Retorno à Hogwarts.




- Você é uma vidente, certo?- perguntou Draco Malfoy em seu costumeiro tom de voz arrastado.

- Sim!- respondeu a mulher gorda e cheia de colares, pulseiras e anéis cheia de misticismo.

- Pode predizer o meu futuro, então. - disse Draco.

- Sim!- repetiu a mulher no mesmo tom de voz enquanto, da poltrona onde estava assentada à espera de Lúcio Malfoy, observava o rapaz louro.

- Diga quando vencerei Potter no quadribol, então!- disse Draco.- Quando ganharei aquela taça dele?!

- Deixe-me ver a sua mão, rapaz. - disse a mulher.

Draco, que anteriormente estava encostado à porta da sala de visitas da Residência dos Malfoy, caminhou até a mulher e estendeu-lhe a mão direita.

A mulher apanhou a mão pálida e longa do garoto, alisou-a por um momento, e sem muita demora reassumiu seu misticismo.

- Está tudo aqui!- disse ela enquanto fazia o caminho de uma das linhas na mão de Draco.- Harry Potter só é páreo para você em um quesito de sua vida, e este não é o quadribol.

- Do que está falando então?- perguntou Draco.

- Está escrito, garoto!- continuou a mulher.- Não posso dizer qual dos dois a conquistará. Mas será uma briga acirrada.

- Dá pra falar ao que se refere?- perguntou Draco irritado puxando sua mão para longe da mulher.

- Algo que você julga imundo e desprezível. - disse a mulher.- Mas você lutará por isso com garra.

- Dá pra ser clara? - perguntou Draco.

- Você saberá. - disse ela. - Quando o momento chegar.

Draco ia insultar a mulher quando ouviu passos rápidos e em seguida sua Tia Belatriz adentrou a sala.

- Lúcio não poderá atendê-la. - disse lançando um olhar de nojo à mulher gorda assentada na poltrona.- Mas você pode tratar de quaisquer assuntos comigo.

- Pois não!- disse a mulher gorda se levantando pesadamente.

- Você pode ir, Draco.- completou Belatriz e no segundo seguinte Draco Malfoy saiu pela porta da sala e ganhou o enorme corredor de madeira super lustrada. Sentia-se irritado. Odiava pessoas enigmáticas.

Há centenas de quilômetros dali Harry Potter assistia, junto com os tios, o último noticiário, para ele, do verão.

- Até hoje não entendo porque você se recusou a ir passar o fim do verão com as pessoas da sua laia, moleque!- disse tio Válter assim que o locutor anunciou o intervalo.

Harry deu ombros. O Tio quase teve um enfarto no dia em que o rapaz anunciou que passaria todo o verão ali. Mal sabia ele que Harry queria retardar ao máximo o seu retorno ao mundo mágico, como uma forma de fugir à realidade que insistia em atormentá-lo.

- O que interessa é que o senhor vai me levar até a estação amanhã, certo?- perguntou Harry como quem confirma o horário do próprio enterro.

- É melhor que aturar você em casa o restante do ano.- retorquiu Tio Válter.

Harry permaneceu calado.

- A que horas parte o seu trem, se é que gente da sua laia usa trem?- perguntou o Tio Válter como uma criança que vai obrigada à missa.

Harry pensou por um momento. Se chegasse cedo ele evitaria os olhares curiosos, o assédio, certos constrangimentos e ainda garantiria um lugar discreto nas cabines do fundo.

- O trem parte às dez horas. - disse Harry quando a o som da vinheta do jornal encheu a sala.

- E para encerrar o jornal de hoje vamos assistir à matéria sobre as eleições para Presidente da República dos Estados Unidos da América ...

Ao ouvir o isso, Harry se levantou e subiu para seu quarto. Suas coisas já estavam parcialmente arrumadas. Ele assentou-se em sua cama e fitou a gaiola de Edwiges, vazia.

Agora não tinha mais opções. Depois de dois meses confinado na Rua dos Alfeneiros, número 4, por vontade própria respondendo evasivamente às cartas que recebera dos amigos, teria que encarar a realidade, a dura realidade.

Enquanto Harry pensava no que o esperava lá fora, Draco Malfoy, em sua casa, assistia sua mãe entrar no quarto trazendo as últimas meias recém-lavadas e passadas para serem guardadas em seu malão.

- Seu pai ficará irado se souber que dormiste durante a reunião da Academia Comensal, Draco.- disse Narcisa secamente enquanto olhava para o rapaz recostado na cabeceira de sua cama de colunas.

