UMA PISTA MOLHADA



Desde os últimos acontecimentos, as aulas com os sonserinos do 1º ano se tornaram tensas. A cada novo movimento de varinha que Elizabeth tentava fazer, todos os alunos se posicionavam para correr para fora da sala. Todos, exceto Deymon, Khai, Tiago, Rose, Peter, Alvo e Jonathan. Precisou que os professores dessem uma dura nos alunos para que tudo voltasse ao normal. Harry havia feito, na última aula, um longo discurso sobre os erros e acertos na escola, providenciado por Hermione, é claro. Já era bem tarde da noite e ele ainda estava acordado em sua sala, quando uma coruja parda entrou, deixando cair um pequeno envelope graciosamente em sua mesa.

– Olá, Celeste! – e afagou a coruja que mordiscou carinhosamente seu dedo – Notícias de casa, não é?

Harry abriu o envelope já ansioso pela caligrafia de sua esposa. Gina estava sem tempo de lhe escrever nas últimas semanas já que estava organizando um grande casamento.

Oi, amor! Como você está? Estamos cheias de saudades! Hermione e Rony quase não param em casa, mas você deve estar mais informado do que eu. Como estão as coisas com a menina Dumbledore? Estou preocupada com ela, tadinha. Deve ser tão difícil...E estou orgulhosa do Alvo. Sempre soube que ele seria um excelente bruxo. Mas estou lhe escrevendo também para contar uma coisa estranha que tem acontecido. Rita Skeeter apareceu aqui em Godric´s Hollow hoje e andou fazendo perguntas a alguns moradores antigos. Ela deve estar atrás de notícias sobre os Dumbledore o que não será nada bom para nenhum deles. Sabemos que a Rita não tem limites quando quer arrancar alguma informação. Estou com saudade de acordar ao seu lado. Te amo.
Gina W. Potter.


Harry leu e releu a assinatura de Gina. Era incrível como seu sobrenome ficava perfeito nela. Então se focou no objetivo da carta dela.

– Está disposta a fazer uma viagem noturna, Celeste?

A coruja bateu as asas e estufou o peito, cheia de si. Harry já estava escrevendo as primeiras linhas quando uma batida nervosa chamou sua atenção à porta.

– Desculpe, Harry. Podemos entrar?

– Neville? O que foi?

Neville Longbottom estava com uma expressão péssima. Ele entrou desconcertado, empurrando um aluno de cabeça baixa e mãos nos bolsos. Harry se deixou afundar na cadeira na mesma hora e deu um longo suspiro.

– O que ele fez desta vez?

– Estava perambulando pelo castelo, Harry.

– E foi pego?

Harry lançou um olhar completamente abismado para seu filho, como se tal coisa fosse praticamente impossível. O garoto estava com as orelhas vermelhas e parecia afundar ainda mais o rosto, buscando um buraco para se esconder. Aquilo iria ser vergonhoso e a escola toda iria saber pela manhã. Nada ficava em segredo, em Hogwarts.

– O Prof. Pratevil o achou atrás de uma tapeçaria com... – Neville limpou a garganta, ainda desconcertado – com a Srta Jordan.

– Oh! – a expressão de Harry era de surpresa e de quem tinha acabado de entender o porquê de James ter sido pego.

– Infelizmente, Harry, vou ter que tirar 10 pontos da Grifinória e deixá-lo de detenção.

– Eu entendo, Neville. Deixe-me a sós com ele.

– Claro, Harry – deu dois leves tapinhas em James e saiu, rapidamente.

Demorou um pouco até que Harry começasse a falar. Ele sabia que deveria dar uma dura no garoto por ser irresponsável, mas ele estava completamente chateado consigo mesmo. Ele nunca havia pensado em utilizar o Mapa do Maroto para encontros românticos após a meia-noite. Por um tempo ele se deixou levar pelas noites com Gina no castelo, completamente a sós e sem os olhares repreensivos de Rony.

– O Prof Pratevil o tomou? – disse, com seriedade.

– Não, pai. Ele não me viu usando o Mapa.

– Você não deveria ter sido pego, James. Isso vai criar problemas para mim se descobrirem sobre o Mapa.

– Não vai acontecer de novo, pai. É que...eu me distraí. E o Professor estava em outro andar. Deve ter chegado rápido por uma passagem secreta.

James continuava a olhar para os pés.

– Me dê o Mapa, James.

O garoto lhe olhou confuso e surpreso.

– Eu vou ficar com ele por um tempo até que você entenda a importância de artefatos mágicos para nossa família.

– Mas pai...

– Com isso eu sei que você vai se arriscar menos em confusões e deixar Filch tirar umas férias de suas marotices. Agora, me dê.

James entregou o pergaminho velho e dobrado para seu pai, muito a contragosto.

