Nottinghan



 * *

– Nós não viemos para brigar – Harry a lembrou enquanto seguiam pela floresta de Nottinghan, estava começando a se sentir nervoso com aquele encontro. Pensou nos amigos e no que poderia encontrar ali.


– Não se preocupe com isso – ela continuou em alerta, atenta a todos os ruídos e sons. – Seus amigos são meus amigos também.


Harry olhou para ela, pensativo, depois voltou a se concentrar no caminho que percorriam.


– É por aqui – Harry avisou após sentir os feitiços defensivos do local – Esta é uma área protegida.


– Protegida? Quer dizer que aqui estaremos a salvo? – Irina perguntou a ele.


– Quer dizer que eles estão a salvo, nenhum bruxo pode aparatar aqui dentro, aparecendo de surpresa. – Harry explicou.


– Eles também não se atrevem a aparatar de surpresa em nossa casa e não precisamos de feitiços para isso – comentou orgulhosa.


– Ninguém seria tão louco... – Harry concordou. Continuaram avançando de mãos dadas. – Ksenya é a garota que você criou como filha? – lembrou-se dos comentários de Ubayd e Pável.


– Minha garotinha – confirmou com um sorriso.


– Ela parece ser bem mais velha.


– Teoricamente, ela tem vinte e seis anos e eu, dezenove.


– Como foi que aconteceu? Ela quis se transformar...? – Harry parou de falar, o sorriso nos lábios dela desapareceu. – Deixa que eu falo com ele – pediu.

Seguiram caminhando calmamente até a árvore, da qual ele os espiava.


– O que querem aqui? Estão perdidos? – ele os encarou desafiadoramente, suas roupas eram surradas e apesar do frio, estavam rasgadas em diversos lugares.


– Estou procurando Remo Lupin – Harry adiantou-se soltando a mão de Irina para que ela ficasse para trás.


O homem inclinou a cabeça fitando-o atentamente, aproximou-se.


– Você é Harry Potter... – estendeu-lhe a mão.


– Sou – Harry aceitou o cumprimento – Ele está bem? Está aqui?


– Ele está na cabana dele... – informou. Harry sentiu alívio ao ouvir aquelas palavras, o homem olhou em volta, passou os olhos por Irina, cumprimentando-a com um aceno. – Mas não quer receber visitas. Não tem recebido ninguém.


– Eu só quero vê-lo, preciso falar com ele...


– Para isso ele teria que convidá-lo, só alguém do bando pode indicar a localização de alguém desta colônia – o homem coçou o pescoço e olhou novamente ao redor, ainda incomodado.


– Sei... – Harry achou a descrição familiar, lembrou-se que tinha sido Raven quem os ajudara a se reunir. – Então você pode me dizer como encontrá-lo.


– Posso, mas vai ser mais seguro pra vocês se voltarem daqui – aconselhou-o. – Não estamos numa boa fase, entende? E nossa floresta já está ficando muito visitada...


– Estão tendo problemas com Comensais, aqui também é restrito o uso de magia?


– Eles não vêm aqui. E se vierem não terão como nos localizar.


– Isso é bom – comentou mais tranquilo – Mas vim para vê-lo e é isso o que pretendo fazer.


– Claro... e não serei eu a te impedir. Acredito que ele irá abrir uma exceção para você, Remo te considerava muito... é só seguir por esta trilha e pegar o caminho da direita quando ela se dividir. Você verá alguns móveis quebrados, estão exatamente em frente à casa.


– Está bem, obrigado.


– Boa sorte – ele afastou-se novamente, mas continuou em alerta.


– Ele disse que há móveis quebrados, é provável que ele esteja violento, mas não se assuste, a lua os afeta também durante o dia. Esse também estava bem estranho...


– Estava reagindo instintivamente à minha presença – Irina comentou, ainda compenetrada no percurso que faziam. – É natural.


– Então... que bom que ele não desconfiou de você... – Harry começou a considerar a segurança dela.


