Caminho solitário



Harry seguiu com Neville até a Ala para casos de dano permanente. A mãe do garoto, Alice Longbottom, dormia em seu leito. Frank Longbottom estava assentado em sua cama segurando um jornal, mas estava bem claro que ele não estava lendo-o pois seus olhos fitavam o nada em outra direção.

- Papai.- chamou Neville. Demorou um pouco mas o homem se virou e fitou Neville sem mudar a expressão vazia no rosto.- Tem uma pessoa que eu gostaria que o senhor conhecesse.

Frank olhou para Harry mas pareceu que ele nem estava ali.

- Este é o meu amigo, papai, que eu lhe falei há pouco.- disse Neville.- Foi ele quem me ensinou tudo aquilo que eu tenho conseguido fazer.

Frank sequer piscou.

- O nome dele é Harry Potter.- disse Neville.

Frank continuou imóvel por algum tempo e então abriu o jornal e apontou para um foto, era uma foto de Harry, em seguida ele apontou para o próprio Harry.

- Sim!- disse Neville sorrindo.- É ele mesmo, papai. Harry Potter. Não sabia que o senhor andava vendo jornais.

Harry não pode deixar de sorrir. Sabia que aquelas atitudes que pareciam ser estúpidas eram um enorme progresso na recuperação dos pais de Neville. E então Frank apontou para uma Segunda foto no jornal. Era de Neville. E apontou para o próprio em seguida. Mas mal ele terminou isso e Harry gelou. A avó de Neville vinha marchando na direção deles.

- Venha ver vovó!- chamou Neville.- Papai me reconheceu no jornal! E reconheceu Harry também!

Frank repetiu o processo. Apontando para a foto de Neville no jornal e então para Neville. A Sra. Longbottom sorriu emocionada e chamou a MediBruxa. Harry aproveitou para voltar a seu quarto.

- Ah! Aí está você!- disse Rony que estava parado à porta quando Harry chegou.- Gina acordou.

Harry entrou na enfermaria e viu Gina assentada na cama ao fundo. Ele se aproximou.

- Você conseguiu!- disse ela sorrindo.

- Nós conseguimos!- completou Harry sorrindo também.

Silêncio.

- Harry!- chamou uma voz vinda da porta antes que Harry ou Gina dissesse mais alguma coisa. Era Sirius.- Tem alguém que quer falar com você.

- Deixe eu ir lá. Volto depois.- disse ele para Gina antes de ir até Sirius.- Onde?- perguntou ele ao padrinho.

- No salão de chá.- disse Sirius.- Vou com você.- completou.

Os dois então seguiram pelo corredor e apanharam o elevador até o salão de chá. Era um salão amplo e claro cheio de mesinhas redondas e ao fundo um balcão.

Harry viu Dumbledore assentado em uma das mesinhas.

- Ah! Olá Harry!- disse ele se levantando quando Harry e Sirius se aproximaram.- Sentem-se.

Harry não entendeu. Se era Dumbledore quem queria falar com ele porque não tinha ido na enfermaria então? Só cinco minutos mais tarde foi que ele entendeu, realmente, o que estava acontecendo.

- Ah! Aí está ele.- disse Dumbledore se levantando. Sirius também se levantou. Harry se virou na cadeira e viu surpreso, o Tio Válter vir acompanhado por uma MediBruxa.

- Bom, Harry, voltamos já.- disse Sirius antes de sair com Dumbledore.

- Qualquer problema é só me chamar garoto.- disse a MediBruxa depois de assentar o Tio Válter - que trajava um camisolão - defronte a Harry.

- Tio?- perguntou Harry sem entender.- O que o senhor está fazendo aqui? Pensei que tivesse morrido!

- Quase, Harry, quase.- disse o Tio Válter, sua voz soava fraca e cansada. No bigodão, antes preto, agora apareciam fios brancos.- Eles não me mataram, Harry, como pode ver. Alguns bruxos que dizem ser seus amigos chegaram algum tempo depois e me trouxeram para cá.

- O senhor foi o único a sobreviver?- perguntou Harry. Ele odiara o tio com todas as suas forças durante os últimos dezesseis anos, mas agora, vendo-o daquele jeito sentia pena.

- Sim!- disse ele.- Como me arrependo, Harry, por ter reprimido você por ser o que era. Por ter reprimido Petúnia pelo passado dela e da família.

- Eu sinto muito por tudo, tio.- disse Harry meio sem jeito.

- Talvez, se eu estivesse acolhido você direito, se tivesse lhe tratado direito por todos esses anos e se tivesse levado a sério esse tal de Voldemort, Petúnia e Duda estariam bem agora.- disse o Tio Válter.

- Não se culpe, tio.- disse Harry.- Muitas outras pessoas morreram. Mas agora está tudo bem novamente, tudo acabou.