– O senhor vai me devolver, não vai?

– No devido tempo. Você teve sorte de Neville não te suspender do quadribol. Andar pelo castelo à noite sempre rende péssimas detenções e grandes perdas de pontos. Neville pegou leve porque...era uma questão amorosa – James torceu o nariz – Suponho que ela seja sua namorada.

– Não...exatamente – Harry ergueu uma sombrancelha – É que...sabe...eu não sou de me prender, né? Você sabe, né pai? Dessas coisas...

– Não, não sei. O que eu sei é que amanhã toda a escola vai saber que você e a Srta Jordan estavam fora dos dormitórios se beijando – James ficou pálido como mármore – Então eu acho, para o seu próprio bem e o da garota, que você deve assumir logo isso.

– Hum... – James estava nervoso e brincava com as próprias mãos.

– Detenção com quem?

O rosto do garoto pareceu se iluminar.

– Com o Hagrid. Vamos entrar na Floresta Proibida.

– Eu não ficaria tão animado. Detenções não são para diversão. E a Floresta Proibida não é um lugar divertido, James. É perigoso. Eu sei por conta própria. Você vai trabalhar com Hagrid e a Srta Dumbledore, então. Parece que alguma coisa...

– Peraê, peraê! Aquela sonserina também vai estar lá?

– James, a aluna se chama Elizabeth Dumbledore e, sim, desde a semana passada ela está lá. Já virou notícia fria na escola. Andou muito distraído, não é?

As bochechas de seu filho agora estavam tão vermelhas quanto as orelhas.

– Eu vou enviar uma carta para sua mãe.

– Ah, não, pai! Ela vai me mandar um berrador!

– E para sua avó.

– Não! – e empalideceu - O berrador da vovó, não! Eu tenho amor a minha vida social.

– Isso é para você aprender a tomar mais cuidado. Neville não pode aliviar sempre com você, ainda mais agora que estou na escola. Você vai ter que se controlar, James, senão todos vão dizer que teve uma péssima criação. Sua mãe não vai gostar nada disso...e nem eu. Estamos entendidos?

– Sim, pai – e fez uma longa pausa – O senhor não pode reconsiderar e não mandar a carta pra vovó?

– Não – e se levantou – Vamos, eu te levo para o dormitório.

Pela manhã, era possível observar pequenos grupos de cochicho e meninas que soltavam risinhos e apontavam para Lena e James. Seguindo o conselho do pai, embora não querendo se amarrar a ninguém, James assumiu o namoro com Lena e andavam de mãos dadas agora. Rose e Lucy suspiravam e achavam tudo lindo, mas é verdade que muitas garotas passaram a olhar atravessado para a garota da Lufa-Lufa. Oliver estava meio triste por perder seu melhor amigo de farra e Harry achava tudo muito divertido, recordando o curto tempo que namorou Gina na escola.

Como de costume, o Salão Principal foi invadido por centenas de corujas que entregavam suas encomendas nas mesas. Uma bela coruja parda largou nas mãos de James uma carta vermelha.

– Ai, não.

– É melhor abrir, James – avisou Rose – Senão vai ser pior.

– Pior por quê? O que é isso? – John perguntou, curioso.

– Um berrador.

– Um o quê?

Jonathan não precisou dizer mais nada, pois a carta havia tomado a forma de uma boca e começava a gritar com a voz de Gina para James, que tentava se esconder dos outros atrás de uma grande tigela de salada de frutas.

James Potter! Que vergonha! Pego namorando à noite! Perdendo pontos preciosos e desrespeitando as regras de Hogwarts! Para namorar existem as áreas livres da escola, ora bolas! Se eu souber que você anda envergonhando a criação que lhe demos, ai, ai, ai! Não em faça ir até aí! – sua voz se abrandou – E diga a Srta Jordan que adoraremos sua visita no verão.

– Não foi tão ruim – Rose falou.

Alvo estava com um sorriso aberto na mesa da Grifinória, onde tomava o café hoje. Estava achando o máximo ter algo para chatear seu irmão e deixá-lo sem graça. As férias em família iriam ser bem interessantes. Bem no final do café, quando a maioria dos alunos já tinha se retirado, uma coruja velha e atrasada entrou no Salão e deu um vôo rasante e inseguro de sua trajetória, batendo em cheio no peito de Jonathan, que caiu no chão. Todos riram.

– Que coruja maluca! – disse, quando voltava a se sentar.

– É o Errol, eu sinto muito. Está na família há séculos e minha avó vive reclamando dele, mas não consegue trocar por uma coruja nova – Rose explicou.

James olhava chocado para o que ela havia deixado cair na mesa e parecia se preparar para correr mil milhas a ficar no Salão Principal.

