Funeral



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Raven rompeu pela enfermaria. Sirius e Lupin, juntamente com Rony e Hermione, estavam de pé, em frente ao leito, observando Dumbledore e Madame Pomfrey, debruçados sobre o corpo do garoto. Ela parou ao lado de McGonagall, que também observava, angustiada, próximo ao Diretor. Gina estava sentada no leito ao lado, atenta ao que faziam, o joelho enfaixado.


Dumbledore limpou, mais uma vez, sua testa e executou outro feitiço enquanto Papoula forçava mais da Poção para Repor o Sangue em sua boca.


– Nenhum feitiço que eu conheça é suficiente para interromper isso – Dumbledore declarou ao ver novamente o sangue brotando de sua cicatriz.


– Não acredito que seja o caso para feitiços, Diretor, posso? – Raven pediu.


– Claro, Sra. Black. – Dumbledore se levantou – Se a senhora conhecer qualquer coisa que possa ajudar, por favor, tente.


Raven abriu suas pálpebras e examinou seus olhos.


– A mente dele e a de Tom deviam estar conectadas na hora que ele foi atacado, provavelmente é por isso ele está assim. Quando a alma de Voldemort foi expulsa do corpo que habitava, consequentemente a de Harry também deve ter sido, ou melhor, quase. Ele vai ficar bom, é um guerreiro... só que parece tão fraco...


– Algumas poções fortificantes talvez o ajudem a se recuperar? – perguntou Minerva.


– Sim, com certeza ajudarão.


– Eu não entendi, Raven – disse Sirius enquanto Minerva e Papoula se afastavam para verificar o que tinham no estoque da enfermaria e que poderiam usar – Como assim a mente deles estavam conectadas na hora, ele estava acordado... Está dizendo que Voldemort tentou matá-lo antes de morrer?


– Acho que não, não conscientemente... – ela olhou para os presentes e Hermione lhe acenou furtivamente – Eu não posso dizer muito, mas acredito que ele ficará bem, o sangramento deverá parar aos poucos, como da outra vez.


– E o que vocês sabem sobre a morte dele? – Dumbledore pediu.


– Ele não morreu. Nós saberíamos se tivesse.


– Foi o que desconfiei! – Dumbledore passou a varinha pelas vestes, ainda sujas e agora manchadas de sangue, tornando-as novamente impecáveis. – Por favor, cuidem dele. Tenho que me antecipar a Voldemort, tenho que ir agora!


Dumbledore deixou a enfermaria às pressas. Raven também se levantou e Gina ocupou seu lugar, ao lado do leito, passou a mão pelos cabelos, ainda úmidos, de Harry.


– Se ele não está morto, significa que temos que nos preparar, ainda não acabou. – Sirius concluiu.


– Mas ele está sem corpo – Rony comentou – Está fraco, não é?


– Sim, está sem corpo – Sirius concordou. – Só que agora ele sabe como fazer para recuperá-lo – olhou temerosamente para o garoto desacordado sobre o leito.


– Raven, posso falar com você? – Hermione pediu timidamente – Eu queria tirar umas dúvidas sobre algumas coisas...


– Ah... tá, claro. – Raven foi até ela e as duas saíram enquanto Minerva e Papoula voltavam.


Elas começaram a selecionar as poções e especificar as dosagens que lhe dariam para ajudá-lo a se recuperar.



Despertou se sentindo enjoado. Gemeu quando tentou se mover, sua cabeça doía. Lentamente afastou as cobertas. A cama ao lado rangeu e logo depois alguém debruçou sobre ele.


– O que foi? Você está bem? Está sentindo dor? – perguntou Rony.


Harry ouviu a voz dele mas não compreendeu suas palavras. Olhou ao redor e reconheceu de imediato o local, estivera ali por tantas vezes, ainda tinha o mesmo cheiro.


– Quer que eu chame alguém? – Rony insistiu.


Harry lançou-se para fora da cama e caiu no chão frio da enfermaria.


– O que você está fazendo? – Rony reclamou apreensivo e deu a volta para ajudá-lo a se erguer, colocou os óculos em suas mãos. – Fala alguma coisa...


Harry impulsionou-se e rumou rapidamente para o banheiro. Ficou um bom tempo debruçado sobre a louça, até esvaziar o estômago.


– É normal que esteja enjoado, depois de tudo o que fizeram você beber. Até eu fiquei enjoado, só em olhar...


Harry se arrastou, cambaleante, até a pia e logo recuou, evitando olhar o próprio reflexo.


– Onde estão minhas roupas? – sussurrou. Arrancou o pijama da enfermaria, que grudava em sua pele, e foi para o chuveiro.


– Na torre da Grifinória – Rony puxou o cordão – Como você está se sentindo?


– Melhor agora... – deixou que a água caísse fartamente sobre sua cabeça – Onde está todo mundo?


– Ah, é... eu tenho de avisar que você acordou. Não saia daqui! – Rony pediu antes de sair.


Quando saiu do banheiro, minutos depois, trajando pijamas limpos, Harry se deparou com o grupo que o aguardava ansiosamente.


– Você não deveria ter se levantado logo, não pode se esforçar – Madame Pomfrey o repreendeu reconduzindo-o de volta ao leito.


– Como está se sentindo, Harry? – perguntou McGonagall enquanto pousava a mão em sua testa e sentia seu pulso.


– Bem. Estou com fome... – surpreendeu-se ao afirmar.


– Fique quieto aqui, vamos providenciar isso – pediu Minerva.


– Está com fome? – Hermione se aproximou de seu leito, ansiosa, enquanto elas saíam para providenciar sua comida e chamar os outros.


– Muito – confirmou – nem me lembro quando foi a última vez que me alimentei... O que aconteceu?


– Você não se lembra? – Rony surpreendeu-se.


– Sim... – murmurou pensativo – Quero saber o que aconteceu depois da minha morte.


– Não fala assim – Hermione pediu. – Você só esteve doente...


– Eu lembro da lâmina atravessando o meu peito... – olhou para baixo e levou a mão ao coração.


– Voldemort morreu – Rony contou a ele, embora já imaginasse que ele soubesse.


– Não, ele não está morto.


– Dumbledore não está no castelo, mas quando chegar virá vê-lo – McGonagall retornou com Sirius e Tonks.


– Você assustou a gente – disse Tonks.


– Como você está se sentindo? – Sirius foi até sua cama e se agachou ao seu lado examinando sua expressão cansada e abatida.


– Vivo... ainda… – Harry respondeu. – O que aconteceu? Como estão todos?


Madame Pomfrey entrou trazendo a bandeja e Harry a recebeu e passou a comer sob o olhar atento de todos.


– Não tivemos muitas baixas, a intenção deles era fazer prisioneiros... – Sirius disse enquanto o observa – Conseguimos capturar alguns Comensais antes que aparatassem, alguns se entregaram, outros fugiram...


Lupin entrou na enfermaria.


– Ele está bem? – perguntou se juntando ao grupo.


– Parece que sim... – Tonks observou – Ou toda essa fome é um sintoma da doença?


– Desculpem – Harry levou a mão à boca para poder falar, depois esvaziou de uma só vez o copo com suco de abóbora.


– De vagar ou você vai passar mal! – reclamou McGonagall.


– Isso mesmo, ficou muito tempo em jejum, deve reacostumar-se aos poucos – Papoula apoiou, satisfeita, antes de se afastar. Hermione sorriu esperançosa.


– Ficamos muito preocupados – Sirius comentou ainda examinando-o – Sabe o que fez isso a você? O porquê de ter ficado nesse estado?


– Minha ligação com Voldemort – conseguiu dizer entre uma garfada e outra.


– Sua ligação com ele há de enfraquecer agora que ele perdeu novamente o corpo, não é? – perguntou Tonks enquanto Lupin acariciava suas costas.


Ele deu de ombros e afastou a bandeja.

– Por que tanto barulho lá fora? – desconconversou.


– Praticamente toda a comunidade mágica têm vindo ao castelo – explicou Lupin.


– Têm vindo? – Harry estranhou – Para quê? Desde quando?


– Ele precisa repousar... – Madame Pomfrey reclamou voltando com uma taça nas mãos. – Isso vai te ajudar a dormir – recolheu a bandeja e estendeu a taça.


– Eu não quero isso, estou enjoado dessas poções.


– É bom que descanse – McGonagall recomendou. – Quando o Diretor chegar irá querer falar com você.


– Para onde ele foi? – Harry ergueu a mão tocando a taça para evitar que Madame Pomfrey a levasse até sua boca. – Eu já dormi por horas, quero ficar acordado! – reclamou.


– Você quer dizer dias... – Rony comentou.


– Três dias – Hermione precisou. – Mas imagino que estivesse precisando...


– Três dias?! – sobressaltou-se.


– Você esteve muito mal, Harry. E ainda não parece nada bem. – Tonks comentou.


– Se não vai tomar a poção, então terei que pedir para que todos se retirem, para que possa dormir e se recuperar totalmente. – Madame Pomfrey insistiu.


McGonagall pediu a todos que o fizessem e eles concordaram a contragosto.


– Temos que continuar a patrulhar as coisas lá fora – Tonks lembrou puxando Lupin com ela.


Harry se recostou nos travesseiros acatando à sua recomendação enquanto eles deixavam a enfermaria e paravam no corredor para conversar brevemente, em voz baixa.


Ficou na cama pelo o que lhe pareceu horas, repassando as últimas lembranças. Olhou, pela janela, para o céu da tarde. Levantou-se sem fazer barulho, pegou a varinha na mesa ao lado e saiu.


Teve vontade de enviar uma mensagem aos amigos, mas estava sem o cordão. Foi até as escadas e se deparou com dois, possivelmente, membros da Ordem bloqueando o caminho.


Havia um grande alvoroço no térreo, estava ciente de ainda estar descalço e de pijamas. Voltou silenciosamente pelo corredor e saiu pela janela.


Percebeu a agitação nos terrenos também, apesar do frio. Subiu até o sétimo andar reparando como as paredes do castelo, antes enegrecidas pelo tempo, pareciam ter recebido um trato especial, como se houvesse um grande evento em andamento. Uma desconfiança o abateu e apressou-se em subir e se abrigar do vento gelado.


Entrou pela janela do seu antigo dormitório e encontrou, na cama de Rony, suas mochilas. Era evidente que os amigos também estavam alojados no castelo. Levou seus pertences para o banheiro e se arrumou. Sabia que algo muito importante acontecia lá em baixo e não tinha nada a ver com as aulas.


Desceu até os terrenos pelo lado de fora, para não correr o risco de ser parado pelo caminho. Contornou o castelo até achar um lugar deserto para aterrissar, reparou no povoado de Hogsmeade, que tinha se expandido muito, principalmente em direção a Hogwarts, o que explicava a presença de tantos ali embaixo.


Passou pela cabana de Hagrid, que parecia estar vazia naquele momento, e se misturou à multidão. Não precisou ouvir muito sobre o que todos pareciam comentar para ter certeza de suas suspeitas. Seguiu decidido em direção ao lago ignorando os olhares de reconhecimento que recebia de vez em quando.


À beira do lago, em um caixão de vidro, seu corpo jazia exposto à curiosidade de todos. Dois bruxos posicionados nas extremidades, observavam a procissão que passava aproximando-se apenas o suficiente para que pudessem se certificar de sua morte. Aquilo o irritou profundamente. Usou o cordão para se comunicar com os amigos.


– Harry Potter!? O que faz aqui fora? – perguntou George, que era um dos que vigiavam o corpo. Ele tinha algumas escoriações no rosto, mas parecia bem. Harry cruzou a linha mágica, de proteção, que os distanciavam do caixão.


– Preciso pegar algo que me pertence... – Harry foi até o caixão e encarou os olhos vidrados do morto. Reparou as mãos, semi-cobertas, que estavam cruzadas sobre a varinha.


– Não pode pegar nada sem autorização – George se aproximou dele hesitante e olhou em volta, para as pessoas que os observavam atentas, tentou agir naturalmente. – Quem te deu permissão? – cochichou.


– Eu preciso? – perguntou inocentemente enquanto abria a urna.


– Por Merlin... – o outro bruxo que guardava o caixão, na outra extremidade, virou a cabeça para o outro lado, incomodado, e tentou disfarçar fingindo que estava tudo bem.


Harry afastou a manga do roupão que ele usava e olhou fixamente para sua mão nua, segurou a mão enrijecida e a afastou um pouco para se certificar.


– O que está fazendo? Está louco?! – George reclamou mortificado, ao seu lado.


Harry arrumou suas mãos novamente, contrafeito, e cerrou as pálpebras do cadáver antes de arriar a tampa.


– Alguém mais mexeu nele? – Harry ergueu os olhos e reparou na quantidade de bruxos que se aglomeravam em torno deles. Alguns também tentavam cruzar a multidão para chegar ao caixão, aurores e membros da Ordem, supôs.


– Claro que não! – exclamaram juntos.


– Vocês não deveriam expô-lo desta maneira, ele não é nenhuma atração. – Harry se impulsionou e sobrevoou os curiosos, seguindo em direção aos cabelos vermelhos que tinha avistado chegando aos terrenos.


– O que você estava fazendo? – Hermione perguntou quando Harry pousou perante eles, já adivinhando o motivo daquele alvoroço e dos olhares que estavam recebendo.


– Alguém pegou o anel dos Gaunt, não está mais com Voldemort – Harry reclamou.


– Tá brincando!!


– É verdade – Harry afirmou a Rony. – Vocês viram ou ouviram alguma coisa?


– Você ainda está pensando naquele anel enfeitiçado!? – Rony indagou exasperado.


– Nós não vimos nem ouvimos nada – disse Hermione – E você não deveria estar se preocupando com isso! Deixaram você sair da enfermaria? – perguntou reprovando.


