De volta a Hogwarts



Harry saiu da lareira engatinhando, o local era escuro, tentou afastar o que lhe pareceu ser uma poltrona velha e mofada e um castiçal caiu sobre a sua cabeça. Hermione logo surgiu às suas costas.


– Espera, é apertado aqui – sussurrou para ela. Rony logo surgiu empurrando a ambos.


– Que droga! Quem deitou a lareira? – reclamou Rony.


– Shh! – Hermione o repreendeu. Ficaram em silencio por um tempo, não ouviram nenhum barulho. – Que lugar será esse?


– Parece um depósito de bagulhos... – Rony abriu caminho lentamente, saindo de debaixo dos objetos descartados. Era um amplo salão, a lareira tinha sido jogada de qualquer jeito entre os outros objetos que tinham sido descartados durante os anos de existência de Hogwarts.


– É um lugar estranho... – Hermione caminhou por um dos corredores formados por bens inservíveis. Harry se ergueu acima das pilhas observando o local – Onde fica a saída?


Harry os guiou até a porta, espiaram por uma brecha e após ele vestir sua capa de invisibilidade, saíram para o corredor, estava deserto àquela hora. Harry parou em frente à pintura de Barnabás, o Amalucado, e aspirou profundamente o ar, era como voltar pra casa.


– Que bom que estava na Sala Precisa e não na do Filch. – Rony seguiu pelo corredor, confiante, e Harry e Hermione o seguiram.


– Onde estão os alunos? – Hermione perguntou quando chegaram ao próximo corredor igualmente vazio. Olhou pela janela, nevava e ventava muito, os alunos deveriam estar dentro do castelo, mas não ouviam nenhum movimento.


Hermione pegou a moeda novamente e a usou para enviar uma mensagem. Ouviram passos de alguém que se aproximava, Rony e Hermione instintivamente procuraram abrigo atrás de uma das tapeçarias, que na verdade era uma falsa passagem secreta para lugar nenhum.


Harry observou o homem, com a insignia do Ministério, se aproximar e desaparecer na outra extremidade do corredor, chamou os amigos. Saíram cautelosamente, Harry foi até o hall verificar se alguém mais estava por ali.


O retrato da mulher gorda girou lentamente e um rosto familiar apareceu, Neville gesticulou enfaticamente para que eles se aproximassem, entraram e deixaram que a passagem se fechasse.


– Hermione, Rony! – os cumprimentou com um sorriso. Seus colegas cercando-os ansiosos. – Vocês estão diferentes...


– Você também – Rony reparou que ele parecia mais velho do que realmente era, seu olhar parecia cansado.


– Por que estão todos aqui dentro? Os corredores estão vazios... – Harry perguntou retirando a capa.


– Harry!! – saudaram-no com entusiasmo.


– Você conseguiu se livrar deles! – Colin o cumprimentou entusiasmado.


– É, eu fugi... – ficou contente com a recepção acolhedora, deu uma volta pelo local matando a saudade.


– Mas há muitos deles aqui, agora – Simas comentou. – Talvez não tenha sido uma boa ideia vir para cá.


– Eles estão em Hogwarts?! – Hermione se espantou lançando a Harry um rápido olhar de preocupação.


– Estão sim, os aurores passaram a patrulhar dentro do castelo também, vocês tiveram sorte de não serem pegos – disse Dino.


– Ah... – Hermione se tranquilizou. – Mas hoje é sábado, é dia dos alunos ficarem à vontade.


– Nenhum aluno pode circular pelos corredores sem autorização – Neville esclareceu – O Ministério tem atuado em Hogwarts, eles patrulham os corredores verificando se estão todos obedecendo às regras, até os fantasmas foram proibidos de circular por todo o castelo.


Os três se entreolharam surpresos.


– O Ministério tomou conta de Hogwarts? E o Professor Snape? E a McGonagall? – Rony indagou.


– O Professor Snape continua assumindo temporariamente o cargo do Diretor, só que ele parece estar se dando muito bem com os aurores.


– Então... ele está tentando tirar vantagem para si mesmo, fazendo um jogo triplo talvez – Harry concluiu.


– E a Professora McGonagall?– Hermione insistiu.


– Ela não fica aqui nos fins de semana, dizem que está com um primo muito doente e precisa se ausentar frequentemente para cuidar dele... Vieram para falar com ela? – Neville consultou o relógio.


– Também. Onde está minha irmã? – Rony passou os olhos pelo grupo.


– Ela e Draco foram pegos tentando deixar o castelo, estão cumprindo detenção.


