Mundo irreal



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Cruzaram o parque em direção à parte dos fundos, estava silencioso e deserto. Draco olhou para as duas casas de show, lacradas. Harry se dirigiu à Casa do Espanto e Draco o deteve.


– Por que não começamos pela Casa da Comédia?


– Por que aqui há espelhos...  – Harry baixou os olhos pensativo e tocou a cicatriz, que o incomodava. – Eu acho que está nessa – declarou olhando para a casa – Intuição...


– Sei... – Draco suspirou e puxou a varinha destruindo o lacre. Tentou puxar e empurrar a porta mas ela não cedeu, deu espaço para que Harry se aproximasse.


Harry tocou a porta e após alguns segundos a empurrou. A porta abriu alguns centímetros, antes de voltar a se fechar, empurrando-o de volta. Ele sacou a varinha e olhou para o parque em volta.


– O que foi?


– Alguém refez a proteção... talvez haja alguém nos vigiando...


– Deve ser algum dispositivo de segurança que eles inventaram. Tente de novo – Draco pediu.


Harry voltou a tocar a porta e forçar a abertura, ela rangeu nas dobradiças enquanto se escancarava. Acenderam as varinhas e entraram. Não havia janelas nem claraboias, mas o lugar era pequeno, Harry esperava localizá-la logo e planejar o próximo passo, a ilha.


– Não parece assustador... – Draco passou a mão pelos cabelos, verificando a própria imagem no espelho em frente – Tem certeza de que há objetos aqui?


– Deve ter... algo que fique em frente a um desses espelhos, eu acho...


A imagem deles se refletia nos três espelhos do amplo corredor inicial, seguiram em frente, e encontraram duas passagens laterais que conduziam a outros cômodos espelhados.


– Vem, vamos por aqui primeiro – Harry entrou pela passagem da esquerda e se sentiu momentaneamente desorientado.


– Espero que isso seja apenas efeito dos espelhos – Draco ergueu a varinha iluminando o ambiente e as duas novas passagens que pareciam conduzir a corredores infinitos.


Entraram por uma delas e avançaram até chegarem a um cruzamento com mais dois corredores.


– Como eles esperam enganar os trouxas desse jeito? – perguntou Draco – Nenhum jogo de espelhos criaria tantos corredores reais.


– Pelo jeito vai demorar mais do que eu esperava – comentou com desânimo.


Continuaram seguindo e encontraram uma abertura lateral.


– Olhe... – Draco apontou – É uma saída? Mas ainda é dia...


Draco entrou observando a lua duplicada, no céu da noite e abaixo, no que a princípio pensou ser um chão espelhado. Harry o seguiu, reparando o som de seus pés em contato com a água. Draco baixou a varinha, iluminando o chão, parou e segurou o braço de Harry, ele olhou também.


– Não é real – disse Harry – Os gêmeos têm se especializado em ilusões.


– Não está ouvindo o som da água? – Draco moveu os pés fazendo pequenas ondas.


– Não há brisa nem vento – Harry reparou – E mesmo que tivéssemos atravessado um portal que nos levasse para o mar aberto... – ergueu a varinha tentando iluminar mais ao redor – Acha que estaríamos andando sobre as águas?


O apoio sob seus pés se desfez e mergulharam em algo gélido que os envolveu por completo. Harry agitou braços e pernas se esforçando para voltar à tona.


– Que droga de ilusão é essa?! – Draco conjurou um barco e se içou para dentro, trêmulo de frio e encharcado. Harry nadou até o barco e o usou para se impulsionar para o alto.


– Não vamos perder o controle só por causa disso – Harry tentou se secar mas não conseguiu. – Por onde viemos? – ergueu a varinha acima de sua cabeça para tentar enxergar a saída, não conseguiu ver muito além, avançou, sem senso algum de direção, esperando encontrar a porta pela qual tinham passado.


Ouviu o som de algo se agitando ruidosamente na água, olhou para Draco, abaixo. Ele estava imóvel, a varinha na mão, olhando fixamente para um ponto distante que não conseguia iluminar.


Lumus Máxima! – Harry apontou a varinha na direção de onde vinha o som. Dois pontos luminosos se tornaram visíveis, refletindo a luz. Seu corpo se ondulava na água, agitando-se enquanto se movia em direção a eles.


Petrificus Totalus! – Draco tentou atingir a serpente marinha gigante, o feitiço a atravessou perdendo-se na noite. Apontou a varinha na direção oposta fazendo com que o barco seguisse velozmente naquela direção.


Harry continuou parado, cerrou os dentes com força, para evitar que continuassem a bater de frio. Foi em direção ao animal, ele era grande e assustador, avançava rápido e ritmicamente, contornou-o tentando atrair sua atenção, ele nem se virou. Usou o Impedimenta para tentar detê-lo, o feitiço também o atravessou. Foi em direção ao Draco. Seu barco tinha parado e ele estava de pé, agitando o punho no ar.


– Estamos presos, olhe, há algo aqui impedindo a passagem, não consigo atravessar!


Harry pousou ao seu lado e ergueu a mão sentindo a superfície espelhada.


– Deve ser outro espelho, continuamos dentro da casa. Pegue sua vassoura – pediu vendo a serpente agora bem próxima.


Draco tirou do bolso a pequena maleta, que era a miniatura de seu malão, e pegou a miniatura de sua Nimbus 2001, os olhos fixos no animal, que agora abria a boca ameaçadoramente expondo as longas presas.