- O Sr. Goyle sequer notou. - respondeu o rapaz dando ombros.

- Mas sua Tia Belatriz sim.- disse Narcisa fechando o malão e erguendo o rosto pálido para o do filho.

- Pouco me importa, mamãe..

- Porque você não pode simplesmente aceitar que já está na idade de assumir responsabilidades?- indagou Narcisa.

- Porque vocês não conseguem simplesmente aceitar que eu já estou na idade de cuidar da minha vida sozinho?- retrucou Draco com um sorriso sarcástico nos lábios.

- Não perderei meu tempo com esta discussão infundada. - disse Narcisa dando as costas para o garoto e caminhando até a porta. - Deixe que o seu pai, na hora certa, saberá corrigi-lo. Tenha uma boa noite.

Draco observou a porta de mogno bater e fitou o nada por algum tempo. O Lorde das Trevas queria jovens que semeassem sua palavra em Hogwarts. Ele, Draco, sentiria enorme prazer em fazê-lo. Organiza grupos de Magia Negra era o tipo de transgressão às regras de Hogwarts que o divertia mas o seu sadismo não ultrapassava a fronteira dos trouxas infiltrados no mundo mágico. Invadir cidades trouxas e exterminá-los para ele era o mesmo que resolver exterminar todas as baratas do mundo pelo simples fato de elas serem baratas.

A Academia Comensal era uma espécie de curso de férias de Magia Negra, oferecido à filhos dos Comensais da Morte mais ilustres onde os jovens além de aprender um pouco sobre magia negra, eram submetidos à uma tentativa de lavagem cerebral intitulado “o resto do mundo é a escoria”, parte que Draco decidira ignorar. Ao término do verão, Draco fora designado, como membro da AC, a levar os ensinamentos do verão à Hogwarts. Mas ele, com sua teimosia natural dos dezesseis anos de idade, estava disposto ao fazer apenas aquilo o que queria. A levar adiante apenas a parte da palavra do Lorde das Trevas, aquela que interessava a ele próprio.

Depois do episódio de desatenção durante uma lição da AC, referido por sua mãe, Draco decidiu procurar sua tia Belatriz e dissertar sobre tudo o que pensava a respeito da guerra. Na ocasião jurava que ela o crucificaria por tudo o que dissera, mas foi um daqueles casos a que se referia um escritor trouxa que sempre lia escondido de seus pais. Como era mesmo? Algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. É, foi o que ocorreu.

O rosto de Tia Belatriz ainda pairava diante de seus olhos.

“- Se você realmente acredita no que diz, sugiro lute por isso até o fim. Um grande bruxo não é feito só de coragem ou poderes e força, mas também de força de vontade, determinação!”

- Senhor Malfoy?

Draco piscou os olhos e encarou com desprezo o elfo estancado ao lado de sua cama.

- O que você quer, elfo maldito?!- perguntou, imensamente irritado por ter seus pensamentos interrompidos.

- Mil perdões, ó pequeno mestre. - desculpou-se o elfo. - Vosso pai mandou perguntar-lhe se deseja algo antes de dormir?

- Desejo que você se jogue de cima da escada do sótão para ver se vai doer e me deixe em paz!- sorriu Draco calmamente.

- Si- sim senhor.- disse o Elfo pasmo antes de sair afoito correndo do quarto.

- Elfos idiotas!- resmungou enquanto se levantava para trocar a roupa de dormir.


*


Harry caminhava pelo velho corredor que levava ao Departamento de Mistérios. Seguia só. Abriu a porta sem fechaduras. Atravessou a sala redonda por um caminho que já conhecia e, finalmente, alcançou a Câmara dos Mortos. Lá estava ele.

Sirius flutuava no ar e, como se o arco fosse um aspirador de pó a sugar tudo o que via pela frente, foi atravessando lentamente o véu.

- SIRIUS NÃO!- gritou Harry.- POR FAVOR! NÃO! VOCÊ NÃO PODE ME DEIXAR!

Harry até tentou correr até seu padrinho e puxá-lo pelos pés, mas algo o segurou. Virou-se. Era Luna.

- Não se preocupe.- disse ela.- Um dia você irá reencontrá-lo.

- Não quero ter que esperar!- disse Harry para ela, Hermione e Rony se aproximavam.- Eu quero vê-lo agora!

- Então entregue-se a Voldemort, cara.- aconselhou Rony.

- Mas... e a profecia? Eu não posso...- divagou Harry.

