Presente estranho



- Ah! Aí está você!

Hermione levantou o rosto. Gina e Luna se sentavam agora junto a ela na biblioteca.

- E a história?- perguntou Gina.

- Que história?- respondeu Hermione voltando a se concentrar em um pergaminho.

-Minha e do...- Gina olhou pra Luna.- Do tal Romeu e da Juliana.

- Julieta!- corrigiu Luna.

- Eu já escrevi pra mamãe pedindo que me enviasse o livro.- disse Hermione.- Acho que é melhor ler a história do que ouvi-la modificada.- completou olhando para Luna, esta olhava distraída para o teto.

- Tudo bem então.- disse Gina.

- O que Crabbe está fazendo ali?- perguntou Hermione.

Gina se virou e o garoto percebendo que havia sido descoberto saiu veloz.

- Deve estar com medo da gente agora que está sozinho.- disse Hermione.

- É!- concordou Gina aérea, acabara de se lembrar que Malfoy ainda estava na enfermaria.

Hermione se concentrou novamente nos estudos. Algum tempo depois Luna saiu com uma garota do Terceiro ano da Corvinal. Gina se lembrou que tinha de fazer o aviso para o treino de quadribol e se foi também.

A tarde foi caindo e a biblioteca se esvaziando. Eram sete e meia quando Madame Pince foi até Hermione.

- Acho que já está na hora do jantar.- disse a Bibliotecária.

- Ah! Sim!- respondeu Hermione enquanto juntava suas coisas.

Quando chegou no salão principal este já ia se esvaziando. Harry, Rony e Gina já haviam jantado e não estavam mais ali. Hermione engoliu qualquer coisa e resolveu tomar o caminho de volta para a torre.

Ao atravessar o buraco do retrato encontrou Rony e Harry por ali.

- Ah! Aí está você!- disse Rony ao vê-la.- Estávamos esperando você para fazermos os deveres.

- Às vezes fico pensando o que seria de vocês dois sem mim!- disse ela.

- Teríamos sido reprovados antes do terceiro ano, pode ter certeza!- disse Rony.- Mas busque logo as anotações! O dever de Lupin é bem grande e ainda temos aula na torre de Astronomia hoje!

Hermione atendeu à urgência dos garotos e foi correndo buscar as anotações. Ao entrar em seu dormitório encontrou a coruja negra de Krum pousada na janela. Hermione retirou o envelope e o embrulho que a coruja trazia e pegou as anotações.

- Fique aí e eu trarei a resposta.- disse ela à coruja antes de descer para o salão comunal.

- Aqui estão!- disse Hermione entregando os pergaminhos aos dois garotos e se assentando em uma poltrona por ali em seguida.

- Carta de quem?- perguntou Rony observando a amiga muito concentrada na carta que lia.

- Do Vítor!- respondeu Hermione.

- Ah! Eu deveria ter adivinhado!- disse Rony secamente enquanto Harry limitou-se apenas a rir do amigo.

- Estranho.- disse Hermione assim que baixou a carta.

- Algum problema com o seu amiguinho?- perguntou Rony quando Gina sentou-se ao lado de Hermione.

- Não.- disse Hermione.- É que veio um embrulho junto e ele não falou nada sobre embrulhos ou qualquer coisa parecida na carta.

- Então abra para ver o que é.- sugeriu Gina.

Hermione apanhou o embrulho e cuidadosamente o abriu. Ela franziu a testa ao erguer no ar uma pequena seringa trouxa com um líquido arroxeado dentro.

- O que é isso?- perguntou Rony

- Uma seringa trouxa.- respondeu Harry.- Serve para aplicar remédios diretamente nas veias ou coisa assim.

- Por essa agulha?- perguntou Rony olhando para a cumprida agulha da seringa.

- Exatamente.- disse Harry.- Mas porque Krum lhe mandaria uma seringa?

- Não sei.- disse Hermione. Ele apertou os olhos enquanto rodava a seringa quando essa, num estalo, criou vida e se ergueu no ar. Foi tudo muito rápido. Gina se levantou e Rony deixou as anotações de Hermione caírem quando a seringa se voltou veloz contra a garota enterrando-se em seu braço.

- Ai!- fez Hermione tentando tirar a seringa dali.

-Puxa ela Gina!- disse Harry enquanto dava a volta na mesinha.

Gina mais que rapidamente obedeceu e com algum esforço quebrou a agulha da seringa. Hermione bufava no sofá. Parecia pálida.

- Você está bem?- perguntou Harry se abaixando ao lado dela.

- Acho que sim!- disse Hermione.- Me ajude a levantar.

Harry obedeceu mas assim que Hermione se ergueu ela se curvou para a frente e vomitou desmaiando em seguida.

- Ela tomou quase metade dessa coisa.- disse Gina.

