Rony de Volta



Fevereiro logo findou e março finalmente chegou trazendo ventos mornos à Hogwarts e deixando o jardim da mesma incrivelmente florido.

A alguns poucos quilômetros dali, Rony continuava como que de castigo na cabana dos Black. Certa noite ele avistara Rúbeo Hagrid atravessar a clareira, mas o gigante pareceu simplesmente não enxergar a construção.

Agora, pouco mais de nove horas da manhã, ele se encontrava assentado no parapeito da janela pitando o seu já tradicional cachimbo. Suas cortas ardiam um pouco e ele não sabia porque.

Ele agora se lembrava tristemente dos amigos. Sobretudo, não sabia porque, de Hermione. Do rosto da garota. Geralmente era à aurora que ele conseguia lembrar de sua antiga vida. Quando Belatriz acordava, ela mantinha a mente do garoto, de alguma forma, livre de pensamentos dolorosos. E talvez ele até a agradecesse por isso. E durante a noite, bem, ele andara ocupado demais para pensar em qualquer coisa.

Durante meados de fevereiro Belatriz dera uma sumida. Cinco dias, exatamente. Talvez ele pudesse ter deixado aquele lugar, mas ele inexplicavelmente não o fez.

Rony soltou um anel de fumaça no ar. Este foi crescendo até se desfazer por completo. Estava ficando bom nisso. Deu uma nova tragada quando ouviu uma voz.

- Tia?

Rony se virou e olhou à volta. Belatriz mexeu na cama.

- Tia, sou eu!

Rony começou a procurar de onde vinha a voz, até que finalmente se encontrou abrindo o baú. Começou a tiras as cosias dali. A voz ainda chamava pela “Tia”. Até que ele finalmente encontrou. Era algo que deveria ser um espelho, mas o reflexo existente ali não era o seu próprio. Era o de Draco Malfoy.

- Me dê isso.- disse Belatriz se levantando rapidamente, enrolada nos lençóis, e indo sumir no banheiro.

Rony se assentou na cama e deixou-se ficar por ali, pensativo, por algum tempo até que Belatriz deixou o banheiro e começou a se trocar.

- Você mantém sempre contato com Draco Malfoy?- perguntou Rony.

- Tias mantêm contato com seus sobrinhos prediletos.- disse ela estranhamente.

Rony a observou apanhar a varinha sobre a escrivaninha e então fechar o baú com um toque da mesma.

- Aonde vai dessa vez?- perguntou ele.

- Será que você até hoje não entendeu que quem faz perguntas nessa casa sou eu?- perguntou ela virando-se para ele.

- Ok!- fez o garoto.- Desculpe-me.

Belatriz deu as costas a ele e contentou-se a andar de um lado para o outro, em seguida assentou-se em uma das poltronas próximas à lareira.

- Levante-se, Rony.- disse ela.

Por um momento o garoto a fitou, confuso. Em seguida ele se levantou e foi parar a dois passos dela.

- Preciso lhe dizer algo.- disse ela fitando-o seriamente.

Rony sentiu-se ainda mais confuso.

- Diga.- respondeu com um sorriso discreto.

- Adeus.- disse Belatriz se levantando com a varinha em punho. Rony ia perguntar como assim, mas em seguida ele sentiu uma dor imensa tomar seu corpo. Tudo desapareceu.


****


- Hermione... HERMIONE!

Hermione se virou e viu a figura bonita de Draco vir correndo na direção dela.

- Hermione!- repetiu ele afobado ao alcança-la. Segurava um envelope que ele estendeu para Hermione.

A garota fitou Draco, confusa, mas abriu o envelope. Havia ali seis passagens de trem.

- Dia dezesseis de março.- murmurou ele quase que ao pé do ouvido da garota.- Três e meia da manhã. O mundo nunca mais será o mesmo depois disso.

- Mas é tão...- começou Hermione.- É tão próximo!

- Já temos o plano.- disse ele.- Precisamos apenas de nos organizar para passarmos uma ou duas noites no mato.

- Como conseguiu?- perguntou ela indicando o envelope.

- Você não vai querer saber.- respondeu ele.

Silêncio. O corredor parecia deserto. Hermione por acaso estava se dirigindo para a aula de Runas, a última daquele dia. Ela olhou para Draco, ele ainda sorria enquanto fitava-a. Fazia meses, era verdade, que eles não ficavam a sós como agora. E Só então foi que Hermione percebeu que fazer isso poderia ser mais difícil do que ela imaginara.