– Harry! – Raven surgiu, saindo de entre os curiosos.


Sirius vinha logo atrás igualmente apressado. Raven o abraçou e beijou seu rosto enquanto o afastava para um canto mais discreto, visando não continuar chamando tanta atenção.


– O que você estava procurando? Para quê foi aquilo? – ela perguntou.


– O anel dos Gaunt, que ele usava, não está mais com ele. – Harry explicou enquanto Sirius, Rony e Hermione o cercavam.


– O que está fazendo aqui fora? Por que saiu da enfermaria? – Sirius perguntou.


– Eu não estou com sono.


– Harry... – Sirius ralhou e olhou em volta, reparando os presentes depois o escoltou, junto com Raven, até o interior do castelo.


– O que está acontecendo afinal? – Harry indagou quando não deixaram que parasse para falar com as gêmeas Patil que acenaram para ele da entrada do saguão acompanhadas da mãe. – Eu não quero voltar para a enfermaria!


Havia muitos bruxos adultos ali, acompanhados dos alunos. Pensou ter visto a ponta do chapéu da avó de Neville quando passaram em frente a entrada para o Salão Principal.


– Não era pra você sair de lá, para início de conversa, ninguém te autorizou! – reclamou Sirius .


– Quem te disse que não? – perguntou desconfiado.

Sirius dispensou as desculpas dos dois bruxos que estavam vigiando a entrada para o corredor do primeiro andar, e que demonstraram visível embaraço ao vê-los.


– Estão querendo me manter aqui como prisioneiro? – Harry se virou para Sirius assim que cruzaram as portas da enfermaria.


– Queremos que descanse! – disse Sirius – Você já se viu no espelho? Está abatido, não está recuperado ainda...


– A última coisa no mundo que iria fazer é me olhar em um espelho – Harry resmungou. – É só isso mesmo, Raven?


– Hum... não... – ela hesitou um pouco, encarando-o – Também queremos te manter a salvo e longe de qualquer ameaça. – ela confessou. Sirius suspirou contrariado e ela deu de ombros.


Harry olhou para Rony e Hermione, que procuraram se acomodar em um dos leitos demonstrando que aquela conversa poderia ser bem longa e que não conseguiriam sair tão cedo.


– Não há nenhuma ameaça por enquanto... – Harry escolheu o leito em frente aos amigos e se esticou na cama despreocupadamente. – Onde está a Irina? Ela não veio me ver?


– Como ela viria? – perguntou Hermione – Acho que ela nem sabe que está aqui.


– Estou aqui há três dias e ninguém foi avisá-la?


– Você estava se esvaindo em sangue! – Rony impacientou-se – A gente ia trazer ela aqui pra quê? Ai!!! – reclamou quando Hermione o acotovelou com força.


– Irina já me viu em estado muito pior, quando lutei com Greyback, e em nenhum momento isto a afetou, Rony! Pelo contrário, ela me salvou! É melhor você parar de se referir a ela desta maneira. Foi por ela que eu fiquei e é ao lado dela que estarei daqui pra frente – Harry o advertiu com seriedade e o deixou emburrado reparando os próprios pés.


– Você está apaixonado... – Raven juntou as mãos próximo ao queixo, emocionada.


– Essa história, que o bando de Lupin está dizendo, é verdade mesmo? Você lutou… você matou ele? – Sirius o espreitou temeroso.


– Foi preciso – confirmou vendo-o fechar os olhos e se afastar passando a mão pelos cabelos. – Ele não pararia até me matar... e estava atacando meus amigos!


Raven sentou no leito, ao seu lado, e o puxou para si, afagando seus cabelos enquanto o mantinha deitado em seus braços.


– Você entende agora o porquê de termos tentado te trazer de volta? – Sirius perguntou angustiado. – Não poderíamos...


– Eu entendo, Sirius... – Harry suprimiu um bocejo e tentou manter os olhos abertos ao fitá-lo. – Só não concordo... Raven! – reclamou pulando da cama e se afastando – Para com isso, eu não quero dormir!


– É bom ouvir isso – disse Dumbledore, entrando energicamente, acompanhado por Moody e Quim. Temos muito o que conversar, não é mesmo?


– Como vai, garoto? Como está a cabeça? – Moody o cumprimentou.


– Acredito que esteja ótima, se já teve condições de passear pelos terrenos e até mesmo de profanar o ataúde do 'morto'. – Quim argumentou.


– Profanar, eu? – Harry os olhou seriamente – Vocês é que o estão mantendo para exposição, por que o incômodo? Só queria pegar de volta o anel dos Gaunt, o senhor está com ele? – pediu a Dumbledore.


– Não havia anel algum – o Diretor afirmou. – E não quero que fique lá fora enquanto o castelo estiver tão movimentado. Onde está Madame Pomfrey?


– Provavelmente na outra ala, cuidando dos feridos – Sirius sugeriu.


– Há feridos? – Harry passou os olhos pelos leitos vazios da enfermaria. – Por qual motivo acham que devo permanecer isolado?


– Acha que Voldemort está morto? – Dumbledore indagou sem rodeios.


– Não... ele ainda tinha uma horcrux...


Dumbledore ergueu a mão pedindo que se silenciasse. Foi até a porta e apontou a varinha para o corredor.


– Já ouvimos, pelo sr. Weasley e pela srta. Granger, a interessante jornada de vocês na busca pelas horcruxes. Mas ainda falta o seu depoimento para completar as lacunas, e gostaria de ouvi-lo assim que os outros chegarem.


Harry aguardou, resignado, percebendo o olhar de advertência de Rony enquanto Hermione brincava com a correntinha que tinha tirado do pescoço. Quando McGonagall, Snape, Lupin e Tonks chegaram, Harry, que até então estivera distraído manuseando seu cordão, ergueu os olhos para eles.


– O que ele faz aqui? – perguntou abruptamente ao deparar-se com Snape.


– Pelo o que percebo – Snape concluiu – Já está bem melhor, ou deveria dizer pior...?


– Ele tem que ficar aqui? – perguntou a Dumbledore.


– Eu estou a par de suas suspeitas – explicou o Diretor, sob o olhar intrigado e aborrecido de Snape – Mas já deve ter tido provas suficientes de que eram infundadas, não? E o Professor Snape também é membro da Ordem, você deve se lembrar.


– O Senhor tinha tudo sobre controle, em Leicester, já sabe o que o levou a interferir?


– Eu não vou admitir! – Snape pronunciou com raiva e Sirius se posicionou ao lado do afilhado. Snape olhou para ambos com desdém – Está irritado porque perdeu a oportunidade de bancar o herói, Eleito?


– O que há de heroico em atingir um adversário caído e imobilizado? Não consigo ver nenhum heroísmo nisso! – Harry rebateu.


– Basta! Os dois! – Dumbledore esbravejou. – O ato impensado de Snape nos atrasou em muito, na verdade, fez com que retrocedêssemos em nossos avanços.


– Professor Dumbledore... – Snape tentou argumentar mas Dumbledore ergueu a mão pedindo silêncio.


– Mas todos erram – Dumbledore concluiu. – Tanto Snape em suas ações quanto você em seus julgamentos, Harry. Você se esforçou para trazer novamente os Antigos à comunidade bruxa, quis tolerância, já devia estar dando o exemplo.


Harry baixou os olhos e mordeu os lábios procurando se controlar, depois se virou novamente para Snape e o estudou com curiosidade. Snape lhe devolveu o olhar num desafio mudo.


– O que aconteceu com a Marca Negra, sumiu? – Harry perguntou, por fim, a Dumbledore.


– Isso. – Dumbledore afirmou. – Sumiram todas, eu mesmo verifiquei os prisioneiros.


– Sem elas você não pode senti-los, não é? – perguntou Moody e Harry confirmou. – E nós também não poderemos identificá-los – reclamou.


– Mais grave que isto, Alastor – Dumbledore opinou – Será o fato de Harry não poder identificá-los, o que facilitará a aproximação deles.


– A marca não chegou a sumir da outra vez – Tonks observou – Não pode significar que agora ele pode estar ainda mais fraco? – pediu esperançosa.


– Ele não está mais fraco – disse Harry – Pelo contrário, agora que recuperou seis partes de sua alma, que não tinha antes. Ele apenas abriu mão do encantamento que os unia... – Harry levou o dedo aos lábios, pensativo. – Porque, provavelmente, não precisará mais deles...


– Gostaríamos de entender isso – pediu Quim. – Rony e Hermione relacionaram para nós, cinco horcruxes: o diário, o medalhão e o anel, que já conhecíamos; o cilindro e a medalha. Quais seriam as outras?


– Antes, deixe-me atualizar alguns dados que me foram passados hoje, por Fred e Jorge Weasley...

Dumbledore pediu e os pôs a par de toda a confissão dos gêmeos.

– Eles assumiram tudo e se prontificaram a responder pelos próprios erros, o que é uma atitude muito digna e demonstra o quanto amadureceram – disse à Rony, que tinha ficado muito vermelho e cabisbaixo enquanto ouvia tudo, Hermione segurou a mão dele firmemente.


– O Senhor mesmo acabou de dizer que todos erram – disse Harry – Não podem condená-los por isso, Tom Riddle os seduziu, era jovem e inteligente como eles... provavelmente o viam como um amigo...


– Eles não serão condenados, Harry. – Dumbledore o tranquilizou. – Não há como o Ministério levar ninguém a julgamento nas condições que se encontra agora. Além do mais, essa história não sairá daqui. A decisão deles em assumir a culpa perante nós, para mim, é o suficiente. Provavelmente, um ato incentivado pela carta que você escreveu, inocentando-os... – observou – Ninguém mais precisa saber deste detalhe. Agora, conte-nos o que aconteceu sem precisar omitir nada. – Dumbledore pediu.


Harry se sentou ao lado de Hermione e contou o que tinha feito desde que se separara deles.


– Chegou mesmo a pensar que também tinha sido amaldiçoado? – Lupin lamentou – Sinto muito por não ter podido te ajudar naquele dia.


– Na verdade não, não acreditei. Mas de qualquer forma foi útil. Já o Clã, sim, acreditaram e me acolheram muito bem, apesar disso. É um preconceito bobo o que vocês têm contra eles e contra vocês mesmos...


– Não é bem assim – Lupin o cortou – E ainda temos que conversar sobre esse relacionamento que você quer firmar com essa moça.


– Remo... não encha a cabeça dele com este assunto agora – Sirius pediu. – Pode até não parecer, mas lembre-se que ele já tem dezessete...


– Não é uma questão de idade, Sirius – disse Lupin – Uma coisa, não menos imprópria e perigosa, é se relacionar com lobisomens, mas que só são perigosos durante a lua cheia, outra...


– Vocês não vão ficar discutindo a minha vida pessoal – Harry os cortou aborrecido e se levantou.


– Não agora – Dumbledore o corrigiu. – Não vamos fugir do foco do assunto, que ainda é Voldemort.


– Eu já disse tudo o que tinha para falar e tenho um compromisso pendente – notificou-os enquanto se afastava – Na Romênia – acrescentou olhando para Lupin – E antes ainda preciso buscar meus tios, devo voltar a Leicester...


– Então você ainda está doente – concluiu Moody – Se acha que vamos te deixar voltar lá.


– A gruta não existe mais, Harry – disse Hermione, ainda segurando a mão do mudo e cabisbaixo Rony. – Nós voltamos lá, com a Ordem, para mostrar a entrada.


– Ela ruiu, foi totalmente destruída. – Quim confirmou – Mas não se preocupe com seus tios eles reapareceram, no dia seguinte à morte dele, pouco antes das marcas desaparecerem. Só não sabem dizer como voltaram ou onde estiveram.


– Eles também não estão se lembrando de você, Harry – contou Sirius. – parece que perderam todas as lembranças a seu respeito.


– Não que você esteja perdendo alguma coisa com isso – Moody rosnou.


– Talvez seja passageiro, e eles demorem um pouco a se recuperarem, e ainda há o problema com as autoridades trouxas, a casa ainda está interditada – Quim relatou. – Ainda devem estar chocados.


– Não... Voldemort retirou as lembranças deles... – Harry vincou a testa pensativo – Então, já que não tenho nada a mais pra fazer... – sondou.


– Detesto ter que te contrariar, novamente, Harry – Dumbledore lamentou – Mas Voldemort está lá fora, e como não sabemos onde, nem planejando o quê, teremos que ser precavidos.


Harry suspirou, já imaginando o pior.


– Claro que ele vai tentar voltar, recuperar o corpo que perdeu – disse Quim. – E temos a vantagem de saber como ele fez da última vez.


– Uma das maneiras, podem existir inúmeras outras – Harry o corrigiu.


– Mas como não conhecemos, nem temos como ter certeza... – concluiu Dumbledore.


– Nos reunimos no Ministério e concordamos em concentrar nossos esforços em combatê-lo – disse Quim – O aurores e a Ordem, com o auxílio dos Antigos, tentarão fazer o possível para que ele não consiga se reerguer.


Harry olhou para Raven e Sirius, os dois também eram um exemplo de como as diferenças podiam ser superadas, ficou feliz que estivessem bem, apesar de tudo.


– Também não acredito que a libertação dos seus tios e o sumiço da Marca sejam sinais de que ele esteja enfraquecido, creio que é isso o que ele quer que pensemos – Dumbledore continuou. – O sumiço da Marca pode ser parte do plano dele em ordenar sua captura.


– Já recolhemos todos os restos mortais da família dele – Quim declarou. – E também os dos seus pais, Harry, que foram transferidos para um lugar seguro.


– Eu não sou a única opção dele e não posso passar o resto da minha vida neste castelo por conta de especulações! – reclamou.


