SOB O MESMO TETO



CAPÍTULO XXII



SOB O MESMO TETO



Depois de deixar o Ministério da Magia naquele sábado, desaparatando, Harry caminhou para um destino certo, naquela esplêndida manhã: Gina. Ele a visitava a cada quinze dias em Hogwarts e, apesar de aquele não ser um desses finais de semana, os últimos acontecimentos exigiram sua presença.



Sensível à beleza em torno de si, ele aspirou com prazer a brisa que soprava das montanhas, impregnada do perfume das flores silvestres e ouviu a natureza se manifestar no canto dos pássaros e nas frondosas árvores que enfeitavam a área dos jardins da escola. Tomando uma trilha, Harry avistou a cabana de Hagrid, mas não era para lá que ele se dirigia... Deixou que seus passos o conduzissem por uma colina, até o alto. Depois, desceu até a margem do lago que rodeava Hogwarts. Aquele era um de seus lugares favoritos para pensar, quando estava com problemas. Ao se aproximar do local, um sorriso desenhou-se em seus lábios.



Gina estava sentada na grossa raiz de uma árvore que sombreava aquele local paradisíaco. Parecia fresca e bela como a própria manhã, com sua saia branca, bordada em cores vivas, a blusa azul muito leve e calçava sandálias. Os cabelos ruivos, longos e brilhantes, caíam em cascata, soltos e desciam até o meio das costas. Ela voltou-se ao ouvir os passos de Harry e sorriu, sem demonstrar surpresa por vê-lo ali, porém, seu semblante estava nitidamente tenso e preocupado.



_ Bom dia, meu amor! Venha sentar-se aqui, a meu lado – disse Gina, perguntando em seguida: – Como consegue encontrar-me sempre?



_ Bom dia! – respondeu Harry beijando-a calmamente para tranqüilizá-la, passando a mão suavemente pelo seu rosto. Nesse beijo não havia desejo, apenas carinho e conforto. – Eu sempre encontro você através do meu pensamento. Mentalizo e... Pronto! Rapidamente sei onde devo procurá-la. Estamos sintonizados. Alguma dúvida?



Depois desse breve diálogo, ambos nada disseram por um longo momento. Apenas observavam o lago, a paisagem e as cores intensas da natureza, resplandecendo aos intensos raios de sol.



_ Suponho que você já saiba o que aconteceu... – ele disse por fim.



Ela respondeu com um gesto afirmativo de cabeça. Sua expressão era indefinível.



_ Recebi uma coruja logo cedo de mamãe e papai. Eles falaram brevemente sobre o que aconteceu e que você estaria vindo pra cá. Pediram que te esperasse. As coisas estão se complicando, Harry... O que vamos fazer? – Gina não era pessoa que chorava com facilidade ou por qualquer motivo, mas agora, ela estava fragilizada e sentindo-se imensamente culpada. – Estou me sentindo péssima. – disse ela baixinho, a voz fraca.



_ Não seja excessivamente rigorosa consigo mesma, Gina. Conversei com Aeshma hoje no hospital logo após o incidente. Ela já tem algumas respostas, mas ainda há muita coisa para se buscar... Eu também estou fazendo algumas pesquisas junto aos anciãos do Ministério. Contei o fato também aos seus pais...



_ Tudo isso que aconteceu me parece dolorosamente cruel, injusto e ridículo. Como meus pais reagiram?



_ Molly está impávida, como sempre... E furiosa com você. Arthur está abalado e já pediu licença ao Ministério para tentar obter alguma ajuda para o caso. – Harry ergueu-se e caminhou até a beira da água.



_ Por que diz isso, Harry? – Havia certa preocupação na voz de Gina – Ele está pretendo fazer uma viagem? – perguntou firmemente, pois sabia que seu pai não se ausentaria do Ministério apenas para fazer pesquisas na região.



_ Mais ou menos isso. – Harry evitou olhar para Gina, que o encarava. Sabia o quanto ela era sagaz e inteligente. - Ele e eu. – disse Harry por fim.



_ Oh, por favor, Harry, seja mais direto sim? O que é que vocês têm em mente, afinal? – havia uma súplica em suas palavras.



_ Iremos procurar um velho bruxo, muito sábio e de idade bastante avançada que habita em um vilarejo distante. – ele encarou-a.