- Anda Harry!- disse Rony passando um dos braços da garota, desfalecida nos braços de Harry, por trás de seu pescoço.- Vamos leva-la pra enfermaria.

Os dois garotos seguiram velozes até o buraco do retrato e sumiram por ali. Todos do salão comunal os observavam e se viraram para Gina assim que o retrato tapou novamente o buraco.

- Neville!- gritou Gina para o garoto que estava perto dali.- Chame McGonagall e a avise que Hermione está na enfermaria.- completou enquanto apanhava o embrulho já vazio e a carta de Krum no chão.


****


- O que aconteceu, garotos?- perguntou Madame Pronfey logo que Rony e Harry colocaram Hermione em um dos leitos.

- Ela recebeu um embrulho estranho, com uma seringa viva!- disse Rony ofegante.- A seringa voou no braço dela só que a Gina a quebrou, olha.- completou indicando o braço roxo de Hermione.

- Meu Deus!- disse Madame Pronfey examinando o lugar onde a agulha quebrada estava enfiada.- Onde está o resto da seringa e do líquido?

- Aqui!- disse Gina que entrava veloz na enfermaria.

A enfermeira pegou a seringa e a examinou. Metade do líquido roxo ainda estava ali.

- Mas isso é um veneno!- disse a enfermeira abrindo veloz um armário de poções que havia a um canto da enfermaria.- A seringa estava totalmente cheia?

- Sim!- responderam Harry e Rony juntos.

A enfermeira abriu um frasco com uma poção e o levou à boca de Hermione que estava extremamente pálida agora.

- Veneno?- Perguntou Gina engolindo em seco.

- O que aconteceu?- perguntou a Profª. McGonagall que vinha ladeada por Neville. Gina viu Malfoy observando a cena por uma cortina de sua cama.
Rony narrou o ocorrido para ela enquanto a enfermeira retirava os restos da agulha do braço de Hermione.

- Mas porque Vítor Krum mandaria uma seringa venenosa enfeitiçada para Hermione?- perguntou Gina.

- Eu sempre disse que aquele cara não era confiável!- disse Rony.

- Mas ela achou uma coisa estranha antes de abrir o embrulho.- lembrou Harry.

- È!- concordou Gina.- Ela disse que ele não citava o embrulho na carta, veja.- completou estendendo a carta para a professora.

- E o embrulho, onde está?- perguntou a professora.

- Aqui!- disse Gina entregando também o embrulho a ela.

Minerva sacou a varinha e a bateu três vezes contra o embrulho esticado. Lentamente uma marca com uma caveira ou coisa parecida foi surgindo.

- A marca negra!- disse Neville.

- Vá chamar o professor Snape, Longbottom.- ordenou a professora.- E você Potter, vá à sala de Dumbledore e o traga aqui.- disse ela virando-se para Harry.- Diga laranjeira para entrar e diga também...- ela olhou na direção da cama de Malfoy e então baixou a voz.- Que são assuntos da ordem.

Harry obedeceu e saiu logo atrás de Neville.

- Você conhece a coruja desse Vítor Krum?- perguntou Minerva para Gina.

- Sim. È uma coruja mui negra e obediente, sempre trás as cartas de Krum para Hermione e fica esperando a resposta.- disse Gina.

- Então vá até a torre da Grifinória procurá-la.- ordenou Minerva.- Se ela não estiver lá, vá ao corujal.

- Sim senhora!- disse Gina saindo veloz.

- E eu?- perguntou Rony.

- Vá chamar Lupin!- completou Minerva.

Rony saiu também.

- E você, garoto!- disse ela olhando para Malfoy que ainda tinha a cabeça para fora do cortinado.- Porque ainda está aqui?

- Porque a enfermeira insiste que eu devo permanecer em repouso.- disse Draco secamente.

- Isso mesmo!- concordou Madame Pronfey que preparava mais uma poção para dar a Hermione.- Ele está com um problema em um dos joelhos.

- Mas isso o impede de estudar?- perguntou Minerva.

- Não.- disse a enfermeira.

- Então vista-se Sr. Malfoy.- disse Minerva.- Assim que um dos monitores da Grifinória chegar ele o levará até a torre de Astronomia para a sua aula.

Draco crispou a boca e fez qualquer muxoxo mas, fechando a cortina foi se trocar.

- Qual é o estado da garota, Papoula?- perguntou Minerva observando uma Hermione de aparência doentia que estava ali.

- Mais alguns mililitros desse veneno e ela teria morrido na hora, Minerva.- informou a enfermeira enquanto enfaixava o braço de Hermione no lugar onde a agulha havia se quebrado.- Eu guardei a seringa.

- Certo.- disse Minerva.- Lupin vai dar uma olhada. Mas que veneno era?

