O reencontro (Hello)
Hello - Evanescence
Já fazia um ano que Harry tinha se trancado naquela casa. Ocasionalmente Sirius ia visitá-lo. Atualmente ele parecia já ter se conformado com a mudança do afilhado.
Durante o ano letivo Gina sempre o visitava nos fins de semana em Hogsmead. E Rony também, quando não estava viajando a serviço de Gringotes, dava sempre uma passada por lá.
E para a tristeza de Harry, apesar dos inúmeros sonhos com a garota e das dolorosas lembranças, Hermione nunca mais o alucinou.
Playground school bell rings again
Harry lia desanimado, no profeta diário, a notícia sobre a vitória das Harpias sobre os Tornados quando a campainha tocou. Ele se levantou com preguiça e foi atender.
- Como vai o meu amigo prisioneiro domiciliar de si mesmo?- perguntou Gina parada à porta sorrindo.
- Não sabia que as suas aulas já tinham acabado.- disse Harry abrindo caminho para ela entrar.
- Você já parou até de acompanhar o calendário é?- perguntou Gina.- Já faz quinze dias que eu me formei!
Harry fechou a porta com um cleque.
- Tirei um E na maioria dos N.I.E.N.s.- disse Gina.- Mas ainda não faço a menor idéia sobre o que fazer da minha vida.
- Acho que eu não sou a melhor pessoa no mundo pra te aconselhar sobre uma carreira.- disse Harry dando um sorriso amarelo.
- É.- disse Gina.- Rony chegou da Alemanha, sabia?
- Não.- disse Harry.
- Veio para o casamento.- disse Gina.- Que acontecerá amanhã.
Gina caminhou sala adentro. Em baixo da escada faltava o armário que Harry mandara tirar. Não gostava de armários em baixo da escada. No lugar do armário havia uma enorme montanha de exemplares do profeta diário atrasados que Harry mantinha ali como uma coleção. Em pelo menos 70% daqueles jornais havia seu nome escrito em alguma matéria.
- Acho que você pode subir e tirar as velhas vestes de gala do armário.- disse Gina.- E só uma curiosidade, há quanto tempo não faz a barba?
- Uns oito dias.- disse Harry.
- Pois suba e trate de fazê-la.- disse Gina.- Estou lhe esperando aqui em baixo.
Uma hora mais tarde os dois partiram para a casa dos Weasley. Houve uma festança que durou o fim de semana inteiro. Bruxos e bruxas de todos os lugares vieram prestigiar o primeiro casamento de um dos filhos do Sr. e da Sra. Weasley.
Foi a partir do casamento de Rony que as pessoas começaram a achar que Harry estava doente. Durante todo o festejo ele ficou em seu canto. Falou poucas vezes. Teve apenas uma conversa sobre a nova Azkaban com Gui e outras conversas banais sobre quadribol com os gêmeos ou com algum outro conhecido, e também um rápido diálogo em que Neville contou a Harry que estava fazendo um estágio em St. Mungus.
No restante do tempo Harry permaneceu assentado no sofá da sala dos Weasley. Vidrado no nada. Se Hermione estivesse ali ficaria feliz pelo casamento dos dois amigos. E talvez, se ela não o tivesse deixado, aquele fosse o casamento dela e de Harry também.
E então a tarde de Domingo caiu e assim que os noivos partiram para sua viagem pela Europa os convidados começaram a ir embora. Harry ainda no sofá.
Rain clouds come to play again
- Harry Potter?!
Harry se virou. Era uma garotinha ruiva, provavelmente parente dos Weasley que lembrava muito a Gina quando Harry a conheceu.
- Você é Harry Potter, não é?- perguntou ela.
- Sim.- respondeu o rapaz sorrindo.
- Foi você mesmo que venceu aquele bruxo malvado?- perguntou ela.
- Dizem que foi né...- disse Harry.
- Uau!- fez a garotinha.- Será que você pode me dar um autógrafo?
- Claro.- disse Harry.
A garotinha entregou um pedaço de pergaminho e uma pena para Harry.
- Para...- fez Harry enquanto escrevia.- Qual o seu nome?
- Hermione.- disse a garota.
Harry congelou.
- Como?- insistiu achando que não ouvira direito.
- Hermione Pye.- disse a garotinha.
- Para Hermione, um abraço do Harry Potter.- continuou Harry e então entregou o pergaminho para a garota e tentando sorrir completou.- Aqui está.
