O bosque



CAPITULO2

O dia seguinte amanheceu ensolarado. Harry e Rony foram acordados pelo Sr. Granger.

- Bom dia, garotos! Acordem, vou levá-lo até Greelin e lá permanecerão até o final das férias.

Harry levantou-se sonolento e começou a se trocar, tinha dormido bem, a briga com Hermione o fizera praticar oclumência antes de adormecer.

Hermione não apareceu durante o café, somente na hora de partir é que Harry a viu. Ela viajou no banco da frente, provavelmente para não ter de olhar para Harry, que estava sentado atrás dela. Mesmo assim os olhos dos dois se encontraram algumas vezes no retrovisor.

Rony seguia satisfeitíssimo. Tirando os carros do ministério, nunca tinha viajado em carros trouxas antes.

Depois de três tediosas horas de viagem chegaram a tal cidade, se é que poderia ser chamada assim. Na entrada foram obrigados a parar em um posto de fiscalização.

- Bom dia doutor!- disse um homem jovem de macacão e boné azuis e aparência sonolenta e suja. - A fiscalização por aqui agora é apertada, sabe? Por causa daqueles fugitivos perigosos lá... passou no noticiário.

O Sr. Granger tirou um papel amarrotado do bolso e o estendeu pela janela. O homem apanhou-o e leu atentamente enquanto coçava a barba à fazer. Uma sombra de seriedade cobriu seu rosto quando ele meteu a cara dentro do carro.

- Vocês são o pessoal de Dumbledore, certo?- disse após um pigarro enquanto examinava a todos. - Esperem um minuto.

Ele deu as costas ao carro e, num passo expedito, sumiu por trás da casinha da fiscalização. Voltou, menos de minuto depois, montado em uma lambreta.

- Sousa!- chamou, reassumindo o perfil rústico inicial. - Marca aí.- e, virando-se para o Sr. Granger.- Estarei seguindo vocês.

O Sr. Granger arrancou o carro, muito compenetrado. Seguiram devagar, o bizarro homem da lambreta ia logo atrás.

Greelin era realmente uma cidade pequena com sua praça principal, onde instalava-se uma igreja e uma prefeitura trouxa. As casas eram antigas, mas caprichosamente cuidadas. Após menos de duas esquinas estavam seguindo pela Rua Principal.

Harry observava preguiçosamente os enormes jardins tipicamente suburbanos quando o Sr. Granger parou o carro defronte uma das casas mais belas da rua. Como todas as outras, contava com seu enorme jardim frontal, cercado por graves grades negras. Havia toda a espécie de plantas no jardim. A casa era grande e imponente com paredes brancas e janelas pintadas de azul, estas escancaradas.

- Chegamos, garotos. - disse o Sr. Granger saindo do carro.

Hermione e os garotos fizeram o mesmo. O homem da lambreta parou logo atrás.

- Bom doutor, pode ficar tranqüilo quanto às crianças, eu me garanto.- disse ele batendo a mão sobre um dos bolsos do macacão.- Mas vamos entrar.

O grupo entrou na casa seguido por Bichento. Uma senhora setuagenária de cabelos brancos desgrenhados veio correndo da cozinha para dar boas vindas.

- Olá vovó.- disse Hermione abraçando a velha.

- Como vai meu querido genro?- perguntou a velha sorrindo para o Sr. Granger.

- Bem, obrigado.- disse o homem com um tímido sorriso no rosto.

- Estes são Rony e...- disse Hermione indicando os garotos.

- Harry. - completou Harry.

- Oh! Sejam bem vindos, queridos.- disse ela sorrindo para os garotos.- Venha à cozinha, vamos comer alguma coisa.

O grupo a seguiu e logo estavam em uma enorme cozinha - que lembrava um pouco a dos Weasley - havia nela uma enorme mesa com cumpridos bancos de ambos os lados. Todos se assentaram por ali. Hermione, Rony e Harry de um lado, o Sr. Granger e o homem da lambreta do outro. O último parecia íntimo da casa.

A avó de Hermione serviu suco de maçãs - cultivadas no terreiro daquela mesma casa - e um delicioso bolo. Só então o homem da lambreta começou a falar.

- Devo informar a vocês três sobre as ordens de Dumbledore.- disse ele.- O que ele me pediu foi muito simples, resumido e claro: Vão chegar os três jovens, as varinhas deles ficarão bem guardadas, de preferência no cofre da casa de D. Meg; objetos bruxos não serão exibidos por aí, e ninguém sai ou entra até que Ninfadora vá buscá-los para as aulas. Qualquer problema devem, antes de mais nada, procurar Tobias.- disse o homem come se já soubesse aquilo de cor há muitos anos.

- O Cofre fica no sótão.- informou D. Meg servindo doce de abóbora.

- E quem é Tobias?- perguntou Rony com a sobrancelha erguida.

- Eu, obviamente. - disse o homem da lambreta. - Tobias Bones.- completou sorrindo.

- E onde nós o encontraremos?- perguntou Harry tirando a varinha do bolso interno da jaqueta e depositando-a sobre a mesa, Rony e Hermione fizeram o mesmo.

- Na casinha de fiscalização. - respondeu enquanto recolhia as três varinhas e tirando a sua própria do bolso conjurou uma caixa fina e guardou-as ali. -Alguma pergunta?

- Sim.- Disse Hermione curiosa.- Quem é você? O que faz?

- Na verdade sou especializado em disfarces.- disse ele sorrindo.- Sou auror.- completou - Fui colega de Tonks. Se isso lhe servir como referência positiva.

- E... Você tem alguma notícia de meu irmão?- perguntou Rony.

- Hum.- fez ele olhando interessado para Rony.- Não, não... Mas, caso sirva de consolo, aquele interessante relógio de sua mãe ainda não marca perigo mortal.- sorriu.

Harry instantaneamente lembrou-se do presente de Luna, esquecido em sua mochila. Ainda não aprendera a usá-lo, talvez Hermione soubesse, mas sua birra ainda perdurava.

- Você é Harry Potter, não?- disse ele olhando a cicatriz na testa de Harry, que se sentiu incomodado.- Você realmente se parece com seu pai.

- Você conheceu meu pai?- perguntou Harry.

- Sim, eu devia ter a sua idade quando Voldemort caiu, não precisa fazer essa cara Weasley.- disse ele para Rony.- Sou o único sobrevivente dos Bones que faziam parte da ordem.

- Pensava que todos estavam mortos.- disse Hermione.

- Não, eu estava em Hogwarts, estudando. - disse ele sem demonstrar a mínima infelicidade.- Fiquei morando com meus tios. Os outros Bones, vocês devem conhecer minha prima, Susana Bones.- Os três fizeram que sim com a cabeça.- Dois anos depois me formei e entrei para a escola de aurores.

A conversa seguiu por um bom período. Tobias contou sobre como conseguiu um emprego no Ministério, como Tonks o levou até a ordem.

Mais tarde o Sr. Granger se despediu e partiu, Tobias não tardou a fazer o mesmo. “Voltar para o seu posto”, como disse. Vó Meg, depois de levar os garotos para seus quartos, voltou-se para o almoço. Hermione ficou em um quarto de duas camas. Rony em Harry em outro, ao lado, um pouco maior, com beliches. Cada qual assumiu o seu e trataram de ajeitar suas coisas nos respectivos quartos espaçosos.

- Aquele cara é legal!- disse Rony parecendo mais animado enquanto ele e Harry trocavam de roupa, fazia um enorme calor.

- Realmente... Prometeu-me que vai arrumar mais uma foto de meus pais.- comentou Harry quando ouviram uma batida na porta. Era Hermione. Quando acabaram de se vestir ela entrou, usava um vestido trouxa florido.

- Rony! Você vai assustar as garotas trouxa trajando essa camiseta roxa com a bermuda laranja. - disse ela rindo. - coloca alguma coisa... branca talvez.

Rony ficou meio sem jeito e Harry teve que segurar para não rir, não queria rir, é claro, queria ignorar Hermione.

Rony trocou a camiseta por uma branca surrada. Desceram para almoçar. Rony lembrou-se de que Gui conhecia Tobias e contava qualquer coisa sobre ele. Mas nem Hermione nem Harry prestavam atenção. Ambos olhavam para seus respectivos pratos. Pensavam naquele agastamento mútuo entre os dois.

