INCONSTÃNCIAS DO TEMPO



CAPÍTULO XXV

INCONSTÂNCIAS DO TEMPO


Lady Lohana estava sentada ao lado do irmão, segurando a mão dele para, assim, transmitir sua energia vital para o corpo debilitado. Harry assistia à cena sem poder ajudá-la.
Gipfel tinha os olhos abertos e parecia agitado, mas não conseguia falar apesar do esforço. Era evidente que o feitiço havia interferido de alguma maneira em sua capacidade de verbalização. Lady Lohana não deixava a cabeceira do enfermo, apesar da exaustão visível em seu rosto. Estava munida de um material de leitura em élfico e lia sem parar com sua voz mansa e melodiosa. Após algumas horas consecutivas e exaustivas de leitura, Gipfel acalmou-se e adormeceu.


_ O que exatamente aconteceu com ele? – perguntou Harry.


_ Ninguém sabe. – disse Lady Lohana suspirando e fechando o livro. – Alguns habitantes da Montanha de Aço o encontraram desmaiado e o trouxeram para cá, pois sabem que ele é meu irmão. Ele havia feito uma viagem e estava retornando para sua casa que fica no topo da montanha mais alta de Avalon. Pelas marcas, concluímos que ele foi vítima de maldição imperdoável ou algum outro feitiço muito poderoso.


_ Quando ele se recuperar, poderá revelar a verdade – Harry prosseguiu. – Vocês são muito parecidos fisicamente. – ele observou o rosto adormecido do mestiço. – Sabem dizer, pelo menos, se ele foi atingido dentro ou fora dos limites de Avalon?


_ Não sabemos. – sussurrou Lady Lohana. - Mas pelo que tudo indica, foi aqui em Avalon. Isso é preocupante, pois estamos vivendo uma era de paz há alguns séculos e só existem notícias de ataques, se houver invasões de territórios. O território alheio é bastante respeitado por aqui. – ela suspirou e prosseguiu. – Você, por exemplo, irá precisar de uma autorização especial para ir buscar o que procura.


_ E quem pode me dar essa autorização? – perguntou Harry.


_ Eu mesma Harry. – ela levantou-se. – Existem quatro entradas para Avalon e eu sou guardiã de uma delas. Vamos à biblioteca. Quero fazer algumas pesquisas, antes de você partir e verificar se posso ajudá-lo em mais alguma coisa.


_ E o que você espera encontrar lá? – Harry questionou erguendo as sobrancelhas e seguindo Lady Lohana pela escadaria ao pavimento inferior, onde estiveram há algumas horas atrás. Passaram, ainda, pela porta dos aposentos em que ele e Arthur pousariam àquela noite. Pelo silêncio, provavelmente Arthur já estava dormindo.


_ Informações que só livros antigos são capazes de nos dar. O conhecimento é a melhor arma que podemos ter, Harry. – ela enviou-lhe um sorriso afável.


_ Parece Hermione Granger falando. – Harry torceu a cara, porém teve que admitir que ela estava certa. Em várias ocasiões, na luta contra Voldemort, foi Hermione quem os salvou com a sua infindável sede de conhecimento e saber oriundo dos livros.


_ Oh, sim – murmurou Lady Lohana. – A moça das algemas. Quando essa tempestade passar, gostaria muito de conhecê-los, Harry. O casal e sua noiva também.


_ Certamente. – afirmou Harry. _ Será um prazer. – mas o jovem bruxo estava inquieto e inseguro. Um trovão soou distante. O vento soprava lá fora e emitia um som lúgubre ao passar pelas frestas das janelas. Harry sabia que a tempestade ecoava sua própria inquietação. Sim, a tempestade ainda o aguardava. E sabia que não poderia mantê-la afastada por muito tempo da vida de seus amigos.

