PERIGO E PERIGOSOS



A primavera chegou com uma brisa floral que invadiu todos os cantos do castelo. O Salgueiro Lutador estava belo como nunca e até na orla da Floresta Proibida brotos coloridos começavam a desabrochar preguiçosamente. O clima propício para o amor estava lançado e muitos casais de Hogwarts começaram a assumir mais os relacionamentos. O café da manhã estava delicioso como sempre: frutas cristalizadas, ovos mexidos e cozidos, chá, suco de abóbora, bolos de gengibre, pudins caramelados, pães diversos e salada de frutas, com todas as possíveis e inimagináveis. Os alunos comiam alegremente, mas Alvo estava tão angustiado que mal conseguia fazer uma gelatina de abacate amarelo descer goela abaixo. Harry ainda não havia dado sinal algum, mas o lufo sabia que cedo ou tarde uma punição o esperava.

– Diz que a gente tava com você – Peter disse, tentando ajudar.

– Vai ser pior. É um segredo de família, lembra? – respondeu, pálido.

– Eu digo que a culpa foi minha. Pelo menos, vai demorar até o fim do ano pra minha mãe reclamar.

– Não, Rose. É melhor resolver logo. Espero que não dê para minha avó mandar um berrador – engoliu a seco – Isso ia ser horrível.

– Você não pegou detenção, então ela não pode espalhar pra todo mundo o que você fez.

Alvo suspirou aliviado e Jonathan, que já estava junto ao grupo, dava leves tapas de consolo. O lufo pensou que iria se livrar do puxão de orelha pela manhã, mas foi impedido de caminhar com os amigos para a aula de vôo por uma mão pesada e conhecida em seu ombro.

– Foi por muito pouco, Alvo.

– Desculpe – respondeu, fitando os pés.

– Será que vou ter que passar o mesmo sermão de James sobre o cuidado com nossas heranças?

– Sinto muito, pai. Se o senhor quiser, eu vou lá em cima pegar ela agora e devolvo.

Harry o avaliou por um momento.

– O que você estava fazendo?

– Eu só estava testando...queria...dar um susto no James quando ele voltasse.

– O motivo de termos horários estabelecidos, rondas e bruxos do Ministério
aqui é porque coisas inesperadas estão acontecendo. Isso não é uma brincadeira, Alvo e você sentiu isso na pele. Se você for arriscar sua vida ou a de Rose, sim tenho certeza de que ela estava com você, como posso confiar aquilo em suas mãos?

– Desculpe. É que o senhor disse para usar...

– Sim, mas não quando for sob circunstâncias perigosas.

– Mas o senhor fez coisas perigosas quando era criança, também.

– Eu não tinha escolha, Alvo. Nós já conversamos sobre isso. Eu lutei para que você tivesse uma escolha e não quero ver isso desperdiçado enquanto coisas inesperadas acontecem na escola. Se você receber o feitiço petrificus totalus quando a estiver usando, quem vai conseguir te encontrar?

O garoto olhava para os próprios pés.

– Desculpe. Quer que eu vá pegar?

– Você não foi pego, portanto vou lhe dar um voto de confiança. Quando chegarmos em casa resolveremos isso. Agora vá para sua aula.

A aula de vôo não foi uma das melhores, já que todos os sonserinos implicaram com o lufo durante a aula, por conta do jogo de domingo. Isso, claro, quando a Madame Hooch dava as costas. Alvo já estava cansado das inúmeras simulações de quedas e choro de James, seguidas de comemorações de gols sonserinos. O fim da aula foi um alívio e ele seguiu direto para a aula de Feitiços feliz da vida, enquanto os sonserinos se dirigiram para Herbologia, junto com os corvinais.

A atividade do Prof Longbottom consistia em identificar, em duplas, os 15 tipos de plantas em exposição na estufa e entregar 60cm de pergaminho sobre suas características, com consulta ao livro. Khai era sempre o parceiro de Lizzie nessas horas e Deymon ficou abismado quando Tiago se postou ao seu lado, sob o aval de Neville, o que impossibilitou o garoto de declinar. Bruce olhou surpreso e as meninas da corvinal pareciam muito decepcionadas.

– O que você pensa que está fazendo – cochichou Malfoy.

– Identificando 15 tipos de plantas em dupla – Tiago sorria do próprio cinismo.

Malfoy revitou os olhos e procurou a amiga sonserina pela sala, lançando-lhe um olhar de reprovação e desgosto. O fato de o corvinal se achar no direito de se meter entre eles era culpa dela.

– Vamos fazer a atividade ou não? – Tiago perguntou e Deymon bufou de raiva, abrindo o livro – À propósito, eu sei o que aconteceu – sussurrou.

– Não faço idéia do que você está falando – respondeu o sonserino sem sequer olhar para o colega, enquanto folheava o livro.

– Sábado à noite – continuou falando baixinho de modo que apenas seu parceiro ouvisse.

Deymon parou de virar uma página no meio do caminho por alguns segundos e depois retomou a atividade, mecanicamente.

– A detenção de Carter com Potter, já sabemos.

– Na verdade, eu estou falando de uma coisa mais... invisível – disse baixinho.

Malfoy direcionou seu olhar lentamente para o corvinal.

– O que?

– Podemos falar sobre isso depois? Prof Longbottom já fez cara feia duas vezes pra gente – e começou a rabiscar em seu pergaminho como se não tivesse dito nada demais.

O sonserino encarava o corvinal incrédulo com sua capacidade de cinismo. Se perguntava como era possível o garoto tê-los visto sob a capa e então lembrou-se de seu pai dizendo que a capa dava defeitos de vez em quando, por ser muito velha. Enquanto fazia a tarefa, Deymon tentava imaginar o que se passava na mente do corvinal. Ele seria capaz de entregá-lo para a diretora? Afinal, capas de invisibilidade eram artefatos mágicos restringidos por lei, a não ser que fossem comprovadamente relíquias de família. Elas deixaram de ser confeccionadas há uns 100 anos por conta de uma ação de proteção ao seminviso, que corria risco de extinção. Mas o corvinal não ganharia nada entregando o grupo para a diretora. Então, o que ele queria?

A aula custou a passar e toda vez que Malfoy retomava a conversa, Tiago se ocupava da aula. Lizzie e Khai foram os primeiros a terminar e Neville concedeu 2 pontos para cada pelo excelente e rápido trabalho.