- Violeta.- informou a enfermeira.

- O veneno dos comensais.- completou Minerva.- Como eles são baixos!- completou no momento em que Snape e Neville entraram de volta na enfermaria.

- Esse garoto me contou a história mas eu não queria acreditar!- disse o professor assim quem viu Hermione em seu leito.

- Foram eles Severo.- disse Minerva erguendo o embrulho com a marca da morte agora muito nítida.

Snape se virou e encarou Malfoy de pé, já vestido a alguns leitos dali.

- Pensei que já estivesse de volta, Malfoy.- disse ele.

- A enfermeira acabou de me dar alta, professor Snape!- respondeu o garoto sorrindo.

- Ótimo!- respondeu Snape e se virou de volta para Minerva e, falando em voz baixa completou:- Ele não devia estar aqui.

- Eu sei.- respondeu Minerva no mesmo tom sussurrado.- Ele já vai!- completou já alto ao ver Gina entrar trazendo a coruja negra.

- Ela está ferida.- informou Gina.- Manchou a cama de Hermione de sangue.- completou enquanto deixava a coruja na cabeceira do leito vazio ao lado.

- Muito obrigada, Srta. Weasley.- disse a professora.- Agora faça o favor de acompanhar o Sr. Malfoy até a torre de Astronomia.

- Sim senhora.- respondeu Gina.

Ela e Draco saíram passando por Lupin e Rony na porta.

- Meu deus!- disse Lupin correndo até o leito de Hermione.

- Veneno violeta, Remo.- informou Minerva e em seguida narrou todos os fatos para os dois professores.

- Já informou Dumbledore?- perguntou Lupin.

- Mandei Harry buscá-lo.- disse Minerva.

Rony mal prestava atenção na conversa. Estava encostado no outro lado do leito e observava a amiga, paralisado e levemente apavorado.


****


- Eu nunca imaginei que veria aquela Sangue Ruim naquele estado!- riu Draco enquanto ele e Gina subiam as escadas que levavam até o andar superior à enfermaria.

- E você ainda ri. Como é idiota!- disse Gina com desprezo.- Foi seu pai e os amiguinhos dele que fizeram aquilo, sabia?

- Sim!- disse Draco ficando sério.

- Você sabia que eles iriam tentar matar Hermione?- perguntou Gina incrédulo.

- Sim!- disse Draco.- Quer dizer, mais ou menos.

- Como assim?- perguntou Gina.

- Olha, eu não devia lhe contar isso.- disse Draco.- Mas se for somar pontos a meu favor...

- Dá pra falar logo?- perguntou Gina impaciente.

- Tá bom!- disse Draco.- O Lord das Trevas decidiu tirar a sangue-ruim do caminho depois que Rabicho viu ela e o Potter se beijando em um bosque próximo a uma cidade trouxa chamada Greelin.

- O que?- perguntou Gina parando.

- È isso mesmo!- disse Draco sem parar de andar.

Gina correu para alcançá-lo.

- Só que ele escolheu logo Macnair pra cuidar da sangue-ruim.- disse Draco.

- Cuidar da Hermione?- perguntou Gina.

- È! Dar um sumiço.- disse Draco e olhando para Gina.- Matar, pra ser direto.

- Ah!- fez Gina.

- E Macnair só não é pior que Rabicho.- disse Draco.- Me poupe! Uma seringa enfeitiçada! Aff! Tem tanta maneira mais cruel de matar uma sangue-ruim!

- Só que você não vai escrever pro seu papai amanhã contando o que aconteceu.- disse Gina com firmeza.

- Porque não?- perguntou Draco.

- Você não quer me conquistar?- perguntou Gina.

- Ok, ok. E como você vai ter certeza de que eu não contei?- perguntou Draco.

- Eu acabei de te azarar.- disse Gina.

- Hou hou!- fez ele parando.- Você é mais espertinha do que eu pensava.

- Muito mais!- concordou Gina.- E você entendeu bem! Finja que não estava na enfermaria quando Hermione foi levada para lá.- completou enquanto os dois subiam pela escada em espiral que levava ao alto da torre.

- Seu desejo é uma ordem!- disse Draco secamente.

A professora Sinistra já esperava seus alunos no alto da torre.

- A profª. Minerva pediu para avisar que quatro alunos da Grifinória não vão comparecer à sua aula hoje.- disse Gina.

- Ok. Conversarei com ela mais tarde.- respondeu a professora.- Boa Noite Sr. Malfoy.- completou.

- Com licença.- disse Gina começando a descer as escadas novamente.


- Aì estão eles!- disse Minerva ao ver Harry e Dumbledore entrando na enfermaria.

Lupin examinava atento a seringa. Rony ainda estava paralisado em seu canto.