– Fugindo!? – espantou-se Hermione.


– O que Draco está fazendo aqui, em Hogwarts? – Harry perguntou a Neville.


– Ele voltou este ano, não é de se espantar que queira fugir, os aurores têm pegado pesado com os alunos da Sonserina, principalmente com os filhos de Comensais presos ou conhecidos...


– E Gina queria encontrar vocês – informou Parvati. – Estamos tentando bolar um plano de fuga, mas ela não quis esperar.


– Estão?! – Hermione perguntou chocada. – E pra onde vocês iriam? Eles não deixariam que fugissem da escola desse jeito, ainda mais em grupo, iriam até suas casas – Hermione os censurou.


– Estar lá fora é perigoso, vocês devem continuar aqui – Rony concordou.


– Nós sabemos disso, o Ministério cancelou as férias de natal por causa dos ataques, estão tendo dificuldades em controlar as coisas lá fora, mas eu prefiro estar com a minha família – disse Lilá.


– Como podemos ficar aqui, em segurança, sem saber se eles estão a salvo? – Simas completou – A entrada e saída de correspondência foram reduzidas por medida de segurança, somente em caso de necessidade podemos enviar e receber corujas, e sob a supervisão de um auror...


– Entendo que vocês queiram sair – Harry tentou argumentar – Anda mais tendo Snape como diretor, mas...


– Snape não tem sido o principal problema – Neville explicou – São os aurores...


– É – Jaquito concordou. – Pelo menos o Professor Snape não permitiu que nos impusessem correções físicas, como eles estavam planejando. Eles acham que tortura é o método ideal de manter a disciplina e a obediência.


– Por que Snape permitiria? Eu não estou mais aqui... – Harry concluiu revoltado. – Dumbledore precisará de vocês quando regressar, acredito que o Ministério não irá facilitar as coisas, ele precisará de apoio para conseguir reassumir o cargo. Vocês são a Armada dele! – Harry tentou convencê-los a ficar.


– Dumbledore nos abandonou... – murmurou uma garotinha do segundo ano.


– Não é verdade! Ele está tentando encontrar um meio de deter Vold... Você-Sabe-Quem – Harry passou a mão pelo queixo desejando que o Diretor realmente ainda estivesse.


Ouviram uma voz ecoando no castelo, autorizando a saída dos alunos para o almoço.


– Vamos – Neville se levantou convidando-os – Gina será liberada agora, poderão encontrá-la no Salão Principal, depois do almoço recebemos autorização para circular pelo castelo, somente até a hora da próxima refeição.


– Será arriscado – Harry advertiu a Rony e Hermione. – Vocês poderão ser reconhecidos.


– Se ficarem separados é provável que eles não notem vocês – Simas os tranquilizou. – O principal alvo deles têm sido os sonserinos.


Saíram todos juntos, Harry continuou sob sua capa. Passaram por três aurores, nenhum deles perdeu tempo inspecionando o grupo, que descia em absoluto silêncio.


Reuniram-se ao grupo, também silencioso, da Corvinal, respeitando aos novas normas impostas pelo Ministério. Luna abriu caminho entre os colegas para se aproximar de Neville, segurou sua mão e lançou um sorriso para Rony, Hermione seguia mais à frente com Parvati e Lilá.


– Vieram para ficar? – Luna sussurrou a ele.


– Não, só vamos falar com a Gina...


– Enquanto isso vou verificar algumas coisas – Harry sussurrou quando sentiu a presença de dois Comensais dentro do Salão Principal. – Quero ver as correspondências que Snape disse ter recebido de Dumbledore.


– Hã!? – o som de sua indignação, no saguão silencioso, atraiu a atenção do auror que estava na entrada. Rony baixou a cabeça se encolhendo enquanto Harry se afastava.


Deslizou pelo saguão, evitando esbarrar nos alunos que passavam e desceu para a cozinha. Não sabia a senha para o acesso à sala do diretor, estava contando com a ajuda de Dobby. Foi inicialmente ignorado pelos elfos-domésticos, que continuaram seus serviços evitando olhar em sua direção. Só após parar um deles conseguiu a informação de que Dobby não trabalhava mais lá, tinha deixado Hogwarts há dois dias.


– Você recebeu autorização para estar aqui? Não é permitido atender aos alunos na cozinha. – Harry se retirou quando começou a receber olhares zangados, vestiu novamente sua capa. As mudanças que tinham acontecido em Hogwarts o deixavam irritado, não se espantou pelo amigo querer sair de lá.


