Buscas




Harry saiu da lareira depois de Rony, Hermione surgiu em seguida.


– É uma pena deixá-la para trás, são muito úteis – Hermione comentou.


– Esperem um pouco – Rony sussurrou iluminando o local com a luz da varinha. – Tia Muriel deve ter protegido a casa, não sei que tipos de...


– Não se preocupe, não está mais – Harry avançou pela sala reparando o lugar, acendeu as velas de um candelabro. – Tem certeza de que ninguém virá até aqui?


– Tenho. Que eu saiba ela não vem aqui desde que tio Abílio faleceu...


– Dá pra perceber – Hermione tentou espanar o pó de uma das poltronas, para se sentar, a nuvem de poeira que levantou a fez tossir e se engasgar.


– Pelo menos teremos um lugar para ficar enquanto procuramos pelas horcruxes – Rony comentou.

– Não há como nos rastrearem pela lareira? – Harry perguntou a ele.


– Não, Fred e Jorge a fizeram para a Ordem, a intenção era justamente fugir do controle do Ministério.


Hermione apontou a varinha para a lareira e a bloqueou, por precaução. Harry abriu a janela que dava para o lago, o chirriar dos grilos e coaxar dos sapos foi o único som na cabana por algum tempo.


– Está chateado? – Rony se aproximou. – Eles vão acabar percebendo a verdade, não se preocupe.


– É estranho o quanto as coisas podem mudar em tão pouco tempo...


– Por que será que eles desistiram do ataque? – Hermione questionou.


– Não sei... – desviou a vista do lago e voltou-se para os amigos – Ele deve estar fazendo novos planos.


– Vamos arrumar o lugar para passarmos a noite – Hermione decidiu. – Onde ficam os quartos? – perguntou já se afastando.


Rony a conduziu para uma das duas portas que havia no cômodo, a que conduzia a um pequeno hall onde se dividiam a entrada para a cozinha, banheiro e o único quarto. Rony o cruzou até o guarda-roupa.


– Você fica com a cama – ofereceu a ela pegando dois sacos de dormir.


– Tem espaço suficiente para nós três – ela puxou um terceiro e afastou a cama para um canto do quarto. É preferível a sufocar em toda essa poeira...


– Pode dormir ao meu lado se quiser – desviou o olhar para o chão enquanto ela vasculhava o guarda-roupa – Essa casa ficou vazia por tanto tempo...


– Claro, vou ficar por perto, não precisa ter medo – disse carinhosamente.


– Não foi isso o que eu quis dizer! – Rony reclamou, ficando levemente encabulado, puxou a varinha e limpou a poeira do assoalho. – Estava só... tentando ser gentil.


– Tá bom Rony... Desculpe. – fechou o guarda-roupa e puxou a varinha para ajudá-lo.


Harry apareceu à porta algum tempo depois. Hermione inspecionava as cortinas, agora úmidas, mas limpas e Rony se certificava de não haver nada indesejável escondido pelos cantos.


– O que foi? – Hermione reparou a roupa que estava vestindo e a blusa que trazia nas mãos. – Procurando alguma roupa em especial?


– Só estava experimentando, todas as minhas roupas ainda me servem – comentou tentando disfarçar o aborrecimento.


Rony ameaçou dizer algo mas mudou de ideia, trocou apenas um rápido olhar com Hermione.


– Que bom. – Hermione respondeu – Não vai precisar se preocupar com compras tão cedo... – olhou para Rony avaliando-o.


– O quê? – Rony indagou estranhando sua atenção.


– Nada – disse após breve hesitação – Já é tarde, vamos dormir.



Ficou um bom tempo vendo-os dormir, confrontando-se quanto o melhor para eles naquele momento, deixá-los ou ficar por perto. Ficou meditando por horas sobre as consequências daquela escolha. Estava sentado à mesa da cozinha quando Hermione o encontrou, percebeu o alívio nos olhos dela.


– Trouxe nosso desjejum. Onde está Rony, acordou?


– Não... Onde arranjou isso? – perguntou a ele.


– Há um comércio a poucos quilômetros daqui. – apontou em direção à estrada – Não se preocupe, ninguém me reconheceria – tinha se livrado dos óculos e trazia os cabelos novamente castanhos.


Hermione sentou-se à mesa com ele. Tirou alguns rolos de pergaminho da bolsa, separou um e começou a escrever.