- Obrigado!- disse a garotinha.- Vou para Hogwarts no fim do verão, imagine só a cara das pessoas quando virem isso!
Harry sorriu e viu a garotinha se distanciar saltitante. Gina vinha lentamente na direção dele.
Has no one told you she´s not breathing?
- Sabe qual o nome dessa garota?- perguntou Harry para Gina.
- Hermione Pye.- disse Gina.- É minha prima de terceiro grau.
Harry soltou um suspiro.
- Eu disse que não adiantava ficar trancado naquela casa, Harry.- disse Gina.
- Desde que me mudei para lá nunca mais tive alucinações com ela.- disse Harry.
- E isso é bom!- disse Gina.
- Não, não é!- disse Harry.- O que diria o Sirius se me encontrasse no meio da noite, como você me encontrou várias vezes em Hogwarts?
- Tentaria te ajudar- disse Gina calmamente.- A superar isso.
- Eu não quero superar isso!- disse Harry.- A coisa que mais me incomodava em Hogwarts era que ela sempre vinha, sempre! E eu ia ao encontro dela, mas quando estava quase lá chegava alguém e me obrigava a voltar ao dormitório.
- Os testes para aurores desse ano serão realizados na semana que vem.- disse Gina.
- E daí?- perguntou Harry.
- Acho que você deveria procurar algo de útil para ocupar sua cabeça.- disse Gina.
- Eu leio o Profeta Diário diariamente.- disse Harry.- E grifo todos as vezes em que aparece o meu nome nele.
- Porque não escreve um livro então?- perguntou Gina.
- Pra que eu escreveria um livro?- perguntou Harry.
- Escreva a sua autobiografia!- disse Gina.
- Nem inventa.- disse Harry.- Pra que iriam querer saber sobre a minha vida? Ela foi uma desgraça!
- Não diga que a sua vida foi uma desgraça, Harry!- disse Gina.
- Mas foi!- disse Harry.
- Será que os momentos de felicidade na sua vida não significam nada?- perguntou Gina.- Será que aquilo tudo, tão belo, que houve entre você e a Mione não significa nada também?
- Esse não é um motivo para eu escrever uma autobiografia.- disse Harry.
- Escreva algo, para que a sua vida tenha sido significativa para o mundo.- disse Gina.- Escreva um livro para que daqui há alguns anos, quando o mal ressurgir, porque ele sempre ressurge, para que as pessoas sempre encontrem esperanças ao olharem o exemplo que você deixou.
Harry deu ombros.
- Nem que seja apenas para ocupar seu tempo, então!- disse Gina.- Não precisa publicar nem nada!
Harry permaneceu em silêncio. Talvez escrever sobre sua vida fosse uma forma de colocar toda a angústia que sentia para fora.
- Vou pensar.- disse ele se levantando.- Agora vou embora, estou cansado.- Ele deu um beijo na testa de Gina, se despediu do Sr. e da Sra. Weasley, de Sirius e desaparatou em casa.
Uma semana se passou e ele já tinha esquecido a idéia de Gina.
Hello I´m your mind giving you someone to talk to
Agora, assentando em sua, já tradicional, cadeira de balanço Harry pensava. Lembrava-se de um sonho que tivera com Hermione quando estava em St. Mungus. Ela dissera que a sua tarefa ainda não estava terminada e que ele deveria voltar. Mas que tarefa seria esta?
"Prometa-me Harry, que não vai deixar isso acabar com você, que vai continuar a sua vida sem mim."
"Eu não vou conseguir viver sem você!"
"Vai sim! Você é forte! E as pessoas precisam de você, Harry. Faça que a minha morte tenha valido a pena. Viva! Viva para que as pessoas ainda tenham esperanças. Viva para que Voldemort nunca obtenha uma vitória definitiva! Não deixe que ele mate você, Harry. Não deixe que nada mate você! Pois você é único, você é o único que não pode nunca morrer! Você é o Harry! Você é o meu Harry! Você é Harry Potter e você foi e sempre será o menino que sobreviveu! Ai!"
Ele fizera aquilo tudo. Sobrevivera para vencer Voldemort. Sobrevivera para se formar... O que faltava, era a sua pergunta.
Mas então a última conversa com Gina lhe veio à cabeça.
