Um lugar especial



*

– Desculpe Mione, mas não acho que este lugar tenha sido uma boa ideia – disse Rony.


– Por que não? – seguiram calmamente pelo corredor da Biblioteca Central – É grande, bem movimentado, muitos lugares onde poderemos nos esconder e... poderemos nos distrair enquanto esperamos.


– Durante duas horas? O que pode ter de tão interessante para se fazer aqui por duas horas? – Rony olhou em volta com desânimo, sua expressão mudou quando viu o laboratório e os terminais disponíveis. – Vou me esforçar e dar uma olhada por aí.


– Bom, parece que ele se interessou por alguma coisa – ela disse admirada enquanto ele se afastava.


– Com licença – ele se aproximou trajando um uniforme do local. – Vocês já estão deixando o prédio?


– Não... Acabamos de chegar – Hermione estranhou.


– Fiquem à vontade então – estendeu a ela um prospecto – Temos muitas atividades que talvez possam interessar.


– Obrigada – agradeceu encantada com a atenção.


– Vocês três... são irmãos?


– Somos – ela disse antes que Harry pudesse negar.


– Espero que gostem e voltem mais vezes. Pode falar comigo se precisar de alguma coisa, meu nome está escrito no verso.


Ela retribuiu o sorriso. Harry o encarou seriamente, avaliando-o.


– Irmãos? – perguntou a ela quando se afastaram.


– O que queria que eu dissesse? Que explicasse os detalhes? Viu como os funcionários daqui são simpáticos? – comentou.


– É, eu vi sim – olhou para ela de soslaio se dando conta de que ela era uma jovem atraente.


Deixou que ela se ocupasse com suas pesquisas e caminhou pelo local desejando que as horas passassem rápido. Sirius o deixara preocupado por não querer responder às suas perguntas. Depois de algum tempo sem avistar ninguém conhecido e os ponteiros do relógio se arrastando lentamente foi ver o que Rony estava fazendo.


– O que está fazendo? – cochichou para Rony quando se aproximou.


– Isso aqui é muito legal, pode-se fazer qualquer coisa... Gosto desse tipo de magia...


– Tecnologia – corrigiu-o. Procurou por notícias na internet, para passar o tempo.


Ficou ao lado de Rony aguardando-o, Hermione não tinha mandado nenhuma mensagem ainda, tentou não atrapalhar enquanto se distraíam um pouco. Viu através do vidro quando o rapaz, que tinha falado com eles mais cedo, passou pelo corredor.


– Eu acho que você deveria ir ver a Samantha... – Harry disse a ele.


– Eu vou ver... depois, ainda tenho vinte minutos.


– É melhor ir agora.


– Escuta, por que não vai ver se já chegaram? – o puxou para que se levantasse e o empurrou em direção à porta, sem realmente o olhar.


Harry saiu. Olhou em volta sem saber o que fazer, foi até o local combinado e sentou-se à mesa aguardando.


– Harry... – chamou-o baixinho pousando a mão em seu ombro.


Harry se levantou e o abraçou, surpreso por vê-lo ali, mas feliz por reencontrá-lo. Abraçou também ao seu padrinho. Ambos sentaram-se com ele, atentos ao movimento ao redor.


– Onde estão Rony e Hermione, não vieram com você?


– Vieram... Raven não veio? – olhou em volta procurando.


– Ela não pôde vir – comentou rapidamente – Bom esse lugar que Hermione escolheu.


– Não precisam ficar tão tensos, não há nenhum Comensal aqui por perto. Eu aviso se chegar algum. – brincou com eles e puxou o cordão para avisar aos amigos. – E Tonks, Lupin, como ela está?


– Está bem, bem arrependida da maneira como te tratou, está ansiosa para falar com você – comentou mais descontraído.


– Não a culpo por aquilo, diga a ela que não estou chateado – reparou a expressão abatida de seu padrinho, percebeu que ele não estava bem. – Você e Raven estão bem mesmo? – insistiu decepcionado com a ausência dela. – Brigaram?


– Não, estamos bem... Resolvemos não esperar mais, vamos casar depois de amanhã, nos dias de hoje tudo é imprevisível, decidimos não correr o risco. Será uma cerimônia reservada.


