AESHMA & ALVO



CAPÍTULO XIX


AESHMA & ALVO



Havia uma vela acesa sob a mesa iluminando um velho livro. “Merlin e o Caldeirão de Clyddon Eidin” era seu título. As páginas, amareladas pelo tempo, eram frágeis e delicadas, feitas de seda e precisavam de muito cuidado em seu manuseio. Podiam se partir de tão finas e desgastadas que estavam. Aquele papel de seda era raríssimo. Havia poucos exemplares com aquelas características tão originais. A edição datava de 1420 e fora escrita à mão. Aeshma se orgulhava muito de ter livros como esse e tão bem conservados. Ela tinha uma variada coleção; gostava muito de ler. Eram momentos preciosos para ela. Os livros eram companheiros sábios e silenciosos, que passavam de bom grado todo o seu conhecimento, transmitiam idéias, aventuras; narravam fatos e romances e faziam a imaginação ultrapassar as fronteiras da razão comum.



No entanto, ela não estava lendo esse livro por mero acaso. Buscava entendimento sobre a maldição das Algemas do Amor. Rony e Hermione, amigos de Harry Potter, precisavam de ajuda, pois corriam um grande perigo. Aeshma prometera a Harry ter uma posição sobre aquele assunto até o final de semana, quando se encontrariam no sábado. Gina Weasley também queria uma resposta. Ela mandava uma coruja todos os dias, desde que voltara para Hogwarts no domingo, querendo saber de alguma novidade. Somente uma única vez perguntou sobre os preparativos do noivado. Estava preocupadíssima com o irmão e a amiga.



Foi através de Gina que Aeshma descobriu que aquele casal era apaixonado e haviam se separado por ciúmes de ambas as partes. “Ciúme, sempre o maldito ciúme se intrometendo onde não era chamado”. Pensava Aeshma – “Pelo que tinha descoberto nos últimos dias, se eles não se amassem, as algemas nem teriam se fechado.” Amante da insegurança e portador de desavenças, esse sentimento maldito tinha poder de sufocar, maltratar e até distanciar duas pessoas que se amavam. O ciúme é o medo da perda, mas também retrata falta de confiança e revela que existem dúvidas no relacionamento. Dúvidas que somente o verdadeiro amor pode sanar, mas para isso é necessário afastar o egoísmo, saber ouvir e perdoar. Há uma diferença substancial entre defender o ser amado de alguém intransigente e sentir ciúme por causa de um diálogo ou amizade.



Para alguém ter certeza se está amando ou se se sente atraído fisicamente por alguém é necessário tempo, sabedoria e observação de seus próprios sentimentos, além de uma boa dose de crítica pessoal.



O amor não passa. Se passou é porque você não amou. O amor sempre quer o bem, jamais o mal. Se você deseja o mal a alguém, você não o ama. O amor não se vinga, não se envaidece, não se ensoberbece, não se ira. O amor é justo, paciente e bondoso. O amor não é egoísta, pois só pensa no bem estar da pessoa amada. Quando se ama, se deixa livre e se fica preso, por vontade. Quem ama busca a felicidade do outro, mesmo que tenha que abrir mão da sua própria felicidade. O amor vive em calmaria, repousa na tranqüilidade e age com serenidade.



A paixão é ardente, é passageira, é mutável. É ela quem abre espaço para o ciúme. O amor sobrevive sem paixão, no entanto a paixão não sobrevive sem o amor. Enquanto que o amor é o alento da alma, a paixão é a necessidade dos corpos. Quando a paixão caminha sozinha, ela é igual ao fogo que se alastra em um incêndio: enquanto houver vento soprando e combustível queimando ela permanece. Depois que cessam os ventos e míngua o combustível ela morre e não reacende jamais. No entanto, se a paixão é conduzida pelo amor ela existirá igualmente, mesmo que de tempos em tempos ela pareça ter se extinguido, se transformado em cinzas. Da mesma forma que a Fênix, ela renascerá e, cada vez que vier, será mais bela e estonteante, resplandecente e energizante, fazendo com que o amor conheça a verdade e atinja a perfeição. É a mais sublime fusão que se tem conhecimento.