- A coruja foi interceptada.- dizia Snape enquanto Neville esticava a asa machucada da coruja negra.- E então eles acrescentaram o embrulho.

- Mas qual dos comensais teria feito um trabalho tão mau feito?- perguntou Lupin.

- Provavelmente Voldemort achou que o serviço seria fácil e incumbiu qualquer um do mesmo.- disse Dumbledore calmamente.

- Veneno violeta, Alvo.- disse Minerva.

- Só me pergunto porque Hermione.- disse Lupin.

Harry escutava calado. Sabia porque Voldemort poderia querer matar Hermione, mas os comensais provavelmente não sabiam do namoro dos dois. E ele também não falaria disso com Rony ali por perto, e também, não tinha como eles saberem.

- Tudo bem, eles não deixam de matar se tem chance, principalmente nascidos trouxas, mas a ponto de planejar um atentado!- disse Lupin. Ele parecia indignado com o ocorrido.- Não consigo entender o porque de tal “cuidado especial”!

- Eu sei!- disse Gina que acabara de entrar correndo na enfermaria.

- Aconteceu mais alguma coisa Srta. Weasley?- perguntou Snape.

Harry olhou levemente desesperado para Gina. Ela não podia contar aquilo ali.

- Sim!- disse Gina.- O Malfoy. Ele acabou de me contar aos risos quem foi o autor do atentado e o porque!

- Então era por isso que ele estava tão interessado no que estava acontecendo aqui.- disse Minerva.

- Foi Macnair.- disse Gina.

- Não interessa quem foi!- disse Lupin.- Me interessa o porque.

Harry engoliu em seco e Gina finalmente olhou para ele como se buscasse autorização para contar.

- Ande! Diga logo.- disse Snape impaciente.

Harry baixou a cabeça sem resposta. Parecia não ter mais jeito. Ele notou que Dumbledore o observava erguido em seu canto. Ele olhou para Rony que agora parecia interessado na conversa apesar de ter a cabeça baixa e então, abaixo do garoto ele viu Hermione. Parecia um cadáver, ao olhar para ela ele sentiu uma fincada na testa. Se virou rapidamente para o grupo de professores que esperavam que Gina falasse.

- Eu também sei o motivo!- interrompeu Harry. Ele sentiu o rosto ferver.- Só não sei como eles souberam.

- Eles viram vocês próximo a Greelin.- informou Gina.

Rony ergueu a cabeça.

Lupin sorriu.

- Vocês estão querendo dizer que os dois...?- perguntou Rony que estava vermelho.

Harry respirou fundo.

Sim.- disse se virando para o amigo e observando a fúria tomar os olhos do mesmo.- Eu e Hermione estamos juntos.

Rony recuou dois passos pra trás cambaleando. Seu rosto parecia um tomate. Ele olhou mais uma vez para Hermione e então saiu veloz da enfermaria.

- Rony!- disse Neville indo atrás.

- O Rony gosta dela.- explicou Gina.- Era escondido.

Harry tinha a cabeça baixa, sentia estar muito vermelho. Sabia que Snape o observava assim como Dumbledore.

- Vamos até a minha sala.- disse Dumbledore.- Gina e Harry ficarão aqui como companhia a Hermione.

E dizendo isso ele saiu lentamente em direção à porta da enfermaria.

- Traga essa seringa e o tal embrulho para que eu dê uma olhada.- completou.

Snape seguiu veloz atrás dele com sua capa negra esvoaçante que o deixava parecido com um morcego. Minerva apanhou a carta e o embrulho e seguiu atrás de Snape. Lupin também foi logo atrás levando a seringa consigo.
Harry continuou cabisbaixo. Sabia que agora Gina olhava pra ele. Madame Pronfey estava por perto. Então ouviu-se um gemido vindo do fundo da enfermaria.

- Ah! Finalmente o garoto da briga acordou!- disse ela pouco antes de correr até lá.

Harry se assentou aos pés da cama de Hermione.

- Sinto muito, Harry.- disse Gina.- Eu não queria te fazer contar.

- Você fez certo.- disse Harry sem olhar pra ela.- Eles tinham que saber que Hermione corre risco de vida. E sobre o Rony, uma hora ele teria que saber.

- È!- concordou Gina.

- Só espero que ele entenda.- disse Harry.

- Não queria te desanimar...- disse Gina se assentando no leito ao lado.- Mas acho que ele vai demorar um pouco até entender.

- Eu sei.- disse Harry.

- E se eu conheço bem meu irmão, ele não vai querer te ver tão cedo.- disse Gina.

- Eu também sei disso.- disse Harry.