– É só uma ilusão, não poderá nos fazer nada – disse Harry – vamos procurar o corredor.


A serpente encolheu-se e atacou levando o barco consigo, para o fundo do mar.


Harry subiu o mais rápido possível, Draco surgiu ao seu lado, os olhos arregalados de espanto. Afastaram-se até que fizessem novamente contato com o espelho que os rodeava.


Harry não se virou, ao ouvir o som do monstro emergindo da água às costas deles.


Perículum! – riscou com a varinha o espaço à sua frente, uma faixa horizontal de pontos vermelhos enfeitou o céu negro, exceto em um determinado trecho com a largura exata de uma porta, chamou por Draco enquanto seguia para ela.


Colidiu com o espelho do corredor e caiu no chão, de joelhos, massageando o ombro dolorido. Draco desmontou da vassoura, ainda apontando a varinha para a abertura. De dentro da sala não se ouvia nenhum som, ele espiou pela porta e viu a superfície calma da água ainda refletindo a imagem da lua.


– Casa do Espanto... – murmurou Draco – Eles sabem mesmo como espantar os fregueses! Não acredito que ainda paguem para vir aqui!


– Nada daquilo pode ter sido real – Harry meditou – Olhe, estamos secos novamente.


– Pareceu real pra mim... – Draco olhou para si mesmo procurando algum ferimento. Harry se levantou e o seguiu enquanto ele se afastava. – Assim que conseguirmos essa, quantas faltarão para serem localizadas?


– Ainda há uma, perdida... – Harry confessou – Se a conseguisse também, teria as três últimas...


Draco virou-se para ele, olhando-o de cima a baixo.


– Está com uma delas com você?


– Sim, mas precisarei dela para libertar os meus tios...


– Vai entregar a ele?!! – Draco chocou-se – Desperdiçar o que provavelmente é a nossa única chance?


– Não... – Harry respondeu – Eu me comprometi em levá-las apenas, não em deixá-las com ele, só tenho que descobrir uma maneira de fazer isso...


– E ele provou a você que seus tios ainda estão vivos?


– Provar... como? Ele disse que... me deixaria vê-los...


– Acontece que essa também  é uma tática muito usada por ele, ele adora brincar com as palavras ... – Draco abanou a cabeça em reprovação. – Vocês são tão...


– Olhe! – Harry fez questão de ignorar seu comentário e apontou animadamente a passagem cujo interior estava fracamente iluminado. Entrou no outro cômodo.

Draco o seguiu cauteloso, olhando para os móveis velhos e empoeirados com desconfiança. Os espelhos, desta vez, eram visíveis refletindo a ambos e aos poucos móveis que simulavam a decoração de uma sala velha e abandonada.


– Deve estar aqui! – Harry se agachou em frente ao sofá e tocou as bonecas que estavam sentadas ali, de frente para o espelho. Antigas e empoeiradas, algumas sem os olhos ou o cabelo, todas desgastadas pelo tempo.


– Eu só tenho uma maneira de te ajudar a procurar – Draco sacou o punhal e manteve, na outra mão, a varinha.


Harry deixou o sofá e foi até a mesinha tocando cada objeto.


– Eu posso fazer isso, é só uma sala, não é tão grande... – Harry ouviu a exclamação de Draco e ergueu os olhos para ele. Girou a cabeça observando o espaço à sua volta.


A sala tinha tomado proporções gigantescas, onde antes estivera a imagem da sala, refletida, agora continham outros cômodos, seria muito mais trabalhoso.


– Nunca sairemos daqui... – Draco começou a estocar tudo o que via pela frente, Harry não pôde repreendê-lo, desejou apenas que o caminho até a saída não tivesse sido modificado ou realmente demorariam uma eternidade para saírem daquele labirinto espelhado.


Vasculharam todos os cômodos daquele lugar. Voltaram à sala tempos depois, Harry cansado e preocupado com a queimação em sua cicatriz, que o colocava em alerta, e Draco desconfiado e mal-humorado.


– Ao menos, estamos sozinhos aqui... sem nada de assustador – Harry disse a ele, querendo achar um consolo para o tempo perdido. Percebeu um movimento em sua visão periférica, onde estava o sofá que estivera examinando.


– Cala a boca! – Draco apontou a varinha para ele ameaçadoramente. – Cada vez que você diz alguma coisa as coisas ficam piores!


Harry se assustou com a sua reação mas percebeu que ele tinha razão, acenou em direção à porta. Aguardou enquanto Draco se dirigia lentamente para ela , deu uma última e rápida conferida nos móveis que faltavam e saiu rapidamente.


– Os Weasley são insanos! – Draco olhou com desânimo para o longo corredor à sua frente. – Quantos outros cômodos iguais a esses devem existir neste lugar?


– Não consigo imaginá-los planejando nada disso...


– Todo mundo tem trevas e insanidade em seu interior – Draco caminhou ao seu lado, atento a qualquer movimento ou ruído – Alguns mais, outros menos, a deles é superdotada...


Pararam hesitantes em frente à próxima porta, Harry suspirou e entrou lentamente, se perguntando se teriam chances de localizá-la, com tantas situações conspirando contra.

 Não havia nada naquele cômodo de espelhos além de um pedestal, no centro, e uma bacia sobre ele. Harry avançou até ela e olhou seu interior, estava vazia. Draco se aproximou e olhou também.

