SUAS CASAS, SUAS FAMÍLIAS



Alvo e Peter trataram de alcançar os monitores de sua casa. Rose iria com James que lhe ensinaria a caminho para o Salão Comunal da Grifinória. Os meninos logo encontraram o último aluno da Lufa-Lufa dobrando à direita da escadaria na saída do Salão Principal. Subiram correndo as escadas para o 2º andar e seguiram para o corredor. Entre a segunda porta e a terceira havia um longo espaço com marcas velhas de um quadro que deveria estar pendurado ali por anos. Os alunos se aglomeraram ao redor do monitor Zacarias Smith Júnior.

– Alunos da Lufa-Lufa, esta é a entrada provisória para o nosso Salão Comunal.

Diante dos olhares incrédulos e confusos dos alunos, que o divertiam, ele continuou.

– Para entrar é muito fácil, pois esta parede funciona como uma plataforma 9 ¾ seletiva. Apenas lufos podem entrar, a não ser que dê a mão ao seu convidado. Basta atravessar com segurança e você sairá na sala. Contudo, se estiverem distraídos, podem bater na parede ou parar na sala em que aguardaram ser chamados pela diretora McGonagall e devem subir as escadas outra vez. A diretora da casa, Prof. Carmelita Trelawney, preparou uma surpresa para os alunos. Assim que chegarem ao fim, entrem pela porta marcada pelo texugo. A outra está trancada e nem adianta usar alorromora. Aqueles que se sentirem preparados, podem passar.

Em instantes, vários alunos mais velhos da casa passaram pela parede sem problemas. Alguns alunos do 2º ano ficaram receosos e deram de cara com a parede. Outros do 3º passaram e, em poucos minutos estavam de volta com os cabelos em pé e um sorriso estampado no rosto. Zacarias Júnior fez sinal para que mantivessem segredo. Sandro Bones foi o primeiro novato a passar pela parede. A julgar pela demora do retorno, ele havia conseguido, sem problemas. Alvo decidiu que, após uma menina que usava maria chiquinha e tinha o cabelo rosa, ele iria. Respirou fundo, olhou para a parede e não teve medo. Se ele passou pela plataforma 9 ¾, passaria ali também. Alvo, como todos os alunos, esperava encontrar chão firme do outro lado, mas não foi o que aconteceu. No instante em que passou pela parede, Alvo caiu em um túnel amarelo que dava voltas e curvas como um tobogã. Ele gritava sem parar porque não sabia se tinha pego o caminho certo ou se iria parar na sala em que foram recepcionados. O tobogã começava como uma queda livre e dava duas voltas até que, finalmente, terminava como um escorregador. Quando Alvo abriu os olhos, estava dentro de uma gelatina e uma força invisível o empurrava para fora, suavemente. Quando saiu daquela coisa molenga, ele percebeu que não estava nem um pouco sujo. Em seguida, veio Peter. Os dois riram muito e se dirigiram à porta com o texugo. Saíram por trás de um quadro de pomar de macieiras, derrubando algumas maças do pé.

O Salão Comunal da Lufa-Lufa era um lugar muito aconchegante e convidativo. Tinha um eterno cheiro de bolinhos recém-saídos do forno e estava bem quentinho, para o outono. Varias faixas amarelas estavam penduradas no teto, uma ao lado da outra, formando um forro de tecido sobre o negro do teto. As poltronas eram tão largas que dariam para três alunos do 1º ano sentarem confortavelmente. Do lado direito da sala tinha uma lareira que ninguém usava mais e que agora, após a idéia de Mafalda Hanksy, do 5º ano, era o quartinho do mascote da casa: um texugo. Acima da lareira estava a Meiga Lufa-Lufa das Planícies, como o Chapéu Seletor a chamava. Helga Lufa-Lufa sorria para os alunos e desejava boas-vindas. Bem no meio da sala estava uma mesa redonda com três tigelas de barro, feitas pelo Frei Gorducho, o fantasma da casa, enquanto ainda estudava. Elas eram sempre repostas pelos elfos da cozinha, que ficava em algum lugar ali perto. Por isso, na casa da Lufa-Lufa nunca faltavam bolinhos que variavam de sabor a cada semana, frutas frescas e petiscos salgados. Havia um grande barril metade com suco de abóbora e metade de água do lado oposto ao que eles entraram, em frente à pintura do pomar. Zacarias Júnior apareceu por último e anunciou:

– Para aqueles que não perceberam, ao sair da gelatina existe, do lado esquerdo, um grande barril. Ele comporta até 5 pessoas e as leva para a mesma parede que entraram, está bem? Do lado direito é o dormitório dos meninos e do lado esquerdo, das meninas. Podem ir para seus dormitórios, porque amanhã temos aula bem cedo.