- Porque vocês não dormem um pouco?- perguntou Vó Meg após a sobremesa.- Para poder sair mais tarde.

Rony, que havia almoçado como alguém que não come há séculos, gostou da idéia. Para evitar Hermione, Harry seguiu o amigo, ao chegar no alto da escada ainda pôde vê-la logo atrás.

Rony entrou no quarto e logo apagou na cama debaixo de seu beliche. Harry não dormiu, não tinha sono. Queria alguém para conversar. Não queria procurar Hermione, tinha medo de que ela não aceitasse desculpas e um súbito arrependimento surgiu dentro dele, que sentado no parapeito da janela admirava o enorme terreiro da casa. Repleto de árvores e um riacho.

No quarto ao lado, Hermione também pensava em Harry. Talvez ela tivesse sido dura demais com ele. Apesar da animação geral na casa, ele parecia triste. Ainda pensava nisso quando ouviu alguma coisa vibrar em sua mochila.


Meus planos deram certo, acabei de pegar um trem em Londres indo para Greelin. Estarei aí no final da tarde. Em que rua vocês estão?

Gina.


Hermione sorriu. Teriam uma surpresa em breve. Principalmente o Harry.

- Bichento?- Chamou ela após escrever no caderno: “Bichento lhe encontrara, de preferência, avise quando estiver chegando.”

Ela foi até a janela e viu o gato no meio do terreiro lá em baixo. Guardou o caderno e saiu do quarto em direção às escadas. Harry estava assentado na porta de seu quarto. O estômago de Hermione despencou.


*


Rony roncava muito alto. Provavelmente porque comera muito. Harry olhou para a porta. A casa de Vó Meg era uma grande a antiga casa, muito arejada. Por todo o corredor havia janelas e poltronas. E também muitos quadros trouxas. Harry sentiu vontade de se sentar em uma poltrona qualquer e pensar um pouco. Entre seu quarto e o de Hermione havia uma que parecia perfeita. Assentou-se e permaneceu ali por algum tempo, por mais que tentasse Hermione não saía de sua cabeça.

Oras Harry, você ouviu o que o Rony disse, ambos estão errados! Você conhece Hermione, ela não vai lhe pedir desculpas.

Tomou uma decisão, iria escrever uma carta e colocá-la na cabeceira de Hermione durante a noite. Por mais que parecesse uma atitude feminina e infantil, não tinha idéia melhor.

Entrou em seu quarto e apanhou pergaminho, pena e tinta. Depositou-os sobre a mesinha do corredor e começou a pensar no que escrever. Ouviu passos, Hermione cruzava o corredor. Harry afundou na poltrona, baixou os olhos para o pergaminho em branco e fingiu escrever.

Então ela passou direto, sequer olhou pra ele.


*


Hermione virou a dobra da escada e sorriu. Harry era um péssimo ator, pensou. Venceu os últimos degraus e seguiu para o terreiro, Bichento estava por ali. Ela se assentou ao pé de uma árvore, o gato foi até ela e deitou-se em seu colo.

- Você conhece a Gina.- disse Hermione em um tom baixo para o gato ouvir.- Ela vai chegar na estação, você sabe onde é. Lembra-se? Estivemos aqui no início do verão passado e chegamos de trem. Fique lá até que ela apareça.

O gato miou, baixo também, Hermione sorriu. Bichento levantou-se preguiçoso e sumiu pelo terreiro.


Devia ser cinco da tarde quando Hermione entrou no quarto dos garotos.

- Vamos andar um pouco?- convidou olhando diretamente para Rony. Ela parecia feliz.

- Sim.- disse Rony defronte o espelho da penteadeira. Tinha os cabelos molhados, pois a pouco saíra do banho. Usava agora a camiseta laranjada com uma Jeans. Passava a mão rapidamente pelo cabelo espirrando água por todos os lados.- Aonde vamos?

- Talvez visitar Tobias.- sugeriu Hermione.- O que pretende Rony?

Harry que antes estava concentrado no pergaminho onde agora estava a carta que mandaria a Hermione mais tarde, olhou para o amigo que ainda mexia no cabelo.

Repentinamente ele lembrou-se de seu pai que também fazia aquilo com os cabelos como Harry viu na penseira de Snape.

- Estou arrumando meu cabelo.- disse Rony sério.- Acho que ele fica legal assim.

Harry não pode deixar de sorrir.

Hermione olhou para ele, usava a camiseta vermelha que ganhara de sua tia. Estranhamente emanava vulnerabilidade. Achou que ele ficava muito bem de vermelho.

- Vamos.- disse Rony, finalmente. Harry, concordou calado, levantou-se e guardou o pergaminho no bolso.

Os três desceram calados. Uma vez fora de casa, seguiram reto.

- Nunca andei, assim, em uma cidade trouxa antes.- disse Rony mais uma vez passando a mão pelo cabelo.- o que é aquilo?- perguntou ele apontando para uma pequena casa de jogos.

- Fliperama. - respondeu Harry que tinha as mãos nos bolsos. Um grupo de quatro meninas se aproximou.

- Hermione!- disse uma delas que era morena e tinha os cabelos negros e lisos.- Você por aqui.

- Esteve sumida. - disse uma outra garota baixinha e loira.

- Estudando. - respondeu Hermione dando um sorriso que Harry julgou ser nem um pouco agradável.

- Quem são?- perguntou a primeira.

- Dois amigos de escola. - disse Hermione e indicando Rony com a cabeça.- Rony Weasley.- e indicando Harry.- Harry Potter.

Rony, vermelho, estendeu a mão para uma terceira menina que lembrava muito Hermione em versão alta e magra.

- Prazer.- disse Rony estendendo a mão para todas as outras. Harry limitou-se a dar um oizinho de longe.

A menina morena apresentou as garotas. Ela própria se chamava Arminda Bá, a loira pequenina era Ann Partier, a alta, parecida com Hermione era Helena Granger, e a quarta, uma garota de cabelos negros e olhos azuis, pele meio rosada, era Elisabeth Crow.

- Como vão tio Josh e tia Márcia?- perguntou Hermione para Helena.

- Muito bem.- respondeu ela.- Papai está na a França a trabalho, e mamãe ficou em Londres.

- Ah!- disse Hermione, não parecia exatamente feliz com o encontro.- Bom, a gente se vê por aí.

- Apareçam no pub mais tarde.- disse Arminda quando já se distanciavam.

- Meninas chatas.- resmungou Hermione.

- Me pareceram simpáticas.- Respondeu Rony passando a mão sobre o cabelo, mais uma vez.

Uns vinte minutos depois chegaram à casinha de fiscalização, ficava bem longe da casa de Vó Meg. Tobias abriu a porta e os convidou a entrar. Antes que o fizessem bichento apareceu, vinha correndo, miava alto. Hermione não pode esconder um sorriso. Os três entraram e assentaram-se, aceitaram o suco que Tobias ofereceu e não tardiamente engataram uma animada conversa.

Hermione claramente não prestava atenção. Escolhia cuidadosamente uma desculpa, meia hora depois levantou-se.

- Estou me sentindo indisposta. Vou pra casa, vocês sabem o caminho, certo?- disse ela.

Rony concordou com a cabeça e ela saiu rapidamente seguida por Bichento. Hermione seguiu veloz o caminho de volta ao centro, Bichento ia à frente, logo estavam entrando na casa de Vó Meg.

- Aconteceu alguma coisa, querida?- perguntou a velha assentada na varanda.

- Hum.- Fez Hermione.- É só uma indisposição.

Dizendo isso subiu as escadas correndo até seu quarto, ao entrar deparou-se com um gato muito parecido com bichento. Tinha um belíssimo rabo escovinha e o pelo de um tom muito, muito vermelho. Hermione fechou a porta e sorriu fascinada. O gato miou e com um quase-estalido transformou-se em uma menina ruiva de brilhosos olhos castanhos.

- Gina!- disse Hermione.

- Oh Mione!- disse a garota se levantando e abraçando a amiga calorosamente.- Onde estão os garotos?

- Estão na rua.- disse Hermione.- Não sabem que você está aqui.