_ Termine de falar, Harry. Não me esconda nada. Você está me deixando assustada. Lembra que eu já conheço a história toda? – Gina agora tinha os olhos marejados. – Não vou me perdoar se algo pior acontecer a eles...



Harry voltou a aproximar-se de Gina e tomou-lhe as mãos entre as suas. Não precisou fazê-la olhar para ele, pois ela já o fitava ansiosamente.



_ O lugar para onde vamos é uma ilha distante, sombria e deserta, Gina. Há muitos bruxos das trevas se escondendo pelos arredores da região. Fica ao noroeste da Europa, entre a Irlanda e a Grã-Bretanha, é Avalon.



_ AVALON? Nem se sabe se esse lugar existe de fato, Harry! – Gina espantou-se. – Isso é uma aventura... Algo muito perigoso. Há realmente necessidade disso? – falou em seguida, mas já se arrependendo. – Esqueça o que eu disse. Quero ir com vocês.



Harry sorriu, com certa tristeza, enquanto prosseguia com seu discurso.



_ Você não vai, Gina! Tem que terminar seus estudos, se formar! – falou isso com um olhar que não precisava expor motivos e nem admitia contestações. – Os bruxos do mundo inteiro me conhecem, depois de Voldemort, bem como seus seguidores que ainda vagam por aí. Ter um sobrenome como o meu é uma marca definitiva, bem maior que a minha cicatriz. Potter significa poder, dinheiro, posição, ascensão e glória, mas também provoca a ira, a inveja e outros sentimentos repugnantes e inferiores. Nada impedirá que eu seja reconhecido. – Harry fez uma pausa e prosseguiu mudando o discurso: _ Avalon existe, mas está obscurecida por feitiçaria. Aeshma nos deu a dica e disse que lá reside esse bruxo em um vilarejo antigo, o qual poderá nos ajudar. Iremos apenas nós dois, Arthur e eu.



_ E como fica o seu curso de auror, Harry? – Gina perguntou curiosa.



_ Ficará suspenso até que eu volte. Além do mais estou me saindo muito bem nos testes. Se eu me atrasar um pouco, há como recuperar. A vida de meus amigos é muito mais importante nesse momento do que minha carreira.



_ Eu sei disso, Harry. Não julgaria o contrário – disse Gina levantando-se e abraçando-se fortemente ao namorado, como se aquele conforto pudesse afastar todo o mal que se abatera sobre eles novamente. Harry passou a mão em seus cabelos, confortando-a, enquanto a outra apertava Gina pela cintura. _ Como está Rony? - perguntou ela afastando-se de Harry com relutância.



_ Aparentemente bem. Já acordou do desmaio. Você sabia que ele estava na casa de Hermione? - Harry balançou a cabeça – Juro que desisto de entender esses dois.



_ Mesmo? - Gina abriu um leve sorriso – Mas isso já é um enorme avanço desde o final de semana passado, não achas? Eu sabia que Hermione não resistiria à presença do meu irmão. Soube apenas, pelas cartas que trocamos esses dias, que eles haviam se reencontrado em Hogsmeade... Ela não sabia que ele morava lá.



_ Deve ter sido uma surpresa e tanto para ela! – Harry comentou com um olhar divertido _ Você não sabe o que passei nesses anos todos entre esses dois. Eles se apaixonaram um pelo outro desde a primeira vez que se viram! Nunca vi nada parecido...



_ E foi! Ela levou um choque e ainda me perguntou por que eu não a tinha avisado... Vê se pode?? Ela nem me deixou falar... Pelo menos, ela já me perdoou e disse que irá comparecer ao nosso noivado. – Gina abaixou a cabeça tristemente, e prosseguiu – Isto é, se ainda houver noivado...



_ NÃO REPITA ISSO, GINA! NUNCA MAIS OUVIU? – Harry irritou-se, porém abrandou o tom ao ver a namorada chorosa. _ Não pense assim, Gina. Você não é uma pessoa negativa. Nós vamos conseguir resolver esse problema. Acredita em mim? – ele segurou o queixo da ruiva e beijou-lhe as lágrimas que escorriam por sua face. _ Coloque nessa sua cabecinha-dura que a brincadeira foi pesada, mas, definitivamente, você não teve culpa e não sabia o que poderia acontecer.