– Eles nunca desconfiam de cara. Antigamente me tratavam como se eu fosse uma jovem perdida necessitada de cuidados, agora me olham como se eu fosse apenas uma adolescente rebelde – reclamou – Talvez eu tenha que passar a usar mais armas...


A casa tinha aspecto de abandono, a neve enfeitava alguns dos móveis que haviam sido lançados para o lado de fora, as cortinas esvoaçavam na janela, a porta, semiaberta, balançava com o vento. Parou à entrada enquanto seus olhos se acostumavam com o ambiente. Chamou por ele. Um rosnado baixo veio de algum lugar à esquerda.


– Vai embora! Não estou precisando de nada – a voz dele soou no cômodo ao lado.


Avançaram pelo hall até chegar à porta, Harry espiou pela porta da direita, um cômodo quase vazio, entrou pela porta à esquerda, onde ficava a sala. Havia um vulto coberto, sobre o sofá. Algumas poltronas viradas, uma delas com marcas de dentes. A neve entrava pela janela aberta, as cortinas tremulavam, rasgadas em tiras, apenas uma das mesinhas de canto ainda estava de pé e ornamentada, um dos poucos toques femininos que restara ali.


– Quem está aí?! – ele ergueu-se sobre o cotovelo afastando a coberta, apontou a varinha para a porta.


– Sou eu, Harry... – respondeu estudando sua fisionomia, estava sujo, barbudo e magro como nunca o vira antes – Esta é...


– Irina, do Clã de Strickland – ela se apresentou – Venho em paz.


– Como conseguiram chegar até aqui? – Lupin alternou o olhar entre eles como se desconfiasse de suas identidades. Harry atravessou o cômodo e se ajoelhou ao seu lado.


– Recebemos permissão para entrar... O que aconteceu? – estava aliviado por encontrá-lo vivo, porém seu estado era o de um moribundo.


– Vocês não deveriam estar aqui – Lupin se endireitou, sentando-se, Harry ficou olhando para suas pernas, chocado demais para desviar o olhar.


– Como...? – Harry ergueu a mão para tocá-lo mas Lupin a afastou, puxou novamente as cobertas para se cobrir.


– Vai embora – baixou a cabeça sem querer encará-lo.


– Como isso aconteceu? – perguntou já adivinhando a resposta.


– Eu fui inútil... Não consigo ser um homem, nem agir como um lobisomem de verdade, só isso... Pegue sua amiga e vá embora, sabe que está se arriscando ficando aqui.


– Onde está Tonks? – esforçou-se para manter a voz firme e olhou ao redor reparando uma porta fechada que levava a outro cômodo.


– Ela se foi... – Lupin deixou-se cair novamente sobre as almofadas.


– Como assim, foi pra onde? Você está doente... – Harry não quis acreditar que Tonks o deixaria naquele estado.


Irina caminhou até a janela e a fechou após observar o lado de fora.


– Não quero ninguém aqui... – Lupin sussurrou para o vazio. – Eu a mandei embora – fechou os olhos – Não quero você aqui também...


Harry o deixou com seus pensamentos, fez sinal para que Irina o acompanhasse. Entrou no cômodo da direita e passou os olhos pelas duas cadeiras quebradas que estavam ali, as outras e a mesa estavam do lado de fora, semi-cobertas pela neve. Irina entrou na cozinha e ele a seguiu.


– Ele precisa de mim, está doente, não posso deixá-lo assim. – Harry explicou a ela esperando que ela entendesse.


– Ele desistiu – ela pegou os restos de uma refeição que estava estragada sobre a mesa e a jogou fora – Não quer que ninguém o assista morrer...

Harry levou a mão ao peito e deixou-a cair, frustrado, esfregou os olhos.


– Não vou desistir dele...


– Ficaremos então – ela aceitou naturalmente – Cuidaremos dele enquanto é dia.


– Vou preparar algo que possa ajudá-lo a se recuperar, uma poção...