- Como não?- perguntou Gina.

- Eu e o Harry temos nos desentendido. - disse Hermione levemente infeliz. - Vamos até a cozinha: você come algo e eu lhe conto tudo.

- Despachei uma carta pra mamãe, de Londres, avisando que eu estou aqui.- disse Gina enquanto desciam as escadas.

- Eu lhe diria que o fizesse, assim que chegasse.- disse Hermione.- Vó.- disse à Vó Meg, que ao ouvir vozes havia entrado.- Essa é Gina, irmã de Rony.

Vó Meg olhou Gina de cima a baixo, e então sorriu.

- Que tal um lanche?- sugeriu a velha.

As três seguiram para a cozinha, Hermione contou à Gina sobre os desentendimentos com Harry.

- Ah! Hermione, vocês não deviam ter brigado.- disse Gina.- Logo você, que sempre me diz que devo ter calma.

- O Harry estava me tirando do sério, Gina.- disse Hermione.


*


Harry e Rony agora caminhavam de volta para casa, passava das sete da noite. Passavam pela pracinha quando alguém gritou.

- Rony! Ei! Rony.

Os dois olharam à volta, e viram numa, lanchonete lotada, as quatro meninas que haviam conhecido mais cedo.

- Vamos lá Harry.- disse Rony, Harry queria ir pra casa, a carta de Hermione agora queimava em seu bolso.

-São garotas trouxas, Rony!- disse Harry.

- Quem se importa?- disse Rony mais uma vez bagunçando o cabelo.- São garotas.

Harry realmente não queria ir, mas Rony esta se distraindo, esquecendo um pouco do irmão, optou por fazer sua vontade.

Se juntaram às garotas.

- E aí, querem beber alguma coisa?- Perguntou Ann.

- Não obrigado. - disse Harry apressadamente.

- Vocês são de onde?- Perguntou Arminda.

- Grande Londres.- Respondeu Harry.

- A gente também.- disse Helena. - Onde vocês estudam? Fica em Londres?

- Não.- disse Rony, Harry gelou.- è a mesma escola de Hermione.

- Ah!- fez Helena franzindo a testa.

A conversa seguiu como uma espécie de entrevista, Harry deixou Rony ser o protagonista, as meninas estavam de cima dele. Em algumas perguntas Harry precisava intervir, como quando Helena perguntou se Rony praticava algum esporte.

- Futebol!- disse Harry

- Sou goleiro.- sorriu Rony

Já passava das nove quando Harry deu-se por vencido e foi embora.

- Pode deixar o Rony aqui.- disse Helena dando um sorriso brejeiro.- Se ele não souber o caminho a gente leva ele em casa.

Harry olhou para Rony, que conversava animadamente com Ann enquanto passava a mão pelos cabelos.

- Pode ir Harry.- insistiu Helena.

Ele se despediu e foi embora.

Ao atravessar o jardim da casa encontrou Vó Meg.

- Boa noite.- disse ele à velha, que retribuiu com um aceno de cabeça.

Por incrível que pareça, a noite era morna e sem vento. Fazia realmente muito calor. Harry subiu as escadas e parou encostado na parede do alto da mesma. Tirou o pergaminho do bolso. Qual seria a reação de Hermione? E se ela não aceitasse suas desculpas. Então Harry lembrou-se das inúmeras brigas da amiga com Rony, eles sempre faziam as pazes afinal. E ele, Harry, não podia ficar muito tempo brigado com ela, só agora ele via o quanto ela era importante para ele. Muitas informações acumulavam-se em sua cabeça e ele precisava dividir com alguém que pudesse lhe dar alguma resposta. Não que menosprezasse Rony, mas esse alguém era Hermione e só Hermione. Não compreendia, porém, que não simplesmente por isso que ele sentia, agora, aquela ânsia de ter a amiga sempre ao seu lado.

Ele caminhou lentamente ate a porta do quarto de Hermione a abriu lentamente afim de não acordá-la. Uma luz estava acesa. Hermione estava deitada na primeira cama, tinha o rosto coberto, ele estranhou que a luz estivesse acesa. Harry entrou tentando não fazer barulho, mas quando ia colocar o pergaminho no criado da cama da garota bichento miou. Hermione mexeu em sua cama. Harry virou para trás e só então percebeu que aquela que dormia não era Hermione, pois a verdadeira Hermione encontrava-se assentada em uma poltrona ao lado da janela, atrás dele. Exaltado, Harry olhou novamente para a pessoa que dormia. Bichento miou novamente enquanto dava voltas em torno dos pés de Harry. O garoto quis chutá-lo, mas se conteve. A pessoa que dormia mexeu mais uma vez e então descobriu o rosto e assentou-se na cama, confusa.

Era uma garota ruiva de traços bonitinho e olhos castanhos, que se arregalaram ao vê-lo. Parecia cansada, como se a muito tempo não deitasse em uma cama para uma noite inteira de sono, era Gina.

Harry olhou de volta para Hermione, que tinha o meio rosto visível por trás de um livro, seus olhos o observavam atentamente, mas Harry sentiu-se incapaz de decifrar a expressão em seu rosto.

- O que significa isso?- Foi o que conseguiu dizer.

- Isso o que?- perguntou Hermione calmamente levantando novamente o livro como se não quisesse interromper a leitura.

- Não era você quem brigava comigo, pois achava loucura trazer Gina para cá?

- Colocarei dessa forma: você não quis me ajudar e eu fiz sozinha.- disse Hermione ainda com o livro tampando seu rosto.- Achei que ficaria feliz ao vê-la.

- Vejo que a Srta. Sabe-tudo resolveu me dar uma lição.- disse Harry dando o sorriso de quem acaba de descobrir a resposta de uma charada sozinho e ficou indignado com a resposta.

- Não sou alguém que dá esse tipo de lição, Harry.- disse Hermione.

- Então que tipo de pessoa você é?- disse Harry.- Não é o tipo de pessoa que costumava ser.

- Não começa!- cortou Hermione, finalmente baixando o livro sobre as pernas.

Bichento miou alto, ele agora estava no colo de Gina, que encostada na cabeceira da cama observava a cena.

- Não foi Hermione que me trouxe até aqui.- disse ela em um tom de voz quase inaudível.

- Foi sim Gina!- disse Hermione se levantando calmamente.

- Não foi não, fui eu quem arrumou a chave de portal até Londres e quem pediu a ajuda da Luna para distrair seu pai, e também quem pegou o trem de Londres até aqui.- disse Gina.

- A idéia ainda foi minha.- disse Hermione ainda calma enquanto se levantava.- Não existe outro culpado além de mim, isso se você considera trazer a Gina para perto de nós um erro tão grave.- Ela sorriu, havia um quê de triunfo em seu sorriso ao dizer tudo aquilo. Harry a encarou e percebeu que ela lhe lembrava muito a Dumbledore. Este sempre assumia aquela mesma calma para com Harry.

Harry estava confuso, não sabia o que dizer, olhou para Gina e depois para Hermione, esta se assentou novamente.

- Talvez eu deva ser mandada para Azkaban por isso, o que não seria tão ruim já que não resta Dementador algum lá. - disse Hermione examinando a reação de Harry. A calma é a maior das virtudes. Pensou olhando para Gina.- Que eu mal lhe pergunte, o que está fazendo aqui? Ao que me parece você queria entrar sem ser percebido...

Harry estava mudo, não conseguia pronunciar ruído algum. Hermione trouxe Gina por baixo de seu nariz e ele não desconfiou de nada, mas como? Queria muito saber, mas obviamente não perguntaria, não queria daria aquele gosto a Hermione. Sempre se surpreendera com a amiga, inúmeras vezes, desde o primeiro ano deles em Hogwarts. Aliás - eles: ele, Rony e Hermione - ficaram amigos após serem surpreendidos por ela. Pensava já ter se acostumado com aquilo, mas definitivamente estava enganado. Porque ela não parava de olhar para ele com aquela cara de Dumbledore?

- Ficou mudo?- perguntou Hermione.- O que é isto em sua mão?

Harry olhou para sua própria mão, aquela ainda enfaixada, com a qual segurava a carta para Hermione. Resolveu falar, sua boca tremia.