Harry ergueu a bacia e examinou o pedestal, não sentiu nada. Acenou negativamente para Draco, evitando pronunciar qualquer coisa. Draco indicou a porta com o olhar, sugerindo que saíssem e caminhou para lá, Harry o seguiu. Olhou de relance para o espelho à frente, vendo a imagem deles ali refletida, a de Draco se aproximava da porta, mas a dele ainda estava olhando para o interior da bacia.


Paralisou sentindo-se arrepiar, virou-se para olhar o centro da sala, não havia ninguém próximo ao pedestal mas sua imagem refletida continuava examinado-o. Lembrou-se do espelho de Ojesed, que lhe mostrara a localização da Pedra Filosofal há algum tempo, mas não soube como reagir.


– Draco... – Harry chamou-o num sussurro evitando dizer qualquer coisa que pudesse alterar as coisas ali. Draco, já próximo à porta, ergueu os olhos encarando o espelho.


– Anda logo, vamos! – Draco o chamou vendo sua imagem refletida ainda próxima ao pedestal.


Harry observou, com assombro, seu reflexo erguer a cabeça ao chamado dele, olhar para a porta e caminhar até a saída. Harry olhou novamente em direção à bacia e tocou a si mesmo, sentindo-se como um mero espectador de uma estranha realidade.

Quando se aproximou da porta a imagem virou a cabeça em sua direção e sorriu antes de sumir na passagem.


– Draco! – Harry correu para a saída e cruzou a porta.


Piscou os olhos para a claridade, deu alguns passos observando o parque, espantado por se encontrar, agora, do lado de fora.


– Draco – chamou-o novamente não vendo sinal de sua presença ali.


Virou-se em direção à loja dos gêmeos e viu um grupo de pessoas agachadas próximo à entrada. Ficou um tempo observando a distância, depois se encaminhou lentamente até eles. Sirius, Raven, Lupin, os Weasley, Hermione, todos reunidos em volta de um corpo.


Suas pernas cederam e caiu de joelhos ao lado deles olhando para o seu próprio corpo nos braços de Sirius. Eles ergueram os olhos lacrimosos e espantados para ele e olharam novamente para o morto.


– Sirius... eu... – balbuciou sem conseguir articular – Esse não sou eu...


– Harry? – Sirius olhou para o corpo e novamente para ele, admirado. Passou a mão pelo rosto, secando as lágrimas.


Harry olhou, aturdido, para o corpo que jazia inerte entre eles, estava assustado e amedrontado demais para entender o que estava acontecendo ali, as fisgadas em sua cicatriz se fizeram mais fortes enquanto se esforçava para compreender.

Percebeu os olhares raivosos que seus amigos lançaram para ele. Hermione segurou a mão inerte do cadáver.


– Você ainda está vivo... – Sirius levantou-se decidido, encarando-o nos olhos. – Então eu terei que matá-lo!


– O q...? – ergueu os olhos para ele e viu ódio em seu olhar. – Não... – Harry sacudiu lentamente a cabeça e olhou para todos ali presentes que ainda o olhavam da mesma maneira. Reparou o chão, não havia neve. – É só uma ilusão, não é real – murmurou para si mesmo se levantando.


O golpe que levou fez com que se dobrasse caindo novamente, sem fôlego. Arrastou-se pelo chão, tentando se afastar.


– Sirius...? – Harry o chamou, confuso, vendo-o puxar um punhal de prata idêntico ao da família Malfoy, olhou para Rony, ocupado em velar o cadáver que seria seu.


Continuou se arrastando para longe, seu estômago estava dolorido pelo soco recebido. Sirius avançava em sua direção segurando firmemente a adaga, pronta para enterrá-la em seu peito, seu olhar era o de um assassino.


– Você não é Sirius! Você não existe, é só uma ilusão! – bradou com raiva, mesmo assim, incerto de suas palavras e do estrago que aquela “ilusão” poderia lhe causar.


Impulsionou-se para o ar e afastou-se rápido, não foi muito longe, porém. Algo enrolou-se em seu tornozelo direito, puxando-o para baixo, tentou desesperadamente se livrar mas cada vez mais aquilo se enrolava e apertava.

Apontou a varinha para o que lhe pareceu ser um tentáculo de visgo-do-diabo, e usou o feitiço Diffendo, sem sucesso.


Ouviu o som alto, do osso se partindo, urrou de dor enquanto era puxado para dentro do chão. Ainda tentou evitar ser soterrado vivo, fincando as garras no solo, mas foi tragado para o seu interior, fechou os olhos com força e prendeu a respiração enquanto sentia a terra cobrindo-o.


Abriu os olhos depois de algum tempo em que nada parecia acontecer. Estava deitado em um chão de pedra; sozinho, nem sinal de Sirius e dos outros, tentou se mexer, sentiu a perna latejando. Olhou ao redor observando o novo local.


Estava no meio de um pátio pequeno, que se refletia no espelho à sua frente. Havia uma passagem às suas costas. Arrastou-se para longe do espelho, evitando olhar para sua imagem refletida, e reparou o portal escuro e assustador esperando para ver qual seria a próxima surpresa.


“Se tudo isso é ilusão, por que eu estou sentindo dor?” – perguntou-se em desespero sem saber mais o que concluir a respeito daquilo tudo.


– Draco! – Harry gritou seu nome em direção à única porta ali – Consegue me ouvir?


Recebeu apenas o silêncio como resposta, concentrou-se para buscar sua presença, conseguiu localizá-lo não muito distante. Tocou, tremulamente, a perna dolorida, mas não conseguiu curá-la. Levou a mão ao cordão e o apertou com força. Continuou jogado no chão tentando suportar a dor enquanto procurava pensar em alguma coisa.


