corda, dei vários nós e desci. Vocês não acham que eu seria idiota o suficiente para me atirar em um buraco sem saber a profundidade, onde iria parar e como voltar, não é?


Os outros dois sonserinos sentiram o rosto queimar, desconcertados.


– A corda não chega até a saída do cano, mas dá para ir engatinhando até ela. Coloquei um feitiço adesivo para ficar colada na parte de cima.


– Muito inteligente da sua parte, Khai – avaliou Lizzie.


– Obrigado – respondeu, passando a mão na nuca, meio sem jeito.


– Isso quer dizer que ainda temos bastante tempo até a segunda aula. Podemos explorar um pouco mais a Câmara – interessou-se Malfoy.


– E a aula do Prof Potter? – perguntou ao colega.


– Ele não está. Foi resolver o problema da fuga de Azkaban.


Elizabeth cutucou o amigo pela sua falta de sensibilidade. Khai virou o rosto, parecendo interessado em alguma coisa no canto escuro da parede, enquanto Lizzie criticava Deymon com o olhar.


– Seu pai não vai poder vir até Hogwarts, Khai. Você está seguro – a sonserina tentou animá-lo.


– Eu sei, mas em casa...


– Terá dementadores. Ele não vai se aproximar – assegurou Deymon.


– Isso é para me animar? – Khai perguntou sarcástico. – Minha vida já é ruim sem dementadores para sugar a alegria do ambiente! Além disso, vocês não entendem. Meu avô vai agir como se ele estivesse prestes a entrar pela porta a qualquer momento. Se duvidar, ele vai obrigar os dementadores a irem embora.


– Mas eles não irão. Você estará seguro, tenho certeza de que a diretora deve pensar em alguma coisa – disse Lizzie. – Precisa ter um pouco mais de confiança.


– Está bem.


Malfoy saiu de perto deles e foi caminhando até o esqueleto do animal. Os outros o observaram por um tempo, enquanto ele tocava os restos do basilisco com curiosidade.


– Só não toque nas presas – advertiu Khai. – O sangue está seco, mas pode ser perigoso.


– Por que? – perguntou a garota.


– Basiliscos possuem um veneno mortal e ele fica muitos anos impregnado nas presas. Eu... Li em um livro – completou, diante do olhar espantado da amiga.


– Vocês dois estão ficando espertos demais.


– É a convivência – disseram os garotos ao mesmo tempo e sorriram.


Passaram mais alguns minutos observando o esqueleto, tecendo comentários e ouvindo Khai falar sobre a beleza e o perigo dos basiliscos. Depois admiraram a Câmara, falaram sobre Salazar Sonserina e de como eram sortudos em encontrar tudo aquilo.


– E eu que pensei que poderíamos estar na pista da voz que escutamos naquele dia – disse Malfoy, enquanto caminhavam para a saída da câmara principal.


– Nossa! Nem tinha me lembrado disso. Faria todo o sentido! – sobressaltou-se a garota.


– Acho que continuamos na estaca zero – disse Deymon.


– Malfoy! Você não me entregou a inscrição da pedra para eu ver o que significa.


– E como é que eu vou molhar aquilo sem que ninguém veja? Não posso simplesmente chegar na beira do lago e enfiá-la debaixo da água! Se você não reparou, aquilo praticamente acende como um feitiço lumus!


– Você tem um caldeirão, não tem? Use o cérebro: encha-o de água. Ou melhor: agora que temos este lugar, molhe a pedra aqui. Garanto que essa água toda vem de algum lugar do lago.


O garoto estancou e voltou a encarar a menina. Depois suspirou e seguiu na frente.


– Chata sabe tudo – murmurou.


O trio continuou andando, desviando das goteiras e conversando coisas aleatórias. Khai comentou que daria para consertar o trabalho dele ainda e, quando Lizzie lhe perguntou o porquê, ele desviou o assunto falando de quadribol. Minutos depois, a garota já estava entediada, achando as paredes mais interessantes. Escalaram a parte desmoronada, fazendo mais algumas pedras cederem a fim de passarem com mais facilidade.


De repente, Lizzie ouviu um barulho e apontou a varinha para um canto, fazendo todos segurarem a respiração, até que um rato apareceu. Todos riram e ela mandou o animal longe, estuporando-o. Aquilo lhe deu uma ideia, mas ainda precisava amadurecer a coisa na sua mente.


Entraram na tubulação e começaram a engatinhar até alcançar a ponta da corda. Khai lhes mostrou um aro acolchoado improvisado e mostrou como prendê-lo na cintura. Em seguida, apontou a varinha para o anel que o ligava à corda, dizendo que iria na frente para se certificar de que não haveria ninguém e expulsar a Murta, se fosse o caso.


– Você teve realmente muito tempo para pensar em tudo isso, não foi? – comentou, Malfoy.


– Foi. Vejo vocês logo. Para cima! – ordenou com a varinha e o aro começou a puxá-lo.


Alguns minutos depois, o aro voltou a aparecer e Lizzie subiu, seguida por Deymon. O resto do dia transcorreu com muita tranquilidade, apesar das olhadelas que Khai recebia de quase todos os alunos. Embora o trabalho de Transfiguração de Khai estivesse paupérrimo, tiveram outros muito piores e o Prof Pratevil tinha até feito algumas meninas da Lufa-Lufa chorarem. A última aula do dia era da Profª Carmelita e se revelou a mais interessante de todas.