– Todos nós teremos que tomar cuidados reforçados – Moody concordou – Mas sabemos que você e Dumbledore seriam os alvos principais.


– E como ele não terá chances de se aproximar de mim, com ou sem corpo, devo dizer que o meu sangue está a salvo.


– E eu seria a opção mais fácil? Ele sabe que não é tão simples assim – reclamou – Tanto que quando eu estive novamente na ilha ele nem tentou...


– Isso – disse Dumbledore – Porque ele já descobriu que o melhor e mais fácil é atraí-lo até ele, realmente – concordou. – O Sr. Weasley e a Srta. Granger, a partir de agora, também estarão proibidos de deixar o castelo desacompanhados.


Rony se limitou e erguer os olhos por breves instantes antes de voltar a encarar os pés da cama. Hermione não demonstrou surpresa. Só Harry pareceu incomodado com a decisão.


– E os tios de Harry? – perguntou Sirius – Voldemort esteve com eles, não pode ter pego o sangue da Sra. Dursley?


– Não é um laço sanguíneo completo, de mãe e pai... Creio que não, somente um... irmão... – Dumbledore baixou os olhos, pensativo.


– E o senhor tem um, não é? – perguntou Hermione, descontraidamente, e a seguir corando com as atenções que despertou.


Dumbledore se endireitou, parecendo ainda mais altivo.


– Não é segredo para ninguém que tenho um irmão, Aberforth – Dumbledore confirmou e a olhou por cima dos óculos meia-lua, atento, e fez um breve aceno de concordância como se ela tivesse acabado de responder corretamente a uma pergunta. – Para conseguir o que quer ele tentará se infiltrar, e já tinha um informante antes...


Dumbledore desviou o olhar, passando por todos os presentes, que continuaram em silêncio, esperando.


– Ele já havia perdido seu Comensal do Três Vassouras, naquele dia– continuou – Mesmo assim alguém nos viu sair e voltar, e o avisou – disse a Harry e depois começou a caminhar por entre os leitos – Alguém que me viu voltar do Ministério, talvez, quando parei em Hogsmeade...


– O que está querendo dizer, Alvo? – perguntou Minerva.


– Você disse, Harry – Dumbledore voltou-se novamente para ele – Que quando estava na ilha, vocês foram avisados do meu retorno através de um patrono. Que forma ele tinha?


Harry viu todos se agitarem ansiosos. Poderiam estar prestes a descobrir um traidor entre eles. Até mesmo Snape pareceu ansioso com a resposta. Ele encarou os olhos azuis e especulativos do Diretor.


– Ele tinha a forma de um corvo.


Harry viu seus olhos se estreitarem enquanto um nervo, próximo ao seu olho direito tremia. Quim também pareceu enrijecer e desviou os olhos para o Diretor.


– Harry, vou pedir que seja compreensivo e fique dentro do castelo, pelo menos até o ritual funerário, que será daqui a quatro dias – Dumbledore pediu – Alastor, Quim, Severo, vocês podem me acompanhar ao Cabeça de Javali?


Harry observou os quatro saírem, os outros os seguiram, curiosos para saberem as medidas que seriam tomadas pelo Diretor.


– Você entendeu o motivo pelo qual queremos que fique aqui dentro? – Sirius se aproximou dele.


Harry assentiu com um aceno desanimado e Sirius o abraçou e beijou sua testa.


– Sirius, você acha que eu cresci, desde o natal passado? – Harry perguntou.


– Não se preocupe com isso – Sirius sorriu e ergueu seu queixo – Você está ótimo. Seja paciente e não saia do castelo – pediu.


– Por mim vocês não cresceriam nunca – Raven comentou enquanto Sirius a abraçava e conduzia para a saída.


– Mas claro que eles têm que crescer, não há nada a ser feito quanto a isso.


– Então, a gente pode ir fazendo outros enquanto isso acontece... – sugeriu, se aconchegando a ele.


– Raven, controle-se! – Sirius reclamou num sussurro – O que está havendo com você?


Os três continuaram parados até que os passos deles sumiram no corredor. Hermione se levantou puxando Rony consigo e Harry foi ao seu encontro.


– Rony, muda essa cara – Harry pediu – Você sabe que seus irmãos são pessoas ótimas, e não vão deixar de ser por causa disso. É difícil não gostar de Tom Riddle, você já ouviu falar no quanto ele era cativante.


– É, mas por que tinha que ser com a minha família novamente? Por que com os Weasley?


– De alguma maneira ele deve gostar de vocês. Eu gosto de vocês... – deu de ombros e se voltou para a amiga. – O que você quis dizer com aquela mensagem, Hermione?


Ela olhou em direção à porta e lançou o Abaffiato em volta deles.


– A oitava parte da alma dele ainda está em você? – ela indagou, ansiosa, e suspirou decepcionada quando ele afirmou positivamente.


– Então ninguém pode saber disso, não até conseguirmos um meio de desfazer...


– Não há como, Rony. Você ouviu o Diretor, os gêmeos a tinham transferido apenas, a pedido do próprio Riddle.


– Você não pode desistir agora!


– Harry, você viu aquelas pessoas lá fora – Hermione continuou. – Dumbledore contou a elas a verdade, sobre Voldemort e as horcruxes. A comunidade bruxa ainda está em alvoroço, eles vêm dia e noite olhar o corpo para ter certeza de que ele ainda não voltou. Aquelas pessoas querem que isso acabe.


– Todos resolveram colocar as diferenças de lado e se unir para que isso acabe por definitivo – disse Rony – E se souberem que você pode impedir de alguma forma...


– Acham que eles me matariam... – adivinhou.


– A Ordem, claro que não, mas ou outros... Raven concorda comigo, até entre os Antigos ainda há desavenças, por isso os Guardiães estão por perto. E mediante ao que todos têm a perder, não seria difícil a maioria da comunidade mágica entrar em concordância em prol disso, nem a Ordem conseguiria te proteger.


– Enquanto eles não tiverem acesso à última horcrux, o rubi, estará tudo bem. Não terão como descobrir – disse Rony – O que seria melhor, ir até a ilha e recuperar a horcrux antes deles ou sair em busca de algum conhecimento que possa te ajudar?


– Rony, você está falando em condenar todos à Voldemort, pela eternidade, só pra me salvar? E ainda fica chateado com seus irmãos?


– É diferente! – Rony reclamou enquanto corava – Por acaso está querendo morrer?!


– Não há certeza de que algum dia eu conseguirei desfazer isso. Vamos deixar que eles decidam o melhor a ser feito. – Harry se dirigiu à porta – Só quero aproveitar o tempo que eu tenho.


– Espera, para onde vai? – Rony e Hermione o seguiram.


Harry olhou para os bruxos no saguão, e aos pés da escada, que controlavam a entrada de pessoas no castelo, e subiu se desvencilhando de alguns poucos alunos que perambulavam por ali. A maioria estava no Salão Principal ou nos terrenos com os familiares.


– E como seria “aproveitar esse tempo”? – perguntou Hermione, correndo para alcançá-lo. 

– Quero passar com a Irina, claro...


– Para! – Rony o segurou pelo braço – Você não está bem! Quer parar e conversar com a gente direito?


– Não há mais nada a conversar – Harry se soltou e tornou a se afastar. Tencionava escrever uma carta a ela e pedir a alguém que a levasse pessoalmente, assim a resposta seria imediata.


– Há sim! – Rony o imobilizou – Enquanto você não agir normalmente não vai a lugar nenhum – o arrastou para o corredor do terceiro andar.


– Me larga, Rony! Esqueceu que eu posso te azarar mesmo sem varinha?!


– É isso o que você quer? Lutar com a gente? – Rony o empurrou para dentro da sala de feitiços.


– Quer passar os dias namorando até que resolvam por te sacrificar?! – Hermione perguntou, incrédula, se aproximando dele, após conjurar uma bolha acústica para envolvêlos.


– O que vocês querem que eu faça? – Harry perguntou aborrecido enquanto massageava os braços.


– Que pense!


– Irina iria aceitar isso com naturalidade se acontecesse? – perguntou Hermione – Ela não iria acabar interferindo e se tornando vítima também? Sem falar no quanto ela sofreria ao te ver morrer, acha justo fazer isso com ela?


Harry praguejou baixinho. Ficou cabisbaixo pensando na promessa que lhe tinha feito.


– Ótimo... – Hermione arqueou as sobrancelhas – Agora, vamos tentar pensar em alguma coisa!


Harry olhou em direção à porta e segundos depois Neville, Luna e Gina se esgueiraram rapidamente por ela. Hermione desfez o feitiço para recepcioná-los.


– E aí, está tudo bem? – Neville perguntou a eles e apontou a varinha para o velho pergaminho que trazia nas mãos, apagando-o.


– Quem dera... – Rony se apoiou na parede, pensativo, enquanto fitava a janela.


– Draco? – Harry perguntou olhando para os presentes.


– Fala mais baixo – Draco sussurrou desativando o escudo de invisibilidade do relógio de pulso, apontou a varinha para a porta fazendo com que se fechasse.


– Sentiu a presença dele? – Hermione perguntou alarmada.


– Senti o cheiro...


– O que veio fazer aqui? – Rony indagou, surpreso.


– Vim ver com meus próprios olhos. É mesmo o corpo dele, não é? – Draco perguntou a Harry. – Mas ele não pode estar morto, ou você...


– Não, ele ainda está com a horcrux, não está morto, só perdeu sua forma física novamente... – Harry afirmou com desânimo e se sentou em uma das carteiras.


– Foi o que imaginei. Vai voltar à ilha e pegar o rubi enquanto ele está fraco e vulnerável? – perguntou Draco.


– Ele não está nada vulnerável e voltar à ilha não está em meus planos.


– Não? – Rony e Draco perguntaram ao mesmo tempo e trocaram um olhar incomodado.


– Concorda com o que Dumbledore disse, então? Que ele está tentando fazer com que pensem isso? – quis saber Hermione.


– Acho que ele está dando a mínima pro que estão pensando. Deve estar por aí curtindo a liberdade que conseguiu enquanto eu estou aqui, preso... – Harry reclamou.


Hermione lhe lançou um olhar impaciente.


– Por que está preso? O que você fez desta vez? – Luna perguntou.


Harry contou a eles sobre a desconfiança e medidas que estavam tomando para evitar o retorno de Voldemort.


– Não acredito que ele vai ficar te esperando até conseguir usar o teu sangue de novo – disse Luna – ele pode usar o de qualquer outro, tantos lutam contra ele.


– E você não pode ficar o resto da vida aqui, esperando que aconteça – disse Draco – É melhor atacar antes de ser atacado.


– É verdade – Neville apoiou – É o que estava pensando em fazer, já perdemos três dias aguardando que alguém trouxesse notícias concretas. Vamos reunir a AD e encontrar essa ilha.


– Do que estão falando!? – Harry os repreendeu – Se Voldemort está em algum lugar, então, este lugar é a ilha. A entrada pela gruta foi destruída, não conseguiríamos encontrar outra. Por séculos, muitos dos descendentes de Salazar tentaram sem obter êxito. E ele não estará nada debilitado, considerando que foi ele mesmo quem planejou tudo isso.


– O que você quer dizer? Como planejou? – perguntou Gina.


– Ele tirou o anel antes de ir ao Ministério – disse Harry arrancando um muxoxo de Rony. – E não levou a varinha também. Ele estava com a minha e me devolveu quando estávamos lá, ficando com aquela que está agora no caixão. Não levou porque sabia que não conseguiria recuperá-los depois.


– Hum, Harry...


– Faz sentido, Hermione – Harry a interrompeu – Ele desafiou Dumbledore para que o matasse, e sabendo o quanto ele abomina a morte, sei que teve um motivo muito forte para fazê-lo.


– Mas foi Snape quem o fez – Rony o lembrou.


– Uma boa oportunidade de demonstrar sua lealdade sem se condenar. Ele nunca participou de nenhum confronto direto, o que foi fazer lá, naquele dia?


– Eu nunca confiei no Professor Snape! – afirmou Neville, apoiando sua teoria.


Hermione revirou os olhos, ainda preferindo acreditar no julgamento do Diretor.


– Quem mais além do próprio Voldemort conseguiria libertar meus tios, eles ainda deveriam estar presos na ilha...


– Minha tia estava na ilha também, pode ter sido ela, o encanto pode ter se quebrado e ela os trouxe de volta... se bem que não conseguimos contato com ela até hoje...


– Então eles estão juntos e com certeza estão ótimos – Harry sentenciou.


– O que você vai fazer, então?


– Nada – disse Harry, conformado, depois percebeu o olhar deles – Eu não posso resolver tudo o tempo todo... deixem que Dumbledore resolva do jeito dele. Eu sequer tenho permissão para sair daqui – informou tencionando que parassem de insistir.


– Eu entrei – disse Draco. – O que te impede de sair?


– Que tal nós? – perguntou Lupin, abrindo a porta.


– É tão irritante a mania que vocês têm de nos subestimar – reclamou Tonks, as pontas de seu cabelo amarelo ouro ficando vermelhas, fazendo com que se assemelhassem a labaredas de fogo. – Agora eu sei como meus pais se sentiam.


Eles ficaram parados, sem reação. Harry permaneceu sentado, de certa forma, aliviado com a interrupção.


– Que surpresa, Draco Malfoy – Tonks se aproximou dele e retirou o relógio do seu pulso. – Vou ficar com ele, é um perigo nas mãos de alguém tão cheio de ideias – disse referindo-se ao artigo do gemealidades.


– Eu... eu ainda sou um aluno de Hogwarts, ninguém me expulsou – defendeu-se Draco.