Algum tempo depois ouviu passos, de alguém que se aproximava, ecoando no chão de pedra. Harry ficou olhando para a porta, esperando que alguém aparecesse a qualquer momento, os passos pararam e ele não viu ninguém.


– Harry... – ele pronunciou seu nome lentamente.


Harry virou-se para o espelho e o viu parado próximo à porta, olhou novamente para a passagem e não tinha ninguém ali.


– Eu deveria ter imaginado – disse Harry, para o espelho, num murmúrio sofrido. – Que era você, por trás de tudo isso...


– E eu sabia que viria, que acabaria percebendo – disse o jovem Riddle – Como foi, no Ministério? Conseguiram? – perguntou interessado, aproximando-se.


– Foram os gêmeos que te contaram? – aprumou-se tentando ignorar a dor.


– Sim, eles me colocam a par de tudo o que acontece por aqui. Eu é que sugeri a eles que lhe devolvessem a medalha, assim você se tranquilizaria e nos daria mais tempo... Tudo isso que você está vendo aqui, eles construíram para mim, para eu ter como me fortalecer.


– Eles vêm ajudando você, todo esse tempo? – perguntou com raiva na voz. Tinha chegado a desconfiar deles, mas preferiu ignorar seus instintos, achando-se paranoico, afinal, eles também eram como sua família.


– Não os julgue ainda, são jovens, são brilhantes, e não recebem o reconhecimento ao qual fazem jus. Foram ignorados pelos mais velhos, eles ainda os veem como adolescentes criadores de brincadeiras e travessuras; ninguém os entende, não tinham com quem compartilhar suas experiências e ideias... até que me conheceram...


– Você os seduziu...


– Diz como se eu tivesse feito algo errado, estou apenas mostrando a eles como melhor usarem o talento que possuem. Como disse Draco, todos temos trevas, é só uma questão de equilíbrio, e eles são bem equilibrados, não se confunda quanto a isso... “Basta um sacrifício”, pedi a eles, “e poderei retomar a vida que me foi tirada”. Mas eles foram firmemente contra, em troca, me deram essas casas, para que eu pudesse me alimentar do medo e da alegria de seus visitantes... Não, não causa nenhum dano a eles – respondeu ao ver sua expressão chocada – A energia é liberada naturalmente com as emoções, só que é um processo lento, muito lento. Se eles não tivessem conseguido recuperar para mim uma das minhas horcruxes, eu não estaria tão forte agora.


– Eles recuperaram... o pântano... – Harry concluiu e tocou novamente a perna ferida tentando se dar algum alívio.


– Eu disse a eles onde e como, e eles conseguiram, claro. Não poderia ter arranjado aliados melhores, amigos... 

Tom se aproximou de seu reflexo enquanto ele, ofegantemente, tentava um feitiço na própria perna.

– Desculpe, mas preciso tê-lo assim, debilitado, já o conheço muito bem, Harry, como a mim mesmo... – Riddle agachou-se olhando-o nos olhos. – Mas posso aliviar seu sofrimento...


Tocou sua perna, da imagem refletida, no mesmo instante Harry sentiu seu corpo relaxar à ausência de toda a tensão causada pela dor.


– E posso fazer com que piore, não se esqueça disso.


– Pode parar de nos atacar também, e deixar a gente sair daqui.


– Você veio para me levar... – Riddle pareceu levemente surpreso – Está desistindo?


– Voldemort pode vir pessoalmente e decidir o que fazer com você, já fiz muito...


– O meu... eu...? Que me aprisionou por anos! – proferiu revoltado – Agora que algumas horcruxes foram desfeitas ele já deve saber o quanto é horrível estar confinado dentro de um objeto, sozinho... imobilizado...


– Se foi você quem quis assim...


– Eu não sabia, na época, que permaneceria consciente vivenciando cada segundo angustiante de vida! Se eu soubesse...


– Isso não o teria impedido – Harry afirmou – Você mesmo me disse que não importava os sacrifícios que tinham de ser feitos.


– Quando se está do outro lado é fácil dizer isso. Em breve eu também estarei, completamente livre...


– E você ainda não está? – Harry fingiu inocente curiosidade.


– Posso projetar-me para qualquer lugar que possa ser refletido em meu mundo espelhado, como você viu, porém, fora daqui, perco minha consistência, cada ato físico consome muito de minha concentração e energia, eu preciso voltar a ser real lá fora...


– Então, você nunca sai do espelho?


– É o meu mundo, é onde eu vivo... por enquanto...


– Talvez você reconsiderasse isso, se visse o que se tornou...


– Não, Harry, meu caminho não tem nada a ver com o dele, voltarei tão forte quanto antes e recomeçarei de onde parei.


– Recomeçará!? – Harry pôs-se em alerta enquanto tentava se pôr de pé – Fazendo o quê?


– Eu tenho planos... mas primeiro preciso me “tornar real”. Passarei a “existir” para você e todos os outros, assim que tiver a outra parte de mim que está contigo.


Harry deixou-se boquiabrir, surpreso.


– Conseguiria nos separar? – perguntou incomodado.


