Em Hogsmead



Draco entrou na biblioteca e se assentou, sério. Nunca tinha estado em uma biblioteca trouxa antes. Não era muito diferente. Apesar de um estranho objeto sobre a mesa. Algo em um tom de branco. Com uma espécie de tela e várias pequenas coisinhas. Tudo ligado por fios.

Draco se distraiu por um momento naquela coisa e então foi ter com os livros, que pareciam incrivelmente limpos.

Nunca havia visto o verdadeiro Moody. Talvez em jornais sim, mas não pessoalmente.

O olho mágico não parava de rodar e o normal mantinha-se fixo em Draco. Moody se levantou e começou a andar de um lado para o outro.

- Digo-me surpreso por encontra-lo aqui, Sr. Malfoy.- disse Moody.

- Não vejo porque a surpresa.- respondeu Draco calmamente.- Alunos do mesmo ano geralmente confraternizam uns com os outros.

- Até onde eu sei Potter e você sempre foram inimigos.- disse Moody ainda caminhando pela biblioteca.

- Nada como paz em época de guerra.- disse Draco sorrindo.

- Nada como pessoas tolas que não enxergam a malícia que há por trás de um rapaz como você.- sibilou Moody.

- Está querendo dizer que acha que eu estou aqui como uma espécie de espião?- perguntou Draco.

- Eu estou afirmando isso.- disse Moody fixando os dois olhos em Draco.

- Para um auror aposentado você está se saindo um tanto quanto ridículo.- disse Draco calmamente.

Moody emitiu um ruído estranho. Por um momento Draco considerou a possibilidade de ser transformado em uma Doninha.

- Vou começar o meu questionário.- Informou o homem.

Draco soltou um suspiro com certo alicio.

- Quando foi a última vez que viu Rony Weasley?- perguntou Moody impaciente.

- No expresso Hogwarts.- disse Draco sem emoção.- E não, eu não notei algo de estranho, mesmo porque o Weasley é tão insignificante que eu nem me dei ao trabalho de reparar.

Moody o olhou desconfiado.

- Porque eu tenho a sensação de que você sabe mais do que diz?- perguntou Moody.

- Porque você é um velho paranóico?- arriscou Draco.


****


Hermione entrou, em silêncio, em seu quarto. Gina estava assentada a um canto com o olhar perdido.

- Oh! Gina.- disse Hermione caminhando até ela e a abraçando.- Não se acabe desta forma.

- É o meu irmão, Hermione.- choramingou a outra.- Eu sei que eu tenho muitos irmãos, mas de uma forma ou de outra Rony era quase que o mais próximo de mim.

Ouviu-se um ruído prolongado e Luna entrou no aposento arrastando seu malão. Ela olhou de Gina para Hermione, como se de alguma forma não esperasse encontra-las, juntas, ali.

- Ele não devia ter visto o Draco aqui.- disse ela.

- É.- disse Hermione.

- Teremos que ser discretos daqui para a frente.- disse Luna.

- É.- Hermione limitou-se a dizer.

Estava, agora, longe dali. Muito longe. Pensava em Draco. De alguma forma ele a enganara. Ele sempre soubera dos planos de sua tia para - talvez por ordens de Voldemort, talvez não – atrair Rony. Mas o fato de ele ter aberto a própria mente daquela maneira já aliviara muito a barra do garoto.

Hermione agora entendia alguns fatos ocorridos nos últimos meses. Ela entendeu porque Belatriz, ao invadir seu corpo, olhara com certa diversão para o Rony. E ela não sabia como, não tivera tempo para saber na realidade, mas tudo parecia ter sido feito no dia do baile. Por isso toda aquela confusão. Por isso tudo aquilo.


****


- Posso ir agora?- perguntou Draco calmamente.

- Não confio em você, garoto!- disse Moody encarando-o.- E farei o que estiver ao meu alcance para que ninguém aqui presente confie.

- Isso é uma ameaça?- perguntou Draco sorrindo amavelmente.