– E eu vou ficar com isso – Lupin retirou o pergaminho das mãos de Neville. – O que há com vocês? – perguntou com irritação – Tentando induzi-lo a fugir? A arriscar a própria vida numa aventura estúpida? Não esperava isso de vocês... – olhou, decepcionado, para Hermione e Rony enquanto Harry se perguntava o quanto tinham escutado.


– Não é isso... – Hermione tentou se defender.


– Não íamos fazer nada, Lupin, só estávamos conversando. Porque não pedem para que verifiquem as defesas do castelo? – Harry sugeriu reparando o monóculo que ele trazia nas mãos, igual ao que tinha recebido de presente de aniversário no ano anterior. – Não vou permanecer aqui se ex-Comensais entram e saem na hora que bem entendem. Conheço outros lugares mais seguros...


– Não banque o engraçadinho conosco – Lupin o repreendeu – Venham, vou escoltálos até a sala dos professores.


Fizeram com que saíssem em fila e os acompanhassem.


– Você está tão abatido... – Gina caminhou ao lado de Harry – Está se sentindo bem?


– Estou ficando com fome, de novo... – reclamou.


– Eu também – disse Rony, logo atrás. – Podemos comer primeiro?


– Não vamos deixá-los passar fome, não se preocupem – Tonks garantiu. – Existem outras maneiras de castigá-los, maneiras bem piores.


Assim que chegaram à sala foram deixados sozinhos. Harry se largou em uma das cadeiras, à mesa, e ficou olhando para o vazio.


– Não deve ser seguro continuarmos nossa conversa aqui – Draco lamentou sentando-se ao seu lado.


Hermione puxou a varinha e conjurou novamente a bolha acústica para envolver a todos.


– Há quanto tempo você faz a barba? – Harry perguntou a ele reparando seu rosto liso e lembrando-se dos pertences que a Sra. Malfoy tinha providenciado para ele, na ilha.


– Há muito tempo, por quê? – Draco passou a mão pelo rosto, surpreso com a pergunta.


– Porque ele esteve muito doente e agora está esquisito, deve ter ficado com sequelas – Rony sentou, do outro lado, e pousou a mão em sua testa.


– Pare – Harry pediu, afastando-o. – Estou ótimo, só não quero mais falar sobre esse assunto.


– Mas e se ele realmente vier atrás de você? – inqueriu Draco – Vai permitir que ele retorne novamente?


– E se ele não vier? Se já souber de outra maneira de retornar? – rebateu. – Mesmo porque, ele pode usar o sangue de qualquer um, até mesmo o seu, Draco, que o enfrentou mais de uma vez.


– Pode até ser, mas você é diferente – Draco insistiu – Eu sempre soube que você era esquisito e pouco me importa se você é o Eleito ou Príncipe das Trevas, se só você consegue influenciá-lo, por isso, é bem provável que ele ainda te queira... diria até que você é o ponto fraco dele... – meditou estudando-o meticulosamente.


– Você está dizendo bobagem! – Hermione reagiu irritadamente – Harry não é nenhuma dessas coisas! E se existe alguém que pode parar o Lorde das Trevas esse alguém é Dumbledore – trocou um olhar preocupado com Harry.


– Eu já fiz o que eu podia, me comprometi em localizar as horcruxes e cumpri – chateou-se – Não é culpa minha se ele ainda está com uma delas.


– Eu sei, é do meu pai – Draco admitiu – Por isso eu quero ajudar.


– Enquanto ele não se manifestar de verdade – Harry olhou para eles – O medo de vocês, que ele retorne, atacando-os, não tem fundamento algum. E você está livre Draco, ele abriu mão dos seguidores, não vai poder localizá-los, nem se quiser. E a Marca só voltará para quem reafirmar, com ele, um novo contrato de servidão. Deixem ele em paz e talvez ele faça o mesmo.


– Mas e quanto a você? – perguntou Gina, olhando-o com preocupação – Ele irá te deixar em paz?


Harry ficou em silêncio pensando na proposta que Voldemort tinha feito, na ilha, de deixar a todos em paz caso ele ficasse. Suas palavras ficaram martelando em sua mente por um bom tempo.
 “Pense, você é esperto, vai acabar descobrindo”


A mesa se encheu com comida e Harry e Rony foram os primeiros a se servirem.


– Decidam o que farão e se vão querer minha ajuda, porque não vou ficar aqui para ser castigado – disse Draco.


– Ninguém vai te torturar.


– Ao menos não como os Weas... – Draco se calou abruptamente e passou a se servir, disfarçando.


– Eles já sabem. – disse Harry – Os gêmeos confessaram a Dumbledore.


– Ah – Draco se surpreendeu – Eu te disse que eram insanos...


– Eu não estou sabendo – Gina reclamou – O que Fred e Jorge fizeram?


Harry contou a eles o que tinha acontecido na Casa do Espanto, feliz que pudessem mudar de assunto. Quando terminou Gina parecia tão encabulada e decepcionada quanto Rony tinha ficado, e Luna e Neville, surpresos e assustados.


– Não os culpem, eu convivi com Voldemort durante meses e sei o quanto isso pode ser confuso. Ele matou meus pais e mesmo assim não consigo mais odiá-lo. Não sei se deveria, mas às vezes sinto pena dele – confessou.


– Bom, nós sabemos o porquê – comentou Luna, atraindo os olhares de todos. – Você é especial.


Hermione se agitou incomodada e olhou desconfiada em direção à Gina. Harry olhou para Gina e depois para Rony.


– E temos que admitir que eles são brilhantes – Harry completou para descontraí-los – Os efeitos eram muito bons, foi tudo muito real.


– Sim, foi até muito divertido, tirando o fato de termos sido torturados e de que quase morremos lá dentro. – disse Draco sarcasticamente.


– Por que você não me disse nada? – reclamou Gina para Draco – Quando iria me contar?


– Eu não iria... são seus irmãos... – Draco comentou encabulado. – E Harry tem razão, não foi culpa deles, foi do Lorde das Trevas.


Harry percebeu o olhar de Hermione e ambos olharam para Rony, que estava muito ocupado se servindo pela segunda vez para prestar atenção. Ficaram em silêncio por um tempo enquanto todos terminavam de comer.


– Gina me disse que te acha muito lindo e fofo, Harry – Luna comentou, quebrando o silêncio – Do tipo que dá vontade de abraçar bem forte.


Harry ergueu uma sobrancelha, chocado. Neville riu do embaraço dele. Draco se limitou a olhar para elas com ar reprovador.


– Eu ainda não acabei de comer! – Rony reclamou.


– Luna está falando da sua forma como animago – Gina comentou sorrindo – Do tigre branco.


– Sabia que ia acabar conseguindo – disse Hermione um pouco aborrecida – Por que não contou pra gente?


– Aposto que o Clã já sabe... – Rony alfinetou evitando olhar em sua direção.


– Eu ia contar a vocês também, é que foram dias muito corridos – Harry se desculpou – E não quero que ninguém mais saiba – disse à Gina, que corou levemente.


– Pensei que você pudesse ser um porco-espinho – disse Luna – Mas um tigre é mais interessante... Eu sou uma libélula, mas também não posso deixar que ninguém saiba. Foi meu pai quem pediu – acrescentou ao olhar surpreso deles. – Já que estamos contando segredos...


– O Sr. Lovegood sempre foi um crítico das medidas e decisões ministeriais – esclareceu Neville – Ele achou que seria uma forma original de protesto se ele e a filha se tornassem animagos clandestinos.


– Será nosso segredo também – afirmou Hermione.


– Certo. – Harry concordou. – E obrigado Luna, também prefiro o tigre a um porcoespinho.


– Agora você pode ensinar a gente – disse Rony. – Você não vai contar nem ao Sirius?


– Não, Raven ficaria decepcionada... – distraiu-se observando o céu noturno, imaginando que logo anoiteceria na Romênia também.


– Você disse que Irina o tinha visto bem machucado quando lutou com Fenrir – Hermione lembrou – Você o matou como animago? Não foi em duelo?


– Ele não era um bruxo. Lutamos de igual pra igual, foi uma luta justa – escondeu as mãos sob a mesa – Não vamos mais falar sobre isso, por favor – pediu a eles enquanto o olhavam, admirados.


A porta se abriu e por ela entraram Moody e Tonks seguidos por Dumbledore e McGonagall. Rony acenou para Hermione que rapidamente ergueu a varinha retirando o feitiço.


– Demoramos conferindo se todos os alunos tinham regressado a Hogwarts – Tonks explicou a demora – A maioria prefere ficar ao lado da família, ainda mais estando, alguns, tão próximos.


– Mas é perigoso – rosnou Moody – E o lugar deles é na escola! – disse encarando Rony, Hermione e Harry com o olho normal enquanto o mágico percorria os demais.


– É verdade – concordou Dumbledore. – O que inclui você também, Draco, soube que deixou Hogwarts sem permissão.


– Sim, mas...


– Mas não voltará a fazê-lo – o Diretor o cortou – Pode ser maior de idade mas quando retornou ao castelo para o ano letivo nos pôs responsáveis por você. A não ser que seus pais autorizem a sua liberação, ficará e completará seus estudos.


– Eu, particularmente, adoraria bater um papo com o Lúcio Malfoy – Moody comentou distraidamente, deixando Draco muito pálido e receoso.


– Não se preocupe – Dumbledore continuou – Os erros de seu pai são apenas dele, e pelo o que já soube até hoje, acredito que esteja fazendo suas próprias escolhas.


Dumbledore passou os olhos pelo grupo, avaliando-os, depois voltou-se novamente para Draco.


– Como estamos na semana de natal e você não perdeu nenhuma aula, isso não será um problema pra você. Escreverei à sua mãe pedindo que mande seus pertences escolares – disse Dumbledore.


– E saibam vocês, alunos, que os exames serão feitos normalmente este ano – Minerva avisou, extraindo exclamações de Neville e Gina.


– Se quiser contribuir com as medidas de segurança que estamos montando, Draco, com os conhecimentos e a vivência que adquiriu, poderá fazer um estágio com os aurores. O novo Ministério vai apreciar a ajuda de quem sabe o que é estar ao lado de Voldemort. E de sangue novo... quem sabe assim deixaremos de ser tão facilmente enganados por jovens tão astuciosos.


Todos os olhares se concentraram em Draco, que parecia não acreditar muito bem no que estava ouvindo.


– Eu quero... – disse por fim.


– Ótimo. Precisaremos nos fortalecer e nos preparar para o que estiver por vir – disse Dumbledore – Srta. Granger, amanhã teremos outra reunião, no Ministério, poderá nos acompanhar novamente?


– Claro – Hermione concordou prontamente, já que participara das últimas duas, secretariando as sessões, e queria acompanhar de perto as medidas que seriam tomadas.


– Já que vocês desejam tanto participar ativamente do que está acontecendo, Sr. Neville, Srtas. Luna e Gina, poderão organizar com os alunos da Armada de Dumbledore uma campanha informativa sobre o que será o Conselho Ministerial, acho que já conhecem bem o que ele prezará e receberão mais informações. Gostaria que fizessem os alunos se interessarem por esta causa, e consequentemente seus pais, e também que distribuíssem informativos por Hogsmeade sobre as eleições que ocorrerão daqui a duas semanas.


– Mas só os alunos a partir do terceiro ano poderão participar – acrescentou Minerva – Eu mesma orientarei vocês quanto a isso.


– Quanto a vocês, Harry e Ronald, poderão participar das reuniões da Ordem, que serão feitas todas no castelo, a partir de agora.


– Não podemos ajudar na formação do Conselho, avisando aos interessados? – pediu Harry, já que a ideia fora dele.


– Por enquanto não. Sua teoria sobre Voldemort é interessante, Harry – Dumbledore disse a ele, e Tonks confirmou com um aceno. – Mas não menos preocupante, e já sabe que não poderá deixar o castelo – disse, reparando seu olhar insatisfeito – Tenho certeza de que a Srta. Granger manterá vocês informados de tudo.


Aproveitem o tempo livre para se adiantarem nas matérias, terão muito o que revisar e estudar para o próximo ano.


– Não poderemos voltar ano que vem, temos outros planos – Rony soou decidido e Harry olhou para ele e Hermione adivinhando o que os tinha motivado a decidir isso.


– Seus pais já estão muito abalados com o que aconteceu com seus irmãos, sei que não vai querer dar esse desgosto a eles – Minerva comentou fazendo com que corasse, se sentindo culpado.


– Então vocês podem ir dormir. – Dumbledore os dispensou.


– Direto para os dormitórios – disse Tonks, mostrando o mapa – Moody e eu ficaremos de olho.


O grupo se levantou e saiu.


– Draco vai poder atuar junto com o grupo de defesa e nós vamos ter que nos contentar com reuniões – reclamou Rony, olhando para o sonserino – Isso é injusto.


– Não tenho culpa se eles querem cérebros e não músculos – Draco se defendeu.


– Com certeza te excluíram por minha causa, Rony – Harry segurou seu braço, para que permanecesse ao seu lado enquanto Draco colocava distância entre eles. – Não querem que vocês se arrisquem também.


Quando chegaram às escadas Draco se despediu.


– Então, acho que não é adeus, ainda – disse a Harry – Vejo vocês amanhã.


– Quem diria, o Draco... – Hermione lançou um rápido olhar para Gina enquanto seguiam escada acima. – Um futuro auror?


– Ele não quer ser como o pai – disse Gina – E se o pai dele é um Comensal, nada mais natural.


– Sorte a dele já ter um futuro definido – Harry comentou.


– Você também, Harry – disse Neville – Não vai ter problemas em arranjar um cargo no Ministério.


– Meu destino não está ligado ao Ministério – Harry declarou convicto.