– A gente te espera nas pedras – Lizzie sussurrou para Deymon, quando passou pelo colega.

Elizabeth e Khai largaram o material apoiado nas pedras inferiores e escalaram o pequeno relevo de pedras ao lado do castelo, onde a garota havia escutado uma certa conversa entre grifinórios e lufos tempos atrás. O sonserino chegou logo ao topo e ajudou a amiga a subir, estendendo-lhe a mão. Os dois se sentaram lado a lado, com as pernas cruzadas.

– Deymon vai me crucificar. Viu a cara dele quando Tiago formou dupla?

– E com razão. Não sei porque você fica dando trela pra aquele menino. Não gosto dele. Estamos muito bem, só nós três.

– Tiago é meio esquisito, mas é até legal e inteligente.

Khai cruzou os praços e balbuciou algo indecifrável.

– O que você vê de errado nele?

– Primeiro, que ele não é sonserino...

– Ah! Então agora estou proibida de falar com quem não seja da Casa de Salazar? – a garota mantinha uma expressão divertida.

– E ele fica querendo se meter em tudo.

– Verdade. É um pobre coitado querendo fazer amizade, Khai – desdenhou com a mão.

– Que ele vá procurar amigos do lado dele. Quem disse que nós queremos ser amigos dele?

– Pois é. Acho que é justamente por isso que ele tenta ser amigo de Deymon, que também não gosta dele. E eu acho que sou a única garota que não suspira por ele, porque até Amélia eu já vi ficar meio boba.

– Você gosta dele? – Khai perguntou, olhando para o outro lado, parecendo procurar algo.

– Menino, você tá surdo? – e deu um tapa de leve na cabeça do amigo – Acabei de dizer que sou a única que não tô nem aí!

– Mas as meninas às vezes fazem isso, quando gostam – disse, massageando a cabeça.

– Não seja ridículo, Khai. Eu não sou uma dessas meninas idiotas.

Khai abriu um sorriso enquanto mantinha o olhar para o horizonte. Um barulho logo denunciou que pessoas se aproximavam, atraindo a atenção dos dois. A expressão de Khai mudou gradativamente de uma certa felicidade para a reprovação máxima.

– O que ele está fazendo aqui? – se levantou e apontou desgostoso para o corvinal.

– Temos um problema – falou enquanto escalava as pedras. Fez uma pausa, olhou para Tiago e depois para os amigos – E é um grande problema.

Tiago subiu sem maiores esforços e trazia no rosto um sorriso de ironia e satisfação.

– Oi, Lizzie!

– Malfoy, o que está acontecendo? – a garota perguntou sem desviar os olhos do corvinal, que deu um largo sorriso sedutor.

– Conta de uma vez! – Deymon falou no mesmo tempo em que se jogava numa pedra, abatido e zangado – Sei que você tá doido pra isso mesmo.

– Lizzie, você sabe que eu peguei detenção no mesmo dia que você, não é?

– Sim.

– Então! Tive que ficar horas limpando caldeirões com o Prof Slughorn e depois ele me levou para o dormitório. Só que eu estava morrendo de fome e me arrisquei a tentar encontrar um elfo e pedir algo para comer...

– E daí? Nada disso importa pra gente! – Khai o cortou, com raiva.

– É claro que importa. Acontece que fui para o Salão Principal, só que me escondi porque achei que tinha algum professor por perto. E eu fiquei escondido por muito tempo. Muito tempo mesmo. Tempo suficiente para ver vocês e os outros se chocarem sob capas de invisibilidade.

Elizabeth estava absolutamente chocada. Os amigos haviam lhe contato que o outro grupo rondava pelo local no mesmo dia, mas o fato deles terem sido descobertos por uma pessoa qualquer a deixava chocada. Isso poderia levar todos os seus esforços por água abaixo.

– O que você vai fazer? Vai contar para a diretora?

– Eu até poderia, Lizzie. Mas como eu também estava no lugar errado e na hora errada, seria tão castigado quando vocês. Claro que o fato de Malfoy ter uma capa de invisibilidade seria um problema maior e poderia até abrir uma brecha para uma batida do Ministério na casa dele. O que não seria nada bom, eu acho.

– O que você quer, então? – Khai gritou, apertando sua varinha sob a capa, louco para lançar uma azaração no garoto.

Malfoy, que se manteve distante e aborrecido, pois já sabia o rumo da conversa, voltou duas atenções para a conversa. Não seria nada bom se Khai azarasse o corvinal e ele, como vingança, fosse contar tudo para a diretora. Embora ele certamente merecesse uma boa quantidade de azarações. Tiago já sabia que os sonserinos não reagiriam de forma positiva, mas, ainda assim, a atitude explosiva de Khai o deixou assustado. O corvinal ergueu o nariz e disse de forma mais segura possível:

– Quero entrar para o grupo.

– O quê?? – Lizzie e Khai perguntaram, incrédulos.

– É claro que não! Isso é impossível – Khai disse.

– Você só pode ter pedido um parafuso da cabeça, garoto – Lizzie também retrucou.

– Malfoy, você não concorda com isso, não é?

– É claro que não, Khai! Não quero ele andando com a gente – tratou de esclarecer – Mas...

– Mas o quê?? – os olhos de Khai saltaram das órbitas de raiva.

– Eu não tenho lá muita escolha, você não reparou?

– Mas Deymon... ele vai... estragar as... coisas!

– Você quer dizer que vou estragar a busca pela voz? O segredo da pedra mágica e a procura pelos quadros dos fundadores para saber o que tem de errado com a escola? É isso, Lizzie?

Os sonserinos estavam sem voz e sem ar.

– Como... como você...

– Sou muito inteligente, Khai. Sei juntar 1 + 1.

– Por que a gente? Porque não se junta com os outros? Deixa a gente em paz! – Khai continuava revoltado.

– Porque eu escolhi vocês.

– Taí! Por que? – Lizzie cruzou os braços – Nem somos seus amigos. Nem gostamos de você.

- Exatamente.

Khai e Lizzie estavam atônitos. Olhavam de Tiago para Deymon, totalmente sem saber como proceder.

– Quer dizer que agora somos chantageados? Isso é ridículo. Por mim, a gente joga ele no Lago pra virar comidade de lula gigante.