– Vou pedir a Gina que cuide de Bichento pra mim, vai ser muito solitário para ele, ficar na sede – Hermione comentou. – Não quer aproveitar e mandar um recado? – perguntou timidamente.


– Não... – disse cabisbaixo. Ela não insistiu. Ele pegou uma das folhas, que estavam sobre a mesa, leu as poucas linhas que tinham sido escritas – Quem escreveu isso? Perguntando por mim?


– O quê? – Hermione tirou a folha de sua mão. – Ah, é o Draco. Um meio de contato direto, compramos isso na loja de logros, é para os alunos matarem o tempo durante a aula escrevendo uns para os outros... Pelo jeito, Draco já sabe sobre você.


– Não escreva nada sobre mim ainda – Harry pediu. – Pode não ser seguro.


– Tudo bem... – Hermione enrolou o pergaminho e o guardou separadamente. –  Quer mandar algum recado para Gina? – perguntou quando Rony se juntou a eles.


– Peça para avisar a todos que estamos bem. Mamãe deve estar preocupada.


– Vocês podem mudar de ideia quando quiserem, não vou ficar chateado.


– Tá brincando? Voltar à Hogwarts se Dumbledore e McGonagall não estão lá? Com Snape controlando tudo? – Rony bufou.


– O que disse?! – Harry se alarmou – Você tem razão! Se Dumbledore e Minerva estão fora...


– O período de férias ainda não acabou, com certeza os dois estarão de volta até lá. A Professora Minerva nunca se ausentou antes... Harry, você vai mesmo acreditar em tudo o que ele disse, sobre o Professor Snape?


– Por que continua defendendo ele?


– Entre a avaliação de Dumbledore e a de Você-Sabe-Quem, você vai preferir acreditar nele? Não percebe que ele poderia estar mentindo pra você?


– Eu não sei... – resmungou – Nem vou até o Snape perguntar se é verdade...


– OK. Temos que decidir por onde começar a procurá-las, as horcruxes – Hermione mudou de assunto para não chateá-lo mais, dobrou o bilhete que tinha escrito e guardou no bolso. Pegou a agenda.


– Que tal pelo começo? – Rony sugeriu servindo-se.


– E onde seria isso? – perguntou Hermione.


– No orfanato onde ele cresceu.


– Ele não gostava de lá, não voltaria pra esconder uma de suas horcruxes naquele lugar. – Harry descartou sua sugestão.


– Depois disso ele foi para Hogwarts – Hermione meditou. – Deixou três delas e foi... pra onde?


– Foi aprender sobre Magia Oculta, com os Antigos, mas também não acho que tenha deixado com eles, vocês acham?


– Não – Rony e Hermione concordaram em uníssono.


– Ele disse que as tinha verificado quando soube do anel.


– Será que não as mudou de lugar? – Rony perguntou entre uma mordida e outra.


– Bom... ele é muito confiante. – Harry o olhou invejoso. – Só que teremos que considerar todo e qualquer lugar.


– Vamos começar por lugares que tenham sido importantes para ele – Hermione abriu a agenda e posicionou a pena para começar a escrever. Os três se olharam em silêncio. – É melhor definir primeiro o significado de “importante para ele”... – ela levou a pena à boca, meditando. – Um lugar que ele tenha morado, como em Hogwarts, do qual tenha gostado...


– Você está sendo romântica – Rony a criticou – O lugar onde ele tenha cometido o primeiro assassinato, talvez...


– E isso não é nada sentimental... – Hermione caçoou.


– O lugar que ele visitava nas férias... – Harry pegou o tinteiro que estava sobre a mesa.


– Você ampliou de novo nossas opções – Rony queixou-se – O que ele fazia nas férias pra se divertir? Visitava cemitérios, assombrava os vizinhos?


– Ele era Monitor-Chefe, devia estudar nas férias e não perder tempo com traquinagens... – Hermione observou.


– Então, por isso é que ficou louco... – Rony murmurou para si mesmo. – O que está fazendo? – perguntou a Harry vendo a tinta que ele derramava se espalhar pelo papel.


– Ele disse que este lugar era importante, me levou até lá ano passado... quando o encontrei durante a detenção com Snape – levou a outra mão até a testa e ficou pensando em silêncio enquanto o desenho se formava.


– Parece um campo comum...