Parou à porta da sala de Snape, passou a mão por ela tentando identificar o feitiço que a protegia, achou-o bem complexo, não conseguiu anulá-lo de imediato, lembrou-se da advertência de Draco, quanto a proteção lançada por Snape, ficou curioso, mas resolveu não perder mais tempo ali, saiu pela janela.


Fechou a janela, retirou a capa e circulou pelo local reparando os móveis. Os pertences de Dumbledore ainda estavam todos lá, apenas o poleiro de Fawkes estava vazio.


Hesitou em frente à mesa, na qual o tinha visto tantas vezes, não lhe pareceu correto mexer nos objetos pessoais do diretor, mas precisava fazê-lo.


– Você tem autorização para estar aqui, garoto!?


Harry sentiu seu coração saltar dentro do peito com a interrupção inesperada.


– O Diretor logo aparecerá – a imagem no quadro do antigo diretor de Hogwarts, Armando Dippet, insistiu tentando amedrontá-lo.


– O Diretor de Hogwarts é Alvo Dumbledore, e ele não está aqui para me autorizar ou não – Harry respondeu a ele se ocupando em olhar os papéis sobre a mesa.


– Ora... Você não é o …


– Não sou ninguém! – ergueu os olhos em direção à voz familiar mas seu quadro estava vazio.


– Não pode fazer isso! É um desrespeito ao Diretor! – Dilys reclamou ultrajada.


– Eu só quero saber notícias dele... – Harry percorreu, com os olhos, os quadros nas paredes.


– Então, jovem, deveria perguntar ao atual Diretor substituto, é ele quem recebe as correspondências.


– Como sabem que a correspondência é mesmo de Dumbledore? Não poderia …


– Se é a própria fênix dele quem traz, de quem mais poderia ser? – Everardo respondeu com irritação. – Que autoridade tem para levantar uma acusação contra um Diretor, mesmo que substituto?


Harry não respondeu, quanto àquele fato não havia contestação, já que era Fawkes quem trazia as mensagens. Só quis ter certeza do que elas continham. Vasculhou as gavetas e móveis ignorando os protestos. Encontrou-as depois de algum tempo, passou os olhos pelas cartas confirmando o que haviam dito, era realmente a letra dele.


Sentou-se à mesa e leu detalhadamente uma das cartas na qual pedia notícias suas. Não conseguiu deduzir muito sobre sua opinião através da simples pergunta, impacientou-se de curiosidade por querer saber qual resposta tinha recebido.


Um burburinho começou a subir até onde estava, como se o castelo, de repente, começasse a despertar. Desceu as escadas e saiu para o corredor.


– Oi Ana – Harry a cumprimentou quando passou por um grupinho de alunas da Lufa-lufa.


Ela demorou a responder e mesmo assim o fez sem certeza de o conhecer, resolveu arriscar. Estava sem os óculos e trazia os cabelos castanhos, quase dourados, como os de Irina.


Vários alunos se espalhavam pelos corredores, agora em murmúrios e burburinhos controlados. Desceu as escadas reparando a todos, ninguém lhe deu atenção. O castelo estava cheio devido ao mau tempo, seria mais difícil que alguém o percebesse, puxou o cordão e enviou uma mensagem.


Foi até o corredor do sexto andar e aguardou enquanto seus amigos subiam para encontrá-lo, pegou o mapa, em um dos bolsos, e confirmou a localização deles. Tentou se manter fora do caminho enquanto aguardava e se concentrava sentindo sua aproximação, logo eles apareceram no corredor, com Draco, Gina, Neville e Luna. Franziu a testa, incomodado, enquanto reparava o quanto eles tinham mudado e crescido.


Draco paralisou encarando-o enquanto os outros avançavam, Gina se adiantou, destacando-se dos demais enquanto o olhava surpresa, um sorriso tímido se esboçando em seus lábios. Harry também se adiantou alternando o olhar entre ela e Draco, que continuou parado, o rosto ficando rubro seus olhos se estreitando.


– Harry... ? – Gina pronunciou baixinho quando se aproximaram.


– Agora não, Gina.... – pediu nervosamente enquanto passava por ela e se aproximava rapidamente de Draco, que já havia levado a mão ao cabo da varinha.


Harry o segurou pelo colarinho com uma mão, empurrando-o para dentro de uma sala vazia, com a outra manteve seu braço esquerdo longe o suficiente. Os cinco continuaram parados no corredor, sem entender o que tinha acontecido. Luna sorriu para os alunos que tinham parado para observá-los.


– Eles só vão conversar... – Luna disse a eles. Neville os dispensou com gestos pedindo que se afastassem antes que chamassem a atenção dos aurores ou professores.