Aeshma já tinha lido vários livros na tentativa de encontrar algo que ajudasse o casal. Alguma passagem, algum enigma indecifrado, uma contra-maldição. Normalmente, as maldições antigas eram consideradas irreversíveis, a não ser que o próprio feiticeiro que lançara a maldição tivesse decidido dar a oportunidade a alguém de revertê-la. Ela já lera: “Excalibur – a lenda”, “Os Treze Tesouros da Bretanha”, “A Dama do Lago”, “Merlin & Arthur”, “Mistérios de Avalon” e outros... Todos os dias, permanecia horas acordada na madrugada e ainda não havia encontrado algo que merecesse credibilidade. Tinha marcado uns dois ou três fatos que lhe chamara a atenção, mas que poderiam não ser verdadeiros, só lenda.



Um deles dizia que as algemas amaldiçoadas uma vez colocadas em duas pessoas, se tornariam invisíveis após uma declaração de amor de ambas as partes. Isso era bem provável, pois o nosso íntimo, de acordo com nossos pensamentos e aspirações puras, pode nos dar a verdadeira pronúncia das palavras sagradas. O poder magnético das palavras humanas só é conhecido pelos estudiosos do oculto e pelos bruxos. Ele pode transformar coisas ao seu redor ou até criar. “Se seu raciocínio estiver correto,” - pensava Aeshma - “Merlin havia feito a maldição perfeita.” E pelo que verificou no sábado na casa de Gina Weasley, as algemas desapareceram... Mas Rony não mencionara nenhuma confissão de amor de por parte de nenhum deles... “Precisava averiguar isso”.



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Relembrando Rony e Hermione ainda algemados

_ Hermione? – Rony sussurrou ao ouvido dela para saber se ela acordara, mas ela não respondeu – Hermione? – sussurrou novamente.
Após alguns segundos ela se mexeu e falou com os olhos fechados:
_ Eu te amo, Ron! – o som era quase imperceptível, um sussurro, mas dessa vez ele escutou.
“É uma pena que ela esteja inconsciente. Se estivesse acordada não me diria isso” – pensou Rony infeliz. No entanto, ele respondeu a ela falando baixinho ao ouvido de Hermione:
_ Eu também te amo, meu amor! Você não sabe o quanto!

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O livro ainda dizia que uma vez invisíveis, as algemas também estariam separadas, apesar de permanecerem nos punhos de cada um dos apaixonados. Elas ficariam também imperceptíveis, sutis, amorfas, pois suas moléculas estariam girando a uma velocidade inimaginável, no entanto, iriam novamente se juntar em algum momento. “Naturalmente quando o calor da explosão as resfriasse”. – pensou Aeshma novamente. Só não havia a menção de em quanto tempo isso poderia acontecer. Uma algema sempre estaria chamando pela outra. Elas se atraíam mutuamente. E era aí que morava o perigo. Caso elas não se juntassem, um dos dois poderia morrer. Essa morte seria causada pelo rompimento de uma das algemas em busca de seu par...



Aeshma raciocinou que isso talvez se agravasse com o distanciamento físico e amoroso do casal... E ela estava tendo idéias... Muitas idéias... Mas precisava conversar com Harry e Gina sobre seus planos, a fim de saber como poderia juntar os dois apaixonados.



Levando a mão a boca e bocejando, a bruxa de olhos violetas fechou o livro, apagou a vela e, então, lembrou-se de Alvo. Também não havia sido fácil para eles. Apesar do amor que os unia, eles nunca puderam se casar de fato. A época das tormentas não deixou. O amor deles passara por muitas provações, mas sobrevivera e existiria para sempre e por toda a eternidade.



Sorrindo, mentalizou uma outra época, quando ela e Alvo ainda eram bem jovens. Assim como o Rony e a Hermione eles se conheceram em Hogwarts e andavam sempre juntos, estudavam juntos e brigavam mais ainda... Diferente de Rony e Hermione eles eram ambos estudiosos e não tinham um terceiro amigo no meio, mesmo porque Alvo era mais compenetrado e solitário. Aeshma tinha uma natureza mais inquieta, tinha amigos e amigas. Aliás, era uma espoleta e Alvo bastante calmo, com aqueles óculos no rosto, sempre bem sério...



