DESAFIO INTERCASAS



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DESAFIO INTERCASAS


 


Assim que o Prof. Firenze saiu em direção ao jardim da escola, Alvo disparou pelos corredores. Estava ansioso para saber se o plano de Rose tinha dado certo. No caminho, cumprientou todos os grifinórios pela vitória. Continuou em direção ao 7º andar, até que uma mão o parou.


– Jonathan?! – exclamou, surpreso.


– Eu mesmo. Vivinho, ileso e inocente. Bom, talvez não tão inocente assim – sorriu, divertido.


– Por onde você andou, Al? Tudo podia ter dado errado, sabia? – informou Rose, chateada.


– A culpa não foi minha e eu ainda dei um jeito do Peter saber que a diretora estava voltando. Mas e aí? Como foi?


– O John conseguiu. Temos o mapa – disse Peter.


– Genial! – exclamou o lufo. – E agora?


Todos olharam para a garota, que se moveu um pouco, sem muita certeza de que estava no caminho certo.


– Bom, eu acho que devemos fazer um plano para vasculhar toda a escola. Se o símbolo estiver certo, devemos encontrar outro portal em algum lugar.


– Assim, só uma perguntinha, se não se importa, Rose. Eu nunca entendi direito uma coisa: por que procurar outro portal? Por que não usar esse mesmo que a gente sabe onde é? E quando encontrarmos o dono da voz, o que faremos? Porque ele deve ser um bruxo experiente e poderoso, não é?


Alvo e Peter escutaram atentamente o grifinório e voltaram a encarar a amiga, que se movimentou, incerta.


– Bom, Jonathan, nós vamos procurar pelo outro portal porque não sabemos se esse é o certo. E nós só vamos descobrir onde está o dono da voz, não duelar com ele. Aí avisamos para a tia Gina, que fala com o tio Harry, eles descobrem o que está errado com a escola e resolvem tudo – afirmou, mais decidida.


– E quando exatamente faremos isso? Caso não se lembre, os exames finais começam na segunda. Não sei se os bruxos inventaram uma máquina do tempo ou feitiço de alinhamento de planetas ou até um pó de pirlimpimpim para resolver esse pequeno detalhe – Peter falou para os amigos, com certa ironia.


– Pelas calças de Merlim! Os exames! – disse Rose, exasperada.


– Exatamente – continuou Peter. – Não temos como vasculhar...


– Eu não revisei todas as minhas anotações – ela interrompeu o garoto sem perceber. – Se eu não fizer isso, com certeza minhas notas serão péssimas! E ainda tem a prova prática em equipe que não faço a menor ideia de como será. Eu preciso ver isso... Agora! – disse e se retirou para a biblioteca, deixando os amigos sozinhos.


– Então... – começou John, com um sorrido enorme nos lábios.


– Sobre o alinhamento de planetas...


– Alvo, nem começa! – interrompeu Peter. – Logo agora que nos livramos da sua prima na tarde de sábado e certamente não a veremos no domingo, falar no exame de Astronomia é a última coisa que quero. John, me disseram que a festa vai ser longa na sala comunal da Grifinória e convidados são bem vindos.


– Quando saí de lá já estava bem animado, Peter!


– Então vamos, Alvo. Na segunda a gente se preocupa com os exames – disse, caminhando na frente em direção a Grifinória.


– Ele realmente acha que a Rose não vai lembrar da gente amanhã? – comentou Alvo.


– Deixe-o ser feliz, Al. Pelo menos, por hoje – sorriu John.


A comemoração na sala comunal da Grifinória durou além do horário permitido e Neville foi obrigado a estragar o momento. Embora ainda não tivesse o título nas mãos, agora era só uma questão de tempo até a Lufa-Lufa ganhar com um placar largo da Sonserina - o que parecia bem provável - e a Taça de Quadribol ficaria mais um ano com a Casa de Godric.


Pela manhã, Alvo, Peter e John chegaram atrasados para o café no Salão Principal e estranharam não encontrar uma Rose revoltada pelo sumiço deles. Barbra logo deu o recado da colega, informando que ela esteve por lá mais cedo e já estava na biblioteca, esperando por eles.


Os garotos deram um longo suspiro, comeram e pegaram suas mochilas para encontrar a amiga no que prometia ser um longo dia de estudos. Chegando lá, notaram que a maioria dos alunos parecia compartilhar da mesma ideia. Nunca a biblioteca esteve tão cheia e sequer encontraram um lugar para sentar ou a própria Rose. Quando estavam saindo, a garota finalmente apareceu de um dos corredores, fazendo sinal de que a seguissem.


O trio de garotos trocaram olhares curiosos e seguiram a garota até um corredor aparentemente vazio. Ela apertava contra o peito uma antiga revista, junto com alguns livros velhos. Tinha no olhar um brilho intenso que os amigos aprenderam a identificar de longe.


– O que você descobriu? – perguntou Alvo.


– Shh! Fale baixo! – alertou a garota, verificando as prateleiras ao lado.


– O que você descobriu? – sussurrou seu primo, novamente.


– Ontem à noite, enquanto vocês estavam na farra... – salientou a última palavra encarando os rapazes com uma das sombrancelhas erguidas –... Eu coloquei os abafadores e revisei todas as minhas anotações. Aí, eu peguei essa revista da Tina, só para me distrair. Veja que coisa! Eu já a tinha há séculos, mas fui dando prioridade para outras leituras e...


– Enfim...? – Peter foi direto ao ponto, o que desagradou um pouco à garota.


– Bem, eu acho que descobri. Acho que sei o que está acontecendo com a escola! Você estava certo, John. Talvez nem seja mesmo preciso procurar por outro portal. Tudo é tão claro, agora! Como me arrependo por não ter lido isso antes. Parece tolice, mas se você prestar atenção é bem óbvio, não?


– Rose, não estamos conseguindo entender do que está falando – disse John.


– Ah, claro! Eu vou explicar. Esta é a revista Duas Faces, da Madame Bisbiota. Fala basicamente da vida alheia, porque, segundo a Tina, a família Bisbiota tem revelado bisbilhoteiros de plantão, desde quando Hogwarts foi criada, há mais de 1020 anos. Esta edição é especial, onde ela reuniu uma série de boas histórias e foi até proibida de circular pelo Ministério!


– Rose, você está com uma revista ilegal nas mãos? – perguntou John.


– Não é excitante? Enfim, isso foi há anos. Tem uma história em particular, que me chamou a atenção. Uma matéria sobre os podres de um editor. Aqui eles citam uma perseguição do dono de uma editora a uma autora, só porque a bruxa não queria casar com ele: Beatrix Fairetaile. Não tem muito sobre ela aqui, mas...


– Espera! Eu já ouvi esse nome antes – disse Alvo e começou a remexer a sua mochila até achar seu estojo de figurinhas. – Aqui! Eu sabia! Ganhei essa figurinha nos jogos do James. Beatrix Fairetaile: descendente de Abelhyuda Debuois, uma das primeiras pesquisadoras dos fundadores da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Diz-se que os contos de Fairetaile são oriundos de antigas histórias contadas de geração para geração, mas nunca conseguiu publicar nenhuma porque eram muito ruins.


Rose pegou a figurinha e deu uma olhada na bruxa de feições finas e aparentemente muito frágeis, com seus cabelos castanhos escorridos, passando-a para os colegas em seguida.


– Bom, eu encontrei esse livro empoeirado esquecido atrás de uma série de livros aqui na biblioteca. Parece que alguém pegou as páginas em branco desse livro e copiou os contos de Fairetaile, talvez um descendente, quem sabe? Acho que a Madame Pince jamais se deu conta desse aqui. Eles não são muito bons, de fato, mas tem um incompleto que é tão... Nossa! Vocês vão entender. Escutem:


– O argh dos testrálios.


– O quê? – perguntaram confusos os três garotos.


– É, eu sei. O título realmente é muito ruim.