– Vai logo! Aproveita que tem pouca gente, senão o berrador vai te seguir pelo castelo todo! – Alvo disse, adorando a cara de desespero do irmão – Acaba logo com isso – e sorriu.

James começou a abrir e o envelope se transformou numa boca feroz cheia de dentes, com a voz da matriarca Weasley.

James Sirius Weasley Potter! Como estou desgostosa! Andando pelos corredores à noite para namorar? Como pôde? Fazendo seu pai e seu avô passarem vergonha na frente de outros educadores! O que eles vão pensar da educação que damos aos membros da nossa família? Já estou cansada de receber cartas de suas “aventuras” na escola. Já chega de marotos nesta família! Nós vamos ter uma longa conversa neste verão, mocinho. Só você e eu! – a voz da Sra Weasley se tornou carinhosa e o envelope se virou para a garota ao lado de James – Ah! Srta Jordan! Esperamos que nos visite no verão. Não faça cerimônias, venha! E Alvo, querido – e se virou para o lufo – como estou orgulhosa de você ter ajudado a Srta Dumbledore. O saudoso Dumbledore iria achar isso encantador e digno de fibra moral. Merlim sabe como ele apreciava a fibra moral!

E o envelope se desfez, após dar língua para James, que suava frio. Alvo estava afundando na mesa da Grifinória.

– Eu podia viver sem essa!

– Alvo, acho que você não chama tanta atenção quanto ela.

Peter apontou para o outro lado do Salão Principal onde os sonserinos restantes pareciam entoar “Potter, meu herói” e o rosto da garota estava vermelho de vergonha. Mas Alvo podia apostar sua nova vassoura como aquele tom vermelho era de raiva.

– Falando nisso, muito obrigado de novo, Alvo.

– Não precisa, John. Eu só fiz o que era certo. Só acho que sua irmã não gostou da notícia ter se espalhado.

– Ah! Não liga não. É que Lizzie gosta de ser independente, sabe? Sem pedir ajuda a ninguém na escola. Ela gosta de ajudar, não de ser ajudada.

– É, ela me ajudou na aula de Feitiços.

– Aquela sonserina te ajudou? – James perguntou injuriado – Que tipo de sonserina ela é? Com certeza ela deve ter algum plano pra depois te chantagear!

– James, pára de criticar a garota. Ela já tem problemas demais. Vamos logo, senão nos atrasamos para a aula. Você vai sentar comigo, não é? – Lena perguntou com os olhos brilhando.

– Ah...tá.

Oliver olhou ressentido para o colega que se levantava de mãos dadas com a namorada. James lançou um olhar desconcertado e balbuciou um “sinto muito” para o amigo.

A semana de aulas foi uma das mais pesadas que os alunos do primeiro ano já tinham visto. Os feitiços estavam mais complexos, os trabalhos exigiam longas leituras na biblioteca e as aulas de reforço estavam tirando o sono de muita gente. Era raro encontrar um grupo curtindo o tempo livre sem um livro e pergaminho do lado.

Rose, Alvo, Peter e Jonathan continuavam a estudar próximos à entrada da sala da diretora McGonagall e ela costumava flagrá-los discutindo as tarefas, com um sorriso de satisfação pelo empenho do grupo. Havia, inclusive, dado 5 pontos a cada um. Jonathan aproveitou uma pausa nos estudos para dar uma volta pelo castelo, descansar a mente e encontrar sua irmã. Lizzie estava sozinha no corredor do 4º andar, carregando uma pilha de livros com alguma dificuldade.

– Deixa que eu ajudo – disse enquanto tirava metade dos livros de suas mãos.

– Valeu, John. Você não deveria estar com seus amigos, estudando?

– Dei uma fugida, sabe como é. Rose é que nem você: não larga do meu pé porque eu perdi em Herbologia.

A sonserina torceu o nariz e gemeu baixinho algo que parecia o fim do mundo.

– Onde estão os outros dois?

– Na biblioteca. Eu prefiro estudar sozinha, no dormitório. A companhia é mais agradável.

– E você pode tirar tantos livros da biblioteca?

– Bom, se você é uma pessoa confiável e tem a simpatia de Madame Pince, ajuda. Mas se você abrir o bico sobre isso pra alguém, eu vou virar filha única.

Jonathan riu da brincadeira da irmã e prometeu não comentar com ninguém. Eles caminhavam em direção à passagem para o Térreo, conversando sobre as aulas e sobre a denteção dela. John estava fascinado pelas histórias que a irmã contava sobre a Floresta Proibida.

– Eu quero dizer, lógico que dá medo. Você sente coisas estranhas lá, como se estivesse sendo observado e fosse atacado a qualquer momento, mas o Prof Hagrid vive dizendo que para algo tocar em mim, tem que matá-lo primeiro – a garota deu de ombros – Ele não pára de repetir que tem uma dívida eterna com o antigo diretor.