– Mas essa árvore é diferente – apontou o desenho – ele marcou nela suas iniciais, ela pode guardar alguma coisa, acho que senti algo naquele dia... – passou a folha para eles.


– E você tem ideia de onde fica isso? – Rony perguntou. Harry negou com um aceno.


– Se ele ainda era um estudante quando visitava este lugar, pode ser que fique próximo ao orfanato onde morou... Podemos verificar nos parques que se situam em Londres, não são muitos.


– Não sei que idade ele tinha, exatamente, naquela lembrança – confessou – mas se tinha algo lá, deveria ter mais de dezessete, para aparatar e fazer magia fora de Hogwarts. – Harry a lembrou.


– Você tem razão, foi quando cometeu seus primeiros assassinatos, o pai e os avós, já devia ser maior, para ir a Little Hangleton e executar magia.


– Não temos como ter certeza disso. – disse Rony – Então, começar por Londres é o mais aconselhável, mais perto. Só espero que não tenhamos que procurar em todas as árvores do mundo...





Assim que chegaram ao centro compraram um guia turístico em uma banca de jornal, depois pegaram o metrô até o St. James Park.


– O que você acha Harry? – Hermione perguntou.


– Hum... não sei – respondeu hesitante, muitos anos tinham se passado desde aquela época não sabia como o local estaria agora. – Não me lembro de nenhum lago – disse olhando os patos nadando na água.


– Ele pode ter te levado a outra parte, mais distante, ou talvez, essa lembrança não tenha sido totalmente verdadeira, poderia ser um local do jeito que ele gostava de imaginá-lo e não como realmente era.


– Como!? – Rony virou-se para ela. – Tá querendo dizer que podemos estar procurando um lugar que nem existe?


– Tudo é possível, temos que considerar todas as possibilidades. E procurar – ressaltou puxando-o para adiante.





Desfolhou o jornal local em busca de notícias sobre algo que Voldemort pudesse estar fazendo. Não achou nada de anormal, ataques, tragédias ou desaparecimentos.


– Alguma coisa? – perguntou Hermione.


– Não, nada – colocou o jornal sobre a mesa e olhou nervosamente ao redor. – Já acabaram? Vamos voltar?


– Eu vou ao correio – Hermione o lembrou. – Preciso que Gina receba isso ainda hoje, amanhã ela embarcará.


– É uma sensação estranha pensar isso, que não estaremos com eles no trem. – Rony comentou entusiasmado.


– E isso parece te deixar feliz – Hermione o olhou criticamente. – Vou até o Beco, aproveito e tento saber notícias – soltou o coque e ajeitou os longos cabelos castanhos que desciam pelas costas. – Encontro vocês dois mais tarde, na cabana.


– Tem certeza de que quer ir sozinha? – Rony insistiu.


– Então leve a minha capa – Harry ofereceu mediante sua teimosia.






Rony se jogou sobre a grama no final da tarde , o solo ainda estava úmido da chuva mas não se importou, estava cansado. Sacudiu a cabeça jogando para o lado o cabelo castanho que caía sobre os olhos. O dia estava acabando e sombras começavam a se espalhar.


– Será que esses Parques Reais são mesmo uma boa escolha? – perguntou Rony.


– Por que não? São protegidos – Hermione sentou-se ao seu lado reparando-o. – E o mais parecido com este lugar que temos por perto – tirou o desenho do bolso. – Bom, só terminamos um dos oito, não vamos desanimar.


– Para onde iremos agora? – Harry se agachou em frente a eles.


– Podemos começar amanhã no Chelsea, fica apenas a quinze minutos da estação de Sloane – Hermione consultou o guia.


– Não deveríamos terminar primeiro os Parques Reais? Qual o tamanho desse?


– Um hectare e meio. Você acabou de dizer que esles não pareciam uma boa escolha – Hermione queixou-se.


– Por mim tudo bem – Harry concordou.



Harry trocou as velas que já estavam no fim, achava as noites na cabana entediantes, mas Hermione tinha gostado do lugar e achava arriscado ficarem junto à civilização.


– Deve existir uma maneira mais fácil de fazer isso. Por que não procura no Lord algum feitiço que nos ajude a encontrar essa árvore? – Rony pediu.


– Combinamos não fazer magia enquanto estivermos entre os trouxas, lembra? – Hermione estava sentada confortavelmente no sofá procurando novidades no jornal trouxa que tinham levado, havia uma pilha deles a um canto, mas nenhum continha algo em especial. Não tinham ideia do que ele pudesse estar fazendo, os jornais nada diziam.