– Se tem tanta certeza... isso já é um começo – disse Rony.


Depois que se despediram de Luna e entraram no Salão Comunal, foram direto aos seus dormitórios, pois sabiam que estavam sendo vigiados.




Rony acordou, na manhã seguinte, e se deparou com Harry, na janela, observando o movimento nos terrenos, o entra e sai de bruxos e criaturas mágicas. Naquele momento havia também alguns elfos domésticos lá fora.


– Conseguiu dormir? – perguntou num sussurro ao se espreguiçar.


– Não tive sono.


– Isso ainda acontece, é? Que chato... – levantou-se e foi para o banheiro.


Harry desceu e aguardou na Sala Comunal, sentado em frente à lareira. A maioria já havia descido para o Salão Principal, algumas pessoas o cumprimentavam quando passavam por ali. Ficou aliviado que não fizessem muitas perguntas, imaginou que os amigos já tinham respondido a todas naqueles últimos três dias. Hermione e Gina logo desceram e foram se unir a ele.


– Hermione me disse que ainda não conseguiram avanços a respeito daquele assunto – Gina sussurrou puxando uma poltrona para perto. – Saiba que não contei a ninguém sobre o seu segredo.


– Obrigado, Gina. Espero que demore muito para que acabem descobrindo. Draco sabe de muita coisa comprometedora, mas pedirei a ele para não comentar seus pontos de vista por aí. Quanto aos Antigos... espero que não se envolvam nisso...


– Raven já fez o pedido e o conselho deles advertiu a todos quanto a isso – declarou Hermione, vendo Rony se aproximar. – Há muito eles haviam concordado em te poupar, não vão mudar agora, depois de tudo...


Nem ela nem Harry pareciam muito confiantes com esse fato, mas concordavam que não havia nada a ser feito.


– E quanto a localizar a ilha, acha mesmo que não conseguiriam ou só disse aquilo para desestimulá-los? – ela perguntou. – Estávamos fazendo planos de vasculhar todo o Pacífico, lembra?


– Não, eu falei sério. Não é impossível mas também não será fácil, e suspeito que não seja no pacífico, não há muita diferença no fuso horário... o oceano Índico, talvez, mas não pretendo mesmo ir até lá, quero me manter distante de Voldemort tanto quanto for possível.


– Para onde vamos, então? – perguntou Rony.


– Estive pensando em civilizações extintas, poderes antigos que se perderam com o tempo, como esse que Dumbledore desencavou – Hermione se antecipou – Podemos procurar por lendas antigas que escondam poderes esquecidos...


– Sei. Mas não se preocupem com isso agora, vocês não vão a lugar algum, vão ficar e terminar os estudos... Esperem! – Harry os encarou decidido impedindo-os de protestar. – Talvez eu não tenha um futuro mas vocês com certeza têm. Você não vai fazer isso com os seus pais, Rony. E você quer se formar, Hermione, eu sei que quer.


– Está querendo se livrar da gente? – ela perguntou, magoada.


– Não, nunca! Mas quero que vivam normalmente. Enquanto vocês terminam o último ano letivo poderão me ajudar a distância, estaremos sempre em contato, poderão me encontrar quando se formarem. Não acredito que conseguirei alguma coisa tão rápido, e antes disso ainda tenho que cuidar de assuntos pendentes. Fiquei de ajudar Irina a montar um portal... 

Contou a eles sobre o submundo que Irina tinha descrito, o portal que vira na ilha e confessou estar com o do Ministério.


– Eu também quero saber mais sobre esses portais – Hermione decidiu – Se Salazar se interessou, deve haver muito poder em torno deles, poderes esquecidos... – meditou. – E conhecer outros mundos e civilizações... é tentador...


– Isso é, no mínimo, estranho – disse Gina.


– Eu tenho a impressão de que vou aprender muita coisa com eles.


– Está pensando em se juntar ao Clã? Ser como eles? – Rony perguntou num sussurro.


– Não, só se Irina me quiser como um deles... – Harry ficou em silêncio por alguns minutos, meditando a respeito. – Mas então, vai ter de esperar que eu cresça mais... acho que ela não terá problemas quanto a isso. Só que eu não poderia usar magia... – franziu a testa, aquela ideia não o agradava. – Teria que descobrir mais sobre esse regulamento antes de quebrá-lo... – olhou para a lareira e fez com que o fogo reavivasse. – Não importa. Nada nem ninguém irá me impedir de ficar ao lado dela... a não ser que ela não me queira... – aquele pensamento o assaltou fazendo-o se sentir sozinho e desolado.


– Caramba, Harry... – Rony o olhou impressionado e depois sorriu.


– O oculto sempre nos atrai, e o diferente costuma despertar nossa curiosidade – disse Gina – Não quer dizer que vá durar para sempre, tudo passa...


– É mesmo – Rony concordou com uma risada – Até Gina já teve sonhos românticos com Sean quando era pequenina e isso porque ele não dava a mínima para ela e nem para ninguém... Teve uma época que mamãe...


– Ah, cala a boca, seu...


– Gente! Por favor... – reclamou Hermione. – Não há nada errado nisso, quem nunca sonhou ter um romance com um tipo assim... tão diferente.


Rony fez uma careta e olhou para ela como se ela estivesse falando outro idioma.


– Só que eu não sou criança e Irina não é um ser inacessível para mim – Harry se pegou pensando no porquê da maior parte das mulheres do Clã estarem sozinhas. Pelo o que tinham dito, Ubayd e Pável pareciam reprovar relacionamentos duradouros, exceto Tristan.


– Seria um natal animado juntar todas as nossas famílias e o Clã. – Rony o tirou de seus pensamentos – Eles são legais – admitiu. – Sean nunca gostou de ficar perto da gente, talvez eles possam socializá-lo... e conquistar o Lupin.


– Não entendo o preconceito dele... – Harry desabafou.


– São histórias antigas, rinchas entre os povos deles. Deveríamos aprender isso também, em Historia da Magia – disse Hermione – Repararam como o estudo é limitado pelos bruxos, contendo apenas suas visões do mundo mágico? Temos que propor isso no novo Conselho, que se aprenda também através do ponto de vista das criaturas mágicas, suas histórias...


– Está querendo aumentar a quantidade de matéria que temos para estudar? – Rony a interrompeu incrédulo – Já não bastam sete anos?


– Seria importante, ajudaria as pessoas a verem com outros olhos os relacionamentos como os de Tonks e Harry...


– Não, Hermione, você não pode dizer isso enquanto estiver em uma das reuniões do Conselho...


– Vamos tomar café – Gina propôs a Harry prevendo que a discussão dos dois iria se prolongar.


Quando chegaram ao Salão Principal se sentaram à mesa da Grifinória. Neville e Luna, que estavam juntos na mesa da Corvinal, se levantaram e foram até eles. Rony e Hermione ainda discutiam a respeito.


– Nenhum aluno vai se interessar pela causa do Conselho se uma das promessas for aumentar a carga horária de História da Magia, ainda mais se for o Professor Binns quem for dar a matéria – Rony argumentou quando Neville e Luna se juntaram a eles.


Draco chegou ao Salão, acompanhado por alguns sonserinos e respondeu ao aceno de Harry, deixou os colegas e foi se juntar a ele na mesa da Grifinória.


– Isso não vai constar na “campanha”, Rony! – Hermione declarou – Até que seja aprovado, que estudem a respeito e registrem os fatos, vai demorar muito, a maioria dos alunos nem estará mais aqui.


– Ah... então, tudo bem... – Rony se conformou e passou a se servir.


– Você é inacreditável, Rony... – Gina lhe lançou um olhar reprovador.


Luna e Neville acompanhavam a discussão em silêncio enquanto Harry e Draco conversavam isoladamente e em voz baixa.


– Por quê? É uma boa ideia... – Rony rebateu – Poderiam ampliar também o Estudo dos Trouxas, incluir a tecnologia usada por eles, é realmente muito fascinante...


– É mesmo, Rony? – Hermione o olhou criticamente – Você nunca se interessou em fazer essa matéria.


– Quem sabe dê tempo de torná-la obrigatória para o sétimo ano – Gina propôs a Hermione para ver a reação dele.


– Gina... – Rony interrompeu a refeição – Faremos o sétimo ano juntos, não é?


– Algumas matérias, eu acho – confirmou. – Por quê?


– Porque não sei o que você está querendo insinuar com essa história de ter mais aulas obrigatórias. Para ser uma curandeira, terá que estudar...


– Ora, que grupo interessante. – Snape os interrompeu após se aproximar deles sorrateiramente.


Harry se enrijeceu ao ouvir sua voz e tentou se controlar, evitando olhar em sua direção. Draco também se calou e continuou sua refeição calmamente.


– Estão tendo dificuldade em identificar as mesas de suas Casas? – Snape perguntou a eles – Sr. Longbottom e Srtas. Lovegood e Weasley, vocês devem procurar pela Professora McGonagall após o café da manhã. Srta. Granger, a reunião no Ministério será pela manhã, deve se encontrar com o Diretor, no escritório dele, em duas horas. Sr. Malfoy... – aproximou-se mais deles – Muito me surpreendeu saber de suas novas... amizades...


Harry ergueu os olhos e reparou que ele não era o único, muitos alunos também olhavam, estranhando o fato de estarem lado a lado confabulando como velhos amigos.


– Encontre Alastor Moody lá fora, no portão, daqui a uma hora, e não se atrase, ele não é paciente – Snape o avisou. – E quanto a você, Potter, espero vê-lo em minha sala daqui a ... quarenta minutos – disse consultando o relógio.


– Pra quê?! – Harry o encarou, surpreso.


– Precisamos conversar, não é mesmo? – respondeu pacientemente.


– Não, não temos nenhum assunto em comum. Não sou seu aluno, nem sou mais aluno de Hogwarts.


– Tanta raiva e rebeldia não irão mudar os fatos, precisamos esclarecer algumas coisas e não vai ser aqui, no Salão Principal.


– Com todo o respeito, senhor Severo Snape – Harry disse seriamente se recusando a tratá-lo como a um professor – Não tenho motivos para querer conversar com o senhor, muito menos encontrá-lo em sua sala, longe de testemunhas. Tenho certeza de que o Professor Dumbledore não quer que eu me aproxime de bruxos suspeitos.


– Passa pela sua cabeça que vou aceitar que continue com seu desrespeito e suas insinuações? – sua voz era baixa e fria como sua expressão. – Não estou me vangloriando por ter sujado as mãos em sangue tão...


– É do meu sangue que está falando, Severo Snape! – Harry se levantou respondendo a ele no mesmo tom. – Vou ignorar a sua existência, e espero que faça o mesmo.


Harry saiu ignorando seu chamado autoritário. Achou sua insistência revoltante. Lembrou-se dos planos de Voldemort para que ele providenciasse a morte de Snape para fazer a horcrux. Tentou se controlar e limpar sua mente, lamentando que desta vez teria dificuldade para evitá-lo. Mais um motivo para que não se demorasse ali, naquele castelo.


– Harry!


Harry se virou ao ouvir a voz de Rúbeo Hagrid chamando-o da entrada do saguão, tinha saído do Salão Principal tão decidido a se distanciar de Snape que nem tinha olhado naquela direção.


– Hagrid... – Harry foi até ele e o abraçou, desta vez, contente por encontrá-lo tão alto e forte quanto se lembrava. Certas coisas gostaria que nunca mudassem.


– Ah, meu menino... – Hagrid afagou seus cabelos – É bom encontrá-lo de pé novamente, tenho passado pela enfermaria todas as manhãs, você parecia tão debilitado.


– Já estou melhor. Você vai para a reunião do Conselho Ministerial?


– Não, o que eu iria fazer lá?


– Representar os gigantes, claro. Não teria mesmo como ter um deles lá dentro – Harry considerou.


– Eles também teriam que ter representação? – Hagrid se espantou. – Eles não quiseram se juntar a Dumbledore...


– Nem a Voldemort... – Harry se calou por alguns instantes vendo Snape deixar o Salão Principal. Teve certeza que ele, deliberadamente, evitou olhar na direção deles. – Nem por isso devem ser excluídos, também são seres mágicos – continuou – O Mundo Mágico tem que se unir.


– É o que Dumbledore vem dizendo há anos – concordou – Mas eu não sei...


– Você poderia também defender a todos os animais indefesos como os hipogrifos... até mesmo... explosivins, talvez... – esforçou-se para convencê-lo.


– Ah, isso eu posso fazer! – concordou animado.


– Ótimo, vou falar com a Hermione, nesse caso não será mesmo possível uma votação... O que vai fazer agora? Vigiar os terrenos? – olhou para os três bruxos que montavam guarda ali no saguão e já olhavam para ele, não sabia se considerariam Hagrid companhia suficiente para que pudesse acompanhá-lo lá fora.


– Só depois de patrulhar o castelo, Lupin não pôde vir agora pela manhã, está resolvendo algumas coisas na colônia dele, com o bando – Hagrid começou a se dirigir às escadas – Por que não vem comigo?


– O que temos que fazer? – Harry perguntou, ansioso para se manter ocupado e evitar se atormentar com seus pensamentos.


– Apenas nos certificar de que não há ninguém no castelo que não deveria estar aqui.


Com o movimento lá fora fica difícil manter o controle, como bem já sabe. – Hagrid pousou a mão em seu ombro fazendo com que seus joelhos cedessem momentaneamente com o peso extra. – Por que não me conta o que têm feito? Ouvi o relato de Rony e Hermione mas perdi o seu...


Harry o pôs a par de suas histórias enquanto perambulavam pelos corredores.


Percebeu que as mudanças não haviam ocorrido somente do lado de fora. O que antes era velho e gasto agora estava como novo. Não teve mais nenhuma dúvida sobre o poder que as relíquias reunidas por Dumbledore possuíam.