– Os testrálios dizem argh? – perguntou Jonathan.


– Eu acho que eles não dizem nada – afirmou Potter.


– Ei, posso ler? – questionou Rose, retomando a atenção. – Obrigada. O argh dos testrálios.


Era uma vez, uma clareira de testrálios mágicos localizada no coração da floresta. Nela viviam quatro filhotes, em quatro cavernas, uma ao lado da outra. Viviam sempre juntos e tinham as idéias mais incríveis para arranjar confusão. Gulp Galetus era o mais velho e vivia brigando com Shilo Saltus, que se metia nas maiores enrascadas, enquanto Ruck Cascus e Helo Lingus sempre acalmavam os ânimos, mantendo o grupo unido.


 


– Você está falando sério? Testrálios mágicos? – Interrompeu Alvo, incrédulo.


– Eu sei, Al. Mas escuta até o fim, ok? – Rose insistiu e continuou lendo.


Certo dia, uma chuva torrencial caiu sobre a clareira, fazendo o rio transbordar, inundando cavernas e trazendo sofrimento para todos do bando. Mas como eram testrálios mágicos, logo todos reconstruíram a clareira, deixando-a ainda mais bonita e protegida por uma muralha de galhos encantada.


O bando ainda não tinha percebido que a chuva era especial, mandada pelo sopro mágico de Avalon, para cumprir uma velha profecia que traria quatro bênçãos e quatro desgraças, pois tudo no mundo mágico é equilíbrio.


O sofrimento inicial com a tragédia que se abateu na clareira logo foi abençoada pela muralha mágica, que protegeu o bando de inimigos poderosos. A praga da loucura que se abateu sobre um deles, causando a morte de inocentes testrálios foi esquecida após a bênção da multiplicação, com o nascimento de vários filhotes.


Houve um tempo em que a desunião entre os testrálios da clareira resultou em um grande duelo de cabeçadas, rachando a muralha de forma que nenhuma magia pôde recuperar. Mas, ainda assim, a esperança e a perseverança prevaleceram e eles foram abençoados com tempos de paz.


Foi então que, em uma noite elemental, quando a lua nova surgiu banhada por um azul espectral, surgiu, no centro da clareira, uma fonte de pedras luminosas e água cristalina. Os antigos logo a identificaram como a bênção da fonte de magia, uma antiga lenda testrália que traria felicidade e sorte por longos anos, à custa de um pequeno sacrifício. Então, a profecia das quatro bênçãos e quatro desgraças foi revelada pelo hurro desesperado de quatro fêmeas, de quatro cavernas, uma ao lado da outra: quatro filhotes haviam desaparecido.


Embora todos acreditassem que estavam mortos, os quatro filhotes apenas descobriram uma passagem que os levou para o caminho onde toda a Verdade foi revelada. Mas as provações até chegarem lá...


– O que tem as provações? Continua, Rose! – pediu John, com os olhos brilhando de ansiedade.


– Acaba aí.


– Como assim acaba? Que tipo de pessoa escreve algo pela metade? – perguntou o grifinório.


– Então... A fonte de magia é real? – questionou Alvo.


– Vocês não entenderam? Quatro filhotes – disse, apontando para si e para os outros. – A muralha mágica que protege a vila – fez um sinal que indicava Hogwarts. – A loucura que se abateu sobre um certo testrálio – ergueu as sombrancelhas e fez expressões para que os amigos se lembrassem de Voldemort, o que os deixou de boca aberta. – O caminho que revelou a verdade e a lua banhada pelo azul espectral! – finalizou, como se fosse óbvio.


– A noite elemental! – Peter sussurrou como se um estalo abrisse sua mente.


– Você sabe o que significa? – Alvo perguntou, ainda confuso.


– É um alinhamento incomum de planetas que acaba gerando um acúmulo de poeira cósmica perto da lua e parece que ela fica azul. Parece que o fenômeno acontece esse ano. Meu Deus! Acho que nesse mês! Eu li num livro de astronomia depois que você me deu aquele mapa de presente de natal, Alvo. Fiquei curioso sobre o assunto.


– A lenda conta que tudo pode acontecer em uma noite elemental – afirmou Rose, puxando um outro livro que estava em suas mãos e abrindo em uma página que falava sobre o assunto. – Para o bem ou para o mal.


– Dizem que foi na noite elemental que Avalon foi criada, que Merlim nasceu e até que Hogwarts foi construída! A lenda fala também da nova luz para o mundo da magia que surgirá do brilho da lua azul. É bem interessante mesmo! – disse o lufo, incentivando os amigos a lerem sobre o assunto.


– Espera! Espera! O Prof. Firenze falou isso comigo! Sobre um alinhamento incomum que os centauros estavam observando e que eu devia saber utilizar isso da melhor forma, porque a magia deixa rastros – afirmou Alvo.


– Os centauros sempre sabem de tudo. Eles poderiam até nos contar logo e poupar esse tempo todo que ficamos pesquisando. Temos que agir na noite que a lua ficar azul – disse convicta a garota.


– Espera! – interrompeu Peter, puxando o livro das mãos dos amigos. – Então vai ser... Na sexta-feira! – exclamou.


– E nós temos que traçar um plano para nos preparar para as provações. Levar todo o tipo de material para qualquer situação. Ainda bem que assisti à palestra do Sr Termopholis quando a diretora fez aquela apresentação – Rose sorriu. – Ele deu dicas muito importantes. Vamos fazer uma lista depois que revisarmos Herbologia.


– Rose! Como é que você pode pensar em estudar depois de uma revelação dessas? Eu estou tão agitado que não consigo nem me concentrar.


– Peter, isso vai ser na sexta. Até lá, precisamos garantir que passaremos para o 2º ano. Vamos! – ordenou a garota.


Rose arrastou os amigos até um espaço no chão, próximo a uma das janelas da biblioteca. Sequer percebeu quando um certo aluno saiu justamente do corredor ao lado de onde estavam, admirando, abismado, a sorte da garota em tropeçar em informações tão importantes. O corvinal havia se agachado, fingindo ler um livro, quando suspeitou dos cochichos e utilizou suas orelhas extensíveis para escutar melhor. Imediatamente, Tiago pôs-se a procurar pelos três sonserinos por todo o castelo. Só conseguiu encontrá-los na hora do jantar.


– Procurei vocês por toda a parte! – exclamou o corvinal. – Onde estavam?


– Estávamos estudando em um lugar... Reservado – informou a garota.


– Por que não me chamaram?


A garota rolou os olhos, enquanto os outros dois simplesmente ignoraram a reclamação do colega.


– É uma coisa Sonserina – Lizzie respondeu.


– Descobri coisas muito importantes sobre aquilo. Vamos lá fora.


Tiago saiu na frente para a área externa da escola e o trio de sonserinos o seguiu, ansioso. Quando se assegurou de que ninguém estava por perto para ouvir, o corvinal relatou aos amigos tudo o que tinha escutado, o mais fiel possível.


– A lenda da noite elemental! – exclamou Khai.


– Você sabia disso? – perguntou Malfoy, surpreso.


– Meu avô costumava contar essa história para mim. Diz a lenda que na noite elemental o primeiro sacrifício de sangue trouxa foi realizado, que Morgana derrotou Merlim, dizem que o primeiro basilisco foi chocado em uma noite assim e ainda contam que as trevas irão se espalhar pelo mundo em uma noite de lua azul – explicou o sonserino.


– Me parece uma coisa bem séria – ponderou Lizzie.


– E perigosa – completou Tiago.


– Mas vamos fazer mesmo assim – afirmou Deymon, categórico. – Sabemos onde fica o segundo portal e vamos fazer tudo primeiro do que eles. Se estiverem errados, nós iremos descobrir o que está acontecendo. Podemos ser até condecorados por salvar a escola.


– Ou mortos – cogitou Tiago.


– É um risco – disse Khai. – Você não precisa ir – completou, com um sorriso desafiador.