Entrou na sala em seguida, atrás dos demais.


– Draco... você não pode fazer isso – Harry o encarava com ferocidade. – Pense nos outros alunos!


Draco negou lentamente com uma careta se esforçando para se conter, tentou se desvencilhar enquanto puxava a varinha.


– Qual o problema? – Rony jogou Draco contra a parede imobilizando-o.


– Olhe para mim – Harry pediu a Draco, encarando-o nos olhos. – Eu te libero, você não precisa fazer isso...


Ele inspirou com alívio, seu corpo relaxou e Harry puxou o braço de Rony para que o soltasse. Draco escorregou um pouco pela parede e apoiou as mãos nos joelhos.


– Desculpe... – murmurou envergonhado. – Não podemos desobedecer a uma ordem direta.


– Eu entendo – Harry continuou em frente a ele observando-o enquanto suas feições voltavam ao normal.


– Por que ainda não resolveu esse problema? – Draco massageou o antebraço esquerdo incomodado.


– Qual?


– O Lorde das Trevas! – disse com irritação. – O que está esperando? Até quando vamos ter que aguentar isso?


– Eu estou tentando, tá legal?! – Harry reclamou.


– E o que conseguiu até agora? – Draco o fuzilou com o olhar acusadoramente.


Harry cerrou o maxilar com indignação mas manteve-se em silêncio.


– Quem você pensa que é para fazer cobranças?! – Rony lhe lançou um olhar mortífero. Draco ergueu-se se afastando.


– Os Weasley não quiseram me deixar destruir as horcruxes, os gêmeos ainda estão escondendo uma delas, você já a destruiu? – Draco se aproximou de Harry ainda mantendo um olho em Rony.


– Ainda não... – Harry ergueu os olhos para o teto e massageou a nuca. – Vou deixar aquela por último e me concentrar em encontrar as outras duas.


– E você, Draco? – Hermione inqueriu – O que veio fazer aqui?


– Meus pais fizeram questão, acham que é o lugar mais seguro...


– Seguro? Junto aos funcionários do Ministério? – Rony estranhou.


– Longe do Lorde das Trevas!


– Foi uma escolha bem estranha – Harry comentou franzindo a testa, o Ministério com toda sua perseguição aos seguidores dele não lhe parecia a melhor opção.


– Diz isso porque possui uma posição privilegiada também aos olhos dele, não é? – Draco acusou. Harry evitou encará-lo e ignorou o tom de sua voz. – Depois que você fugiu minha mãe pôde me contar o que aconteceu na ilha. Você não mudou de lado, mudou?


– Claro que não!! – respondeu irritado. – Perdemos tempo em busca de uma pista antiga, mas agora estamos novamente no caminho certo, vou voltar à ilha e encontrar as horcruxes dele...


– Harry, me dê o mapa – Hermione estendeu a mão para ele. Luna e Neville ainda vigiavam a porta.


– E depois...? – Draco insistiu.


– Depois... os aurores se encarregam do resto... ou Dumbledore... – deu de ombros sem se importar passando o mapa para ela – Vou apenas encontrar as horcruxes e libertá-las.


– Eles não conseguiram detê-lo até hoje, com ou sem horcrux – Draco reclamou – E Dumbledore pode muito bem estar morto agora...


– Eu vi a carta que ele escreveu há vinte dias, sei que está vivo.


– Vinte dias é muito tempo... Ele me disse que Hogwarts era o local mais seguro, contra o Lorde das Trevas, deveria ter se lembrado disso antes de sair... mas chega de ficar se escondendo...


– Vocês vão ficar discutindo até quando? – Gina reclamou. – Harry, eu pensei que estivesse morto...


– Muitos pensaram isso – Harry a interrompeu ainda irritado com as acusações e insinuações de Draco. Olhou para ela, reparando-a – Isso não tem importância agora – voltou novamente a atenção para ele – Seu pai encontrou alguma coisa? O que Voldemort pediu a ele que procurasse?


– Que eu saiba não, já faz algum tempo que falei com eles, mas sei que eles estavam longe, Tibet, acho... Escuta, há praticantes das artes das trevas que foram deixados à margem, estão lá fora, sem proteção – Draco começou a falar ansiosamente – E se rebelariam se recebessem orientação, inclusive os prisioneiros que foram deixados em Azkaban. Você poderia liderá-los.


– Prisioneiros? Liderar!? – Rony estranhou – Do que você está falando?