Dito isso, Zacarias se encaminhou para o longo corredor e entrou na terceira porta. O caminho para o dormitório era um pequeno túnel, com suas laterais retas e seu teto em forma de arco, cujas portas para os quartos eram perfeitamente redondas, como a tampa de um barril. Pelo corredor estavam fixados diversos quadros de ex-estudantes da casa. Uma prova de como eles se tornaram leais à Lufa-Lufa. Lucy Thomas veio correndo ao encontro de Alvo e Peter, quando os viu.

– Bem-vindos à Lufa-Lufa! - e deu um largo sorriso. – Estou muito feliz que estejam aqui. Eu era a única da turma que ainda não tinha companhia. Ah! Desculpe, Alvo, por não ter entrado na Grifinória. Mas eu acho que você vai mostrar muitas coisas pra todo mundo. Não é legal ter o tio Harry como professor? Tão legal quanto o tio Longbottom!

– Eu só não quero fazer besteira na frente do meu pai.

– Até o mais esperto faz besteira, Alvo. Vocês já viram que fofo é o Ruffus?

– Q-que Ru-ruru-Rufus?

Lucy caminhou até a lareira e pegou um pequeno animal nos braços, aconchegando-o.

– Nosso mascote, é claro. Este é o maior segredo da Lufa-Lufa, porque ninguém pode ter um bichinho aqui que não seja um gato, uma coruja ou um rato. Mas nós temos o Rufus! Eu preferia que o nome dele fosse Niemerésis, mas ninguém votou na minha sugestão.

Os dois trocaram olhares significativos.

– Desculpe, Lucy, mas eu vou pro quarto, estou muito cansado.

– Oh, não se preocupe. É o último à direita. Oh! E espero que vocês durmam com o ronco

– Que ron-ro-ronco?

– Do Frei Gorducho, é claro! - e sorriu.

Lucy ainda brincou um pouco com Ruffus antes de dormir. Alvo e Peter foram passando pelo corredor olhando os retratos dos ex-alunos da Lufa-Lufa. A maioria estava em grupo, outros em casal e poucos sozinhos. Todos sorriam e davam acenos de boas vindas. Quando entraram no quarto redondo, outros 2 garotos já estavam terminando de desfazer suas malas.

– Oi, eu sou...

– Alvo Severo Potter, nós sabemos. – disse um menino gordinho de face rosada e olhos castanhos - È um grande prazer ser seu colega de quarto. Eu sou Detrio Arinellus e ele é o Timmy Bunglinton.

Timmy segurava um pano velho e esfiapado. Tinha a face magra e amarelada e os cabelos castanhos cheios, o que logo lhe rendeu o apelido de Leão da Lufa-Lufa.

– É só uma pena pegarmos o quarto do Frei. E eu que pensava que estava livre dos roncos do meu irmão mais velho.

– Eu sou Sandro Bones Williams, meus pais foram dessa casa.

– M-meu n-no-nome é Pe-Peter Ca-cana-Canaghan.

– Você é g-ga-gago ou o que? - perguntou Detrio rindo.

– G-ga-gago m-mesmo. - disse seco.

– Oh, desculpe. Foi mal.

– T-tudo b-bem. A-acon-aconte-tece!

– Que cama você prefere, Peter?

– T-tanto f-faz!

Alvo abriu sua mala e separou a roupa da manhã seguinte e Peter fez o mesmo. No quarto dos lufos não tinha nenhuma janela, pois o Salão Comunal ficava no subsolo da escola. Contudo, Helga Lufa-Lufa não havia deixado seus alunos sem a vista do sol ou da lua. Havia uma pintura bem ao lado da entrada, que mudava a paisagem segundo o tempo do lado de fora de Hogwarts: dia, noite, tempestade e até neve! Assim, os alunos sempre sabiam o que vestir ao acordar. Não havia cortinas, as camas eram largas, espalhadas numa tentativa de formar um círculo e unidas nas cabeceiras por prateleiras. Tudo isso porque a fundadora da casa decidiu tratar a todos os alunos de sua casa como iguais. Alvo ouviu os pais e os tios descreverem tanto o Salão Comunal e o quarto da Grifinória, mas achou que os da Lufa-Lufa não deixavam a desejar não. E eles nem sabiam o quanto ali parecia legal.

– Muito legal este quarto, não é?

– M-muito, Alvo

– Dizem que a cozinha, onde os elfos trabalham, é perto da entrada da nossa casa. Mas a gente nem pode ir lá, agora que tem aquela infiltração. - Detrio se lamentou.

– E como é que os elfos deixam o prato de comida cheio daquele jeito no Salão Comunal? - Timmy perguntou.

