As Trouxisses Granger



Capítulo 4
AS TROUXISSES GRANGER


Lupin parou e pensou um pouco. Não era um total absurdo, afinal a casa de um trouxa era um lugar que Voldemort não imaginaria. Mas ao mesmo tempo era arriscado. Arriscado para os pais de Hermione que nada tinham a ver com Segunda Guerra, Voldemort e Comensais da Morte. Harry nunca estivera na casa dos Granger e Mione nunca falava muito sobre seus pais e sua família. O que Harry sabia é que eram trouxas entusiastas apaixonados com o mundo bruxo, e só.

- Meus pais vão ficar felizes de saber que vão hospedar bruxos. Eles até já tinham oferecido a casa antes, mas não foi necessário. Acho que é um lugar seguro.

- Bom, façamos assim: vamos tentar a casa dos Granger. Rony fica lá também por via das dúvidas, assim vocês põe seus assuntos em dia e ele não atrapalha a Sra. Weasley – Disse Lupin que foi se adiantando para a porta.

Mas antes de sair Harry lembrou-se de um detalhe: os novos donos deviam estar chegando. Pegou um pedaço de papel e escreveu “Essa casa é habitada por espíritos e fantasmas. Trouxas inúteis, dêem o fora! Vão embora daqui! Vão embora da Inglaterra!”.

- O que você está fazendo, Harry? – Perguntou Rony assustado.

- Salvando vidas – Disse Harry explicando que os trouxas da Inglaterra estavam em perigo e tinha que ter um jeito dele ajudar aquela família a sair dali. – Se eles forem trouxas e virem um papel com essa mensagem. Isso vai ser o suficiente para deixá-los, pelo menos, atentos.

- Melhor ainda se o papel estiver flutuando, não é? – Mione riu. Girou a varinha e depois sacudiu dizendo “Wingardium Leviossa”, ao que o papel e uma vela que estava ao seu lado começaram a flutuar no meio da sala de estar dos Dursley.

Lupin voltou e, a um sinal, eles saíram dali deixando a vela e o papel flutuando. Mas Harry ainda tinha uma dúvida, como iriam para a casa dos Granger? A resposta veio logo quando viu algumas vassouras paradas do lado de fora da casa dos Dursley, mas, felizmente, Lupin tinha lembrado de não as ter deixado flutuando no meio de um bairro trouxa.

- Harry, tem uma coisa que eu não entendi: – Disse Rony. – se a casa dos Dursley é protegida, então nenhum de nós deveria ver a casa, não é?

- Não sei se entendo essa proteção também, Rony – Disse Harry pegando sua Firebolt, já um pouco desgastada. – Dumbledore me disse que era uma proteção antiga, que funcionava porque tia Petúnia, que tinha o meu sangue, morava aqui. Uma mágica que até Voldemort desconhecia. Mas desconfio que essa tal “proteção” tenha deixado de existir. Afinal, os Dursley não estão mais aqui.

Lupin fez uma cara de preocupação e adiantou-se.

- Certas coisas não são para serem entendidas. Essas mágicas antigas não são mais estudadas. Agora vamos logo antes que comecem a perceber uma movimentação estranha aqui na frente.

- Mas vamos de vassouras? Isso não seria arriscado demais, professor? – Perguntou Harry que percebia que Lupin ficava todo orgulhoso ao ser chamado de “professor” - E, como vamos parar de vassouras no meio de bairro trouxa?

- Você sabe aparatar Harry? – Perguntou Tonks e ele fez sim com a cabeça. – Então, quando estivermos em cima da casa dos Granger aparatamos para dentro dela. Mas... Por via das dúvidas, coloque sua Capa da Invisibilidade. Pelo menos você precisa estar bastante seguro.