– Não estamos entre os trouxas, Mione. Estamos no meio do nada e passamos todos os dias, o dia inteiro, no meio do nada – desabafou.

Hermione olhou para Harry esperando que ele decidisse, ele foi até o quarto e buscou o livro. Demorou um tempo para que conseguisse formular algo que lhe desse um resultado próximo.


– Não sei se irá servir – comentou incrédulo – Não parece ter algo realmente apropriado para isso.


– Deixa eu ver – Rony pediu ansiosamente e tirou o livro de suas mãos. Foi até a janela aberta e pegou a varinha.


– Ele quer fazer com que a árvore venha até ele? – Hermione sussurrou quando Harry se sentou ao seu lado.


– Deixe-o se distrair, ele está ficando cansado disso – observou – Eu também estou.


– Acho que ele só está preocupado com todo esse silêncio, parece que nada está acontecendo lá fora. Precisamos fazer contato com alguém da Ordem. Saber como estão todos – sugeriu observando-o lançar os feitiços para a noite escura.


– Certo, podemos tentar isso amanhã.


– Cuidado com o que está fazendo, Rony – Hermione pediu a ele – Pode acabar causando um desastre.


– Sei... como o quê? – perguntou desanimado pelas suas primeiras tentativas infrutíferas.


– Comensais! – Harry os alertou.


– Acha que eu posso atrair Comensais? – perguntou sarcástico.


– Já estão aqui! Peguem suas coisas! – fez com que as janelas se lacrassem e correu a buscar a mochila.


Eles entenderam prontamente e fizeram o mesmo.


– Apareçam e entreguem-se em nome do Lorde das Trevas! – uma voz soou fortemente vinda de fora.


Harry voltou à sala, avaliando a situação.


– O feitiço de ocultação ainda está funcionando, não podem nos ver...


– Teremos que tirar a proteção para conseguirmos aparatar daqui, certo? – Rony pediu confirmação. – Temos como sair sem sermos vistos?


– São dois apenas... – ouviram enquanto eles vasculhavam o local se aproximando. Preparou-se para a alternativa de ter que enfrentá-los. – Hermione? – olhou ao redor procurando a amiga.


Um dos feitiços atingiu a ponta do telhado, o seguinte destruiu a parede lateral e a lareira. Rony apontou a varinha e Harry ampliou o escudo para protegê-los.


– Venham comigo, agora! – Hermione os agarrou pelo braço e no instante seguinte estavam no frescor da noite.


– Ai! Me larga! – Rony reclamou puxando o braço para longe dela.


– Por que fez isso?! – Harry verificou, irritado, as marcas das unhas dela em seu braço.


– Eu precisava que se concentrassem em mim, ou um de vocês poderia estrunchar... – justificou-se – Desculpem, eu fiquei nervosa.


– Da próxima vez procura outra maneira de chamar nossa atenção – Harry pediu a ela.


– Eram só dois, Hermione – Rony reclamou. – Nós podíamos ter dado conta deles, faríamos eles falarem o que está acontecendo depois os entregaríamos para a Ordem!


– É, seria perfeito, até que enviassem reforços.


– Que lugar é esse? – Harry ajeitou a mochila no ombro e examinou a longa estrada, um carro passou em alta velocidade, os faróis iluminando momentaneamente a via deserta.


– Preston, Lancashire.


– Hum... Nunca estive aqui. – ele olhou ao redor analisando.


– Não estamos passeando, Rony, estamos fugindo – ela o lembrou.


– Como nos acharam? – Harry meditou em voz alta – Ninguém pode ter dedurado desta vez.


– Se é que estavam atrás de você – seu comentário fez com que desviassem a atenção para ela. – Como ele poderia esperar te capturar enviando apenas dois de seus seguidores, e sabendo que você poderia pressenti-los? Não faz sentido.


– É verdade – Rony concordou. – Hermione... – chamou gentilmente após o silêncio que se seguiu. – Por que nos trouxe pra essa estrada deserta? Não espera que consigamos carona neste lugar, não é? Deveria ter nos levado para um lugar onde pudéssemos, pelo menos, passar a noite...


Ele se encolheu perante o olhar que ela lhe lançou.


– Vamos encontrar outro lugar, não deve ser difícil encontrar uma vaga – disse Harry.