– É verdade, o Ministério não tem se preocupado em oferecer proteção a todos – Gina confirmou. – Muitos bruxos que estavam fugindo da perseguição do Ministério e criaturas mágicas não recebem proteção contra os dementadores ou Comensais, o Ministério disse que, no momento, só pode atender as prioridades.


– Isso é um absurdo! – Hermione reclamou.


– Por que eu deveria liderá-los?


– Porque você pode! – Draco respondeu impaciente.


– Eu?! – Harry espantou-se – Liderá-los a fazer o quê? Não posso fazer isso...


– Eu quero ir com vocês – Gina cansou de esperá-los e se virou para o irmão.


– De jeito nenhum! Você não vai com a gente! – Rony assustou-se.


– Vocês estão falando muito alto... – Luna reclamou da porta.


– Então, pelo menos, expulse os dementadores de Azkaban – Draco pediu – Não posso fazer sozinho, podemos ir hoje mesmo.


– Você não manda em mim! Eu irei para onde eu quiser! – Gina devolveu irritada.


– Não... – Harry ergueu a mão e se afastou, tentando não pensar naquela responsabilidade – Do que adiantaria expulsá-los, eles se voltariam novamente para os bairros trouxas...


– Gente, temos que ir. – Hermione pediu – Gina, pense nos seus pais, o que eles vão fazer se souberem que também deixou Hogwarts – tentou argumentar com ela – Depois que matarem o Rony por causa disso...


– Tem gente morrendo por sua causa! – Draco o acusou ferozmente – Quanto mais você demora a cuidar disso mais pessoas morrem! Qualquer um pode ser o próximo, depois de Dolohov...


– Dolohov não foi o único que conseguiu fugir? – Rony estava tão alarmado quanto Harry com sua acusação.


– Para ser morto pelo próprio Lorde... Uma honra por tê-lo deixado escapar...


– Chega! – Hermione deu um basta na discussão – Harry coloque sua capa, Tonks, Olho-Tonto e Quim estão lá embaixo, eles podem nos reconhecer. E você... – virou-se para Draco – Não pode acusá-lo de nada! Ninguém tem culpa do que o Lorde das Trevas faz ou deixa de fazer, se ninguém o seguisse e obedecesse, pra começar, isso não estaria acontecendo...


– Hermione, por favor... – Gina tentou apelar enquanto Rony se reunia a Luna e Neville na entrada.


– Não, Gina. Precisaremos de você aqui, para nos dizer o que está acontecendo e nos avisar quando o diretor voltar. Pegue, fique com a minha medalha, ainda tenho a de Harry – Hermione passou por Rony e parou no corredor.


– Vem comigo – Luna pediu a ela – É melhor que se separem. – juntas, seguiram em direção às escadas.


– Harry... – Gina se aproximou dele enquanto ele vestia a capa.


– Desculpe, Hermione tem razão, e eu não posso me responsabilizar por você... – disse a ela enquanto se afastava.


Rony e Neville seguiram juntos, Harry logo atrás, quando chegaram às escadas ouviram o som inconfundível da perna de madeira enquanto ele subia os degraus mancando.


– Bryan, ele pode te ver – Rony o alertou.


– Subam e não olhem para trás – Harry pediu a ele. Virou-se como se fosse descer, viu seu olho azul acompanhando-o quando entrou novamente no corredor.


Seguiu apressado sem se importar em desviar das pessoas, nas quais esbarrava acidentalmente. Viu de relance Draco e Gina, ainda dentro da sala, conversando. Esperou ouvir gritos às suas costas, porém isso não aconteceu.


A janela do sétimo andar se fechou rapidamente depois que entrou, apenas um casal de alunos da Corvinal percebeu o movimento. Rony e Hermione já o aguardavam à entrada da Sala, a porta aberta.


– Onde estão Neville e Luna? – perguntou a eles enquanto cruzava a porta, ainda sob a capa.


– Desceram para tentar ajudar – Rony fechou a porta e Hermione catou a outra moeda na bolsa, para avisá-los. – Deixei o mapa com eles, tudo bem pra você?


– Claro, eles farão bom uso...


– Então vamos, antes que alguém nos descubra aqui – Rony pediu encaminhando-se a um dos corredores de bens descartados.


– Seria  interessante  assistir ao Snape  convocando-o na frente de todos os aurores – Harry retirou a capa e o seguiu – Vê-lo demonstrar sua lealdade...


Saíram em uma viela escura e desconhecida, Hermione instintivamente procurou a mão deles.


– E aí conseguiram? – Fred os saudou entusiasmado – A viela desapareceu e o escritório surgiu novamente, piscaram quando as luzes voltaram.