– Nosso avô, Lizzie! Deixa de besteira! – reclamou.

– Que seja! Mas tenho que admitir que essa detenção tem dado bons frutos.

– Por que?

– Porque tem ingredientes para poções em todo lugar. E o Prof Hagrid guarda coisas pra mim. Bom, ele é meio lerdinho, mas serve pra alguma coisa.

– Você não devia falar assim dele.

– Mas ele é. Tem o cérebro no lugar errad...

– Oi!

Um garoto loiro, bonito e com um sorriso maravilhoso estava diante da sonserina, usando uma camisa de lã azul que ressaltava a cor de seus olhos e combinava com sua Casa. Qualquer garota ficaria sem palavras, mas Lizzie simplesmente não se importava.

– Você não devia estar estudando?

– Eu estava, mas achei que deveria te encontrar pra te contar uma coisa.

– Oi – John disse, seco.

– E aí, Jonathan – e se virou para a garota com um largo sorriso – Eu descobri.

– Descobriu o quê?

– Porque alguns quadros falam e outros não.

Lizzie ficou tensa imediatamente e viu o interesse ávido no rosto do irmão, que estava boquiaberto e piscava freneticamente. Ela tentou desesperadamente fazer sinais discretos para que o corvinal calasse a boca, mas foi inútil.

– Um sexto anista da Corvinal me ouviu perguntar e falou pra mim. Lógico que é tudo muito simples e mais ou menos como eu desconfiava.

– Tá, então depois você me conta – disse, enquanto tentava caminhar, mas foi impedida.

– Não, conta logo. Eu quero muito saber isso. Pesquisei na escola e não vi em lugar nenhum.

A garota olhou com curiosidade para o irmão.

– Bom, é porque nunca pensaram em colocar isso nos livros, eu acho. Mas tem uma referência no novo livro sobre Hogwarts, aquele com edição limitada, mas é muito pouco. Por exemplo, fotos e ilustrações mágicas só ganham movimento, mas não tem condições de falar. Já as pinturas, bom, aí depende. Pinturas normais têm o mesmo efeito das fotos, mas...

Ele fez uma breve pausa para dar suspense e considerou os gestos da sonserina com interesse, mas achou que deveria continuar.

– Famílias de bruxos de linhagem antiga costumam contratar os serviços de pintores bruxos que usam magia avançada para deixar marcado no quadro a personalidade do bruxo da pintura. São especialistas nisso. Claro que a pintura tem que ser feita com o bruxo vivo, mas elas só costumam repetir a mesma coisa, sabe? As mesmas falas.

– Nossa, que interessante. É só isso, então? – a garota perguntou, lançando um olhar atravessado para o corvinal.

– Claro que não! – a garota deu um longo suspiro enquanto ele a olhava com indignação – Aqui em Hogwarts, bem, todo mundo sabe que a magia daqui é uma coisa sem igual no mundo. A escola é única, a melhor de todas em nível de objetos encantados como as escadas e tudo mais. Então, com o tempo, as pinturas também foram afetadas e, por isso, elas conseguem interagir com os alunos, por exemplo.

– Como a Mulher Gorda da passagem da Grifinória! – interrompeu John.

Lizzie revirou os olhos. Por que o corvinal tinha que entregar toda aquela informação de bandeja para o grupo rival?

– É. Mas parece que com os quadros dos ex-diretores é meio diferente. Aí eu não sei o porquê. Tomas Littlebury disse que eles vão além da interação...eles raciocinam de verdade, como se o diretor retratado ainda estivesse vivo. Mas parece que eles não podem ser importunados sempre porque o Tom disse que eles estavam dormindo toda vez que ele foi lá.

– Lá, onde? – John perguntou.

– Na sala da diretora McGonagall.

– Então deve ser a mesma coisa com a pintura dos fundadores da escola, né?

– Não sei, mas acho que sim, se estivessem aqui.

– Não estão? – Lizzie finalmente pareceu não querer mais tentar finalizar a conversa.

– Acho que não. Senão é claro que a diretora teria perguntado pra eles o que está acontecendo e o que eles deveriam fazer. Acho que os fundadores saberiam como consertar Hogwarts.

– Mas existem esses quadros, certo? – John perguntou.

– Dizem que sim, mas só se tem certeza do de Godric Grifinória, porque ele foi roubado da escola há séculos.

– Roubado? Como? – o garoto perguntou incrédulo.

– Ninguém sabe como o ladrão fez – dessa vez foi a sonserina quem respondeu – Está em Hogwarts, uma história. Você precisa realmente ler o livro, John.