- Sim!- sibilou Moody.- Isto é uma ameaça.

- E o que o senhor vai fazer?- perguntou Draco cruzando os braços.

- Espere e verá.

- Acho que está com medo.- murmurou Draco em tom desafiador.

- Medo?- riu Moody.

- Sim.- disse Draco.- Medo! Não exatamente de mim, mas do caminho para o qual eu possa levar Harry.

- Não acho que Harry...

- O senhor sabe que Potter não está mais com Dumbledore!- disse Draco.- E tem medo do que ele possa fazer agora.

Silêncio. Ouviu-se o ruído da perna de pau de Moody arrastando-se no chão até a cadeira.
- Eu só fico admirado.- disse Draco.- Como um Auror graduado como Alastor Moody pode simplesmente temer um garoto de 16 anos!?

- Você tem uma auto-estima e tanto ein?!- disse Moody.- Ou podemos chamar de modéstia?

- Prefiro a última.- disse Draco.- Auto- estima soa como coisas de trouxa.

- Aquela que você diz sua amiga é uma trouxa.- disse Moody calmamente.

- Toda regra tem uma exceção.- disse Draco.- Hermione é mais talentosa do que muitos de nós. Deveríamos dever lealdade a ela.

- Idealismo das trevas!- murmurou Moody.

- Posso ir agora?- perguntou Draco.

Moody o olhou de cima a baixo e então fez um sinal para que ele deixasse o aposento.

Todos estavam reunidos no quarto de Hermione quando Draco veio em seu andar monótono altista. Pareciam ansiosos.

- E então?- perguntou Luna fitando-o.

- Conversaremos em Hogwarts.- disse o garoto seriamente quando Moody surgiu por trás dele.

Todos se entreolharam e calados juntaram suas coisas para tomar a chave de portal. Permaneciam calados. Qualquer comentário precipitado os encrencaria ainda mais. Harry observou tudo a volta. Provavelmente não mais veria aquele lugar. Seus olhos recaíram sobre o ponto onde, antes, ele estivera aos beijos com Hermione. Que aquele seja o primeiro de muitos, pensou.

- Vocês vão embora?- perguntou alguém à porta.

Hermione se virou com impaciência.

- Sim.- disse ela.- Despedi de mamãe e papai antes deles voltarem ao consultório.

- Pensei que esperariam o fim das férias.- disse Peter.

- Temos problemas a resolver.- rosnou Moody fitando-o enquanto caminhava até a mesa e apanhava a jarra com água.

- Ah!- fez Peter olhando o homem de cima a baixo.

Moody encheu um copo de água e em seguida depositou o olho mágico ali. Peter soltou uma exclamação de nojo, Moody de regozijo.

- Preciso ir ao banheiro.- informou Gina.

- Vá.- ordenou Moody.- Vejam se nada está ficando para trás. Vocês têm quinze minutos.

Logo todos se dispersaram. Harry seguiu até o quarto no qual estava hospedado. Hermione, na porta do quarto de Luna o observou fazer isso. A última assentou-se a um canto e tirou do bolso um exemplar d’O Pasquim. Draco parou na porta, defronte a Hermione.

- Eu não pude deixar que tudo se perdesse.- disse ele em tom reservado.- Tentarei um trajeto até o anoitecer, olhe pela janela e procure a luz.- completou antes de seguir o caminho até o quarto que dividira com Peter Granger. Peter foi atrás.

Hermione escutou os murmúrios da conversa entre os dois, e então, pé ante pé seguiu até o quarto no fim do corredor. O quarto de Harry.

Ao entrar no quarto e fechar a porta ao passar, ela encontrou Harry debruçado sobre seu malão.

- Não vai conferir as suas coisas?- perguntou Harry a ela.

- Se tiver esquecido algo mamãe me envia depois.- disse ela.- Tenho coisa mais importante a fazer.