- Eu?- disse ele pretendendo que aquilo soasse em um tom agressivo, mas a sua voz saiu fraca e trêmula.- Vim trazer isso para você.- Ele ergueu a carta.- Mas ao que vejo não vai adiantar muito, não é Srta. Gênio? Em todo caso, se quiser ler, tome.- ele jogou a carta para Hermione.- Eu não perdi a minha tarde escrevendo esta porcaria à toa!- Ele apertou os olhos em triunfo ao ver que Hermione se curvara pra frente para pegar a carta.- E a propósito Gina, seja bem vinda.- E dando um beijo na testa da garota saiu do quarto, trombando com Rony na porta.

- Gina?- disse Rony boquiaberto ao entrar no quarto.- Você aqui?!

- Oh Rony!- disse a garota se levantando abraçando o irmão.- Que bom que você está bem!

- Quem te trouxe? A Hermione?- perguntou ele olhando para Hermione que se encontrava vidrada olhando a carta de Harry.

- Ela me ensinou como chegar aqui, Rony. Mas não importa como eu vim, e sim que eu estou aqui com você, agora.- disse Gina sorrindo para Rony.

Logo os dois estavam assentados conversando animadamente, Gina contava sobre a viagem na Suécia, mas Hermione não prestava atenção, ela abriu a carta de Harry e começou a ler.


Não estou feliz com essa briga. Me lembrava de certa briga séria entre você e o Rony durante nosso terceiro ano, você se lembra? Nunca pensei ser tão ruim.

Desculpe-me por toda a grosseria, eu ando mesmo sem estribeiras nos últimos tempos, você sabe. Sempre me descontrolo ao ouvir falar sobre Sirius. Então me chateei por me acusar de impulsivo. Talvez por isso ele tenha morrido.

Não podemos continuar assim. Lembra-se? A Gina ainda está lá fora. Mesmo que tenha prometido qualquer coisa à Sra. Weasley, não estamos em Hogwarts, não existe regulamento algum pelo qual você deva zelar.

Penso que Voldemort saiba o suficiente pra concluir que sem você eu não sou nada. Não posso ficar sem a sua “proteção”.

Desculpe-me por qualquer coisa.


Harry


Hermione dobrou a carta e, levantando-se, guardou-a no bolso do roupão. Respirou fundo como quem conta até dez para se acalmar. Girou nos calcanhares e deixou o quarto. Ainda pôde escutar um “Brigaram de novo...?” antes de alcançar o quarto seguinte. Ao adentrá-lo, obrigou-se a repetir o exercício da respiração somada a números. O quarto estava vazia e as coisas de Harry espalhadas por todos os lados. Sentiu-se feliz por Dumbledore ter sugerido guardar as varinhas.


*


Harry trombou com Rony na porta, mas o ignorou. Tropeliou até seu quarto ouvindo um vaso se quebrar no corredor. Abriu sua mochila para procurar a varinha, iria embora. Não sabia para onde, talvez para casa dos Black. Queria escrever para Sirius, mas este estava morto. Pensou em Hagrid, o qual não poderia ajudá-lo no momento. Só então se lembrou de que não estava mais com a sua varinha. Irritou-se ainda mais. Ouviu um barulho agudo, um dos vidros da janela trincou. Suas coisas, antes ajeitadas dentro de sua mochila, espalharam-se por todas as partes.

Porque sentia precisar tanto dela agora que se afastavam? Ele não era Rony, com quem ela sempre se desentendia. Ele não era Rony, o que talvez fizesse com que Hermione o entendesse. Ela sempre o entendeu. Ela sempre esteve por perto, pronta a explicar o que estava acontecendo ou apta a dizer qualquer coisa incrivelmente sábia e apropriada ao momento. Ela o ajudara com Cho. Mesmo que indiretamente. Mesmo que ele estragasse tudo.

Olhou ao redor e viu caída por ali a fotografia de sua mãe, apanhou-a e ficou a contemplá-la. Lílian se distraía com uma borboleta pousada na ponta de sua varinha, parecia feliz.

- Mulheres!- murmurou Harry mirando o rosto da mãe.- Será que você também era assim, mamãe?

Soltou um suspiro e então, do outro lado da cama beliche, viu o relógio de Luna. Apanhou-o e levou um susto ao ver que o seu rosto não era mais o único a orbirtar.

Um segundo ponteiro se movia e nele estava o rosto de Hermione. O ponteiro girava rapidamente sem parar em lugar algum. Harry envolveu-se, por alguns segundos, no movimento incessível do ponteiro. Sentiu-se ruborizar ao perceber que inconscientemente desejava que o ponteiro aquietasse. Junto ao seu.

- Coisa inútil.- murmurou deixando o relógio de lado.

Foi então que surgiu, dentro de Harry, a vontade de voltar no quarto, pegar a cabeça de Hermione e batê-la contra a parede. Como naquelas vezes em que ele olhava para Dumbledore e tinha vontade de feri-lo.

Harry levantou-se e desceu correndo as escadas até o quintal. Embrenhou-se no meio das árvores até que tropeçou em uma raiz e caiu no chão..Virou-se de barriga pra cima, arfando de raiva. Acabou por adormecer.


*


Hermione adentrou o quarto e viu os objetos de Harry jogados. A janela estava rachada e a foto de Lílian Potter jogada sobre a cama beliche. Assentou-se, as sobrancelhas arqueadas pensativamente. Deixou-se vagar entre pensamentos vazios até que reparou no relógio caído no chão. Apanhou-o e não pôde deixar de se sobressaltar ao ver seu próprio rosto estampado num ponteiro que girava sem parar. Ficou olhando, sentiu-se tonta, mas não parou de olhar, até que tudo no quarto começou a rodar junto. E rodava. Rodava... Rodav... Roda... Ro...

- Mione.- ouvia alguém chamar.

Abriu os olhos, o quarto estava claro. Já era manhã. As cabeças de Gina e Rony a observavam.

- O que?- fez se levantando, tinha dormido ali.

- Você dormiu aqui.- disse Gina.

- Onde está o Harry?- perguntou Rony.

- Eu não sei.- respondeu Hermione.

- Vocês brigaram de novo não foi?- disse Rony.- Gina me contou. Vocês têm que parar com isso... Tá certo que você sempre foi brigona e que eu tenha deixado de ser seu alvo predileto, mas...

- Cale-se, Ronald!

- Porque tem cacos no corredor?- insistiu Rony, mas foi surpreendido por um olhar de Gina. Um olhar digno da senhora Weasley. Deu-se por vencido. – Vou descobrir onde ele se meteu.- completou antes de deixar o quarto.

Seguiu-se um espaço de silêncio em que Hermione limitou-se a esfregar os olhos. Sabia que Gina a analisava com olhos clínicos. Odiava situações em que, além de não serem seus os olhos clínicos, era ela o alvo de análise.

- Fred e Jorge tiravam sarro da cara do Rony por sua causa. – disse Gina rompendo o silêncio. – Tanto quanto costumavam fazer com o Percy, quando este começou a namorar Penélope Clearwater.

- Gina...

- Eles tiravam muito sarro. Muito sarro mesmo.- Continuou Gina, ignorando a interrupção de Hermione. – Diziam que você olhava para o Rony da mesma forma que a mamãe olhava para o papai...

- Gina, eu não troquei o Ronald pelo Harry.,, - Começou Hermione acreditando, em seguida, ter escolhido as palavras erradas. – E nem o Ronald ocupava um lugar...

Hermione sentiu-se ruborizar violentamente.

- Eu nunca acreditei que você e o Rony dariam certo, mesmo. – disse Gina com um sorriso maroto, mas sincero.

- Não, Gina. O meu desentendimento com Harry é totalmente diferente de qualquer desentendimento com Rony e...

- Viu?

- Viu? Não. Não é nada disso! Pare de insinuar coisas e tentar fazer com que eu me contradiga.- disse Hermione se rendendo e deixando-se rir. – Escute, eu e o Harry: nunca. De jeito algum!

- Suponho, então, que você tenha uma explicação melhor para essa crise de verão em que se meteram.- sobrepôs Gina.

- Sim. – Disse Hermione veementemente. – É só que... Eu e Harry nunca brigamos dessa forma. Acho que me assustei um pouco ou coisa assim.