- Se você deseja realmente reencontrar Sirius...- considerou Hermione.- Pode sim.

- Vocês acham?- ponderou Harry, desconfiado. Então notou que aqueles não poderiam ser seus melhores amigos. Eles não sugeririam a ele que se entregasse a Voldemort.- Vocês não são vocês!- disse recuando alguns passos.

- Como você sabia?- perguntou Rony, mas não era mais Rony pois o rosto deste se transfigurou no de Lúcio Malfoy assim como o de Luna e Hermione se transformaram no de Belatriz Lestrange e do próprio Voldemort respectivamente.

- NÃÃO!- gritou Harry, recuando mais, antes de se virar e começar a correr. Foi então que tropeçou em algum lugar e despencou com a testa no chão, o que lhe proporcionou uma imensa dor na cicatriz.- NÃO! NÃO!- repetiu, ainda deitado, virando-se.


*


- Já não via a hora de me ver livre do moleque. - dizia Tio Válter enquanto tomava sua xícara de chá matinal.

- Ainda acho que deveria obrigá-lo a ir de metrô, papai.- disse Duda que, desde o ano anterior, havia crescido mais (se isso era possível) e ganhado um bigode ralo - muito parecido com o bigode de um trocador de ônibus - e louro sobre a boca gorda.

- Eu até o faria, não fosse o risco de receber uma visita daquele homem medonho.- disse o Tio Válter.

- É.- concordou Duda flexionando os braços gordos que mais pareciam troncos de árvore.- Não seria legal se o cara do olho de brinquedo aparecesse em nosso jardim.

- ... NÃO!

- O que é isso?- indagou tia Petúnia que até então mantinha o pescoço esticado para a janela.

- Deve ser o Harry...- riu Duda.- ...e seus pesadelos.

- ... SIRIUS NÃO!

- Alguém cale a boca dele?!- disse o Tio Válter.

- Antes que os vizinhos pensem que temos um sobrinho gay dentro de casa!- completou a tia Petúnia.

Duda e Tio Válter olharam meio pasmos para ela e dispararam a rir.

- Vou acordá-lo!- disse Duda se levantando e derrubando a cadeira com seu traseiro gordo.


*


Harry, ainda caído no chão da Câmara dos Mortos, assistia desesperado o trio se aproximar cada vez mais quando sentiu um doloroso soco no ombro direito.

Fechou os olhos, como se isso fosse capaz de amenizar a dor, e quando os abriu novamente ele estava em seu quarto na Rua dos Alfeneiros com Duda de pé ao lado de sua cama.

- O que?- perguntou Harry esfregando o ombro.

- Sonhando com mais um de seus namorados, Harry?- Duda sorriu maldosamente.

- Te interessa?- disse Harry secamente.- O que quer aqui?

- Já está na hora de pegar o seu tem.- disse Duda caminhando na direção da porta.- A propósito, mamãe já tirou o café.

- Não me importo.- disse Harry enquanto se levantava.

Ele ouviu o som da porta se fechando. Ainda esfregava o ombro, que parecia ter saído ligeiramente do lugar, mas não se importava com isso.

Depois de muitas noites de insônia, sem sonhos e pesadelos, os sonhos incrivelmente reais estavam de volta. Sabia bem o que aquilo significava. Voldemort provavelmente voltara a vasculhar sua mente e isso não era nada bom. Porém, havia coisas a serem feitas agora e, sobre os sonhos, falaria mais tarde com Hermione, quando finalmente a encontrasse no trem.


*


Duda deixou o quarto de Harry e desceu as escadas velozmente até a cozinha.

- Harry já está de pé e disse que posso ficar com seu café.- disse o garoto à mãe.

- Vou preparar o carro.- informou o Tio Válter dobrando o jornal e se levantando. Dez minutos depois Harry desceu as escadas arrastando seu malão.

Seguiu calado por todo o trajeto até a estação.

- Não vou entrar.- disse o Tio Válter quando pararam no estacionamento da estação.- Se vire com essas malas.

Sem pestanejar, Harry desceu do alto, apanhou o malão e a gaiola de Edwiges no banco de trás e os colocou em um carrinho.

- Tchau!- disse ele para o tio antes deste arrancar o carro e sumir na direção da saída do estacionamento. Harry ficou parado por ali durante algum tempo, mas a medida que os minutos passavam ele começou a se sentir desprotegido.