– Vamos, sentem-se todos. Srta Ronyvew, peço que deixe a conversa com a Srta Parker para a sala comunal da Corvinal, sim? Agora, sei que todos estão ansiosos pelo fim do ano letivo e está sendo impossível controlá-los nestas aulas.


Trelawney acenou com a varinha e um pedaço de giz voou na cabeça de Goyle, fazendo alguns sonserinos rirem. Lançou um olhar significativo e, finalmente, conseguiu a atenção total da turma.


– Assim como os últimos meses de aula se aproximam, é chegada a hora de vocês saberem como será a minha avaliação – disse e fingiu não notar os olhares assustados dos alunos. – Eu, o Prof Pratevil e Madame Hooch julgamos adequado avaliá-los em conjunto.


A professora de Feitiços teve de aumentar o tom da voz e bater com o apagador no quadro, através de um floreio de varinha, para conseguir acalmar a turma.


– Vocês serão avaliados trabalhando em conjunto, utilizando os feitiços que aprenderam este ano na minha disciplina, em Transfiguração e a habilidade no voo. Estamos preparando uma pequena aventura e espero que gostem. Agora, existe apenas mais um novo encantamento para vocês aprenderem comigo, antes que passemos para a revisão. Alguém saberia me dizer o que é necessário para lançar bilhetes voadores?


Poucas mãos se ergueram alto.


– Sr Richards.


– Primeiro, é preciso que o bruxo escreva alguma coisa em um pedaço de pergaminho. Depois, ele tem que ser enfeitiçado com o feitiço aletas versatum enquanto você pensa claramente para quem ele tem que ir. Um bilhete voador não vai muito longe, por isso é ideal para usar dentro de salas comunais, por exemplo – explicou Tiago.


– Muito bem, Sr Richards. Cinco pontos para a Corvinal. É um feitiço de nível um pouco mais avançado, mas como já estamos preparando vocês para o segundo ano de Hogwarts, acho adequado. É bastante fácil. Um aluno do primeiro ano conseguiu sair desta aula inicial com um bilhete voador quase perfeito. Agora quero que escrevam alguma coisa em um pedaço de pergaminho, depois pensem em alguém e movam a varinha em dois círculos no sentido horário e digam aletas versatum!


Carmelita apontou para um pergaminho em cima de sua mesa e as crianças observaram ele flutuar, como se ela tivesse lançado um wingardium leviosa. Depois, duas asas de libélula surgiram de cada lado do pedacinho de papel e ele voou até as mãos de Elizabeth, na primeira fila, ao lado de Tiago. Assim que tocou nas mãos da garota, o pedaço de pergaminho voltou ao normal.


– Vocês têm até o final da aula para tentar. Mãos à obra!


Apesar de ser um feitiço extremamente simples, não era tão fácil quanto a professora fazia parecer. Alguns pergaminhos foram queimados, outros foram rasgados, Tiago, da Corvinal, até tinha conseguido fazer o pergaminho flutuar, mas a grande maioria os fazia lançar-se como foguetes contra as paredes. Prof Carmelita teve que desviar de um bilhete suicida enviado por Macbeer. Quando todas as esperanças de conseguir algo estavam no fim, um bilhete chamou a atenção pelo seu vôo incerto. As asas de libélula tinham ficado de um tamanho muito pequeno, mas ainda assim mostrava a habilidade do feitiço. Khai admirou-se ao receber o bilhete em mãos e ler o que estava escrito:


 


Shhh!


Ass: Malfoy


 


Sorriu para o amigo, entendendo perfeitamente o recado, e a Prof Carmelita deu 10 pontos para a Sonserina.


Após o jantar, o quarteto de colegas se desfez para seguir até seus respectivos dormitórios. Elizabeth pediu que Khai esperasse do lado de fora enquanto ela pegava uma coisa. Malfoy também ficou, ao passo que Tiago seguiu com seus colegas da Corvinal. Minutos depois, a sonserina reapareceu com um pacotinho verde de presente para o outro.


– Isso é para você. Comprei de... Hum... Presente de natal.


– De natal? – perguntou Khai, surpreso, afinal, estavam a dois meses das férias de verão.


– Eu... Hum... Sou meio ruim nisso, sabe? Quero dizer, eu comprei isso, mas como você foi pego com a minha poção polissuco e tudo mais, eu fiquei muito chateada e decidi que você não merecia ganhar presente nenhum. Eu já devia ter dado quando a gente voltou a se falar, mas... Bem, eu não sou muito boa nessas coisas.


– Eu acho que ela quer pedir desculpas por não ter lhe entregue isso antes – traduziu, Malfoy.


A garota lançou um olhar irritado para ele, mas depois revirou os olhos.


– Vamos, Macbeer. Abra! – mandou.


Ainda sorrindo, Khai abriu o pacote e olhou com admiração uma corrente de prata com o brasão da Sonserina cravejado de esmeraldas semi-verdadeiras. No verso, estava escrito em letras de caligrafia perfeita: “Nada pode nos deter”. Olhou para os colegas e Deymon puxou uma correntinha prateada por baixo de suas vestes e a garota fez o mesmo.


– Uau! Isso é demais! Muito obrigado – disse Khai.


– Agora somos verdadeiramente um grupo unidos de sonserinos – afirmou a garota.


– E nada pode nos deter – completou Malfoy, colocando as mãos sobre os ombros dos dois colegas.

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