A Manchete Glorificante



CAPÍTULO VINTE E SEIS – A Manchete Glorificante




Ainda que muito confuso, Harry saiu do escritório do diretor e caminhou pela Hogwarts noturna, escura e fria. Lá fora as corujas piavam, e as criaturas que a Floresta Proibida habitavam, grunhiam ou então coaxavam. Harry passou ao lado de uma janela no quarto andar e observou que as estrelas no céu brilhavam com a intensidade de algo espectral. Ao chegar no sétimo andar e deparar-se com o retrato de uma mulher gorda vestida em seda rosa, adormecida, Harry ficou muito descontente de ter de acordar à senhora. Realmente, quando Harry tocou a tela ela acordou em um salto que desdobrou algumas palavras grosseiras. Harry disse a senha e atravessou o buraco redondo que dava acesso para o grande salão circular comunal da Grifinória.


As paredes de pedra estavam cobertas com o papel de parede de costume, em tons de vermelho e dourado. As mesas que ali existiam estavam vazias e o mural de avisos tinha as folhas movimentando-se pela brisa suave que entrava através da janela alta e fina que ficava na extrema direita do aposento. A lareira ainda não estava completamente apagada e as poucas brasas que ali queimavam, iluminavam os rostos preocupados de seus amigos. Estavam ali, os três, todos muito bem acordados e muito silenciosos também. Eles estavam sentados em uma poltrona vermelha de três lugares, ao lado, havia uma poltrona vazia, que parecia clamar pela presença de Harry. Ele contornou o sofá e foi recebido com uma saraivada de olhares repreensivos e olhos arregalados. Antes mesmo que qualquer palavra fosse dita, Harry sentou e começou a falar:


– Eu fui falar com o Dumbledore. Vi minha mãe mirar a varinha em meu coração antes de Voldemort tentar nos matar... – Harry gastou o resto da noite contando aos amigos tudo o que havia ocorrido, desde a aula de Adivinhação até sua longa conversa no escritório de Dumbledore. A confirmação das informações extraídas das runas, a importância delas para Voldemort, a relação entre o poder de Harry e o passado de Voldemort. E também a relação de Voldemort com Salazar. Hermione e Gina ficaram perplexas ao conhecerem a realidade que Salazar e Voldemort vivenciaram. Rony embora constrangido não opinou sobre aquilo que havia escutado, permaneceu quieto e atencioso ao que ouvia. – Por fim perguntei a ele se ele sabia de tantas coisas assim, porque não as publicava em um livro, e ele muito sutil como sempre, disse que era hora de descansar.


– Realmente, não vejo porque ainda estamos acordados. – disse Hermione abrindo um grande bocejo contido. – Boa noite a vocês! – e dizendo isso Hermione e Gina subiram para o dormitório das garotas. Rony e Harry tão cedo fizeram o mesmo. Rony afundou em sua cama e antes mesmo que Harry pudesse lhe desejar uma boa noite, ele escutou o ronco alto do amigo. Harry deitou-se em sua fofa cama cheia de lençóis e cobertores que o aqueciam. Ele estava cambaleando de sono, retirou os óculos e os repousou sobre o criado-mudo. Antes mesmo que pensasse em dormir ele caiu em sono profundo.


Harry estava sentado em um banco de plástico muito velho. Ele observou a sua volta e viu que estava sentado em uma pequena estação de metrô. Provavelmente em Londres, Harry viu um trem passar a sua frente com muita rapidez, como um borrão de cor. A estação estava completamente vazia, não fosse pela presença de um homem ao seu lado. Este usava uma longa capa preta com capuz também negro. Seu rosto estava oculto pela sombra do capuz, ele virou-se para o homem e viu uma mão tão branca que não poderia ser viva, e tão fina que não poderia existir. Ele sentiu a cicatriz arder. Olhou para cima e viu uma placa luminosa que piscava ESTAÇÃO VICTORIA.