– Não... – ele sorriu – Não você. A verdadeira horcrux, que disse estar carregando. Os gêmeos me falaram sobre o seu pedido, mas eu não poderia fazer isso. Pelo o que eu pude ver, nas vezes que esteve aqui, me visitando, é dificil diferenciá-los embora eu me reconheça em você. Cheguei até a considerar a possibilidade de tentar isso, recuperá-la e me alimentar dos seus poderes, isso me deixaria muito mais forte que antes, mas te mataria, claro, e os Weasley não querem isso. E eu nem saberia dizer o que aconteceria a seguir. Você é uma alma completa, não sei se eu conseguiria controlar a situação, nem as consequências... Dê a horcrux a mim e talvez eu te deixe ir, não era mesmo sua intenção devolvê-la a ele, nem pelos seus tios...


– Eu te dou a horcrux e você nos mostra a verdadeira saída e deixa Draco e eu partirmos – perguntou-se que chances teria de salvar seus tios se destruíssem tudo, e com isso as três horcruxes de uma única vez.


– Não, eu vou precisar de um servo fiel ao meu lado – Riddle olhou para a passagem às suas costas e voltou a atenção para ele.


– Você quer dizer um escravo, submisso e controlável... Não.


– Eu fico com ela e deixo vocês vivos, até te dou a oportunidade de tentar achar a saída.


– Se a quiser de verdade, será nas minhas condições – Harry o encarou desafiante.


– Vocês estão em meus domínios, eu decido o que acontecerá aqui.


– Você pode estar forte, mas ainda é um ser incompleto – disse Harry, avaliando-o. – Pode iludir nossas mentes e manipular nossas sensações... – sentiu novamente a dor se espalhando por sua perna, impulsionou-se. – Mas não pode mudar a realidade, seu tempo já passou, não há espaço pra você aqui, não pode haver dois Tom Servolo Riddle... você teria que pagar um alto preço para isso...


– É a voz da experiência que estou ouvindo? – Riddle proferiu com raiva e desdém.


– Você era arrogante e inconsequente – a cada palavra se esforçava para manter o controle e afastar a dor – Não vamos permitir que volte desse jeito.


– E fará o quê, para me impedir? Por que não vem e me mostra o que pode fazer...? – Riddle pediu em desafio e saiu pelo reflexo da porta que tinha às costas.


Harry olhou ao redor esperando um novo ataque, mas estava sozinho no pátio.


Dirigiu-se para a passagem, a única existente ali, e após lançar um último e breve olhar para o espelho, saiu. Encontrou-se novamente no pátio, a porta ainda à sua frente, como se ainda não a tivesse atravessado.


Avançou novamente em direção à saída e colidiu com a superfície fria do espelho. Olhou para trás e constatou que a passagem, na verdade, estava atrás de si, realmente a tinha atravessado.

Ergueu o braço acenando, sua imagem não estava sendo refletida, virou-se disposto a voltar para o pátio anterior e deparou-se com outro espelho.


Estava novamente no corredor, concluiu que se não conseguisse logo um meio de sair dali enlouqueceria. Escorou-se no espelho, arfante, ergueu um pouco a calça e verificou que seu tornozelo estava ficando muito inchado.

Concentrou-se no espelho, decidido a providenciar uma saída daquele hospício. Alguns segundos depois o espelho trincou e rachou, a rachadura expandiu alguns centímetros antes de sumir, sua superfície voltando ao normal.


Tentou novamente, e de novo. Ele se auto-reparava, impedindo qualquer tentativa de improvisar uma saída. Flutuou pelo corredor espelhado, sem poder tocar o chão, atento a qualquer som ou movimento enquanto tentava chegar até Draco. Percebia-o correndo ora em círculos, ora em zigue-zague, sempre contido dentro de um espaço que imaginou ser um dos cômodos. Desconfiou que ele deveria estar tendo visões nada agradáveis.


Nem sua imagem nem a luz de sua varinha se refletiam nos espelhos ao seu redor, não sabia se deveria considerar isso bom ou mau. Aqueles corredores não possuíam entradas para outros cômodos, não tencionava entrar em nenhum deles se os encontrasse, mas aquela ausência estava começando a deixá-lo preocupado.


Parou em um trecho do corredor sentindo a presença dele, do outro lado, porém também não havia entrada alguma ali, colou-se ao espelho, ouvindo o som de seus passos apressados. Percebeu que estava aprisionado do lado de dentro do espelho, onde Riddle era mais forte. Olhou novamente para o corredor em que estava, perguntando-se onde Tom Riddle estaria naquele momento, se havia conseguido sair, assim como ele tinha entrado.


– Ei! Draco!! – bateu no vidro repetidas vezes para tentar chamar sua atenção. – Está conseguindo me ouvir?


Harry concentrou-se novamente no espelho tentando, ao menos, uma abertura pela qual pudesse visualizar do outro lado. Draco se aproximou às pressas, ouviu o baque quando ele se jogou contra o vidro.


– Me deixa entrar! – ouviu-o pedir com urgência esmurrando o vidro com os punhos cerrados.


– Não... me ajude a sair! – Harry pediu a ele.


Combinaram de usar o Bombarda contra o espelho ao mesmo tempo, esperavam que um ataque duplo, de ambos os lados, o pudesse romper.


Parte do espelho se estilhaçou com o feitiço e sem se importar com os cacos que caíam Harry lançou-se pela abertura. Foi barrado e impedido por Draco que se jogou para dentro empurrando-o enquanto a superfície espelhada voltava a se recompor.


– Não! – Harry o empurrou para o lado e bateu os punhos no vidro, novamente intacto. Tentou novamente o feitiço conseguindo apenas, por breves instantes, uma rachadura. – Por que você fez isso? – voltou-se para Draco, que estava caído no chão, escorado na parede oposta do corredor, seu rosto estava arranhado e tinha um feio corte no quadril, descendo até a coxa esquerda – Levante, me ajude a abri-la novamente!