– Como fizeram isso? – Hermione perguntou a eles – Pareceu tão real...


– Alguma coisa poderia ter dado errado, foi só por precaução – contou Jorge. – Temos nos especializados em ilusões.


– Têm? – Harry estranhou, pensou que estivessem se dedicando à horcrux.


– Então vocês conseguiram ir e voltar... Isso é ótimo! – Fred comentou com Jorge, que sorriu em resposta e ao percebeu o olhar de Harry para ele, cabeceou para o irmão.


– Temos uma coisa pra você – Jorge disse a Harry – Esperamos que isso melhore o seu humor.


Fred tirou a medalha do bolso e a lançou para ele. Harry a pegou e girou entre os dedos diversas vezes, surpreso. Sua cicatriz o estava incomodando, mas não era por causa da medalha.


– Vocês conseguiram...?


– Lógico! – Fred confirmou – Não era isso o que queria?


Rony se adiantou e tirou a medalha de sua mão.


– Maravilha! Eu não falei a vocês? – Rony sorriu para os amigos.


– Como fizeram?! Mostrem-me como! – Harry pediu com urgência.


– Nada disso – Jorge ergueu a mão – Não revelamos nossos truques...


– Mas eu preciso saber!


– Isso é segredo profissional...


– Por quê!? – Rony o interrompeu irritado – Por acaso vão sair por aí oferecendo serviço de desfazedores de horcruxes?


– Isso é importante para mim. – Harry contou a eles a real necessidade de ter aquela informação.


Quando terminou os gêmeos estavam anormalmente sérios e desconfortáveis.


– Vocês deveriam ter nos contado desde o início.


– Desculpem... – Hermione pediu. – Vão poder ajudar agora?


– Não vamos fazer isso! – Jorge afirmou veemente surpreendendo-os.


– De jeito nenhum! – Fred o apoiou – O que fizemos foi só uma experiência, não estávamos nos preocupando se ocorressem falhas.


– Eu não me importo, estou disposto a correr o risco. – Harry pediu.


– Mas nós não! – Jorge ressaltou.


– Eu confio em vocês... Eu sei que vocês podem – Harry afirmou – Nem Dumbledore conseguiu com o anel.


Fred e Jorge se olharam, porém estavam longe de se sentirem elogiados com o comentário.


– Não queremos nos envolver nisso – disseram por fim.


– Não querem me ajudar? – perguntou decepcionado.


– Você parece estar muito bem assim... – Fred desmontou a lareira.


– É, não nos incomoda o fato de você ser especial... – Jorge se dirigiu à porta.


– Droga! Isso não é uma brincadeira!! – a porta se fechou impedindo a saída deles. – O que vocês querem em troca? Façam o preço!


– Calma, Harry... – Hermione pediu segurando o seu braço.


– Não queremos nada... – Fred apressou-se em explicar, mortificado. – Não pode exigir isso da gente, não vamos ficar com essa culpa se algo de errado acontecer.


– Não acredito que possa ficar pior...


– Precisamos pensar a respeito – Jorge pediu enquanto forçava a porta – Vai nos permitir isso ou seremos seus prisioneiros até que concordemos com a sua morte? – perguntou com irritação.


– Deixe-os ir – Rony pediu ao amigo.


– Eles têm razão – Hermione ponderou – Não pode ser feito de qualquer maneira, você não é uma cobaia.


Depois que os gêmeos saíram Harry pegou novamente a medalha. Ficou um bom tempo olhando para ela.


– Dê um tempo a eles... – Hermione pediu observando-o preocupada – Tudo está se ajeitando, as coisas estão indo muito bem – olhou para Rony pedindo ajuda mas ele deu de ombros sem saber o que dizer. – Eles conseguiram com a medalha, é só uma questão de tempo para que descubram como usar isso com você...


– Estou cansado... – colocou a medalha no bolso.


– Claro, você não dormiu esta noite... Por que não vai para o quarto e descansa? – Rony sugeriu.


Harry olhou para eles e concordou com um aceno, não tinha sido aquilo, o que tentara dizer.


– Ele está estranho... – Rony comentou com Hermione depois que Harry se foi.


– Porque ele estaria normal, com tudo isso?


– Reparou que ele não sorri mais? Desde que voltou... – desceram as escadas e foram para a loja.


– Às vezes olho para ele e tenho a impressão de que está quase no limite... – a loja estava vazia, o parque só abria durante a noite. – Vamos procurar um lugar onde possamos ter acesso à cartografia marítima – Hermione sugeriu. – Poderemos entrar pelo portal, mas sair provavelmente não será possível... Precisamos traçar várias estratégias de fuga, teremos que saber a posição da ilha e do que existir nas proximidades...