No domingo seguinte à conversa com Dumbledore, Rony acordou Harry com gritos de alegria e felicidade que não se comparavam nem com as manhãs de Natal, quando sempre ganhavam presentes. Sem os óculos, Harry só enxergou que o amigo sorria muito e sacudia um pedaço de pergaminho em sua frente. Ele tateou a procura dos óculos e os achou sobre o criado-mudo. Quando o mundo entrou em foco, Harry enxergou que o pergaminho desfocado era o Profeta Diário. Em grossas letras negras, Harry pode ler a manchete mais agradável que poderia receber. “A SUPREMA CORTE DOS BRUXOS JULGA COMENSAIS AMANHÃ À TARDE”. Embaixo da manchete um pequeno resumo indicava do que a notícia se tratava.



Amanhã à tarde, a Suprema Corte dos Bruxos abrirá seção para Julgar de acordo com As Leis em Execução da Magia um grupo de Comensais da Morte, seguidores do Que-Não-Nomeamos, que foram encontrados em junho passado no interior do Departamento de Mistérios tentando roubar uma esfera profética da Sala das Profecias através de ninguém menos que Harry Potter e um grupo de valentes estudantes. Presos em Azkaban desde julho, eles também são indiciados pela morte sem causa de Bode, antigo Inominável do Ministério que trabalhava na Sala das Profecias.



– Olha mais em baixo! – exclamou Rony eufórico. Um pouco mais em baixo, havia uma dúzia de fotos, com legendas laterais. Uma lhe chamou a atenção. Um homem de rosto fino, com os cabelos despenteados e a barba por fazer sorria desdenhoso para o jornal. Era Lúcio Malfoy. Seu antigo aspecto pomposo parecia fazer parte de uma época que há muito havia sido apagada a memória de todos, definitivamente parecia um criminoso, que na verdade sempre fora. Ao lado de sua foto havia a seguinte legenda. Lúcio Malfoy, 43, acusado por utilizar todas as Imperdoáveis e passar informações para Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Antes que terminasse de ler o artigo, Edwiges batia com a ponta do bico no vidro da janela, trazia presa à perna um envelope pardo com um selo de cera vermelha.


Rony correu a janela e destravou o trinco com um clique. A bela coruja de Harry entrou sem muitas estripulias. Muito quieta e educada, ela pousou sobre a cabeceira da cama do dono e esticou a pata. Harry puxou a carta e reconheceu a fina caligrafia verde de Dumbledore. O pergaminho que estava dentro do envelope pareceu lhe grande demais para o que estava escrito. Dumbledore dizia, “Tão cedo você deve voltar ao meu escritório, traga com você todos aquele que foram a Londres no fim do ano letivo anterior. Atenciosamente, Dumbledore”.


– O que ele diz? – perguntou Hermione que havia acabado de entrar no dormitório junto com Gina. A amiga trazia nos braço Bichento, um gato laranja muito inteligente que possuía um rabo de escovinha e dois pares de patas arqueadas.


– Ele está pedindo para nós irmos até o escritório dele. – Harry virou o pergaminho a procura de alguma coisa.


– Perdeu algo? – perguntou Gina.


– Não, na verdade ele não diz nem que horas e nem quando devemos nos encontrar com ele.


– Harry! Se ele não nos disse, é porque devemos ir o quanto antes. – respondeu Hermione, ela parecia muito satisfeita de Lúcio ter recebido o troco por todas as humilhações que a fez passar.


– Bem, eu acabei de acordar... – disse Harry com um bocejo. – Ainda não tomei café ou coisa alguma...


– Somos dois! – completou Gina – Não vejo como Mione e Rony são capazes de acordar cedo em um domingo tão preguiçoso!


– Garanto que não é pelo café! – disse Harry se levantado e pondo uma velha camiseta laranja berrante dos Chudley Cannons. Os quatro desceram para o Salão Principal onde Harry e Gina puderam comer algumas torradas com geléia e um pouco de ovos com bacon. Harry avistou do outro lado do Salão, Draco Malfoy. O garoto parecia muito aborrecido, não com ninguém, mas consigo mesmo.