– Você está brincando!? – Draco perguntou com indignação, tentando se pôr de pé – Nem morto eu volto pr'aquele lugar! Quase fui devorado! – levou a mão ao rosto e olhou para o espelho. – O que é isso...?


Draco tocou a superfície lisa do espelho, olhou para Harry verificando que ele também não tinha um reflexo. Seu olhar perplexo reparou o corredor em que estavam e o espelho do lado oposto, caiu novamente ao chão, abatido.


– Então... estamos mortos, não sobrevivi... Por isso você sumiu... está morto também.


Harry esfregou a testa e os olhos, estava cansado de tanta tensão. Tocou novamente o cordão se perguntando se deveria pedir ajuda, isso desviaria a atenção deles das negociações.


– Não estamos mortos ainda – Harry disse a Draco deixando-se cair também, com cuidado para que seu tornozelo não esbarrasse em nada.


– Não... – Draco olhou em volta meditando – Estou ferido, estou cansado, estou com fome, não estou morto... Deveria estar feliz por isso? Não sei...


– Fica frio, OK? Precisamos nos manter racionalmente calmos – Harry pediu – É Voldemort quem está fazendo tudo isso, a horcrux, ele tem nos assustado e escutado nossas conversas. Está aqui em algum lugar...


– Está... solto? – Draco perguntou perplexo.


– Há algum tempo, e está bem forte também, conseguiu se fortalecer com uma das horcruxes e tem usado estas casas para obter energia. Agora estamos do lado de dentro do espelho, na “casa dele” e se ele fazia tudo aquilo acontecer do lado de fora, não sei o que será capaz de fazer agora.


Draco assentiu lentamente absorvendo as informações.


– E… – olhou-o insistentemente. – Como a gente vai sair daqui?


– Não sei... preciso de tempo para pensar.


Um rugido ensurdecedor ressoou em uma das extremidades do corredor. Draco apontou a trêmula varinha naquela direção e não viram nada. Harry também lançou o Lumus e perceberam que o “nada” era os negros pelos espessos de uma criatura que ocupava todo o corredor, ela abriu os olhos, dois faróis negros se contrastando com as duas fileiras de longos e pontiagudos dentes brancos.


– Alguma ideia? – Draco sussurrou usando a parede de espelho para se erguer.


– Tenho... – disse Harry levantando-se sem desviar os olhos do animal – Corre... Anda, corre!


Harry avançou pelo corredor, Draco o seguiu, mancando. Ouviam o rosnado ameaçador e o som das pesadas pisadas do animal atrás deles. Viraram no corredor e foram envolvidos pelo ar quente e pútrido que vinha da escuridão à frente.

Harry parou e empurrou Draco para trás quando um fileira de dentes pontiagudos começou a descer sobre eles.


Tentaram voltar mas o chão se tornou mole e úmido, o tapete ganhou vida sob seus pés e se enrolou, cobrindo e empurrando-os para a boca do basilisco.


– Não! – Draco gritou tentando cortar uma abertura no tapete que tinha se transformado na língua da serpente. Deslizaram por sua garganta sentindo-se imprensados pelos músculos quentes e escorregadios.


Quando chegaram ao final da descida foram cobertos por algo gelado e grudento. Harry tirou os óculos, imundos, e se arrastou para fora do lodaçal. Draco surgiu ao seu lado, engatinhando para fora da lama e passou os olhos ao redor reparando a floresta que os cercava.


Usou o Aguamenti para lavar os óculos e retirar o excesso de lama do corpo. Ouviu o som de alguém se debatendo dentro d'água, repôs os óculos e se virou para Draco.


– O que está fazendo?


– Ora, o que você acha? – Draco mergulhou novamente no córrego do rio, lavando a sujeira das roupas e de seu ferimento, que ainda sangrava.


Harry se aproximou, atento ao som e às árvores ao redor, que sacudiam suas folhas sobre eles, entrou na água e começou a se limpar.


– Se não sairmos logo daqui ele irá continuar nos torturando até nos matar – disse Draco.


– Ele não vai te matar, precisa de você, de um Comensal... – Harry sobressaltou-se e olhou para baixo. Lançou-se para fora do riacho sem desviar os olhos dos corpos dilacerados que passavam boiando, sentiu-se tenso e começou a tremer.


– Não olha para eles, não é verdade – Draco o puxou para trás, afastando-o do rio.


– Fique quieto – Harry rugiu e ergueu a mão, fazendo com que parasse. Draco arregalou os olhos para as garras que tocavam seu peito. Harry ouviu o uivo vindo de dentro da floresta e os pêlos do seu corpo se arrepiaram, como sempre acontecia à sua presença, percorreu lentamente o local com os olhos, atento – Não se mexa!


Draco paralisou na tentativa de se afastar, ficou imóvel, no chão, onde havia caído após se desequilibrar, o olhar fixo em Harry. Este farejou o ar tentando localizá-lo. Draco se encolheu quando, saltando em sua direção, o lobisomem surgiu mostrando garras e dentes.


Harry se lançou contra ele, afastando-o. Suas garras se fincaram em sua barriga e o cortaram até o peito.


O cão negro caiu no chão ganindo. Harry se afastou, o olhar fixo em Almofadinhas. Continuou se afastando até topar com uma árvore, Draco se ergueu e mancou para perto dele. Harry o puxou para dentro da floresta, os ganidos do animal acompanhando-os.