_ Amo você, Harry! – ela falou apertando-se a ele.



_ Também amo você, Gina. – ele deu-lhe um beijo nos lábios – Agora vamos visitar Rony no hospital para você verificar com seus próprios olhos que ele está bem. – ele passou os braços pelas costas da ruiva. – Só mais uma coisa: Depois que Hermione me chamou, eu fui buscar Aeshma e tivemos uma reunião com os curandeiros-mestres do St. Mungus para explicar a situação já que não se trata de um mal comum. Seu pai participou da reunião. – Gina olhou para Harry procurando atentar e absorver cada palavra que ele dizia. _ Decidimos contar para Rony e Hermione que estão sob o poder de uma maldição, mas não sabemos como irão reagir. No entanto, não vamos contar tudo, pois a busca pela cura não pode ser forçada nesse caso. Aeshma acredita que isso seja o suficiente para forçar uma convivência entre os dois...



_ Como assim uma convivência? – perguntou Gina arqueando as sobrancelhas, intrigada. - E Hermione? Tenho certeza que ela irá buscar respostas nos livros... – concluiu.



_ Sob o mesmo teto, Gina. _ Harry sorriu maliciosamente. _ Ela irá dizer a eles que precisam ficar juntos para se livrar da maldição... Acho sensato. Assim eles se resolvem de uma vez... Quanto a Hermione ir pesquisar, duvido que encontre muita coisa mais do que já encontramos... Mas acredito que a curiosidade dela ajude a desvendar esse mistério, como sempre...



_ Será, Harry? – disse Gina. _ Espero que você esteja certo...



_ Estarei, Gina. – dizendo isso, eles desaparataram para o St. Mungus.



++++++++++++++++++++++



Ao aparatarem no hospital, Gina soltou-se de Harry e correu para abraçar o irmão que ainda estava deitado na cama.



_ Como você está se sentindo? – Gina olhava para Rony, examinando-o atentamente como se buscasse algum sinal de mal-estar



_ Melhor, Gina. Tentei levantar-me, mas ainda estou meio zonzo. Há um galo enorme cantando na minha cabeça – ele mostrou-lhe o hematoma. - Não deveria ter saído da escola por minha causa.



Hermione observava a cena, achando que Rony sempre fora exagerado quando estava doente ou sofria algum acidente. Ficava muito manhoso e mais chantagista...



_ Imagina. – Gina deu um beijo estalado na testa de Rony e foi falar com os outros que estavam presentes. Seu pai, que conversava a um canto com Aeshma. Harry havia se aproximado deles. Molly e Hermione estavam sentadas ao lado do leito do ruivo. Somente então, Gina se deu conta que havia uma criança no colo da amiga.



_ Olá. – disse Gina para a menina. - Como você se chama? – seu olhar agora questionava Hermione.



_ Eileen – disse a garotinha.



_ Você é muito bonita, sabia?



_ Sabia. – respondeu a menininha e completou. - O Rony já me disse. Seus cabelos são vermelhos como os dele. – Eileen estendeu a mão e pegou nos cabelos de Gina.



_ Olá, mamãe. – Gina beijou Molly, cujo semblante estava visivelmente carregado de preocupação – Olá, Hermione. Podemos conversar um pouquinho? – disse Gina para a amiga.



_ Sim. Vamos conversar. – respondeu Hermione levantando-se. Precisava muito ter essa conversa com Gina. O clima entre elas estivera tenso desde o último final de semana. Além do mais precisava descobrir o que ela e Harry estavam escondendo dela e de Rony.



_ Hermione. – disse Rony segurando na mão dela – Aonde você vai? Fique aqui comigo, mais um pouco. Detesto esse cheiro de hospital e minha cabeça ainda dói.



Molly olhava para a cena e contorcia-se de dor. Uma dor interna, que só as mães sentem quando seus filhos estão sofrendo. Rony só queria ficar perto de Hermione e ao mesmo tempo, parecia que havia um enorme abismo entre eles.



_ Eileen? – chamou Hermione – Cuide do Rony pra mim, sim? – e beijando o rostinho da garota, colocou-a sentada ao lado do ruivo, na cama. E olhando para Rony respondeu-lhe: _ Eu volto logo, ok? – ele apenas assentiu com a cabeça.