– Não é de todo uma má idéia, mas seríamos expulsos.

– Ele ta chantageando a gente, Malfoy! Chantageando sonserinos! Não sei como se atreve...

– Isso é um ponto positivo, temos que reconhecer.

– Você também, Lizzie?? Malfoy, você vai aceitar esse idiota?

– Relaxa, Macbeer. Você quer o que? Que o Ministério faça uma batida lá em casa? Que a diretora saiba o que a gente está fazendo?

Khai bufou de raiva e seu rosto estava absolutamente vermelho.

– A Lizzie pode fazer uma poção de aquecimento.

Os garotos olharam para a garota que coçou distraidamente o queixo, fazendo esforços para se lembrar de que ingredientes precisaria. Antes mesmo que ela respondesse, Tiago resolveu jogar com a sua carta da manga.

– Se vocês me derem uma poção de esquecimento eu não vou poder dizer a vocês o que os outros três descobriram.

Malfoy erguem uma sombrancelha.

– Do que você está falando?

– Eu tenho uma informação muito valiosa.

– Ele está menindo, Malfoy. É óbvio!

– Você acha mesmo, Macbeer? – virou para o sonserino, cínico.

– Se é verdade, então diga!

– Eu não sou idiota, Malfoy. Me aceitem no grupo e eu divido com vocês o que sei. É claro que vamos ter que fazer um Voto Perpétuo.

– Um o quê? – Elizabeth perguntou.

– E o Khai pode ser o Avalista. Sei que vocês dois sabem como funciona.

– Eu não vou fazer um Voto Perpétuo.

– Então vocês correm o risco da diretora saber de tudo e ainda por cima mandar uma batida pra casa do Malfoy. Sem falar em deixar toda a glória pro outro grupo. Bom, eu não vou perder a aventura porque posso me juntar a eles. Mas não quero. Quero ficar com vocês.

– Eu não vou fazer um Voto Perpétuo.

– E eu não vou ser Avalista coisa nenhuma.

– Pensem direito. Vocês têm até a partida de quadribol pra me responder.

Dito isso, catou as suas coisas e abandonou os sonserinos, caminhando calmamente para o Salão Principal, a fim de almoçar. Os três permaneceram em silêncio por alguns minutos.

– O que você acha, Lizzie? Ele está mentindo?

– Ele não ia chantagear a gente sem nada, Malfoy.

– Você quer que ele entre pro grupo, não é, Lizzie? – disse, raivoso.

– Khai, eu... – tentou falar, ofendida.

– Fomos sempre nós três! Ele não pode entrar assim, de repente!.

– Sim, mas...

– Eu não sou obrigado a concordar com isso!

– Khai, você quer parar de fazer cena? – Lizzie levantou o tom de voz, sobrepujanto o colega – Ninguém aqui quer ele se metendo nas nossas coisas, mas a gente não tem escolha. Agora vê se pára de choramingar que nem um bebê!

O garoto lançou um olhar de orgulho ferido e abandonou os dois sem dizer mais nada. Não apareceu no almoço e nem nas aulas da tarde. Malfoy cruzou com o garoto no dormitório, mas Khai ignorou a presença dele. Deymon deu de ombros e foi dormir também. Já tinha problemas demais para se importar com uma birra de criança.

Embora ainda irritado, Khai voltou a se comportar com os colegas no decorrer da semana. Os dias pareciam se arrastar de segundo a segundo e os professores já podiam notar que os alunos estavam ansiosos. É claro que o clássico de quadribol no fim de semana tinha muito a ver com o estado elétrico de todos. Contudo, não se poderia esquecer que esta era a última semana das aulas extras de reforço. Pensar em ter mais tempo livre e retornar a uma vida normal de estudante era o que todos mais queriam. O resultado da nova postura educacional de Hogwarts já podia ser colhido entre os primeiro anistas que juravam nunca mais passar por isso de novo.

Na sexta-feira, houve uma espécie de comemoração silenciosa nas últimas aulas: os alunos trocavam olhares felizes, sorrisos discretos e davam longos suspiros. Assim que foram liberados, era possível observar passos rápidos e nervosos pelos corredores. Cada aluno seguia para sua própria Casa. Do lado de fora, um pequeno zumbido era escutado, contudo, assim que passavam pelas portas, os alunos encontravam uma grande festa com penas e pergaminhos sendo jogados para cima. Havia comida contrabandeada da Dedos de Mel e muitos dos artigos Weasley, como o kit de fogos de artifício para festas dentro de casa e bombas de caramelo com recheio de cerveja amanteigada.

O jantar da noite estava particularmente festivo com muitos doces de sobremesa: tortas de abóbora, bombas de alcaçus, balas de caramelo e, inclusive, um caldeirão repleto de feijõezinhos de todos os sabores em cada mesa. A diretora McGonagall providenciou tudo para celebrar os esforços dos alunos e dos professores, que tinham até uma reserva especial de hidromel. Harry e Neville conversavam animadamente sobre o torneio de professores que se aproximava e Carmelita se juntou a eles, com os olhinhos brilhando.

Jonathan e Alvo faziam caras aflitas para provar feijõezinhos de cores azul-celeste e marrom, que eram de banha de diabrete da Cornuália e borra de café, respectivamente. James estava concentrado demais com o time, sem falar com as fãs incondicionais que vibravam a cada lembrança do último embate em que os grifinórios saíram vencedores. Elas pareciam esquecer a presença da artilheira e namorada do capitão do time, Lena Jordan, bem ao lado dele, que, aliás, não estava com uma cara muito feliz.

Do outro lado do Salão Principal os sonserinos também curtiam as sobremesas e falavam que desta vez a Casa de Salazar levaria a melhor. Amélia Bulstrode e Bella Parkinson babavam no Klaus Larvineck e Callum Darkmouth, respectivamente, enquando Klaus se gabava e o colega apenas aplaudia com um sorriso. Lizzie revirava os olhos sentindo náuseas e Khai fazia balas de caramelo flutuarem com o Wingardium Leviosa.

– Você está ficando bom nisso.

– Obrigado – sorriu com a observação da amiga.

– Onde ficou praticando que a gente não viu?

– Pelos corredores, quando estava sozinho.

– É? – Malfoy perguntou meio desconfiado – Eu já te procurei pelos corredores.