Gina não disse mais nada. Ouvia-se apenas as vozes da enfermeira e de

Goyle ao longe, mas não se podia destinguir as palavras. Harry sentia um frio na barriga e um vazio por dentro. Ele arrepiava toda vez que olhava para Hermione. Sorte Gina ter sido mais rápida que a seringa. Talvez ela não estivesse mais aqui agora se a agulha não tivesse sido quebrada com tanta violência. Se metade do líquido era suficiente para matar, imagine ele todo.

Esperava que Hermione ficasse bem logo. Agora que Rony sabia da verdade, Harry sentia que ficaria sozinho. Submerso em pensamentos ele nem escutou Madame Pronfey passando com Goyle até a porta.

- Porque vocês não vão dormir?- perguntou a enfermeira quando voltou.

- È! Temos aulas amanhã.- disse Gina.

- Eu não vou.- disse Harry.

- Mas...- fez a enfermeira.

- Deixa o garoto ficar por aqui, Papoula.- disse uma voz grave. Dumbledore estava de volta.

- Tudo bem.- concordou a enfermeira.- Mas assim que acordar, Srta. Weasley, traga uma camisola da Srta. Granger, não é bom ela ficar com essas roupas apertadas.

Gina concordou e saiu da enfermaria.

- Pode ir, Papoula.- disse Dumbledore se assentando onde antes estivera Gina.- Como está se sentindo, Harry?- perguntou assim que a enfermeira sumiu.

- Um caco!- disse Harry.

- Sua namorada ficará bem, não se preocupe.- disse Dumbledore tão calmamente como costumava ser.- Talvez durma por mais uns dois ou três dias, e depois leve mais uma semana ou dez dias para eliminar todo o veneno do corpo, nunca se sabe ao certo, mas ela ficará bem.

- Não é só isso que me preocupa.- disse Harry.

- O que é então?- perguntou Dumbledore.- Me diga e eu verei se posso ajudá-lo.

Harry pensou por um momento. E então levantou o rosto para Dumbledore.

- È que todas as pessoas a quem eu amo morrem, parece uma maldição ou coisa assim.- disse Harry.- E pode não ter sido dessa vez, mas eles não vão desistir de matá-la tão facilmente.

- È verdade!- disse Dumbledore.- Eles não vão desistir. Mas não há nenhuma maldição sobre você, Harry.

- Então me dê outra explicação para o esse fato.- disse Harry.

- Seu pai morreu pois quis proteger sua família. Sua mãe morreu para protegê-lo e a morte dela até hoje o protege.- disse Dumbledore.

- E Sirius?- perguntou Harry.- Porque ele morreu? Não me diga que foi porque fui imprudente e impulsivo. Me diga porque foi ele e não qualquer outro ali! Belatriz sim merecia morrer, Sirius não!

- Muitos que estão vivos mereciam morrer, Harry.- disse Dumbledore.- E muitos que morreram mereciam viver. È a vida, ou se você preferir, é o que as pessoas chamam de destino. Não podemos controlá-lo. Logo não podemos escolher quem morre e quem vive.

- Mas, eu fico pensando.- disse Harry.- Quando o senhor chegou, quando chegou na câmara, todos que duelavam pararam e se viraram para você, só eles que não! Porque?! Porque todos perceberam a sua chegada e eles não?

- Harry, você se lembra de quando duelou com Voldemort naquele cemitério?- perguntou Dumbledore.

- Sim.- disse Harry baixando a cabeça.

- Havia uma ligação entre vocês dois a qual causou uma ligação entre as varinhas, certo?- perguntou Dumbledore.

- Sim, mas...- disse Harry.

- Há, ou houve, muito mais entre Sirius e Belatriz do que muitos de nós imaginamos.- disse Dumbledore.

- Eles eram primos de primeiro grau, mas e daí?- perguntou Harry.

- Sinto que esse não seja o momento certo para lhe contar toda a história.- disse Dumbledore.- Mas posso me resumir a dizer que Sirius e Belatriz se amaram um dia.

- Eles o que?- perguntou Harry incrédulo.

- Eles se amaram. Sirius deveria ter seus quinze anos. Ela já estava em seu último ano em Hogwarts. Mas então Sirius saiu de casa e talvez por isso perdeu a namorada para Rodolfo Lestrange.- disse Dumbledore.

- Eles namoraram?- perguntou Harry.

- Exatamente.- disse Dumbledore.- Houve muito mais que isso, e um dia você saberá de tudo. Mas nada disso importa agora.

Harry deixou os ombros caírem.

- E o que interessa agora?- perguntou.- Hm. Aposto em como você veio até aqui me prevenir para que eu tome cuidado, que não seja impulsivo, e todas aquelas coisas que eu já estou cansado de ouvir, acertei?

- Todos concordaram que seria bom te lembrar de todas essas coisas, mas vejo que não precisarei.- Dumbledore sorriu.

Harry deu ombros e olhou novamente para os tênis. Estava cansado, já devia ser bem tarde. E ele perdera a aula de astronomia.