– Ah... Tenho certeza de que ocorrerá tudo bem, gostaria mesmo de poder ir, mas você entende, não é?


– Claro... – Sirius baixou os olhos e depois olhou para Remo.


– Então... o que está acontecendo? – pediu ansiosamente. – O que Voldemort está fazendo?


– Shhh... – Lupin pediu que falasse mais baixo, havia outras pessoas por perto – Perseguindo bruxos, essa é a nova tática dele – informou.


– Não sabemos bem como, mas ele está conseguindo rastrear a execução de magias avançadas e está usando isso para intimidar, atacando famílias e civilizações bruxas...


– Sei... nos localizaram também, mas então, não chegaram a descobrir que éramos nós... – Harry meditou. – E o que esses bruxos estão fazendo?


– Fugindo, claro. – explicou Lupin – Procurando ajuda do Ministério, ele se viu obrigado a acolher diversas famílias bruxas amedrontadas o suficiente para abandonarem seus lares, acomodou-as no espaço que andara aprontando para a criação de um orfanato bruxo, no próprio Ministério... 

– Só que não foi suficiente e logo teve que providenciar outros. O povoado de Hogsmeade cresceu consideravelmente, famílias não param de chegar todos os dias. E apesar do controle rigoroso dos aurores os ataques são constantes. Não sabemos até onde ele quer chegar com isso, nenhum bruxo está seguro aqui fora.


– Onde estão Rony e Hermione afinal? – Lupin perguntou impaciente.


– Devem estar se divertindo – respondeu distraidamente enquanto pensava sobre os planos de Voldemort. Lupin fez com que olhasse para ele, sua expressão, preocupada.


– Por que desafiou Greyback? Não percebeu que ele é um tipo descontrolado e vingativo?


– Não fiz nada – murmurou inocentemente, estranhando sua pergunta – Foi culpa dele o que aconteceu.


– Você deve ter se tornado um alvo muito interessante para ele – Sirius disse raivosamente – por sobreviver sempre, um desafio que nem o Lorde das Trevas...


– Ele ainda está vivo?!


– Sim... muito vivo. Já esteve rondando nosso acampamento – declarou Lupin.


Harry estalou a língua com irritação.


– Claro... ele não pôde fazer. Depois eu penso nisso, tenho outras prioridades agora... O que está acontecendo em Hogwarts? Dumbledore não voltou, então, a Professora Minerva o está substituindo? – sondou.


– Não. Ela tem precisado se ausentar com frequência para tratar de problemas pessoais. – Sirius comentou com desconforto. – Snape está assumindo a pedido de Dumbledore...


– Quem disse isso? Dumbledore falou com alguém? – irritou-se com a confiança deles em Snape quando era óbvio o que estava acontecendo.


– Ele tem se comunicado com o Snape, manda cartas de vez em quando – Lupin declarou ao se levantar. Harry se espantou com a naturalidade com que tratavam o assunto.


– Venham conosco – Sirius pediu enquanto aguardavam Lupin trazer algo para eles. – Não encontrarão bruxos decentes aqui fora, caso precisem de ajuda.


– E fazer a vontade dele? Com os bruxos se isolando e se escondendo ele fica com livre circulação pelo mudo trouxa para fazer o que quiser. – Harry argumentou, contou a ele a conversa que Voldemort tinha tido com o homem chamado Adam.


Não tinha voltado a pensar naquela estranha conversa até então. Puxou mecanicamente o cordão quando recebeu a mensagem. Ficou um bom tempo olhando para o pingente enquanto Sirius absorvia o que tinha acabado de contar e tentava estabelecer uma conexão com os últimos acontecimentos.


Harry sentiu sua cicatriz arder insistente, apertou o pingente com força tentando se controlar. Quando Lupin voltou com as bebidas Sirius repassou para ele aquela informação.


– Isso é inimaginável... – disse Lupin – Você-Sabe-Quem envolvido com trouxas? Uma empresa?


– Não é a primeira vez – comentou cabisbaixo girando o pingente entre os dedos – Eu contei a vocês sobre o castelo, a iluminação...


– Sim, mas ele os matou, não foi? O que ele espera obter se envolvendo em negócios trouxas?


– Conseguiram resolver o problema dos dementadores? – perguntou ainda com os olhos fixos no pingente em suas mãos. Ergueu os olhos quando não obteve resposta.