– Você não está falando sério, não é? – Rony interpelou. – Não quer se meter em uma sala fechada cheia de papéis empoeirados, vamos procurar um lugar com acesso à rede.


– Tá legal... – concordou com um sorriso – Não temos como perguntar a alguém... posso pegar o endereço no site e dar uma olhada nos “papéis empoeirados” enquanto você procura na internet...


Rony retribuiu seu sorriso e lhe agradeceu com um beijo.


 


Harry olhou para a caverna quando ouviu os primeiros caçadores noturnos saírem voando, continuou parado, pensando. Encostou-se na rocha e aspirou profundamente o ar, apreciando o perfume.


– Obrigado por ter vindo – ele disse.


– Fiquei feliz quando recebi seu recado, Tristan tinha dito que seus amigos tinham se despedido e partido... Onde estão?


– Com os irmãos de Rony – Harry a ajudou a descer da pedra – Mas pretendo partir amanhã...


– Vai em busca das outras, na ilha? – sua voz não escondia sua chateação.


– Sim... pretendo passar em Little Hangleton e depois ir até lá – deslizou o dedo pelo seu rosto, ela fechou os olhos ao seu toque – Eu tinha que me despedir.


– Deixe-me ir com vocês, eu já conheci e lutei com muitos seres das trevas, criaturas malévolas de verdade, posso te ajudar no que precisar.


– Não, não é um lugar tão agradável para você, e não haverá tanta ação assim, você ficaria entediada... eu irei sozinho – tocou o rosto dela com os lábios, percorreu sua pele fria enquanto aspirava seu cheiro. Beijou seu bochecha, o canto de seus lábios.


– Não... – ela o afastou pondo a mão em seu peito.


– Eu sou mais velho do que aparento... – baixou os olhos magoado.


– E eu não sou tão jovem quanto pareço – ela acariciou seu rosto e fez com que a olhasse – Não posso me aproveitar deste momento, você está perdido, lutando contra si mesmo... não sabe o que é bom pra você.


– Você é...


– Você tem certeza disso? – ela levou a mão dele ao próprio peito – Está sentindo? Não é uma pulsação perceptível, nenhum médico me daria como viva. Deixei de ser humana há muito tempo, Harry...


– Eu não me importo, eu gosto de você!


– Então esqueça tudo isso e fique. Eu gosto de você assim, do jeito que você é.


– Não, você não entende... – afastou-se e passou a mão pela testa, incomodado. – Pessoas estão morrendo...


– Pessoas morrem todos os dias, faz parte da natureza delas – aproximou-se dele e beijou sua cicatriz. Ele fechou os olhos sentindo alívio com o contato de seus lábios frios, ao mesmo tempo, inquietação com o calor que subia pelo seu corpo. – Até mesmo nós morremos, às vezes...


– Mas estão morrendo por minha causa – ele a abraçou sentindo seu corpo delicado contra o seu, iria levar aquela lembrança com ele. – Tenho que ir...


– Então volte logo – ela pediu.


– Valeu a pena chegar até aqui para poder te conhecer, foi uma das coisas mais importantes que aconteceu para mim …


Harry beijou-lhe o rosto e se afastou esforçando-se para não olhar em seus olhos.


 


Ficou um tempo vagueando pelo parque, observando aquelas pessoas preocupadas apenas em se divertir com suas famílias. Seguiu para a loja decidido a não adiar mais aquele momento. Abriu caminho entre vendedores e clientes e travessou o balcão, encontrou-os no salão, debruçados sobre um mapa, procurando.


– Não conseguiu ficar com todo esse barulho, não é? – Hermione ergueu os olhos para ele quando entrou. – Depois de todas as noites de silêncio é difícil se acostumar.


– O que estão fazendo? – Harry se aproximou deles verificando o mapa.


– Tentando traçar uma rota de fuga – Rony explicou – Tem alguma informação que ajude a localizar essa ilha?


– Não... talvez fique no sul do Pacífico... mas não precisam se preocupar com isso.


– Mas isso é muito importante, Harry – Hermione argumentou – Não sabemos o que irá acontecer quando entrarmos, nem se a entrada ainda está lá, em Leicester, ele pode tê-la mudado também, neste caso, teremos que conhecer outro caminho.


Harry ficou em silencio considerando aquilo, segurou a mão dela feliz por tê-la por perto, ela retribuiu seu gesto e sorriu voltando a se concentrar no mapa.