Após duas horas Rony se juntou a eles. Depois que Hagrid voltou para os terrenos continuaram com a exploração do castelo novo. As áreas, antes isoladas por risco de desmoronamento, estavam novamente prontas para serem reocupadas, como Harry e Rony fizeram questão de verificar. Foram até o antigo Salão Comunal da Sonserina e o encontraram limpo e restaurado.

Exploraram os dois corredores estreitos que ladeavam a entrada para os aposentos de Salazar Slytherin e que não tinham sido verificados da última vez que estiveram ali, levavam a salões que deveriam ter sido designados, na época, para alguma atividade dos estudantes.


Harry voltou aos aposentos de Slytherin e o revistou novamente, agora com a ajuda de Rony, atrás de alguma informação sobre os estudos que ele pudesse ter feito, sobre os portais. Não acharam nada.


– É mais provável que Salazar tenha deixado instruções na ilha – disse Rony – Já que é lá que está o portal.


– Pode ser. – Harry lembrou-se da vasta biblioteca do castelo e se perguntou se Voldemort saberia algo a respeito. – Vamos tentar almoçar na cozinha? – Harry propôs – Não quero ter que voltar a olhar para a cara do Snape.


– É uma ótima ideia – Rony concordou prontamente.


Desta vez os elfos não se zangaram nem um pouco por estarem ali, Harry até os achou entusiasmados demais. A volta do Diretor e o corpo nos terrenos os tinham deixado em êxtase. Hermione ainda não havia retornado, então foram somente os dois, se dedicarem a novos estudos.


– Já sei de um ótimo lugar onde poderemos passar o tempo sem corrermos o risco de surpresas desagradáveis – Harry se recordou enquanto subiam as escadas. – Só temos que avisar a alguém primeiro ou ficarão preocupados, já que não aparece no mapa do castelo.



– É bem mais complicado do que parece – disse Hermione, mais tarde, na Sala Precisa. – O Conselho Ministerial irá substituir a figura do Ministro, mas existem os vários conselhos bruxos responsáveis pela decisão de diversos assuntos...


– Mas no que isso irá interferir? – perguntou Rony desviando os olhos do livro do Lord. – A única diferença é que a última palavra dada não será a de um bruxo e sim a decidida pelo Conselho.


– Justamente, é muita gente para decidir e muito mais difícil chegar a um entendimento – Hermione explicou.


– Pouco me importa como farão, os Antigos já possuem um lugar garantido no Ministério, é só isso o que me interessa. – disse Harry.


– Ainda há bruxos que se opõem... mas não são a maioria. – Hermione retirou da bolsa a cópia do relatório da reunião e das reuniões anteriores e arrumou em uma pasta que pegou na estante.


– Então, ninguém resolveu nada de interessante ainda – Rony concluiu.


– Em uma coisa todos os bruxos presentes concordaram – Hermione sorriu. – Não vão mais atingir a maioridade aos dezessete anos. Depois que quase seis alunos abandonaram o escola, querem garantir que todos sejam obrigados a concluir o último ano.


– Grande coisa – Rony resmungou – Logo farei dezoito e se eu quiser realmente não voltarei.


– Eles ainda não chegaram a um consenso sobre a idade apropriada – ela comentou. – E o Neville, vem mesmo?


– Ele disse que viria, Luna se entusiasmou com a ideia – disse Harry. – Ela ficou de ajudar.


– Só Gina não quis. – Rony fez uma careta para um trecho do livro – Está com medo de que possa afetar a carreira dela, ser um animago clandestino. E como agora é monitora, disse que se sentiria culpada... Está parecendo o Percy... – resmungou.


Um vinco se formou na testa de Hermione mas ela permaneceu em silêncio, pensativa.






Passaram os dias se dividindo entre as refeições e a Sala Precisa. Harry e Rony tinham mais tempo livre que os outros, sempre que podiam, Neville, Luna e Hermione se uniam a eles. Nenhuma reunião da Ordem tinha sido convocada ainda, eles estavam se concentrando em organizar o Ministério e evitar que a morte do Ministro desestabilizasse os funcionários.


Rony puxou o cordão e abriu seu relicário, em forma de coração. Leu a mensagem que tinha sido enviada.


– Luna, você pode abrir a porta para a Hermione? – pediu. Ele e Neville estavam compenetrados com os ensinamentos do Lord, e naquele momento não podia chegar perto da porta.


O tigre branco se espreguiçou, quando ela se levantou, e foi para perto deles. Estivera quase dormindo com suas carícias. Sentou-se de frente para eles e de costas para o espelho.


– O que você acha, Harry? – Rony perguntou apreensivo – Segundo o livro, através dos primeiros traços de transformação já se pode definir o animal...


– Parece que você tomou uma das poções de envelhecimento de Fred e Jorge – disse Gina, que tinha chegado junto com Hermione. – Você só tem barba.


– Que bom que não são escamas – Neville olhou para os próprios braços, peludos. – Luna prefere pêlos... – olhou para Harry, um pouco invejoso e enciumado.


O tigre colocou a pata sobre uma das páginas.


– Ah, não sei... – Neville hesitou.


– Acho que ainda é cedo para o próximo passo – disse Rony olhando para as palmas das mãos, escuras.


– Eu não sei se quero continuar com isso... – Hermione segurou as mãos de Rony entre as suas, examinando-as – Não parece ser algo realmente agradável.


– Ah, Hermione... – Rony se queixou. – Só porque apareceram penas na sua cabeça? Não já era óbvio que iria ser...


– Um Mico-Leão-Dourado, Rony. – disse Luna ao se reaproximar deles.


– Você acha? – perguntou não muito entusiasmado.


– Você vai ser um urso – Luna disse a Neville passando a mão pelos seus braços peludos – O Urso e a Libélula... – declamou como se estivesse lendo um poema.


Neville sorriu para ela e a acolheu carinhosamente em seus braços, deixando que ela se distraísse brincando com seus pêlos.


Um bramido baixo, de advertência, escapou da garganta do tigre quando Hermione e Gina o cercaram.


– Não seja mau! – Gina reclamou enquanto o abraçava.


– A gente não tem culpa de você ser tão fofo... – Hermione encheu a mão com seus pêlos, eriçando-os.


– Só que ele não é o bichinho de vocês – Rony se arrastou mais para perto do espelho, estudando-se. Examinou o peito, também coberto de pêlos dourados. – O pobre do Bichento já fugiu.


– Ele não fugiu da gente! – Hermione reclamou enquanto vasculhava a bolsa. – Ele está com a Madame Norra.


O tigre baixou as orelhas, se encolhendo, e tentou se afastar quando viu a escova em suas mãos.


– Fica quieto! – Gina o agarrou, puxando-o para perto.


– A gente só quer escovar você... – Hermione explicou.


Ele se desvencilhou e fugiu.


– É melhor não implicar com ele – Rony recomendou enquanto se mirava no espelho, se concentrando para voltar ao normal. – Os pêlos dele sempre foram assim, rebeldes... quer dizer, cabelos...


O tigre rugiu ameaçadoramente, mostrando as presas quando elas tentaram se reaproximar.


– Vamos, gente, já está na hora – Neville os lembrou.


Em menos de um minuto Harry já atravessava a porta. Correu pelo corredor, espanando as roupas.


– Desculpe o atraso, Professor... – parou derrapando quando chegou ao saguão.


Dumbledore trajava um conjunto de vestes cinza-chumbo, os longos cabelos prateados, presos. A maioria dos alunos já estava do lado de fora. Quatro bruxos guardavam a entrada para o castelo para proibir o acesso a estranhos, os terrenos estavam cheios. Ele passou o braço pelos ombros de Harry e o guiou para fora.


– Não se afaste de nós e fique onde eu possa vê-lo – Dumbledore pediu a ele.


Havia nevado um pouco pela manhã, já era final de tarde e o céu estava limpo. Harry se surpreendeu com a quantidade de interessados em assistir aquele ato simbólico, já que todos sabiam que Voldemort ainda vivia. Viu os centauros observando da orla da floresta, as ninfas, no alto dos galhos.


Começaram a avançar abrindo caminho na multidão, mas assim que avistaram o Diretor formaram um corredor improvisado para permitir sua passagem. Muitos bruxos pareciam preparados, varinhas na mão, como se fosse chegado o momento dele despertar.


Pegou-se a imaginá-los girando a varinha em sua direção, considerando-o indigno de estar ali. Harry desejou dar meia volta e seguir novamente para o castelo, mas Dumbledore aumentou a pressão em seu ombro, impelindo-o a avançar.

Duas figuras pequeninas se precipitaram mais à frente abrindo espaço entre as pernas dos que beiravam o caminho.


– Oi Dobby, Winky... – Harry parou para cumprimentá-los desejando que Dumbledore seguisse deixando-o para trás. – Também quiseram vir assistir? – estranhou.


– Dobby veio acompanhando os Black – disse orgulhosamente, indicando os bruxos mais à frente, próximos ao caixão.


– Ah... E os Velaska também estão aqui – concluiu olhando para Winky, que parecia uma estranha boneca em seu vestidinho verde bordado.


– Estão sim, senhor Potter, mas Winky não veio com eles, veio com Dobby.


– Os Black compraram a Winky – Dobby contou alegremente – O Sr. Black vai precisar de Dobby por perto, assim Dobby não precisa se ausentar para ver a Winky...


– Harry... – Dumbledore o chamou a poucos passos de distância onde o aguardava.


– Posso ficar por aqui? Com Dobby....? – perguntou inutilmente.


O olhar determinado do Diretor foi o suficiente para fazer com que se juntasse a ele novamente e o deixasse conduzir até o lago, onde estavam os membros da Ordem e funcionários do Ministério, alguns dos Antigos também eram reconhecíveis entre eles. Todos dispostos o mais próximo ao caixão, como que por segurança.


Assim que chegaram ao grupo Dumbledore o liberou e Harry escapuliu para perto de Sirius e dos outros, aliviado em perceber que os presentes acompanhavam o Diretor com o olhar enquanto ele seguia até o caixão.

Só tinha aceitado ir por insistência do Diretor, que achou que o castelo ficaria muito vazio e o preferia por perto, não tinha nenhum interesse naquela cerimônia.


Raven não estava com eles mas imaginou que estivesse por perto, patrulhando. Viu um grupo de pessoas de cabelos ruivos, retirado mais atrás à esquerda. Começou a se esgueirar para lá, mas antes parou para falar com Lupin e o bando, muito quietos e compenetrados no que estava acontecendo ali.


Lupin tinha passado a andar com o ex-bando de Fenrir, orientando-os e ajudando-os a se socializarem. Depois de discriminados pela sociedade bruxa eles tinham se entregue apenas aos instintos para sobreviver. Era uma tarefa exaustiva.


– Onde vocês estão, se não estão em Nottinghan? – Harry perguntou a eles após a troca de cumprimentos.


– Para quê exatamente quer saber isso? – Lupin perguntou com desconfiança.


– Por nada... – respondeu meio sem jeito. – Não pretendo visitá-los se não querem minha visita...


– Não estamos preparados para receber visitas, ainda, apesar de saber que se defenderia muito bem... Não vai me contar esse segredo? – Lupin cochichou para ele, surpreendendo-o. – Respeito sua vontade de ser clandestino, só queria saber o que levou os outros a pensarem que você é um híbrido.


– Hum... não sei... não é algo do qual você iria se orgulhar... – murmurou.


– Sei que é um caçador – Lupin sussurrou após algum tempo, enquanto assistiam a Dumbledore e Quim arrumarem a pira funerária. – Só queria saber de que tipo.


Harry trocou o peso do corpo de um pé para outro, indeciso.


– Andou se transformando no castelo, então não é tão grande – Lupin concluiu curiosamente e logo depois explicou – Com certeza um predador, ainda consigo sentir o cheiro... um tanto irritante... – franziu a testa enquanto especulava.


Harry se sentiu corar e olhou para os demais, que lhe lançavam olhares desconfiados de vez em quando. Deixou-os com sua curiosidade. Avistou Hagrid próximo ao portão com mais alguns bruxos e abriu caminho para perto dos Weasley.


Arthur ralhava, em voz baixa, com Rony, insistindo que ele devia se barbear, o que era uma norma da escola. Rony, de cara amarrada, relutava em se livrar do ralo cavanhaque ruivo que tinha adquirido.

Harry cumprimentou a todos e saudou Jorge e Fred, sob o olhar crítico e reprovador de Percy que os vigiava a distância. Gui e Fleur estavam indiferentes mas percebeu um certo constrangimento entre Carlinhos e o Sr. Weasley.


Não muito distante, um pequeno grupo se mantinha mais afastado dos demais, olhando a todos criticamente. Harry deduziu que aqueles eram os funcionários que Hermione havia mencionado, que ainda apresentavam resistência às mudanças que estavam sendo feitas, reconheceu Dolores Umbridge escondida no meio deles, evitando ser vista.


– Você não ficou bravo com a gente – Jorge observou – De todos, pensamos que você seria o primeiro a nos dar as costas.


– Só porque vocês se envolveram com Voldemort? – cochichou – Eu convivo com ele há dezesseis anos e vocês não me deram as costas quando descobriram, não por isso.


– Não podíamos fazer nada pra te ajudar... apesar de que conseguimos tirá-lo da medalha sem a destruir...


– Fortalecendo-o! Não foi isso o que eu pedi!


– Desculpe – pediu Fred.


– E o Tom...? – Jorge perguntou timidamente – Ele voltou para Voldemort?


– Sim, retornou... Acho que, do jeito dele, ele gostava de vocês – contou aos dois – Só que ele já era perigoso e não iriam conseguir influenciá-lo... Mas não vamos mais falar sobre isso.