Um pouco mais depressa do que ela esperava Draco lançou seu rosto ao dela. Os lábios dele erraram os da garota por pouco, mas ele não se deu por vencido. Começou a beijar-lhe o pescoço.

Hermione tentou desviar dele, mas com certa violência ele a prensou contra a parede, ainda se deliciando no pescoço da garota. Começou a subir, novamente, até que finalmente alcançou os lábios de Hermione. Foram beijos curtos e afobados. E só quando uma das mãos de Draco lhe foi subindo rapidamente cintura acima é que ela deu por si sobre o que estava acontecendo.

Imediatamente ela empurrou Draco e fitou-o constrangida. Ouviu-se passos e Luna Lovegood surgiu pelo corredor.

- Aí está você!- disse ela olhando de Hermione para Draco.- Mandaram achá-la imediatamente.

- Aconteceu alguma coisa?- perguntou Hermione sem tirar seus olhos severos de Draco.

- Rony apareceu.- disse Luna distraidamente


****


Harry fitou o amigo estendido sobre um dos leitos. Parecia muito diferente do que na última vez que ele o vira. E de alguma forma parecia mal, muito mal.

- Onde vocês o encontraram?- perguntou Harry à Moody, que estava encostado a um canto da enfermaria.

- Caído na porta de nossa casa.- rosnou Moody.

Madame Pronfey veio trazendo um copo fumegante e o virou na boca de Rony no momento em que Tonks e a Professora Minerva entraram na enfermaria. A enfermeira se virou para elas.

- Um pouco de Maldição Cruciatus, uma potente Azaração do Sono Mortífero e marcas de unhas pelas costas.- informou ela.- Ele decididamente não chegou lá sozinho.

- Já o medicou?- perguntou Minerva examinando o rosto do garoto.

- Sim.- respondeu a enfermeira.- Até o entardecer ele já terá acordado, ambos os feitiços e ferimentos foram recentes e não profundos.

- Já avisou à Molly?- perguntou Minerva a Tonks.

- Carlinhos foi busca-la.- disse Moody de seu canto.

- E você, Potter.- disse Minerva.- Busque Gina Weasley.

Harry consentiu com a cabeça e deixou a enfermaria, passando por Hermione e Luna à porta.

- Srta. Granger!- murmurou Moody ao vê-la.

- Luna foi me avisar.- disse ela enquanto se aproximava do leito para observar Rony.- Já o medicaram?

- Já cuidamos dele.- respondeu a enfermeira com um olhar quase que maternal para Hermione.

- De onde ele surgiu?- perguntou ela.- E como?

- Ainda não sabemos, vamos espera-lo acordar.- disse Minerva.

- Têm que vasculhar a mente dele.- disse ela.

- Como?- perguntou a professora. Todos os presentes olharam para Hermione.

- Durante o sono.- disse ela.- Quando ele acordar tudo ficará mais complicado.

- Não é tão grave assim.- disse Minerva.

Hermione olhou-a por um tempo. Queria dizer onde Rony estivera. Queria dizer por onde ele estivera, mas confessar que sabia de tudo aquilo seria dizer que continuavam mexendo com Draco Malfoy.

Então ela se virou para Rony. Na mão semi-morta do garoto o anel ainda reluzia. Ela caminhou até ele e sem piedade arrancou o pequenino dali. Mal fizera isso e Dumbledore surgiu pela porta da enfermaria.

Hermione depositou o anel sobre o criado e observou os professores e Aurores seguirem até a saleta de Madame Pronfey. Alguns minutos depois Harry voltou trazendo Gina.

Gina correu até o irmão desfalecido e de alguma forma o abraçou.

- Madame Pronfey disse que ele foi atingido por dois tipos de maldição ou azaração...ou sei lá o que!?- informou Harry parado ao pé da cama.- E que tinha marcas de unhas nas costas.

Hermione nem prestou atenção. Fitava o rosto de Harry vidrada. Lembrava-se do beijo de Draco. Do desejo que ela, apesar de tudo, ainda sentia por ele. Da mão do garoto subindo-lhe às costelas, e então ela piscou e viu Harry, mais uma vez.

Sentiu-se mal. Sentiu-se muito mal. Como podia, ela, amar um e encontrar-se agarrando o outro pelos corredores?

- Você está se sentindo bem, Mione?- perguntou Gina.

- Sim.- respondeu a garota engolindo seco e fitando o chão.