- Eu vi inúmeras fotografias suas naquele jornal de vocês.- disse Tio Válter.- Não sabia que você era tão famoso.

Harry se ajeitou novamente na cadeira.

- E não sabia que tinha uma namorada, também.- disse Tio Válter.

- Ela morreu.- disse Harry tristonho.- No mesmo dia que Voldemort invadiu a casa de vocês. E no mesmo dia morreu também Rúbeo Hagrid.

- Aquele gigante?- perguntou Tio Válter. Harry fez que sim com a cabeça.- Mas agora tudo acabou, não é mesmo? Já poderei voltar para casa e tentar continuar minha vida?

- Quase.- disse Harry.- Voldemort caiu, mas os homens dele ainda estão por aí.- era estranho falar sobre a guerra com o tio Válter.- Talvez demore uns...Dois meses até tudo começar a voltar ao normal.

- E o que você irá fazer daqui para frente?- perguntou o Tio Válter.- Quero dizer, a sua escola fechou, não foi?

- Provavelmente ela voltará a funcionar e no ano que vem eu me formarei.- disse Harry.- Depois não sei o que farei.

- Ah!- fez o tio Válter.

- Tio.- fez Harry se lembrando de uma coisa.- E aquele garoto, Marco Evans...?

- Aquele velho barbudo que estava com você a pouco disse que ele está seguro.- disse Tio Válter.- Acho que vou levá-lo para morar comigo quando estiver melhor.

A MediBruxa estava de volta.

- Acho que é melhor o senhor ir descansar, Senhor Dursley.- disse ela.

- Até a vista, Harry.- disse o Tio Válter antes de se levantar e seguir mancando com a bruxa.

Harry ficou olhando o nada pensando por algum tempo. Até que alguém tampou sua visão. Dumbledore estava de volta, já sem Sirius.

- Porque não me contou que ele estava vivo?- foi o que Harry disse.

- Ele acordou fazem apenas quinze dias.- disse Dumbledore calmamente.- Já estávamos no meio da operação para derrubar Voldemort.

- Eu queria perguntar...- começou Harry.

- Voldemort foi interrogado até começar realmente a morrer.- disse Dumbledore como se lesse os pensamentos de Harry.- Ele pediu de volta a velha espada de Slytherin que estava comigo desde a invasão à Hogwarts, e terminou o serviço que você começou.

- E os outros comensais?- perguntou Harry.

- O maior erro de Fudge foi ter recusado o mais brilhante conselho que eu lhe ofereci no começo de seu mandato.- disse Dumbledore.- Disse-lhe para montar um grupo de segurança para Azkaban. Grandes feiticeiros que lançassem tantos feitiços sobre a prisão que ela ficaria igualmente, ou até mais protegida que Hogwarts.- ele sorriu.- Talvez esse foi o erro principal de Fudge em toda a sua vida.

- Se ele tivesse aceitado seu conselho Sirius não teria fugido e nos contado a verdade.- disse Harry. Sua cabeça funcionava tão rápido desde a conversa com o tio Válter, processando os últimos acontecimentos, que ele sequer tinha tempo de se sentir triste ou vazio.

- Você está certo.- disse Dumbledore.- Mas acontece que logo após a morte de Fudge, lá mesmo no ministério, enquanto vocês faziam um excelente trabalho em Hogwarts, eu fui nomeado Ministro da Magia Substituto.- Ele sorriu.- E a primeira providencia que eu tomei foi a reforma de Azkaban. Eu mesmo cuidei de alguns feitiços. E sobre os comensais, Malfoy, os dois Lestrange, Rookwood e Dolohov já foram julgados e mandados para lá.

- E os outros?- perguntou Harry.

- Começou a caçada, Harry.- disse Dumbledore.- Como da última vez. Membros da Ordem dia e noite na pista dos outros comensais. E pode ter certeza de que dessa vez nenhum deles se livrará de Azkaban.

- Mas não pegaram mais ninguém ainda?- perguntou Harry.

- Alguns bruxos do lado deles. Mas nenhuma peça principal.- disse Dumbledore.

- Como ficarão meus estudos?

- Da mesma forma de antes!- disse Dumbledore.- Terminará o seu sexto ano até o fim do verão e em setembro virá o sétimo.

- Ah!- Fez Harry.- E quando poderemos voltar para Hogwarts?

- Breve.- disse Dumbledore.- Agora me dê licença, Harry.

- Ok.- fez Harry observando Dumbledore se retirar do salão de Chá.

Ficou pensando por um momento. Fazendo uma espécie de saldo. Perdera muito mais que ganhara com tudo aquilo. Não corria tanto perigo agora, mas será que estar em paz valia a morte de Hermione? Não. Preferia estar no inferno ao lado dela a estar no paraíso, só.