"Escreva algo, para que a sua vida tenha sido significativa para o mundo. Escreva um livro para que daqui há alguns anos quando o mal ressurgir, porque ele sempre ressurge, para que as pessoas sempre encontrem esperanças ao olharem o exemplo que você deixou!"
Hello
Talvez fosse isso! Pensou ele. Talvez fosse essa a parte do enigma que lhe faltava. Harry sorriu e se levantou. Sentia-se reaquecido agora. Ele vestiu a capa e saiu cantarolando pelas ruas de Hogsmead até a loja de penas próxima ao Três Vassouras.
- Boa tarde Sr. Sibbet.- cumprimentou Harry.
- Sr. Potter!- sorriu o balconista.- Digo-me surpreso por vê-lo fora de casa a essa hora do dia! Quem bons ventos o trazem aqui?
- É que hoje eu acordei e disse: Harry! Vamos escrever um livro!- disse Harry.
- Um livro!- exclamou o Sr. Sibbet.- E o que vai querer? Pergaminhos? Penas? Tinteiros?
- Os três!- disse Harry.
- Tenho uma coisa que talvez o interesse, Sr. Potter.- disse o Sr. Sibbet se abaixando por trás do balcão e surgindo em seguida com uma caixinha. Ele a abriu e tirou de lá uma pena dourada, muito bonita.
Harry observou o homem apanhar um pergaminho e colocar a pena, que continuou ereta pela ponta depois que o homem a soltou, no alto do mesmo.
- Escreva!- disse o Sr. Sibbet.
E a pena se mexeu deixando rabiscada apenas a palavra escreva.
- Rita Skeeter e os melhores jornalistas da atualidade possuem uma dessas!- disse Sibbet.
Harry se lembrou receoso da pena de Skeeter.
- Mas no caso de Rita, ela adulterou um pouco a pena.- completou o balconista.
If I smile and don´t believe
Harry sorriu.
- Levo uma dessa também.- disse ele.
Quinze minutos mais tarde ele entrou de volta em sua casa carregando inúmeros pacotes de material para escrever.
Naquele mesmo dia ele começou o seu trabalho. Na verdade foi muito difícil começar.
Harry Potter nasceu em...
- Não!- disse ele arrancando um pedaço do pergaminho e jogando-o fora.
Era uma vez um garoto chamado Harry Potter, o menino que sobreviveu!
- Horrível!
Harry James Potter...
- Não!
- Porque não começa falando de sua mãe?
Harry congelou. Alguns segundos depois, após absorver o choque, ele ergueu os olhos e a viu.
Soon I know I´ll wake from this dream
Hermione estava assentada sobre o encosto do sofá defronte ao garoto. Estava muito pálida e irreal. Harry sabia que dessa vez ele não estava sonhando como nas outras aparições da garota. E sabia também como ela poderia estar ali. Era uma lembrança.
- Fale sobre ela.- insistiu Hermione.- Ela é fantástica!
- Como posso falar sobre alguém que eu não conheci?- perguntou Harry tentando ficar calmo.
- Pra que está fazendo uma biografia, então, se o que você quer é escrever, unicamente, sobre a gente?- perguntou Hermione.
- E de que me adiantaria escrever sobre a gente?- perguntou Harry.- Isso não traria você de volta.
- Traria sim!- disse Hermione.- Somente com lembranças você conseguirá preencher isso.- ela apontou para o lugar onde ficava o coração de Harry.
- Posso tocar você?- perguntou Harry largando o pergaminho de lado e se levantando.
- Lembranças não são coisas sólidas a ponto de poderem ser tocadas.- disse Hermione.
- Por que passou tanto tempo sem vir me ver?- perguntou Harry se assentando novamente a alguns metros de Hermione.
- Eu tenho vindo todas as noites.- disse Hermione.- Você é que tinha fechado o seu coração para mim no momento em que tentou fugir das lembranças do nosso amor.
- Eu até tentei.- disse Harry.- Mas não consegui.- ele sorriu.- O nosso amor foi mais forte.
Silêncio. Harry fitava fascinado a lembrança de Hermione. Ela parecia preocupada.
- Porque não me leva logo para junto de você?- perguntou ele.
Ela não respondeu. Ao invés disso se levantou e foi na direção das escadas.
- Aonde vai?- perguntou Harry.
- Vou deixar você trabalhar em paz.- disse ela.- A propósito, ficou faltando o bichento no meu quarto.