*


Harry acordou quando os primeiro raios de sol do dia atingiram seus olhos. Cada centímetro de seu corpo doía. Tratou de subir para seu quarto antes que alguém o encontrasse ali, feito um bêbado que acorda de uma noite desvairada. Pretendia deitar-se e dormir até mais tarde, com sorte Rony nem o escutaria entrando. Ao alcançar seu quarto, porém, não era Rony quem dormia por lá. Era Hermione.

Harry a observou por algum tempo. Hermione segurava o relógio de Luna em uma das mãos e a fotografia de Lílian na outra. Parecia inofensiva enquanto dormia, pensou. Como reagiria se acodesse e deparasse com ele ali?

Decidido a não pagar pra ver, Harry deu as costas e desceu as escadas. Podia-se ouvir barulhos de panelas, vindo da cozinha. Não foi até lá. Ganhou a rua, decidido a fazer uma caminhada, esticar os joelhos, coisa assim. O relógio da igreja mostrava pouco mais de cinco horas. Seguiu pela rua principal. Ouviu vozes vindas de uma casa tão grande quanto à de Vó Meg. Na varanda estavam as quatro garotas do dia anterior. Conversavam alto. Uma ou duas fumavam. Harry fingiu não vê-las. Atravessou a rua.

- Bom Dia Harry!- gritou Helena, a prima de Hermione.

Ele respondeu com um sorriso amarelo. Seguiu em frente, as mãos nos bolsos. O sol subia trazendo de volta aquele insuportável calor. Quando Harry encontrou a casinha da fiscalização encontrou a porta fechada. Bateu um ou duas vezes.

- Entra.- respondeu a voz de Tobias. Harry obedeceu. Tobias estava por detrás da pequena mesa redonda de madeira, acompanhado de um velho. O último era alto e magro, de ar rabugento, barba e cabelo grisalhos.

Harry não teve dificuldades em reconhecê-lo: Era o barman do Cabeça de Javali. O que estaria fazendo ali?

- Bom dia Harry!- disse Tobias.- Sente-se e coma alguma coisa.

Harry aceitou o convite para assentar-se, mas recusou a comida. Não tinha fome. O homem o olhava com um sorriso torto.

- Este é Aberforth Dumbledore.- disse Tobias.

- Nós já nos vimos uma vez.- disse o homem calmamente.- No meu pub, Tobias. Como tem andado, Harry?

- Bem, obrigado.- respondeu Harry meio boquiaberto.- Você é... Você é parente de Dumbledore?

O homem sorriu largamente.

- Irmão.

- Nossa!- disse Harry sinceramente.- Nunca imaginaria que você seria o irmão de Dumbledore.

- È! Eu não faço o tipo, mesmo.- disse Aberforth - Conheci seus pais. Eu era Professor de Poções de Hogwarts na época deles.

- Foi meu professor também.- disse Tobias, sorridente como sempre.

Aberforth fitava Harry com visível interesse.

- Lembro-me de cada aluno da época de seus pais.- disse ele.- Potter, os irmãos Black, Lupin, Malfoy, as irmãs Andrômeda, Narcisa e Belatriz Black, sua mãe, Lílian Evans, Longbotton...

- E a irmã dela?- interrompeu Harry se lembrando da fotografia.

- Irmã...- disse Aberforth olhando para Harry atentamente.- ...de quem?

- A irmã de Lílian.- disse Harry.- Minha tia.

- Petúnia Evans?- perguntou Aberforth, Harry fez que sim com a cabeça. Ele não parecia muito contente com o assunto.- Foi minha aluna também.

- Porque ela saiu de Hogwarts?- perguntou Harry antes que o assunto esvaísse.

Aberforth o encarou analiticamente. Parecia hesitar.

- Foi expulsa. – disse por fim.

- Porque?- perguntou Harry.

- Alvo nunca lhe falou sobre isso?- disse Aberforth parecendo preocupado.

- Não.- disse Harry.- mas eu gostaria muito de saber.

- Ele deve ter seus motivos para omitir uma história como esta...

- É só um caso. – disse Tobias sorrindo para Harry.

- Pois bem.- disse Aberforth pesaroso - Quando Lílian Evans entrou para Hogwarts muitos não esperavam muito dela. Claro, era nascida trouxa.

Ele fez uma pausa e olhou para Harry. Tobias também escutava atentamente.

- Foi escolhida para a Corvinal.- continuou Aberforth.- E logo nas primeiras semanas surpreendeu todos os professores com sua inteligência. Parecia ter decorado todos os livros antes de começar as aulas.

Harry se lembrou de Hermione e não pode deixar de sorrir.

“Tinha as melhores notas de seu ano, em todas as matérias, sem exceção alguma. Em seu segundo ano já era muito popular. Sempre absolutamente correta, dentro dos regulamentos. Em seu terceiro ano, escolheu quase todas as matérias extras. E conseguiu continuar sendo boa em todas. Quando retornou para cursar seu quarto ano, trouxe consigo sua única irmã. Petúnia Evans. Esperávamos que esta fosse tão boa quanto à outra. Foi escolhida para a Lufa-lufa e não tardou a descobrirmos que não era tão boa assim. Tinha dificuldade na maioria das matérias, era introvertida e vivia brigando com as outras garotas. Lílian sempre arrumava justificativas para livrá-la. Mas a situação acabou tornando-se insustentável.”

Ele fez uma pausa. Harry bebia cada palavra. Tobias também.

“Ela passou do primeiro ano apertada. E em seu segundo ano ia ficando cada vez pior. Matava aulas, era mal criada. E, Lílian, que agora era monitora, já não conseguia controlá-la. Após os testes de final de ano, Dumbledore concluiu que não poderia mantê-la ali. Chamou seus pais a Hogwarts. Petúnia foi expulsa, suas notas eram insuficientes para prosseguir. Não sei ao certo qual foi seu destino. Sei que mudou para uma escola trouxa e eu nunca mais a vi. Creio que o resto da história você deve saber.”

Harry fez que sim com a cabeça. Estava estupefato. Tia Petúnia era um aborto! Aberforth se levantou.

- Creio que já me demorei por demais, Tobias.- disse.- Entregue as cartas de Molly aos Weasley. O dever me chama.

- Até mais Aberforth.- Disse Tobias sorrindo.

- Até mais ver, Harry. - disse Aberforth e num girar de calcanhar, tão clássico quanto o de Dumbledore, ele desapareceu. Harry ia falar alguma coisa quando ouviu as vozes de Rony, Hermione e Gina se aproximando. Levantou-se num pulo.

- Diga que eu não estou mais aqui Tobias.- Pediu Harry.- Não quero encontrá-los aqui.

- Por...?- perguntou Tobias.

- Só faça isso, por favor. - disse Harry.

- Saia pelos fundos.- disse Tobias. Harry obedeceu quase pisando em bichento no caminho.

Instantes depois o trio entrou pela porta aberta.

- Bom dia Tobias.- disse Rony.- Esta é minha irmã Gina.

- Molly ficou uma fera com você, Gina Weasley.- disse Tobias.- Enviou cartas para vocês dois. Mas creio poder garantir a ela que estão felizes aqui. Querem comer algo?

- Não, obrigado.- Disse Hermione.- Você viu o Harry?

- Hum.- Fez Tobias examinando-a com os olhos.- Ele esteve por aqui mais cedo. Sentem-se.

Todos se sentaram quando bichento entrou na casinha miando. Gina e Hermione se entreolharam.

- Como foi a noite de vocês?- Perguntou Tobias observando atentamente as garotas.- E como foi sua viagem D. Gina?

Hermione se levantou, andou de um lado para o outro, fingiu-se desinteressada na conversa até que saiu pelos fundos enquanto Gina contava uma versão resumida de como chegara até ali. Hermione viu que Tobias a observava pelos cantos dos olhos, será que ele também ouvia os gatos?

Havia muitas árvores por ali. Ouvia-se barulho de passos. Hermione seguiu seus ouvidos através de uma trilha fraca até um pequeno bosque. Caminhava lentamente entre as árvores, olhando por todos os lados, não avistava ninguém, mas os passos ainda ecoavam. Então cessaram.