– Eu descobri. Claro que vou.


– Na verdade – interrompeu Malfoy. – A garota Weasley descobriu e você só ouviu porque é um enxerido.


Tiago ameaçou partir para cima do sonserino, porém foi impedido pela garota, que se interpôs entre eles.


– Temos coisas mais importantes a fazer do que brigar. Vamos planejar isso. Precisamos estar preparados para tudo – afirmou a sonserina. – Bom, acho que posso cuidar de boa parte do que vamos precisar. Malfoy, não se esqueça da capa e da pedra. Khai, você fica responsável por conseguir alguma comida e Tiago, precisamos saber quando os bruxos do Ministério trocam de ronda. Precisamos de alguma distração.


– Tenho alguns explosivins – informou Malfoy. – Acho que podemos fazer algum estrago.


– Ótimo e lembrem-se: temos que nos comportar como se somente as provas importassem – concluiu a garota e partiu para o interior do castelo.


A semana foi intensa para Hogwarts. Embora alguns acidentes sérios em Herbologia e Poções tivessem resultado em alguns alunos com reações alérgicas e queimaduras, tudo transcorreu dentro da normalidade para os últimos exames do ano. Para os primeiro anistas, contudo, tudo era um pouco mais tenso: havia notas a recuperar e famílias para honrar. Uma das últimas provas para os pequenos foi de DCAT e, para Alvo, se sair bem nesta prova era uma questão muito acima de mera aprovação. A prova teórica tinha ocorrido no primeiro horário da manhã e foi bem puxada, contudo, havia a segunda parte prática e ela estava deixando a todos muito preocupados.


Os alunos do primeiro ano entraram na sala de Gina com olhos receosos e curiosos, incertos do que poderiam encontrar. Os novatos acharam estranho todas as Casas estarem reunidas para a atividade prática e, assim que entraram na sala, notaram que estava completamente vazia, a não ser por Gina à frente da mesa, aguardando a todos com um sorriso travesso.


– Podem deixar todos os seus materiais naquele canto e saquem suas varinhas.


Assim que todos lhe obedeceram, ela prosseguiu:


– O Prof Potter havia preparado uma atividade interessante para vocês durante o ano, mas eu achei que seria melhor deixá-la para o final. O nosso exame prático será enfrentar um bicho papão!


As reações foram as mais diversas: olhares nervosos, pânico, desconfiança, medo, coragem e excitação. Muitas vezes essas emoções estavam presentes nas expressões das crianças ao mesmo tempo e Gina estava realmente gostando daquilo. Interrompeu o burburinho com um olhar dominador Weasley e continuou.


– Como muitos de vocês responderam corretamente no exame teórico... Sim Srta. Knighty, já corrigi as provas – completou antes que a menina sequer formulasse uma palavra. – O bicho papão irá se transformar naquilo em que o bruxo sente mais medo. Ele se alimenta disso e fica cada vez mais forte. Para vencê-lo é preciso muita alegria e risadas, por isso, utilizamos o feitiço riddikulus. Não há segredo, basta manter o pulso firme e pensar na coisa mais divertida do mundo que pode acontecer à forma que o bicho papão se transformar.


Dito isso, Gina desfez um feitiço desilusório que mantinha um armário de madeira gasta gigantesco no final da sala camuflado. Ela se colocou diante das portas e pronunciou algumas palavras. Uma fumaça negra saiu e começou a tomar forma de Harry, enquanto os alunos se expremiam de medo, ao mesmo tempo em que esticavam os pescoços para ver tudo. Antes que as crianças pudessem notar o seu medo, ela lançou o feitiço com maestria e Harry apareceu de calção de banho amarelo berrante com desenhos de fadas mordentes com tutu e uma tatuagem no peito que dizia: “eu amo minipuffs”. As crianças riram tanto que o falso Harry voltou correndo para o armário.


– Muito bem! Quem é o próximo? Formem uma fila, vamos!


Bruce Briniwick, da Corvinal, se aproximou e aguardou receoso até o bicho papão tomar a forma de um hipogrifo com olhos vermelhos e fumaça saindo pelo nariz. O garoto lançou o riddikulus e logo o animal ficou totalmente sem penas, chiando como uma gralha. Todos riram e o exame ficou muito mais interessante. Tiago Richards veio em seguida e enfrentou com maestria seu terror de abelhas africanas gigantes, transformando o próprio ferrão da abelha em uma flor que tentava comê-la. Beatriz Collins, da Lufa-Lufa saiu em prantos da sala depois que o bicho papão se transformou no seu bicho papão. Gina conseguiu trazê-la de volta para a sala depois de prometer enviar alguém até sua casa, em Liverpool, para eliminar esta praga.


A maioria dos alunos tinha medo de coisas simples como cobras, cachorros, baratas, tronquilhos, plantas carnívoras, diabretes e, claro, do Prof Pratevil, que fez a alegria de todos enquanto fugia desesperadamente de uma professora de astronomia apaixonada. Já outros realmente se superavam: Peter trouxe para a sala um verdadeiro furacão, que acabou sugado por um aspirador de pó gigante com cara de palhaço e Rose quase queimou os colegas que se atiraram para os lados quando o seu falso dragão cuspiu fogo para, no segundo seguinte, se transformar em um dragão fêmea dançarina de balé, com sapatilhas e tudo. Rose revirou os olhos e encarou o primo, incrédula, ao ver que o bicho papão de Alvo virou uma lula gigante, pois era reflexo das provocações de James, mas o lufo logo a transformou em lula de gelatina.


O ambiente ficou tenso quando Deymon enfrentou seu lobisomem, transformando-o em lobisomem-borboleta, mas Khai não conseguiu fazer o feitiço corretamente quando seu próprio pai apareceu na sala e foi consolado por uma Gina compreensiva. Quase todos os alunos já haviam se apresentado quando Jonathan se aproximou, nitidamente nervoso. Respirava com dificuldade e, antes que a professora liberasse o bicho papão a interrompeu:


– Eu não gostaria de participar disso, se me permite.


– O quê? – reagiu surpresa a maioria dos alunos e Gina encarou o jovem, ainda sem reação.


– Jonathan, ficou maluco? É a sua nota que está em jogo! – exaltou-se Lizzie, que estava atrás do irmão.


– Eu não quero fazer isso.


– Sr Dumbledore, não há perigo algum. Eu estarei aqui caso algo dê errado, não se preocupe. Vamos! – incentivou Gina.


– Eu não quero – disse e guardou sua varinha.


– Sr Dumbledore, isso irá prejudicar a sua nota final – informou Gina. – Não posso forçá-lo a usar a sua varinha, mas devo insistir. Sr Dumbledore, não há do quer ter medo.


– Jonathan! Isso não tem nenhum sentido. Vá lá agora e use essa varinha – ordenou sua irmã.


– Não. Não me importo com a nota, de verdade.


– Do que você tem medo? – perguntou a sonserina, olhando profundamente, mas John desviou o olhar. – Você está sendo patético. Foi para isso que me convenceu a ficar por último? Sai da frente – disse e empurrou o irmão, abrindo caminho.


Elizabeth ficou diante do guarda-roupa esperando o bicho papão sair. Estava furiosa com seu irmão, mas sabia que não havia motivo para aquilo. Foi então que sentiu o frio na barriga, a garganta se fechar e a atmosfera ficar gélida. Sentiu o medo escorrer pela nuca até a ponta dos pés e encarou a névoa negra diante de si: medo. Lizzie sabia qual era o seu medo e seria tão complicado expor daquela forma, na frente de todos. Recuou e entendeu o que seu irmão queria dizer. Será que ele sabia? Olhou ao redor e sentiu todos aqueles olhares. Então, tudo mudou. A forma que o bicho papão estava tomando se transformou e no meio da sala, para risinhos de um certo grupo de sonserinos, apareceu a Murta.


– Você tem medo da Murta Que Geme?