Em seguida ela desapareceu.
- Espere!- disse Harry se levantado. Ele subiu as escadas correndo e foi até a réplica do quarto de Hermione que ele montara ali.- Onde você está?- perguntou ao ver o quarto vazio.- Onde?- ele olhou debaixo da cama, abriu os armários, mas nada. Ela havia sumido novamente.
Don´t try to fix me I´m not broken
Ele desceu tristemente as escadas de volta à sala e se assentou em sua cadeira de balanço. Ela queria bichento. Bichento ela teria. Ele sorriu, apanhou a capa e aparatou.
****
- Notícias de Rony e Isabel?- perguntou a Sra. Weasley a Gui que acabara de chegar do trabalho.
- Estavam passeando pela França da última vez que enviaram uma coruja.- disse Gui.
- Quando vai arrumar um trabalho, Gina?- perguntou Carlinhos de seu lugar à mesa.
- Não sei.- respondeu Gina se ânimo.
A campainha tocou.
- Vou atender.- disse a Sra. Weasley.
- Quem será a essa hora?- perguntou o Sr. Weasley.
- Sinceramente não sei, papai.- disse Gui.
- Harry?!- diz a Sra. Weasley surpresa ao abrir a porta.
- Boa noite, Sra. Weasley.- disse Harry, parecia apressado.- Desculpe-me pela hora, mas é que eu preciso falar com a Gina urgente, ela está?
- Está sim, querido.- disse a Sra. Weasley.- Entre.
Harry obedeceu.
- Não quer jantar?- perguntou a Sra. Weasley.- Estamos todos na cozinha. Junte-se a nós.
- Não, obrigado.- disse Harry.- Quero apenas falar com a Gina.
- Vou chamá-la então.- disse a Sra. Weasley.
****
- Quem era, mamãe?- perguntou Gui quando a Sra. Weasley voltou para a cozinha.
- É o Harry.- disse a Sra. Weasley.- Ele quer falar com você, Gina.
- Porque não vem jantar conosco?- perguntou o Sr. Weasley.
- Ele parece ter urgência.- completou a Sra. Weasley.
- Vou ver o que ele quer.- disse Gina se levantando. Ela correu até a sala. Harry encontrava-se de pé observando o relógio da Sra. Weasley.
- O meu também está assim.- disse ele.- Estão todos lá, menos um ponteiro que permanece sempre solitário em sua casa.
- Você está bem, Harry?- perguntou Gina.- Parece pálido.
- Ela reapareceu, Gina!- disse ele sorrindo.- Eu estava me perguntando sobre como começar o livro e ela disse: Escreva sobre a sua mãe!
- Você está tendo alucinações novamente, Harry?- perguntou Gina.
- Não foi uma alucinação!- disse ele arregalando os olhos.- Era real demais para ser mentira.
- Você mudou de idéia sobre o livro?- perguntou Gina.
- Todas as peças se encaixaram!- disse Harry.- E o que faltava era só o livro.
Gina não entendeu muito bem o que ele quis dizer.
- Você a viu, ou foi só a voz?- perguntou Gina.
- Ela estava lá!- disse Harry.- No sofá!
Ele olhou para Gina, ela não estava acreditando nele.
- Lembra-se da lembrança de Tom Riddle?- perguntou Harry.
- Sim.- disse Gina.
- Era algo como aquilo.- disse Harry.- Pálido. Apagado.
- E o que mais ela disse?- perguntou Gina.
- Ela quer o gato!- disse Harry.
- Bichento?- perguntou Gina.
- Sim!- disse Harry.- Ela disse que faltava ele no quarto.
Gina estava pensando se devia acreditar ou não em Harry. Estava preocupada com ele. Lembrava-se das crises de loucura que ele tivera durante o período de luto. Será que aquilo estava voltando?
- Você vai deixar eu levar o gato?- perguntou Harry.
- Sim.- disse Gina. Era melhor não contrariá-lo.- Mas você tem certeza de que está bem? Tem se alimentado?
- Gina!- disse Harry sorrindo.- Eu não sou uma criança de dez anos de idade pra você falar comigo assim! Eu estou bem! Aliás, estou muito bem! E obrigado pela idéia do livro. Agora busque o gato, por favor!