– Devia ser quando eu estava no banheiro da Murta – a sonserina fez um barulho angustiante – Ela não enche o saco depois que você a ofende e faz ela descer pelo cano. Descobri que dando descarga ela some por um bom tempo e as meninas não usam aquele banheiro mesmo... É um bom lugar pra ficar sozinho.

– E quanto àquele caso? O que vamos fazer?

Khai entortou a cara em sinal de quem não gostava de tocar no assunto.

– A gente não tem muita escolha, se ele realmente sabe. Mas o que ele quer é demais. Não vou me arriscar por uma bobagem. Vamos deixar isso pra depois. Eu preciso falar com vocês sobre uma coisa que bolei.

Malfoy puxou a varinha da calça e apontou debaixo da mesa.

Abaffiato! – quem estava por perto nem notou que os chiados haviam aumentado.

– Eu já sei como vamos usar a poção atordoante que a Lizzie fez. Vamos usar no Potter e, com um pouco de sorte, ele vai levar um balaço daqueles de tirar da partida – os amigos abriram um largo sorriso – Vamos fazer o seguinte: Lizzie vai escrever uma carta de admiradora secreta, mudando a letra, claro, e nós vamos amarrar num doce especialmente recheado.

– Eu vou o quê???

– Lizzie, você é a única menina aqui. É para o bem da Sonserina! Olha, já deu pra perceber como ele fica tirando ondinha de ídolo que adora a baulação de fãs – e apontou para a mesa adiante – Por isso tenho certeza de que ele vai comer o doce.

– Ele é idiota, mas não é burro, Deymon. Ele vai sacar.

– Claro que não, Lizzie. Já pensei em tudo: o Khai vai usar o Wingardium e deixar o doce flutuando com um galeão e uma cartinha bem na saída da Grifinória, acobertado pela minha capa. Alguém com certeza vai pegar e entregar para ele. Pensei até em misturar a poção com o recheio de amora silvestre que ele gosta. Peguei um pouco dos elfos.

– Como você sabe do que ele gosta? – Lizzie tinha uma expressão marota.

– Não seja idiota, Carter. Eu pesquisei.

– Eu gostei. Estou doido pra direcionar minha raiva para alguém.

Os três riram e Malfoy desfez o feitiço. Continuaram comendo alegremente, passando na mente o que seria necessário para o grande momento. Antes, porém, Lizzie ainda teria que cumprir o último dia de detenção com Hagrid e o novo alvo dos sonserinos: James.

Hagrid havia combinado um horário mais cedo para que pudessem caminhar para o interior da Floresta ainda com a luz do sol, embora pouca luminosidade escapasse entre os ramos das árvores. Às 16h30, James bateu à porta da cabana do Guarda-Caças que o atendeu com um largo sorriso.

– Olá, James! Entre, entre! Vamos esperar a Srta Dumbledore. Ela me mandou um memorando dizendo que pode se atrasar um pouco. Veja só! Mal aprendeu a usar magia e já utiliza com toda a razão.

James torceu o nariz e fingiu que Hagrid falava sobre beterrabas e vermes-cegos.

– Você está virando colecionador, hein? – disse apontando para vários frascos empilhados num canto.

– Oh, eu não coleciono – James lhe lançou um olhar inquisidor – Eu... eu uso eles, é isso! Uso... uso, oras! Todo mundo tem seu próprio estoque em casa.

– Sei... Hagrid, fala a verdade! Eu sei que você tá catando tudo isso para ela! – o guarda-caças pareceu envergonhado e confuso – Vamos! Eu não sou burro, Hagrid!

– Oh, está bem. Está bem. Eu sei que ela gosta dessa área e resolvi juntar algumas coisas para dar de presente. Merlim sabe o quanto Dumbledore fez por mim no passado e eu tenho uma dívida enorme.

– Mas isso não justifica que ela transforme você num capacho!

– Por Merlim, James! Isso que você está falando não é verdade. Eu fiz porque quis.

– Sei... e ela nem insinuou?

– Não. Ela só falou que seria maravilhoso andar à vontade na Floresta e pegar ingredientes, mas não pode porque é proibido.

– Isso é insinuar, Hagrid.

– James, não seja tão mal!

– Eu?! Eu é que sou o malvado da história?

Canino deu um ganido baixinho e se pôs de pá com certa velocidade, para a idade avançada. Seu rabo balançava de um lado a outro num ritmo acelerado e latiu, rouco, para a porta, arranhando-a com a pata. James e Hagrid sabiam que isso significava que a garota se aproximava. O grifinório se deixou largar na poltrona de Hagrid que tinha os olhos marejados. Era quase um milagre que Canino levantasse de seu almofadão pulguento e Elizabeth sempre produzia esse milagre. Três batidas na porta fizeram o Guarda-Caças despertar e abri-la, ao passo que o cão atravessou como um raio.

– Oi, garotão! Como você está hoje? Hein? – falou, enquanto afagava e dava tapas carinhosos, procrando evitar a baba. Canino tentava derrubá-la no chão.

– Você tem um dom, Lizzie. É a única que faz o Canino virar jovem de novo – disse, secando as lágrimas e assoando o nariz.

– Gosto de animais! – deu de ombros – Perdi Nefertiti na inundação e acho que é um sinal para que eu só tenha o canino para afagar! Último dia, hein Potter? – falou, quando o garoto surgiu na porta.

– Já era hora – disse, seco.

– Bom, vou pegar algumas coisas e trancar Canino. Vamos, rapaz! – e puxou o cão com certa dificuldade.

Caminhavam por cerca de 1 hora numa trilha que os levava para o interior da Floresta. Não era a fundo o suficiente para dar de cara com as filhas e filhos de Aragogue, mas era perigoso e assustador, ainda assim. Hagrid ia à frente, com Lizzie e James logo atrás. A garota sempre catava coisas do chão e James já pensava seriamente em rasgar os bolsos dela com um movimento de varinha. Foi impedido por um tranco em Hagrid, que havia parado subitamente, fazendo-o cair no chão.

– O que foi, Hagrid? – Lizzie perguntou, preocupada.

– Essas marcas... – falou mais para se mesmo do que para as crianças. Se agaixou e analisou algumas pegadas e sinais de sangue negro nas raízes das árvores – Não pode ser!