A pergunta de Jonathan saiu mais rápido do que sua vontade de tapar a boca. O comentário do irmão resultou em boas risadas na sala e a Murta-falsa recuou um pouco até entender que não riam dela. O fantasma avançou na garota que gritou e desviou, arrancando ainda mais risadas de sua plateia. Gina tentou fazer todos encararem a atividade com seriedade, pois aquilo fortalecia o bicho papão, mas Elizabeth não se saiu bem na execução dos feitiços. O fantasma fazia gracinhas, tecia comentários, todo mundo ria e Gina ficava por perto, incitando a garota a tentar mais uma vez. Estava reclamando realmente zangada com Amélia e seus amigos pela terceira vez quando ouviu a garota falar de forma cristalina e decidida:


Riddikulus!


Gina se virou para encarar Lizzie e o feitiço passou a centímetros do seu braço. Foi tão intenso e atingiu o bicho papão com tamanha violência que ele se desfez em bolhas de sabão. A expressão da garota era de convicção, mas aos poucos Gina viu aquilo se desarmar e encontrou os olhos perdidos de uma aluna que não sabia o que fazer agora. Todos olhavam horrorizados para a cena e cabia à professora dar um rumo ao cochicho dos corredores.


– Impressionante srta Dumbledore! Poucos adultos conseguem produzir um feitiço tão forte para exterminar um bicho papão de uma vez só. Vamos aplaudir a colega pelo excelente feitiço.


Boa parte dos alunos aplaudiu com vontade, mas alguns estavam bastante irritados pelo sucesso repentino da garota. Gina ainda tentou convencer Jonathan, mas o garoto estava irredutível, portanto pôs fim à atividade.


Para os alunos do primeiro ano, apenas um exame faltava para que pudessem, enfim, descansar e curtir o último jogo de quadribol: o exame prático interdisciplinar. Assim como Gina, Carmelita também conseguiu aprovação para que todos os alunos fizessem a prova no mesmo momento. Assim que conferiu a lista e notou que todos estavam presentes, a Prof Trelawney começou a explicar como seria o exame, ao lado de Madame Hooch e Prof Pratevil.


– Sejam bem vindos ao desafio intercasas! – exclamou Carmelita, com um olhar radiante.


– Hoje vocês serão testados em transfiguração, feitiços e voo ao mesmo tempo. Queremos saber se vocês aprenderam o suficiente para se defender em grupo – informou Prof Pratevil, com uma expressão desafiadora.


– Não se preocupem porque nós só iremos cobrar o que ensinamos. É claro que adaptações e improvisações são sempre bem vindas – salientou Carmelita, com um sorriso. – Portanto, gostaríamos que se dividissem em equipes de quatro pessoas.


Os estudantes logo encararam seus amigos. Parecia algo muito excitante e diferente. Contudo, a alegria foi cortada pelas palavras proferidas com certo prazer pelo Prof Pratevil:


– Um aluno de cada Casa.


Imediatamente, um silêncio de choque extremamente constrangedor se espalhou. Parecia que uma névoa gélida avançava pelo corredor, imobilizando a todos e trancafiando no fundo da garganta o grito de horror. Alguns alunos encaravam incrédulos os professores, enquanto outros olhavam com desconfiança, principalmente para os sonserinos.


– Vamos, não sejam tímidos – incentivou Carmelita.


Alguns alunos começaram um burburinho buscando as pessoas mais próximas; outros procuravam aqueles de maior talento. Todos, entretanto, evitavam escolher sonserinos sem o consentimento dos colegas.


– Isso é patético – disse Malfoy. – Querem nos humilhar ainda mais?


– Patético – concordou Khai.


– Bom, não sei quanto a vocês, mas eu prefiro escolher a ser escolhida. Com licença.


Elizabeth passou por um grupo que tentava convencer Tiago a participar e agarrou o garoto pela mão, puxando-o. Ela deu um sorriso debochado para as garotas irritadas, enquanto ele se desculpava com um adeus simpático. Lizzie encontrou John logo adiante, discutindo com Potter.


– Jonathan!


– Lizzie! Você vai fazer isso comigo, né?


– Por que acha que estou aqui? – perguntou, deslizando as mãos no cabelo. – Tiago já está no grupo, então precisamos de um lufo – disse, encarando Alvo.


O lufo sorriu e já ia confirmar animado, quando sentiu uma cutucada nas costas. Encarou uma Rose com expressão de poucos amigos.


– Ele vai comigo – informou imperativa, passando o braço no ombro do primo.


Alvo suspirou e deixou para lá. Não iria discutir com a prima, pois tinha um pressentimento de que ela faria uma cena falando sobre união da família e tudo mais.


– Uma pena, realmente – disse, John. – Peter, o que me diz?


O garoto olhou receoso para Lizzie e sua varinha.


– Fala sério! Com medo de mim? – debochou a garota.


– N-não, claro que não. Tudo bem, eu faço com vocês – respondeu o lufo.


– Ótimo, então. Vou entregar os nossos nomes para a Prof Carmelita – informou Tiago, retirando-se em seguida.


Jonathan, Peter e Lizzie começaram a confabular sobre o que aconteceria e quem era melhor em que área. Rose e Alvo tinham uma outra discussão com Alicia, da corvinal, a quem tinham acabado de convidar.


– Então, quem vamos chamar da Sonserina? – perguntou a corvinal.


– Alguém inteligente, é claro. O mínimo que seja – respondeu Rose soltando alguns risinhos, junto com a amiga. – Certamente será uma garota. A Madeline é bem esperta para uma sonserina, o que acha?


– Ah, não! Ela acabou de entrar no grupo do Bruce, olha! – apontou a outra.


Enquanto as meninas escolhiam que sonserina convidar, Alvo observava como os outros estavam se saindo. Em geral, os sonserinos eram os últimos a serem escolhidos, com certa relutância. Potter notou alguém que recusava participar de um grupo de meninas e a ideia simplesmente lhe acometeu. Trocou um olhar rapidamente com Rose, que o encarou curiosa. Quando Alvo saiu em direção ao outro lado da sala, a garota ficou horrorizada.


– Alvo! Volta aqui! – ordenou, mas o primo não lhe deu ouvidos.


Malfoy olhava com indiferença os grupinhos se formando. Era patético ver a Sonserina deixada por último, se humilhando para ser escolhida. Já Khai estava bastante inseguro. Sabia que Deymon receberia vários convites, afinal, era um aluno inteligente. Ele próprio, ao contrário, era um estudante bastante comum. Iria ter que se contentar com o resto, como sempre em sua vida. Macbeer olhou espantado a aproximação de Alvo, enquanto o colega mantinha uma expressão fria.


– Olá! – saudou a ambos, educado. – Gostaria de fazer parte de nossa equipe, Malfoy?


Foi como receber um soco na boca do estômago. Deymon estava paralisado tamanha a surpresa de um convite tão... Inadequado. Contudo, tinha que admitir que o lufo sabia ser ousado. Recompôs-se, pigarreou e encarou o garoto.


– Você perdeu os miolos, Potter? É claro que não.


Alvo fez cara de pouco caso, ergueu os ombros como se não se importasse e disse:


– Ela tinha razão. Você não ousaria.


O garoto fez menção de dar meia volta, mas foi seguro pelo braço.


– O que você disse?


– Rose tinha razão e o James também. Uma pena que você seja covarde. De nada vale ser esperto se você tem medo de coisas idiotas como nomes. Se misturar com uma Weasley e um Potter é demais para você. Entendo. Normal que queira recuar. Bom, boa sorte no exame.


Alvo deu meia volta e saiu sem olhar para trás. Deymon tremia com uma vontade surreal de azarar terminantemente aquele lufo desbocado. Como ousava? O sonserino sentiu seu sangue ferver: não seria jamais chamado de covarde por ninguém. Estava ali para retomar a honra de sua família e não seria um Potter ou uma Granger Weasley que lhe impediriam de se mostrar superior, afinal, era um Malfoy: nascido e criado para suportar tudo, com a frieza de um dementador.