Hermione parou também. Havia alguém ali, pelo que ouvira de bichento era Harry, mas porque fugia? Respirou fundo e continuou andando, cada vez mais rápido quando duas mãos a agarraram pelas costas e puxaram-na para trás violentamente lançando-a contra o chão.

Hermione arregalou os olhos ao ver Harry com os punhos cerrados sobre ela.

- É você!- disse ele levantando-se e parecendo levemente decepcionado e impaciente talvez.

- Harry, o que você pretende com isso? Me bater?!- perguntou Hermione levantando-se e limpando as calças jeans sujas de terra.

- Ouvi alguém me seguindo, não tinha como adivinhar que era você.- Disse ele mal-humorado olhando à volta como que para desviar dos olhos de Hermione.

- Não era preciso me jogar no chão.- vociferou Hermione sentindo a latente vontade de xingar Harry até ficar rouca.

- E eu esperaria alguém me atacar primeiro, para depois jogá-lo no chão e me defender?- perguntou Harry irônico.

- Tudo bem, sem brigas por isso, ok?- disse Hermione tentando apaziguar o que poderia acabar em uma nova discussão.

- Como me achou aqui?- perguntou Harry.

- Bichento viu você.- disse Hermione.- Porque não dormiu em casa? Fiquei preocupada.

- Na hora de fazer as coisas sozinhas você não se preocupa comigo.- disse Harry entre dentes.

- Harry! Eu já disse que não VOU mais brigar com você.- disse Hermione.

Harry ajeitou os óculos.

- Mas é a verdade.- retrucou.

- Não é não!- disse Hermione.- E você sabe disso.

Harry ficou calado, olhava para o chão. Estava encostado em uma arvore, balançava o pé inquieto, as bandagens em sua mão estavam sujas.

Hermione apenas o observou por algum tempo.

- Por que não conversa comigo direito?- perguntou ela finalmente, Harry ainda tinha os olhos no chão.- A gente nunca foi de brigar.

- A gente costumava fazer as coisas em parceria também, eu você e o Rony!- despejou Harry.

- Quer parar de tentar me culpar por coisas que eu não fiz?!- gritou Hermione.- Você costumava ser mais calmo também.- completou em um tom ameno.

- Veio até aqui pra me encher a paciência ou o que?- perguntou Harry levantando o rosto para Hermione.- Porque se foi pode ir embora, pois eu não agüento mais você no meu pé!

- Quem não agüenta mais sou eu.- disse Hermione sem alterar o tom calmo de antes. Harry sentiu raiva por isso, como ela conseguia ficar calma?- Você sempre intocável, sempre irritável, sempre como um cristal prestes a se quebrar. E falando em quebrar, você tem que aprender a controlar isso de quebrar as coisas quando está nervoso!

- Não enche.- disse Harry mais uma vez olhando pro chão.

- Ainda não me respondeu por que não dormiu em casa.- insistiu Hermione.

- Deve ser porque a minha cama estava ocupada.- disse Harry e levantando novamente o rosto gritou.- TINHA UMA GAROTA INTROMETIDA LÁ, NÃO SÓ DORMINDO NA MINHA CAMA COMO SEGURANDO OBJETOS PESSOAIS MEUS!

- Harry, porque não pára de gritar e conversa feito gente civilizada?- pediu Hermione, toda a irritação que sentia antes se esvaiu, ela agora se sentia cansada.- Não precisa ficar nervoso desse jeito, não tem motivo algum.

- Não tem motivo.- repetiu Harry passando as costas da mão cheia de bandagens na testa suada.

Hermione caminhou de um lado para o outro, Harry se concentrava nas folhas secas no chão. Até que Hermione se assentou por ali de pernas cruzadas.

- Será que nós podemos simplesmente conversar calmamente?- perguntou ela.

- A única coisa que eu posso fazer nesse momento é ir para algum lugar e procurar algo para comer.- disse ele com um sorriso triunfante no rosto.- Estou faminto!

E dizendo isso foi caminhando por entre as árvores calmamente com as mãos nos bolsos, em direção à saída do bosque.

- Eu li a sua carta.- disse Hermione em tom alto o suficiente para Harry escutar. Este parou sem olhar pra trás.- Você parecia mais disposto a fazer as pazes do que agora.- completou.

Harry caminhou de volta até a árvore onde antes estava encostado. Ela tinha razão, ele queria fazer as pazes, mas tudo o que conseguia era gritar e falar bobagens. Parecia ser algo mais forte do que ele.

Hermione se levantou. Harry olhava para os próprios pés. Ela se aproximou de Harry parando a meio metro dele.

- Façamos o seguinte.- disse ela levantando seu rosto pelo queixo para que ele a olhasse nos olhos.- Vamos fazer as pazes e, se você quiser conversar, aliás, quando você quiser conversar, você me procura, eu estarei lhe esperando.

Ele levantou os olhos para ela, ela sustentou o olhar durante algum tempo, mas segundos depois ela o abraçou. Harry ficou imóvel, e então como que em um impulso ele a afastou segurando-a pelos ombros e a beijou.

Hermione sentiu, não sem imensa surpresa, os lábios quentes de Harry tocarem os seus. Ela já tinha feito aquilo antes, mas dessa vez foi diferente. Era como se flutuasse. Sem que percebesse, seus olhos estavam fechados e suas costas encostadas na árvore mais próxima. Foi então que viu Rony, em uma crise de ciúmes por uma carta de Krum. Krum! Hermione empurrou Harry.

- Não.- murmurou ela, Harry a olhava meio assustado, seus olhos verdes, antes cheios de raiva, agora pareciam incrivelmente doces.

- Por que?- perguntou Harry.

Hermione estava encostada em uma árvore, um dos braços de Harry estava apoiado na mesma, um pouco acima de seu ombro direito; ele estava perto demais e aquilo parecia perigoso. Ela rolou para o lado e desviou do garoto, ficando de costas para ele a fim de evitar seu olhar.

- Por que?- repetiu Harry.

- O Rony.- disse Hermione, ela tinha o dedo indicador encostado aos lábios, como que a fim de guardar aquele beijo.

- O que tem ele?- perguntou Harry.- Vocês não estão juntos, ou estão?

- Não, mas...- disse Hermione.

- Então não vejo problema algum.- disse Harry.

- Não.- repetiu Hermione.- Não, eu não posso.- e dizendo isso saiu veloz por entre as árvores. Seu coração parecia prestes a sair pela boca. Aquilo não deveria acontecer, repetia para si mesma. Logo ela estava novamente na casinha, Bichento vinha logo atrás. Gina acompanhou sua entrada com um olhar curioso. Hermione estava extremamente vermelha quando se assentou entre Rony e Tobias, defronte Gina. Procurou desesperadamente evitar o olhar de Gina já que sabia que a amiga a examinava atentamente com seus olhos castanhos. Para o seu alívio, Rony e Tobias estavam distraídos com uma conversa sobre quadribol. Passados dez minutos Harry entrou pela porta dos fundos, Bichento miou para ele, que vinha com as mãos nos bolsos, cabisbaixo com aparência amassada. Entrou calado e assentou-se ao lado de Gina e ficou ali, ainda cabisbaixo.

- Onde você estava, Harry?- perguntou Rony quando o assunto morreu por um instante.

- Andando por aí.- disse olhando para o amigo.- Descobri um bosque bacana ali para trás.- completou.

- Ah! Podemos ir lá depois.- disse Rony e se virando para Tobias.- Você foi à Copa Mundial de Quadribol não é mesmo?

- Fui sim, foi excelente.- disse Tobias.- Vitor Krum joga muito bem.

Rony fechou a cara.

- Nem tanto.- ele respondeu olhando para Hermione que ainda tinha a cabeça baixa.

- Rony não vai muito com a cara dele.- explicou Gina.

A conversa se prolongou por um bom tempo. No meio da manhã voltaram para a casa da avó de Hermione.


- O que aconteceu, Hermione?- perguntou Gina assim que elas entraram no quarto.

- Nada.- mentiu Hermione que procurava uma calça para trocar.

- Nada fez sua calça ficar suja de terra?

- O Harry me empurrou e eu cai.- disse Hermione.

- O QUE?- perguntou Gina.