O pânico pareceu se instalar e Hagrid tremia, olhando para todos os lados, desconfiado de um ataque iminente. Eram 17h30 e em pouco tempo a noite cairia. Um líquido frio pareceu escorrer por toda sua espinha: precisava tirar as crianças da Floresta o mais rápido possível.

– Vamos, vamos! – e virou-se.

– O que foi, Hagrid?

– Não fala perguntas, James! Só agora me dei conta do horário. Olhe como está tarde! Temos que correr para voltar a tempo do jantar.

– Mas Hagrid, ainda temos muito tempo até o jantar!

– Vocês estão de detenção, não estão? Vamos. Agora! – a propriedade com que ele falou fez as crianças caminharem imediatamente – Vão na minha fcrente e mantenham as varinhas em punho.

– Está acontecendo alguma coisa – James sussurrou para Lizze, ao seu lado.

– Acho que estamos em perigo – respondeu, pálida.

– Andem mais rápido. Vamos.

Hagrid fez as crianças correrem numa tentativa inútil de chegar na orla da Floresta. Fora dali eles estariam a salvo. Mas a noite caía rapidamente e sem trégua, pontual como sempre. O Guarda-Caças tentou pensar em algo enquanto corriam. As crianças poderiam não seguir suas ordens e isso seria mortal. Olhou ao redor e notou vultos seguindo-os de longe. Ou Hagrid fazia alguma coisa ou estariam perdidos.

– Parem! Parem! – as crianças obedeceram, sem compreender – Venham aqui!

– Hagrid, precisamos correr se quisermos nos salvar! – Lizzie disse, sem saber do que exatamente fugiam.

– Não haverá mais tempo. Só temos poucos minutos até o pôr-do-sol. Venha! – dito isso, Hagrid a pegou no colo, assustando-a – Segure-se e suba o mais alto que puder. Depois, não se mexa de forma alguma.

– O que? Mas...

Não pôde continuar a falar, pois o meio gigante a lançou árvore acima e ela gritava até se agarrar num galho.

– Sua vez – olhou para James e fez o mesmo, lançando-o acima – Agora subam!

As crianças obedeceram, tremendo de medo, e escalaram para o alto. Não podiam mais subir porque os galhos eram frágeis e de onde estavam puderam ver Hagrid lançar duas pedras enormes adiante e um tronco oco de seu próprio tamanho. Depois, ele se encostou na árvore e permaneceu imóvel. Do alto, James e Lizzie notaram coisas parecidas com enormes cães na direção que Hagrid forjara.

– Continuem aí até eu mandar descer!

Os corações dos dois batiam alucinados, com a adrenalina a mil. O que eram aquelas coisas? Cães selvagens? Lobos? Minutos depois, os animais voltaram exatamente pelo local onde Hagrid estava. As crianças notaram que eram dois e tinham o pêlo vermelho. Os bichos passaram desconfiados e um deles chegou a encostar em Hagrid, o que fez James e Lizzie prenderem a respiração. Se ele fosse devorado, o que seria dos dois, presos na árvore? Contudo, o Guarda-Caças permaneceu imóvel. Do lado oposto de onde estavam, as crianças puderam notar uma movimentação em grupo que se aproximava. Como instinto, os dois animais fugiram para as profundezas da Floresta. Os centauros alcançaram Hagrid e pararam.

– Você os viu, Hagrid?

– Sim, Matenzo. Seguiram para lá – apontou a direção e antes que pudesse ir, continuou – Encontrei um de vocês, morto.

– As três criaturas fizeram uma armadilha para ele.

– Só vi dois deles.

– Matamos um. A Floresta não está segura.

– Podia ter me dito isso antes, Matenzo.

O centauro não respondeu e tratou de guiar os outros à caça dos animais.

– Podem descer agora.

Receosos e curiosos, os dois desceram da árvore.

– Hagrid, você vai ter que explicar pra gente! Centauros! Nossa!

– Quando chegarmos na minha cabana, James – disse, com uma expressão ainda temerosa – Vamos.

Caminharam a passos largos com as varinhas em punho, iluminando a trilha, até atravessarem a orla ofegantes. Por alguns minutos continuaram ali, respirando profundamente, com os braços apoiados nos joelhos. Entraram na cabana logo depois e Canino fez festa, embora tenha recebido pouca atenção. Hagrid pôs a água para ferver um chá, enquando os outros dois aguardavam sentados na mesma poltrona gigante. A respiração de ambos ainda estava acelerada. O guarda-caças derrubou as canecas de cobre quando pegou a chaleira e reclamou algo para si mesmo.

– Hagrid? Está tudo bem agora, certo? – Lizzie tentou acalmá-lo.

– Hum... na verdade... – titubeou um pouco enquando brincava com as mãos, nervoso – Na verdade, eu queria pedir um favor a vocês.

– Você não quer que a diretora saiba que a gente correu perigo – Lizzie falou, categórica.

– Er... bem, sabem... não seria bom... ela ficaria muito zangada e...

– Sem problemas – James disse – Podemos manter segredo contanto que você diga pra gente o que eram aqueles cachorrões vermelhos – e olhou para a sonserina, que assentiu.

Hagrid olhou desconfiado para os dois e coçou sua vasta barba.

– Hum... bom, conhecimento nunca é demais, é o que Dumbledore diria. Certo, bem... – limpou a garganta seca – São hungús da Macedônia. Não parecem tanto com cachorros e sim com hienas de pêlo vermelho. Eles têm uma corcunda bem acentuada e pêlos espetados em toda a extensão da coluna. Eles são maus, nada amigáveis! Nem um pouco. Eu não sei como eles vieram parar aqui, porque nunca teve registro deles na Floresta.

– Mas você sabia o que fazer.

– Ah, sim, James. Uma vez Dumbledore me pediu um favor e eu encontrei com eles. Tive ajuda de algumas pessoas para saber o que fazer. Merlim os abençoe. Eles são completamente surdos, têm um olfato restrito e são cegos o bastante para não conseguirem distinguir uma pessoa de uma árvore. Mas quando atacam em grupo são letais. Basta ficar imóvel e eles nem percebem você.

– Então eles podem invadir a escola! – James se exaltou – Hagrid, nós temos que a visar a diretora!

– Não, James. Calma. Eu vou avisar a diretora e vamos caçá-los, não se preocupe. E eles não podem avançar para o terreno da Escola, fora da Floresta, a menos que sejam convidados.

– Como assim?