– Podemos visitar todos os arquipélagos do sul, então – ela considerou. – Até a localizarmos.


– O que não será nada fácil – disse Rony – se ela está protegida por magia, provavelmente não conseguiremos vê-la... e ainda há os inferi...


– Tubarões – todos olharam para Irina surpresos com sua chegada. – Todos esses corpos no mar devem estar atraindo predadores, é só descobrir onde têm se concentrado.


– É verdade – Hermione concordou um pouco enojada.


– O que veio fazer aqui? – Harry se aproximou dela, curioso.


– Sei o que está pensando em fazer e não vou permitir – ela murmurou para ele, afastando-o dos demais – Como se atreve...?


Foram interrompidos pela entrada dos gêmeos acompanhados por dois adolescentes.


– O que estão fazendo aqui!? – Rony se aproximou surpreso e irritado.


– Não vim falar com você, Weasley – Draco passou por ele e se dirigiu a Harry – Pensou melhor a respeito de assumir a liderança...? – olhou rapidamente na direção de Irina depois olhou novamente, desconfiado.


– Não e não tenho nada a pensar – Harry puxou Irina para perto de si.


– O que vocês fizeram? – Hermione se voltou para os gêmeos – Que ideia foi essa?


– Então vai me ajudar a livrar Azkaban dos dementadores? – Draco perguntou a Harry.


– É culpa do Rony – Jorge respondeu – Foi dele a ideia de entrar em Hogwarts usando a lareira, eles apareceram aqui por vontade própria, não convidamos ninguém...


– Mas podemos vender ingressos – Fred cochichou para o irmão.


– E o que você espera que eu faça? – Harry perguntou – Que mande-os parar? – desdenhou irritado.


– Você consegue fazer isso?


Harry bufou e desviou os olhos, indeciso, enfrentar dementadores era a última coisa que lhe surgiria, mas reconhecia que tinha que fazer alguma coisa.


– Talvez seja bom pra você se distrair e reorganizar seus pensamentos – disse Irina – Um pouco de ação sempre me ajuda a pensar, a enxergar novas táticas...


– Os dementadores sempre estiveram em Azkaban, qual a diferença agora? – Rony se voltou para Draco.


– O Ministério não devolveu o controle de Azkaban aos dementadores – disse Gina – ele simplesmente deu autorização para que se alimentassem sem se importar caso os prisioneiros fossem “beijados”, e muitos estão sendo.


– Gina, mamãe já quase nos matou por causa do Rony – Fred argumentou – Se alguma coisa te acontecer então....


– Vocês sabem que o Ministério usa a prisão para se livrar de seus problemas, não se importando se são culpados ou não. – Draco pegou a miniatura de sua Nimbus 2001.


– Não vou ficar presa naquele castelo, sem fazer nada, enquanto vocês ficam aqui, se arriscando – ela tirou do bolso a miniatura da firebolt e a fez voltar ao tamanho normal com um aceno de varinha.


– Se eu pudesse ser útil também não permitiria que me deixassem para trás – Irina disse a ela. Gina sorriu agradecendo o apoio.


– Tá bom, vamos – Harry decidiu, evitando olhar para elas. Rony apontou a varinha em direção às escadas invocando sua vassoura. – Hermione, não quer ficar com a Irina? Você não gosta de voar...


– Vocês vão precisar de toda a ajuda possível. Vocês vendem vassouras aqui? – perguntou a Fred. Os gêmeos se olharam e aparataram em seguida.


– Leve a minha – Fred voltou oferecendo-lhe a vassoura. – Se eu não tivesse que resolver alguns assuntos pessoalmente, eu iria com vocês... – lançou um rápido olhar a Harry , ele fingiu não notar.


– Vamos embora! – Jorge voltou animado carregando sua vassoura e se dirigiu para a saída, os demais o seguiram.


Irina segurou o braço de Harry e o puxou para um canto enquanto os outros saíam.


– Ainda não terminamos a nossa conversa...


– Quando eu voltar, OK? – pediu a ela.


– Eu quero uma garantia de que irá voltar – colocou a mão em seu peito – Você pode me dar o seu coração...


– Não! – Harry segurou a mão dela – É o único meio de contato que tenho com meus amigos... – tirou a varinha do bolso da calça e a colocou em sua mão.


– Irá voltar por ela? – perguntou desconfiada, sabia que ele não gostava daquela varinha.


– Voltarei por você...

Harry passou por Fred, que fingia estar contando as peças do lustre e foi se reunir aos amigos, do lado de fora.

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