Estava no mundo trouxa, sozinho. Eram nove e meia da manhã, como pode ver no relógio da estação. Os bruxos e bruxas que embarcariam para Hogwarts ainda tardariam a chegar. O melhor a fazer era acomodar-se no trem. Assim o fez. Atravessou, sem interrupções, a barreira entre as plataformas nove e dez e pode contemplar o expresso Hogwarts, já parado na estação deserta.

- Resolveu madrugar, garoto?- perguntou o maquinista que era a única pessoa por ali.

- É.- concordou Harry achatando os cabelos contra a testa numa tentativa de não ser reconhecido.

- Apanhar as cabines da frente, certo?- perguntou o homem sorrindo.

- Na verdade pegar as de trás.- disse Harry com um sorriso amarelo. - Bom, se me dá licença.

Harry seguiu até o final do trem, ajeitou suas coisas no bagageiro, então se jogou no assento ao lado da janela e deixou-se afundar por ali. Se por um lado ele não queria nunca mais voltar à Hogwarts, por outro, sentia imensa necessidade de rever os amigos. Ouvir Rony contar sobre as férias passadas viajando pela Europa junto dos Gêmeos e dar a Harry os parabéns por ser o novo capitão do time; Hermione falar dos seus 12 pontos no N.O.N.s., parabenizá-lo por seus nove e meio e contar também as suas novidades. Os dois provavelmente perguntariam a ele o por que da veemente recusa aos convites de Hermione para um passeio na casa de praia de sua família e de Rony para ir junto com ele, Gina e os gêmeos em sua viagem, mas isso era um mero detalhe.

Lentamente as horas passaram e Harry, de seu canto, observou a estação encher lá fora. Respirou aliviado quando o apito do trem soou e, algum tempo depois, a locomotiva vermelha começou a andar.


Já fazia meia hora que Harry estava ali, quando a porta da cabine se escancarou e por ela entrou um rapaz pálido de cabelos louros platinados, seguido de dois grandalhões. Era Draco Malfoy.

- Ora bolas!- disse Draco ao se aproximar de Harry.- Vejam quem está aqui!

Harry fingiu não ouvir.

- Muito me admira encontrá-lo sozinho, Potter.- disse Draco.- Principalmente depois do que se sabe sobre...- crispou a boca em um desgostoso sorriso.- sobre a profecia.

Harry fingiu não se importar, mas como uma paulada em seu cérebro. Como Draco sabia da profecia? Será que Voldemort andara mesmo vasculhando a sua mente novamente?

- Não sei do que você está falando.- Mentiu Harry.

- Não banque o tolo, Potter.- disse Draco.- Sei inclusive que você não contou a ninguém sobre ela. Não tem medo?

- E porque teria?- desafiou Harry ainda fingindo não estar entendendo bulhufas da conversa.

- Tsc.- fez Draco.- Não deve ter mesmo. Vir sozinho para a estação. Isolar-se no último vagão do trem, novamente... sozinho!

- Creio que isso seja problema meu, não?- disse Harry.

- Pois devia se precaver mais, pois pode aparecer alguém estranho pra te busca, Potter!- disse Malfoy.

- Duvido que “alguém” ousaria.- desafiou Harry.

- Alienou-se durante o verão, Potter?- perguntou Draco.- Provavelmente sim. Ou estaria morrendo de medo.

- O que está acontecendo aqui?

Harry, Malfoy, Crabbe e Goyle viraram-se para a porta da cabine. Atordoado com a discussão, a princípio Harry viu apenas uma garota muito bonita, parada ali. Os cabelos castanhos com um pouco mais de volume do que o normal, os olhos igualmente castanhos. Os lábios muito vermelhos e o corpo bem desenhado destacado graças à roupa trouxa que ela usava. Em seu peito podia-se vislumbrar um distintivo reluzente.

Um segundo mais tarde, após conseguir voltar com o queixo para o lugar, Harry sorriu por dentro ao reconhecer Hermione.

- Granger!- sibilou Draco.- Que desprazer revê-la.

- Igualmente.- respondeu secamente enquanto por trás dela surgia um outra garota tão bonita, ou ainda mais, do que a própria Hermione, apesar de as duas possuírem belezas diferentes, pois a segunda era ruiva. Era Gina. Junto dela veio um vulto demasiado grande que Harry não precisou nem pensar para saber que era Rony.

- Sinto lhe dizer que você mal chegou e eu já tenho que ir.- disse Draco sorrindo sarcástico para Hermione.

- Nada como uma fuga estratégica. - cantarolou Hermione.

- Nada como um monitor responsável que cumpre os seus deveres..- retrucou Draco e então, saindo da cabine, passou por Gina e beijou sua mão.- Até a vista Weasley.