– É preciso que alguém faça uma trilha com sementes de fogo até a porta para que eles possam passar, Lizzie. Uma fêmea só dá a luz no meio de uma plantação de flores de fogo, que só são encontrados perto da Macedônia.

– Ah! – exclamou a garota.

– Então...eu...hum...vocês não vão me entregar, vão?

– Claro que não. Palavra de Potter grifinório – e bateu no peito, orgulhoso.

– Sem problemas, Hagrid.

– Obrigado – abriu os braços e os apertou, sob protestos – Sabia que vocês iam me ajudar mais uma vez. Agora vão – e soltou os dois – Estão liberados da detenção e Lizzie, aguardo sua visita depois – disse, dando uma piscadela desajeitada.

– Uh! Arranjou um admirador, hein Dumbledore?

– Não enche, Potter.

Na manhã seguinte, a escola acordou em clima de quadribol. Os alunos da Grifinória usavam e abusavam das cores de sua Casa e até emprestavam cachecóis e chapéus para os simpatizantes. Era raro encontrar alguém das outras Casas torcendo para a Sonserina. Lucy havia recebido um pacote enorme de sua mãe no meio do café da manhã e, ao abrir, tinha um chapéu com a cabeça de um leão. Ao tocá-lo, um grande rugido invadiu o Salão Principal e muitos grifinórios aplaudiram de pé.

Os sonserinos lançavam pragas baixinhas e ridicularizavam o presente recebido. Muitos haviam trabalhado secretamente no desenvolvimento de cobras de papel machê que ganhavam movimentos com um simples toque de varinha. Deymon e Lizzie, pela primeira vez, sentavam-se junto dos jogadores de quadribol para ouvir seus discursos e bom humor. Na verdade, precisavam omitir dos outros a ausência de Khai. Havia um falatório geral sobre gols e Elizabeth revirou os olhos e desdenhou com a mão.

– Só derrubem o Potter e ganhem o jogo.

Infelizmente, aquele havia sido um momento em que todos, incrivelmente, haviam parado de tagarelar ao mesmo tempo. Portanto, o que a garota falou ressoou bem alto. Ela se encolheu no banco de vergonha no momento em que uma gritaria invadiu a mesa.

– Isso mesmo! Derrubar o Potter e vencer o jogo! – gritou Lucius Morbinavell, capitão do time e sexto anista – Excelente frase, Dumbledore – e piscou para a garota.

Mesmo não tendo gostado da brincadeira, Elizabeth sorriu porque Amélia e suas amiguinhas a fuzilavam de inveja. Lizzie deu até uma jogada de cabelo para tirar onda de poderosa, o que fez a cara das meninas incharem feito sapo-boi. Malfoy sorria, divertindo-se, enquanto Khai escorregou na surdina para perto deles. Pouco depois, Deymon cutucou os amigos e levantou as sombrancelhas rapidamente, em sinal de que o plano caminhava.

James era o garoto mais ovacionado da manhã, não tinha como não notar. Um grupo se aglomerava onde quer que ele parasse e todos falavam com ele, desejando boa sorte, inclusive com beijos, o que não agradou a Lena de jeito nenhum.

– É o preço do estrelado, Lena. Você vai ter que se acostumar, porque eu vou ser um grande jogador de quadribol pela selação da Inglaterra!

Finelius Flowerwet, do 1º ano da Grifinória, aproximou-se timidamente do lugar onde James estava sentado e conseguiu furar o bloqueio dos mais velhos para lhe entregar um belo pacote vermelho, enfeitado com uma linda fita dourada.

– Mandaram entregar – e saiu correndo e sorrindo.

– O que é isso, James? – Oliver perguntou, curioso.

– Não sei. Tem uma carta. E perfumada!

Uma onda de expressões divertidas se espalhou pelo grupo. Seus amigos trocaram olhares divertidos e algumas meninas riram. Lena tentou pegar a carta, mas James tirou rápido do alcance da garota, lançando um olhar repreensivo.

– Por que só James ganha admiradoras? – perguntou invejodo Hugh Breaksville, batedor.

Lena Jordan estava visivelmente afetada. Suas bochechas estavam rosadas, seus olhos dilatados, a expressão assassina e uma ruga na testa alertava que era uma péssima hora para fazer gracinhas com ela. James leu em voz alta para que todos ouvissem.

“Querido James Sirius Potter” – alguns risinhos se espalharam – “Eu sou sua fã número um e sonho com o dia em que possa notar o meu olhar. Você é o garoto mais talentoso em quadribol e estarei torcendo muito para você marcar muitos gols” – os vivas interromperam a leitura –“Quero te dar esse presente especial num dia especial, porque você merece. Esse bolinho tem o recheio do que você mais gosta. Boa sorte no jogo! Sua admiradora mais que secreta.”

Uma chuva de ovações caíram sobre o capitão do time que teve o cabelo bagunçado por meio mundo de gente. Finalmente ele pôde abrir e olhar para o bolinho. Olhou desconfiado por um tempo até que os amigos o incitaram a morder. O gosto de amora silvestre deliciou seu paladar e seu cérebro não pensou duas vezes: devorou tudo rapidamente. Ele nem percebeu o sorriso vitorioso dos sonserinos do outro lado do Salão.

– Eu ainda não acredito que você me fez escrever. Era pura tolice! – falou baixinho.

– Mas funcionou, não é?

– Não sei o que é pior: ele descobrir que a gente aprontou ou ele descobrir que fui eu e achar que é verdade.

Malfoy não se conteve na gargalhada, que chamou alguma atenção.

– É! Ia ser interessante ver você se safar dessa. Ai! – reclamou do soco no braço da colega, nitidamente desgostosa.

Pouco tempo depois o trio de sonserinos se dirigia para o estádio, quando encontraram uma figura esperando, recostada numa grande pedra cinzenta. Os três trocaram olhares não muito felizes e se encaminharam para o corvinal.

– Um belo dia, hoje.

– Vamos direto ao assunto, Sr Richards – Malfoy começou.

– Tiago, por favor.

– Estamos tratando de negócios, não estamos? Nós três analisamos a situação e consideramos sua proposta. Não concordamos com ela. Nós não faremos Voto Perpétuo nenhum, pois ninguém aqui quer se comprometer com você por toda a enternidade, já que essa aventura pode acabar a qualquer momento. Dessa forma, você vai ter que confiar em nossa palavra.