Harry obedeceu e, em pouco tempo, estavam cinco vassouras sobrevoando a Rua dos Alfeneiros que, no instante seguinte, ao atravessarem a camada de nuvens, puderam apenas vislumbrar o céu e as estrelas. Tonks estava na frente e ele vinha logo atrás dela. Rony e Mione estavam um de cada lado. Não podia ver Lupin, ele devia, pensou Harry, estar logo atrás dele.

Por um momento Harry sentiu-se meio envergonhado. Mesmo com a Capa da Invisibilidade, tinha que ser escoltado até pelos seus amigos de classe. Seu sentimento de vergonha aumentou quando viu que Hermione não parecia segura em cima de sua vassoura e então se lembrou do porquê da amiga ser péssima em Quadribol: ela odiava altura e odiava voar.

***


Voaram por quase uma hora. O frio da madrugada estava cada vez mais intenso e é pior ainda quando se está sobre as nuvens. Então, finalmente, Tonks parou e gritou:

- É bem aqui! Fiquem mais próximos de mim! – As outras vassouras ficaram quase encostadas com a de Tonks – Quando eu disser três!

- Eu ainda não tenho permissão pra aparatar – Disse Harry. Tonks torceu a boca, pensou um pouco e então segurou com força a mão de Harry indicando que teriam que aparatar juntos.

- Um... Dois... Três! – Harry fechou os olhos. Sentiu aquela horrível sensação de estar sendo sugado. Sua pele esticou-se e seus ossos ficaram moles e então... Tudo parou.

Harry abriu os olhos sentindo dor na sua perna esquerda. Tinha aparatado em cima de Rony que o empurrou para frente reclamando. Mione, Tonks e Lupin já estavam de pé no meio de uma ampla sala de estar. A sala era mesmo grande e tinha objetos incrivelmente estranhos.

Uma grande televisão sobre um móvel. DVD, vídeo cassete, rádio, som... Rony olhou para todos aqueles aparelhos cheios de botões. Ele estava horrorizado. Seu primeiro impulso foi perguntar a utilidade de tudo aquilo. Mas preferiu ficar quieto, teria tempo pra isso mais tarde.

A sala era toda pintada de rosa com pequenos quadros em moldura branca. Muito mais “chique” que a casa dos Dursley, pensou Harry. Mione disse um bem baixo “sejam bem vindos” e foi pegando as coisas de Harry e colocando a um canto ao lado de um armário de porta de vidro que Harry identificou como sendo uma grande cristaleira em patina, muito linda.

Ninguém tinha dito nada, até porque Rony, Tonks e Lupin estavam encantados com as “trouxisses” peculiares de uma casa de trouxas. Mione ficou meio sem graça e pediu para todos se sentarem enquanto ela preparava um chá. E Tonks se ofereceu para ajudar.

Enquanto as duas foram para a cozinha Harry e Rony ficaram observando. Era bem diferente da Toca. Não podia se perceber um único sinal de bagunça ou desorganização. Encostado na parede, sob um espelho havia um belo móvel que sustentava muitos porta-retratos.

Harry identificou várias fotos estáticas de Hermione com seus pais e uma única de Mione piscando. É... Aquela era a única foto normal... Rony também foi observar as fotos e então soltou seu primeiro comentário:

- O que aconteceu com essas fotos? Porque estão paradas?

- São fotos de trouxa Rony – Riu-se Mione vindo da cozinha trazendo uma bandeja de chá e biscoitos, acompanhada de Tonks - Muitas coisas aqui devem ser estranhas pra você.

- São mesmo. O que é aquilo? – Perguntou Rony apontando para a TV.

- Uma televisão. Serve pra divertir as pessoas. Assim como todos esses aparelhos.

- O que pode ter de divertido numa caixa? – Perguntou Rony incrédulo.

- É que “a caixa” não está ligada, meu querido! – Veio uma voz doce e feminina do alto da escada.