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O mês de junho estava passando rapidamente na opinião de Hermione Granger, conclusão que tirou logo ao acordar naquele dia vinte e um. Mal acreditou que já estavam comemorando o solstício de verão. Os dias eram mais longos e quentes. Ela afastou as cobertas e caminhou até o banheiro, completamente desperta. Tomou um banho longo e demorado, pois ainda era cedo e ela só abriria a loja às nove horas. Pensou sobre várias coisas. Já fazia um mês que ela e Rony estavam “morando” juntos. Eles fizeram um acordo mudo de trégua e o relacionamento deles estava caminhando entre duas linhas tênues de respeito mútuo e amizade. Tênues demais. Tanto que, ultimamente, mantinham-se ocupados o máximo que podiam e evitavam ficar muito tempo sozinhos na companhia um do outro. Os últimos quinze dias tinham sido alguns dos mais difíceis na vida de Hermione, começando no momento em que eles entregaram Eileen de volta aos pais. Ela e Rony só se viam em algumas refeições. Ela preferia os dias em que ele dormia na corporação e ele não ia mais vê-la na loja. Quando estavam juntos na casa dela, conversavam pouco e somente sobre assuntos triviais. Lavou suas longas madeixas castanhas. Lembrou-se de Harry e Arthur. Eles estavam demorando demasiadamente a voltar. Todos estavam sem notícias e preocupados. O único consolo era saber, através de Aeshma, que eles mantinham um vínculo com ela e, a qualquer sinal de perigo, ela saberia e adotaria um plano de emergência. O problema é que ficar sem saber de nada era estressante e a grandiosa curiosidade hermionesca a mantinha inquieta.


Hermione vestiu um de seus melhores trajes bruxos, num tom azul perolado, secou e arrumou os cachos, perfumou-se e seguiu rumo à cozinha. Um doce aroma de café recém preparado invadiu suas narinas. Encontrou Rony tomando o café na varanda que ficava nos fundos da casa. Observou-o por um momento antes que ele percebesse sua presença. Não podia deixar de reconhecer que o amava, mas isso não era o bastante.


Rony voltou-se e seus olhos azuis iluminaram-se ao vê-la. Levantou-se e ofereceu-lhe uma cadeira.


_ Bom dia, Mione.


_ Bom dia, Rony. – ela suspirou baixinho, procurando comportar-se com naturalidade. Aceitou o café que ele lhe serviu e passou geléia de damasco numa torrada.


_ Dormiu bem? – ele perguntou.


_ Sim. Dormi muito bem. – respondeu ela baixando os olhos. _ E você, como foi no trabalho? Está chegando agora, pelo visto... – disse ela, observando que ele ainda estava de uniforme e o rosto precisando ser barbeado.


_ Foi uma noite tranqüila, mas a onda de ataques terroristas continuam. – ele disse fechando a cara. _ Parece que apenas se desviaram da Inglaterra por um tempo... Veja! – disse-lhe, estendo a ela seu jornal favorito.


_ É. – disse ela folheando “O Profeta Diário” e sorvendo pequenos goles de café. _ Pelo que está escrito aqui, os ataques terroristas aos trouxas estariam sendo provocados por Comensais da Morte ainda não capturados... Informações do relator de assuntos oficiais do Ministério da Magia. Eles ainda falam que alguns suspeitos estão sendo rastreados e logo serão capturados...


Enquanto Hermione discursava sobre a notícia do jornal, Rony a olhava embevecido. Ela exercia sobre ele um estranho fascínio. Fitou o rosto dela. Ela tinha covinhas tentadoras e como era bonita! Ele era apaixonado por ela e, pior que isso, a amava também. Estava para mandar a cautela e a paciência para o inferno! Juntas e de mãos dadas! “Hermione está tão feminina nesta manhã...E cheirosa... E atraente...” Esforçando-se para controlar o desejo, fechou os olhos.


_ Em que está pensando? – ela perguntou fechando o jornal e enchendo dois copos de suco de maçã. Rony sobressaltou-se.


_ Ahn... Nada especial – mentiu ele recostando-se na cadeira e tomando seu suco. _ Vai haver uma comemoração no próximo final de semana na casa dos Taney. É aniversário do Nick. Lembra-se dele? – Rony falou de um só fôlego. _ Gostaria que você fosse comigo, Mione e me ajudasse a escolher um presente também. Pode ser? – ele segurou-lhe a mão.