– Mágica, ora! - Sandro respondeu, irônico.

– Ah, é! - e todos riram.

– Alvo, como é o Sr. Potter? Como professor? - Timmy perguntou.

– Eu não sei. Eu nunca pensei no meu pai como professor de Hogwarts.

– Ele deve saber muitos feitiços contra a magia negra, né? Ele lutou com Aquele-que-não-deve-ser-nomeado e os Comensais... - Sandro falou olhando diretamente para Alvo.

– Deve saber, mas meu pai não costuma falar sobre essas coisas. Para ele, tudo isso é passado e deve ficar lá.

– Graças ao Merlim que seu pai existiu, viu? Por que nossa vida ia ser muito difícil se o Outro tivesse triunfado - afirmou Timmy, agarrando seu lençol.

– O que é isso na sua mão? - Alvo finalmente perguntou.

– É meu lençol da sorte. Minha mãe me deu quando eu era pequeno e sempre carrego ele para onde quer que eu vá. É como um talismã.

– Você não pretende levar para as aulas, não é?

– Claro que não, Potter. Eu posso ser um pouco distraído, mas louco ainda não sou.

Todos riram mais uma vez. Deram boa noite e foram dormir. O céu de Hogwarts estava repleto de estrelas e nenhuma nuvem. Uma noite linda e tranqüila para se dormir. Mas Alvo se mexia demais em sua cama. Não podia deixar de pensar que toda a sua família estava na Grifinória e ele não. Será que ele tinha qualidades tão distoantes dos interesses de Godric Grifinória? Não era corajoso o suficiente? E o pior de tudo era que Harry, seu pai, estaria presente e saberia de toda besteira, das notas baixas, das humilhações que poderia passar... Alvo estava com medo, com muito medo do seu primeiro ano em Hogwarts. Será que seu irmão James também se sentiu assim? Ele duvidava. James sempre foi muito safo e corajoso. Ele sim parecia com Harry em suas ações. Alvo era só a promessa externa de um Harry Potter por ser tão parecido, mas internamente, era muito diferente. Quando Alvo estava quase pegando no sono, ouviu-se um barulho terrível.

Rooooooonc

– O que é isso? - Timmy acordou assustado segurando seu lençol.

– Lumos! - Sandro falou e iluminou seu quarto.

– Parace...um ronco? - Alvo arriscou.

– Ah, não. O Frei Gorducho! - disseram quase ao mesmo tempo.

O Frei Gorducho estava dormindo tranqüilamente bem em acima da cama de Alvo.

Ronc Ronc Rooooooonc

– Alguém, por Merlim, acorda ele!

– E como é que a gente acorda um fantasma., Timmy? Sacudindo ele? Primeiro que a gente não alcança e segundo que a gente nem pode tocar nele. - Détrio afirmou.

– Eu não sabia que fantasmas dormiam - Alvo comentou.

– E e-ele se-sese-sente s-se a g-gente joga-gar a-a-algo, Dé-dedé-detrio?

– Não sei. Nunca perguntei a um fantasma se ele sentia algo quando a gente joga algo nele

– Meu pai disse, uma vez, que o fantasma da Murta Que Geme, que fica no banheiro das meninas do segundo andar, se ofendeu quando alguém jogou um livro nela.

– A g-gente n-não po-po-pode of-ofend-ofend-ofender o fan-fanfan-fant-fantas-fantasma da nos-nossa ca-casa, né?

Rooooooonc

Os três se olharam e realmente não sabiam o que fazer. Não tinha outro jeito a não ser colocar algodão nos ouvidos, abraçar o travesseiro sobre as cabeças e tentar dormir com aquele barulho de serra elétrica.

Ronc Ronc Rooooooonc

***

Outro que finalmente já havia conseguido subir para o quarto e estava alojado em uma das 5 camas com suas cortinas vermelhas era Jonathan Dumbledore. O que mais chamou a atenção dele enquanto caminhava para a sala da casa foram as escadas que mudavam de lugar, os quadros se mexendo na parede e a quantidade de corredores e portas do castelo. Tudo era novidade. A sala da Grifinória ficava no sétimo andar, em uma das bases das torres de Hogwarts. Como sempre, lá estava a pintura da Mulher Gorda guardando a entrada. Dessa vez, a senha era chifre de unicórnio. Atravessando o buraco estava a conhecida lareira, os sofás e poltronas da sala e as escadas da torre que levavam aos dormitórios das meninas e dos meninos. Ele só ouviu elogios sobre Alvo Dumbledore e histórias fantásticas dos pais de muitas crianças enquanto esteve no Salão Comunal da Grifinória. John estava muito eufórico e, ao mesmo tempo, triste. Ele já podia sentir tanto a falta das conversas em código Morse na parede que dividia seu quarto com Elizabeth, das brigas pelo uso do banheiro e da companhia da irmã para tudo. Ele tinha a certeza de que ninguém faria a cabeça da irmã. Mas e se fizessem? E se Lizzie se tornasse uma bruxa do mal e eles nunca mais se falassem? Esses pensamentos o assustavam tanto que John tinha medo de dormir e sonhar com um futuro tenebroso.