Ela fazia barulho, ele gostava do silêncio... Ela procurava brigas, ele pacificava. Ele gostava de doces e Aeshma preferia os salgados... Ele preferia estudar Astronomia e História da Magia, já ela se dava muitíssimo bem em Aritmancia e Poções. Nessas horas eles se ajudavam. Ambos gostavam de DCAT e foram os únicos da turma a se destacarem nessa matéria. Uma vez duelaram em um treino e foi necessária a interferência do professor, pois um não derrotava o outro.



Seu coração encheu-se de um doce enlevo quando recordou-se do primeiro beijo que aconteceu entre eles, no 6º ano. Ambos estavam com 17 anos. Haveria um passeio em Hogsmeade e todos estavam bem animados. Exceto Alvo, ele não gostava muito de passeios e Aeshma adorava. Quando ela soube que ele não iria, foi procurá-lo e sabia exatamente onde encontrá-lo. Na Torre de Astronomia. Até então ela não sabia que estava apaixonada... Só sabia que gostava de ficar perto dele e de conversar com ele. Ele era tudo que ela não era. Alguns colegas diziam para Aeshma que ele a amava, mas ela ria-se disso e não acreditava. Ela achava que Alvo nunca iria namorar ninguém...



Aeshma já havia ficado com uns quatro meninos desde o 3º ano. Mas eram namoros curtos que terminavam em uma semana ou duas e ela nunca sabia por que tinha começado. Nesses momentos, Alvo sempre a recriminava, o que a deixava exasperada. Aos 17 anos, Alvo não era o que se pode chamar de um deus grego. Era magro, alto, já tinha uma barba rala, mas o mais incrível em sua fisionomia eram os cabelos lisos acobreados que ele já os usava compridos... Tinha um jeito misterioso e um olhar penetrante... Olhos azuis claros como um céu sem nuvens... Muito parecidos com os de Ronald Weasley... Só que Alvo nunca desenvolvera um porte atlético, pois não gostava de exercícios físicos. Seu prazer eram unicamente os livros.




No dia do tão esperado passeio em Hogsmeade ela entrara na Torre de Astronomia correndo, como sempre, e sentara-se numa banqueta alta, na qual as pessoas se posicionavam para mirar o céu através dos diversos aparelhos que ali havia... Alvo estava lá, fazendo um desenho de um mapa enquanto consultava alguns astros num telescópio. Ao vê-la entrar, lançou um olhar repreensivo, mas não disse nada. Aeshma passou alguns segundos a observá-lo (minutos eram difíceis para ela), esperando que ele dissesse alguma coisa, mas nada... Nenhuma palavra. Alvo era assim. Eles estavam bem próximos um do outro... Então, sem conter-se, ela perguntou:




_Sabe por que estou aqui?




_Sei - disse ele sem tirar os olhos do papel.




_E por quê? - ela o desafiava.




_Eu sei o porquê e você também sabe. Não preciso responder...




Aquela resposta irritou Aeshma profundamente, mas ela se conteve e continuou insistindo:




_ Quero ter certeza se você sabe...




_ Eu não vou - disse ele, tentando abreviar o assunto e ver-se livre dela o mais rápido possível (assim ela acreditava).




_ E por que você não vai? - ela insistia sem saber que estava pisando em um terreno perigoso.




Ele a olhou firmemente por alguns instantes antes de responder. Naquele momento parecia que Aeshma tinha levado um choque, pois a eletricidade percorrera todo o seu corpo, a deixando com todos os pêlos do corpo eriçados e totalmente em estado de alerta. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas sustentou corajosamente aquele olhar. Ele respondeu:




_ Não vou porque não quero. E não vou mais falar nesse assunto. - tornou a olhar para o papel tentando encerrar a discussão... Mas ela não desistia tão fácil... E resolvera tentar uma outra estratégia, pois não tinha argumentos para convencê-lo a ir, nem forças para removê-lo de seu propósito.




_ Se você não vai, eu também não vou. - disse ela por fim.




Agora Aeshma tinha alterado o humor dele visivelmente. Poucas vezes Alvo perdera a paciência na vida e ele costumava dizer que ela tinha esse poder... Notou quando ele suspirou profundamente, tirou os óculos e largando-os junto com o mapa e a pena sobre a mesa, virou-se para ela:





_ Você é irritante e eu preciso trabalhar nesse projeto, portanto você vai. - Não era um pedido, era uma ordem. Ele a olhava com a cara fechada e os braços cruzados.