Harry pegou o Lord na mochila e o desfolhou nervosamente até achar o que procurava, abriu os armários fazendo um levantamento do que poderia usar. Irina despiu a capa e se ocupou com a despensa.


– Vou caçar algo para vocês – ela anunciou antes de sair.


Harry lançou um breve olhar para a porta dos fundos que voltava lentamente ao batente e continuou separando os ingredientes, não tinha tudo o que precisaria.

Lembrou-se que deveria haver outros bruxos por ali, ao menos um dos outros quatro que existiam no bando. Alguém teria que lhe dizer onde encontrá-los, decidiu perguntar a Lupin. Irina aproximou-se dele e o surpreendeu com um beijo.


– Que tal o gosto do meu beijo? – ela perguntou com curiosidade. Ele franziu a testa estranhando sua pergunta.


– Gosto dos seus beijos...


– Eu sei, mas gosta mais agora, ou antes? – ela aguardou sua resposta olhando-o com ansiedade. Ele voltou a beijá-la, lenta e carinhosamente.


– Está com um gosto diferente – ele constatou – Agora, eu acho... por quê? O que você fez?


– Você prefere lebre a cordeiro – Irina colocou o animal abatido sobre a pia.


– Por que fez isso? – Harry reclamou. Ela voltou a atenção para a sua caça.


– Queria saber se você se adaptaria ao gosto diferente – respondeu chateada – Quando estamos em campo nos alimentamos do que encontrarmos... Quer que eu o cozinhe? – perguntou indecisa.


– Ainda somos humanos – Harry sussurrou, ficou um tempo olhando, pensativo, enquanto ela separava os utensílios.


Acendeu o fogo quando ela levou a panela com água ao fogão e dirigiu-se para a porta. Voltou e a beijou demoradamente.


– Posso me adaptar a você.


Irina sorriu vendo-o sair, pegou os ingredientes para o preparo do cozido.




– Lupin... – Harry chamou ao seu lado, ele ainda mantinha os olhos fechados e os abriu lentamente.


– Harry... Você está diferente – Lupin passou a mão pelo seu cabelo.


– Você também mudou. E como lobisomem também... – lembrou dos restos encontrados sobre a cama de seus tios, o que restara de suas pernas.


– Estou envelhecendo...Onde estão Rony e Hermione?


– Eu não sei onde eles estão agora, mas ouça, quais dos seus amigos, aqui do bando, são bruxos?


– Eu não quero ver ninguém, isso aqui não é lugar pra você, por que ainda está aqui? – Lupin perguntou a ele. Harry tentou sentir sua temperatura para ver se ele estava a delirar de febre, mas ele não permitiu.


– Porque a briga com Fenrir também não era sua, você não deveria tê-lo desafiado e mesmo assim o fez, por minha causa.


– Fenrir... – Lupin murmurou entre dentes como se aquele nome o enojasse. – Como sabe que foi ele? Eu proibi qualquer um de...


– Ele me disse – Harry o cortou impaciente – Ele estava na rua dos Alfeneiros, na casa dos meus tios...

– Não sabíamos disso... Não era pra você ir até lá, foi por isso que não contamos sobre eles, você tentaria fazer alguma bobagem, voltar e se entregar...Você nunca aprende, nunca... – Lupin balançou a cabeça em desaprovação – O que faz com alguém como ela? Sabe o que ela é, não sabe?


– Sei. E sei o que você é também! – respondeu surpreso e irritado com seu comentário.


– É, tudo isso é culpa minha, se você não tivesse ido me salvar naquele dia, no Ministério, não teria chamado a atenção dele para si... – ele tentou se aprumar, os olhos perdidos e cansados – Eu nunca deveria ter entrado na sua vida.


– Agora é tarde pra isso – Harry levantou-se chateado, ergueu novamente as poltronas, usou a varinha para reparar uma delas e retirou a neve que se acumulara embaixo da janela. – Por que isso aconteceu? Os curandeiros não puderam fazer nada?