Era uma mulher magra e baixa com cabelos claros e crespos. Harry logo percebeu que se tratava da mãe de Mione. Ela era simplesmente igual a filha, principalmente agora que Mione já estava tomando feições mais adultas. Harry a tinha visto apenas uma vez há quase cinco anos na Floreios & Borrões. Mione, pensou Harry, não devia ter puxado em nada o pai.

Mas então veio o Sr. Granger dizendo um “Olá” bem sério e Harry percebeu que Mione não parecia em nada com seu pai, mas tinha toda a serenidade dele, bem ao contrário da mãe, que tinha uma voz empolgante. O Sr. Granger era mais alto, tinha o cabelo todo penteado, meio antiquado, pensou Harry. Mas apesar de sério, parecia um homem simpático. Os Srs. Granger trajavam hobbies e podia se perceber que tinham acabado de pular da cama.

- Mione eu vou te matar, minha filha. Como você traz visitas aqui pra casa sem nos avisar? Olha os trajes que eu e seu pai estamos vestindo! – Disse a Sra. Granger voltando-se a Lupin e Tonks – Prazer, eu sou Magnólia Granger e esse é meu marido, Agnaldo Granger, os pais de Mione. E esse – Pegando o gato no chão. – é o Bichento, o gato da família.

- Esse eles conhecem bem mamãe – Disse Mione envergonhada.

Apesar de cumprimentar a todos, Harry percebeu que o pai de Mione não era de falar muito. Mas também, pensou Harry, o Sr. Granger não precisava falar porque a Sra. Magnólia falava pelos dois.

- E é claro que tem a Rebecca, mas ela não vai aparecer aqui nem morta coitadinha.

Todos fizeram cara de espanto. Rebecca? Quem seria? A empregada da casa ou alguma parente que viera passar as férias ali? Lupin e Tonks se apresentaram e então os Srs. Granger ficaram por quase uma hora falando do quanto estavam felizes por terem bruxos ali. – Na verdade, a Sra. Granger é que falava e o pai de Mione só concordava.

Falavam de tudo, mas o assunto principal sempre convergia para ele, Harry Potter. A Sra. Granger não entendia muito sobre o mundo bruxo e entendia menos ainda sobre Bruxos das trevas, comensais da morte, guerras ou Voldemort.

- A Mione não nos conta muita coisa sabem? Ela é muito reservada. Eu mesma já insisti milhares de vezes para ela nos mostrar mágica, mas ela sempre vinha com a desculpa de que não podia fazer mágica fora da escola.

- E não podia mesmo – Disse Mione emburrada pois sua mãe falava dela como se ela nem estivesse presente.

- Agora a senhora vai ter muito tempo para conhecer a mágica Sra. Granger, mas... – Dizia Lupin até ser cortado pela mãe de Mione.

- Sem essa de “Sra. Granger”, meu nome é Magnólia.

- Mas, como eu ia dizendo... – Prosseguiu ele – Estamos aqui porque precisamos de um enorme favor seu. É que Harry e Rony não têm onde ficar até o dia quinze de julho, que já é na semana que vem. E gostaríamos de lhe pedir que...

- Bruxos dormindo na minha casa? – A Sra. Granger disse isso tão espantada que Harry e Rony tinham certeza que iam receber um “Não” bem grande, mas então o sorriso de Magnólia abriu-se e ela disse – Fantástico!

Pouco depois Lupin e Tonks se foram. A Sra. Granger estava super empolgada com a presença de bruxos na sua casa. Os dois iam dormir no quarto de hóspedes, que era bem grande por ser um quarto de hóspedes. E já estavam prontos para ir dormir quando Mione entrou no quarto trazendo travesseiros:

- Aqui. Esses são para vocês – Harry e Rony perceberam que ela estava meio envergonhada, talvez por sua mãe ser meio faladeira.

- Sua mãe é bem... Legal Mione – Disse Harry tentando animá-la.

- Que bom Harry. Sabe? Eu tenho um pouco de medo dela às vezes... – Disse Mione olhando para Harry e Rony e rindo-se.