– Você estava certa, Rose, mas tive que tentar – afirmou Alvo, mas a prima olhava para outro ponto, em choque.


– Eu aceito – disse Malfoy, aproximando-se, com a expressão neutra.


– Ótimo! – exclamou Alvo. – O que acha, Alicia?


– Ah... Eu... Claro, Alvo.


– Maravilha! – disse o lufo e encarou a prima, que tinha a expressão de um vulcão prestes a explodir. – Somos um grupo democrático, Rose. A maioria vence. Poderia nos inscrever, por favor?


A garota bufou de raiva, falou algumas palavras indecifráveis e saiu em direção à Prof Trelawney que recebeu extasiada a relação do grupo.


– Bem vindo ao grupo, Malfoy – cumprimentou o garoto e estendeu a sua mão.


Por um instante Deymon quis berrar na cara do Potter e perguntar que diabos ele achava que estava fazendo, mas retomou o equilíbrio em questão de segundos.


– Trata-se de um exame obrigatório, Potter – ressaltou e ignorou a mão estendida do outro.


– Como queira – respondeu o lufo e tratou de tecer comentários sobre as possíveis provas com a corvinal.


Por dentro, Alvo estava muito elétrico. Não sabia ao certo o porquê de ter convidado o sonserino, mas lhe parecia a coisa certa a fazer. Os adultos não diziam que nunca poderiam julgar alguém por um passado que não lhes pertencia? Apesar de saber que seu pai e seus tios não gostavam dos Malfoys, sempre ouviu Harry dizer que no fundo tinha pena deles. Então, estava fazendo uma coisa boa, sem falar que Deymon era realmente inteligente e poderia ajudar o grupo a tirar uma nota elevada, mesmo que Rose já fizesse parte dele.


Em um tempo maior do que os professores imaginavam, todos acabaram por encontrar um grupo. Algumas equipes tiveram colegas da mesma Casa pela falta de igualdade de alunos. Como Tiago havia entregado a formação primeiro, o seu grupo teria a honra de abrir os trabalhos.


Carmelita passou breves orientações e encaminhou as crianças até o local. A ansiedade tomou conta de todos quando o grupo passou pela enorme porta de madeira com o brasão de Hogwarts entalhado. Após o trinco da porta bater, veio o silêncio. Certamente os professores haviam encantado a sala para que ninguém soubesse o que se passava.


A expectativa e adrenalina correndo soltas pelas veias faziam as crianças olharem curiosas ao redor, até que uma enorme cabeça de dragão surgiu atravessando a parede de pedras, assustando a todos, que sacaram suas varinhas. O velho dragão cinzento pareceu sorrir desafiador para as crianças e falou com sua voz grave, porém gentil:


 


“Ora, ora, crianças assustadas!


Sejam bem vindas ao Desafio Intercasas.


Três tarefas lhes serão solicitadas


E em pelo menos duas delas vocês deverão criar asas.


Transfiguração, voo e feitiços serão testados


Portanto, tudo o que aprenderam e um pouco mais podem ser usados.


Lembrem-se que em equipe devem trabalhar


Para da recompensa final desfrutar.


Todos começam e todos chegam ao fim,


Ou então serão devorados por mim.”


 


Com uma risada enigmática e um rodopio, a cabeça do dragão desapareceu para revelar uma passagem logo adiante. Os quatro trocaram olhares um pouco nervosos, mas iniciaram a caminhada por um estreito corredor. Ninguém queria dizer, mas a última frase ficou martelando na cabeça. O que significaria ser comido pelo dragão? Certamente ninguém se machucaria, afinal, estavam na escola; mas todos tinham séria suspeita de que aquilo foi ideia do Prof. Pratevil, o que gerava um certo desconforto e insegurança com a situação.


Quando chegaram ao final do corretor encontraram uma enorme balança de latão, com pequenos blocos de pedra maciça em uma das bandejas, mas equilibrado por magia. Espelhados pelo ambiente estavam alguns caixotes e, logo acima da balança havia uma abertura iluminada que levava para o segundo andar.


– Esplêndido! – exclamou o corvinal. – Isso realmente faz a gente pensar, não é? Gostei, embora seja um tanto óbvio.


– Eu sei que a gente tem que chegar lá em cima, mas como vamos subir na balança? Se não notou, ela tem mais de 3 metros de altura – informou Peter.


– Por isso os caixotes na sala, garoto. Temos que empilhar e subir por eles – respondeu impaciente a sonserina. – Aposto o que vocês quiserem que não poderemos empurrar ou carregar sem magia.


– Legal! E depois derrubamos os blocos de pedra também com o wingadium leviosa pra fazer a balança levar a gente pra cima, né? – falou Jonathan.


– Duvido muito – respondeu o corvinal. – Acho que teremos que usar outro feitiço. Os professores querem que a gente use tudo o que aprendemos, lembram? Vamos começar.


Rapidamente o grupo se dividiu para organizar os caixotes que estavam encantados para só se moverem com magia. Todos utilizaram o feitiço citado por John para montar, ainda que um pouco torto, um esboço de escada. Logo estavam de pé na outra prateleira da balança, com os rostos brilhando de excitação.


– E agora? – perguntou Peter.


Wingardium leviosa! – tentou John, mas as pedras não se moveram. – Não custa nada tentar.


― E se tentássemos transfigurar? – sugeriu Tiago.


― A essa distância? – perguntou Lizzie.


― Por que não? Precisamos acertar uma pedra, não é? Se errarmos uma acertamos na outra – respondeu com mais confiança o corvinal.


― Então precisamos configurar em algo leve – deduziu Peter.


― Uma pena! – exclamou John, animado. ― Pluma pondus!


O grifinório lançou o feitiço com perfeição, transfigurando uma pedra na lateral e a balança se moveu um pouco para cima. Os colegas logo o parabenizaram pelo feito e trataram de repetir, conforme orientação do amigo. Tiago tirou de letra, mas Lizzie teve dificuldade em executar o feitiço corretamente, transfigurando, muitas vezes, o bloco em abóbora. Jonathan lançava o feitiço depulso cada vez que isso acontecia, jogando a hortaliça em direção à parede, onde se espatifava. O problema de Peter era só a mira: acertou uma pedra solta na parede adiante e a transfigurou, fazendo todos rirem muito. Enfim, a balança se moveu o suficiente até que todos saltaram para o andar seguinte.


Animados com a resolução do primeiro desafio proposto pelos professores, o grupo seguiu adiante por um curto e baixo corredor de pedras, iluminados por tochas de fogo azul. Logo adiante, havia uma porta lateral de madeira gasta e frágil. Respiraram fundo e prosseguiram. A sala seguinte causou imediatamente uma sensação de familiaridade a todos:


― Batalha naval!


Os quatro trocaram olhares divertidos. A parede de pedra em frente era totalmente revestida por entalhos mágicos que formavam uma série de fileiras numeradas e guiadas por letras. Como eram descendentes de trouxas, sabiam o que deveriam fazer, mas havia uma pequena placa explicativa para aqueles que não compreendessem.


Do lado direito estava uma porta com uma textura que lembrava um espelho mole. Curioso, John foi até ele e o tocou, sendo sugado imediatamente para o outro lado. Com o susto, os amigos foram ver o que havia acontecido, mas assim que Tiago passou, Lizzie deu de cara com um espelho duro e caiu no chão.


― Você está bem? – perguntou Peter, ajudando a colega a se levantar.


― Estou. Só doeu um pouco. Que bosta de dragão foi essa? – explanou a garota.


Peter foi até a placa indicativa e a leu.


― Hum... Aqui diz que essa sala tem isolamento acústico. Agora eles têm que arranjar um jeito de dizer pra gente onde acertar. Só dois podem passar por aquela porta. O jeito é esperar.


― Ótimo! – reclamou a sonserina.