– Cara, para de se mexer - Jerry Marvelick reclamou.

– Foi mal. Eu estou um pouco ansioso.

– A gente também, Jonathan, mas se você não parar de se mexer nessa cama barulhenta a gente não vai conseguir relaxar pra dormir - continuou Mark Tedesco.

– Fale por si só. Finelius Flowerwet já está no 13º sonho. Nunca vi um cara apagar tão rápido.

– Gus, você que é um cara inteligente, não conhece nenhum feitiço que faça essa cama parar de ranger, pelo caldeirão de Merlim?

Diante da cara de sono de Jerry, Gustav Rowlang sorriu e puxou sua varinha.

– Finito Sonorus!

E a cama de Jonathan não fez mais nenhum barulho.

– Valeu!

– Vocês já podem fazer feitiços?

– Claro que sim, Jonathan. Agora já estamos em Hogwarts. Você sabe que se fizer algum feitiço fora da escola antes de ter 16 anos você é expulso, não sabe? - perguntou Gustav.

– Não sabia não.

– Que mole! Cara, não importa onde você faça, os farejadores do Ministério sempre acham você e não há meio de voltar para a escola depois disso! - Jerry explicou a John.

– Obrigado pelo aviso, então. Onde você aprendeu esse feitiço, Gus...?

– É Gustav. Mas pode me chamar de Gus mesmo. Eu aprendi com meu pai. Ele me deu uma varinha de borracha para eu praticar os feitiços antes de entrar para Hogwarts. Ele acha que eu poderia ter uma educação em casa, sabe? Como algumas famílias de bruxos ainda fazem, para manter a tradição e segredo de alguns feitiços. Mas minha mãe não deixou deu de ombros e sorriu.

– Ter educação em casa é muito bom. Eu e Lizzie passamos anos estudando em casa e faz só 3 anos que fomos para uma escola de verdade.

– Vocês são Dumbledores. Os dois deveriam estar na Grifinória - Mark argumentou – Pela linhagem, principalmente. Vocês são meio trouxas, não são? O que você acha que aconteceu, de verdade?

– Não sei. Eu ainda não conversei com Lizzie depois que a gente entrou naquele Salão. Mas acho que somos meio trouxas sim. Minha mãe disse que minha mãe de verdade fazia umas coisas estranhas, mas que minha avó era bem normal.

– De qualquer forma, eu acho que você tem que se preparar, sabe? Nenhum bruxo que saiu de lá foi boa coisa. Aquela casa é amaldiçoada, tenho certeza. O fantasma Daquele-que-não-deve-ser-nomeado pode estar em qualquer lugar da casa. Dizem que ele foi morto por Harry Potter bem ali no Salão Principal, há 19 anos.

O tom de Jerry era bem sério.

– Eu ainda não sei bem essa história. Os aurores falaram, mas eu não entendo.

– Nem a gente, na verdade. Nossos pais não falam sobre esse assunto. Dizem que foi a pior época da bruxaria. - Gus explicou. – Pessoal, vamos dormir, vai? Amanhã eu quero estar disposto para a aula de DCAT.

– DCAT? Não tem isso na minha lista. - Jonathan assegurou.

– É Defesa Contra as Artes das Trevas. A gente abreviou, só isso.

Todos riram e deitaram em suas camas. Jonathan foi até a janela e ficou sentado ali por um tempo, pensando em toda esta mudança que estava acontecendo em sua vida. Um dia, um simples filho de fazendeiro e na outra, o neto de um grande bruxo. Aquilo tudo parecia um sonho do qual ele despertaria a qualquer momento, mas a verdade é que Jonathan não queria despertar. Era tudo tão mágico para ele e havia ainda tantas coisas sobre sua família que ele gostaria de saber...será que ele tinha algum primo bruxo? Ou tio? Ele olhava para as estrelas como se delas viesse a resposta para todos os seus questionamentos. De alguma forma, Hogwarts passava uma energia muito boa para ele, como se dissesse ‘seu lugar é aqui, jovem Dumbledore’.


***

Em outro quarto da Grifinória, exatamente acima do de Jonathan, James ainda estava sentado sem abrir seu malão, pensando no que seu irmão tinha na cabeça. Olívio tentava persuadi-lo a dormir, mas James não se conformava.