Harry largou o livro que segurava e olhou para ela. Parecia sem jeito. Ele se aproximou e considerou a possibilidade de perguntar o que era a “coisa mais importante a fazer”, mas antes que as palavras pudessem se formar em sua garganta eles estavam grudados pelos lábios.

E os minutos se arrastaram com certa rapidez importuna. Ouviu-se uma batida à porta. Harry e Hermione se soltaram.

- Estamos partindo!- era Gina.

Hermione de alguma forma ajeitou os cabelos e sorriu para Harry.

- Acho que devemos ir.- disse ela.

- É.- concordou Harry enquanto fechava o malão.

Eles deixaram o quarto carregando o malão de Harry. Peter parado à porta de seu quarto os observou passar. Nos anos que se seguiram Harry não reviu o rapaz. Na verdade ele nem sentiu nada por isso. E quando tudo girou, e a chave de portal os levou para longe, ainda podia-se ver a cobiça nos olhos do rapaz.

Eles chegaram silenciosamente na sala de Tonks. Não houve questionário e nem qualquer outro tipo de comunicação. Eles simplesmente seguiram para suas respectivas casas e se prepararam para aproveitar o fim das férias de natal em Hogwarts.

- Tudo se perdeu.- disse Harry quando finalmente se reuniu à Gina e Hermione no salão comunal. A noite já caíra com tudo lá fora.

- Nada se perde assim.- disse Hermione.- Mas temos que ser cautelosos.

- Não posso pensar em fazer nada sem o Rony.- disse Harry.

- Ele vai aparecer.- disse Hermione com veemência.

- E se eles o matarem?- perguntou Harry.- Porque está obvio que isso foi coisa de Comensais.

- A única pessoa que eles querem ver morto é você, Harry.- disse Hermione.

Gina permanecia calada e alheia à tudo aquilo.

- Granger?

Hermione se virou e fitou com certa impaciência, enquanto ajeitava o distintivo, um aluno do terceiro ano.

- A Professora Tonks pediu que você fosse à sala dela.- disse o garoto.

Hermione fez um sinal para que ele se retirasse e olhou para Harry.

- Ela vai querer explicações.- disse ela.- Inclusive sobre o Malfoy.

- Eu sei.- disse Harry.

- Eu posso contar tudo.- disse Hermione.- Posso alegar inclusive que tudo foi um momento de delírio. Que não vamos levar nada adiante!

Silêncio.

- Mas eu posso mentir, Tonks não conseguiria ler a minha mente mesmo...- disse Hermione.- Eu não gosto da idéia, Harry. Mas depende de você. Eu só tenho planejado todas essas loucuras por você. E cabe a você decidir o que devo fazer.

- Acho que a escolha é sua.- disse Harry com simplicidade.

- O fogo está no meu malão.- disse Hermione.- Os mapas estão com Draco e ele provavelmente já está pensando sobre o nosso trajeto. Mas cabe a você decidir se vai realmente levar isso adiante.

Pra quê tanta dúvida? Pensava Gina. Ela mal sabia qual era o plano, mas pra ela tudo soava tão simplesmente que ela não conseguia compreender o dilema de Harry em topar o plano ou não.

- Talvez o Rony esteja lá.- disse a garota.- Talvez nós os encontremos, ainda com vida.
- Eu vou.- disse Harry.- Depois de tudo eu não posso desistir, não é mesmo?

Hermione concordou com a cabeça e caminhou até a janela. Havia uma pequena luz lá em baixo, já bem distante da cabana de Hagrid. Uma luz avermelhada, talvez fosse uma brasa, emanava solidão.

- Eu preciso de meia hora.- disse ela se virando novamente.

- Para quê?- perguntou Harry.

- Bichento!- chamou Hermione enquanto ajeitava o distintivo.- Vá até lá e não o deixe partir.

O gato ronronou e saiu veloz pelo buraco do retrato.

- Vou até a sala de Tonks.- disse Hermione.- Me encontre em meia hora no saguão de entrada. Usem a capa da invisibilidade.

Harry e Gina a observaram sair.

- Quem está lá e vai partir?- perguntou Harry.