– Não temos curandeiros entre nós, foi feito o melhor que se podia.


– Ninguém te levou a um hospital... – murmurou revoltado percebendo o motivo óbvio para isso ter acontecido, aproximou-se novamente – Deixe-me ver, talvez eu possa ajudar...


– Sai daqui, não preciso da piedade de ninguém! – Lupin o empurrou e desceu ao chão, abriu a porta, existente no cômodo, com a ajuda da varinha e se arrastou para dentro do quarto.


Harry resistiu ao impulso de tentar ajudá-lo, voltou para a cozinha decidido e pegou a mochila, revirou-a espalhando seu conteúdo no chão até achar o que estava procurando, pegou o espelho e chamou por Sirius, repetidas vezes, até que alguém o atendeu. Alguém com as orelhas grandes como as de um morcego e olhos esbugalhados do tamanho de bolas de tênis.




– E quando Dobby soube que Harry Potter tinha sido atacado no Beco Diagonal resolveu ir até os Black, porque pensou que Harry Potter voltaria para casa, para receber cuidados, mas Harry Potter foi à Hogwarts – Dobby terminou seu relato enquanto ele preparava a poção.


– Fico feliz que esteja gostando de trabalhar para eles – Harry comentou.


– Eles precisam de Dobby – respondeu orgulhoso – Raven... Sra. Black – corrigiu-se – disse que terão muitos filhotes, alguém tem que cuidar deles, coitadinhos, os pais são tão... – levou a mão à boca e baixou as orelhas envergonhado.


– Tudo bem, eles são sim – Harry o segurou antes que pudesse se infligir algum castigo. – É bom que fique por perto. Agora você tem que ir, Dobby, antes que um deles volte e perceba sua ausência.


– Dobby é livre para ir e vir quando quiser... – comentou sorridente – Quando Harry Potter voltará para casa?


– Eu não sei – suspirou – Pode usar o espelho para falar comigo sempre que precisar – pegou o jarro de barro sobre a mesa – Ele vai precisar tomar mais disso?


– Não, uma dose é suficiente – Dobby aceitou o pote de volta – Mas Dobby desconfia que a doença dele não seja mais física – cochichou – É devido às perdas que sofreu. Harry Potter é muito corajoso ficando para cuidar dele nessa fase. Os Black e a senhora dele vinham todos os dias, até que ele os proibiu...


– Faz um favor pra mim Dobby, não conte que estive aqui.


Harry despediu-se dele. Encheu uma taça com a poção e a levou até Lupin. Caminhou até o quarto reparando os móveis, reparados e postos em seus devidos lugares, a casa parecia muito mais acolhedora, Harry imaginou que, pelo menos, ele teria como se distrair agora, destruindo-os novamente.

Irina e Lupin fizeram silêncio quando ele entrou. Ela recolheu a bandeja e Harry se aproximou com a taça, fez com que ele bebesse.


– Desculpe-me, por tudo – Lupin pediu a ele.


– Não há nada para ser desculpado – Harry disse a ele – Mas vocês poderiam confiar mais em mim, eu poderia tê-los salvado se eu soubesse. Poderia ter recuperado e devolvido a horcrux a Voldemort antes que fosse destruída, não foi isso o que ele exigiu em troca?


– Ele não exigiu nada. Conseguiram invadir a casa e os levaram, chegamos tarde – murmurou com a voz cansada.


– Tá... tudo bem... – Harry segurou sua mão e ficou lhe fazendo companhia até que adormecesse, pensando em como tudo aquilo não fazia sentido.


Quando voltou à sala encontrou Irina sentada em uma das poltronas, olhando para a janela. Sentou-se aos seus pés e pousou a cabeça em seu colo e assim permaneceu enquanto ela afagava seus cabelos.


– Tirou suas dúvidas com ele? – ela perguntou.


– Ele não está em condições de me esclarecer nada...