– Ele pode ser a grande revelação para a Lufa-Lufa, James.

– Ele tinha que estar aqui, junto da gente, Oliver!

– Vai ver ele é diferente, amigo.

– Como assim diferente? Ele é um Weasley-Potter, Nicolas. Somos todos Grifinórios!

– Bom, agora não.

– Rafiuski, você não está ajudando. - Oliver recriminou o amigo.

– Desculpe. Mas veja bem, James, talvez o garoto queira sua individualidade. Ser alguém aqui dentro, sabe? Sair da sombra do nome Harry Potter Grifinória.

– É O QUE, RAFIUSKI? - James estava irritadíssimo.

– Era o que minha mãe diria. Ela é psicóloga.

– Rafiuski, se não dá pra ajudar, não atrapalha, cara. - Adam Finnigan pediu. – James, talvez o Chapéu Seletor tenha errado.

– E ele já errou alguma vez?

– Não. - Nicolau respondeu prontamente, sob os olhos incrédulos de Adam.

– Seu pai não aceitou numa boa, cara?

– Sim, Oliver, mas ele é o pai do Alvo também, né? O que ele podia fazer? Esbofetear meu irmão por ter saído em uma casa que a gente mal ouve falar? Claro que não. Ele teve que inventar uma desculpa qualquer pro meu irmão se sentir aceito. Minha mãe deve estar arrasada.

– Você precisa deixar isso pra lá. Agora ele já está na Lufa-Lufa mesmo e não tem transferência em Hogwarts, esqueceu? - Nicolau tentou encerrar a conversa.

– É...mas não é justo, sabe? Não é. Ele devia estar aqui. Eu devia protegê-lo como irmão mais velho.

– E ele deixou de estar aqui? - Rafiuski perguntou e todos olharam calados para ele – E pelo que eu sei, você não deixou de ser o irmão mais velho.
James abaixou a cabeça.

– Não deixei de ser, não.

– Então ajuda o guri, cara. Ele deve estar arrasado, mas ele não pode escolher, não é? Ele caiu na Lufa-Lufa e pronto. Goles pra frente. Você ainda pode ensinar tudo a ele, menos quadribol, porque a gente pretende continuar ganhando da Lufa-Lufa.

Todos riram com a última observação de Rafiuski. Oliver foi ao encontro do colega e passou o braço sobre os ombros.

– Rafi, quando você erra, você erra feio, camarada - todos riram e Oliver se levantou e fingiu estar com a goles – Mas quando você acerta, meu amigo, faz o ponto glorioso da vitória para a Grifinória!

Todos voltaram a rir.

– Você já repararam uma coisa?

– No que, Nick? - Adam quis saber.

– Tá todo mundo em Hogwarts. Quero dizer, todos os descendentes daquela época, sabe? Weasley, Potter, Granger, Longbottom, Johnson, Wood, Lovegood, Thomas e até o Dumbledore. Não é demais?

– É, mas nós temos também Malfoy, Goyle, Bulstrode e Parkinson, né? Os do mal. - Rafiuski completou.

– Ah, mas nós estamos em maior número. E o pior deles não tem descendentes, né? O Ministério pesquisou bastante e saiu no Profeta Diário. Meu pai tem guardado isso no baú do sótão há anos. Só por garantia. - Nicolau assegurou.

– A gente poderia fazer uma recepção de boas vindas para os sonserinos, né?
James estava com aquele olhar de quem tinha um plano em andamento.

– Em que você está pensando, Potter? - Oliver já parecia aceitar a proposta do amigo.

– Algo amigável, é claro. - os amigos trocaram olhares e sorrisos. – Por acaso, e só por acaso, dei uma passada na loja do meu tio para dizer oi, quando estávamos comprando os livros desse ano. Tenho um estoque extra de bombas de bosta, penas alérgicas, papiros enganadores, balas de vômito e das novas megapimentas. Além disso, meu tio me ensinou um feitiço que deixa a pessoa azarada com a voz da primeira pessoa que falar com ele.

– Quem você tem em mente? - Adam perguntou.

– Estive pensando em...Goyle, Bulstrode. E depois, Malfoy.

Todos riram.

– Será um longo ano para os sonserinos. - Nick disse.

– Ô! De que vale uma escola, se você não pode brincar com seus colegas? - James ironizou.

Todos riram novamente e Rafiuski mudou de assunto.

– Você pegou que matérias, James?

– Trato de Criaturas Mágicas, é claro, e Adivinhação. Oliver e Nick também ,não é?

Somente Oliver confirmou.

– Nick! Era pra você ter pego as mesmas matérias!

– Eu sei, James. Mas eu queria pegar Magia da Arte no lugar de Trato das Criaturas Mágicas.