****


Harry parou à porta da enfermaria. Gina dormia. Além da garota estava ali apenas Rony e Isabel.

- Mas e sobre aquilo?- perguntou Rony que estava assentado em seu leito, Isabel no de Harry. Harry viu que Rony estava vermelho.

- Aquilo?- perguntou Isabel.

- Antes de eu partir para Hogwarts.- disse Rony.

- Ah!- fez Isabel sorrindo.- Eu lhe beijei não foi? Quando os gêmeos exigiram que eu fizesse a minha escolha.

- Foi só pra se livrar deles ou...

- Não. Não foi só pra me livrar deles.- disse Isabel.- Já faz um tempo. Fred e Jorge estavam sempre me cortejando, mas eu não queria nada com eles. Eu queria você.

Rony ficou mais vermelho, se é que era possível, passou a mão pelo cabelo arrepiando-o.

- Eu também já estava interessado em você fazia algum tempo.- disse ele sem jeito.

Harry viu Isabel se levantar e se assentar ao lado de Rony.


- È.- concordou Harry infeliz, Hermione agora estava assentada ao seu lado.

Os dois ficaram calados. Uma enorme vontade de beija-la novamente começou a crescer. Ele foi aproximando seu rosto do dela, mas quando estava quase lá ela desviou e se levantou.

- Harry!- disse ela enquanto se assentava novamente em sua cama.

- Eu não entendo porque Hermione?!- disse Harry observando a amiga, nunca a havia achado tão bonita quanto agora.

- Já disse, é o Rony.- disse Hermione.


Harry sacudiu a cabeça tentando afastar as lembranças e olhou novamente a tempo de ver Rony e Isabel se beijando.


Harry não quis dar entrevista aos jornais. No dia seguinte foram ao enterro de Percy. Na verdade não foi bem um enterro, pois o caixão foi lançado através do véu no departamento de Mistérios. Dois dias depois eles voltaram para a casa de Sirius. Houve uma festa para recebê-los. Uma semana depois do retorno, Umbridge foi capturada entregando assim onde estavam mais cinco comensais.

Houve vários julgamentos sempre depois de demorados interrogatórios. No meio de Maio Hogwarts reabriu. Todos os garotos voltaram para lá. Os testes foram realizados no fim de Junho e depois de um mês de férias apenas os garotos começaram o seu sétimo ano, a escola agora era dirigida pela Profª. Minerva. Dumbledore, fazia um mês, havia sido eleito por bruxos de toda a Grã-Bretanha o novo Ministro da Magia.


- Nem foi tão difícil.- dizia Rony. Ele e Harry estavam assentados na mesa da Grifinória.- Acho que foi porque desta vez eu não estava nervoso.

- É! Acho que passei de primeira por ter mantido a calma.- disse Harry sério. Era começo de Setembro. Ele a pouco tinha passado no exame de aparatação e Rony também.

- Já viram os novos horários?- perguntou Neville que acabara de se reunir a eles.

- Não.- disse Harry.

- Poções dupla e Transfiguração pela manhã.- informou o garoto.- Pela tarde temos Feitiços duplo e à noite Astronomia.

- Quem é o novo professor de Poções?- perguntou Rony ajeitando o distintivo de monitor chefe.

- Abeforth Dumbledore.- disse Neville.

- Aí vem a Gina.- informou Rony. Harry se virou e acompanhou a garota com os olhos. Estava pálida.

- É muito estranho andar por este lugar depois de tudo o que aconteceu.- disse ela enquanto começava a se servir de suco de abóbora.

- Mas já faz tanto tempo.- disse Neville.

- É porque você não vive atravessando o seu ex-namorado por aí.- disse Gina aflita. Neville concordou e riu. Mas foi só ele. Harry e Gina se entreolharam e ele sentiu um estranho frio na barriga. Aquele não foi o primeiro olhar assim que os dois trocaram. Eles passaram aquele ano letivo todo dessa maneira.

- Mas, Harry, quando recomeçará o quadribol?- perguntou Neville.

- Pergunte ao Rony.- disse Harry.

- Porque a mim?- perguntou Harry.

- Renunciei à minha posição no time.- disse Harry.

- Como assim?- perguntou Gina.

- Não tenho mais ânimo para jogar.- disse Harry.- Minerva pediu que eu indicasse alguém para o cargo, então, e eu indiquei você, Rony.

- Mas Harry, não podemos perder o melhor apanhador que a casa já teve!- disse Rony.

- Estive conversando com Marco Evans, acho que ele leva jeito pra minha vaga.- disse Harry.

- Mas...- fez Gina.

- Não vou mudar de idéia.- interrompeu Harry.

E esta não foi a única renúncia que Harry fez. Ele renunciou a tantas coisas...Até por fim renunciar à felicidade.