O som vindo do lado de fora o pôs em alerta, sentiu ela se enrijecer também, atenta. Levantou-se e foi até a janela, havia onze deles do lado de fora, suas roupas e expressões selvagens deixavam claro quem eram, caminhavam a esmo reclamando um com os outros e brigando.


– Um desperdício de força – ela comentou ao seu lado.


– Não parecem ser daqui... acho que são do bando de Fenrir – Harry comentou – Fique aqui.


Saiu pelos fundos e foi até eles, ver o que queriam. O homem que tinha lhe passado a localização da casa, Malthus, também se aproximava acompanhado por mais dois. Harry cumprimentou os três enquanto o bando de Fenrir os avistava e se dirigia a eles.


– Harry Potter, soubemos que estava com Lupin – falou o mais velho deles, Perdicas – Volte para perto dele, vocês não poderão ficar aqui, terão que sair antes que anoiteça.


– Harry Potter...


– O que vieram fazer aqui em nosso território? – Perdicas se dirigiu ao bando recém chegado.


Harry sentiu uma tensão estranha entre eles enquanto se olhavam avaliando-se. Lançou um rápido olhar para o alto da árvore mais próxima.


– Sabemos que Greyback está morto – disse um deles – Temos direito ao corpo, ele era nosso líder.


– Ele não morreu neste lugar – Harry declarou.


– Não sabíamos de sua morte – Perdicas afirmou após uma breve troca de olhar com os companheiros – E se soubéssemos, não iríamos degustar de sua carcaça, ele feriu um dos nossos.


– Remo ainda vive? – espantaram-se – Deveriam ser misericordiosos e acabar com o sofrimento dele.


– Ninguém fará isso! – Harry rosnou para eles, sentiu o corpo tenso e suas unhas começarem a ferir a palma de sua mão fechada.


– Não – Perdicas concordou – Lupin já decidiu isso. Ele quer que seja assim e nós respeitamos sua vontade. Não há mais nada que se possa fazer – acrescentou para Harry.


– Você teve sorte, garoto, Fenrir estava te caçando...


– Ele é que teve sorte, por eu ter lhe dado uma luta justa e uma morte rápida! – declarou em desfio.


Irina saltou para o chão e se aproximou de Harry, segurava firmemente o punho de seus sais.


– O corpo dele não existe mais, foi cremado. Mesmo assim, seu último suspiro foi sob a forma humana, não teriam motivos para devorá-lo – Irina passou os olhos pelo grupo estudando-os, eles se agitaram incomodados e se afastaram cautelosamente.


– O que ela faz aqui? Não andamos com eles – um deles cuspiu na direção dela.


– Mas eu sim! – Harry rosnou, ultrajado, mostrando as presas em desafio, sentiu seu corpo começar a queimar.


– Relaxe... – Irina pediu em seu ouvido – Acalme-se.


– O que você é agora? – perguntou Malthus – Um de nós ou um deles?


– Não vamos seguir um híbrido!


Harry olhou para eles e encolheu as garras.


– Vocês me seguiriam? – perguntou com interesse ao ex-bando de Fenrir.


– Não temos mais o apoio do Lorde das Trevas, isso nos deixa expostos, Fenrir era quem estava se encarregando disso – disse um deles – Você derrotou o nosso líder, isso te torna um novo líder até que um de nós te desafie e vença... – eles se olharam esperando que alguém se prontificasse.


– Desde que seja um de nós! – um deles os lembrou.


– Talvez eu seja... – Harry considerou.


Irina girou os sais nas mãos, testando suas habilidades descontraidamente enquanto se conformava com a luta perdida.


– Mas vocês não devem andar juntos por aí, não é da natureza de vocês e isso só piora as coisas. – Harry olhou para Perdicas.


– Não há espaço para tantos em nosso território – disse Perdicas – Mas podemos orientá-los a formarem sua própria colônia, em outro lugar, tão seguro quanto...