– Magia da Arte é coisa de menina! - Potter retrucou.

– Não é não. Conversei com meu pai. A gente aprende a misturar feitiços para fazer arte.

– Ainda é coisa de menina, para mim.

– É por isso que os artistas são tão incompreendidos - Nicolau reclamou.
– Então a gente não se vê nas aulas do Prof Hagrid. Faço Adivinhação e Aritmancia. - disse Rafiuski.

– Então a gente não se vê de jeito nenhum, Rafi. Pego Trato de Criaturas Mágicas e Runas. - Adam falou, meio triste.

– Aritmancia é muito complicada pra minha cabeça. - James afirmou.

– Por que não pegou Arte da Magia? - Oliver brincou.

– Páaaaara! - brincou também.

***

No quarto das meninas, havia ainda muita empolgação e conversas sobre as famílias. Angélica Wood, Rose Weasley, Flika Ulimer, Tina Rossalvo e Barbra Stevenson logo descobriram que tinham muitas afinidades. Decidiram que tirariam todas as cortinas e espalhariam pelo quarto para fazer uma decoração única, que colocariam um painel de fotos geral e que todos os amigos que fizessem deveriam constar no quadro e que uma ensinaria a outra tudo o que aprendesse e fosse necessário para sobreviver em Hogwarts. E, claro, falaram dos meninos.

– Aquele Tiago da Corvinal é tudo!!! Só assim pra eu querer ser da Corvinal, viu? - Angélica falou toda animada. – Imagina se ele viesse pra Grifinória??

Houve um suspiro geral.

– E acho que aquele menino da Corvinal, o Bruce, tem seu charme. Vocês repararam que olhos cor de mel?

– O Malfoy também é bonitinho, vai! - Barbra falou, mas pelo olhar das companheiras de quarto quase se arrependeu.

– Ele é um sonserino!! A família dele era aliada de Voldemort! - Rose disse assustada.

Barbra ainda tentou argumentar:

– Mas isso já passou, né? Vai...tira essa capa ‘do mal’ dele e olha direito...ele é bonitinho sim.

– Eu acho que uma vez da Sonserina, já não presta! - Rose continuou afirmando. – O que você acha, Angélica?

– Acho que a família dele fez muita coisa errada, mas ele não tem que pagar o pato como ele tá pagando. Você viu a confusão na mesa da casa dele? Ele já pegou detenção e eu ouvi uma menina da Sonserina dizer que quem começou a briga foi o Goyle.

– E porque ele não disse nada? - Tina perguntou a Angelica.

– Porque ele não queria ser dedo duro, né?

– Ainda assim. Malfoy pra mim é Malfoy.

Rose continuava irredutível.

– Vocês repararam naquela menina estranha que entrou para a Sonserina? Credo, parecia um fantasma! - Flika comentou.

– Foi mesmo. Todo mundo ficou olhando pra ela. E ela é a maior de todas, você percebeu? Alta e magérrima! Podia ser modelo...se tomasse um solzinho de vez em quando.

As meninas riram com o comentário ácido de Barbra.

– E o Dumbledore? Será que ele é tão bom quanto O Dumbledore? - Flika perguntou às meninas.

– Deve ser. Está no sangue. - Rose argumentou.

– Ele também é bonitinho. Mas achei ele meio bobo. - Tina falou com o olhar distante.

– Os meninos amadurecem depois das meninas. Eles devem estar pensando em Quadribol, brincadeiras e coleção de cartas. - Rose afirmou categórica.

– Eu o ouvi dizer que veio do interior de NewCastle. Foi criado na fazenda junto com a irmã por pais adotivos. Parece que a mãe dele morreu muito cedo.

– Credo Angélica! Você está quase uma Madame Bisbiota! - Tina disse.

– Quem? - Rose perguntou para as meninas.

– Madame Bisbiota é uma grande fofoqueira que escreve para o Duas Faces, aquela revista de fofocas de bruxos famosos ou um pouco conhecidos. Ela parece ouvir tudo, saber tudo. Só que ninguém acredita nela. Nunca tem provas. Sempre ‘ouviu dizer’... E parece que é um mal de família, viu? Porque toda a família Bisbiota tem se revelado uns bisbilhoteiros de plantão, desde quando Hogwarts foi criada, há mais de 1020 anos.

– E como você sabe de tudo isso, Tina?

– Ah, Rose, minha tia-avó é uma das leitoras da revista. Tem até uma publicação especial de uma revista sobre a contribuição para revelar os segredos ocultos que a família dela fez aos bruxos. Foi proibida de circular na época pelo Ministério, porque tinha muita fofoca. Minha tia-avó diz que até Dumbledore concordou com o Ministério. Isso porque tinha coisa da família dele também.