Hello I´m the lie living for you so you can hide>
- Aqui está, Hermione!- gritou Harry assim que chegou em casa. Ele se abaixou e soltou bichento no chão.- O seu gato! Pode aparecer agora.
Tudo continuou em silêncio.
- Bichento está aqui! Apareça, Mione!- repetiu Harry.
Novamente não houve resposta. Harry subiu as escadas e seguiu até o quarto de Hermione.
- Seu gato chegou!- disse ele.- Não vai aparecer?
Silêncio.
Harry ainda procurou por toda a casa mas não encontrou nada.
- Ela deve ter saído.- disse para si mesmo.- Vou dormir e amanhã eu a encontrarei na cozinha esperando por mim.
E ele o fez. Esperava ter sonhos tranqüilos mas no lugar destes ele teve um outro agitado.
Harry se via defronte ao salgueiro lutador. Bichento apertou o nó da árvore deixando aparecer o túnel. Com o gato à frente ele entrou no túnel e caminhou pela escuridão até a casa dos gritos. Quando chegou até lá encontrou a mochila de Hermione. Ela tremia.
Harry se viu abaixar até a mochila e abri-la. No meio de um mundo de livros, penas e pergaminhos, ele encontrou o objeto que tremia. Era um estranho caderno totalmente em branco.
Sem hesitar Harry apanhou-o e abriu-o. O objeto parou de tremer e então Harry pôde ler as palavras Você deve terminar o que começou. Ele mal terminou de lê-las e elas desapareceram.
- Você deve terminar o que começou!- repetiu o Harry do sonho. Mal ele terminara de falar e uma segunda voz, que era quase um ruído baixo, soou fria e arrastada.
- Termine agora, Harry Potter!
Harry sentiu um frio lhe subir pela espinha e em seguida ele ouviu uma porta no andar de cima bater.
Ele olhou à volta à procura de alguma coisa ou de alguém mas assim que ouviu os passos secos descendo as escadas ele desatou a correr de volta para Hogwarts. Logo ele saltou para fora do túnel do salgueiro, sendo atingido por um galho do mesmo em seguida.
Harry se ergueu limpando um filete de sangue que lhe escorria do lado esquerdo do rosto e desatou a correr na direção da cabana de Hagrid. Ele passou por ela veloz e foi na direção das estufas quando de repente tropeçou em uma raiz e caiu no chão. Só então percebeu que nevava.
O rapaz se levantou limpando a neve da roupa. Sentia frio. Não se lembrava de estar vestindo a camiseta vermelha que ganhara da Tia Petúnia fazia já alguns anos.
- Termine o que começou, Potter!- disse uma terceira voz. Esta era arrastada e esnobe.
Harry ergueu os olhos e viu Draco Malfoy. Este tinha a espada cravejada de rubis enterrada nas costelas. Mas parecia não fazer diferença alguma pois ele estava de pé normalmente.
- O que foi? Se acovardou agora?- perguntou Draco.- Está com medo de sujar as suas mãos?
Don´t cry
Harry recuou alguns passos até colidir com uma árvore.
Draco arrancou sem piedade a espada do próprio corpo e atirou-a contra Harry, este ergueu um dos braços a tempo de escapar da espada. Ele baixou os olhos e viu a mesma enterrada por cima da marca que havia ali. A marca da espada que matara Hermione.
Harry desencostou da árvore e saiu correndo em direção ao castelo. Draco gargalhou alto. Mas quando ele alcançou a porta do saguão de entrada esta se abriu com um estrondo e o garoto viu Voldemort surgir por ela.
- Veio terminar aquilo que começou, Harry?- perguntou ele com a voz fria.
Harry assustado voltou correndo de volta para o lugar onde estava. Mas então ele viu Draco novamente e ao tentar parar acabou caindo na neve de novo.
Sua cicatriz doía e ele sentia uma enorme dor na barriga. E então ele percebeu que a camiseta que ele usava estava vermelha, na realidade, por estar coberta de sangue. Draco e Voldemort estavam parados olhando-o de cima e rindo. E então ele a viu...
- Hermione!
Harry acordou ensopado de suor. Já era dia. Ele ouviu um miado. Bichento espreguiçava em um canto do quarto. Ele se levantou e foi até a cozinha tomar um copo de água.
Na casa reinava o completo silêncio. Hermione não voltara. Talvez ele devesse escrever um pouco antes de vê-la novamente. E foi isso que fez.