– E eu tenho a palavra de vocês de que participarei ativamente das decisões do grupo? Que farei parte da equipe? Que passarei meu tempo com vocês?

– Exceto nos assuntos que dizem respeito à Sonserina – Lizzie completou.

– E nós não seremos seus amigos e nem lhe trataremos bem.

– Mas me considerarão um colega.

– Sim – Malfoy falou, seco – Contanto que sua informação seja realmente válida.

– Ela é.

– Você tem a palavra de Deymon Hyperion Malfoy.

– Você tem a palavra de Elizabeth Carter...hum...e...ahn...Dumbledore também.

– Khai? – Deymon se virou para o amigo quando o silêncio prevaleceu.

– Você tem a palavra de Khai Macbeer.

– E vocês têm a palavra de Tiago Grace Richards. Eis o que aconteceu: o trio foi para a infiltração e ficou por ali procurando uma pedra solta. Mas descobriram que era uma pista falsa e iam desistindo quando Alvo Potter viu algo na parede. Parecia que um símbolo estava se formando ali. Rose Weasley copiou o desenho e mostrou aos companheiros e foi aí que eu vi: tinha um hexágono no meio, sustentado por duas barras, como se fossem pernas. Tinha dois arcos toscos acima do hexágono, um maior do que o outro e uma barra vertical de cada lado. Dentro do hexágono e acima dos arcos, tinha um símbolo que lembrava o jogo da velha.

– Que símbolo seria esse? – Malfoy pensou alto.

– Eu sei o que é – respondeu Tiago, orgulhoso - É uma runa.

– Então vou pesquisá-la!

Antes que a garota conseguisse dar meia volta, Tiago interrompeu.

– Não precisa. Eu sei o que é – sorria.

– Então diga, ora! – Malfoy estava ficando irritado com a superioridade do garoto.

– É o símbolo para a palavra portal.

– Então a infiltração é o portal? Como uma chave? – Lizzie divagou.

– Bom, se for isso, a infiltração é o segundo portal.

– Como assim? – Malfoy questionou o corvinal.

– Os arcos acima indicam que existe uma duplicidade: dois arcos, dois portais. Talvez um deles seja falso. Onde quer que venham a dar.

– Precisamos descobrir se aquele símbolo aparece com a gente. Senão, vamos ter que descobrir o primeiro portal – Lizzie falou, segura de si.

– E eu vou ajudar vocês. Mas agora podemos ir assistir ao jogo? Seria muito suspeito ficarmos aqui pensando, enquanto todo mundo da escola está lá.

– E você vai assistir com a gente? – Khai perguntou, com nojo.

– Seria muito suspeito, Tiago. Melhor deixar para depois do jogo – disse Malfoy.

– Vocês estão me jogando para escanteio? – perguntou, magoado.

– Não. Mas vai parecer estranho, de repente, você ser o único corvinal do meio de sonserinos. Dê tempo para eles se acostumarem com isso e não decapitarem a gente no meio do jogo – brincou Lizzie e ele sorriu, aliviado.

– Está certo. Nos vemos depois do jogo, então – e saiu na frente para se juntar aos amigos.

– Esse garoto é perigoso – advertiu Malfoy – Temos que ficar de olhos abertos com o cinismo dele.

– Certo, Malfoy. Ele é tão perigoso quanto você. Ou esqueceu do seu plano cruel? – e fingiu ter garras no lugar das mãos. Ele riu.

– Vamos. Não quero perder o espetáculo de forma alguma.

Dentro das tendas dos times, havia muita concentração. Potter repassava as jogadas essenciais e motivava o time com genialidade. Era, de fato, um merecido capitão. O jogo era particularmente mais emocionante por ser contra os arquirivais sonserinos. À semelhança do ano anterior, Potter e seu time pretendiam esmagá-los com a superioridade de suas táticas que, de fato, eram mais elaboradas. James não havia contado para ninguém, mas, nas férias, havia dedicado um tempo só para pensar em manobras de ataque e esquemas de defesa. Seria um jogo brilhante do início ao fim. E a pressão em cima do apanhador Jeremiah Newton aumentava ainda mais. Por fim, começou se discurso pré-jogo.

– Senhoras e senhores, hoje, é um jogo épico. Hoje, toda a escola está conosco e eles estão sozinhos. Hoje, celebraremos a vitória por direito e por conquista. Sabemos que do outro lado estão um bando de desleais, capazes das maiores atrocidades para ganhar este jogo – gritos de buuh vieram do time – Mas deste lado, deste lado, senhoras e senhores, existe não um time, mas uma fraternidade de nobres corações capazes das maiores proezas em nome da justiça. E a justiça diz “que vença o melhor”. E quem são os melhores?

– Grifinória! – o time respondeu, em uníssono.

– Qual a Casa com a maior torcida apaixonada?

– Grifinória!

– Quem vencerá esse jogo?

– Grifinória!

– Quem levará a Taça de Quadribol este ano?

– Grifinória!

– Então vamos lá fora ganhar essa partida!

Gritos de animação envolveram o time que saíram empolgados assim que Graham Pompsky anunciou a escalação para os alunos. O ar estava com cheiro de flores, o céu era de um azul maravilhoso, a torcida triplicada gritava a favor de sua Casa e Potter sabia que aquele jogo seria o melhor de todos.

– Não quero saber de golpes baixos e faltas desnecessárias, ouviram? – Madame Hooch falava com os capitães.

– A goles foi lançada e começa o jogo! – anunciou Pompsky – Georgina Gumbles avança com a gole e...ow! Potter recebe um balaço de raspão e nem estava com a goles! Isso é uma jogada desleal típica...

– Hu-hum! – advertiu a diretora, ao lado do grifinório.

– Certo. Hum...Callum Darkmouth interceptou a jogada de Gumbles e avança pelo time da Sonserina. Passa para Ivanova Pervehell, ela avança...lança e... graaaande defesa de Oliver Wood, o melhor goleiro de todos! Ele liga o contra-ataque lançando para Potter, que avança desviando dos balaços enviados com endereço certo por Klaus Larvineck e Seth Hiccock. Que liiiinda jogada de Potter, saltando da vassoura e deixando Henrick Spearow passar reto no que seria um choque tremendo. Ele lança para Gumbles...e ela marca! Uma boa jogadora...muito boa ela!