– Para onde estamos indo? – Draco perguntou após algum tempo de caminhada em que seguiam em direção a lugar algum, estava cansado e andava com dificuldade, a perna da calça quase totalmente coberta de sangue.


Harry parou quando chegaram em uma clareira, em que o som do animal não chegava mais até eles. Usou novamente o Aguamenti para lavar o sangue das mãos, ficou um bom tempo olhando para suas garras, deixando que a água as lavasse, mas sem prestar realmente atenção ao que estava fazendo.


Draco mancou até um tronco caído, onde sentou examinando a perna ferida, apontou a varinha para o corte, tentando, mais uma vez, fazer com que se fechasse. Harry se afastou, examinando o local, pousou ao seu lado instantes depois, evitando tocar o chão com a perna direita.


– Coloca isso aqui sobre o ferimento – Harry aconselhou estendendo a fina teia de aranha que havia colhido em uma das árvores.


– Não! Tira isso daqui – Draco empurrou sua mão, arrastando-se para o lado.


– Vai ajudar a estancar o sangue...


– Você ainda se lembra desses métodos antigos – a voz surgiu como se sussurrada ao lado deles. – São úteis, não são?


Draco sobressaltou-se apontando a varinha em todas as direções, procurando.


– Vai nos deixar ir embora agora? – Harry perguntou observando a floresta ao redor.


– Vou te mostrar a saída, poderá ir se deixar a horcrux.


– Eu e o Draco. – Harry o corrigiu.


– Estou te dando a oportunidade de sair vivo, sugiro que a aproveite – a voz ressoou autoritária, Harry desviou os olhos para Draco, que pareceu temeroso.


– Ao contrário de você, nós dois temos uma vida lá fora e vamos sair, e será logo  –  Harry acrescentou – Tenho muito o que fazer ainda hoje.


Seguiu-se o silêncio. Olharam ao redor, esperando, mas nada aconteceu.


– Vamos sair daqui – Draco pediu.


– É, vamos... – Harry concordou. O som ritmado do abrir e fechar das pinças chegou até eles antes que a visualizassem.


Harry continuou parado encarando a tarântula gigante, que surgiu à beira da clareira em que estavam, e seus quatro pares de olhos ameaçadores.


– Vamos! O que está fazendo? – Draco perguntou a ele, afastando-se com dificuldade.


– Enfrentá-lo é o único jeito de sair – disse Harry.


Ele se ergueu no ar, o chão começou a tremer e rachar, Draco pegou rapidamente sua vassoura, se preparando. O solo se abriu e toda a extensão à frente deles desapareceu e com ela as árvores e o animal que os ameaçava. Draco olhou nervosamente ao redor, esperando ver alguma coisa.


– Você conseguiu?


– Ainda não... – Harry se aproximou lentamente da beira. Um vulto enorme emergiu da cratera, derrubando-o. Viu o dragão dar a volta e investir em um novo ataque.


Harry se lançou em sua direção. O tigre branco fincou as garras no dorso do animal. O dragão agitou as asas e rodopiou tentando derrubá-lo mas o tigre se manteve firme a pesar da pata traseira ferida. Enquanto o dragão voava em direção à linha branca à frente, ele fincou as presas em seu pescoço. Ambos caíram no chão rolando entre os túmulos.


Draco se aproximou voando em sua vassoura e viu a serpente enroscada ao tigre, seu corpo atando suas mandíbulas. O tigre se debatia enquanto tentava se erguer, rolaram até cair em uma cova aberta. Draco foi até eles, o Athame nas mãos.


– Rápido Draco! – gritou Harry – Eu o tenho preso, use o punhal!


Draco escorregou para dentro da cova e estancou, surpreso. Havia dois Harry à sua frente.


– Não faça isso, Draco, ele está mentindo! – o Harry que se encontrava imobilizado pelo peso do outro pediu a ele.


– Faça! Destrua-o ou nunca sairemos daqui! – insistiu antes de ser jogado contra a parede da cova. Mãos decompostas saíram da parede de terra, prendendo-o ali. Draco hesitou sem saber se deveria ajudá-lo ou não. – Faz alguma coisa, ele está com a horcrux! Pegue-a! – ele gritou.


– Não, Draco... – ele segurou seu braço quando Draco tentou atingi-lo, tentou empurrá-lo e se afastar mas Draco era forte e conseguiu levar a lâmina à sua garganta – Não faça isso, não me obrigue a impedi-lo...


– Faça logo! – Harry gritou impaciente, ainda preso à parede da cova – Sacrifique-o ou... – ele calou a ameaça quando a lâmina foi enterrada em seu peito. Draco se afastou vendo-o se soltar da parede e tocar o cabo do Athame, sentiu-se gelar com seu urro de fúria.


– Vem rápido, vamos sair daqui – Harry puxou Draco para o alto da cova, ele montou novamente na vassoura e o seguiu, ainda trêmulo e assustado.


Seguiram em direção ao muro alto que se estendia no final do cemitério, abaixo, mãos e braços começavam a emergir da terra. Um trecho do muro que se erguia à frente deles se desfez e o atravessaram.

Chegaram a um porão de terra e subiram pelo alçapão, surgindo em uma pequena sala sem portas ou janelas. Através da barreira de vidro existente em uma das paredes, conseguiram avistar o palco e além, as cadeiras viradas para eles. Apontaram as varinhas para o vidro, juntos, conseguiram quebrar e atravessá-lo.