Duas lufas e uma grifinória passaram pelos três com um olhar de incredulidade e confabulavam sem disfarçar algo quase inaudível como “eu acho que ele foi pedir pro irmão dela”.

– Hum...muito obrigada, Tiago. Você realmente foi atrás disso, né?

– Eu disse que você podia me cobrar – e sorriu.

– Tá. Então eu já vou.

– Vai estudar com seu irmão?

– É – apressou-se John, antes que Lizzie abrisse a boca. Ela o olhou torto.

– Então eu vou estudar com vocês. Eu posso te ajudar no feitiço expelliarmus, Elizabeth.

– Eu posso muito bem fazer isso por ela. Também me dei bem na aula.

– Com licença! – cantarolou – Alguém já me perguntou se eu quero ajuda? – e levantou uma das sombrancelhas, desafiadora.

– Você precisa – os dois disseram, juntos e ela entregou os livros para Tiago e cruzou os braços, injuriada.

– Ótimo! – e saiu na frente – Vou errar de propósito e estuporar os dois! – e seguiu em direção à parte externa do castelo.

Os últimos raios de sol já desapareciam no horizonte quando Jonathan encontrou seus amigos. Eles caminharam até o Salão Principal e se sentaram na mesa da Lufa-Lufa, tentando se afastar o máximo possível dos outros, já que precisavam conversar com privacidade. O jantar seria dali a 1h, portanto, eles ainda tinham muito tempo. Jonathan narrou o encontro com o corvinal em detalhes, não esquecendo uma vírgula sequer e quando terminou seguiu-se um silêncio dramático.

– Então eles também estão atrás das pinturas! – Rose concluiu.

– Bom, não sei, porque eles não sabem sobre o que Alvo viu na Sala Comunal da Lufa-Lufa – John lembou.

– Talvez eles achem que alguma pintura das escadarias tenha uma pista sobre a voz.

– Não, Peter. Os quadros nem ouviram a tal voz.

– Como assim, Rose? Eles não ouviram? – John estava surpreso.

– Ah, é! Esquecemos de contar a vocês! – Alvo deu um leve tapa em sua própria testa – Tia Hermione e meu pai estavam conversando no natal quando eu ouvi sem querer. Foi meu pai quem descobriu, depois que o pessoal do Ministério foi embora. Naquele dia, somente a gente ouviu a voz pedindo socorro. Os quadros não ouviram ou sentiram nada de anormal. A não ser as escadas pararem, é claro. É segredo que só nós ouvimos porque se isso vazasse para a imprensa não seria nada bom pra Hogwarts e nem pra gente.

– Por que não seria bom? Isso é algo grave no Mundo da Magia?

– Claro, John. Não é saudável ouvir vozes que ninguém mais ouve. É uma coisa muito estranha, mas eu não faço idéia do que significa.

– Você podia perguntar a sua mãe.

– Ah, claro, Peter! E dizer pra ela que estamos querendo investigar Hogwarts por conta própria. Eu ficaria de castigo por uns... deixe-me ver... 100 anos!

– Os sonserinos não têm essa informação, então acho que estamos na frente deles. A gente só tem que pensar nas coisas que temos – ponderou Alvo e começou a contar nos dedos – uma voz que pede socorro e só a gente ouviu; as escadas paradas; a infiltração com a água do lago; o kramim que está acabando no lago e se alimenta de magia, o que mostra que Hogwarts está mal mesmo; a pintura da Madame Lufa-Lufa reagindo com espanto ao que Peter falou mais a informação nova do corvinal; e aquela pedra polida que encontramos... daquele jeito... estranho. Tudo isso tem que estar ligado de alguma forma!

Os quatro permaneceram em silêncio, por longos minutos, arquitetanto conexões absurdas em suas criativas mentes. Jonathan foi o primeiro a quebrar a quietude do momento:

– Eu não faço idéia.

– Não daria para descobrir assim tão rápido, você não acha? – Rose falou, com um pouco de desdém – Se o Ministério da Magia não descobriu ainda é porque não é tão óbvio assim.

– Rose, a gente tem umas informações a mais que o Ministério. Você não acha que devíamos contar pra eles?

– John, não acho que o sumiço dos kramim, um feitiço maroto e uma teoria maluca de tilt sejam do interesse deles. Os adultos nunca prestam atenção ou ligam para as bobagens sem lógica que eles acham que a gente fala.

– Isso é verdade! – Alvo interviu – Eles iam sorrir, afagar nossas cabeças e dizer que nós não precisamos nos preocupar, porque eles estão resolvendo tudo.

– Deve haver um adulto decente por aí.

– Claro que tem, Peter. Acho que só precisamos falar com ele no dia certo.