Dumbledore começou a discursar para os presentes sobre aquele momento e o que os aguardavam agora.


– Não precisavam ter feito aquilo, confessarem – Harry sussurrou – Poderiam acabar sendo enviados para Azkaban.


– É, nós sabemos... – Fred murmurou tristemente. Harry o olhou desconfiado.


– Ainda não conseguiram testar aquele “kit de fugas para situações...”?


– Shh! Para com isso! – Fred sussurrou tapando sua boca. Percy lançou a eles um olhar severo como se eles o estivessem envergonhando.


– Não nos comprometa – pediu Jorge e foi para perto de Percy para que todos os vissem juntos e não restassem dúvidas de que eram irmãos.


Harry parou a Fred antes que este se afastasse também.


– Já perceberam quem veio também? A Umbridge...


– Nós já vimos, está tudo sob controle – Fred sussurrou confiante antes de seguir para perto dos irmãos.


Harry arrastou-se em direção a Hermione e Rony . O Sr. Weasley o puxou para perto, levando o dedo aos lábios em repreensão ao seu desassossego. Estranhou por não ver a Sra. Weasley por perto nem Gina.

Draco estava entre Alastor e Snape, mais à frente, imaginou que o olho mágico de Moody estaria girando ininterruptamente os trezentos e sessenta graus naquele momento. Snape também parecia interessado em observar aos presentes.


– É tão estranho – disse Harry, ao se aproximar mais de Hermione. – Todos reunidos aqui, para isso...


Hermione lhe lançou um rápido olhar indiferente e voltou a prestar atenção ao que Dumbledore dizia. Rony olhou para os dois.


– O que foi? – Harry perguntou a ele.


– Você... ameaçou a gente! – Hermione resmungou.


– Bom, é que... vocês estavam passando dos limites...


– Então nossa amizade tem um limite – ela pronunciou enfezadamente, sem o encarar. – É bom saber!


Harry olhou para Rony inquisitivamente. Ele balançou lentamente a cabeça, como se lamentasse e mudou de posição ficando entre os dois.


– Você foi insensível, Harry. – Rony passou os braços pelos ombros deles como se quisesse reconciliá-los.


– Eu!? – espantou-se – Insensível... só porque não quero ser tratado como um bichinho de pelúcia...


– Isso não é verdade!


– É sim, Mione – Rony considerou – E deve ser realmente irritante. Mas você poderia ser mais paciente, Harry.


– Vamos ver se você vai pensar assim daqui a alguns meses.


Rony sorriu ao imaginar isso e Harry deduziu que talvez ele não precisasse se preocupar, um Mico-Leão-Dourado não parecia fazer parte de sua natureza, talvez algo mais intimidador, como um gorila.


– Mione, desculpe ter assustado vocês, não vou mais fazer aquilo – Harry pediu. Ela olhou para ele com um meio sorriso nos lábios – E nem vou deixar vocês me escovarem.


Ela voltou a ficar séria e prestar atenção em Quim, que esticava o discurso iniciado pelo Diretor. Raven e Molly chegaram apressadas e acompanhadas por uma terceira pessoa.


Harry sorriu, radiante, e seguiu até elas.


– Oi pra você também! – Raven reclamou enquanto Harry e Irina se beijavam.


– Harry! – Sra. Weasley ralhou com ele.


– Desculpem... Oi, como vão? – perguntou entusiasmado.


– Melhor agora, eu acho... – sussurrou Raven e foi para perto do marido.


A Sra. Weasley revirou os olhos e fez o mesmo. Harry se virou para Irina, gostaria de dizer muitas coisas, mas muitos já lançavam olhares críticos para eles, levou as mãos dela aos lábios e as beijou enquanto aspirava seu cheiro.


A neve foi retirada de sobre o caixão e abriram a tampa. Harry se afastou com Irina para perto da floresta, longe dos demais, mas não o suficiente para perde-los de vista. As labaredas de fogo subiram em direção ao céu lançando sua luz alaranjada sobre todos. Irina sorriu.


– Nós também acendemos fogueiras, não temos problemas quanto a isso – ela disse enquanto ele procurava um trecho onde pudessem ficar à sós. – É só uma questão de posição. De quem está dentro e quem está fora...


– Não estava preocupado com isso... – Harry a puxou para si e a beijou ardentemente.


– Sentiu minha falta, é? – Irina encostou a testa na dele enquanto acariciava sua nuca.

Harry pegou a mão dela e levou ao próprio peito.


– A cada pulsar... não me permitem sair do castelo ou eu já teria...


– Raven me contou – Irina lançou um olhar para os bruxos a distância. – É para a sua segurança.


– Não minha, deles. Mas hoje termina meu prazo, Dumbledore pediu que eu esperasse até o funeral, então, acho que posso ir com você...


– Hoje não, gatinho. Tristan está aqui há quatro dias, procurando pelos nossos, mas parece que as coisas não estão indo bem. Aproveitei a visita de Raven, hoje, para dar notícias suas e vim com ela.


– Está hospedada na Casa Verde? – perguntou entusiasmado.


– Não, Emil e eu estivemos lá há pouco, aproveitamos para conhecer Sean di Cavour, que mora com os Weasley, é um rapaz bem triste e solitário.


– Rapaz...? Nunca o conheci – relatou meio incomodado.


– Eu te apresentarei quando tudo se acalmar, ele te conhece desde que você começou a frequentar a Toca.


– Impossível, ele nunca saiu daquele sótão – Harry, que antes estivera curioso, começava a perder a vontade de conhecê-lo.


– Você esquece que temos hábitos noturnos – Irina beijou suas pálpebras e sua cicatriz – Daqui a pouco, quando anoitecer, eles irão ao encontro de Tristan e eu me juntarei a eles.


– Eu vou com você, vou ajudar – prontificou-se imediatamente.


– Não. As coisas aqui não são bem como esperávamos. Eles são desorganizados e solitários, alguns são agressivos e... até mesmo selvagens.


– Tá, a gente tenta orientá-los a formar um Clã – decidiu.


– Meu gatinho, seria perigoso pra você, depois que os localizarmos eu volto.


– Não importa, eu quero ir – soou decidido – Eu... você pode me proteger – sugeriu com um meio sorriso.


– Não viemos para brigar, viemos formar alianças – ela disse após beijar o canto de seus lábios – Você fica uma gracinha quando sorri, mas não insista, você não irá conosco, não desta vez.


– Quanto tempo? – baixou os olhos decepcionado.


– Não sei... semanas, talvez.


– Não deve haver tantos assim – reclamou – E vocês são rápidos.


– Esquece esse assunto por enquanto – pediu meigamente – Vamos aproveitar os minutos que temos.


– Minutos?


– Quero estar com eles assim que anoitecer.


– Onde eles estarão? – perguntou aborrecido.


– Tristan ainda não conseguiu comprar aquele casarão...


– Nem irá, não agora que o dono está desaparecido, o Sr. Shalmann – Harry a interrompeu lembrando-se dele, adoecido em um leito do castelo, na ilha.


– Não... Tristan falou com o próprio Sr. Shalmann! Ele disse não estar interessado em vender a casa mas vamos insistir, propor uma quantia maior. Por enquanto Tristan está hospedado com um jovem que encontrou em um cemitério e ficaremos com ele...


– Outro... – imaginá-la visitando jovens vampiros solitários não o agradou nem um pouco – Por que não fica comigo e chama os outros para ajudarem a Tristan e Emil? Quem sabe Grazina, Ksenya, ...


– Eu quero fazer isso, quero conhecer o território. E não poderiam vir todos de uma vez, a presença súbita de um Clã formado poderia perturbá-los, não estão acostumados a isso.


– Fica comigo, por favor – Harry pediu. Beijou cada centímetro do seu pescoço.


– Ah, você está ronronando pra mim... – ela sorriu e o beijou apaixonadamente – Não me tente... a minha vontade agora é de te levar até o meu quarto...


– Vamos, a gente chega lá em um minuto – afastou-se em direção ao lago puxando-a consigo – Eu só preciso encontrar um lugar desprotegido... talvez eu consiga sair com a minha capa – sacou a varinha, entusiasmado, pensando em invocar seus pertences.


– Mas eu não posso! – ela baixou seu braço e fez com que guardasse novamente a varinha. – Tenho um compromisso aqui, seja paciente.


– Irina... – Harry tentou argumentar mas ela o calou com um beijo ardente.


– O que foi isso? – ela virou-se em direção à floresta.


– Devem ser os centauros... – Harry roçou os lábios em seu queixo enquanto suas mãos acariciavam sua espinha.


– Pare, você está me desconcentrando... – ela o puxou em direção ao lago, para perto de alguns aurores que estavam parados ali.


– O que está fazendo? – ele deixou-se conduzir.


– Fique com o seu povo, eu tenho que ir.


Com um último beijo ela se despediu e desapareceu de vista. Ele permaneceu por um tempo no mesmo lugar, sentindo-se abandonado. Aproximou-se do lago e ficou a observar a fogueira refletida em sua superfície gelada, pôde ver alguns sereianos espreitando a fogueira de debaixo d'água. Agora que não poderia ficar com ela não sabia o que faria a seguir, não tencionava ficar na Casa Verde.


Ouviu alguém se aproximando mas não se virou, não estava com um humor muito bom naquele momento. Só virou-se para dar-lhe atenção quando ele tocou o seu ombro.


– O que faz aqui? – Harry o reconheceu de imediato. A mesma expressão séria e olhar cansado. Havia muitos aurores e membros da Ordem por perto, ficou surpreso com sua coragem.


– Vim assistir – continuou a encará-lo despreocupadamente.


– Hum... – Harry desviou o olhar para a fogueira. – Tá – por alguns instantes parou os olhos sobre Draco, que se aproximava decidido, a varinha em mãos. Voltou a atenção novamente a ele. – Foi ele que pediu que viesse?


– Foi – admitiu sem rodeios, encarando a fogueira.


– E... mandou algum recado pra mim? – deduziu, já sentindo-se apreensivo com o que estivesse por vir.


O homem lançou um breve olhar desinteressado em direção ao jovem Malfoy quando este se juntou a eles.


– Ele pediu para te lembrar que temos vivido dias de paz e que não há a intenção de novos confrontos aqui, só espera que cumpra a sua parte.


– Minha parte – estranhou – Que parte? – perguntou a ele com curiosidade mas logo suas feições se endureceram, revoltado. – Não aceitei droga de acordo algum! Não vou ficar sob as ordens dele!


– É só esse o recado que tenho a transmitir – ameaçou se afastar mas voltou-se novamente para ele. – Ele libertou seus seguidores, Harry Potter, não parece haver a possibilidade de um ataque – alternou o olhar entre ele e Draco. – E sinceramente, espero que permaneça assim.


Harry levou a mão à cicatriz estranhando que não tivesse sentido nada ainda, concluiu que ela estava sendo muito cuidadoso quanto ao seu retorno.


– Ele já se fortaleceu? – Draco perguntou – Já assumiu uma nova forma física?


– Na mesma noite – comunicou a eles e começou a se afastar sem se importar com o fato de estar sendo vigiado, agora, por alguns bruxos próximos.


– Espera, Noah – Harry pediu – Por que ainda está com ele?


– É um bom salário – respondeu sem se virar e rumou para os portões de Hogwarts.


Harry concordou lentamente com um aceno, suas suspeitas se confirmando. Cerrou os punhos com força e esfregou a testa com irritação.


– O que foi isso? – Draco perguntou a ele – O que ele quer?


– Poder, eu acho, um novo desafio... – Harry dirigiu-se de volta ao castelo, determinado. Draco o seguiu.


Percebeu o olhar de Dumbledore sobre ele mas naquele momento um tumulto se fez entre os presentes e todos se viraram naquela direção, sobressaltados. Harry abriu caminho rapidamente entre os que tentavam ver o motivo dos gritos estridentes e histéricos da ex-Subsecretária Sênior do Ministro. 

Passou por Gina, de mãos dadas com um rapaz alto de cabelos castanhos, seu colega de classe, também aluno da Grifinória. Harry se virou para Draco e percebeu que ele também tinha visto, mas não parecia incomodado.


Passaram pelos bruxos que guardavam a entrada para o saguão e se encontravam em alerta. Foram interrogados mas informaram que desconheciam o que se passava, embora Harry já tivesse uma suspeita.


– Agora que ele já retornou, vocês terão que se preocupar com a organização e defesa do mundo mágico – Harry comentou enquanto se encaminhava para a Sala Precisa – Terão de estar preparados para qualquer coisa.


– Acreditou nisso? Pode ser mentira, um modo de te fazer ir até ele.


– Não, eu acho que não – Harry pegou o livro do Lord e passou para um pergaminho em branco as informações que ele continha, a respeito do que andavam praticando ali, e acrescentou um bilhete aos amigos – Ele é ousado e esperto...


– Mas você não pode ir atrás dele agora – disse Draco – Não há como ter certeza e Noah não é confiável.


– Justamente, só terei certeza vendo com meus próprios olhos – caminharam em direção ao Salão Comunal da Grifinória.


Harry viu um reflexo de luz prateada eu uma das armaduras e se virou a tempo de ver o animal galopando rapidamente, sumindo no corredor.


– O que pensa que está fazendo? – Harry se voltou para Draco.


– Chamando o Diretor, ele tem que saber disso...


– Agora não! Eu preciso sair daqui primeiro, se souberem disso vão criar empecilhos... Você já conhece bem todo o esquema de proteção do vilarejo, não é? Sabe por onde e como eu posso sair – abriu a passagem para o salão Comunal da Grifinória e invocou sua mochila.