- Você gosta mesmo dessa garota, Harry?- perguntou Dumbledore.

Harry se sentiu incomodado. Era estranho falar desse tipo de coisa com alguém como Dumbledore.

- Sim.- disse Harry sério.

- E a outra garota?- perguntou Dumbledore.

Harry sentiu-se corar muito rapidamente. Como Dumbledore sabia de Cho?

- A Cho?- ele se viu perguntar.

- Isso mesmo. Aquela japonesinha da Corvinal.- riu Dumbledore.

- Mas o que tem ela?- perguntou Harry sentindo-se mais vermelho do que se era possível.

- Pensei que você ainda tivesse alguma coisa com ela.- disse Dumbledore.- Fiquei surpreso quando você e Gina Weasley contaram sobre Hermione Granger e você.

- Não foi nada sério.- disse Harry.- Acabou rápido. Ela sentia ciúmes de Hermione.- sorriu Harry.

Dumbledore se levantou.

- Proteja a sua amada, Harry.- disse ele.- E se eu fosse você iria dormir, ou não vai agüentar nada amanhã.- e dizendo isso saiu saltitante da enfermaria.

Harry ficou parado por um momento. Se o seu pai estivesse vivo talvez conversaria com ele sobre as garotas. Será que seria assim? Nunca na vida saberia. Ouviu passos. Madame Pronfey vinha na direção do leito de Hermione. Harry se levantou a fim de esticar as pernas. Saiu da enfermaria.

Ficou observando o corredor vazio por um tempo. Quando voltou Madame Pronfey já havia sumido novamente. Hermione estava menos pálida agora. Ainda tinha a aparência horrivelmente doentia, mas não estava mais parecendo um cadáver.

Harry acariciou seu rosto. Estava fria. Ele pegou a mão do braço que não estava enfaixado e a beijou. Ficou ali por um longo tempo olhando Hermione até que Madame Pronfey voltou trazendo uma xícara que soltava fumaça.

- Ainda está aqui, garoto?- perguntou.- Pensei que tivesse ido dormir.

- Não conseguiria dormir.- disse Harry se afastando para que a enfermeira tomasse seu lugar.

A enfermeira levantou levemente a cabeça de Hermione e deu o conteúdo da xícara em sua boca. Depois conjurou algumas gases e, dando a volta na cama, desenfaixou o braço de Hermione. Harry pode ver que um enorme machucado estava ali agora. Parecia estranhamente arroxeado.

- Aonde vamos parar!- dizia Madame Pronfey quando começou a se afastar.- Seringas vivas com Veneno Violeta!

Harry voltou para o lugar onde estava antes. Quantas horas seriam? Havia perdido a noção do tempo. Não demorou muito e ele percebeu que o dia já clareava. Ele se assentou em uma poltrona que havia ali. Sentia-se extremamente cansado. Não demorou muito e Gina apareceu.

- Aqui está.- disse a garota entregando um monte de panos à Madame Pronfey.- Ainda aqui, Harry!- disse ela virando-se para ele.

- Acho que está na hora de você ir, Sr. Potter.- disse a enfermeira.- Você tem muitas aulas hoje. Volte mais tarde.

Harry acabou concordando e seguiu com Gina para a torre da Grifinória. Deixou-se cair na primeira poltrona que viu. Gina se sentou na poltrona ao lado.

- Onde está o Rony?- perguntou ele.

- Ele foi para o banheiro masculino que fica perto da enfermaria ontem à noite.- disse Gina.- Quebrou algumas pias. Mas o Neville conseguiu trazer ele pra cá. Hoje, na hora que eu acordei ele estava saindo. Acho que ainda não voltou.

- Eu estou morto!- disse Harry.

- Acho que você deveria tomar um banho, trocar a roupa e descer para o café.

- E eu ainda tenho detenção hoje.- disse Harry.

- O Rony também.- disse Gina.

Harry deu um suspiro.

- E os pais da Mione?- perguntou Harry.- Já sabem?

- A profª. Minerva escreveu para eles.- disse Gina.

- Ah!- disse Harry se levantando.- Bom, eu te encontro no salão principal.

E dizendo isso ele subiu para seu dormitório. Simas ainda dormia. Dino saiu e chamou Gina no momento em que Harry entrava. Neville estava jogando alguns pergaminhos na mochila.

- Eu sinto muito, Harry.- disse Neville.- Por tudo o que aconteceu ontem.

Harry limitou-se a dar um sorriso pra ele.

- Temos detenção hoje a noite, não é?- disse Neville como que para puxar assunto.

- È!- concordou Harry.

- E amanhã treino de quadribol.- disse Neville.- Sabe, ainda tenho um pouco de medo de altura, mas vou me candidatar a batedor.