Atrás dele saíram Crabbe e Goyle. Gina limpava as costas da mão que Malfoy beijara nas vestes quando Rony entrou.

- O que ele quis dizer com “ou estaria morrendo de medo”?- perguntou Harry antes que alguém dissesse qualquer coisa.

Rony, que antes fitava Harry com as mãos no bolso, olhou para o chão. Hermione olhou para Gina e esta deixou os ombros caírem.

- Eu não escutei o começo da conversa.- disse francamente e então Harry narrou o diálogo com Malfoy para os três.

- Você não tem lido o Profeta diário?- perguntou Hermione finalmente.

- Não.- respondeu Harry.- Apenas assisti ao noticiário com meus tios.

- E não notou nada de estranho?- perguntou Hermione erguendo a sobrancelha.

- Sinceramente não.- disse Harry impaciente.- Dá pra me dizer o que tem acontecido?

- Nada mais do que não tardaria a acontecer.- disse Hermione séria.- A guerra, agora, realmente começou, Harry.

Harry sentia-se irritado pelas informações evasivas dos amigos e não se preocupou em esconder isto.

- Eu passo o verão todo fora e vocês nem para me darem informações precisas.- reclamou assentando-se impaciente.

- Você fala como se nós o tivéssemos isolado durante o verão!- reclamou Gina.

- Pra começo de conversa eu não quase morri de preocupações por você para chegar aqui e ficar discutindo coisas infrutíferas!- ralhou Hermione.

- É isso aí!- concordou Rony.

Harry baixou a cabeça e no momento seguinte Hermione foi até ele e o abraçou.

- Você está bem?- perguntou ao soltá-lo.

- Bom, passei minhas férias inteiras ao lado dos meus amáveis tios. Corro, a todo momento, risco de vida. Meu padrinho se foi. Tenho inúmeros motivos para estar bem, não é mesmo?- disse Harry impaciente.

- Não precisa ser irônico.- retrucou Hermione.

- Não estou sendo irônico e sim realista!- disse Harry.

- Você está sendo chato!- disse Gina assentando-se do outro lado de Harry que olhou surpreso para ela. Não esperava por aquele comentário. Os olhos dos dois se encontraram, mas em seguida Gina desviou seus enormes olhos castanhos.

- Será que dá pra dizer o que aconteceu?- perguntou Harry impaciente.

- Comensais andam por aí torturando as pessoas.- disse Rony.

- Dementadores já beijaram cerca de quinze bruxos só na região de Londres.- completou Gina.

- Somam cinco atentados a locais trouxas.- completou Rony.- O mundo está um caos!

- Um posto de aurores foi montado em Hogsmead e eles vigiam Hogwarts dia e noite.- completou Hermione.

- E acho que é só.- comentou Gina com simplicidade.

- Muito me admira você não ter percebido coisas estranhas nos noticiários trouxas. Eu mesma identifiquei vários fatos.- disse Hermione.

- As únicas notícias graves foram sobre atacados terroristas duma organização trouxa chamada Al Queada.- disse Harry.- E também algumas futilidades sobre espiritismo: Trouxas desaparecidos, dados como mortos e que foram vistos por aí, perambulando como espectros.

- Se você usasse a cabeça perceberia que na verdade estas foram as desculpas inventadas pelo ministério.- disse Hermione.

Harry pensou por um momento. Fazia sentido. Sentiu-se tolo.

Durante boa parte da viagem que seguiu, os três contaram a Harry sobre os acontecimentos dos últimos dois meses no mundo em Guerra. Até que a noite caiu e eles desembarcaram em Hogsmead. Logo haviam ocupado uma carruagem que os levou até o castelo.

- Potter!

Harry virou-se, e para sua surpresa, viu Tonks no alto da escada que levava ao o saguão de entrada.

- Venha! Venha aqui!- disse Tonks acenando desengonçada.

Harry subiu as escadas até a mulher, seguido por Rony, Hermione e Gina.

- Preciso falar com você.- disse Tonks olhando com um estranho divertimento no rosto para os três atrás do garoto.- A sós.

- Ok, vamos entrar.- Disse Hermione imediatamente.- Nos veremos no banquete de abertura.- completou antes de sair seguida por Gina e Rony.

Harry a observou partir. Até os cabelos de Hermione haviam mudado. Não estavam mais tão fofos. Haviam ganhado agora um ondulado bonito sem perder de todo o velho volume.

- Alou?!- chamou Tonks.

Harry piscou e se virou, sem graça, para Tonks.

