EM FAMÍLIA



CAPÍTULO V


 


EM FAMÍLIA


 


            Por diversas vezes desde que tomou banho e se arrumou, Rony fez menção de descer as escadas, tomar Hermione em seus braços e dizer-lhe repetidas vezes que a amava e o quanto sentia sua falta. “Idéias, somente idéias”. Relutante, resolveu se deitar em sua cama, acalmar-se e fazer exatamente o que Gina lhe pediu: esperar e não impor sua presença a Mione. Com as mãos embaixo da nuca e os pés cruzados, Rony fitava o teto do seu quarto e pensava o quanto sua cama parecia tão pequena agora. Até seu quarto parecia estranhamente menor.


 


            Não conseguiu descansar, sequer dormir. Bem que estava precisando de alguns minutos de sono, pois quando ficava de plantão na corporação de guarda-bruxos não tinha horário para trabalhar. Ainda bem que sua folga era de dois dias consecutivos, após cada dia de trabalho. Levantou-se, pois estava muito tenso e inquieto. E sabia que o motivo dessa agitação toda era Hermione Granger!


 


            Debruçado no parapeito da janela do seu quarto, Rony viu quando Harry Potter aterrissou nos jardins da Toca. Eram por volta das dez horas da manhã. Animou-se ao ver o amigo e quase irmão agora. Finalmente, teria uma desculpa para descer e, pelo menos, olhar para ela... Somente o fato de senti-la tão perto, já lhe fazia bem. Resolveu descer. “Dane-se o mundo!” – resmungou.


 


            Harry apeou de sua vassoura e, pegando algumas coisas que trazia consigo (inclusive um presente para Gina), viu a porta da cozinha aberta e foi logo chamando:


 


            _ Gina! Gina Weasley!


 


            Gina, que conversava animadamente com uma Mione não tão alegre assim, levantou-se bruscamente da cadeira em que estava sentada e, quase a derrubando, saiu correndo em direção àquela voz que soava como música em seus ouvidos, sem sequer pedir licença à amiga. Hermione balançou a cabeça, pensando: “Será que ainda viveria um amor como esse?”


 


            Harry parou quando Gina apareceu à porta. Olharam-se por um instante... Gina continuou a correr para ele, sem disfarçar a felicidade que sentia, e ele não podia ocultar o prazer de vê-la novamente após dois meses de ausência (sempre que podia conseguia uma licença para vê-la em Hogwarts). Gina, então, atou-se ao seu pescoço e percorreu seu rosto com pequenos beijos, fazendo-o largar no chão a vassoura e os pacotes que trazia. Ele, então, afastou-a suavemente e tomou o rosto delicado entre as mãos. Gina fechou os olhos à espera do beijo, abandonando-se por completo à magia daquele instante. Harry abraçou-a e os lábios uniram-se, ansiosos.


 


            Harry pegou os pacotes que estavam no chão entregando um deles a Gina e juntos, percorreram o caminho em direção à casa, ainda abraçados, rindo e conversando. Ao entrarem na cozinha, Harry voltou-se novamente para Gina beijando-a com paixão, afastando toda sua saudade.


 


            Hermione, mesmo observando aquela cena que mais parecia ter sido tirada de um filme de amor, resolveu aproximar-se e tocou o braço do amigo, que estava de costas para ela, ocupadíssimo em provar o sabor dos lábios da namorada.


 


 


            _ Nunca direi a ninguém que você era o garoto mais endiabrado de Hogwarts! “O-menino-que-sobreviveu”, “O Eleito!”


 


            Por um momento Harry não acreditou no que acabara de ouvir. Só uma pessoa no mundo inteiro poderia lhe falar daquela maneira.


 


            _ Hermione! – exclamou ele, voltando-se para abraçar a amiga – Ninguém me contou que você viria. – disse-lhe ao mesmo tempo em que lançava um olhar inquisidor para Gina – O que faz aqui? Não me diga que você e o... AI! – Gina o interrompeu com um dolorido beliscão.


 


            _ A Hermione está aqui para nos ajudar com os preparativos do nosso noivado. Lembra-se? – enfatizou Gina fazendo Harry virar para ela e olhando-o firmemente. Reforçou sua mensagem com uma piscadela e cutucou-o novamente. Ele virou-se para Hermione.