– Pediriam nossa documentação e vocês não tem nenhuma. – ela argumentou. – Mesmo assim, ainda somos menores aqui, entre os trouxas, acabaríamos chamando a atenção de alguém.


– Duvido que alguém me questione se eu disser que tenho dezoito – Rony gabou-se.


– Claro – Harry concordou reparando seu porte. – De medo, provavelmente. O que quer fazer? – perguntou a ela.


– Acho que devemos comprar uma barraca e passarmos a acampar nos parques, enquanto procuramos a horcrux. Assim economizaremos tempo e dinheiro – ela opinou.


Foram às compras. Chegaram ao centro comercial e visitaram as lojas que acharam apropriadas.


– Tem um shopping ali na frente – Rony observou após várias visitas sem resultado. – Vamos até lá.


O local estava bem movimentado, pessoas rindo e conversando em grupos enchiam o lugar.


– Olhem, uma pista de patinação – Rony apontou. Passou a mão pela testa afastando a franja enquanto sorria entusiasmado.


Um grupinho de garotas que estava próximo a eles soltaram risadinhas. Harry olhou para a pista sem nenhum interesse.


– É que eu nunca estive em uma pista antes – Rony se justificou meio encabulado.


Hermione as fulminou com o olhar e o puxou pela mão, retirando-o de lá. Entraram numa loja de artigos esportivos no segundo andar, a única que encontraram.


– O que vocês acham? – Hermione perguntou após examinarem algumas.


– Essas não têm cozinha nem banheiro – Rony reparou. O vendedor riu achando que se tratava de uma piada. Rony fechou a cara para ele cruzando os braços. Harry reparou que ele parecia bem intimidador, e não foi o único, visto que o homem logo se silenciou.


– Realmente... – Hermione mordeu os lábios pensativa. – Vamos embora. Esperem por mim aqui, preciso ir a um lugar, volto logo – despediu-se deles em frente à loja.


– Sozinha? Por quê? – Harry estranhou.


– Porque vai ser mais rápido e menos arriscado. Rony... aproveita para comprar umas blusas novas, por favor.


– Por quê?! – perguntou espantado, suas orelhas corando – Acha que estavam rindo de mim por causa das minhas roupas? – olhou para si mesmo – Essas são novas, eu as comprei ano passado... – comentou encabulado.


– Não estavam rindo de você – ela explicou pacientemente – Nem por isso você vai querer continuar chamando a atenção, se exibindo nessas camisetas justas, não é? – disse docemente, em um tom que não permitia contestação. Beijou seus lábios.


Harry desviou os olhos fingindo interesse pelos cadarços de seu tênis. Observaram em silêncio enquanto ela se afastava.


– Acho que ela aprendeu isso com a sua mãe.


Rony sorriu e olhou ao redor até localizar uma loja. Foram até lá.


– Que tipo de blusa eu compro? – Rony perguntou empolgado. – Acha que ela vai gostar desta aqui?


– Não é das blusas que ela gosta – Harry o avaliou. – Não está usando nenhum tipo de feitiço, está? Alguma invenção de Fred e Jorge? – insistiu.


– Claro que não! – assegurou. Lançou a ele um rápido olhar e voltou a se concentrar em suas escolhas.


Harry resolveu aguardar do lado de fora enquanto ele se decidia. Deu umas voltas pelo local até chegar à pista de gelo, ficou olhando os patinadores sem realmente prestar atenção ao que faziam. Respondeu a mensagem de Rony e aguardou ele chegar.


Após alguns minutos de espera Harry pegou o cordão e enviou uma mensagem, guardou-o novamente quando recebeu a resposta.


– Não deveríamos ter deixado ela ir sozinha, não depois do que acabou de acontecer.


– E quem tentaria impedi-la de ir? – Rony acenou para que saíssem dali. – É preferível enfrentar Comensais a ter que enfrentar a Mione...


Caminharam em silêncio até que chegaram em frente a uma casa de jogos. Rony ficou observando os jogadores com curiosidade.


– Por que não vai até lá e se distrai um pouco enquanto ela não volta? – Harry sugeriu. Ele hesitou. – Vai, eu fico esperando aqui.


Sentou-se no banco em frente e ficou observando o movimento enquanto Rony se afastava. Sentiu-se angustiado ao imaginar que Dumbledore e Voldemort poderiam estar realizando muitas coisas naquele momento, e ele, preso à esperança de encontrar uma lembrança.