Ouviu-se passos. O grupo de aurores e professores estava de volta. Dumbledore fixou seu olhar em Harry que pareceu levemente inquieto.

- Molly chegará dentro de algumas horas.- disse o velho em voz grave.- Me avisem à sua chegada.- e então ele se retirou do aposento.

Não demorou muito e os três foram obrigados a fazer o mesmo. E naquela noite Hermione não desceu para o salão comunal. Não foi se encontrar com Harry, como já de costume. Assentado em uma das poltronas o garoto ficou a se perguntar o que ocorrera.

Em seu quarto, com os cortinados fechados e a cara metida no travesseiro, Hermione soluçava. Nunca se arrependera de nada que fizera na vida, mas tudo tem a sua primeira vez.

Mal sabia ela que não era a única a abafar o choro com o travesseiro naquele dormitório de garotas de dezesseis anos de idade nesta noite triste


****


- Como você está se sentindo?- perguntou a Sra. Weasley.

- Bem.- respondeu Rony com a voz fraca.

- Madame Pronfey disse que você pode sair em cinco dias.- continuou Molly.- Mas conte-me querido, o que fizeram contigo?

- Nada.- respondeu Rony.

- Não tenha medo.- disse a Sra. Weasley.- Eles não estão mais aqui, nada de ruim lhe ocorrerá.

- Não fizeram nada, mamãe.- repetiu Rony.

Quando a hora do começo das aulas chegou, Harry, Gina e Hermione deixaram a enfermaria juntos. Rony tinha a aparência estranhamente abatida e falava pouco, dava respostas evasivas às perguntas que lhe eram feitas e ainda evitava olhar as pessoas, mantendo sempre aquele olhar de peixe morto no nada.

- Ele está estranho.- Disse Harry.

- Eu já disse o que eles têm que fazer.- disse Hermione.- Aliás, já tinham que ter feito, mas simplesmente não me ouvem.

- E o que deveria ser feito?- perguntou Gina.

- Deveriam penetrar-lhe a mente.- disse Hermione.- Só assim eles saberão o que ocorreu. Só assim perceberão que apesar de tudo Rony não teve culpa de nada.

Silêncio. Hermione sentiu que Harry a fitava e ela o estava evitando desde que o dia nascera. Nem um beijo. Nem um olhar, nem um mísero bom dia. Ele ainda se perguntava o que estava acontecendo, talvez devesse fazer a pergunta a Hermione. Lhe faltava, porém, coragem.

As aulas daquele dia e dos outros, foram-se passando. O fim de semana chegou e passou e Rony ainda naquela que mais parecia uma crise existencial. Estava vivo, respirava, comia. Mas fingia não existir. Fingia não sentir nada. Fingia simplesmente não se importar.

O que os outros não sabiam era que a promessa de Belatriz Lestrange começava a se fazer presente dentro dele.Um ruidoso conflito interno e apenas isso. A culpa que ele normalmente deveria sentir fora muito mais que duplicada. E quando o dia de deixar a enfermaria chegou e os pés de Rony tocaram o chão ele já sabia o que viria a seguir.

A Sra. Weasley permaneceu em Hogsmead por mais alguns dias. No décimo segundo dia do mês ela partiu. Rony nada dissera sobre o seu período fora. Nada dissera sobre o porque da Maldição Cruciatus em Fred. Nada dissera sobre nada. Segundo Dumbledore ele se encontrava em estado de choque, mas que isso passaria. Um dia passaria.


- Nunca ganharemos da Corvinal sem o Rony.- murmurou Euan ao fim do treino.

- Eu sei.- murmurou Harry com a cabeça baixa.

- E não vai fazer nada?- perguntou o garoto.

- Eu tenho que pensar.- disse Harry.- Apenas isto!

O time já deixava o vestiário. Tinha que pensar. A verdade era que ele sabia bem que se tudo desse certo, no dia do jogo, ele estaria longe dali. Ele observou Gina amarrar o cabelo em um coque firme. Havia algo mais a afligi-lo.

- Gina.- disse ele se levantando e deixando o vestiário junto da garota.- Está acontecendo alguma coisa com a Mione?

- Que eu saiba não.- disse Gina estranhando a pergunta.- Porque?

- Nada.- disse Harry.

Os dois seguiram algum tempo em silêncio pelo gramado.

- Porque não pergunta a ela?- indagou Gina quando avistaram uma figura triste assentada nas escadas de entrada do castelo.

Harry consentiu com a cabeça e observou Gina subir. Em seguida se aproximou de Hermione. Um estranho vento gélido lambia a tudo e a todos naquela noite.