- Legal.- concordou Harry. Tinha se esquecido do quadribol. Será que Rony, agora, desistiria do time?


O dia não foi fácil. No café da manhã Harry não viu Rony. Não conseguiu comer muita coisa. Logo de cara teve poções dupla seguida de Transfiguração.

Rony esteve presente nas aulas. Mas fez questão de se assentar distante, sozinho. Sequer olhou para Harry.

- Sr. Potter.- disse Minerva ao fim da aula quando Harry ia saindo.
Ele foi até a mesa da professora.

- Guarde isso, e entregue a Hermione quando ela estiver boa.- disse a professora entregando um pergaminho a ele.

- Ok.- disse Harry guardando o mesmo, que reconheceu como a carta de Krum, na mochila.

Harry não foi almoçar. Seguiu para a enfermaria. Hermione, agora vestida de camisola, continuava na mesma.

- Não adianta ficar vindo aqui a toda chance, garoto.- disse Madame Pronfey.- Ela acordará daqui no mínimo mais um dia.

- Eu sei, Madame Pronfey.- disse Harry.- Eu só queria vê-la.

À tarde teve aula dupla de história da magia e depois uma aula de feitiços. A cabeça de Harry doía de cansaço e ele não tinha idéia de como daria conta dos deveres sem Hermione. Mesmo assim, às cinco em ponto Harry seguiu para a sala da Profª. McGonagall.

Draco e Rony já estavam lá. Cada um em um canto e de cara fechada. A Profª. estava concentrada em uma pilha de deveres que corrigia.
Harry entrou calado e se encostou ao lado da porta.

Draco olhou para ele. Os olhos cinzas, agora enfeitados com um hematoma, brilhavam de malícia. Ele crispou a boca e se virou para Rony.

- Vejo que o pobretão e o heróizinho estão brigados por causa da Sangue ruim.- disse ele.

- Silêncio Sr. Malfoy!- disse Minerva sem levantar o rosto para ele.

Draco obedeceu. Em seguida entraram Crabbe e Goyle na sala. E alguns instantes depois Neville.

Minerva finalmente largou a pena e se ergueu apoiada em sua bengala muito lustrosa.

- Vejo que já estão todos aqui.- disse ela.- Todos sabem porque estão aqui, certo?

- Talvez o Longbottom tenha se esquecido.- disse Draco.

Minerva o ignorou.

- Bom, como vocês são muitos vou dividi-os em grupos.- disse ela.- os Srs. Crabbe, Goyle e Longbottom irão à sala de troféus, o Sr. Filch os espera lá.

Os garotos se levantaram e saíram.

- Potter, Weasley e Malfoy irão ao campo de quadribol. Rúbeo os aguarda lá.- disse ela finalmente.- E comportem-se.

Completou enquanto Harry abria a porta. Os três seguiram calados até o campo de quadribol. Hagrid realmente os esperava lá.

- Olá garotos.- disse ele ao vê-los.- Soube que se meteram em encrenca ein?

Harry observava calado um machucado no rosto de Hagrid. Growp, pensou.

- Mas a detenção de vocês não é muito difícil.- continuou ele.- Os treinos de quadribol vão começar, então temos que dar uma geral nisso daqui.- disse ele sorrindo.- Bom, eu tenho que dar uma concertada em algumas partes da arquibancada. Enquanto isso vocês vão limpar os vestiários.

- Isso não é serviço para mim!- retrucou Draco.

- Deveria ter pensado nisso antes de caçar briga, garoto.- disse Hagrid.- Agora vão. Têm aventais no vestiário da direita.

Os três seguiram para lá. Draco parecia indignado. Rony foi o primeiro a vestir o avental e, pegando um escovão começou a lavar um dos chuveiros.

- O Weasley já deve ter a manha, não é mesmo?- disse Draco.- Seus pais não têm dinheiro para elfos. Deve ter que ajudar em casa.

Rony ignorou.

- Depois que você descobriu que estava sendo enganado por seus amiguinhos você ficou mudo?- perguntou Draco enquanto amarrava seu avental.

Rony continuou a ignorá-lo. Harry também tomou o seu escovão e rumou para as pias.

- E vocês ainda tem mal-gosto.- dizia Draco enquanto enchia um balde para jogar água no chão.- logo aquela Sangue-ruim da Hermione Granger. Tem tanta coisa melhor pra fazer dois amigos brigarem.

Não houve resposta.

- E você Potter, trocar a Chang pela Granger.- disse Draco enquanto esfregava o chão já molhado com um pano em baixo do pé.- Tá certo que ela é uma galinha e que até eu já catei ela, mas mesmo assim.

Rony trocou de chuveiro.