Aeshma resolvera imitá-lo. Fechou a cara e cruzou os braços igualmente. Depois sorriu.




_ Oh, Merlin! - disse ele finalmente sorrindo - Você é impossível.




_ Você vai não vai? - ela insistia.




_ Não, Aeshma. Eu não vou.




_ Ah, por favor. Diz que vai...




_ Não adianta, insistir. Eu não vou, Aeshma! Você sabe que detesto perder tempo com esses passeios.




_ Ótimo. Então ficamos nós dois aqui. O que você está fazendo mesmo? – ela provocava.




Ele passou as mãos pelos cabelos, já irritado. Ela conseguira mexer com ele...




_Eu quero que você saia por aquela porta e vá passear em Hogsmeade com seus coleguinhas... – falou Alvo contrariado.




Nossa! Como Aeshma ficara enervada com esse comentário! “Coleguinhas??? Quem era ela para ter coleguinhas??? O que é que ele queria dizer com isso??? Agora mesmo é que não sairia dali” – pensara já emburrada.




_ Não vou – Aeshma cruzou os braços e fechou os olhos, fazendo bico.




_ Você vai, Aeshma!




_Não vou! – repetia ela, permanecendo com os olhos fechados.




_Vai.




_Não vou. Vai ter que duelar comigo e me vencer para me tirar daqui! Não vou, não vou e não vou!




_ Ah, mas você vai!




_ Não vou. Já disse que não vou e pronto!




Continuaram nesse vai-não-vou e ela o tempo todo de olhos fechados, balançando as pernas, já com as mãos nos ouvidos para não escutá-lo. De repente, tudo silenciou. Não se sabia quem havia parado de falar primeiro. E ela resolvera abrir os olhos. A única coisa que viu, rapidamente, foi o rosto dele sobre o seu, antes de fechar os olhos novamente, estupefata. Então ele a beijou, enquanto suas mãos pegavam nos pulsos dela e tirava-lhe as mãos dos ouvidos. A banqueta estava encostada numa parede. Ele não a abraçou, apenas prendeu os braços dela com as mãos naquela parede e prendeu o corpo dela com o dele. O beijo durou o que lhe pareceu horas... Ela nunca tinha recebido um beijo tão intenso como aquele... Ele conseguiu calar Aeshma fazendo com que ela correspondesse ao seu beijo. Nenhum dos dois fazia menção de querer separar-se.




Então, a porta da torre se abriu e um colega entrou... Alvo soltou Aeshma e então ela saiu dali correndo desesperadamente.




Fora ao passeio sozinha e ele ficou na Torre. Passaram duas semanas sem se falar, mas ela ainda se lembrou de trazer os doces preferidos dele e pediu a um colega para entregar-lhe... Ela estava envergonhada e confusa com seus sentimentos. Ele retraído e distante.




Até que um dia...




Aeshma sacudiu a cabeça, tentando espantar o sono, mas não adiantava, já era madrugada e ela ainda teria que pensar numa forma de juntar aqueles dois teimosos antes que fosse tarde demais. Resolveu deitar-se e descansar, pois sua cabeça estava vazia e sem a menor idéia do que pudesse fazer. Pela manhã ela encontraria uma solução.




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Na manhã desse mesmo dia, Ronald Weasley acompanhou até o hospital a linda menina que ele encontrara nos escombros do metrô. Ela parecia ter uns três ou quatro anos, no máximo. Teve que ser assim, pois havia poucos bombeiros que pudessem sair do local naquele momento. Ele sabia alguns feitiços de cura e os conjurou ao entrar na ambulância trouxa. A menina só quebrara a perna e tinha pequenos arranhões e hematomas pelo seu corpinho frágil, o que Rony rapidamente resolveu. Ela estava encantada com ele.




_Você é um bombeiro mágico? – a menininha perguntou.




Rony que, sentara num banquinho ao lado da maca, olhava fascinado para aquela criança e não viu problemas em responder:




_ Sim, eu sou.




_ Eu não sei fazer mágicas. Você me ensina? – ela o olhava ansiosamente esperando por uma resposta.




Rony resolveu aproveitar que ela estava conversando tão amigavelmente com ele para tentar descobrir alguma coisa que pudesse levá-la aos seus familiares.