 


            _ Ah, é! É mesmo. Havia me esquecido. Desculpe-me por isso, Mione. São os estudos. Eu e Gina lhe somos muito gratos pela ajuda. Sabemos o quanto você é ocupada.


 


            Hermione ergueu as sobrancelhas e mirou seus amigos, olhando de um para outro. Eles estavam aprontando alguma coisa, ou não... o Harry era muito distraído mesmo. Talvez ele estivesse realmente confuso. Os homens eram surdos e completamente alienados! Sua mãe vivia falando que seu pai não prestava a mínima atenção no que ela dizia...


 


             _ Olá, Harry!


 


            Nesse momento, todos se viraram para a voz que vinha da escada. Hermione quase engasgou. Ele estava muito bonito, com uma calça de lã verde que contrastava com os cabelos de fogo ainda úmidos do banho e vestindo um dos famosos suéteres feito por sua mãe. Nos pés, calçava meias e um sapato de couro preto. Ela desviou o olhar, procurando se mostrar interessada em qualquer coisa no ambiente que chamasse mais a sua atenção do que aqueles olhos azuis. “Tarefa difícil, hein, Hermione?” – pensou.


 


           Harry rapidamente aproveitou a distração de Hermione e cochichou ao ouvido de Gina: ‘De que diabos você estava falando ainda há pouco? Não entendi nada. Mais tarde você vai me contar essa história direitinho, Gina.’ Voltou-se para Rony. Gina fez cara do querubim mais inocente do mundo, com direto a pequenas asinhas e auréola. Só faltava ser rechonchuda e ter dobrinhas...


 


            _ Olá, Rony – disse Harry apertando a mão do amigo e dando-lhe um tapinha nas costas. Mas a atenção de Rony já estava voltada para outra coisa. “Parece que um pouco de sono fez muito bem a ela.” – pensou, observando que as faces dela estavam ligeiramente coradas. Ela não olhava para ele, então voltou sua atenção para Harry.


 


            _ E aí, cara? Tudo bem? Como está o curso de auror?


 


            _ Nossa, Rony! É dureza. O curso é muito rígido e às vezes estudamos por mais de dez horas. Temos aulas de combate bem realísticas. E você, ainda não se decidiu se irá fazer algum curso superior?


 


            _ Ainda não me decidi por nada, Harry – respondeu Rony. “E como poderia se decidir se o apoio de que mais precisava não estava mais ao seu lado? Estava tão acostumado a tê-la sempre o ajudando a tomar decisões, a realizar tarefas...”


 


            “Típico do Rony” – pensou Hermione revolvendo os olhos e fitando o teto. Suspirou tão alto e profundamente que todos olharam para ela.


 


            _ Que foi? – perguntou Mione para os amigos, evitando o olhar de Rony.


 


            Não houve resposta à pergunta por que Molly e Arthur Weasley acabavam de aparatar bem ali na cozinha.


 


            _ Harry, querido! – exclamou Molly chegando bem perto dele, segurando-lhe o rosto entre as mãos com certa força e dando-lhe um estalado beijo na testa – HERMIONE! QUE SURPRESA, MENINA! – gritou vendo a moça e aproximando-se dela – Nós estávamos com muita saudade de você, não é Arthur? – perguntou virando-se para o marido. Arthur Weasley apenas assentiu com a cabeça, pois sabia que sua esposa não pararia de falar tão cedo e Rony começava a ruborizar-se.


 


            Molly continuou seu discurso, mirando Hermione:


 


           _ Ah!  Meu Rony também sentiu muitas saudades suas. Não é mesmo, Rony? – agora Rony já tinha até os dentes vermelhos de tanta vergonha e Hermione gostaria que um buraco se abrisse ali mesmo onde ela estava e a tragasse. “Merlin, o que viera mesmo fazer ali?” Harry e Gina estavam prestes a explodir em gargalhadas. Molly ainda segurou a mão esquerda de Hermione e a fez dar um rodopio, conjeturando – Nossa, minha filha! Você está muito magrinha e abatida. Precisa se alimentar melhor. Veja meu Rony como está forte e corado. Até o Harry deixou de ser um rapaz magricela e raquítico, não é mesmo Harry? Isso tudo por causa da minha comida. – falou piscando para ele – e completou – Você fica para almoçar com a gente. Não aceito um não como resposta. Faz muito tempo que você não vem aqui. Dessa vez não tem desculpas. Amanhã será o dia das mães e você estará almoçando com a sua, então quero que fique aqui comigo hoje, pois também te considero como filha. Venha, venha me ajudar a preparar o almoço com Gina.