- Mione...- disse ele se assentando ao lado dela.- Você está bem?

Ela consentiu com a cabeça.

- O Rony voltou e está melhor, não é mesmo?!- indagou ela.

Harry concordou em silêncio quando um pensamento lhe passou pela cabeça. Era obvio demais para ele não ter notado antes.

- É por causa dele, não é?

- Dele quem? O que?- perguntou Hermione.

- Do Rony.- disse Harry.- Desde que ele voltou você está assim.

- Eu não estou assim...

- Você parece ter medo de mim.- interrompeu Harry.- Tenta sempre se manter distante e tudo o mais.

- Não é nada disso.- Disse Hermione se perguntando se não devia contar o que lhe afligia para o garoto. Mas algo lhe interrompeu. Ouviu-se um som metálico de algo quicando no chão. Hermione olhou à volta e bichento, que até então estava deitado por ali, passou rolando enquanto mordiscava algo.

A garota e Harry se entreolharam e ela se levantou. Apanhou o gato e tirou algo de sua boca. Um anel, o anel de Rony. Hermione sentiu algo tomar conta do seu corpo, algo mais frio do que o vento daquela noite. O anel viera do alto e ela sabia o que isso significava.

- Rony...- murmurou ela olhando para cima e vendo o que temia ver. Lá Em cima estava ele, no parapeito do telhado da escola, a muitos e muitos metros do chão.- Harry...- murmurou Hermione sem conseguir deixar de olhar para cima.- Pegue a vassoura!

- Que está ali?- perguntou Harry forçando a vista para enxergar.

- Pegue a vassoura e voe até lá.- repetiu Hermione.

- O que...

- PEGUE A VASSOURA!- berrou Hermione desesperada.- ANTES QUE O RONY CAIA!

Só então foi que passou na cabeça de Harry o que estava acontecendo. Hermione o observou sumir no ar e então desatou a correr castelo a dentro. Estava no terceiro andar quando achou, por acaso, Gina.

- Hermione?- perguntou ela.- O que está acontecendo?

Hermione olhou para a garota e então para a vassoura dela. Então ela tomou a última e montou na mesma.

- Suba.- disse ela.

- O que está acontecendo?

- Temos que chegar o mais rápido possível no telhado.- informou Hermione.

Gina olhou desconfiada e então subiu na garupa da vassoura.

- Você sabe guiar uma vassoura?- perguntou a garota e nem foi preciso responder.

Hermione deu uma arrancada brusca na vassoura e as duas giraram no ar quase batendo as cabeças no chão. Em seguida começaram a subir pelas escadas do castelo, agora quase batendo no teto. Seguiram até o corujal e de lá desceram um pouco. A cauda da vassoura raspou o chão por vários metros até finalmente parar.

Hermione saltou da vassoura ajeitando os cabelos enquanto seguia em frente veloz. Gina, confusa, ia atrás. Mais à frente estava Harry, parecendo receoso, e assentado no parapeito estava Rony.

- Você não quer, realmente, fazer isso, Rony.- disse Harry com veemência.

- Você não sabe, Harry.- disse Rony.- Mas eu estive sumido, e boa parte por vontade própria.

- Não diga tolices.- disse Harry.- Eu não estou lhe culpando por nada. Se Voldemort à essa altura sabe ou não da profecia eu não me importo, mas não faça isso.

Só então Rony viu as garotas mais atrás.

- Eu estive contando ao Harry sobre a minha vida nos últimos meses.- disse ele melancolicamente.- Casa, comida e roupa lavada. E ainda uma mulher experiente à cama toda noite. E em troca disso o que eu tenho? O fracasso! Eu poderia ter fugido, ter impedido que ela vasculhasse a minha mente, mas aquela vida era boa demais para ser largada para trás.

Gina quis dar um passo em frente, mas Hermione a segurou pelas vestes.

- E ela soube de tudo.- continuou Rony.- E quando não sobrou nada de mim ela simplesmente me jogou fora, me entregou ao fracasso. E agora eu estou aqui. Acabo de descobrir que a vida não vale a pena.

- Rony disse que vai se jogar dali, Mione.- disse Harry seriamente.- Conte a ele porque ele não deve fazer isso.

Hermione sentiu certa raiva por Harry dizer aquilo, por ele insinuar o que estava insinuando, mas o pânico, conseqüência da possibilidade de ver um de seus melhores amigos se matar era tão grande que ela pensou logo em algo para dizer.