_ Ok, Rony – disse ela quebrando o contato disfarçadamente. Encheu duas tigelas com aveia, leite e mel. Empurrou uma para ele. _ Lembro do Nick, sim. – “Seu segundo nome era encrenca... Nick Encrenca...” Ela sorriu e continuou. _ Você acha que ele gostaria de ganhar um livro?


_ Só se for de culinária. – agora era vez de Rony sorrir lembrando-se o quanto o amigo era péssimo na cozinha.


_ Vou trazer alguns livros da loja hoje à noite e escolheremos algo, tudo bem? – ela falou, encerrando a refeição matinal e levantando-se para terminar de se arrumar.


_ Por mim, tudo bem. – ele respondeu e ficou ainda sentado. Bichento pulou em seu colo. _ Hoje vou ao meu apartamento buscar umas roupas e arrumar algumas coisas por lá. Posso levá-lo comigo? – perguntou, apontando para o gato.


_ Claro, Rony. Pode levá-lo. – ela lhe sorriu. _ Nos vemos à noite, então. Até mais.


_ Até. – ele disse simplesmente e acariciou o pêlo denso do animal em seu colo.

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Lady Lohana fechou o último livro algumas horas depois de ter iniciado sua pesquisa. A maioria dos livros que estavam sobre a mesa de madeira entalhada com adoráveis figuras angelicais tinha a capa de couro, folhas grossas e costuradas à mão, indicando assim que eram muito antigos.


_ Não há nenhuma referência sobre o caso. Não que eu possa entender. – disse ela. _ O texto foi escrito em um idioma muito antigo. Minha mãe ia me ensinar a linguagem dos sábios um dia, mas não tivemos tempo... Ela adoeceu repentinamente. Não teve tempo de me explicar. Sei que está relacionado à linhagem, aos ancestrais de minha mãe. Ela era uma elfa e perdeu algumas habilidades ao se relacionar com um humano, no caso, meu pai. Então, Lady Lohana, falou em élfico algo que parecia mais um canto:


_ Elen síla lúmenn omentielvo.


_ O que significa? – perguntou Harry curioso.


_ “Uma estrela brilha sobre a hora do nosso encontro”. – respondeu Lady Lohana com um olhar indefinível.

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Harry escutava atentamente o que Lady Lohana falava, enquanto tomava seu desjejum naquela manhã fria e tempestuosa. Ele dormira pouco durante a noite, mas não se sentia cansado. A mestiça tinha o poder de equilibrar tudo e acalmar todos que estivessem a sua presença. O semblante sereno continuava exalando brilho e esplendor e a voz doce e musical enchia seus corações de paz e renovava suas forças. Era uma força essencialmente positiva.


_ Ainda é cedo, Harry. – falava ela – São quatro horas da manhã, mas você e Arthur devem seguir seu caminho em buscas das respostas que procuram, pois, como vocês devem saber, o tempo aqui em Avalon se passa mais lentamente do que o tempo em sua dimensão.


_ Como assim? – perguntou Harry, olhando-a com um misto de surpresa e curiosidade.


_ Vocês estão aqui há menos de vinte e quatro horas, Harry. Mas em seu mundo, já devem ter se passado cerca de quinze dias ou mais...


_ Nossa! – disse Harry. – Tudo isso?


_ É, Harry. – disse Arthur. _ Devemos nos apressar ou não chegaremos a tempo para o seu noivado, entre outras coisas... Ele completou, abaixando a cabeça tristemente.


_ Não fique assim, Arthur – disse Harry sabendo exatamente a que Arthur se referia. _ Nós conseguiremos quebrar a maldição das algemas a tempo. – Harry dizia isso mais a si mesmo do que para Arthur. Ele precisava acreditar e confiar nisso com todas as forças, mas o desconhecido sempre o incomodava. Pegando o amuleto pendurado ao seu pescoço, ele não pôde evitar colocar seus pensamentos em Gina. Mesmo parecendo egoísmo de sua parte, pensou nela primeiro que em seus amigos. Precisava de seu conforto, de seu carinho nesse momento.