– Beba – sugeriu Lupin, fazendo o mesmo. Harry guardou novamente o cordão e pegou o copo.


– O Ministério está fazendo do jeito dele – disse Sirius – Não é a melhor maneira possível mas... o que podemos fazer?


– E Moody e os outros? O que estão fazendo? – passou a girar o copo, brincando com o seu conteúdo.


– Podem fazer tanto quanto nós.


– O que eles estão fazendo agora? – retificou sua pergunta. – Não desconfiaram de que vinham, não é?


– Não, não desconfiaram... – Sirius sorveu todo o restante de sua bebida de uma só vez. – Quer que eu te traga outra? – ofereceu apesar dele ainda não ter bebido nem um gole.


– Chame-os novamente, Harry. Nós queremos vê-los também. – Lupin pediu enquanto ele erguia o copo.


Harry agitou o conteúdo e o cheirou.


– Poção do sono...? – disse voltando a depositar o copo sobre a mesa. Eles se enrijecerem em suas cadeiras – Por quê? Por que estão mentindo pra mim? – levantou-se.


– Não, Harry! – levantaram-se também enquanto ele se afastava de costas, olhando-os decepcionado. – Estamos fazendo isso para o seu bem.


Harry ainda conseguiu ouvir Lupin dizer antes do pó escurecedor se espalhar pelo local.


As pessoas que estavam presentes tentaram fugir assustadas com aquela escuridão repentina. Moody e George Killingbeck surgiram a seguir restaurando a situação, com suas varinhas.


– Vem, Harry. Vamos embora. – Rony pousou a mão em seu ombro, afastando-o da janela. Hermione segurou sua mão e seguiram em silêncio.


– Foi um bom arremesso – Harry disse a ele antes de aparatarem.




Continuaram as buscas pela árvore. Todos os dias, incansavelmente. Depois que adormeciam Harry os deixava para dar continuidade, ansioso para encontrá-la e tirá-los dali. Os jornais diários continuavam a transmitir nenhuma informação que os interessasse.


Hermione telefonava para os pais de vez em quando, para transmitir notícias suas e de Rony, mas não se atreviam a ir ao mundo bruxo buscar informações.


– Olha, Harry, se parece com você... – Rony jogou para ele a parte do jornal que estava lendo, contendo uma foto em preto e branco.


– E agora eu pareço ter doze anos de idade? – jogou o jornal de volta após o percorrer rapidamente com o olhar.


– Não, claro que não! – Hermione interferiu enfaticamente.


– Eu não disse isso... – Rony defendeu-se.


– O que foi? – perguntou desconfiado – Sobre o que andaram falando?


– Sobre o fato de você não estar se desenvolvendo de maneira normal – Rony desabafou rapidamente, estivera se controlando para evitar o assunto. – Achamos que pode ser efeito dessa sua ligação com ele.


– Sabemos que ele tomou precauções para se livrar da morte. – Hermione comentou cautelosamente – Por que iria querer passar a eternidade como um ancião? Deve ter feito ou estar fazendo alguma coisa...


– E está me afetando, eu sei, desde que ele voltou... Comecei a perceber isso quando fui a Godric's Hollow – confessou e voltou à leitura do seu jornal.


– Não quer conversar a respeito? – perguntou Hermione.


– O Lord não me diz nada... O que você acha que ele fez? – colocou o jornal de lado e voltou sua atenção a ela.


– Que ele deve ter conseguido uma maneira de retardar o envelhecimento, nunca li nada a respeito de algum humano que tivesse tentado. Apesar de ser algo bem atraente, deve ser também complicado.


– E proibido... – Harry suspirou – Não parece ser o tipo de coisa que o Ministério aprovaria. Alguém que demorasse a envelhecer chamaria muita atenção dos trouxas.


– Sim, pobre Sean – disse Rony. – O vampiro do sótão lá de casa – explicou quando o olharam confusos. – O Ministério é intolerante com eles também.


– Claro que tudo isso vai se resolver quando...


– Eu sei – Harry a cortou, desanimado. – Vou dar umas voltas – comunicou a eles e saiu para continuar a busca.



Rony praguejou, caindo de joelhos, após tropeçar pela segunda vez. A neve atrapalhava a caminhada.