Jonathan e Tiago caíram direto no chão. Levantaram-se e limparam as vestes, enquanto olhavam ao redor. A parede não era muito larga e havia uma mesa com vários pergaminhos escritos, outros em branco, tinta e pena para escrever. Tentaram gritar pelos outros, mas ninguém respondeu. Na parede, gravado nas pedras, estavam imagens de diversos tipos de barcos mágicos, com pessoas a bordo, que começaram a se mexer assim que Tiago tocou no primeiro pergaminho. Era algo fascinante para se olhar, mas eles não poderiam perder tempo. Logo deduziram o que fazer.


O corvinal era realmente muito bom em fazer bilhetes mágicos que passavam pela porta espelho, mas Jonathan tinha um dom especial. Logo os dois cadenciaram o trabalho e, rapidamente, viram os barcos afundando à medida que os outros dois acertavam. As pequenas pessoas de pedra nadavam em direção aos barcos ou margens mais próximas, reclamando deles. Era divertido, isso eles tinham que admitir. Apenas uma vez o bilhete de Tiago não ficou muito bom e tiveram que recorrer a um novo. Peter e Elizabeth não cometeram erros, pois se aproximavam o máximo possível da parede e usavam o diffindo para rachar a pedra.


Ainda mais excitados pelo trabalho bem feito, o grupo se reuniu diante da última porta de madeira escura, quase preta e prosseguiu para o último desafio. Um salão enorme e com teto muito alto se mostrou diante deles. Seria impossível uma coisa daquele tamanho existir dentro da escola, se não fosse por magia, é claro. Do lado esquerdo, quatro vassouras estavam encostadas esperando por seus habilidosos condutores e algumas sacolas. Do lado direito, Peter começou a ler as instruções antes que alguém se precipitasse:


― Aqui diz que devemos percorrer o caminho de obstáculos indicado por setas, acertar com um feitiço os quatro alvos marcados com os brasões das Casas e recolher o bastão de cada um.


― Então você vai à frente, Peter. Acho que pode guiar melhor o caminho. Tiago, você vai logo atrás e acerta os alvos. Você e eu tentamos pegar o tal bastão, enquanto o John aqui tenta não cair da vassoura e vai à minha frente – definiu a garota, com propriedade.


― Ok – aceitou o grifinório, ciente de sua falta de habilidade com vassouras.


Assim que Peter tocou na primeira vassoura, o chão começou a se abrir, obrigando a todos a levantar voo imediatamente. Lá embaixo, eles podiam ver um lago de lava artificial que não queimava ou esquentava, onde o dragão cinzento do começo do desafio parecia nadar calmamente, só olhando de esguelha para eles, esperando o momento certo de abocanhar o primeiro que passasse. Algo aterrorizante, mas uma magia realmente incrível; tinham que admitir, mais uma vez.


Setas mágicas começaram a aparecer do lado esquerdo e Peter passou a seguir as indicações, seguido em fila indiana pelos colegas. O lufo realmente sabia guiar a vassoura com precisão. O primeiro alvo se apresentou e o próprio Tiago acertou e recolheu o bastão, guardando-o na bolsa a tiracolo. O grupo fez uma curva fechada e andou em zigue-zague, conforme a indicação das setas. Madame Hooch realmente estava testanto a habilidade de todos. Jonathan escorregou levemente da vassoura, mas foi amparado por sua irmã atenta. O segundo alvo não criou dificuldades, assim como o terceiro: ambos tiveram os bastões recolhidos pelo corvinal. No último, contudo, o bastão escorregou da mão do garoto. Jonathan, na tentativa de ajudar o grupo, tocou no objeto tirando-o do alcance de Lizze e se desequilibrou.


― Segurem ele! – gritou a sonserina para os outros, enquanto se jogava atrás do bastão.


O vento no rosto, um braço guiando a vassoura e o outro esticado, além da velocidade davam a mesma sensação de andar a cavalo. Não demorou para que a garota alcançasse e recuperasse o objeto, dando um looping para voltar aos colegas, que emparelharam a vassoura com Jonathan para impedi-lo de cair.


― Você é boa! – admirou Peter.


― Nunca vi você voar assim nos exercícios – ressaltou Jonathan.


― Ora, deixem de falar e vamos logo terminar isso. Peter, leve a gente para a saída – comandou a garota.


Após algumas manobras menos complicadas, Peter avistou um andar adiante e guiou a todos. Assim que pisaram no chão de pedra, o rio de lava desapareceu e, atrás deles, a mesma porta por onde tudo começou, apareceu. De repente, um barulho veio de cima e parecia que o teto iria desabar: caíram caixinhas de feijõezinhos de todos os sabores, sapos de chocolate, balas de alcaçuz, bombons explosivos, blacial flocos de neve e tantos outros. As crianças não sabiam por onde começar. Guardaram tudo na bolsa e saíram pela porta, divertidos, conversando animadamente entre si. Madame Hooch os recebeu, fez sinal para que não falassem nada e os encaminhou para o corredor externo, liberando-os das atividades do dia.


Os outros alunos mal puderam ver o grupo que saiu. Prof Pratevil transfigurou um véu que camuflava o corredor, tornando Madame Hooch e os alunos invisíveis. Logo o segundo grupo entrou e depois mais outro. Rose já estava tendo uma síncope quando Carmelita chamou a sua inesperada equipe. Sob olhares surpresos e desconfiados dos outros alunos, o grupo atravessou a grande porta de madeira. Assim que o dragão surgiu, Rose gritou, sacou a varinha e correu para trás, encostando-se à parede.


― O que foi isso? – questionou Malfoy, mas logo em seguida se lembrou da prova da Profª Potter. ― Ah! Você tem medinho de dragão. Mesmo os falsos como esse?


― É claro que não, Malfoy. Só achei... Enfim, foi um lapso – disse a garota, recompondo-se.


Após ouvirem atentamente a mensagem do falso dragão, com Rose pouco confortável embora jamais fosse admitir, os quatro seguiram pelo corredor. A balança de latão estava equilibrada magicamente, tal qual o primeiro grupo a viu.


― Bom, acho que é meio óbvio o que temos que fazer, não é? Alvo, você e Alicia cuidam dos caixotes pequenos e eu... Quero dizer, nós cuidamos dos caixotes maiores e Alicia e Malfoy ficam com o resto – corrigiu, constrangida, quando notou que faria a atividade com o sonserino.


― Com licença, mas quem a delegou líder desta equipe? – questionou Malfoy, com o nariz empinado. ― Precisamos construir uma escada e farei o que eu bem entender com os caixotes que encontrar no caminho. Não é uma grifinória que acha que sabe mais do que os outros que vai mandar em mim.


― Eu estou fazendo o melhor para equipe. Precisamos dividir quem faz o quê para andar mais rápido e terminarmos logo ou por acaso você não notou que o tempo conta ponto? – rebateu Rose.


― Pois eu discordo. Acho que devemos trabalhar com as peças que estiverem mais próximas, começando pelos caixotes maiores. Assim todo mundo trabalha para todo mundo – informou o sonserino.


― Acontece que eu falei primeiro e vamos fazer do meu jeito porque é mais eficiente.


― Acontece que isso pouco me importa e eu acho a sua ideia ineficiente – contestou o loiro.


― Pois então... – começou a garota, com o dedo em riste, mas foi interrompida.


― Ei! Já deu né? Estamos aqui também – informou Alvo, atraindo as atenções para si. ― Caso os dois não tenham notado, estamos perdendo tempo com essa discussão inútil! Precisamos fazer uma escada e o quanto antes começarmos, melhor. Vamos juntar as peças que estão mais afastadas e coloca-las próximas à balança para montamos a escada depois. Cada um procura o que tiver do seu lado e depois nós armamos os maiores – apontou para si e para a prima –, enquanto vocês encaixam os menores para adiantar. Todos satisfeitos? Não? Ótimo! – disse e tratou de usar o feitiço de levitação no caixote mais distante.