Harry escreveu desesperadamente até que setembro passou e trouxe outubro, e até que o último começou a findar levando parte de suas energias.
Suddenly I know I´m not sleeping
- Harry?!- Era Gina.
- Sim.- respondeu o garoto em sua cadeira de balanço tradicional.
- Ah! Você está aí!- disse Gina caminhando até próximo a Harry e se assentando por ali.
- Pensei que as pessoas tinham me esquecido.- disse Harry.
- Sirius está trabalhando.- disse Gina.- Por isso não tem vindo mais.
- Trabalhando?- perguntou Harry.
- Sim.- disse Gina.- No Ministério.
- E você?- perguntou Harry.
- Recebi ontem, uma proposta.- disse ela. Harry viu que ela segurava um pergaminho nas mãos trêmulas.- Uma vaga no departamento de Mistérios.
- Não vai aceitar?- perguntou Harry.
- Não sei.- disse Gina.- Eles exigem de mim um curso de magia experimental avançada. Teria que passar dois meses na Hungria pra isso.
Silêncio.
- Não sei se tenho vontade de trabalhar.- disse Gina.
- Não siga o meu exemplo, Gina.- disse Harry.- Não sou bom exemplo para ninguém.
- Acho que vou fazer o curso.- disse Gina.- E depois resolverei o resto.
- É.- concordou Harry.
- Vou ficar preocupada com você.- disse Gina.- Com Sirius ocupado. Quem virá visitar-lhe?
- Hermione!- sorriu Harry.
- Ela está morta, Harry!- disse Gina.
- Ela logo vai voltar.- disse Harry sonhador.
- Quando foi a última vez que você a viu?- perguntou Gina levemente preocupada.
- No dia em que busquei Bichento.- disse Harry.
- Não deve acreditar nessas visões.- disse Gina.- Isso não é nada saudável.
- Mas ela não voltou pois eu me recusava a escrever.- disse Harry.- Mas agora ela voltará. Eu terminei, Gina! Eu terminei o livro.
Gina desviou os olhos para uma montanha de pergaminhos à esquerda de Harry.
- Agora eu estou livre!- disse Harry.- E ela poderá me buscar.
- Você não está pensando em suicídio, Harry.- disse Gina.- Ou está?
- Pra quer suicidar se ela virá!?- disse Harry com um brilho estranho nos olhos.- Acredite, Gina!
Gina olhou para Harry com os olhos cheios de pena.
- Pode fazer o seu curso na Hungria sossegada.- disse Harry já normalmente.- Eu lhe esperarei...
Gina hesitou, nos dias que se seguiram, sobre ir para a Hungria ou tentar cuidar de Harry. Acabou seguindo o seu caminho tentando acreditar que Harry a esperaria. E ele realmente a esperou.
Gina abriu a porta do casarão e entrou. Logo viu Harry na cadeira de balanço. O rapaz parecia ter envelhecido dez anos nos últimos dois meses. Ela correu até ele e o abraçou.
- Pensei que não o encontraria aqui.- disse ela.
- Sou um homem de palavra.- a voz dele soava triste.
Silêncio.
- Mas está chegando a hora, Gina.- continuou Harry.- O natal se aproxima, e depois dele vem aquela data.
- Quero que você se junte a nós neste natal!- disse Gina.- Mamãe chamará Sirius também!
- Por mim não fará a mínima diferença.- disse Harry com certo desprezo.
- Porque diabos você não consegue se levantar desta cadeira e fazer alguma coisa?!- perguntou Gina. Aquela moleza de Harry começava a irritá-la.- Você tem apenas 19 anos e age como se fosse um velho centenário à caminho da morte.
- Olhe para mim, Gina!- disse Harry.- Veja no que eu me transformei! Um rapaz de 19 anos que já tem seus cabelos brancos!
- Hermione não ficaria feliz por vê-lo definhando desta maneira!- disse Gina.
- Hermione está morta!- disse Harry.
- Não é você mesmo que diz que ela vem visitá-lo?
- Ela está morta!- repetiu Harry. Gina viu os olhos dele úmidos.- E quando digo que ela me buscará, Gina, quero dizer que eu não tardarei a partir também!
- Pare com isso, Harry!- disse Gina.- A morte não é a única solução para você!