A imagem que obteve, através do amuleto de jade, não o satisfez plenamente. Pelo local em que ela se encontrava e pela quantidade de alunos sentados, todos concentrados e de cabeça abaixada, escrevendo, Harry concluiu que Gina estava prestando os últimos exames para obter seus N.I.E.M.s. Desejou-lhe boa sorte com um inaudível murmúrio e levou seus pensamentos para Rony e Hermione. Só que ele não conseguia visualizar nada. A imagem na pedra ficou oscilando entre imagens de Rony e Hermione. Harry ficou tenso e confuso.


_ O que aconteceu, Harry? – perguntou Arthur notando que Harry estava agora com uma fisionomia preocupada.


_ Não consigo vê-los, Arthur. A imagem fica oscilando entre os dois...


_ Acho que sei qual é o problema, Harry. – disse Lady Lohana. _Tente pensar neles de forma isolada...


E assim, Harry fez. Pensou primeiro em Rony e depois em Hermione. Sorriu ao ver o amigo fazendo o que lhe pareceu ser uma “limpeza” em seu apartamento ao mesmo tempo em que conversava com Bichento...


“_ Ora, Bichento, não me olhe com essa cara. Meu dom para afazeres domésticos não está voltado para arrumações... Prefiro a cozinha. – Bichento miou tranqüilamente observando Rony sacudir e dobrar lençóis, afofar travesseiros e juntar vários objetos espalhados pelo chão. _ Se sua dona não fosse tão teimosa... – Rony acariciou o gato enquanto terminava seu raciocínio lógico. __... Já estaríamos juntos... ela arrumando e eu cozinhando. Não somos tão diferentes assim... Nos completamos. Você não acha? – Bichento ronronou mais alguma coisa, deu meia-volta e foi se enrodilhar num canto de um sofá. Rony olhou pra ele e murmurou sorrindo:


_ Preguiçoso!”


Hermione, por sua vez, estava atarefadíssima em sua loja, atendendo a diversos clientes. Com certeza, logo ela precisaria de um ajudante. – pensou Harry sorrindo. “Maravilhoso saber que eles estavam bem... Isso com certeza lhe daria mais ânimo para prosseguir...”


_ Ontem à noite, depois que você foi dormir, tentei me concentrar no nome de algum bruxo que pudesse ajudá-lo, mas não me lembrei de ninguém. Pelo que eu saiba não há nenhum bruxo com a descrição que você me deu vivendo aqui em Avalon. – disse Lady Lohana para Harry.


_ Não? – Harry perguntou levantando-se. Inquieto, começou a caminhar de um lado para outro da sala de jantar _ E agora, como vou ajudar meus amigos?


_ Acalme-se, Harry. Sei de alguém que poderá ajudá-lo, mas não é um bruxo. É uma bruxa. Talvez seja essa pessoa a quem Aeshma se referiu, pois durante muito tempo muitos acreditavam que fosse um bruxo. Ela é muito velha mesmo, Harry... Ninguém sabe a sua idade... Dizem que é a mãe de todos os bruxos. E vive desde o início dos tempos.


_ E onde ela vive? – Arthur, que se mantinha calado a maior parte do tempo, perguntou.


_ Dizem que na Montanha de Prata... Mas vocês devem querer muito encontrá-la, pois, caso contrário ela não aparecerá. Não temos notícias de que alguém tenha conseguido esse feito.


Arthur e Harry escutavam a narração de Lady Lohana calados. Prestavam atenção aos mínimos detalhes a fim de que não lhes escapasse nada.


_ Subam até a parte mais alta da Montanha de Prata. Procuram por uma fenda em forma de V invertido. Aguardem a noite de lua negra*. Levem para ela uma rosa vermelha e recitem os seguintes versos à entrada da fenda: “Atirei-me no abismo. Tiro do peito desejos profundos. De minha’alma inquieta, de outros eus e de outros mundos. Lilith por favor me atenda... Oh, lua intensa, qual a minha sentença?”


Harry e Arthur saíram apressada e cautelosamente a fim de terminarem aquela busca tão inconstante quanto o tempo que os separava de casa. Eles precisavam voltar logo, e com alguma solução, antes que fosse tarde demais...

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*lua negra: lua nova
Fim do capítulo.... Os versos acima são baseados no poema Lilith, cuja autora é Anninha...
Escrevendo o próximo cap.
Beijos, Aeshma.

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