- E você ainda pergunta?- murmurou Gina enquanto se apoiava na janela para observar.


****


- Você deve saber porque a chamei aqui, Hermione.- disse Tonks assim que a outra se assentou.

- Talvez.

- Lembro-me de certa vez, no início do ano.- disse Tonks.- Em que você me falou sobre Draco Malfoy.

- Eu estava enganada.- disse Hermione enquanto fitava o pôster de Belatriz Lestrange.

- Talvez agora você esteja iludida.- disse Tonks.

- Não, não estou.- disse Hermione, por trás do rosto pálido da mulher ela via um outro, ela via Rony.

- Moody me falou sobre a arrogância do garoto.- disse Tonks.- E sobre objetos estranhos, em sua casa.

- Pensávamos em ir atrás de Rony.- mentiu Hermione.- Convidei Draco para passar o fim das férias em minha casa. E ele chegou dizendo que vira Rony no Cabeça de Javali. Então conseguimos um mapa e traçávamos um plano.

- Um plano?- perguntou Tonks.

- Foi uma idiotice.- disse Hermione.- Mas era o que pretendíamos.

- E mudaram de idéia?- perguntou Tonks.

- Seria loucura ir “resgatar” o Rony levando o Harry.- disse Hermione.

- Sinto-me aliviada em saber que vocês desistiram. Vejo que você ainda tem algum juízo na cabeça.- disse Tonks.- Tem praticado Legilimencia?

- Não.- disse Hermione.- No máximo lido sobre o assunto.

- Talvez seja melhor assim.- disse Tonks.- E a propósito, devo ir até Hogsmead amanhã. Se quiserem passar o dia na casa da ordem, lá...

- Vou falar com o Harry.


****


- Não sabia que você fumava, Draco.- disse Hermione quando eles finalmente alcançaram a Sombra dos Sonserinos.

- Tradição de família.- disse o garoto. Harry fez um muxoxo.

Silêncio.

- O que vieram fazer aqui?- perguntou Draco em tom de drama.- Vieram me avisar que tudo foi perdido? Que eu vou ter que voltar para casa no verão?!

- Porque não conta ao Harry sobre o que falou ao Moody?- perguntou Hermione enquanto se assentava. Gina fez o mesmo.

- Porque eu não contei ao Moody!- disse Draco.

- Como assim?- perguntou Hermione.

- Dizer a ele onde está Rony Weasley tiraria a diversão dos aurores em procura-lo.- disse Draco. Harry arregalou os olhos.- E isso os faria voltar violentamente para nós. Atrapalharia ainda mais os nossos planos.

- Vo- você sabe onde está o meu irmão?- perguntou Gina.

- Sim.

- Porque não disse antes?- perguntou a garota.

Hermione e Harry se olhavam agora. Ele já teria erguido Draco pelo colarinho se não fosse isso.

- Na realidade eu não sei onde ele está.- disse Draco calmamente.- Eu sei com quem ele está.

- Conte tudo a eles, Draco.- disse Hermione fazendo soar como uma ordem.

E Draco contou. A única pessoa no mundo para a qual ele contava seus planos era a sua tia, por isso estar contando aquilo tudo à Harry Potter e duas garotas se tornava algo demasiadamente estranho. Mas ele contou...tudo! E no fim das contas Harry estava assentado na neve, ouvindo aquilo com muita atenção. Atenção que Draco jamais esperara receber do mesmo.

- Você diz que não crê em Voldemort, apenas em Belatriz Lestrange.- disse Harry.

- É isso mesmo!- confirmou Draco.

- É o mesmo que dizer que não crê na magia, apenas nas coisas que a varinha é capaz de fazer!- disse Harry em tom sarcástico.

- Não, não é.- disse Draco.- Você não sabe, Potter. Mas todos aqueles que pertenceram à última geração dos Black foram grandes. Talvez mamãe e meu falecido tio-primo Régulo nem tanto. Mas os demais... Oh! Você deveria saber.