Harry percebeu que Rony concordava completamente com Mione, mas achou melhor ficar quieto. Então, quando ela ia sair do quarto e desejou-lhes “boa noite”, Rony apressou-se:

- Mione? Posso te fazer uma pergunta? – Ela parou. Mione já sabia a pergunta que ele ia fazer. – Quem é Rebecca?

O rosto dela corou. Parecia que ele tinha tocado na mais profunda de todas as feridas de Mione. Ela nunca tinha falado dela. Mione então voltou-se para eles, ela não sabia como dizer aquilo, mas era inevitável. Precisava explicar:

- É minha irmã – Harry e Rony entreolharam-se assustados. Irmã?! Hermione sempre dissera que era filha única. Nunca, em hipótese nenhuma, tinha mencionado uma irmã. Mione viu as caras assustadas de Harry e Rony, deu um longo suspiro e sentou-se na cama:

- Vocês nunca me perguntaram e eu achei melhor não dizer. Rebecca me odeia com todas as forças da vida dela. Ela já é bem mais velha. Ela sempre me odiou desde pequena. Dizia que eu recebia mais atenção, que eu era mais mimada. Ela sempre me batia. Sempre que vinham os boletins, eu ganhava presentes e ela não. Ela me odiava mesmo. Mas hoje... Hoje ela me odeia muito mais.

- Por que? – Perguntou Harry, já prevendo a resposta:

- Porque eu sou bruxa, não é Harry? Eu sempre fui a mais mimada e amada na cabeça dela, e ainda por cima sou bruxa. Posso fazer magia e ela não pode. Isso só fez aumentar o ódio dela. Principalmente porque, quando descobriram que eu sou bruxa, meus pais se entusiasmaram com a idéia e passaram a querer saber tudo sobre o mundo bruxo. Acho que ela passou a se sentir ainda mais rejeitada. Por isso nunca falei dela... Me desculpem...

Ninguém mais deu nenhuma palavra. Foram todos dormir, mas Harry ficou ainda um tempo na cama. Ele entendia perfeitamente Rebecca porque ele conhecia alguém exatamente com o mesmo problema: a tia Petúnia. Deve ser difícil aceitar que uma irmã é mais querida só pelo fato de ser bruxa e pior: deve ser horrível pensar que se tem um irmão que pode fazer mágica, quando você nem sonha em poder. Devia ser tudo muito difícil para Rebecca...

Veio o dia seguinte e o próximo e o próximo. A vida na casa dos Granger não era tão excitante se comparada à confusão da casa dos Weasley. Senhor e a senhora Granger passavam o tempo todo tentando arrancar de Harry e Rony informações sobre o mundo bruxo já que Mione não falava muito. No entanto os três tinham combinado de não contar nada sobre Voldemort, Comensais ou guerras para os Granger, pois isso poderia ser um problema caso Hogwarts reabrisse. Eles podiam querer proibir Mione de voltar a estudar.

Então eles falavam sobre tudo. Sobre como o mundo bruxo era maravilhoso e sobre como a mágica facilitava a vida das pessoas. Enquanto isso Rony ficou conhecendo a televisão, que ele ainda insistia em chamar de “tevelisão” e os outros aparelhos trouxas que ele mesmo apelidou de “Trouxisses Granger” – Em sátira as Gemialidades Weasley.

Mas em todos aqueles dias em que estiveram ali, a única pessoa que não foi vista nem comentada, foi Rebecca. A Sra. Granger levava a comida no quarto da garota que não queria falar com ninguém. Segundo Mione, ela estava de férias da faculdade de Direito e passava o dia inteiro no computador e se recusava a sair do quarto.

E depois que os Granger já estavam quase que completamente interados do mundo bruxo, chegou finalmente o dia quatorze, quando Harry, Rony e Mione esperavam Lupin e Tonks para serem levados à A Toca. Porém, não foi Lupin nem Tonks que bateram à porta naquela noite na casa dos Granger.

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