– Podemos parar agora? Meus pés ainda estão doloridos...


– Temos que aumentar nosso ritmo, Rony. Ainda há muitas árvores pra serem vistas – Hermione parou ao seu lado.


– E daí? – perguntou de mau humor. – Elas continuarão no mesmo lugar, já meus pés, nunca mais serão os mesmos – reclamou – Se a gente pudesse simplesmente aparatar nesse lugar...


Hermione olhou para Harry.


– Não acho que seja uma boa ideia – Harry adivinhou seus pensamentos. – Você mesma disse que esse lugar poderia nem existir, e se for verdade? O que pode acontecer?


– Descobriremos se tentarmos. Eu estou disposta a arriscar.


Harry olhou para ambos imaginando que deviam estar realmente cansados de tudo aquilo, há meses procuravam sem encontrar nada e com a proximidade do natal, reparou, eles estavam ficando deprimidos e impacientes.


– Tudo bem – concordou estendendo as mãos para eles.


Foram arremessados para trás, rolaram alguns metros pela terra, depois se levantaram espanando as roupas.


– O que foi isso? – Harry invocou os óculos que tinham ficado no chão e os limpou na blusa.


– Acho que fomos repelidos... Onde está o Rony? – olharam ao redor procurando mas ele não estava por perto.


– Ele soltou a minha mão assim que batemos... – Harry reparou bem o lugar em que estavam, escuro e frio, não havia sinal de neve alguma ali. – Que lugar é esse?


– Como assim? Você não sabe?


– Não... acho que alguma coisa deu errado... – olhou para o céu meio encoberto pelas copas das árvores, a claridade que conseguia entrar era muito pouca, bem diferente do local ensolarado no qual tinha estado.


Hermione puxou o cordão e enviou uma mensagem a Rony.


– Ele também não sabe onde está, disse que é uma floresta sombria, então ele deve estar aqui também... Temos que procurar.


– Pra que lado? – Harry olhou ao redor, a paisagem era a mesma em todas as direções. – Pede para ele voltar para o Kew Gardens, a gente se encontra lá.


– Ele disse que não consegue aparatar – Hermione falou algum tempo depois, após consultar o pingente, levou as mãos em concha à boca e berrou seu nome. Nenhuma resposta. – Ele atravessou, deve ser aqui, Harry, batemos num escudo anti-aparatação, se alguém se deu ao trabalho de proteger este lugar deve ter alguma coisa aqui, e o Rony deve ter caminhado para dentro do escudo...


Harry enviou uma mensagem para ele pedindo que voltasse, mas ele não sabia em que direção seguir, pediu que os aguardasse.


– Então vamos, temos que achá-lo – Harry guardou novamente o cordão e foi caminhando em uma direção qualquer. Depois de algum tempo pararam. – Acho que não é por aqui.


Voltaram e seguiram pelo caminho oposto, não demorou para que Harry sentisse o escudo, o atravessaram e continuaram avançando, Hermione chamando por Rony de vez em quando.


– Eu gostaria que você não fizesse isso... – Harry comentou. – Não acho uma boa ideia.


– Por quê? – assim que perguntou ouviram um estalido alto de algo se partindo, não souberam precisar exatamente de que direção. As folhas e galhos se agitavam lentamente por toda a volta, mas não estavam sentindo nenhuma brisa.


– Me abraça Hermione – pediu levando os braços dela ao seu pescoço. – Vai ser mais rápido se formos por cima – lançou um olhar rápido ao redor.


– O quê...? Você não me aguenta...


– Confia em mim – Harry a ergueu do chão e se impulsionou para o alto. Teve que manter o dobro da concentração para mantê-la leve enquanto a guiava e prestava atenção ao redor. – Pede para ele sinalizar sua localização – lembrou-se.


Ela gemeu, o rosto escondido em seu pescoço, com os olhos ainda fechados puxou o cordão.


– Obrigado pela confiança... – aguardou enquanto ela enviava a mensagem com dificuldade, ainda agarrada ao seu pescoço. Uma chuva de faíscas vermelhas surgiu à esquerda, foram para lá.


– Isso, muito bem! – Rony os recepcionou enfezado. – Eu aqui sendo atacado e vocês voando por aí.


Harry colocou Hermione no chão e se voltou para a as árvores ao redor, ela puxou a varinha se aproximando rapidamente de Rony.