- Sirius foi grande.- disse Harry com veemência.- Não os outros.

- Todos eram pequenos gênios cujos pais tentavam podar, mas não o fizeram com sucesso.- prosseguiu Draco.- Andrômeda se libertou e foi para longe. Sirius não se libertou totalmente, mas lutou contra aquilo tudo. Belatriz não. Ela poupou suas forças para se erguer mais tarde. Mais poderosa do que, na infância, ela jamais sonhara ser.

Hermione se lembrou de certo encontro que tivera com Lupin ali, naquele mesmo lugar. Ele sabia de história semelhante e até teria contado se Moody não tivesse aparecido. Talvez devesse aceitar o convite de Tonks e ir até a casa dos Aurores. Talvez pudesse entrar no assunto com Lupin.

- Eu nunca soube o que aconteceu durante a guerra.- disse Draco interrompendo os pensamentos de Hermione.- Como pôde ver, você não é o único dos quais escondem as coisas, Potter...

- Desculpe, Malfoy.- interrompeu Gina.- Mas nada de plano de comensais me intereça agora.

Draco soltou um muxoxo.

- Mas deve...- interrompeu Gina.- Deve haver um lugar para o qual sua tia levou Rony. Pois como você disse no começo ela não está cumprindo ordens de Você- Sabe- Quem.

- Como eles não percebem que há algo de errado?- perguntou Harry pensativo.- Deveriam notar a ausência dela e tudo o mais.

- O Lord das Trevas confia nela.- disse Draco.- Ele deu carta branca para ela se posicionar como quisesse. Para ela tentar dominar a sua mente, Potter.

- Porque ele mesmo não faz?- perguntou Harry.

- Não sei.- disse Draco com simplicidade.

Silêncio.

- Eu tenho idéia de onde eles possam estar.- disse Draco.- Mas preciso de algum tempo.

- Rony pode estar morrendo.- disse Gina aflita.

- Ele não vai morrer, Weasley.- disse Draco.- Minha tia não mata ninguém em tão pouco tempo.

- E o trajeto?- perguntou Hermione que até então estava calada.

Draco deu uma tragada em seu cachimbo e a fitou com certo carinho. Harry sentiu raiva por ele fazer aquilo.

- Trajeto?

- Até a sua casa.- disse ela.

- Ah! Sim. Não brinco em serviço.- disse ele lançando outro sorriso para a garota.- Partiremos para Londres.- começou.- Pegaremos um trem trouxa até Birmingham e outro até Gloucester. De lá tomaremos um ônibus rodoviário trouxa até Monmouth.

- Estaria bem se eu soubesse onde fica metade dessas cidades.- disse Harry impaciente.

- Pensei que vivesse, durante o verão, no mundo dos trouxas, Potter.- retrucou Draco.

- Vivo. Mas meus tios jamais me levaram em viagens.- disse Harry.

- Fica próximo ao País de Gales.- disse Hermione.- A vila fica na Floresta de Dean?

- Sim.- disse Draco.- Seguiremos à beira do Rio Teme. Não é difícil.

- E quando chegarmos lá?- perguntou Gina.

- Eu vos guiarei.- disse Draco.

- Quando partimos?- perguntou Gina.- Deveríamos esperar o Rony.

- Vamos esperar, mas não pelo Weasley.- disse Draco.- A atenção dos Aurores está sobre nós. Temos que esperar que eles se distraiam.

- Mas e o Rony?- perguntou Gina.

- Tenho um trato.- disse Draco.- Minha tia não será queimada e o Rony ficará bem.

Harry soltou um suspiro raivoso. Hermione baixou a cabeça. Não lhe agradava a idéia de deixar a mulher à solta, mas era um trato justo.


****


Rony sentiu-se girar. Estava acordando, ele sabia. Depois de horas preso no escuro ele estava de volta. Abriu os olhos. Já era noite. Sua nuca doía. Ele se assentou na cama e olhou à volta. Ela estava assentada de costas para ele e defronte a lareira.