Bastou Jonathan terminar de falar para que os pratos do jantar aparecessem na mesa. Haviam perdido a noção do tempo e o Salão Principal já estava cheio. Eles deixaram a conversa de lado e trataram de comer. Quando Jonathan tomava seu terceiro prato de sopa de abóbora, percebeu que Lizzie não estava sentada e, seu lugar habitual. Correu toda a mesa da Sonserina com os olhos, mas não havia sinal dela ou de seus dois amigos.

– Eu também notei que ela não está lá – Alvo disse baixinho de modo que apenas Jonathan, que estava ao seu lado, pudesse ouvir – Aposto que ela deve estar contando tudo aos outros dois, como você fez pra gente.

– Isso é bizarro, sabe? – John falou no mesmo tom reservado – Se eles estão atrás da mesma coisa, a gente devia se unir. Quem sabe eles também não têm algo de importante para ajudar?

Poucos minutos antes do jantar, Elizabeth estava sentada em uma das poltronas duras e frias da Sala Comunal da Sonserina, aguardando a chegada de seus colegas. Alguns sonserinos simplesmente a ignoravam e se dirigiam para o Salão Principal, outros lhe atiravam olhares atravessados ainda ressentidos pelas perdas dos pontos e alguns estavam muito curiosos sobre as histórias da Floresta Proibida, as quais ela fazia questão de tornar ainda mais assustadoras. Khai e Deymon entraram na Sala junto com dois alunos do 3º ano, um alto e magro, de cabelo castanho claro, dentes tortos e olhos escuros que ela só conhecia de vista e um outro baixo e carrancudo, de cabelo curto e negro. Eles se aproximaram assim que ela fez sinal.

– Oi, Srta Dumbledore! Malfoy estava me contando sobre a sua detenção na Floresta Proibida – disse o garoto alto.

– Ah, é. É muito interessante. Mas quem é você?

– Ah! Verdade, não nos conhecemos. Eu sou Seth Hiccock, Inglaterra. E esse é meu amigo Callum Darkmout, da Irlanda. Estamos no time de quadribol da Sonserina. Eu sou batedor e ele é artilheiro!

– Hum... ansiosos pela partida?

– Estamos treinando duro para massacrar o time da Lufa-Lufa. Eles nem vão ver o que os atingiu! – disse, com brilho assassino nos olhos.

– Hum... eu preciso falar com vocês, em particular – disse, enquanto lançava um olhar atravessado para os meninos do terceiro ano.

– Ok, ok! Para um bom entendedor, meia palavra basta! – e sorriu com desdém – Com você não tem meia palavra, não é? – e saiu com seu companheiro a tiracolo, que não abriu a boca em momento algum.

– Você quer falar comigo? – Khai perguntou, surpreso. Fazia muito tempo que ela sequer o olhava.

– Ainda estou muito chateada com você, MacBeer, mas por um bem maior, vou quebrar esse silêncio. Eu andei conversando com o Tiago e tenho novidades. Ele descobriu o porquê de alguns quadros falarem e outros não.

Os sonserinos arregalaram os olhos surpresos e se aproximaram da sonserina, a fim de garantir o sigilo da conversa. Como seu irmão, Elizabeth contou a conversa com o corvinal em detalhes, incluindo as expressões de Jonathan, que confirmavam todas as preocupações dos sonserinos. Os dois grupos estavam praticamente no mesmo ponto.

– Eles só não têm a pedra com inscrições que temos – Malfoy disse baixinho.

– Eu quero que você copie a inscrição para que eu leve à Madame Pince.

– Você ficou louca? Ela vai descobrir tudo.

– Claro que não, Deymon. Digo que vi num livro que um sexto anista estava lendo e fiquei curiosa. Tenho certeza de que ela vai me responder ou então me indicar um livro.

– Tem que ter alguma ligação com isso tudo – Malfoy se levantou e começou a pensar, caminhando de um lado a outro.

– Ou então a gente espera eles descobrirem e roubamos a informação. Isso vai poupar muito trabalho.

Malfoy sorriu para MacBeer e se deixou convencer.

– A gente precisa vasculhar o castelo à noite – Lizzie sussurrou – Claro que seria mais fácil com a Poção Polissuco!

– Não, se a gente fosse pego – Malfoy disse e a garota torceu o nariz, indignada – Pensa bem: os monitores perdendo pontos e jurando que estavam dormindo. Nada bom. Eu tenho a capa de invisibilidade do meu pai.

– Você não disse que tinha conseguido! – a garota estava ainda mais contrariada.

– Ninguém perguntou, então achei que não era a hora de falar. Com você de detenção, fica mais fácil decidir quem sai, não é?

Elizabeth cruzou os braços e sussurou palavrões inaudíveis.

– Quanto tempo você ainda tem, Elizabeth? – Khai perguntou, ainda na defensiva.