Assim que terminaram de comer eles voltaram a subir as escadarias de mármore rumo ao escritório do diretor. Antes que atingissem o nível desejado eles lembraram-se de que Luna e Neville também devem comparecer, Gina subiu as escadas do quarto andar correndo e em menos de dez minutos ela volta com Luna ao seu lado. Neville passeava desapercebido pela escada do térreo para o primeiro andar. Rony o gritou e assim que Neville os avistou, ele subiu as escadarias e logo o antigo time de seis havia sido recomposto. Eles marcharam como heróis até o segundo andar, quando se aproximaram da gárgula que guardava o escritório do diretor, Snape os aguardava. Harry não gostou nem um pouco de sua presença ali, parecia um agouro, mesmo porque tão cedo voltava ali e da última vez que ele tinha subido aquela escada em caracol, muitas coisas haviam sido postas em sua cabeça.


Snape sussurrou a senha com a preocupação iminente de que um dos seis estivesse interessado em descobrir a senha do escritório do diretor. Ainda que a presença de alunos lhe incomodasse, principalmente se tratando de Harry Potter e seus amigos, o professor de Poções não fez objeção alguma. A gárgula ganhou vida e locomoveu-se para a lateral direita revelando aos presentes uma escada em caracol. Os seis subiram e encontraram a porta já aberta. Snape seguiu-os por trás, mas não entrou no escritório. Dumbledore aguardava-os sentado em sua mesa.


– Bom dia meus caros. Novamente estou revendo vocês, juntos. – Dumbledore levanta e conjura mais quatro cadeiras de chintz e as dispões de frente para sua escrivaninha. – Vocês já devem ter sido informados que amanhã a tarde, alguns comensais irão ser julgados? – todos balançaram a cabeça afirmativamente. – Bem, embora eu tenha sido o autor do Feitiço Anti-Aparatação, foram vocês que lutaram contra mais de dez Comensais da Morte. Bruxos poderosos foram derrotados por aprendizes. – os seis sorriram de satisfação. Luna parecia um pouco dispersa, mas ainda sim sorriu perante a lembrança de seus feitos heróicos. – Bem, nosso antigo ministério se recusava a abrir um processo visto que muitos dos presos eram amigos íntimos do Ministro, entre eles Lúcio Malfoy. – Hermione crispou os lábios de nojo. – Porém agora, nossa Ministra da Magia está sendo um tanto quanto enérgica no combate a toda e qualquer magia das trevas que perpassar seu nariz. Comensais, para ela são sinônimo de pó e lixo. – Rony riu e Gina sentiu-se satisfeita ao ouvir aquilo – Eu lhes chamei aqui para avisar-lhes de que vocês são peças-chave neste processo. Vocês são as testemunhas de acusação, o que vocês disserem decidirá o destino não só daquele réu, mas de todos que o cercam. Creio que Madame Marchbanks não hesite em utilizar Veritasserum, a poção da verdade, em todos os presentes. Snape até foi chamado para preparar poções para o ministério, mas sua ficha... Bem isso não vem ao caso, vocês devem tomar muito cuidado com o que falam, o mais importante é que lembrem-se de dizer que viram cada um dos acusados na Câmara da Morte.


– Câmara da Morte? – indagou Neville.


– Sim, Longbottom. Aquela câmara onde havia um antigo arco de pedra. – ele olhou para o garoto de bochechas rosadas e viu que sua expressão mudou de dúvida para aflição – Lembrou-se?


– Sim...


– Antes de dispensar vocês, eu vou dar um aviso. A prisão de treze comensais foi um ataque fulminante no exercito de Lorde Voldemort. Ele ainda não recuperou seus servos e ele está furioso por isso, além deles não terem executado a tarefa de pegar a profecia, eles foram presos. Eu não penso que Voldemort seria tolo o bastante para desafiar mais de vinte aurores e todos os funcionários do Ministério apenas por causa da prisão de alguns de seus seguidores, mesmo que juntos eles sejam poderosos, ainda não arrombaram os planos do Lorde. – Dumbledore inclinou o pescoço para frente e sussurrou – Haja o que houver, se um duelo irromper no Tribunal, vocês toquem na medalha de Harry, ela os trará com segurança para o castelo. Harry não seria necessário citar que você deve ir com a medalha até o julgamento. – Dumbledore sorriu para o garoto e Harry retribui o gesto com uma piscadela de olho.

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