_ Ensino, sim. Com certeza, mas quando você estiver melhor. Diga-me, você estava com alguém no trem?




_ Sim. Com a vovó. – sua vozinha ficou trêmula e seus olhinhos ficaram marejados – A vovó morreu?




_ Eu não sei meu bem. Vamos tentar encontrá-la certo? – Ronald resolveu buscar uma lembrança mais feliz e perguntou:




_ Onde está sua mamãe?




_ Em casa – a menininha respondeu.




_ E onde fica sua casa? – Rony insistiu, tentando saber onde ela morava.




_ Fica aqui mesmo. – disse ela.




Rony pensou que talvez devesse brincar com ela, entrar em seu mundo. Olhando em volta, fingiu estar espantado com o que ouvia.




_ Você mora aqui? No caminhão dos bombeiros?




Ela sorriu e foi difícil não se deixar contagiar.




_ Não, bobo. Em Londres.




_Sabe onde você mora? Quero dizer, em Londres, eu sei, mas... Onde?




_Em nossa casa, é claro – disse a pequenina, como se fosse tolice considerar qualquer alternativa.




_ Sabe qual é seu endereço? – Rony tentou, optando por uma abordagem mais direta.




Dessa vez, o sorriso sumiu do rosto dela e os olhos sugeriam frustração. A menina balançou a cabeça.




_ Não. É novo – ela parecia estar muito aborrecida por não poder recitar o nome da rua onde morava em Londres, então Rony achou melhor não insistir mais no assunto.




_ Às vezes não conseguimos nos lembrar de algo novo – disse ele, segurando a mão dela. Tentou outra abordagem – Qual é seu nome? Sabe me dizer?




_ É claro que sei! Meu nome não é novo. É tão velho quanto eu.




_ Entendo – ele fingiu compreender o argumento – Meu nome é Ronald Weasley. E o seu?




_ Eileen Keltoi. Significa luz do sol. – respondeu a menina orgulhosa.




_ Eileen. Lindo nome. Você é irlandesa Eileen?




_ Sim. Minha mãe também.




_E como se chama sua mãe, Eileen?




_Ailis. O outro nome é igual ao meu. Keltoi




Rony ficou satisfeito com as informações que conseguiu. Olhou para a linda menina e pensou que quando tivesse filhos queria ter uma menininha esperta igual a ela. Então se lembrou de Hermione. Era com ela que ele queria casar e constituir uma família. Ele tinha certeza de que iria conseguir isso.




Resolveu, então, fazer uma última pergunta para a garotinha, pois já estavam chegando ao hospital.




_Quantos anos você tem, Eileen?




_ Não é delicado perguntar a idade de uma mulher. – disse ela sentindo-se ofendida.




Rony quase sufocou de tanto rir e pensou: “Essa menina é uma jóia rara.”




No hospital, Eileen agarrou-se a Rony e não queria mais soltá-lo. Ele se viu obrigado a carregá-la no colo, apesar de que a menina não estava fazendo nenhum escândalo. No entanto, ela precisava ser medicada com remédios trouxas e ele precisava localizar sua família. Relatou o ocorrido às enfermeiras e acompanhou Eileen até o quarto onde ela ainda ficaria em observação. No quarto, Rony disse para ela:




_ Eileen, querida, eu preciso sair agora para tentar localizar sua mãe.




_ Por quê? Minha mãe não está perdida.




Rony sorriu.




_ Não, mas você está.




_ Oh, não estou. – O sorriso que iluminou seu rosto era tão radiante que Rony sentiu-se cativado. – Estou bem aqui. Com você.




Era difícil discutir um argumento tão óbvio. Por isso, Rony nem tentou desmentir o pingo de gente.




Rony, então, aguardou Eileen ser examinada e medicada, ao que ela não choramingou nem uma vez. Após o término dos exames, o médico, um senhor já de idade avançada, disse que ela estava bem e que só precisaria ficar em repouso, talvez somente por um dia, pois a criança tinha passado por uma experiência muito traumática e tinha sorte de estar tão bem. Olhou ao redor e percebeu que suas enfermeiras estavam encantadas pelo jovem bombeiro. Parecia haver algum tipo de mágica ao redor dele que as atraía. Era um burburinho só. Ele saiu e deixou o rapaz ficar só com sua pequena amiga. Ele era a única referência que ela tinha no momento. Sua tábua de salvação.