Harry caminhou pelo gramado coberto de neve até próximo a cabana de Hagrid que agora estava em ruínas. Ouviu o ruído fofo dos passos de Rony atrás dele.

Ele deu a volta até a orla da floresta. Ainda podia ver a si próprio e a Hermione se beijando encostados na parede dos fundos da cabana do guarda caças.

- Vamos voltar, Harry.- disse Rony ajeitando o distintivo.- Está muito frio e temos uma aula de Feitiços importante para o N.I.E.N.s. daqui a pouco.

- Foi aqui!- disse Harry quando alcançou a árvore a caminho das estufas. A marca da espada ainda era facilmente identificada no tronco da árvore.- Foi aqui, Rony. E foi logo ali que ela deu seus últimos suspiros.

Rony ficou calado. Desde que eles voltaram para Hogwarts Harry se recusava a sair do castelo, exceto para as aulas lá fora, deixara até mesmo de jogar quadribol. Durante as férias de Natal ele insistira com Sirius que Harry precisava se tratar. O amigo estava pirando.

- Esse comportamento é normal para alguém que passou por todas aquelas provações, Rony.- dissera Sirius ainda na mesa da ceia de natal.- Logo passará. Não se preocupe.

Mas alguma coisa em Rony dizia que não passaria, pois o problema de Harry não era só a tristeza e a monotonia. Harry vinha tendo sonhos desde que deixaram St. Mungus fazia alguns meses. Quando não eram sonhos que o faziam acordar assustado e gritando eram sonhos em que ele, Rony, e os demais garotos do dormitório encontravam Harry perambulando por aí, adormecido, e tinha que levá-lo de volta para a cama.

Muitas vezes ao ser interpelado pelo comportamento estranho, Harry respondera sonhador que Hermione viera visitá-lo e que logo o buscaria definitivamente.

Harry caminhou alguns metros para longe da árvore e se deitou em meio à neve.

- Hoje faz um ano.- disse ele.

- Eu sei.- disse Rony.- Mas creio que devemos voltar para o castelo.

- Não sei pra que vou assistir aulas e realizar os N.I.E.N.s.- disse Harry.- Minha vida nunca terá sentido depois que a Mione se foi.

- Hermione ficaria muito satisfeita se nós dois recebêssemos excelentes N.I.E.N.s., Harry.- disse Rony.

- Eu sei.- disse Harry.

- Então vamos fazer isto por ela.- disse Rony.- Vamos voltar para o castelo e nos matarmos de estudar.

- É.- concordou Harry. Rony estendeu-lhe a mão e o ajudou a levantar. Os dois voltaram em silêncio para o castelo.

O inverno passou trazendo a primavera. E então esta se foi trazendo o verão e os exames do fim de ano. Mas nada disso levou consigo as lembranças que ainda atormentava Harry.

Já passava das nove da noite daquele Domingo antes dos testes.

- Vamos subir também?- perguntou Rony por trás de suas anotações de história da magia.

- Se quiser pode ir.- disse Harry submerso nas suas próprias anotações.- Daqui a pouco eu vou também.

- Boa noite então.- disse Rony guardando suas coisas. Harry continuou ali por um momento até que Neville apareceu.

- O que está estudando, Harry?- perguntou ele se assentando onde antes estivera Rony.

- História da Magia.- disse Harry.- Você tem algum problema? Parece pálido.

- Eu estava visitando a Murta que Geme junto com a Luna, temos feito visitas semanais por causa de uma promessa mas...Na verdade eu estou com medo desses testes.- disse Neville.- Quero dizer, se eu obtiver bons N.I.E.N.s. poderei fazer a entrevista para o treinamento em St. Mungus. Mas eu tenho medo de não me dar bem.

- É lógico que vai dar, Neville.- disse Harry.- Vi você estudando o tempo todo durante esse ano.

- É. Acho que eu consegui finalmente aprender alguma coisa. Feitiços e DCAT aprendi com você.- Neville sorriu para Harry.- Herbologia sempre dominei e Transfigurações ainda vai, e até Poções, com as aulas extras do professor Abeforth eu consegui pegar o jeito. Mas estou com medo de dar um branco.

- Vai dar tudo certo.- disse Harry.- Quando estiver fazendo as provas lembre-se de seus pais, tenho certeza de que isso será uma boa motivação.

- É.- concordou Neville. Harry voltou a estudar. Neville ficou calado e algum tempo depois desejou boa noite a Harry e subiu. Logo a sala comunal estava vazia exceto por Harry.

- Psiu!

Harry olhou à sua volta. Não havia ninguém ali.

- Psiu!

Olhou então para a lareira, talvez pudesse ser Sirius como nos velhos tempos, mas havia apenas as últimas brasas restantes.