_ Igual ele fez comigo no hospital? – a garotinha perguntou orgulhosa de poder cumprir uma tarefa importante.



_ Sim. – disse Hermione. _ Molly...



_ Não se preocupe, Mione. Vão conversar. Eu ficarei de olho nos dois. – disse Molly adivinhando-lhe os pensamentos e piscando para ela.



Hermione e Gina dirigiram-se ao mesmo canto onde Harry, Aeshma e o Sr. Weasley conversavam. No entanto, Hermione foi logo perguntando, como era de seu feitio.



_ O que você e o Harry estão nos escondendo, Gina? – Hermione encarava a amiga. Nesse momento, elas já estavam próximas dos outros. Foi Aeshma quem respondeu.



_ Fui eu quem não permitiu que eles contassem tudo para vocês, Hermione, mas agora, queremos esclarecer algumas coisas e tentar ajudá-los.



_ Nos ajudar? Por quê? Se for mais uma vez essa história de me fazer voltar a namorar o Rony, podem esquecer! Eu e ele já conversamos e...



_ Não se trata disso Hermione. É muito mais sério. – interferiu Harry e olhando para todos, acrescentou: _ Por que não vamos procurar um lugar mais calmo para conversar?



_ A sala de reunião do hospital é uma boa opção. – disse o Sr. Weasley. E todos se dirigiram para lá.



++++++++++++++++++++



Na sala de reuniões do St. Mungus, Hermione explicou a todos o que acontecera naquela manhã, depois que deixara Rony em seu quarto para que ele tomasse banho. Fez questão também de explicar por que ele estava em sua casa. Contou, ainda, que quando percebeu que ele demorava muito ela retornou ao quarto e, depois de chamá-lo várias vezes, sem resposta, resolveu abrir a porta do banheiro e encontrou-o desmaiado. O resto da história os outros já sabiam.



Depois foi a vez de ela ouvir atentamente a história que lhe era narrada por Aeshma. Esta, por sua vez, evitou apenas falar das palavras amaldiçoadas de Merlin sobre as algemas. No final, Hermione perguntou:



_ Quer dizer que eu e Rony estamos sob o efeito de uma maldição?



Todos os olhos naquela mesa estavam sobre ela, e balançaram as cabeças afirmativamente.



_ E vocês estão me dizendo que não sabem como nos livrar disso? E nem sabem quais são os efeitos colaterais que ainda podem surgir? As conseqüências? – ela olhava para eles, incrédula.



_ Sim, Hermione. – respondeu Aeshma detestando não poder dizer toda a verdade. – não sabemos. Mas estaremos envidando todos os esforços para descobrir um feitiço que possa livrá-los dessa maldição.



_ Eu não posso ficar parada sem fazer nada. Quero ajudar também. – ela olhava para todos. – É a minha vida e a vida de Rony que está em jogo.



_ Hermione – chamou o Sr. Weasley. – Eu e o Harry vamos fazer a viagem que Aeshma lhe falou para tentarmos descobrir alguma coisa com aquele bruxo. E nós vamos conseguir! Ronald é meu filho e você é como filha para mim – ele estava visivelmente emocionado, mas prosseguiu. _ Você deve ter percebido que Rony já está tendo alguns sintomas de instabilidade e creio que, nesse momento, você precisa ficar junto a ele.



Aeshma aproveitou a oportunidade e lançou a deixa.



_ Hermione, o que estamos tentando lhe dizer é que você e Rony precisam ficar, a partir de hoje, convivendo sob o mesmo teto. Somente dessa forma poderemos verificar as reações que vocês apresentarão por causa da maldição.



_ O QUÊ? – Hermione levantou-se da cadeira tão bruscamente que esta caiu. Seus ouvidos não podiam acreditar que aquela solução fosse a única que lhe restava para resolver o problema. – Você não pode estar falando seriamente.



_ Acredite, Hermione. Falo sério – Aeshma olhou-a com uma expressão enigmática. _ Esta é a única possibilidade que vislumbro no momento. A partir do que aconteceu hoje, é extremamente importante que vocês dois não se separem por longos períodos. Isso pode ser extremamente perigoso.



Hermione ergueu a cadeira e voltou a sentar-se, perdendo-se em seus pensamentos. “Conviver sob o mesmo teto com Ronald Weasley? Sem chance...”




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