– Onde? Quem está te atacando? – Harry perguntou com urgência.


– Esses insetos! – ergueu o braço mostrando as marcas de picada – Pelo jeito ninguém vem aqui há tempos, estão famintos!


– Ah, Rony... – Hermione invocou, de dentro da bolsa, um repelente. – Você deveria manter o seu sempre na mochila – reclamou.


– Obrigado Mione, é por isso que eu te amo...


– Por causa de um repelente?! – ela fingiu indignação e lhe deu um beijo rápido.


– Vamos começar, então. – Harry os instigou.


– Vamos ... – Rony concordou se enchendo de creme.


Hermione tentou usar o Feitiço dos Quatro Pontos mas sua varinha ficou girando ininterruptamente na palma de sua mão, desorientada.


– Ele caprichou na proteção, com certeza é aqui – comentou satisfeita.


– Um lugar tão sombrio, só poderia mesmo estar guardando parte da alma dele... – Rony olhou para Harry e logo corou. – Não quis dizer que...


– É melhor nos apressarmos – Harry sugeriu, afastando-se.




– Vamos descansar um pouco – Hermione pediu após algumas horas e sentou-se num tronco de árvore, Rony sentou-se ao seu lado e puxou um pacote de biscoito da mochila.


Harry parou reparando a ambos, aspirou profundamente o ar ao redor. Agachou-se e cheirou um punhado de terra úmida, olhou em volta procurando marcas, foi se afastando lentamente.


– O que pretende fazer quando a encontrarmos? – Rony perguntou a Hermione.


– Começar a procurar a próxima – respondeu após pensar um pouco.


– Poderíamos dar uma pausa, só até depois do natal – sugeriu – De qualquer forma, não sabemos onde está a outra.


Hermione ouviu em silêncio e assim permaneceu enquanto considerava.


– Já se passaram quinze minutos. – Harry saltou da árvore próxima a eles, e olhou em volta.


– Não faz isso! – Rony reclamou recuperando-se do susto – Precisamos de uma hora, pelo menos, você também tem que descansar e comer.


– Há muito para ser visto e não quero ter de passar a noite aqui.


– Por que não? É provável que este local seja mais seguro que todos os outros.


– Mione – Harry disse calmamente – Há alguma coisa aqui, nesta floresta, e provavelmente estamos invadindo seu território.


– Onde? – Rony se pôs em alerta. – Sabe o que é?


– Não e não quero descobrir...


– Certo – Hermione se levantou e juntos recomeçaram a busca.


– Ainda não consigo aparatar – Rony avisou horas depois.


– Desculpem, não estou conseguindo anular esse escudo.. – Harry pediu – É muito forte...


– Tudo bem, Harry, ele deve terminar em algum momento, essa área não deve ser tão grande assim... – Hermione considerou.


A noite caiu e tiveram que interromper a procura. Ainda estavam sobre o escudo, então, tiveram que acampar lá mesmo. Os sons da noite logo se fizeram audíveis.


– Que droga é essa?! – Rony perguntou assustado com os gritos. Acharam impossível que fosse humano, mas também nunca o tinham escutado de nenhum animal.


– Não se preocupem, eu vigio. Tentem dormir um pouco.


– Estamos ocultos – Hermione disse nervosamente – seja o que for não poderá nos localizar.


– Poderão nos farejar – Harry disse da entrada da barraca. Uma linha de fogo a circundou, mas não teve confiança de que seria suficiente. Agachou e esperou.


Passou a noite observando vultos se movendo rapidamente entre as árvores. Por duas vezes chegou a ver o brilho amarelo dos olhos das criaturas mas não pôde identificá-las.


– Eu fico agora – Rony agachou ao seu lado horas depois para revezar, não tinha conseguido dormir ainda, nenhum deles.


– Não, Rony – olhou para o rosto cansado do amigo. – Eu estou bem. Você andou o dia inteiro, descanse.


– E você também.


– Eu não preciso andar o tempo inteiro, não me canso tanto. – argumentou fazendo com que entrasse novamente. Ele e Hermione continuaram próximos à entrada com as varinhas preparadas ouvindo.


Elas rodeavam o local procurando uma passagem, mas não ousavam se aproximar do fogo.