- Calma, ele não tinha visto quem estava o seguia. Não sabia que era eu.- explicou Hermione. – E foi só isso. – Mentiu. – Conversamos e fizemos as pazes.


*


- O que vão fazer durante a tarde?- perguntou Vó Meg após servir a sobremesa.

- Eu e Rony vamos à casa de Tobias.- Disse Gina - Ele nos prometeu despachar cartas para mamãe.- disse Gina.

- Vocês dois?- perguntou ela a Harry e Hermione.

- Acho que vou dormir um pouco.- disse Harry.

- Vou estudar, vó.- disse Hermione.

E assim fizeram. Gina e Rony saíram logo após o término do almoço. Hermione se deixou ficar na varanda. Quando finalmente subiu, parou na porta do quarto de Harry, este estava deitado de costas para a porta, provavelmente dormia.

Hermione foi para o seu quarto, apanhou o livro Transfiguração Avançada e Animagos e pôs-se a lê-lo. Estava quase terminando este. Gostava de ler, já que enquanto lia sua cabeça se esvaziava do mundo. Meia hora se passou, quando sua atenção foi tomada por passos, virou-se para a porta e assistiu Harry entrar pela mesma, estava descalço. Assentou-se na cama de Gina, defronte a Hermione e permaneceu calado por um bom tempo.

- Você quer alguma coisa?- perguntou Hermione sem olhar para ele.

- Sim, quero lhe contar uma coisa.- disse Harry, não gostava quando Hermione ficava daquele jeito, conversando, porém pregada em um livro.

- Sou toda ouvidos.- disse Hermione.

- Tia Petúnia estudou em Hogwarts.- disse Harry. Hermione baixou o livro.

- Como?- perguntou ela.

E então Harry lhe narrou toda história, desde a parte em que a Sra. Granger reconhecera a garota da fotografia até aquela recente, em que o irmão de Dumbledore lhe contara.

- Então isso explica a fotografia, e a coruja no verão.- concluiu Hermione que agora estava assentada com os cotovelos apoiados nos joelhos e ouvia Harry atentamente.

- Sim, ela era uma espécie de trouxa aborto.- disse Harry por fim.- Isso explica muita coisa, como, por exemplo, porque minha tia não gostava de minha mãe.

- Ela gostava, Harry, tanto que lhe aceitou; talvez ela só sentisse inveja.- considerou Hermione.

- É, que seja!- disse Harry.- Mas não é motivo para ela desgostar de meu pai.

- Hum!- fez Hermione.

- Se...- Harry olhou para o chão.- Se Sirius ainda estivesse aqui eu perguntaria a ele.

- Oh Harry!- disse Hermione abraçando o amigo maternalmente.- O Sirius não está, mas você pode perguntar ao Lupin.

- É.- concordou Harry infeliz, Hermione agora estava assentada ao seu lado.

Os dois ficaram calados. Uma enorme vontade de beijá-la novamente começou a crescer. Ele aproximou seu rosto do dela, mas quando estava quase lá ela desviou e se levantou.

- Harry!- disse ela enquanto se assentava novamente em sua cama.

- Eu não entendo por que!- disse Harry observando a amiga, nunca a havia achado tão bonita quanto agora.

- Já disse...- hesitou Hermione - É o Rony.

- O que tem ele?- perguntou Harry.- Você gosta dele?

- Não!- disse Hermione.- Quer dizer... eu não sei.- ela se sentia muito confusa agora, tanto quanto nunca estivera. Rony não era, nem de longe, o seu real problema.

- Ele gosta de você?- arriscou Harry lembrando-se do enorme ciúme que Rony sentia dela.

- Todos já perceberam. - disse Hermione.

- Mas e quanto a você?- perguntou Harry.

- Eu não sei.- disse.- Eu achava que sim, mas...

- Mas?- perguntou Harry.

- Com essas coisas todas, que aconteceram conosco.- disse ela.- As brigas e depois a gente fez as pazes...

- E a gente se beijou.- terminou Harry.

Hermione fez que sim com a cabeça. Harry observou seu semblante, parecia angustiada.

- Olha, se você estiver confusa...- disse Harry se lembrando de como as coisas aconteceram com Cho e das palavras sábias que várias vezes Hermione disse a ele.- Eu entendo! Eu espero! Se você quiser pensar...

- Não! Não precisa.- disse Hermione.- Eu... eu provavelmente gosto de você, Harry.- concluiu depois de algum raciocínio. Sempre achara que gostava de Rony. Foi ao baile do quarto ano com Krum a fim de fazer o amigo notá-la, é claro que as coisas foram mais além do que deveriam, mas isso em nada mudou o que sentia por Rony. Mas então Harry arrumou uma namorada. Se ao menos Rony já tivesse acordado naquela época. Mas não, ele ainda estava morto, como sempre esteve. E ela, apesar de ajudar o amigo com Cho, não pode negar para si mesma que sentira uma ponta de ciúmes. E então, aconteceram todas aquelas coisas no verão e...- Eu não tenho dúvida de coisa alguma!- concluiu.

- Mas, então!- disse ele.

- Nós não podemos fazer isso com o Rony, Harry!- disse ela.- Você não pode fazer isso com ele.

Harry baixou a cabeça, ela tinha uma ponta de razão.

- Tudo bem, ele é lento, não sabe lidar com essas coisas. Você foi mais esperto, mas... você nem sabe o que sente de verdade.- disse Hermione.- Tudo bem! Aconteceu, mas e se não for bem isso o que você quer?!

- É, você tem razão.- disse Harry olhando para ela novamente.- Talvez eu não saiba se é realmente isso que eu quero, talvez eu tenha certeza.- ele se levantou e se aproximando dela novamente, ela recuou.

- Como você tem certeza?- disse ela.- E a Cho? Desde quando você tem certeza?

- Desde quando vi você caída no departamento de mistérios, atingida por um comensal, desacordada.- disse Harry, ele próprio se assustou com o que dissera.

Hermione o olhava docemente. Parecia encantada. Estava levemente corada.

- Eu gosto de você, e tenho certeza disso desde o dia em que ouve a possibilidade de perder você para sempre. Só que somente agora eu descobri isso.- disse Harry.- Você gosta de mim, o Rony vai ter que entender.

- O Rony não vai conseguir entender.- disse Hermione.

Harry deixou-se cair sentado na cama de Gina novamente.

-E você quer que eu me segure, que eu controle o que estou sentindo? Quer que eu me olhe no espelho e diga “Olá Harry! Como vai?” “Ah! Eu não vou muito bem, eu gosto da Hermione e ela gosta de mim, só que eu não posso fazer nada, por isso tenho que ficar aqui conversando com você!”- disse Harry.- Sabe o que eu senti quando vi você aí deitada lendo? Vontade de correr até você e beijá-la. Na hora do almoço eu senti a mesma coisa. E não é como acontecia com a Cho. Já que eu não tinha coragem suficiente para fazê-lo. O problema é que agora eu tenho coragem e não sei se posso controlar isso.

- Por favor, Harry!- Disse Hermione se assentando também.- Controle isso, pelo menos até estarmos em Hogwarts.

- E ter que aprender controlar isso lá também?- perguntou Harry.- Porque o Rony vai estar lá.

- Lá é tudo mais fácil, Harry.- disse Hermione. Ela segurou o queixo de Harry e lhe deu um selinho suave.- Faça isso por mim.- ela sorriu docemente.- Faça isso por nós.

Ele também sorriu. Bichento miou.

- È Gina!- disse Hermione se levantando rapidamente.

- Vou me segurar!- disse Harry se levantando também e indo em direção à porta do quarto, mal a alcançara quando Gina entrou.

- Onde está o Rony?- perguntou Harry.

- Encontrou com umas garotas, ficou na rua.- disse Gina.

- Ah!- fez Harry e em seguida saiu do quarto.

Gina acompanhou Harry saindo do quarto com os olhos, em seguida virou-se para Hermione.

- Aconteceu alguma coisa?- perguntou ela.

- Não.- Respondeu Hermione se assentando e pegando o livro novamente.

- Tem certeza?- perguntou Gina.

- Sim, porque? Tem alguma coisa estranha?- perguntou Hermione concentrando-se em seu livro.