_ Lê pra mim, Ronald? – Eileen pediu.




_ Você pode me chamar de Rony, Eileen. É mais fácil.




_ Lê pra mim, Rony? Minha mãe lê para mim todas as noites.




Rony resolveu pegar um dos livros infantis da prateleira que ornamentava a ala de pediatria hospitalar e, sentando-se ao lado de Eileen, começou a ler. Foi uma maratona de leitura, uma experiência nova e difícil para ele. Os contos eram curtos, mas Rony perdeu a conta de quantos lera. O livro parecia inesgotável como a atenção e o interesse de Eileen. Era como se a menina ficasse mais alerta a cada página lida. Parecia sua doce Hermione. Mas, finalmente, depois da décima segunda história, olhou por cima do livro e viu que ela fechara os olhos, vencida pelo cansaço e pelos medicamentos que tomara.




Era como olhar para um anjo. Aliviado, Rony fechou o livro e levantou-se devagar, tomando o cuidado de não fazer nenhum barulho. Ele estava surpreso, pois apesar do cansaço e da garganta seca ele não ficou aborrecido, nem impaciente com a menina.




Iria, agora, tentar localizar os pais daquela criança e saber mais notícias sobre o atentado. Antes de deixar o hospital, recomendou a uma enfermeira que dissesse a Eileen que ele tinha saído, mas que voltaria para vê-la, caso ela acordasse durante a sua ausência. A enfermeira gaguejou um sim e enrubesceu imediatamente ante aquela voz grave e sedutora. O homem era um espetáculo! Com certeza ela faria qualquer coisa que ele lhe pedisse...



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Aeshma acordou naquela sexta-feira sentindo-se mais disposta e relaxada. Lembrar-se de Alvo e dos maravilhosos anos que passaram juntos sempre lhe fazia bem. Eles viveram um amor intenso, puro e verdadeiro. Ele fora o único amor de toda a sua vida. Juntos tiveram três filhas: Erin, Caridwen e Lhiannan. Os nomes foram escolhidos pelo pai e eram de origem celta. Por conta do período das trevas, ela e as meninas viveram escondidas do conhecimento de outros bruxos e Alvo foi tido como um bruxo solteirão e recluso. Apesar de Aeshma ter uma idade já avançada, 159 anos, tanto ela como Alvo conheceram e utilizaram diversas poções de juventude, além dos poderes da pedra filosofal, exceto o da imortalidade, o que lhes aparentava ter menos idade desde então.




A bruxa de olhos violetas lembrou-se, ainda, de quando ela e Alvo realmente começaram a namorar, semanas depois daquele inesperado beijo na Torre de Astronomia.




Depois do beijo, ela e Alvo se distanciaram, porém ambos se olhavam discretamente. Passaram duas semanas sem trocarem nem uma palavra, nem nas aulas, nem durante as refeições, nada, apesar de que sempre se sentavam perto um do outro. Alguns colegas perceberam, mas não ousaram perguntar. Um belo dia, o diretor Fineus Nigellus chamou os dois em seu gabinete e anunciou que a partir daquele dia eles seriam monitores-chefe da Grifinória. Eles haviam feito os testes e tinham obtido nota máxima. Na surpresa do anunciado, Aeshma jogou os braços ao redor de Alvo e o abraçou, cumprimentando-o. Ele, como era mais comedido, limitou-se a sorrir e dar parabéns para ela também. Era muito importante ser monitor-chefe de Hogwarts para quem almejava uma profissão futura. A partir daí voltaram a se falar, mas não tocaram no assunto do beijo. Foi como se tivessem feito um acordo mudo de que esse era um assunto sagrado, secreto e proibido entre os dois.




No entanto, não havia um só dia em que Aeshma não se lembrasse daquele beijo, principalmente à noite, antes de dormir. Tinha descoberto que estava totalmente apaixonada por ele. Eram anos de amizade, companheirismo, desentendimentos, carinho, fidelidade... E todos esses sentimentos se juntaram numa única palavra: amor... Depois dele, veio a paixão, como tinha de ser.