 


Continuaram, assim que amanheceu. Observaram a área, estudando os rastros deixados, para eles nada diziam. O dia terminou novamente sem que encontrassem a árvore ou chegassem ao final do escudo anti-aparatação.


As criaturas voltaram, espreitando curiosas. O fogo refletido no amarelo de seus olhos. Rony ficou agachado na entrada, a varinha marcando a palma de sua mão suada. Harry e Hermione ouviam atentos, incapazes de dormir. Elas foram se acercando da barraca ousadamente. O primeiro feitiço fez com que a mais próxima voasse para longe.


– Não as ataque, Rony! – Harry o puxou para dentro quando as outras se aproximaram raivosamente. Sob a luz do fogo visualizaram os corpos magros e descarnados, em algumas partes em que os ossos brilhavam à luz.


– Pro banheiro! – Harry os orientou quando ouviram o som de algo colidindo com a lona da barraca. – Vou afastá-las daqui – sumiu passando pela abertura.


– Harry! Fica aqui, Hermione. – Rony a conduziu ignorando seus protestos. O som das criaturas disparando em trote e o som de algo, parecido com um rugido, se perdendo na noite.


Rony correu para a saída e tentou iluminar com sua varinha a escuridão além da linha de fogo. Não existia mais nada ali.



Ela andava impacientemente de um lado para o outro, suas mensagens não estavam sendo respondidas. O fogo continuava queimando alto, não conseguiram apagá-lo.


– Ele está bem – Rony repetiu a ela. – Ele pode voar – lembrou acalmando a si mesmo.


– Então por que ainda não voltou? – ela guardou a barraca e esperou.


Aos poucos o fogo foi se extinguindo. A claridade ainda não havia chegado ao local mas o céu, acima da copa das árvores, estava começando a perder o negror.


Caminharam por vários minutos, chamando-o. A luz intensa de suas varinhas trazendo o dia para dentro daquelas terras noturnas.


– Não gritem – a voz saiu sussurrada do alto de uma árvore. Pulou para o chão e ergueu a mão, protegendo os olhos da claridade excessiva.


– O que aconteceu com você? – ela perguntou com preocupação.


– Eu as afastei – disse satisfeito consigo mesmo, apesar de estar se sentindo imundo e dolorido.


– Nós vimos. Por que não respondeu às nossas mensagens? – Rony o amparou ao percebê-lo cambaleante.


– Estou cansado.


– Cansado! – Hermione se espantou. – Você está cansado?! – repetiu furiosa. – Nós ficamos preocupados com você!


– Hermione, não... – Rony pediu. – Ele não está bem.


– Só preciso dormir um pouco – encostou-se em uma árvore e se deixou escorregar até o chão.


Hermione armou a barraca novamente e enquanto Rony o ajudava a entrar ela lançou à volta todos os feitiços de proteção que conseguiu se lembrar.


Rony o ajudou a se lavar e trocar, depois deixou que se encolhesse a um canto, dispensando o saco de dormir. Hermione se aproximou deles.


– Ele está febril – Rony a avisou. Ela sentiu sua temperatura.


– Estou bem, só preciso dormir – repetiu fracamente.


– Ele foi mordido – Rony o ignorou e abriu sua blusa expondo a marca em seu ombro. – Acha que são venenosas?


– Nunca vi algo parecido com aquilo... Não sei se essas criaturas existem para o mundo bruxo, podem ter sido criadas especialmente para estarem aqui – murmurou.


Puxou de dentro da bolsa sua maleta de remédios e pegou o estojo de curas de emergência, da loja dos gêmeos. Não conseguiu fazer com que o ferimento, causado pela mordida, cicatrizasse.


– O que faremos? – Rony perguntou.


– Eu não sei... gostaria que Gina estivesse aqui, ou Raven – ela desabafou. – Não temos ingredientes, não temos caldeirão, temos que achar um curandeiro.


Providenciaram compressas frias para impedir que a temperatura subisse e aguardaram impacientes, não conseguindo decidir o que fazer para saírem dali. Horas depois elas voltaram a rodear o local, o som de seus passos pesados soando ao redor da barraca.


– Mas ainda nem escureceu – ela constatou assustada. – Rony... – seguiu-o rapidamente quando o viu cruzar a barraca e desaparecer pela abertura.