– Ah, tá. Queria ler...só por curiosidade.

– Eu peço pra minha tia avó enviar por correio pra você, ta?

– Obrigada, Tina!

– Como será que o Alvo está? - Angélica perguntou pensativa.

– Deve estar arrasado, né? Eu ficaria. Ainda mais com o pai dele vendo tudo e estando aqui todos os dias...deve ser uma pressão danada. Eu queria que ele estivesse aqui e a gente pudesse estudar juntos, como sempre fizemos

– Hum...eu acho que alguém gosta do Potter!

As meninas riram com o comentário de Barbra, exceto Rose.

– Claro que não. Eca! Ele é meu primo!

– E daí?

– Daí que ele é meu primo, Barbra. Nem penso nessas coisas.

– Pois devia, viu? Porque ele é todo tímido e isso é muuuuuito fofo!

– Ele é só...meu primo.

Rose fez uma careta e as meninas riram. Angelica bocejou e contagiou todas as meninas.

– Vamos dormir, gente? Amanhã não quero me atrasar para a minha primeira aula.

– E vai ser com o fofo do Alvo e o sogro da Rose!

Todas riram.

– Pára! - pediu Rose, chateada.

– Você vai sentar com ele, Rose? - Barbra continuou abusando e Rose fechou a cara.

– Ta bom já, gente - Flika tentou pôr as coisas em ordem – Deixa a garota em paz, Barbra. Liga não, porque Barbra é assim mesmo com todo mundo. Mas sem ela fica tudo chato, então, primeira lição de Hogwarts: sobreviver a Barbra Stevenson! - e todas riram.

– Vamos dormiiiiiiiir! - Angélica pediu encarecidamente e cada uma se dirigiu para sua cama.

***

Foi no fundo do grupo que Elizabeth andou até o Salão Comunal da Sonserina. Entrando na porta do lado esquerdo à escadaria principal, os alunos caminharam pelo corredor da esquerda com uma inclinação para baixo. Virando na 2ª entrada a direita, descendo as escadas das masmorras, e dobrando, mais uma vez, na primeira ala à esquerda, os alunos da Sonserina atravessaram o extenso corredor repleto de salas até o fim e encontraram uma parede de pedras escuras e um pouco úmida, sem saída, com duas gárgulas de cada lado. Apertando os olhos da estátua da direita, uma passagem secreta se abria do lado esquerdo do corredor permitindo a passagem dos alunos.

O Salão Comunal da Sonserina era uma longa sala esculpida em paredes de pedras negras como a noite e um ar gélido. Por ser perto das masmorras e do Lago de Hogwarts, era possível ouvir o barulho quando o lago era agitado por tempestades, do gotejamento em algum lugar ali perto e de portas batendo. Os sofás eram feitos de pedra e pouco confortáveis. Havia mesas e escrivaninhas de madeira escura e objetos de leitura. Lâmpadas verdes circulares pendiam no teto e, por isso, o salão tinha um ar frio e impiedoso. O emblema da Sonserina estava exposto dos dois lados do salão e estátuas de serpentes e cobras adornavam todo o espaço.

O dormitório dos alunos ficava ainda mais embaixo, descendo as escadas através de outra passagem secreta que era aberta empurrando a cabeça da cobra ao lado da lareira. Uma escada era revelada abaixo dela e se bifurcava para os dormitórios das meninas e dos meninos. Os dormitórios do primeiro ano ficavam na parte mais fria do corredor. As camas também eram talhadas na pedra com um colchão confortável e travesseiros de pena de coruja. A decoração era parecida com o Salão Comunal, exceto pela presença das cortinas verdes. Elas poderiam ser utilizadas como divisor de espaço e poderia isolar a cama em um quadrado perfeito, possibilitando ao aluno da casa total privacidade. Elizabeth tentou entrar nos quartos, mas estavam todos ocupados. Quando abriu a última porta, deu de cara com Amélia Bulstrode-Vaugh. Quando ela ameaçou apontar o dedo para fora, Lizzie se adiantou.

– Nem adianta me botar para fora. Este é o último quarto em que ainda há vagas.

– Eu sei. Fui eu quem botou todo mundo para fora. Esse quarto é só meu e você vai tratar de arrumar um outro lugar para ficar, porque eu não vou dormir com alguém que tem o sangue de Dumbledore.

– Então não devia ter colocado todas as meninas para fora, porque agora não tem mais quartos.

– Durma no chão do corredor!

– Você não manda em mim.

– Eu boto você pra fora a força!

– Duvido!

– Foi você quem pediu, caipira! - e dobrou as mangas da roupa.