Ela prendeu sua atenção assim que apareceu em seu campo de visão. Distraiu-se observando seus gestos impacientes, parecia estar esperando alguém. Seus olhares se cruzaram por diversas vezes. Tentou se ocupar olhando para outra direção mas não conseguia por muito tempo.


Em uma dessas tentativas acabou perdendo-a de vista. Resolveu consultar o Lord para tirar uma dúvida. Percebeu o movimento ao seu lado e olhou rapidamente, ficou surpreso ao se deparar com ela.


– Atrapalho? – ela perguntou timidamente.


– Não! Claro que não – respondeu prontamente.


Ela sorriu e ele reparou as covinhas que se formavam em seu rosto.


– Eu não gosto de ficar sozinha, é tão chato... Também está esperando alguém?


– Meus amigos – comentou sem conseguir desviar o olhar de seu rosto. – E você?


– Eu também. Já nos vimos antes? Seu rosto me pareceu familiar.


– Não, eu não sou daqui... eu... – pesou as palavras enquanto se decidia – Estou só  visitando.


– Eu me chamo Susan – ela enrolou os longos cabelos loiros nas mãos enquanto os puxava para frente.


– Bryan... – Hermione se aproximou curiosa.


– Ah, oi... esta é Susan – Harry a apresentou lamentando sua aparição repentina. – Susan, esta é minha amiga Samantha.


– Oi – Susan a cumprimentou polidamente e logo voltou sua atenção a ele. – Onde está hospedado?


– Do outro lado da cidade – Hermione respondeu por ele – Por falar nisso, temos que ir... Agora. – enfatizou – Onde está o Mat?


– Jogando – indicou o estabelecimento em frente, surpreso. – Tenho que ir... – levantou-se ao perceber seu olhar insistente. Olhou ao redor.


– Espero que a gente possa se encontrar novamente – Susan se despediu.


– Eu também – disse a ela.


Foi com Hermione até a loja mal iluminada. Não demoraram a localizar Rony.


– Precisamos ir – ela pediu estendendo-lhe a mão.


– Tá, tudo bem – Rony abandonou o jogo após perceber sua expressão determinada.


Deixaram que ela os levasse para a parte mais escura e afastada, o local era barulhento e desprovido de curiosos, a atenção de todos era para as telas coloridas. Aparataram.


– Do que estávamos fugindo? – Harry perguntou quando chegaram ao local. Não tinha sentido a presença deles.


– De nada – respondeu soltando a mão deles e pegando a varinha para iluminar o lugar.


– Tinha alguém nos seguindo? – perguntou Rony.


– Não, por que teria? – seguiu caminhando pela mata.


– Então por que saímos daquele jeito? – Rony reclamou.


– Já está tarde e temos que encontrar um bom lugar para acampar. – olhou ao redor procurando. – Temos que dormir logo se quisermos recomeçar cedo, amanhã.


Eles se olharam sem entender.


– Mas eu estava ganhando!


– E eu estava conversando...


– Com uma estranha! – tirou uma caixinha da bolsa e a colocou sobre a parte mais plana da relva. – A coisa mais imprudente que poderia fazer!


– Eu a estava conhecendo, se eu tivesse tido mais tempo ela deixaria de ser uma estranha – respondeu indignado. – Não acredito que fez isso!


A caixa se abriu e expandiu quando ela apontou a varinha, se transformando em uma barraca.


– Ela parecia muito interessada em saber sobre a sua localização. E você? – virou-se para Rony – Por que o deixou sozinho?


– Eu estava por perto... Harry saberia se ela fosse um dos seguidores de Você-Sabe-Quem – Rony defendeu-se.


– Entrem os dois, preciso lançar um feitiço que nos oculte!


Harry ainda pensou em protestar mas Rony o empurrou pela entrada. Por dentro era bem espaçosa e confortável, iriam poder dispor de um amplo cômodo com banheiro. Hermione entrou e lacrou a passagem.


– Você foi até uma loja de bruxos para comprar esta barraca, ao Beco? Depois do que acabou de acontecer? Isso sim foi um ato muito responsável! – Harry zangou-se.


– O Beco Diagonal não é o único centro comercial do mundo bruxo, eu fui à Poole! E sim, sou muito responsável! – tirou da bolsa uma edição antiga do Profeta Diário.