- Vamos.- disse ele e então seguiu Tonks castelo a dentro até o corredor do segundo andar.

- É aqui.- disse Tonks abrindo outro enorme sorriso e parando defronte a uma sala. Era a antiga sala de Umbridge.

Tonks entrou, Harry a seguiu sem entender o que estava fazendo ali. Mas a sala mudara muito desde sua ultima visita a ela Era agora era um misto entre um quarto de estudos de um adolescente, com o escritório de um Auror. O que não era uma mistura comum.

Jornais, revistas e pergaminhos desorganizados dividiam a escrivaninha com uma enorme pena cor de rosa. Na parede atrás da escrivaninha pendiam vários pôsteres com rostos de comensais outros fugitivos e, no meio deles, estava um único das Esquisitonas. O restante da sala lembrava muito a antiga sala de Moody, principalmente pelos objetos anti-magia negra que havia ali.

- Eis a minha sala.- sorriu Tonks.

- Você ...

- Nova professora de defesa contra as artes das trevas.- disse ela ainda sorrindo. Não sei se sirvo realmente pra coisa, mas Dumbledore insistiu tanto que...- o sorriso desapareceu.- Não é esse meu assunto com você.

Ela deu a volta na mesa e se assentou ali.

- Sente-se.- disse indicando uma cadeira para Harry.

O rapaz obedeceu e encarou a mulher. Estava séria como Harry nunca a vira antes.

- Você deve saber sobre como anda o nosso mundo, Harry.- disse Tonks.

- Na verdade não sabia de muita coisa.- disse Harry francamente.- Mas Hermione, Gina e Rony me fizeram um resumo dos últimos acontecimentos.

- Deve saber sobre os aurores em Hogsmead.- supôs Tonks.

- Sim.- confirmou Harry.

- Eu e Moody somos os responsáveis pela segurança da escola.- disse Tonks.- E, sabe, é uma responsabilidade muito grande para uma bruxa jovem como eu...E eu não posso falhar, Harry, de modo algum.

Harry ouvia calado, não sabia bem onde aquela historia iria terminar.

- Uma série de novas regras foi criada.- Continuou Tonks.- Para a escola, principalmente. Não haverá mais fins de semana em Hogsmead e o controle de alunos fora da cama em horário indevido será mais rígido do que nunca.

- E você quer me pedir disciplina, certo?- perguntou Harry.

- Não só.- disse Tonks.- Lupin falou sobre certo mapa...

- O mapa do maroto.- completou Harry.

- Você se importaria em me cedê-lo?- perguntou Tonks.

Harry ficou calado. O mapa do maroto sempre foi algo imensamente útil para ele. Mas ao pensar na segurança do castelo, ele provavelmente seria melhor utilizado na mão de aurores.

- Sabe, vai ser melhor para os dois lados.- disse Tonks que parecia incomodada com a demora da resposta de Harry.

- Eu sei.- disse Harry dando um discreto sorriso.- O mapa é seu.

- Ok!- disse Tonks parecendo aliviada.- Tem outra coisa.

Harry assentiu com a cabeça, sério.

- Dumbledore pediu que eu o orientasse na prática da oclumência.- disse Tonks.

- Por mim tudo bem.- disse Harry. Depois dos últimos sonhos do verão decidira que o melhor era mesmo voltar a praticar oclumência, e achava que com Tonks a coisa realmente surtiria efeito.

- Bom, é só, hora de nos juntarmos aos outros.- Disse Tonks se levantando.

Os dois deixaram a sala e seguiram lentamente em direção ao salão principal.

- Como vai Lupin?- perguntou Harry a meio caminho.

- Preocupado com você.- disse Tonks.

- Ele continua na casa de...- Harry parou no meio da frase.- Em Grimmauld Place?

- Sim, continuam todos lá.- disse Tonks enquanto eles desciam as escadas.

Eles atravessavam agora o saguão principal, Harry podia ouvir a voz de Dumbledore ecoando no salão ao lado. Tonks tomou a dianteira abrindo a porta e a segurou para que Harry passasse.

- ...além do novo regulamento, o qual acabei de apresentar a vocês, gostaria de desejar a todos vocês, novos e antigos alunos as minhas boas vindas e um bom apetite.

Nesse momento Harry entrou. As comidas já haviam aparecido nos pratos, mas por um momento pareceu que ninguém havia notado. Todas as cabeças estavam viradas para os recém chegados.