Olhou ao redor, arrepiando-se, manteve a varinha firme e se deslocou lentamente até sentir o calor do corpo dele.


– Estou pensando em feitiços de extinção, usados para dragões. – Rony murmurou para ela.


– Por que não estão atacando? – sua voz saiu trêmula.


As criaturas permaneceram imóveis, sentadas sobre as patas traseiras, os longos braços suspensos. Aquela posição fez com que pensassem em pessoas agachadas, reunidas em um círculo perfeito e os assustou mais do que a visão de seus corpos sob a luz do dia.


– Porque também estão cansadas. – Harry disse às suas costas – Estão aqui há muito tempo.


– Você está bem? – Hermione pousou a mão trêmula em sua testa sentindo sua temperatura.


– Estou bem, Hermione – Harry manteve o olhar sobre as criaturas, que os vigiavam, esperando.


– Vamos embora, Harry – Rony sussurrou a ele – Aproveitar que não estão nos atacando agora.


– Vamos pegar a horcrux e sair – concordou com ele – Hermione, Ronald, esperem aqui, eu volto logo.


Hermione segurou seu braço assim que começou a se afastar.


– Não! Pra onde vai? Você ainda está febril... E essas criaturas?


– Preciso libertá-las – estava fraco, mas determinado – Elas estão esperando por isso – insistiu aguardando que ela o soltasse.


– Deixe-o ir Hermione – Rony pousou a mão no ombro dela – Não demore, OK? – pediu ao amigo.


Ficaram observando-o se afastar, as criaturas abandonando sua formação e seguindo-o lentamente. Pegaram suas coisas e guardaram a barraca.


– Ele sabe o que está fazendo – Rony disse a ela e a ajudou a se sentar ao seu lado.


Aguardaram atentos aos sons do lugar. Ele retornou alguns minutos depois.


– Vamos? – pediu ansiosamente, aguardou que levantassem e o acompanhassem. – O que ainda temos? Preciso comer alguma coisa – pediu a eles.


– Você está bem mesmo? – ela passou a ele suas reservas.

– Estaremos melhor quando formos embora deste lugar.


Seguiram em silêncio com atenção redobrada e esperançosos.


– Ótimo... – Rony murmurou, seus pés afundando na terra úmida.


– Isso não deveria estar aqui...


– Pode ser um sinal de que estamos na direção certa – ela avançou com dificuldade enquanto seus pés atolavam no lodo. – Flores estranhas para estarem no meio do pântano... – comentou algum tempo depois enquanto as contornava procurando manter distância.


– É provável que sejam carnívoras, se estão neste lugar... – disse Rony, segurando a mão dela para ajudá-la a se equilibrar.


Harry se afastava sobrevoando o brejo, a pouca claridade já começava a abandonar o local. Sentiu a necessidade de continuar avançando, prosseguiu deixando para trás os amigos, que se locomoviam lentamente.


Não demorou a encontrar o que urgentemente procurava, tombada em meio ao charco estava o tronco da árvore, as iniciais parcialmente encobertas pelo tempo, mas ainda visíveis, o interior, oco. O tronco foi erguido e lançado à frente, o solo estremeceu com o impacto, espalhando lama ao redor. O lugar onde ela estivera plantada nada continha.


Harry voltou para os amigos, ainda ruborizado de raiva e frustração.


– O que foi isso? – Hermione perguntou assustada.


– Não está mais lá – comentou enfurecido. – Ele a levou! Estivemos perdendo tempo! Todos esses meses...


– Merda! – Rony praguejou irritado. – Vamos embora daqui – determinou abrindo a mochila e puxando sua vassoura.


Hermione segurou com alívio a mão que ele lhe estendeu. O que mais desejavam agora era deixar aquele lugar, pelo qual tanto tinham ansiado.


Harry se impulsionou, subindo para ganhar o céu cinzento. Eles o acompanharam.



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N/A
Olá a todos que chegaram até aqui.
Gostaria de saber de vocês o que é preferível, capítulos curtos, para que possam ler rapidamente, ou longos e completos?
Tenho postado capítulos com mais de dez páginas e não sei se isso está tornando maçante o acompanhamento da fic. Podem se expressar por comentários ou e-mail, a opinião de vocês é muito importante.
Obrigada.

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