Quando, juntos, começaram a monitorar os corredores de Hogwarts, a conversa voltou a fluir entre eles. Voltaram também a ler e estudar como fizeram por anos e anos. Ambos estavam felizes com essa reaproximação, mas nenhum dos dois ousava comentar.




Um mês após se tornarem monitores-chefe, aproximadamente, Alvo se envolveu em um projeto de astronomia grandioso e passou a dormir poucas horas por noite. Ficava muitas vezes a observar o céu durante horas depois da ronda noturna. Aeshma insistiu em acompanhá-lo, prometendo ficar quieta e calada e ajudá-lo no que fosse preciso. Ainda, fazia feitiços para que não lhe faltasse uma bebida energética que o mantivesse acordado.
Quando ela se cansava, deitava-se enrodilhada num sofá que havia na sala da Torre de Astronomia e dormia enquanto ele trabalhava. Horas depois ele a acordava para que fossem ambos para seus respectivos quartos. Numa dessas vezes, ele a chamou, mas não foi para irem dormir.




_ Aeshma! Aeshma! Acorde. - Alvo sussurrava em seu ouvido. - Vamos, menina, acorde! Quero te mostrar uma coisa...




Aeshma abriu seus olhos e o viu. O rosto dele estava muito perto do seu. Perto até demais. Confusa, sentou-se e espreguiçou-se.




_ Hora de voltarmos? - perguntou ela bocejando.




_ Não, Aeshma. Levante-se, quero te mostrar algo. Venha. - disse Alvo puxando Aeshma pela mão para que ela se levantasse. Ela o acompanhou sem questionar. Alvo, então, sentou Aeshma na banqueta em frente ao telescópio e pediu que ela observasse o céu, naquela determinada posição. Ao que ela obedeceu prontamente, pois já estava ficando sem fala por causa da proximidade dele. Ele estava às suas costas, com os braços passados ao redor dela, configurando uma das lentes do aparelho. Aeshma sentia a respiração dele em seu rosto e até ouvia-lhe as batidas do coração. Instintivamente suspendeu sua própria respiração e umedeceu os lábios.




Então, Alvo sentou-se ao seu lado, diante de outro telescópio e segurou a mão de Aeshma. Juntos eles observaram o nascimento de várias estrelas na constelação de Perseus, uma nebulosa que fica a mil anos-luz da Terra. A imagem, por si só, era fantástica e merecia uma fotografia especial, que era o que Alvo tentava fazer naquele momento, através dos aparelhos e da bruxaria. Era uma mistura de brilhos e cores que ela se emocionou e lágrimas saltaram de seus olhos. Alvo apertou-lhe mais ainda a mão. Havia tons de rosa, azul, verde, violeta, amarelo, vermelho e laranja envoltos em poeira cósmica. Era muito mais espetacular que fogos de artifício...




Quando o espetáculo terminou, ela disse-lhe, levantando-se:




_ Obrigada por me fazer presenciar algo tão maravilhoso, Alvo. - os olhos de Aeshma ainda estavam marejados.




_ Eu te amo, Aeshma. E quero ter você ao meu lado por todos os dias do resto de nossas vidas. - Alvo, então, aproximou-se e segurando-lhe o rosto entre as mãos, respondeu-lhe com um doce e suave beijo, o qual foi ficando cada vez mais urgente e avassalador a cada segundo. Dessa vez ele a abraçou, quando ela correspondeu e aquela Torre ficou com muitas histórias pra contar daí em diante. Desde esse dia, ela nunca mais deixou de olhar o céu antes de dormir.




Aeshma suspirou e olhou para o anel em seu dedo. Era uma aliança larga de ouro branco, com oito pedras preciosas de ametista violeta incrustadas em sua borda superior. Na parte externa, estavam gravadas as iniciais “A & A”. E no lado interno, em irlandês, “Taim i' ngra leat” que significa “Eu te amo”.



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Quem quiser ver foto de nascimento de estrelas, é só copiar e colar um dos links abaixo em seu navegador:

http://img54.imageshack.us/my.php?image=2790507235inzo8.jpg


http://img54.imageshack.us/img54/6347/2790507235inej9.jpg


Agradeço a todos que têm deixado comentários, muitos beijos, abraços e peço que continuem acompanhando a nossa fic... ainda tem muita história para ler...









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