Harry ficou em silêncio por um tempo avaliando a situação que tinham ali.


– Pretendo fazer algo para acabar com toda essa perseguição contra nós – ele declarou – Estou pensando em uma coisa, mas é algo perigoso e não há certeza de sucesso, mesmo assim quero tentar. Gostaria de poder contar com a ajuda de vocês, se estiverem e dispostos a lutar ao meu lado.


– Não estamos todos aqui, agora, para decidirmos isso – disse Perdicas – Mas devemos a você nossas vidas, acredito que poderão concordar.


– Eu prefiro tentar e morrer a não tentar e morrer da mesma forma – disse Icos – Não temos um futuro certo em nossas condições, estamos abandonados aqui. – O bando de Fenrir concordou com ele.


– Diga-nos o seu plano – pediu Malthus.





– Hermione tem razão, você sabe tornar o simples existir em algo muito emocionante – disse Irina.


– Ela nunca me disse isso – Harry respondeu, espantado, enquanto voltavam para a cabana.


– Disse, mas sob um ponto de vista diferente... Você estava prestes a se transformar na frente de todos eles, tem noção disso, não?


– E daí? Ele ofendeu você, então ele ofendeu a mim também.


– Percebeu que estamos cercados? E que embora sem o efeito da lua eles preservam seus instintos, todos canis, e que cães caçam gatos?


– Não sou um gato – dirigiu-se para a cozinha e pegou a mochila enquanto ela vestia novamente a capa – Sou um tigre.


– E eles não são cães, são lobisomens, iria parar para explicar a diferença? Não sou boa com as palavras, gosto mais da ação...


Harry foi para fora e deixou a mochila cair na neve enquanto a esperava.


– O que foi? – Irina perguntou ao seu lado.


– É verdade, eu não me enquadro, nunca... Todos eles são canis, Lupin, Sirius, Tonks, Raven e John, eu sou o único felino... Mas quer saber, você tem razão, eu não tenho que mudar pra tentar fazer parte de um lugar ao qual não pertenço, posso encontrar meu próprio lugar, e fazer as coisas do meu jeito.


– Que bom que entendeu. Eu me assumi há muito tempo, por isso sobrevivi até hoje, você deve fazer o mesmo – ela o aconselhou. – Às vezes é necessário abrirmos mão de algumas coisas para conseguirmos alcançar outras mais à frente. – Irina ficou olhando para ele enquanto ele fitava a neve hesitantemente.


– Certo... – ele concordou, por fim, e virou-se para a casa. – Eu sei que devo fazer isso, mas...


– Faça o que tiver que fazer, eu aguardarei aqui.


Harry entrou novamente e foi até o quarto onde Lupin ainda dormia. Ajoelhou-se ao seu lado e tocou seus cabelos já totalmente grisalhos, as dificuldades e a constante luta pela sobrevivência tinham sugado muito dele.


– Desculpe, meu velho amigo, não posso deixar que continue sofrendo. – Harry murmurou ao seu ouvido. Lupin se mexeu lentamente, ressonando, e continuou a dormir. Harry se levantou e sacou a varinha.





– Você está muito cansada? – Harry segurou sua mão e a conduziu para que saíssem logo dali.


– Na verdade estou... – disse Irina – Mas o que quer fazer agora?


– Lembra da casa que comentei com você, da família Riddle? – Harry a ergueu nos braços e se impulsionou para o alto, rumo ao céu da tarde.


– O casarão velho e abandonado? Totalmente vazio... – Irina comentou entusiasmada – Você é muito romântico, sabia? – Harry desviou o olhar para ela sentindo-se corar.


– Irina... estou pensando em procurar a horcrux, lembra que eu comentei com você? Quero verificar aquele lugar, ele não me sai da cabeça. Sinto que devo ir até lá, só para ter certeza.


– Ah, claro... a gente pode fazer isso também... – ela aninhou-se em seus braços.


Quando ele sentiu que tinham atravessado o escudo, aparatou.


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