- Psiu! Aqui.

Harry olhou para as poltronas na direção de onde vinha a voz mas não havia ninguém.

- Sou eu, Harry.- disse a mesma voz, agora doce.

- Hermione?- perguntou Harry mas não houve mais respostas.- Hermione? É você?- perguntou novamente se levantando e dando uma volta no salão comunal.

Harry chamou mais algumas vezes pelo nome de Hermione mas não houve respostas até que Gina apareceu no alto da escada.

- O que está acontecendo?- perguntou ela.

- Era Hermione, Gina.- disse Harry com um sorriso demente no rosto.- Ela estava me chamando, mas não consegui encontrá-la então ela se foi.

- Acho que você está cansado, Harry.- disse Gina. Havia pena em seus olhos.- Estudou demais. Vá dormir.

- Mas ela estava aqui.- insistiu Harry.

- Não, ela não estava.- disse Gina descendo as escadas.- Não há ninguém aqui, foi só uma ilusão sua.

Harry baixou os olhos, apanhou suas coisas e subiu para seu dormitório. Gina se deixou cair em uma das poltronas. Não era a primeira vez que via Harry procurando por Hermione como se ela estivesse por ali brincando de esconde-esconde com ele. Talvez Rony tivesse um pouco de razão ao achar que Harry estava louco.

- Era verdade.- disse uma voz fria. Gina se virou assustada. O fantasma de Draco pairava sobre ela.

- O que?- perguntou Gina.

- Sua amiga Sangue Ruim tem perseguido Potter desde que ela se foi.- disse Draco.

- Mas você disse que ela não virou um fantasma, não é mesmo?- perguntou Gina sem entender como Hermione poderia estar perseguindo Harry.

- Sim.- disse Draco.- Ela é apenas uma pobre alma que não consegue ficar em paz por ter deixado uma grande parte de si para trás.

- Então... Hermione só parará de perseguí-lo quando ele morrer também?- perguntou Gina.

- Sim.- disse Draco.- E ele ficará muito contente quando isso finalmente acontecer.

- Mas então...- disse Gina.

- No seu caso não adiantaria nada você morrer.- interrompeu Draco tristemente.- Nosso amor não era tão puro quanto o deles...E eu preferi ficar aqui a conhecer o outro lado.

- Não pretendo me matar por você agora, mas um dia nós nos reencontraremos, não é mesmo?- perguntou Gina.

- Infelizmente não.- disse Draco.- Estamos e sempre estaremos em dimensões diferentes, Gina.

- Mas se eu virasse um fantasma...- disse Gina.

- Você não teme e nunca temerá a morte a ponto de virar um fantasma ao morrer, Gina.- disse Draco.- Mas deixe-me ir. Não vai ser legal se descobrirem que eu andei por aqui.

Gina observou tristemente Draco sumir pela parede. Em seguida subiu para seu quarto e adormeceu. Sonhou com um reencontro entre ela e Draco. No sonho, após sua morte, Draco se tornara alguém realmente bondoso e nobre.

E na semana que se seguiu vieram os exames. E então veio o baile de formatura que contou com um animadíssimo show das Esquisitonas.

Rony e Isabel dançavam animadamente. Sirius e Tonks logo se juntaram a eles e no fim até o Sr. e Sra. Weasley arriscaram alguns passos.

- E então, Harry, já pensou no que fará daqui pra frente?- perguntou Gina. Os dois estavam assentados na mesa que Sirius - Família de Harry - dividia com os Weasley. Harry observava tristemente todos se divertindo. Gina antes estivera dançando com Neville mas há pouco havia se juntado a Harry.

- Não.- disse o garoto.

- Não vai fazer o teste para a escola de aurores?- perguntou Gina.

- Acho que não.- disse Harry.- Não sei se ainda tenho forças para viver atrás de bruxos das trevas.- completou.

- Vai para a casa de Sirius então?- perguntou Gina.

- Você sabe tanto quanto eu que o romance entre eu e Hermione não começou em Hogwarts.- disse Harry.- Não sei se agüentaria viver no lugar em que o nosso amor se firmou.

- Você está se referindo à noite antes do retorno para Hogwarts após as férias de natal?- perguntou Gina.

- Não só a isso...- disse Harry e então de repente parou. Gina sabia?- Como você sabe disso? Mione lhe contou?

- Não foi preciso, Harry.- disse Gina.- O tom vermelho no rosto dela ao entrar no quarto no meio da madrugada me disse tudo.

Harry ruborizou de leve.

- Em pensar que hoje poderíamos estar, eu e ela, no meio desse pessoal, nos divertindo.- disse ele depois de algum tempo.

- Não fique se remoendo em meio a lembranças do passado, Harry.- disse Gina.- Pois o que passou, passou. E ainda não temos o poder de mudar isso. Não fique pensando só no que se foi...