Havia um comichão inquietante dentro do lufo. Parecia que seu corpo estava sendo atacado por um enxame de besouros-pinça de dentro para fora. De onde tinha surgido tudo aquilo? Olhou de esguelha para a sua prima que levitava com perfeição um caixote com a cara mais amarrada do que um buldoque atingido pela azaração ferreteante. Malfoy estava com uma expressão de que nada o atingia e a corvinal era a única que sorria para ele, o que o fez derrubar seu caixote, sendo repreendido pela prima.


Rapidamente eles montaram os degraus e subiram na balança. Em seguida, decidiram transfigurar a pedra em algo leve, mas de acordo com o feitiço que cada um melhor dominava: Alvo transformou a pedra em abóbora e depois a jogava da balança, Rose transfigurou em pena, Alicia em isopor e Malfoy testou explodir com bombarda. Vendo que era mais rápido, os outros logo imitaram o feitiço do colega. Todos, exceto Rose, que fez questão de se manter dentro do programa de ensino dos professores e não arriscar com feitiços que poderiam ser considerados inadequados.


Os quatro saltaram para o patamar seguinte e caminharam pelo corredor de tochas azuis até encontrar o próximo desafio. Embora Rose e Alvo tivessem contato com alguns brinquedos trouxas, não conseguiram lembrar-se onde já tinham visto aquilo. A corvinal se aproximou da placa de explicação e a leu:


― De acordo com isso aqui, essa parede possui um isolamento mágico. Dois de nós devem ir ao outro lado e mandar bilhetes voadores com as indicações que já estão preenchidas de onde estão os barcos. Essa tarefa possui tempo e pontos serão debitados em caso de erro ou se precisar fazer um bilhete voador extra – informou a corvinal.


― O que nos diz agora, ó poderoso líder? – ironizou Rose para o primo.


― Eu nunca disse que era líder, só estava querendo fazer vocês pararem de discutir por idiotice. Eu não sou bom em fazer bilhetes voadores, então acho que o meu lugar é bem aqui. E vocês? – perguntou, deixando a prima desconsertada.


― Sou o melhor da minha Casa – informou Malfoy, com um meio sorriso. ― Vou para o outro lado – disse e seguiu pela estranha porta, sem deixar que os outros opinassem.


― Para mim tanto faz – disse a corvinal. ― Você quer fazer os bilhetes, Rose?


― Eu, do outro lado com aquele lá? Nem pensar! Pode ir. Vou aproveitar e ter uma conversinha com um certo lufo que anda demais para o meu gosto.


Alvo revirou os olhos, enquanto a outra garota passava pela porta. Nos minutos seguintes Rose falou, falou e falou. Os bilhetes voadores iam chegando, eles iam cortanto a pedra com diffindo seguindo as orientações, mas a grifinória não parava de falar. Reclamou do fato de Alvo ter chamado um Malfoy e salientou que quando contasse para a tia ela ficaria horrorizada; não gostou do tom dele quando forçou a entrada de Malfoy no grupo chamando de democracia; detestou o fato de o primo não a ter apoiado no desafio anterior, pois eles são família e devem se manter unidos, principalmente contra um Malfoy que fez tanta maldade e provocações com os pais de ambos e ele sabia muito bem disso e aproveitou para falar mais um montão de coisas. Parecia um berrador ambulante. Em determinado momento, Alvo discretamente lançou o feitiço abaffiato em si mesmo para não ouvir mais nada. A prima ficou furiosa quando notou e decidiu não dirigir mais a palavra a ele.


Seguiram para o terceiro desafio com um clima distante entre os primos, facilmente notado pelos outros dois, que sabiamente decidiram ignorar. Após ler a inscrição, ficou decido entre eles que Malfoy iria à frente, seguido por Alicia, Rose e Alvo. Rose rapidamente informou que não levava jeito algum para voar em vassoura, fato que levou o primo a escoltá-la a maior parte do voo, principalmente porque a garota estava completamente tensa com o dragão que parecia segui-la com o olhar, só esperando o momento certo.


Deymon e Alicia trabalharam em equipe para não deixar nenhum bastão cair, mas no penúltimo Rose perdeu o controle de sua vassoura e atingiu a colega à frente, a obrigando a soltar o bastão recém-apanhado para se equilibrar na vassoura e não cair. Instintivamente, Alvo se lançou ao mar de lava falsa a fim de alcançar o bastão antes que ele fosse devorado pelo dragão. Contudo, assim que projetou sua vassoura para baixo e deu o impulso, ouviu um grito agudo que desviou totalmente sua concentração: Rose estava caindo.


― Pegue o bastão! – gritou a corvinal. ― A gente pega ela!


Alvo viu que Malfoy já tinha se lançado atrás de sua prima, enquanto Alicia recuperava a vassoura da colega, portanto, tratou de pegar o bastão o quanto antes. Rose gritou ainda mais alto quando se deparou com o enorme dragão saindo da lava e vindo com seus dentes afiados diretamente para ela. Uma lembrança horrenda de sua infância na Romênia veio à mente e ela realmente se desesperou. No momento, pouco importava se era uma tarefa da escola e não se machucaria nem um pouco: sua mente já tinha compreendido que seria seu fim. Sentiu uma mão agarrar seu antebraço e olhou para cima.


― Peguei! – gritou Malfoy para Alicia.


Os dentes afiados do falso dragão passaram a centímetros das pernas da grifinória, que as recolheu. Por um instante, Rose tentou visualizar o que tinha acabado de acontecer e a sequência foi clareando em sua mente, enquanto o garoto a mandava sentar atrás dele na vassoura. Ainda em estado torpe, Rose se lembrou de sua vassoura dar uma guinada estranha e atingir a colega na frente. Procurou se segurar no primo ao lado, mas ele não estava lá e então caiu para a morte. A garota balançou a cabeça como se saísse de um transe:


“Malfoy me salvou?” – pensou, sem acreditar. “Mas... Mas ele é um Malfoy”.


Foi então que notou suas mãos agarradas no sonserino de tal forma como se sua vida dependesse disso. As soltou imediatamente, quase derrubando os dois.


― Ficou maluca? – exclamou o sonserino, zangado. ― Não basta a estupidez de não conseguir se manter em uma vassoura, ainda quer me derrubar? Knighty, traz logo essa vassoura que não quero essa garota atrás de mim não.


Mas Alvo se aproximou primeiro:


― Calma, Malfoy.


― Toma que a mala é sua – disse o sonserino, emparelhando as duas vassouras para que ela fosse para junto do lufo.


Rose passou sem pestanejar, com a ajuda dos dois garotos. Abraçou o primo e se recusou a andar sozinha na vassoura que a corvinal recuperou. Alvo tentou acalmá-la com palavras de apoio e tranquilidade, mas sentia a prima soluçar em suas costas.


O grupo seguiu adiante e completou a prova, obtendo sua doce recompensa. Todos, exceto Rose, saíram animados com a conclusão do desafio, apesar de Malfoy se conter descaradamente e manter a sua expressão neutra. Caminharam juntos para a saída do pátio e Alvo fazia sinal, com o olhar, para a prima agradecer ao sonserino. Contudo, a garota se recusou e desviou o olhar para a parede. Alicia notou e ficou constrangida pela situação. Sem saída, o lufo achou que deveria dizer algo em nome da prima:


― Malfoy – chamou e o garoto o encarou. ― Obrigado por pegar a Rose. Eu deveria estar do lado dela, mas...


― Exato! – explodiu a grifinória, de repente. ― Você deveria estar ao meu lado, mas estava onde? Mergulhou sem pensar duas vezes para recuperar uma droga de um bastão e me deixou sozinha. Sozinha! Você sabe que eu não gosto de voar e que tenho me... e tinha aquela coisa lá embaixo!


― Nossa! – exclamou Malfoy. ― Isso tudo é para não me agradecer? Você é realmente muito cabeça dura, Weasley – afirmou e adiantou o passo, entrando no castelo.