Sentindo-se incomodado, Harry caminhou veloz até a mesa da Grifinória e se assentou entre Rony e Hermione. As pessoas finalmente começavam a se servir.

- O que ela queria?- perguntou Rony curioso enquanto enchia seu prato de batatas assadas.

- Me pedir o mapa do maroto.- disse Harry.

- Porque?- perguntou Rony.- Eles esperam que nós o usemos para sair escondido do castelo no meio da noite rumo ao ministério novamente?!

Hermione lançou um severo olhar de censura para Rony.

- Um mapa de Hogwarts como aquele provavelmente terá imensa utilidade para os aurores.- disse ela.

- Foi o que concluí.- confirmou Harry enquanto colocava alguma comida em seu prato.- Onde está a Gina?

- Com aquele namorado dela.- rosnou Rony fechando a cara.

Harry olhou através da mesa da Grifinória e logo viu Gina, sorridente, ao lado de Dino Thomas.

- Era só isso que ela queria?- perguntou Hermione.

- Sim.- mentiu Harry evitando conversas profundas naquele momento.

- Harry, a propósito, parabéns pelo cargo no time!- sorriu Rony.

- Sabe quem são os outros?- perguntou Harry.

- Parece meio óbvio, não?- perguntou Rony.- Cho, Corvinal, Zacarias, Lufa-lufa e adivinhe quem ficou com o da Sonserina...

- Malfoy.- disse Harry sem emoção.- Teremos que realizar testes, não é mesmo?

- Sim.- disse Rony.- Mas temos ainda o time substituto, que atuou no ano anterior.

- É.- disse Harry.- Mas e a Gina?

- Vai conseguir a vaga de artilheira.- interrompeu Hermione.

- Quem disse?- perguntou Rony.

- Eu estou dizendo.- disse Hermione impaciente.

*

- E lá está o nosso herói.- sibilou Draco dando uma risada de desprezo.- Como sempre ao lado da Sangue- Ruim e do pobretão.

- Essa Hermione Granger.- Sibilou Pansy.- Não duvido nada que, agora que Potter está novamente famoso, vá largar do Krum e se oferecer pra ele.

- Você realmente acredita que Krum possa ter alguma coisa com aquela dali?- perguntou Draco observando a outra pelo canto dos olhos.

- É o que o Semanário das Bruxas diz.- disse Pansy secamente.

- E você acredita no que aquele tipo de revista diz?- perguntou Draco.- É mais fácil haver alguma verdade no Pasquim do que naquilo.

- Ele diz isso por ter perdido o título do Bruxo mais sexy da Grã-Bretanha para Gui Weasley.- disse maldosamente Blás Zambini.

- Draco só perdeu por ser muito jovem ainda.- disse Pansy.

- Não preciso de título fúteis como este.- disse Draco.

- Se for pra mexer com Weasleys prefiro a caçula.- disse Blás que fitava um ponto atrás de Draco. Este se virou e pôde observar Gina Weasley que conversava animadamente com um Grifinoriano qualquer.

Pansy, impaciente, se virou para falar com Goyle.

- Venhamos e convenhamos, Draco.- disse Blás diminuindo o tom de voz.- Potter está bem melhor de garotas do que nós.

- O problema no momento não são garotas, Blás.- disse Draco.- Temos que organizar logo o AC.

- Quais são as ordens iniciais?- perguntou Blás?

- Conseguir a autorização para um grupo de estudos.- disse Draco.

- Nós não estamos mais na época Umbridge, Draco, e mesmo se estivéssemos não precisaríamos de autorização nenhuma.- disse Blás.

- Não podemos levantar suspeitas.- disse Draco.

- Se é assim, procuremos Snape.- disse Blás.

- Você não entendeu o que eu quis dizer.- disse Draco impaciente.- Nós estamos numa escola controlada pelos caras do lado de Potter, temos que conseguir uma autorização de alguém do lado dele, entende?!

- Por exemplo...?- perguntou Blás.- McGonagall? Dumbledore?

- Aquela dali.- disse Draco olhando diretamente para mesa dos professores.

- A nova professora de defesa contra as artes das trevas?- perguntou Blás inseguro.

- A própria.- disse Draco.

- Dizem que ela é sangue ruim.- disse Blás.

- Ela é minha prima.- disse Draco fazendo cara de nojo.- Filha de minha tia Andrômeda, irmã de mamãe, com um trouxa porco.