- Quer que eu pense em que então?- perguntou Harry.

- Preocupe-se com o seu futuro!- disse Gina.

- Que futuro, Gina?- perguntou Harry.

- Oras Harry!- disse Gina com impaciência.- Você é um grande bruxo, você venceu Voldemort! Você tem todas as portas abertas ao seu dispor!

- Olhe para mim, Gina!- disse Harry.- Veja no que me transformei! Um grande garoto prestes a fazer dezoito anos, que vive de tristeza e monotonia!

- Não vou ficar discutindo com você!- disse Gina se levantando.

- Te faz bem!- retrucou Harry ao vê-la se distanciar.


- Os N.I.E.N.s. saem amanhã.- disse Rony enquanto ele e Harry subiam as escadas para o dormitório. Os malões já estavam prontos para a partida no dia seguinte.- O que vai fazer depois disso?

- Nada.- disse Harry.- E você?

Rony soltou um suspiro antes de responder.

- Estive pensando em entrar para Gringotes, como Gui.- disse Rony enquanto começava vestir o pijama.- Li no profeta diário que eles estarão entrevistando bruxos até o começo de setembro. Acho que vou tentar.

- Legal.- disse Harry, algo lhe dizia que pelo simples fato de Rony ser irmão de Gui lhe garantiria uma vaga. Gui além do cargo de Bruxo Supremo em Gringotes tinha um altíssimo cargo dentro do ministério também. Era chefe do departamento de Relações Internacionais.

- Porque não tenta entrar para a escola de Aurores?- perguntou Rony.- Os testes devem começar na Segunda quinzena de julho.

- Não sei.- disse Harry.

- Dizem que é difícil, mas tenho certeza que você conseguirá.- disse Rony.- Só pelo fato de ser Harry Potter acho que você já está lá dentro.

- É.- concordou Harry se assentando na cama.- Mas a única coisa de que preciso agora é uma boa noite de sono.

- Boa noite.- disse Rony.

E logo a manhã seguinte nasceu.

- É estranho olhar pra isso tudo e pensar que talvez eu nunca mais volte aqui.- disse Simas enquanto descia com seu malão.

- Todos os momentos felizes da minha vida estão ligados nisso daqui. Cada sorriso entranhado nessas paredes de pedra!- disse Harry tristemente.- Eu só fui feliz a partir do momento em que entrei para Hogwarts, e deixei de ser feliz quase no fim. Nunca vou esquecer deste lugar! E das pessoas que eu deixei para trás, aqui.

Simas observou a figura triste que era Harry. Queria dizer alguma coisa, mas acabou ficando calado.

Harry seguiu sozinho no trem. Rony e Gina cumpriam seus deveres de monitores. Quando desembarcou na plataforma 9 e ½ viu Sirius, Isabel e a Sra. Weasley já os esperando. Ele esperou Rony e quando este desceu do trem os dois se abraçaram.

- Até a vista, cara!- disse Rony.- E dê um jeito na sua vida!

- Eu vou tentar.- disse Harry antes de seguir com Sirius.

Sirius parecia imensamente feliz com a chegada do afilhado de volta em casa.

- Preparei uma surpresa pra você!- disse ele assim que eles aparataram.- Vamos até lá em cima.

Harry seguiu Sirius até a porta do antigo quarto da Sra. Black. Sirius arreganhou a porta.

- Seu novo quarto!- disse Sirius sorrindo.

Harry entrou no quarto atrás do padrinho e tentou sorrir. Sirius havia dado uma reforma geral no quarto. Trocado o papel de parede. E o transformado no quarto dos sonhos de qualquer garoto. Mas havia ali a coisa que mais angustiava Harry naquele momento. A lembrança de Hermione.

- Bom! Fique a vontade no seu novo lar.- disse Sirius.- E não demore a descer para o jantar.- depois de dizer isso ele saiu do quarto fechando a porta.

A cama de Harry ficava na mesma parede em que a antiga cama de colunas que havia ali. Na parede oposta havia um suporte com a Firebolt do garoto.

Harry caminhou até a cama e se deixou cair ali. Em um súbito flash ele viu Hermione entrando pela porta do quarto, trajando seu robe cor de rosa e trazendo aquele penetrante olhar que ela trouxera naquele inesquecível noite.

Era estranho pensar nisso, mas Hermione parecia já saber de seu destino. Aquela noite, a noite mais especial da vida de Harry, fora como uma espécie de despedida.

Harry ficou se lembrando da noite que passara com a garota ali durante algum tempo, mas depois ele se trocou e desceu para o jantar. Isabel não estava. Tinha ido jantar na casa de Rony. Harry comeu calado enquanto ouvia Sirius falando que ele deveria tentar entrar para a escola de aurores. Harry acabou prometendo que iria ao ministério resolver isso no dia seguinte.