– Poderia ter nos avisado antes. E se algo acontecesse? – Rony concordou com Harry e abriu o jornal.


– Eu tive cuidado, precisei parar para ver os meus pais... – justificou-se. – Dizer que eu estava bem. Ninguém me viu entrando – acrescentou – Eu estava com a sua capa.


Harry suspirou profundamente, sentindo-se culpado.


– E como eles estão? – perguntou deixando de lado a discussão anterior.


– Bem. Meu prédio ainda está protegido e eles estão recebendo visitas frequentes dos membros da Ordem... Pedi que transmitissem notícias à Toca também – avisou a Rony.


Ela puxou da bolsa os sacos de dormir que tinha pego na cabana.


– Você sempre pensa em tudo... – Harry a admirou. – Foi uma boa escolha, essa barraca –  tentou se desculpar.


– Procurei gastar apenas o necessário, temos que economizar...


Rony praguejou fazendo com que desviassem a atenção para ele, ainda entretido com o jornal.


– O que foi? O que aconteceu?


Rony baixou o jornal para que ele pudesse ler também.


– Snape, ele assumiu temporariamente a função de direção na volta às aulas, Dumbledore ainda não havia retornado...


– Também estranhei essa notícia – disse Hermione.


– Impossível, ele deixaria a Professora Minerva, não ao Snape! – Harry disse raivosamente. – Ela voltou, não é? – voltou-se para ela preocupado. – E Dumbledore?


– Não sei, as outras edições não comentavam o assunto, minha assinatura expirou, eram todas antigas.


– Então temos que buscar notícias, Harry.


– Nós vamos. Isso não pode ser coincidência! Isso é tudo o que ele queria, com Dumbledore fora... – Harry começou a andar de um lado para o outro conforme sua cicatriz formigava. – Vamos até o Beco amanhã, podemos buscar notícias com Fred e Jorge.


– Não, Harry! Se Dumbledore ainda não voltou é porque deve estar muito ocupado procurando aquilo que você falou – Hermione sugeriu. – E mesmo que Snape estivesse interessado no cargo, duvido que o Ministério permitiria que um ex-Comensal assumisse Hogwarts, principalmente agora.


– Mas nós já tínhamos combinado fazer isso amanhã, lembra?


– Há um forte esquema de segurança em Poole também, muitos aurores. Ir até o mundo bruxo está sendo muito arriscado, ainda nem sabemos como os Comensais conseguiram nos localizar... não vamos querer nos preocupar com o Ministério também.


– Hermione... – Rony tentou argumentar.


– Se tivesse algo errado na sua casa meus pais saberiam me dizer, A Ordem está sempre em contato, querendo notícias nossas. Seu pai os esteve visitando também. – ela o tranquilizou.


– Podem visitá-los na Toca amanhã – Harry sugeriu. – Podemos arranjar um jeito....


– Não, Mamãe me amarraria aos pés da cama – Rony dispensou. – Teremos tempo para visitas depois que encontrarmos elas.



No dia seguinte iniciaram as buscas. Harry passou o dia inteiro preocupado, tinha passado a noite anterior vigiando, com medo de serem surpreendidos. Acamparam novamente quando a noite caiu.


– Harry, deixa eu ver o Lord? – ela perguntou de repente, pondo de lado o livro que estava consultando.


– O que você quer saber? – tirou-o da mochila prontamente, estava cansado de passar as noites ocioso.


– Quero saber que feitiços ele mostrou ao Rony – ela declarou. Harry suspirou.


– Não foi o livro que os atraiu. Eles não estão aqui agora, estão? – perguntou adivinhando seus pensamentos.


– Não, mas é muita coincidência que tenham aparecido após o Rony usar seus feitiços. – ela argumentou. Harry olhou para ela, hesitante. – Será que o Lord é tão inocente assim? Pelo o que você contou, me parece que todos os atos de Você-Sabe-Quem são muito bem planejados.

Harry sustentou seu olhar por alguns instantes depois se concentrou para achar o que ela pedia. Ficou um tempo olhando para as folhas amareladas. Entregou o livro e acompanhou enquanto ela lia cada um dos feitiços e descrições.


Ela examinou a capa e voltou a desfolhá-lo lentamente. Analisou a linguagem estranha que ele sempre apresentava aos demais.


Um piado soou alto, do lado de fora. Harry se levantou redobrando a atenção.