*

- Agora que estamos empanturrados com este magnífico banquete, peço alguns minutos de sua atenção para os nossos tradicionais avisos de começo de ano - disse Dumbledore erguendo-se. - Alunos do primeiro ano devem saber que a floresta nos terrenos da escola é terminantemente proibida para todos, ressaltando que nesses tempos de guerra ela será mais vigiada do que nunca.- Dumbledore estava de pé imponentemente, todos olhavam com rostos cansados para ele. Harry não pode deixar de reparar que ele parecia ainda mais velho e cansado que na última vez em que o viu.- Filch, o nosso zelador pediu para ressaltar, entre outras coisas, que magia não é permitida nos corredores de salas de aula.

Harry olhou para Filch, este por sua vez parecia mais mau humorado do que nunca, provavelmente por Umbridge ter deixado a escola.

- Gostaria de apresentar a vocês a nossa nova professora de defesa contra as artes das trevas, Ninfadora Tonks.- prosseguiu Dumbledore, uma Tonks muito vermelha sorriu timidamente de seu lugar na mesa dos professores.- Tonks é também a aurora responsável pela segurança do castelo, e o novo regulamento escolar, criado por ela, já foi anexado nos murais dos salões comunais.

- Esse deve ser o maldito regulamento que proíbe as visitas à Hogsmead.- resmungou Rony.

- As seleções para os times de quadribol serão realizadas na Segunda quinzena e sugiro que os interessados procurem Madame Hooch para maiores informações. Um bom ano letivo a todos vocês e boa noite.

O salão comunal encheu-se do ruído dos alunos deixando as mesas de suas respectivas casas. Hermione se levantou para auxiliar um grupo de alunos do segundo ano com a senha da mulher gorda. Rony permaneceu assentado.

- Como é boa a vida de um monitor do sexto ano!- suspirou ele no momento em que Hermione estava de volta.

- O que estão esperando?- perguntou ela.- Vamos subir.

Harry e Rony se levantaram e os três seguiram lentamente em direção à torre da Grifinória.

- Então vai mesmo entregar o mapa!- exclamou Rony. Os três estavam assentados em confortáveis e rechonchudas poltronas do salão comunal.

- Sim.

- Bem que podíamos nos despedir dele.- propôs Rony.

- De jeito algum!- cortou Hermione.- Harry não pode se arriscar por aí. Aliás, ninguém pode se arriscar por aí.

- Eu, em momento algum, falei em sair por aí.- disse Rony.- Queria apenas dar uma espiada.

Hermione olhou para Harry que considerava a idéia de Rony.

- Só olhar não faz mau, Mione.- disse Harry antes de se levantar e ir ao dormitório buscar o mapa.

Neville já roncava. Dino Thomas e Simas Finnigan conversavam.

- Olá Harry.- cumprimentou Simas ao ver o garoto.

- Olá.- disse Harry enquanto abria seu malão em busca do mapa. Não tardou muito a encontrá-lo.

O salão comunal já estava vazio quando Harry voltou.

- Aqui está.- disse abrindo o mapa sobre a mesinha entre as poltronas e o fazendo revelar-se.

- Sempre quis olhar isso com calma.- disse Rony.

Hermione nem se mexeu de sua poltrona.

- Não sabia que na cabana de Hagrid cabiam tantas pessoas. - exclamou Rony.

Harry olhou o lugar que Rony indicara. Havia ao menos dez pessoas na cabana do guarda- caças.

- Parece uma reunião.- disse Harry.

- Reunião mesmo é na Sonserina.- disse Rony.

Harry deu a volta para verificar, e para sua surpresa, Hermione fez o mesmo.

- O que eles estão fazendo acordados a essa hora após um banquete como aquele?- sibilou ela pensativa.

- O que vocês estão fazendo acordados a essa hora após um banquete como aquele?- perguntou uma voz feminina.

Os três se viraram a tempo de observar Gina descer as escadas do dormitório feminino com um ar divertido.

- Nos despedindo do mapa, Gina.- disse Rony.

- Até você, Mione?- perguntou a garota enquanto se abaixava ao lado do mapa também.

- Eu...- fez Hermione.- estava apenas olhando uma reunião estranha no salão comunal da Sonserina.

- Eu daria tudo para saber sobre o que eles estão falando.- disse Rony.


*


- Em que iremos praticar magia negra, Malfoy?- perguntou Nott, um garoto pequeno e magricela do sexto ano da Sonserina.

- Em sangues ruins, obviamente.- intrometeu Blás Zambini.

Draco revirou os olhos. Desconfiava não ter nascido para aturar sofistas como Blás Zambini. Ao menos ele possuía algum tipo de neurônio na cabeça.

***continua***

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