- Creio que queiras comer algo.- disse Belatriz em tom sereno – sem perder o rouco natural – e sem se virar para o garoto.

- É.- fez Rony se levantando.

- Há comida sobre a escrivaninha.- informou ela com certa secura.

Rony foi até lá. Havia alguns bolinhos ali. E algum tipo de carne muito salgada. Mas ele sentia tanta fome que comeu sem pestanejar enquanto observava a mulher lendo atentamente uma espécie de livro.

Assim que o garoto terminou, Belatriz se levantou e fez o livro desaparecer. Em seguida ela caminhou até uma arca, que até então Rony não tinha reparado a existência, e a abriu.

Rony a observou lançar o baú, com um toque de varinha, até os pés da cama. Diversas coisas começaram a saltar dali.

- Venha aqui.- ordenou Belatriz parando de pé defronte a cama.

Rony, meio receoso, obedeceu. Havia de tudo, realmente, ali. Desde inúmeras vestes negras até copos e talheres.

- Alguma destas deve servir em você.- disse ela pensativa.
Rony a observou apanhar as vestes e medi-las com o olhar. Até que finalmente pareceu encontrar a que queria.

- Tome.- disse ela.- Vista-se.

- Estou bem assim.- disse Rony.

- Está sujo.- disse ela.- Esteve voando, assentou-se em terra e suas vestes já viram até a poeira deste chão. Troque-se.

Rony apanhou as vestes e lançou um olhar à porta que dava a um banheiro.

- Não estás com vergonha de mim, ou estás?- perguntou Belatriz em tom de divertimento.

Rony sentiu-se ruborizar violentamente.

- Gostaria de lhe perguntar sobre algo.- disse ele.

- Diga.

- Que lugar, exatamente, é este?- perguntou ele.
- Meu pai usava esta cabana quando vinha tratar de negócios em Hogsmead.- disse Belatriz calmamente.- Há todo tipo de objeto de família aqui. Como isso.- ela apanhou o que parecia um estojo de couro e o estendeu a Rony.- É uma tradição de família o uso do fumo. Creio que fui uma das poucas à desobedecer a essa regra.

- Sirius Black também não fumava cachimbos.- disse com veemência. Ele observou uma sombra cobrir o rosto de Belatriz.- Pelo menos não enquanto estávamos em casa.

- Eles reformaram a casa?- perguntou Belatriz incrivelmente séria, com os olhos levemente desfocados.

- Mais ou menos.- disse Rony.- Fizeram uma limpa, apenas.

- Lembro da minha infância, lá.- disse Belatriz com certa tristeza.

Rony a fitou. Ela possuía uma beleza diferente para cada estado de humor. O vigor da juventude parecia lhe encarnar quando ela era cruel. E agora, tristonha, possuía uma beleza mórbida.

- Na sua época o elfo já estava lá?- perguntou Rony, um pouco mobilizado pela expressão, agora tão frágil, da mulher.

- O Monstro?- perguntou Belatriz.- Oh! Sempre quis matá-lo. Dizem que ele enlouqueceu, provavelmente de tanto ser torturado.

- Ela já era insuportável na sua época?- perguntou Rony.

- Oh! E como.- disse Belatriz.- Monstro era um bajulador, mas ao fim das contas serviu para alguma coisa.- completou sorrindo.

Rony se lembrou, com certo ódio, do episódio em que Monstro correra até Belatriz para contar coisas sobre Sirius e Harry, mas olhando-a daquela forma, tão de perto e, ela tão fragilizada ele simplesmente não conseguia odiá-la de maneira alguma.

- Não vai se trocar?- perguntou Belatriz fitando-o.
Rony olhou das vestes em seus braços ao rosto da mulher. Em seguida começou a se trocar. Sentia-se novamente vermelho, deu as costas a ela e quando estava a meio caminho, se virou, ele não conseguiu resistir. Caminhou até ela e a beijou ardentemente, como jamais ele beijara pessoa alguma neste mundo.


***continua***

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