- As nossas perdas podem ser parecidas, Gina, mas não são as mesmas!- disse Harry.- Você amava aquele garoto, eu não duvido disso, mas ele não era um pedaço tão crucial de você quanto Hermione era de mim.
- Não vou ficar gastando a minha energia com as mesmas discussões de sempre!- disse Gina.- Eu lhe busco para o natal.
- Não venha!- disse Harry.
Gina deu ombros e desaparatou.
Depois da pequena discussão com Harry, Gina esteve profundamente irritada com o amigo. Tanto que não o buscou no natal e sequer ligou quando Sirius chegou sorridente com uma grande caixa.
- Presente de Harry.- disse ele feliz.- Parece que é um livro, que ele começou a escrever e gostaria que eu terminasse.
- A propósito, porque ele não veio, Gina?- perguntou a Sra. Weasley.
- Harry está louco, mamãe.- disse Gina secamente.
Hello I´m still here
Harry acordou com o som da coruja, que trazia sempre o jornal, na janela. Ele pagou a ela um nuque e voltou para sua cadeira.
Fazem 3 desde a invasão à Hogwarts.
Este era o tema da matéria principal. Harry dobrou o jornal novamente e o jogou para debaixo da escada junto com os outros. Não queria encher a cabeça com matérias idiotas naquele dia tão especial.
Ele subiu as escadas, não penosamente como de costume, mas animadamente. Seguiu até seu quarto e trocou as melhores vestes que possuía, vestiu a velha capa esmeralda e se postou diante do espelho. Ele estava novamente belo e jovem segundo o seu reflexo.
Harry sorriu. Sentia novamente a felicidade invadi-lo. Depois de tentar, sem sucesso, ajeitar os cabelos ele caminhou de volta à escada. A sala desorganizada havia desaparecido dando lugar a um enorme salão preparado para festa. Estava lotado.
Enquanto descia as escadas, sorridente, Harry viu vários rostos conhecidos ali. Hagrid acenou para ele. Cho e Cedrico, felizes a um canto, também. E quando ele alcançou o pé da escada ele viu um casal que lhe chamou a atenção. Era um homem mais ou menos da sua altura, com o mesmo rosto fino e os mesmos cabelos arrepiados e negros, que estava ladeado por uma mulher muito bela de cabelos acaju e os olhos amendoados de um tom verde vivo. Eram seus pais.
Era estranho, mas Harry sabia exatamente o que todas aquelas pessoas estavam fazendo ali. Ele caminhou até seus pais.
- Onde está ela?- perguntou ele.
Mas nenhum dos dois respondeu. Ao invés disso Lílian abraçou o filho e deu-lhe um beijo na testa.
- Você está lindo, Harry.- disse ela. Sua voz era suave, reconfortante.
- Dê cá um abraço no seu pai, Harry!- disse Tiago. Harry obedeceu. Aquele abraço era o abraço que ele havia sonhado por toda a sua vida. Era quente, firme e capaz de espantar todos os medos que ele poderia ter naquele momento.
E então Harry viu que todos olhavam para cima. Ele também olhou e a viu. Ela estava deslumbrante. Vestia um belíssimo vestido branco e tinha um irresistível sorriso no rosto.
Harry a acompanhou com os olhos enquanto ela descia as escadas. Quando ela chegou ao pé da mesma ele caminhou lentamente até ela.
- Você está lindo, Harry.- disse Hermione.
- Quanta saudade, Mione.- disse Harry.
- Eu te amo!
Harry não respondeu mais nada. Ao invés disso ele a beijou. E foi mais um daqueles momentos em que a gente sente os pés deixarem o chão e nos levarem ao espaço junto com os nossos medos, um daqueles momentos mágicos pelos quais ele tanto procurara nos últimos exatos três anos.
Mas agora ele havia encontrado. Ele havia conseguido. Ele estava novamente ao lado de sua amada.
****
All that´s left of yesterday
Gina bateu na porta. Não houve resposta. Notou que a porta estava destrancada. Entrou.
Viu bichento no sofá e a nuca de Harry na poltrona virada para ela.
- Harry!- disse ela.- Vim trazer boas notícias a você. Isabel está grávida!
Silêncio.
- Harry?- chamou Gina e então um súbito arrepio lhe subiu pela espinha. Ela deu a volta na poltrona e viu o que temia ver. Harry parecia adormecido, trajava suas melhores vestes. O rosto em paz, como se tivesse dormido extremamente feliz. Mas não estava dormindo. Ele não respirava mais. Estava morto.