Acontece que no dia seguinte, ao invés de ir para o ministério Harry rumou para Hogsmead. Havia visto no profeta diário daquela manhã o anúncio de alguém que vendia uma casa. Harry deu uma olhada na casa e naquele mesmo dia fechou o negócio. E nas semanas que se seguiram, ele saía de casa dizendo que ia para o ministério participar da maratona de testes, mas ao invés disso ele continuava montando a casa. Até o dia em que ele se atrasou na hora de ir embora.

- O Harry não voltou do ministério com você?- perguntou Sirius a Isabel.

- Não.- disse Isabel sem se preocupar.- Eu perguntei a Zacarias Smith, que também está fazendo os testes, se ele tinha visto o Harry e ele disse que o Harry não apareceu lá dia nenhum.

Sirius ficou encabulado. Será que Harry estaria mentindo para ele? E porque ele estava fazendo aquilo, se dissesse que realmente não queria se tornar um auror ele, Sirius, entenderia. Mas porque, era só o que o preocupava, porque ele estava mentindo?

Harry chegou em casa e foi direto para a cozinha comer alguma coisa. Sirius sequer o cumprimentou quando ele entrou. E continuou calado quando Harry serviu-se da sopa que o padrinho preparara.

- Aconteceu alguma coisa?- perguntou Harry enquanto comia.

- Na verdade sim.- disse Sirius se assentando do outro lado da mesa, defronte a Harry.

- E o que foi?- perguntou Harry.

- É que hoje eu acabei descobrindo que...- ele olhou para Harry que o encarava sem medo.- Que você está mentindo para mim dizendo que está fazendo os testes.

Silêncio.

- Na realidade eu menti.- disse Harry baixando os olhos. Era melhor falar tudo agora. Mais cedo ou mais tarde ele teria que faze-lo mesmo.

- E eu posso saber o que você está arrumando esse tempo todo, então?- perguntou Sirius.

- Estava em Hogmsead, montando a minha nova casa.- disse Harry.- Eu não posso mais ficar aqui.

Houve um novo e prolongado silêncio. Harry sabia que Sirius ainda tentava absorver aquelas palavras.

- Eu sabia que você não tinha gostado do quarto, e eu até entendi o porquê depois que Gina me explicou...

- Gina te explicou o porque?- perguntou Harry ruborizando.

- Sim!- disse Sirius.- Ela e Rony vieram te visitar um dia desses, mas você não estava. E então eu disse a Gina que você não parecia feliz por estar morando comigo e ela me explicou quais eram os seus motivos. Mas eu propus a você, no dia em que te propus vir morar comigo, que se você quisesse, nós nos mudaríamos daqui. E se quiser ainda podemos mudar.

- Sirius...- disse Harry olhando o padrinho que parecia levemente desesperado.- Você sabe que é um pai pra mim, não sabe?

- Sim, mas porque então...

- Os filhos um dia deixam os pais.- disse Harry.- É uma das coisas normais da vida.

Sirius permaneceu em silêncio. Tinha a cabeça baixa.

- Uma vez você me disse que a gente só ama verdadeiramente uma pessoa na vida.- disse Harry.- E que quando essa pessoa é a pessoa errada somos condenados a viver só.

- Não é viver só no sentido de se isolar do mundo.- disse Sirius.- E se fosse, pense, Harry, somos dois solitários então, e o melhor que podemos fazer é ficar juntos e um ajudar ao outro a preencher o vazio que cada um carrega dentro de si!

- A minha decisão está tomada Sirius.- disse Harry.- Eu sinto muito.

- Se tem que me deixar como um filho deixa os pais esqueça o lado paterno então e fique ao meu lado como amigo!- pediu Sirius erguendo o rosto. Seus olhos estavam úmidos.

Harry não disse nada. Seu coração estava cortado por ver o desespero de Sirius.

- Isabel logo vai me deixar, ela e o Rony não tardarão a se casar. E você não pode fazer isso comigo, Harry.- recomeçou Sirius ficando de pé.- Não depois de tudo que eu passei para ter você aqui, debaixo do meu teto, para fazer o papel de pai que Tiago não pôde fazer!

Harry segurava para não chorar também.

- Você não pode fazer isso comigo!- repetiu Sirius se assentando novamente.- Não depois de eu ter movido céus e terras para poder cuidar de você!

- Você poderá continuar cuidando de mim, Sirius.- disse Harry.- Mas eu preciso sair daqui. Eu preciso passar mais tempo sozinho.

Pausa.

- Tente entender que o fato de eu estar deixando a sua casa...

- Essa é a sua casa também!- disse Sirius.