- E mesmo assim. Se vocês tivessem brigado por causa da Weasley gostosinha tudo bem. Mas a Granger?!- insistiu Draco.- E outra, eu imaginei que depois de vocês brigarem você ia parar de despentear o cabelo pra ficar igual ao Potter, Weasley.- completou.

Rony abriu a porta do chuveiro com violência e saiu de lá com varinha em punho.

- Rony!- disse Harry.- Não faz nada, ignora.

- Que comovente, mesmo brigados um defende o outro.- disse Draco.

- Seu eu fosse você, Malfoy.- disse Rony baixando a varinha.- Aliás, se eu estivesse todo machucado como você, eu calaria a boca.

- Mas você não é.- disse Draco continuando a esfregar o chão com o pé.- Acho um absurdo, obrigarem os alunos fazerem esse tipo de serviço.

Algum tempo depois Draco já havia terminado seu serviço. Ele olhou para a outra fileira de box que haviam ali. E então sorriu e se assentou.

- O que tá fazendo aí?- perguntou Harry.- Não acabou ainda.

- Haha!- riu Draco.- Vocês estão brincando que eu vou lavar as privadas.

- Acho que você não tem escolha.- disse Rony sorrindo.

- Me obriguem! Quero ver!- disse Draco.

Harry e Rony sacaram as varinhas. Draco procurou a sua pelos bolsos.

- Tá procurando isso?- perguntou Rony mostrando a varinha do garoto.- Você deixou cair. Que pena.

Draco se levantou e depois de chutar um balde apanhou o esfregão e foi para as privadas.

Eram quase nove horas quando Hagrid os dispensou. Harry e Rony não se falaram em momento algum. E Draco repetia a todo momento que seu pai saberia daquela detenção. O jantar já havia acabado a muito. Rony seguiu para a torre enquanto Harry foi para a enfermaria que parecia deserta. Ele abriu o cortinado da cama e se assustou ao ver Hermione. As bandagens no braço dela estavam roxas. E as veias de seu rosto estavam altas deixando-a igualmente roxa.

Harry ouviu os passos leves de Madame Pronfey se aproximarem.

- O que aconteceu a ela?- perguntou Harry engolindo em seco.

- Não precisa se assustar, garoto.- disse ela sorrindo.- As poções estão começando a fazer efeito. Ela está tendo uma melhora rápida. Creio que até amanhã à tarde ela já tenha acordado.

- E quando ela acordar?- perguntou Harry que observava a enfermeira trocar as bandagens. O machucado estava ainda maior agora.

- Quando ela acordar começará o processo para eliminar esse veneno do corpo.- explicou ela.- Terá que continuar em repouso e beber bastante líquidos. Uma semana no mínimo.

- Ela vai pirar quando acordar e souber que vai ter que ficar de molho aqui.- riu Harry.

- Minerva e Lupin disseram que não se importavam em repassar toda a matéria com ela.- informou a enfermeira.

- E esse machucado?- perguntou Harry.

- Ainda deve crescer mais.- disse ela.

- Porque?- perguntou Harry.

- Aquela agulha era feita de um metal raro, que é chamado de Metal das trevas.- disse a enfermeira.- Era muito usado para fazer as armaduras de grandes bruxo negros. Ele faz isso quando perfura a pele.

- Nossa!- disse o Harry.

- Mas aconselho que você durma essa noite.- disse a enfermeira enquanto terminava de colocar as novas bandagens.- Ou quem vai acabar aqui na enfermaria é você.

- E se ela acordar?- perguntou Harry.

- Vamos fazer um acordo.- disse ela.- Assim que ela acordar mando lhe chamar.

- Ok então.- disse Harry.- Boa noite.

Quando chegou ao salão comunal encontrou Gina.

- Suponho que foi à enfermaria.- disse ela.

- È!- concordou Harry.- E o Rony?

- Acabou de subir.- disse Gina.- Esteve tentando fazer alguns deveres mas desistiu e foi dormir.

- Eu também tinha que fazer os meus, mas estou quebrado.- disse Harry.

- Eu não queria lhe falar isso agora, mas dê uma olhada no aviso que tínhamos afixado.- disse Gina.

Harry foi até o quadro de aviso e leu.


Seleção para os novos jogadores do time de quadribol.
Quinta feira às 5 horas. Seleção para artilheiros e batedores. e goleiros.



O “e goleiros” estava visivelmente escrito com a letra de Rony.

- Eu disse a ele que não fizesse isso, mas ele está irredutível.- disse Gina.

- Eu já esperava.- disse Harry.

- O Rony às vezes é extremamente infantil!- disse Gina.- Mas espero que ele mude de idéia.

- Ele vai mudar.- disse Harry mais para si mesmo do que para Gina.- Mas agora vou dormir, boa noite.

E após dar um beijo na testa da garota ele subiu para o dormitório. O cortinado de Rony já estava fechado.

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