– Amanhã à noite e sábado que vem. Depois estou livre, mas acho que vou manter contato com o Guarda-Caças – Deymon fez cara feia – Ele é útil, tá? Não enche.

– Vamos comer, então? Estou faminto! – Khai tentou mudar o rumo da conversa para não ter briga.

– Qual é a de vocês com os garotos do time?

– Queremos entrar no ano que vem e estávamos perguntando sobre vagas – Khai respondeu, feliz pela garota estar falando com ele de novo.

– Não vejo graça nesse jogo.

Malfoy revirou os olhos.

– Faça-me o favor, Elizabeth. Anda, vamos logo – e saiu à frente, seguido pelos outros.

Durante o jantar, era possível notar através do teto encantado que lá fora fazia um clima extremamente agradável e a noite prometia ser uma das mais quentes e gostosas da primavera. Assim que o último aluno se retirou, magicamente a comida desapareceu das mesas. A maioria dos estudantes já estava em suas salas comunais se despedindo dos amigos e se encaminhando para os dormitórios, ansiosos por esticar as pernas e curtir um bom sono, com seus estômagos forrados e mentes cansadas. Dormiram instantaneamente.

Alvo não conseguia entender porque sentia tanto frio numa noite tão quente e gostosa. Abriu os olhos com lentidão e apanhou os óculos na cabeceira, tirando os abafadores encantados por Rose do ouvido. Olhou para o quarto e tudo parecia normal: Peter estava coberto e encolhido, Timmy se agarrava ao lençol de estimação e chupava o dedo, Détrio roncava baixinho e Sandro tinha uma venda nos olhos. Alvo escutou batidas abafadas do lado de fora do dormitório e imediatamente se pôs de pé. O grito de choque não foi ouvido por nenhum de seus colegas. O garoto sentiu como se mil agulhas penetrassem em suas pernas e teve que se apoiar na cama para não cair: havia água até os joelhos em seu dormitório.

Inicialmente, Alvo achou que era mais um de seus pesadelos, um dos piores, para falar a verdade. Mas notou que as batidas do lado de fora estavam cada vez mais claras e gritos de horror já se juuntavam aos outros sons. Ele procurou acordar seus colegas, inadvertidos pelos abafadores encantados de Rose, e logo todos correram para a porta. Zacarias Smith, monitor da Casa, a abriu no mesmo instante e os colocou para fora, correndo para socorrer outro primeiro anista mais adiante, que se encontrava grudado à parede do corredor, em choque.

Peter foi o primeiro a ver e esfregou os olhos para acreditar. Puxou Alvo pela camisa e o levou de volta ao quarto de onde tinham acabado de sair, enquanto todos os alunos corriam para a saída.

– Alvo, tem uma coisa brilhando em sua mala!

Potter pensou imediatamente na capa que o pai lhe deu de presente e se perguntou se ela brilhava em situações de perigo. Alvo continuou parado, admirando a luz azul que saía de seu malão semi-aberto e ensopado, pensando se deveria dividir seu segredo com Peter ou não.

– Será que a pedra? – sussurou o amigo.

Com um estalo, Alvo pareceu retornar à realidade. Correu para o malão e tirou a pedra que brilhava molhada, revelando inscrições em sua borda. Os dois ouviram o monitor gritando por eles no corredor e Alvo escondeu o artefato mágico dentro de suas vestes, enrolado em um grosso pano, a fim de proteger o segredo. Em pouquíssimo tempo ela deixou de brilhar e quando chegaram à sala comunal, a pintura de Madame Lufa-Lufa estava horrorizada com tudo aquilo. Alvo se aproximou e gritou para ela:

– Você precisa nos ajudar! Hogwarts enlouqueceu!

Mas foi arrastado por Zacarias para a saída, onde chegaram ao 2º andar com segurança. Assim que saíram no corredor, Alvo e Peter se depararam com uma cena chocante: sonserinos gritavam apavorados, choravam e abraçavam uns aos outros. Muitos deles estavam molhados até a cabeça e alguns tremiam de frio e de choque. A diretora McGonagall, os professores, monitores e dois adultos que Alvo nunca viu ajudavam a secá-los com feitiços de ar quente e acalmá-los com poções. O Prof Slughorn corria desesperado de um lado a outro e os fantasmas olhavam aflitos para os estudantes. Até o Barão Sangrento estava preocupado, enquanto mantinha Pirraça calado ao seu lado. Harry abraçou o filho assim que o viu.

– Graças a Merlim, Alvo! Estava tão preocupado! – e fez um movimento de varinha, lançando ar quente para secar os dois lufos.

– Pai, o que aconteceu?

– Ainda não sabemos. Vamos, vocês têm que ir para a sala aqui do lado. Vocês vão ficar ali, junto com os sonserinos até resolvermos tudo – e os encaminhou, junto com outros alunos, para o local onde estariam seguros.