Alicia e Alvo encararam com surpresa a colega, que tinha as orelhas e bochechas avermelhadas. A corvinal se despediu e agradeceu pelo convite para o exercício com um sorriso especial para o lufo e cumprimentou com um gesto de cabeça a grifinória. Deixados a sós, Potter ficou um bom tempo em silêncio analisando a reação da prima.


― Você foi mais infantil do que o Hugo, sabia? – disse, categórico.


A garota bufou e cruzou os braços. Queria rebater o primo, mas sabia que não teria argumentos suficientes.


― Ele pegou você. Custava agradecer?


― Custava. Custa muito, porque o pai dele tem uma dívida...


― Ah, Rose! – exclamou o garoto. ― Sinceramente...


Alvo deixou a prima, consternado, e entrou no castelo. Sozinha, as lágrimas começaram a escorrer da face da garota. Sabia que tinha sido uma completa idiota, infantil e burra, coisa que ela não costumava fazer. Ficou desarmada depois da atitude do garoto; depois de tudo o que seu pai lhe falou sobre os Malfoys. Não sabia como reagir a tudo aquilo. Afinal, a culpa toda era de Alvo por tê-lo chamado e por não estar ao seu lado quando precisou. Agora tinha que engolir aquela situação. Não conseguiria agradecer ao garoto. Seu pai não lhe perdoaria se soubesse de algo assim e sua mãe iria lhe repreender por não ser justa com as pessoas. A garota chegou à conclusão que ser uma Granger Weasley era mais complicado do que supunha.


Sexta-feira finalmente chegou, para a alegria dos fanáticos pelo quadribol. Seria o confronto que definiria o vencedor da Taça de Quadribol. Se a Sonserina não marcasse mais do que 50 pontos, a Grifinória levantaria o caneco. A julgar pelo treino que James assistiu da Lufa-Lufa, a Sonserina iria perder feio. Com todos os olhares voltados para o jogo no final da tarde, ninguém notava a atividade de dois grupos distintos. Os sonserinos conversavam discretamente em frente ao lago, fingindo admirar a proximidade do verão.


― E então? – perguntou a garota.


― Observei os aurores – informou Tiago. ― Eles não constumam abandonar o posto nunca e a troca de guarda é sempre discreta e eficaz. Às vezes eles somem por vários dias, mas desconfio que eles sejam do tipo animagos, pra gente não notar e ficam sempre perto das escadas. Podemos agir no momento em que todos estarão indo para o jogo, usar a capa de invisibilidade e entrar no corredor.


― Ainda assim eles podem nos pegar. A capa do Malfoy pode dar defeito, você sabe que ela não é infalível – argumentou a garota.


― Pensei em usar os explosivins de uma forma diferente – disse Malfoy, pensativo. ― Acho que podemos informar “sem querer” a Pirraça que alguém esqueceu os explosivins para o jogo perto da entrada. Duvido que ele não vá imediatamente ao local.


― Mas para isso precisamos achar o Pirraça – afirmou o corvinal.


― Ele sempre está no hall atazanando a vida de todo mundo em dia de jogo – respondeu Khai, categórico.


― E a comida? – perguntou a garota.


― O esquema já está montado. Convenci um elfo doméstico que meu avô me deixará faminto quando chegar em casa e pedi um lanchinho para que eu possa esconder dele no malão. Fácil. Depois do almoço já posso pegar – informou à colega.


― Ótimo. Vamos nos encontrar na sala onde tive o treinamento com a diretora às 15h. De lá, descemos com o fluxo e nos posicionamos até o Pirraça aparecer. Com a confusão, estaremos mais seguros para passar pelo hall sem que os animagos percebam. Ficamos nas masmorras até o portal abrir. Malfoy, não se esqueça de pegar a pedra. Nos vemos mais tarde. Agora, vamos agir normalmente. Eu vou à biblioteca e vocês tratem de comentar sobre o jogo.


Elizabeth entrou na biblioteca diretamente para bater um ótimo papo de fim de ano letivo com Madame Pince e anotar vários livros interessantes para comprar da primeira vez que tivesse mesmo tempo para gastar garimpando a Floreios e Borrões. A sonserina sequer notou que seu irmão estava sentado na última mesa com seus amigos, protegidos pelo feitiço abaffiato.


― Já estou com tudo pronto – informou a garota. ― Suprimentos, livros de consulta, remédios, a pedra já está na minha bolsa, corda caso seja necessário, pena, pergaminho, tinta...


― Nossa! Para que isso tudo? – perguntou Alvo.


― Nunca se sabe – respondeu sua prima, relevando tudo do dia anterior. ― Andei estudando o que vocês me passaram dos nossos ilustres vigias e acho que podemos agir depois do jogo. Todo mundo vai estar eufórico, gritando, vibrando ou vaiando, não importa. Acho que não vão notar quando a gente sumir. Ficamos no corredor perto da infiltração, sob a capa, e esperamos até a hora exata. Deve ter algum sinal.


― Rose, não acha que seria mais seguro se a gente avisasse a alguém onde estamos indo? E se acontecer algo de ruim? Precisamos que alguém saiba, só por garantia – sugeriu John.


― Já pensei nisso. Combinei com a Tina para que ela mande uma coruja para a tia Gina, quando for de noite. Se alguma coisa der errada, saberemos que alguém vai nos resgatar. Mais seguro?


― Mais aliviado – respondeu John.


― Pessoal, estamos prestes a entrar em nossa própria aventura em Hogwarts! Exatamente como nossos pais, Alvo. Vocês não sentem uma coisa no ar? – perguntou Rose.


Todos concordaram com gestos que hoje o dia parecia diferente, mas somente Alvo se lembrou de um detalhe muito importante:


― Eu sinto, Rose. Essa coisa no ar é a noite elemental: para o bem ou para o mal.

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Comentários (6)

  • Sheila Costa

    Sorry, I'm late.... =/Não vi os comentários de meses atrás.LuizEntendo perfeitamente como é.Todas as noites eu penso um pouquinho na fic.Dormir? Como? rsrsrsnatalia,Seja bem vinda!Quem sabe? Vamos ficar na torcida. Esses personagens me inventam cada uma!!!!kkkkkkkbjos            

    2012-11-10
  • H. Granger Malfoy

    Adoroo a fic, comecei a ler e terminei ela em poucos dias, tou esperando os proximos capitulos muito ansiosa ta?! kkkkkkk adoro o shipper rose/scorpius.. sera que a gente vai ver eles juntos?! hahahah espero que sim!!! bjs

    2012-08-17
  • luiztikei

    Oi SheilaAdorei o capfinalmente consigo dormir direitoagora que vc postou o capkkkkkkkkkkkespero pelo proximo 

    2012-07-07
  • Sheila Costa

    Hilary! Nossa, você está sempre por aqui, hein? Obrigada por ler a fic, de verdade. Fico feliz que tenha gostado do capítulo. O parto dele foi bem complicado. Posso adiantar que o próximo capítulo é uma compilação de fatos que foram ditos aqui e ali ao longo da fic, para alinhar a linha de raciocínio de vocês. Vai dar pra matar saudade de um certo casal S2

    2012-07-01
  • Prado Soares

    ei flor!!! fiquei superfeliz q vc postou *--* adorei o capitulo, mas bem q vc podia ter mandado o prox pra gt deuma vez kkkkk to morrendo aqui!!! qro só ver esses grupinhos tds juntos vixe! isso nao vai prestar kkkkkkkkkkkkkk ve se nao mat a gt! bjao!

    2012-06-23
  • Sheila Costa

    Oi genteeeeeeeeee!!! Não deu para postar antes, tive muito trabalho. O capítulo ficou enorme, mas espero que gostem.Peço minhas sinceras desculpas por ter demorado tanto.Depois me digam o que acharam do capítulo =DA história dos testrálios é muito fail ~morre Mas é para ser assim mesmo =dBjocas!

    2012-06-22
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