Amélia Vaugh era uma menina muito grande e forte para a sua idade, mas Elizabeth não se deixava intimidar com muita facilidade. Se ela brigava com Jonathan, podia muito bem brigar com a grandona. As duas se engalfinharam no chão e se estapearam por um bom tempo. Amélia conseguiu dar um murro em Elizabeth, partindo sua bochecha, que revidou com um chute nas canelas. Com raiva, Amélia puxou os cabelos da outra e a colocou do lado de fora da porta. A briga atraiu olhares curiosos.

– Agora você vai ficar aqui fora, Dumbledore!

As meninas no corredor começaram a rir e torciam para Amélia. Ninguém parecia querer ser a próxima vítima. Gritos ritmados de briga soaram nos corredores. Bella Parkinson se aproximou para botar ainda mais lenha na fogueira.

– Acaba com ela de vez, Amélia! Arranca todos os fios de cabelo dela!

Amélia parecia ter gostado da idéia porque puxava os cabelos para cima, fazendo Elizabeth ficar na ponta dos pés. Até os meninos colocaram a cara na porta do corredor das meninas. A noite parecia agitada nos dormitórios das masmorras.

– Alguém aí tem uma tesoura? Vou deixar você carequinha, Srta Dumbledore!

Uma da meninas do 3º ano foi buscar a tesoura. Cortar o cabelo era algo inadmissível para Lizzie e isso esquentou seu sangue.

– Meu...nome... é Carter!

– O que? - perguntou Amélia.

– Meu...nome... é... Carter!

Dito isso, Elizabeth pulou e jogou todo o seu corpo para a parede para impulsionar o empurrão que deu em Amelia. Desequilibrada, ela foi direto contra as pedras da parede do corredor e soltou Elizabeth. Na mesma hora, ela pegou a fita que ainda estava em seu cabelo, amarrou os braços de Amélia e uma de suas pernas e levantou a mão. Saía sangue do nariz de Amélia. Diante do silêncio do corredor e dos olhares atônitos, Lizzie falou:

– É assim que a gente pega um novilho. Com licença, vou para o meu quarto. - Ao perceber que ainda tinham meninas de malas, continuou. – E quem estiver sem lugar para dormir, pode entrar também. Tenho certeza que Amélia não vai incomodar mais.

Todos se dirigiram aos seus quartos, enquanto algumas pessoas ajudavam a soltar Amélia. As primeiro-anistas que estavam de fora se dirigiram cautelosamente para o quarto vago.

– O-Obrigada! - agradeceu Veruska Tim-Morbidom, uma menina de pele tão alva e cabelos escorridos loiros, quase brancos, que até parecia um fantasma.

– Não me agradeça. Não fiz nada por vocês. Boa noite.

E fechou as cortinas de sua cama, se isolando.

– Então agradeço pelo seu egoísmo. - disse sua outra colega de quarto, a Srta Madeline Brutus Cascavel.

A última a entrar foi Stella Qwysking e todas as meninas fecharam as cortinas antes que Amélia voltasse para o quarto. Elizabeth chorou em silêncio até depois de Amélia voltar ao dormitório, xingando horrores. Depois disso, Lizzie decidiu abrir seu livro de História da Magia, de Batilda Bagshot e leu até adormecer.

A briga do dormitório das meninas parecia ter virado a notícia no dormitório dos meninos, pois todos falavam como a caipira tinha pego o novilho. Malfoy já estava se dirigindo para um quarto quando foi arremessado na parede pelo corpulento Goyle.

– Este quarto já está cheio Malfoy. - e mais quatro meninos entraram no quarto. – Vai querer lutar por ele como a caipira fez?

– Acho desnecessário. Ainda tem muito mais quartos vagos e você não acha, realmente, que eu dormiria no mesmo quarto que você, não é? Eu não agüentaria o fedor.

– Quem fede é você, Malfoy! Toda a sua família fede!

Deymon ignorou e deu as costas para Goyle dando um tchauzinho.

– Te vejo amanhã na aula.

– Covarde!

Goyle gritou, mas Malfoy já tinha entrado no quarto ao lado. Duas camas já estavam ocupadas por Vinny Bachking e Lyu Lang Ho, que simplesmente ignoraram sua entrada, assim como a do outro menino, totalmente apático: Khai Macbeer. Malfoy arrumou suas coisas, se fechou em sua cama e deitou, pensativo. Hogwarts, para ele, seria um grande desafio, porque precisava recuperar a imagem de sua família. Ele tinha jurado no túmulo do avô que as coisas não iam ficar assim. E ele estava disposto a tudo para se destacar em Hogwarts e orgulhar, mais uma vez, a família Malfoy. O passado ficaria para trás e ele colocaria toda a sujeira sobre o nome da família para debaixo do tapete.

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