- Não!- disse Gina se assentando em sua cama.- Só que tem alguma coisa me dizendo que você está me escondendo algo.

- Impressão sua.- disse Hermione fazendo a cara séria que costumava ter, pensou não estar se saindo muito convincente, mas não podia fazer nada. Talvez Gina devesse saber, mas achava que esse não era o melhor momento para contar isso à amiga.

As férias seguiram. Os dias deixaram de ser tão quentes. O vento do outono começou a soprar. Rony passava a maior parte do tempo andando por Greelin, com aquelas quatro garotas trouxas. Gina contou a Hermione em certa noite que o vira beijando uma delas, a tal Helena, e até estranhou por Hermione não ter demonstrado nada.

- Você não se importa?- perguntou Gina.

- Não.- respondeu Hermione, andava muito calma nos últimos dias, muitas vezes Gina a pegara meio vidrada em alguma coisa, com sorrisos bobos. Algumas vezes até a surpreendera trocando olhares significativos com Harry à mesa, durante as refeições. Este também não passava muito tempo de seu dia na casa de Vó Meg, ficava andando por aí, sozinho, pensando; às vezes visitava Tobias, mas, diferente de Rony, sempre chegava em casa cedo; ia para o quarto estudava ou até mesmo dormia.

Gina algumas vezes saía um pouco à noite com Rony, no começo; mas pelo que Hermione notou, a garota sentia um pouco de ciúmes do irmão. A partir daí, ela e Hermione às vezes passeavam de bicicleta no fim da tarde. Quase em todas as manhãs ela levava ou buscava correspondências na casa de Tobias, no restante do tempo conversava com Hermione, que estava sempre em seu quarto lendo - principalmente quando Harry estava em casa -, ou ficava observando vó Meg no em seu trabalho diário.

Faltavam quatro dias para o regresso a Hogwarts, quando às nove e meia da noite Tonks apareceu. Parecia apressada, vestia um Jeans surrado e uma camiseta alaranjada das Esquisitonas.

- Vim buscá-los!- informou sorrindo ao encontrar Gina e Harry que conversavam sobre quadribol na varanda.

- Já não era sem tempo.- disse Hermione quando todos seguiram para seu quarto.- Faltam quatro dias para o retorno a Hogwarts, e ainda temos muito o que fazer.

- O que você quer dizer com “ainda temos muito o que fazer”?- perguntou Harry.

- Bom, tenho que encomendar alguns livros, ou você acha que eu vou reler todos os meus em Hogwarts? Preciso de informações novas, não agüento mais essa monotonia de cidade trouxa.- Harry sorriu, aquela era a velha Hermione de sempre; podia até vê-la com outros olhos, mas ela ainda era a Srta. Sabe tudo.

- Onde está o Rony?- perguntou Tonks.

- Quem vai saber...- disse Gina fechando a cara.- Deve estar com uma das namoradas trouxas maconheiras dele.

Tonks riu.

- Tobias nos deu notícias de Rony, disse que ele agora era a sensação das garotas de Greelin.

- E o Gui?- perguntou Hermione olhando para Gina.

- O que tem?- perguntou Tonks, ela não parecia muito contente em falar sobre isso.

- Notícias?- perguntou Gina com a voz baixa.

- Talvez.- disse Tonks.- Ele conseguiu nos escrever.

- Sério? Como?- perguntou Gina parecendo um pouco mais feliz.

- Gui é um bruxo muito habilidoso sabe, e aprendeu muito com os Duendes.- disse Tonks.- Hipnotizou um elfo doméstico e o convenceu a levar a carta até um dos nossos.

- Um Elfo? Onde ele está?- perguntou Hermione.

- Ao que tudo indica na mansão dos Malfoy.- disse Tonks.- Mas é muito arriscado ir até lá, dizem que é a sede dos bruxos das trevas dessa vez.

- E o que ele disse na carta?- perguntou Gina.

- Disse que estava no subterrâneo da casa, que os comensais queriam saber o segredo de Gringotes, disse que tentaram lançar a maldição Imperio sobre ele, mas não foram bem sucedidos.- disse Tonks.

- Gui foi promovido a bruxo supremo em Gringotes uma semana antes de ser seqüestrado.- informou Gina.- Ele recebeu uma proteção dos duendes.

- Isso mesmo.- disse Tonks.- Talvez por isso eles o tenham pegado, querem Gringotes ao lado deles e o fato de os Duendes terem dado tal cargo a Gui, mostra, indiretamente, que eles estão do lado da Ordem.

- O que mais dizia a carta?- interrompeu Hermione.

- Dizia que o haviam torturado também, só que ele havia resistido, para ira dos Comensais.- disse Tonks.- Mas estava bem. Contou que a cela era fria e sombria, e que havia dementadores lá, mas ele estava sendo alimentado. E disse à Sra. Weasley que não se afligisse, ele tinha um plano, e logo sairia de lá.

- Caracas.- disse Gina.

- Mas...- fez Tonks.- O que estão esperando? Temos que partir logo, todos nos esperam na sede da ordem. Quem é que vai buscar Rony?

- Eu vou!- disse Harry.

- Então corra.- disse Tonks.- enquanto isso as meninas vão juntando suas coisas.


Harry não teve dificuldades para encontrar Rony. Pra variar ele estava assentado no pub de todas as noites. Beijava Helena quando Harry chegou. Tinha uma garrafa de vinho trouxa em uma mão, um cigarro na outra. Ele sorriu ao se virar e ver Harry.

- E aí Harry!- disse ele.- Vai um vinhozinho aí?

- Não obrigado.- disse Harry.

- Senta aí.- disse Arminda.

- Não obrigado.- repetiu Harry.

- O que veio fazer aqui então?- perguntou Rony enquanto soltava uma nuvem de fumaça.

- Vim te buscar.- disse Harry olhando com desprezo para tudo aquilo.

- Pra que? Ainda é cedo!- disse Rony.

- Seu irmão lhe mandou uma co...- Harry parou, sua boca estava seca.- Ele está no telefone, quer falar contigo.- mentiu.

- Quem? Qual deles?- perguntou Rony espremendo os olhos enquanto se levantava.

- Gui.- disse Harry.

- Gui ligou?- perguntou Rony, parecia confuso.

- Sim, está lhe esperando.- disse Harry.

- Ah!- disse ele e se virando para as garotas.- Vou lá atender, me esperem gatinhas.- completou, e cambaleando, seguiu com Harry de volta pra casa de Vó Meg.

Ao chegar lá, as coisas dos dois também estavam prontas. Tonks havia arrumado todas com o feitiço de sua mãe. As três estavam agora na cozinha, junto a Vó Meg, tomavam um chá.

- Rony?- fez Gina ao ver o irmão, bêbado, entrando.- O que aconteceu com você?

Rony se deixou cair em um dos bancos.

- Minha cabeça.- disse ele dementemente.- Tá doendo!

- Achei ele naquele pub onde a sua prima e aquelas outras garotas sempre estão.- disse Harry a Hermione.

- Tinha que ser...- resmungou Hermione se levantando para olhar Rony de perto.

- Ele estava bebendo, uma bebida trouxa.- disse Harry.- Vinho, trouxa.- completou.

- Não é a primeira vez.- disse Vó Meg.- Ele já chegou várias outras vezes aqui assim ou pior.

- Essas bebidas trouxas não são fáceis!- disse Tonks.- mas não podemos esperar ele melhorar, quando chegarmos à ordem a Sra. Weasley cuidará dele.

Ouviram-se passos e em seguida Tobias apareceu na cozinha.

- Estão prontos?- perguntou.

- Mais ou menos.- disse Tonks examinando atentamente Rony.- Não posso fazer nada mesmo!- completou.- er...Vocês sabem, sou meio desastrada.

- O que aconteceu com ele?- perguntou Tobias.- Caraca que ressaca!- completou ao sentir o bafo de Rony.- Alguém segura nele enquanto pegamos a chave. É a única solução!

- Mais vinho!- gritou Rony.

Depois de apanharem as mochilas, Tonks sacou a velha carteira e em algum tempo estavam todos batendo os pés no chão da cozinha da casa dos Black. Rony caiu desmontado no chão.

*****continua*****

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