Cruzaram o palco e a arquibancada e chegaram até a porta. Draco a arrebentou com um feitiço e precipitaram-se rumo ao vento frio e fresco. Harry pisou na neve firmando os dois pés no chão. Draco desmontou e olhou para a coxa, novamente ilesa, tocou o rosto onde antes estiveram os arranhões.


– Conseguimos... – Harry sussurrou, mal acreditando que tinham realmente saído, aspirou profundamente o ar e pegou o rubi, certificando-se de que ainda estava em sua posse.


– Terminou? Ele foi destruído? – Draco perguntou esperançoso.


– Não. Ele ainda é uma horcrux, está preso ao objeto que o detém, a Casa. – disse Harry. – Sabe conjurar o Fogomaldito?


Draco assentiu com um aceno e apontou a varinha para o palco, labaredas de fogo se desprenderam dela e rodearam o local, consumindo tudo que estava pelo caminho.


Afastaram-se afundando na neve e Draco fez o mesmo em direção à porta, ainda aberta, da outra Casa. Gritos se fizeram ouvir, várias vozes que gritavam ao mesmo tempo, em espanto e agonia, reflexos de todos que já tinham passado por lá. Draco tampou os ouvidos e Harry ficou olhando para o fogo que subia, consumindo-as.


– Draco... – Harry puxou seu braço para que o ouvisse – Faça com que o fogo diminua ou vai acabar atingindo todo o parque ou chamando a atenção dos trouxas.


– Como? – Draco perguntou aturdido – Não sei fazer isso, nunca o fiz antes...


Um enorme vulto negro se projetou pela porta aberta, atacando-os. Harry gritou de dor quando o tigre negro cerrou os dentes sobre o seu braço, que ainda segurava a horcrux.


Harry fincou as garras na neve, tentando impedir seu avanço enquanto ele o arrastava em direção à casa em chamas. Draco correu até a porta e fez com que o que ainda restava do espelho, do final do corredor, explodisse.


Harry sentiu o aperto sobre o braço sumir de repente e se arrastou para longe da porta, aninhando o braço ferido. Draco o ajudou a se levantar e dirigiram-se à entrada da loja. Uma redoma protetora envolveu as duas Casas, contendo o fogo e evitando que qualquer coisa saísse. Harry guardou novamente o rubi, seu braço foi lentamente se recuperando, enquanto o fogo consumia as Casas de show.


Deixaram-se cair sobre os degraus cheios de neve enquanto observavam o fogo se extinguir aos poucos deixando apenas as cinzas.


– Onde estão os funcionários deste lugar? – Draco olhou em volta – Não há outros bruxos aqui, alguém que pudesse ajudar?


– É Natal... – Harry fechou os olhos e deitou sobre os degraus. Ficou um bom tempo se concentrando apenas na neve fria sob seu corpo – Naquela hora, na cova do cemitério – perguntou após algum tempo – Como soube qual de nós era ele?


– Eu não soube...


Harry abriu os olhos e girou a cabeça em sua direção.


– Não... – Draco apoiou os cotovelos nos degraus de cima, se esticando – Mesmo tendo a mesma aparência vocês dois eram bem diferentes... Você-Sabe-Quem nunca hesitaria em matar para salvar a própria vida. – Draco olhou para si mesmo, certificando-se de seu estado – Obrigado por ter escolhido ficar...


– Para mim, nunca existiu outra possibilidade – Harry assegurou e puxou o cordão para se comunicar com Rony. – Isso está demorando demais, Scrimgeour está querendo ganhar tempo...


– E o que vai fazer agora? – Draco perguntou – Você já tem um plano?


– Estou começando a pensar em um...


– Eu irei com você. Quando encontrar seus tios, se já não estiverem mortos – Draco acrescentou com desconfiança – Precisará de ajuda para tirá-los de lá e pegar de volta a horcrux.


– Você não pode ir comigo – disse Harry, pensativo – Não poderia contar com você, estaria preso às ordens dele, e não conseguiria entrar escondido, ele sentiria a sua presença... – arrastou-se degraus acima e se levantou.


– E se for tudo uma armação? Ele está esperando por você, já deve ter preparado alguma coisa – Draco o seguiu para dentro da loja – Como irá fazer para impedir que ele se aposse da horcrux?


– Espero contar com a sua ajuda para isso – Harry foi até a seção restrita aos funcionários e atravessou a sala até o depósito – Mas poderá fazê-lo em segurança, junto à sua família... E agora que Dumbledore voltou, tudo irá se acertar, não precisa mais se preocupar com ele. Espero que sem as horcruxes ele deixe de se arriscar e acabe se contendo.


– Hã?! Acha que isso aconteceria? Acabamos de ver do que ele é capaz... e ele pode fazer outras...


– Não... creio que sete já seja mais do que o limite suportado e ele foi além... Se pudesse realmente, já as teria feito, quando começou a perdê-las. É por isso que espera que eu... – Harry franziu o cenho meditando – Gostaria de entrar e sair ainda hoje... talvez eu tenha sorte.


Harry pegou uma das caixas que estavam na estante, tirou um pacote de seu interior e desembrulhou o par de meias extra-grande.


– O que é isso? – Draco olhou para o pé de meia que ele lhe estendeu.


– Uma das gemealidades natalinas, para garantir que fiquem sempre vazias para receber presentes... Se tudo der certo, ainda esta noite, eu irei te enviar um...


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