Nunca se soube muito bem o que aconteceu. Alguns disseram que Harry morreu de depressão. Outros acreditavam que ele tinha suicidado. Ainda tinha os fantasiadores que diziam que ele havia sido vítima de uma maldição deixada por Voldemort. Ou ainda que um comensal, que escapara dos Aurores, havia vingado a morte de seu mestre matando Harry. Talvez a única pessoa que obteve a resposta certa fora Gina: Hermione o buscara.
Depois da morte de Harry ela encontrou motivação para dar rumo à sua vida. Aceitou a vaga no ministério e trabalhou. Não se casou e nem se envolveu com nenhum outro homem. Morreu jovem, aos trinta e dois anos, vítima de um acidente de trabalho no Departamento de Mistérios. Alguns dizem que ela sabia que morreria, pois voltou à Hogwarts para se despedir do fantasma de Draco Malfoy uma semana antes de sua morte.
Um ano após a morte de Harry, crianças do mundo inteiro podiam trocar figurinhas, com o rosto dele, que vinham nos sapos de chocolate.
Harry James Potter, que morreu em 2008, é famoso por ser o único bruxo na história a sobreviver a um Avada Kedrava, por ter vencido o maior bruxo das trevas de todos os tempos, Lord Voldemort, em 2006 e também por ter sido campeão do último Torneio Tribuxo da história, que aconteceu em Hogwarts no ano de 2003. Potter gostava muito de quadribol, jogava como apanhador e era excelente em Defesa Contra as Artes das Trevas.
Os calouros de Hogwarts ficavam sempre fascinados com um quadro do garoto que havia no corredor de DCAT.
Os vários filhos de Rony, sobretudo, tinham orgulho de dizer: "Meu pai era um dos melhores amigos desse cara!"
Um dos livros mais vendidos atualmente na Floreiros e Borrões é o Harry Potter, um herói. por Sirius Black.
No dia do enterro de Harry, bruxos e bruxas do mundo inteiro encheram as ruas de Hogsmead. Gina seguiu à frente do cortejo, ao lado de Rony, Sirius e Dumbledore. Após o funeral a garota voltou para casa. Sentia-se cansada.
As frases ditas na sua última conversa com Harry ainda ecoavam em sua cabeça. Ele morrera brigado com ela.
Gina lavou o rosto cansado e tomou um copo de chocolate quente enquanto observava a neve caindo lá fora.
Durante muitos e muitos anos que se seguiram as pessoas debateram o que era a cicatriz de Harry. Mas ela, Gina, sabia muito bem o que era.
Ela sabia que na realidade, na noite em que os Potter se foram, Voldemort não marcara Harry apenas com aquela cicatriz em forma de raio na testa. Ela sabia muito bem que a verdadeira cicatriz estava por dentro. A cicatriz de Harry era na verdade o vazio causado pela ausência das pessoas que ele tanto amava.
Era a ausência dos pais. A ausência de Hermione. E no fim a cicatriz dele se tornara tão grande que ele optara também pela ausência da felicidade.
Gina acreditava, que na realidade, todas as pessoas que viveram naquela época, que sofreram com aquelas guerras... Todas possuíam, mesmo que muito bem escondidas, a sua própria cicatriz.
Nota da autora: Sem querer prestei atenção em uma musica do Evanescence um dia desses e acabei reparando que ela tinha muito a ver com o último capítulo da fic. Aí fiz uma espécie de "bônus" pra vocês. Acho que vale a pena lembrar que muitas das frases da música foram usadas como metáforas. Espero que gostem. Beijos. Julia Roquette (O que eu não faço por minha fic: Eu odeio Evanescence!)
Comentários (1)
Li novamente depois de, sei lá uns 6-8 anos desde que li a primeira vez essa história. Não tenho certeza hoje, mas me parece que foi a primeira que eu li quando descobri a floreios e borrões. Achei o final bem condizente com a história, acho demais a imaginação que é necessária e quantia de detalhes colocada na fic. Parabéns a autora, me fez mergulhar no mundo de Harry Potter mais uma vez depois de um longo tempo longe. Só agradeço por ter me lembrado da magia que é esse universo, e espero que sempre existam pessoas como você que se dispõe a manter essa magia viva compartilhando suas histórias. Até, André.
2020-04-27