– Sr Pomspky! Não me faça arranjar um novo narrador!

– Desculpe, diretora McGonagall. Darkmouth segue com a goles e passa para Pervehell que desvia do balaço de Pankeakes e lança para Spearow...graaaande interceptada de Potter por cima do artilheiro sonserino! Ele avança deixando Spearow desconcertado com esse chapéu e passa para Ho...uhg! Balaço certeiro de Larvineck. A goles está sem dono...mas Potter já recupera a vermelhinha. Ele avança, desvia do balaço de Hiccock, está de cara com o goleiro Lucius Morbinavell, vai lançar a goles no aro esquerdo...impressionante a guinada que Potter deu, deixando o aro direito livre...ele lança...e ele marca!

James Potter comemorou surfando na vassoura, dando tchauzinho para a torcida e voltando a sentar. O estômago dele fez um barulho estranho e ele pensou que não deveria ter comido o segundo prato de salsichas no café da manhã. Voltou à formação de defesa.

– Vector Pendraconis mergulha do lado esquerdo do campo, seguido por Jeremiah Newton...será o pomo? – um grande murmúrio invade as torcidas – Não, alarme falso do sonserino – uma saraivada de vaias se espalhou pela torcida grifinória e Pendraconis sorria – Spearow aproveita a distração de Ho e rouba a goles...que mole, hein, Ho? Ele avança...uh! Esse balaço de Hugh Breaksville passou raspando! O sonserino continua avançando.

James viu o jogo todo sair de foco e voltar ao normal. Colocou as mãos no estômago e limpou o suor da testa. Será que tinha sido aquele pacote de caramelos da Dedos de mel, depois do café?

– Ele passa pelo Potter que nem se dá conta dele e é deslocado pela Gumbles, que raça dessa menina! Ei! Ele deu um chega pra lá na artilheira da Grifinória, isso é falta, Madame Hooch! Ele avança. Darkmouth está livre próximo ao aro direito, ele pede a goles, mas Spearow ignora. Ele lança...direto nas mãos de Wood, sem problemas! Fominha esse Spearow, hein? Bem feito!

– Sr Promsky, se o senhor continuar desse jeito vou eu mesma narrar esse jogo!

Pomsky lançou um olhar impressionado para a diretora e depois balançou a cabeça negativamente, de forma divertida.

– Tá, parei. Wood lança para Potter...ow! Ele deixou a goles cair! Será que hoje Potter não está em seu melhor desempenho? Gumbles recupera...essa menina é mesmo demais! Ela avança com Potter dando cobertura, vermelho feito tomate. Passa para Potter no momento em que o balaço a atinge. Ele avança, atrai Morbinavell para a direita, faz da vassoura uma gangorra e lança a goles no centro! E é gol! Esse Potter realmente tem umas jogadas geniais! Se recuperou bem da jogada anterior. 15 minutos de jogo e a Grifinória lidera 30 a zero!

Os colegas deram tapinhas nas costas de James e voltaram para a defesa. James decididamente não estava bem. O último gol foi por sorte, mas não iria nunca admitir isso. Estava suando frio, seu estômago roncava estranho e ele piscava muito, tentando colocar as coisas em foco. Segurou fortemente na vassoura para não cair e viu Ho interceptar a goles. Lançou-se à frente. Não iria permitir que um mal-estar qualquer o impedisse de ganhar esse jogo. Fez sinal pedindo a goles e todo o campo pareceu entrar num turbilhão louco. Pelo menos ele podia ver o que estava à frente.

– Ho passa a goles para James, ele avança...cuidado!

Panc! O balaço de Larvineck acertou em cheio a cabeça de Potter, que não percebeu a aproximação da bola nervosa. Os sonserinos comemoravam. James perdeu os sentidos imediatamente e só não caiu direto no chão porque se agarrara forte à vassoura, que definhou lentamente. Harry e Neville, que torciam animados, desceram rapidamente ao mesmo tempo em que Madame Hooch apitava para atendimento. Um clima pesado se espalhou pelo campo e até os sonserinos ficaram quietos para saber o que aconteceu com o Potter. Os adultos levaram James rapidamente para dentro do castelo, mas o jogo teve que continuar.

Aos poucos Potter começou a ouvir algumas vozes. No início eram confusas, mas depois tudo foi ficando mais claro. Tentou se lembrar o que tinha acontecido no jogo e não entendia como podia ter dormido e esquecido a comemoração da vitória. Era difícil abrir os olhos, mas fez um grande esforço. A pouca claridade facilitou que seus olhos se acomodassem e percebeu que estava na Ala Hospitalar. Madame Pomfrey vinha correndo ao notar que o garoto finalmente acordava. Um outro vulto estava ao seu lado e segurava sua mão, enquanto fazia carinho em seus cabelos. James conhecia aquele jeito particular que lhe afagava.

– Mãe? – sua voz saiu baixa e rouca. James não conseguia entender o que havia acontecido.

– Estou aqui, meu amor. Não se preocupe. Mamãe está aqui com você.

– Bom vê-lo consciente, Sr Potter. Estávamos ficando preocupados – disse Madame Pomfrey, amorosa – Do que se lembra?

– Está tudo confuso.

– Eu sei meu bem. Mas faça um esforcinho. É preciso que sua mente se recupere. Lembra-se da concentração, antes do jogo?

– Sim.

– O que aconteceu depois?

– Saímos da tenda.

– E aí?

– Começou o jogo e...acho que alguém da grifinória marcou um gol. E eu marquei 2 gols, me lembro. E aí...aí...

– Se não estiver se lembrando agora, pode descansar e tentar mais tarde.

O garoto fechava os olhos e apertava a cabeça para tentar recuperar os momentos.

– Eu levei a pancada de um balaço! – disse, angustiado.

– Sim, meu bem. Isso aconteceu.

– Oh, não! Oh, não, mamãe! A partida já acabou?

– James, a partida acabou há uma semana. Você esteve desacordado esse tempo todo e eu já estava ficando muito preocupada. Mas agora você já acordou e se lembra de tudo.

– Nós ganhamos?

– James, não precisa...

– Por favor, mamãe! – seus olhos azuis intensos ansiavam e temiam a resposta.

– Não, meu bem. Os sonserinos ganharam a partida: 230 a 70.

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