-...O fato de eu estar deixando essa casa não vai mudar em nada o que eu sinto em relação a você e....

- Foi por eu ter escondido a você o plano do véu, não foi?- perguntou Sirius.

- Não, não foi!- disse Harry.

- Só pode ter sido!- disse Sirius.- Você ainda não me perdoa por eu ter escondido de você que estava vivo. Por ter feito você sofrer e...

- NÃO FOI!- gritou Harry se levantando.

Sirius, assustado, ergueu o rosto para Harry.

- Não tente se culpar.- disse o garoto.- A minha decisão não tem nada a ver com você. Sim, eu sinto muito por ter que deixá-lo. Eu preferiria que não tivesse que ser assim, mas essa solidão que eu encontrarei morando sozinho é algo de que eu realmente preciso nesse momento, Sirius.- ele respirou fundo.- Agora eu acho melhor eu ir.

Sirius debruçou-se sobre a mesa e escondeu o rosto entre os braços. Lágrimas lavavam seu belo rosto livremente agora. O rosto de Belatriz lhe surgiu diante os olhos.

"Você é tão sentimental...dá até medo de acabar contaminada..."

Algum tempo depois Isabel apareceu na cozinha.

- Pai?- perguntou ela. Sirius ergueu os olhos vermelhos para ela.- O que aconteceu? Eu vi o Harry saindo com o malão, vocês...

- Ele me deixou, Isabel.- choramingou Sirius.

A garota se assentou ao lado do homem e o abraçou.

- Mas porque ele fez isso?- perguntou ela.- Vocês brigaram?

- Não...

- Porque então?


*****


Harry enxugou as últimas lágrimas assim que saiu da lareira de sua nova casa. Era uma casa muito grande para alguém que moraria sozinho. Tinha quatro quartos e uma gigantesca sala. Harry montou seu próprio quarto, um escritório e num terceiro quarto, mais tarde, ele remontou o quarto que Hermione um dia possuíra na casa de seus pais.

Havia uma cadeira de balanço na sala. Harry, cansado, se assentou ali e acabou adormecendo. Foi acordado no dia seguinte por Gina.

- Como você chegou até aqui?- perguntou o garoto ao vê-la.

- Sirius chegou lá em casa no meio da madrugada.- disse Gina.- Disse que você havia se mudado para Hogsmead. Ele está desabalado, Harry.

- Você sabe que eu não podia ficar lá, Gina.- disse Harry.

- Você queira ou não, as lembranças de Mione o perseguirão aonde você for.- disse Gina.

- Mas lá era pior...- disse Harry.

- Ele me pediu que o convencesse de voltar.- disse Gina.

- Você sabe que eu não vou mudar de idéia, Gina.- disse Harry.

- E o que quer que eu diga a ele?- perguntou Gina.

- Depois que você contou a ele sobre o quarto da mãe dele...Diga o que quiser.- disse Harry.

Gina deu um suspiro e foi embora. Não era nem meio dia quando Rony também apareceu por ali.

- Cara, não acredito que você está fazendo isso!- disse ele se assentando no sofá defronte à cadeira de balanço onde Harry permanecia.

- Os meus planos eram procurá-lo hoje para lhe convidar para ser padrinho do meu casamento. Mas...

- Nada que você disser mudará a minha opinião, Rony.- disse Harry calmamente.

Silêncio.

- Eu fico pensando.- disse Rony.- Você e a Gina deveriam tentar ficar juntos...

- Nada que você disser mudará a minha opinião em sentido nenhum, Rony.- disse Harry.

- Um motivo...

- Você ama essa garota, Rony? Você ama Isabel?- perguntou Harry. Rony fez que sim com a cabeça.- Você dizia gostar da Mione.

- Era uma paixão adolescente, cara.- disse Rony e então ele sorriu.- Mas com a Isabel eu descobri o que é realmente amar.

- Se um dia...- começou Harry.- Eu realmente espero que isso nunca aconteça, mas se um dia você vier a perder a Isabel, mas não quando vocês estiverem velhinhos e sim quando estiverem no meio dos planos de vida de vocês...Se você a perder...Aí sim você entenderá as minhas razões...E as da Gina!

- Já vi que você está mesmo decidido.- disse Rony.

- Sim.- confirmou Harry.

- Acho que devo ir embora então.- disse Rony se levantando.

- Quando será o casamento?- perguntou Harry.

- Ainda não marcamos uma data.- disse Rony.- Mas provavelmente será só no ano que vem.

- Me avise a data certa quando souber.- disse Harry.

Rony deixou a casa de Harry e voltou para a casa de Sirius onde encontrou o homem ainda desconsolado. Harry não recebeu visitas nos dias que se seguiram, exceto pelo moleque do Três Vassouras que vinha lhe trazer a comida todos os dias.

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