– Pai, por que os sonserinos estão todos molhados e assustados assim?

Harry refletiu por um segundo e deu um longo suspiro.

– Foi... difícil para eles.

– Como as...

– Vamos, entrem! Peguem um cobertor e escolham um colchonete. Procurem descansar e dormir. Eu preciso ir – e se retirou, deixando os alunos aos cuidados de Madame Pince, que deixou seus aposentos para ajudar também.

Assim como Alvo e Peter, muitos alunos pareciam confusos e assustados. Madame Pince entregou cobertores quentinhos e indicou lugares para dormir. Eles procuraram um colchonete próximo aos lufos que pareciam iniciar uma conversa discreta com os sonserinos.

– Foi tudo muito rápido – contou um garoto que parecia ser do 4º ano, olhando para as próprias mãos – A água invadiu tudo, arrombando as portas dos dormitórios, como se um dique tivesse se rompido, jogando a gente para todos os lados – ele parou de falar como se revivesse o momento – Estava tão frio, parecia que mil agulhas eram enfiadas em nosso corpo ao mesmo tempo. Klaus jura que viu um grindylow – fez uma pausa para suspirar – Quando a gente conseguiu entender o que estava acontecendo, a água já estava na altura do peito e era muito difícil andar. Havia gente gritando por socorro de todos os lados. Os dormitórios ficam debaixo da sala comunal e foi muito difícil chegar lá e já tinha tanta água... – fez outra pausa para tomar fôlego – Ainda bem que os dois bruxos do Ministério apareceram logo dando ordens aos monitores e aos alunos mais velhos e os professores também chegaram rápido, senão... – um arrepio percorreu a espinha de todos que seguravam a respiração enquanto escutavam a história - Foi horrível... tinha gente se afogando – o garoto apertou as mãos e não falou mais nada.

A situação havia sido muito pior na Casa Sonserina, que ficava perto das masmorras e um nível abaixo da Casa Lufa-Lufa. Alvo correu os olhos pela sala enorme onde estavam e notou que grande parte dos alunos que estava ali era de sua própria Casa.

– Onde... onde estão os outros sonserinos? – Alvo se viu perguntando trêmulo, com medo da resposta do garoto.

– A maioria está na Ala Hospitalar. Foi pior para os mais novos.

Nesse momento, um sonserino entrou na sala. Seus olhos de um azul cinzento estavam fora de foco, vermelhos e inchados; sua pele branca parecia ainda mais pálida e seu nariz sempre empinado estava cabisbaixo. Madame Pince lhe entregou um cobertor, deu leves tapinhas de consolo nas costas e ele se sentou no primeiro lugar que encontrou, cobrindo-se e abraçando os joelhos. Antes que notasse, Alvo já estava diante de Deymon.

– Onde está a irmã de Jonathan, Malfoy?

Alvo perguntou educadamente e Deymon levantou os olhos, encarando-o com desprezo.

– Aconteceu alguma coisa com ela?

Deymon continuou calado olhando com descrédito para o lufo. Antes que Alvo pudesse falar outra vez, um sonserino do 6º ano se aproximou deles.

– Foi muito astuto da sua parte, Malfoy, salvar a garota daquele jeito – e esticou sua mão em reconhecimento – Meus parabéns.

Deymon apertou a mão do sonserino.

– Ele salvou Elizabeth?

O sonserino encarou Alvo, curioso.

– Sim, a garota-problema Dumbledore. Ela estava se afogando, não sabia nadar. Ele voltou para pegá-la, ninguém tinha notado. Sabe, foi muita confusão lá embaixo.

– É, eu soube – Alvo falou cabisbaixo – Estão todos bem? – perguntou, com o olhar fixo em seus próprios pés, com receio de encarar o sonserino mais velho.

– Você quer saber se alguém morreu? – o sonserino esboçou um sorriso com o olhar assustado que o primeiro anista lhe deu – Não é tão fácil assim matar um sonserino, Alvo Severo Potter – e se retirou para descansar.

– Ela está bem? – Alvo se voltou para Deymon, insisindo – Ela é irmã do Jonathan, Malfoy – ponderou Alvo, evitando implorar para que o sonserino lhe contasse.

– Está – disse seco e se virou para dormir.

Alvo se afastou e se deitou junto do amigo. Novos estudantes chegavam a todo momento e havia muita inquietação na sala. O Prof Pratevil entrou e permaneceu no local fazendo uma ronda entre os colchonetes a fim de que todos se calassem. O efeito surtiu o resultado esperado, afinal, não era segredo que os alunos mantinham um pé atrás quando se tratava do professor de Transfiguração. Embora o silêncio fosse geral, nenhum aluno pregou os olhos naquela noite.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.