– Tem sido fácil entrar, mas sair sem permissão parece impossível, e a partir de agora, sem a exposição do caixão, entrar também será complicado.


– E a passagem para a Casa dos Gritos? – Harry perguntou enquanto guardava o livro.


– Já foi bloqueada. Estão pensando em transformar aquilo em uma sede para os novos Protetores, que serão responsáveis por este vilarejo.


– Por onde, então? – jogou a mochila nas costas.


– Não vou ajudá-lo a fugir! Posso ajudá-lo a organizar um grupo de ataque...


– Ele está propondo paz... – recordou seu comentário no ministério, dirigido ao Ministro antes de matá-lo. – Não posso permitir que haja novos confrontos, mais mortes...


– Como? Se entregando?


– Só enquanto for necessário... – Harry se virou em direção à janela. – Se não vai me ajudar eu encontrarei uma saída sozinho.


– Desculpe... – Draco o segurou. Manteve firme o seu aperto e a varinha.


– Qual o seu problema?! – Harry o olhou indignado.


– Não posso deixar que acabe prisioneiro dele, de novo!


– Por que está se preocupando com isso?


– Sem você estaremos em desvantagem! Os Antigos estão do nosso lado mas não se envolverão diretamente, quem quiser aprender e treinar com eles também não poderá se pôr contra o Lorde das Trevas, então não temos muita coisa ao nosso favor.


– E por acaso eu sou uma dessas “coisas”?! – Harry reclamou, estava considerando seriamente puxar a varinha e enfrentá-lo.


– Harry!


Harry baixou a cabeça e praguejou baixinho. Puxou o braço com violência, soltando-se, e empurrou Draco para o lado enquanto se encaminhava em direção ao Diretor.


– O que aconteceu, Draco? – Dumbledore se dirigiu primeiro a ele, deixando Harry ainda mais impaciente. – Vocês não estão tendo uma recaída, estão?


Draco explicou a Dumbledore sobre a mensagem de Noah e a decisão de Harry.


– Uma escolha imprudente a sua – Dumbledore disse a Harry – Exatamente como eu imaginei que faria.


– Precisamos conversar, Professor, em particular – Harry pediu.


– Sim, precisamos. – Dumbledore concordou. – Obrigado, Draco. Sabia que poderia contar com você para isso.


Draco respondeu com um breve aceno. Harry desconfiou de que Dumbledore o tivesse pedido para vigiá-lo. Ao invés de ficar aborrecido sentiu-se satisfeito que ele estivesse sendo bem aceito. Seguiu com o Diretor para o seu escritório.


As quatro relíquias, dos fundadores de Hogwarts, estavam fixadas na parede atrás da mesa do diretor, como um troféu. Dumbledore se acomodou em sua cadeira e gesticulou para que Harry tomasse assento. Ele caminhou até a cadeira, largou nela a mochila, e foi até a lareira enquanto tomava coragem.


– Professor, eu não acho que ele irá voltar – despejou de uma vez – Acho que ele perdeu o interesse, se cansou de tudo isso, está atrás de outra coisa...


– Acha que é por causa desta “outra coisa” que ele está te chantageando? – Dumbledore indagou – Que é por ela que ele quer que você o procure?


– Eu não tenho certeza, Professor – Harry olhou em seus olhos – Mas não vejo como poderia... Acho que ele me quer ao lado dele por causa... por causa do elo que existe entre nós dois...

Dumbledore continuou em silêncio, ouvindo-o. Harry se aproximou e se sentou na ponta da cadeira, em frente ao Diretor.

– Naquela noite não foi só alguns poderes que ele transferiu para mim, ao me fazer essa cicatriz – tocou a própria testa – Ele me deu também parte de sua alma, uma oitava parte...


– É, eu sei... – Dumbledore comentou despreocupadamente – Algo raro, muito raro...


Harry se aprumou e franziu a testa enquanto o olhava perplexo.


– Foi Raven quem...?


– Não. Então, os Antigos também sabem... – Dumbledore olhou fixamente para um pequeno objeto de prata que se mexia em sua mesa produzindo um som ritmado. – Imaginei que soubessem, mas é claro que não poderia comentar a respeito.


Dumbledore se levantou e passou a caminhar lentamente pela sala, pensativo.


– Embora muitos de vocês, jovens, achem isso – o Diretor continuou – A idade não nos deixa menos perceptivos ou desprovidos de raciocínio. Lentos e cansados, talvez. Desde que sua ligação com ele começou a se fortificar, ano passado, eu passei a ser assaltado por suspeitas. Já tínhamos tido o diário para comprovar a ousadia dele.


Dumbledore se aproximou do poleiro e acariciou as penas de Fawkes.


– Por que você acha que me dediquei a encontrar um poder que fosse suficiente para detê-lo? Eu já desconfiava que não seria possível nos vermos livres dele se tentássemos destruí-lo, e eu não sou a favor deste tipo de punição, e também não tínhamos certeza de quantas horcruxes ele poderia ter feito.


– Por que o Senhor não me disse...? – Harry perguntou, ainda surpreso com a revelação.


– Eu só tive certeza ao ver o comportamento do anel dos Gaunt, aceitando-o como se fosse um membro da família, e o seu apego a ele. Não era uma descoberta feliz, ainda mais para um jovem já com tantos problemas... Quando recebemos a notícia de sua morte não vi porque desistir de meus planos. A morte seria algo muito leve para ele, queria que ele tivesse o que mais desejava, a imortalidade, da maneira mais cruel possível, aprisionado para sempre.


Harry fechou a boca ao perceber que o olhava boquiaberto, repassou rapidamente os novos fatos.


– Acha que eu posso encontrar uma maneira de desfazer isso? – Harry pediu, esperançoso.


– Só quando os gêmeos me contaram sobre a experiência com a horcrux é que eu me lembrei do seu pedido para manter o anel, e me ocorreu que você já pudesse saber a respeito. Não sei se há como, Harry. Já andei pesquisando e até agora eu não achei respostas.


– Os Antigos também não sabem, nem Voldemort... – puxou a mochila para o colo e descansou contra o encosto da cadeira.


– Há muito conhecimento perdido, Harry, para ser encontrado e para ser descoberto.


Ficaram em silêncio por um tempo, depois Harry levantou-se, decidido, e jogou a mochila nos ombros.


– É por isso que não estarei aqui no próximo ano letivo, tenho que procurar por esse conhecimento.


– Sei que já é maior de idade e que não devo te manter aqui contra a sua vontade, por isso eu te peço que seja compreensivo e fique. Procuraremos juntos por algo.


– Hum... – Harry considerou a proposta – Mas eu preciso ir ou ele virá à minha procura, e se recomeçar os ataques?


– Ele pode tentar se quiser, estamos preparando e fortalecendo nossas defesas. Ele não irá conseguir chegar perto de você desta vez. E não acredito que ele esteja recuperado, Harry, para mim é um truque.


– Eu acredito que esteja, tenho algumas suspeitas, só não sei como ele conseguiu isso... é um tanto assustador.


– Então, que ele venha, assim poderei aprisioná-lo.


– E até lá serei eu o prisioneiro?


– Até lá, você ficará protegido – Dumbledore o corrigiu duramente. – Se você for, será o prisioneiro dele. Você é uma das garantias de sua imortalidade, ele irá mantê-lo em uma redoma de vidro, longe de qualquer ameaça...


– Não estou conseguindo ver muita diferença, exceto que se eu for poderei saber o quê, exatamente, ele está tramando e garantir a paz por um tempo. Eu vou ficar bem, Professor. Darei notícias em breve.


– Sei que é bom em fugas e soube se cuidar muito bem até agora – Dumbledore o interceptou enquanto se encaminhava para a porta, pôs a mão em seu pescoço e o fez olhar diretamente em seus olhos – Mas insisto que deixe-me cuidar disso. Não posso deixar que se arrisque, e quero estudar mais a ligação que existe entre vocês para que eu possa ajudar.


– Por quê? Por que se preocupa tanto comigo?


Harry estava ciente de que deveria se sentir agradecido pelo Diretor não vê-lo como um obstáculo a ser destruído, mesmo assim estava curioso, ele dedicara muito do seu tempo à procura das relíquias, que muitos consideravam um mito, só para descartar essa possibilidade.


Nesse momento bateram à porta. Dumbledore o soltou e voltou à sua escrivaninha enquanto autorizava a entrada do recém chegado.


– Diretor... – Snape apareceu à porta e Harry desviou o olhar, incomodado, tentando ignorar sua presença. – Draco estava contando a Alastor Moody as novas notícias – ele olhou Harry de cima a baixo, avaliando-o. – Vim ver se precisava de ajuda...


Harry não conseguiu reprimir o som de descontentamento que escapou de sua garganta, agora já estava começando a achar que Draco estava levando a sério demais seus novos ofícios.


– Obrigado, Severo, está tudo sob controle – Dumbledore explicou enquanto Snape se aproximava. – Harry entende que será melhor ficar aqui, não é?


Harry abriu a boca para protestar, não estava convencido a ficar, mas Snape se antecipou a ele.


– Mesmo? Ficará escondido em Hogwarts, protegido...? – Snape lançou a ele um olhar frio e especulativo – Mas espero que isso não inclua a presença da... Srta. O'Dare, Diretor. Não em Hogwarts, muito menos com o comportamento que vimos há pouco.


– Agora não é o momento para este assunto – disse Dumbledore – Foi apenas uma visita, Severo...


– De quem estão falando? – perguntou Harry, sentindo-se totalmente de fora. – Quem é Srta. O'Dare?


– Irina O'Dare? – Dumbledore ergueu uma sobrancelha, surpreso.


– Ohh! – Harry se sobressaltou, nunca tinha perguntado seu sobrenome, nem tinha parado para pensar a respeito.


– Hum, ora! Pelo jeito estiveram muito ocupados para perderem tempo com apresentações – Snape reprovou. Harry o ignorou completamente.


– Como assim? Não vou poder vê-la? Ela não poderá me visitar?


– Hoje não discutiremos isso, Harry. A Ordem irá se reunir hoje à noite, após o jantar – Dumbledore desconversou – Você e o Sr. Weasley poderão comparecer.


Passaram alguns segundos de silêncio e Harry aproveitou a deixa para sair, ciente do olhar de todos sobre ele, do Diretor, de Snape e até dos antigos diretores. Seria a primeira reunião da Ordem, só que não seria isso a prendê-lo ali.

Mal tinha chegado ao corredor quando Snape o parou.


– Não tenho nada... – Harry começou a dizer mas foi interrompido por Snape.


– Você não vai conseguir deixar o castelo, seja para ter a oportunidade de bancar o herói, seja para ver aquela sua namoradinha. Neste exato momento Moody e os outros estão esvaziando os terrenos, uma vez que todos saiam os portões serão fechados e será impossível sair sem autorização.


– É mesmo? – Harry debochou e tentou colocar distância entre eles mas Snape o puxou pelo braço.

Harry pegou a varinha e apontou diretamente para sua garganta, já estava cansado das pessoas fazerem isso, como se ele ainda fosse uma criancinha, principalmente Snape.


– Até mesmo entrar e sair de Hogsmeade será difícil – Snape continuou sem se incomodar com o seu gesto. – Exceto pela floresta proibida... ela foi considerada naturalmente inviável, principalmente depois que Hagrid obteve autorização para criar mais de seus “bichinhos” por lá – soltou seu braço e recolheu algo em sua roupa – Nada muito ameaçador para um predador, creio – ergueu o fio branco que tinha encontrado, analisando-o.


– Por que está me dizendo isso? – Harry passou novamente a mão pelas roupas, espanando-as.


– Estou dizendo que é inútil tentar fugir, há vigias ocultos em determinados pontos do castelo, vigiando os terrenos, bruxos o patrulham também, impossível passar sem ser visto até mesmo com uma capa de invisibilidade...


Snape se virou e seguiu para as escadas sem dizer mais nada. Harry permaneceu parado, vendo-o partir com desconfiança. Depois foi até a janela e olhou para fora. Catou dentro da mochila o monóculo que tinha ganhado no aniversário anterior e procurou ao redor atentamente. Avistou um deles em uma torre distante, coberto por uma capa de invisibilidade.


Lembrou-se do monóculo visto com Lupin e se perguntou quem mais além dele e Moody poderiam identificá-lo sob a capa. Caminhou calmamente até a torre onde estivera preso com Rony e Hermione por um bom período do sexto ano.

Usou o monóculo para detectar alguma possível presença e entrou. Ela continuava com a mesma aparência, exceto pelas duas estantes abarrotadas de velhos pergaminhos que continham as detenções impostas a antigos alunos, uma delas, agora, continha apenas pergaminhos novos.


A torre era uma das mais altas, mas era totalmente fechada, não servia para ponto de observação, não tinha visão para o lago, os terrenos e nem para o vilarejo, seria perfeita. Pegou sua capa de invisibilidade e foi até uma das janelas mais altas do banheiro, espremeu-se por ela e invocou a mochila após vestir-se com a capa.

Usou o monóculo para manter-se afastado dos bruxos que vigiavam os terrenos, do alto das torres. Tinha usado aquela saída para libertar Photon, o jovem ofídio usado por Snape em suas torturas, algum tempo atrás.


Não demorou a chegar na floresta. Aguçou seus sentidos de predador enquanto observava a escuridão à sua frente. Puxou a varinha e olhou uma última vez para o castelo. Decidiu que se fosse o seu destino, um dia regressaria. Estava deixando os amigos para trás mas seu ato devolveria a liberdade a eles.


Concentrou-se no caminho que tinha pela frente, seu caminho. Não iria permitir que decidissem sua vida, quem poderia ver ou não, nem quando. Coberto pela capa, cruzou a floresta atento aos estranhos e novos sons que ela continha.

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