– É Edwiges! – disse se dirigindo à saída.


– Não, Harry... – Hermione o seguiu tencionada a impedi-lo.


– Ele a avistou assim que saiu, um ponto branco na noite. Pousadas ao lado dela estavam a coruja menor e a castanha que tinha visto antes de embarcar para Hogwarts, no ano anterior. Edwiges voou até ele assim que o viu, trazia consigo um embrulho.


– Como ela te achou?


– Não sei... ela é muito esperta – afagou suas penas em agradecimento.


Hermione se encantou com sua pequena filhote, e até conseguiu fazer com que pousasse rapidamente em sua mão antes de partir com os pais. Harry rasgou o embrulho com ansiedade, percebeu o que era só em tocá-lo.


– Sirius! – chamou-o pelo espelho. O rosto de seu padrinho apareceu no mesmo instante.


– Que bom! Sabia que ela conseguiria te achar – comentou aliviado.


– Está tudo bem com você? – perguntou ansioso. – Onde está a Raven?


– Ela não está aqui agora, está com a Moly, na Toca.


– Aconteceu alguma coisa? – Rony perguntou ao seu lado.


– Claro que aconteceu! Quero que voltem pra casa, estamos todos preocupados com vocês! Rony, pense nos seus pais...


– Mas estamos sempre mandando notícias. Peça que não se preocupem – Rony pediu. – Estamos todos bem.


– Você sabe que isso não basta para a sua mãe, ela precisa te ver.


– Sirius – Harry continuou quando Rony ficou em silêncio, meditando. – O que aconteceu a Dumbledore? Ele voltou?


– Vocês já têm problemas demais para se preocuparem com isso, ele voltará quando puder.


– Que problemas? Os Comensais? – Harry perguntou a ele.


– Estão tendo problemas com os Comensais? Onde vocês estão?


– Diga aos meus pais que eu sinto muito pela cabana do lago – Rony pediu – Acho que Tia Muriel não vai sentir falta do lugar...


– Vocês não andaram fazendo magia, não é? – Sirius perguntou com preocupação.


– Por que não? – pediu Hermione.


– Não sabem? Então não estão próximo a nenhuma comunidade bruxa – Sirius deduziu. – Bom, não fiquem entre os trouxas também, não é seguro.


– Mas o que está acontecendo Sirius? – Rony se mostrou apreensivo – Não estamos sabendo de nada, temos andado sem notícias. Nada tem sido noticiado nos jornais trouxas, parece estar tudo normal por aqui.


– Os trouxas não têm sido atacados, não exatamente...

– Quem então? – Harry perguntou impaciente.


– Iremos contar tudo quando chegarem aqui.


– Não vou voltar, Sirius, já te disse isso.


– Poderemos deixar que nos ajudem na busca pelas horcruxes, se realmente quiserem... Só queremos protegê-los.


– O que vocês conseguiram até agora? – Rony perguntou.

– Nada ainda – admitiu contrariado – Temos estado ocupados, ajudando os aurores.... mas andamos pesquisado a infância dele, o prédio onde cresceu, Hogwarts, mas não encontramos nada suspeito ainda.


– Não há mais nada em Hogwarts – Harry avisou a ele após uma breve troca de olhar com os amigos. – Nós já pegamos todas.


– Pegaram?!


– Sim, mais duas – Rony explicou – Só que já destruímos uma.


– O que estão fazendo?! Por que não nos disseram nada? – Sirius desapareceu temporariamente. Aguardaram com curiosidade, Hermione franzindo a testa. – Muito bem, então entreguem a que falta, sabem o quanto é perigoso.


– Não podemos, não agora – Rony falou por eles.


– Sabem o quanto é perigoso, lembram o que aconteceu em Hogwarts? – disse alternando o olhar entre eles – A Câmara...


– Nós sabemos, Sirius – Harry murmurou pensativo. – Mas o que estamos fazendo é importante.


– Então, digam-me onde estão, quero vê-los pessoalmente – pediu. – E contarei tudo o que precisam saber.


– Estamos acampados...


– Não – Hermione o interrompeu – Aqui não. Amanhã, em Poole, sozinho.


– Você e a Raven – disse Harry.


– Ninguém mais– Rony recomendou. – Os outros não entendem a gente.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Xexa

    Não sei porque mas não confiu na Raven

    2013-07-24
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.