 


         Hermione não conseguiu retrucar nem responder nada. Não depois de tanta demonstração de simplicidade, carinho e simpatia. Apenas deixou-se levar. Aprendera a amar os Weasley e sentia-se em família com eles. Só não queria amar um certo Weasley... Gina ainda tentou retrucar:


 


          _ Mas, mamãe. Ainda temos que ir às compras e já estamos atrasados. Ainda quero conversar com Hermione sobre os preparativos do noivado...


 


          _ Vocês podem ir após o almoço, Gina. E depois, ainda temos tempo suficiente para organizar seu noivado. Vamos almoçar todos juntos! Vocês duas me ajudam e rapidinho estaremos com tudo pronto. Gina ainda fez um muxoxo, pois o que mais queria naquele momento era ficar grudadinha ao Harry. Mas achou melhor obedecer a mãe e além do mais, isso a ajudaria em seus planos...


 


          Arthur chamou os dois rapazes para a sala a fim de disputarem uma partida de xadrez bruxo e perguntar ao Harry se ele sabia de alguma novidade do mundo trouxa em termo de invenções. A palavra de Molly era ponto final naquela casa e era inútil querer dissuadi-la de uma idéia.


 


           Molly distribuiu as tarefas de preparo do almoço para que este não demorasse muito a ser servido; acendeu o fogo e colocou um grande caldeirão para esquentar. Ia preparar um delicioso guisado de carneiro. Gina cuidou de enfeitiçar as facas para que elas cortassem os legumes, a carne de carneiro e as hortaliças. Com estas últimas, arrumou alguns pratos de saladas. Hermione recebeu os ingredientes para preparar cerveja amanteigada e a sobremesa de abacaxi cristalizado. Cuidou também de arrumar a mesa por feitiço. Agitando sua varinha fez uma enorme toalha branca abrir-se e dispor-se bem esticada sobre a mesa e com seus quatro cantos na mesma exata distância do chão. Em seguida enfeitiçou pratos, talheres e copos fazendo com que eles se arrumassem sozinhos. Selecionou algumas flores do jardim para compor um belo arranjo que colocou ao centro.


 


           Rony olhava de vez em quando para ela pelo canto dos olhos e pensava que aquela mulher tinha que ser sua e ia lutar para consegui-la. Este poderia ser o melhor jogo de xadrez da sua vida, só tinha que armar a estratégia correta e mover as peças com precisão, arriscando aqui e acolá a perder um cavalo, uma torre e então, dar xeque-mate no rei para, finalmente, conquistar a rainha.


 


          Ao meio-dia em ponto a mesa estava servida e todos se reuniram para o almoço. Havia sobre a mesa vários pratos de salada, uma enorme travessa fumegante com guisado de carneiro, uma tábua com um delicioso pão caseiro já fatiado, várias jarras de cerveja amanteigada e uma maravilhosa “torre” de abacaxi cristalizado tão bem arrumada por Hermione que dava até pena de comê-la.


 


          Sentaram-se à mesa como a grande e feliz família que realmente eram. Os Weasley não tinham riquezas materiais, mas a sua nobreza de caráter e honestidade faziam qualquer pessoa sentir-se tão à vontade como se fosse verdadeiramente parte deles. Harry e Hermione aprenderam isso bem cedo ainda. Eles já podiam se considerar Weasley de fato. Mesmo que Hermione quisesse, ela não poderia negar que já havia se envolvido profundamente com essa família adorável e contagiante. Ela olhou para o relógio bruxo na parede e sentiu-se feliz naquele momento. Estava em família.





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