- Não faça isso, Rony.- disse Hermione.- Você não pode nos abandonar. Somos um time, você esqueceu?

- Fomos um time.- murmurou Rony olhando em frente.

Uma voz feminina agora falava em seu ouvido. Era quase um canto, uma melodia agonizante em uma voz rouca que ele conhecia muito bem. “Weasley... é... o... nosso... rei... Weasley... é... o... nosso... rei.”

Hermione ouviu um soluço e viu que lágrimas desesperadas lavavam o rosto de Gina.

- É bom poder me despedir de vocês e pensar que um dia fomos felizes.- disse Rony.

Gina fez que ia em frente e até chegou a faze-lo um pouco mas Rony tornou a falar.

- NÃO SE APROXIME!

Gina parou. Rony lentamente começou a se levantar até que ficou de pé no parapeito. Hermione sacou a varinha discretamente e deu alguns passos para acolher Gina em seus braços. De alguma forma ela chegava a fazer força para manter a outra firme, não podia deixa-la correr até lá. Harry apertou a vassoura nas mãos, se Rony pulasse ele não o deixaria chegar ao chão. Ele olhou para Hermione e ela parecia já entender o que deveria ser feito.

Rony tirou algo de um bolso. Era um cachimbo. Com a ponta da própria varinha ele o acendeu. Hermione se lembrou de Draco e o seu coração doeu. Harry olhou para trás mais uma vez e ela virou o rosto. Rony deu uma tragada mui longa no cachimbo.

- Sabe.- disse Rony.- Eu lembro de uma coisa da minha infância. Eu não tinha mais que sete anos. Era uma madrugada de verão como esta, eu Gui e Gina estávamos deitados na grama d’A Toca olhando as estrelas.

Harry sentia o vento lamber seus cabelos.

- E Gui me disse uma coisa.- continuou Rony.- Que nunca mais saiu da minha cabeça.

Podia-se ouvir os soluços de Gina em algum canto.

- Havia uma estrela ali, um dia, mas ela desapareceu.

Tudo aconteceu depressa. Primeiro foi o cachimbo, e depois o próprio Rony. Gina se soltou de Hermione de forma que a varinha da segunda caiu no chão enquanto a primeira corria desesperada até a borda do telhado. Ainda se pôde ver Harry mergulhando com a vassoura, mas não houve Firebolt que chegasse a tempo.

Harry desceu da vassoura e tombou de joelhos no chão, ao lado do corpo, em um ângulo estranho, de Rony. O garoto ainda tinha os olhos abertos e fitava Harry enquanto em seus ouvidos, agora muito nitidamente, ele escutava o coro “Weasley é o nosso rei! Weasley é o nosso rei!”

E quando Rony tombava, ele pôde ver Gina pousando e correndo até os dois. Chorava descontroladamente. Harry não soube o que fazer e por isso ele a abraçou.

E enquanto o coração de Rony finalmente parava Hermione descia desesperadamente as escadas do castelo. Corria como nunca havia corrido na vida. Corria como sequer imaginara poder correr. Corria como se correr fosse de alguma forma salvar a vida de Rony. E enquanto corria tentava estabelecer uma ligação de mentes entre ela e o rapaz, mas isso parecia ser mais impossível que no período em que ele estivera sumido. E quando percebeu que por mais que corresse nunca chegaria a tempo ela entrou na primeira sala que encontrou.
Tonks ergueu os olhos, assustada, ao ouvir a porta se abrir com violência. Hermione nada disse, apenas arrancou o mapa do maroto da parede e procurou desesperadamente a entrada do castelo no mapa. Havia apenas dois pontos. Havia Harry, havia Gina, mas Rony não estava ali.

Ouviu-se o ruído da moldura do mapa espatifando-se ao alcançar o chão, Hermione levou as mãos à boca enquanto uma lágrima solitária lhe lavava o rosto.

- O que aconteceu?- perguntou Tonks fitando-a com os olhos arregalados.

- Ele se foi.- murmurou Hermione com um horrendo nó na garganta.- Ele preferiu matar-se à enfrentar a falsa realidade que a Comensal lhe fixou na mente.


***continua***


Nota da autora: Agora que salvei novamente os capítulos que havia perdido colocar tags vai ser mais fácil. Muito em breve mais capítulos. (Prometo que não vai demorar mais de quatro meses dessa vez) Continuem comentando.
Abraços^^
Julia Roquette

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Comentários (1)

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