Ano Novo



Ano Novo

A verdade é que eu finalmente tinha conseguido um cara que realmente gostava de mim e a única maneira de continuar assim era eu manter meu plano de suicídio.
A noite de ano novo foi maravilhosa. Realmente fantástica. Naturalmente, eu sempre odiei o ano novo. Ou não tinha um encontro e passava a noite com amigas (e amigos gays, pra falar a verdade) vendo televisão até dormir [a programação era, claro, o ano novo em todos os lugares do mundo... Olha, virou em Sidney. E agora em Tóquio. E por ai vai, até chegar em Nova York, que víamos ao vivo. Por fim, os que sobravam acordados viam o ano novo nos lugares que viravam depois de NY].
Ou eu tinha um encontro com algum cara que me convidada porque tinha que ir alguma festa e não queria ir sozinho.
Ou então eu tinha um encontro às escuras. Horrível, não é mesmo? É pior ainda no Ano Novo. Ninguém quer passar o ano novo com um completo desconhecido, enquanto o casal de amigos que apresentou vocês se agarra em algum canto escuro. Amy Kati, naturalmente, sempre tinha um encontro de ano novo no inicio de novembro. Lembro que um pobre infeliz telefonou com apenas 3 semanas de antecedência e Amy Kati desligou na cara dele, passando a próxima hora xingando em como alguém tinha coragem de ligar só com 3 semanas de antecedência. E ela já tinha um encontro.

Esse ano foi diferente. Draco chegou as oito, vestindo um terno novo muito bem cortado. Sei que não pode parecer importante para vocês, mas para mim era um milagre. Um terno novo bem cortado não era uma coisa que eu via com muita freqüência. Os homens nunca colocavam ternos novos e bem cortados por minha causa. O de Draco era preto, a camisa branca, bem tradicional – mas ficava maravilhoso com os cabelos e a pele bem clara e os olhos cinzas.
-Gosto da roupa.
-É nova.
Eu estava usando um vestido lilás longuete [abaixo do joelho], com um laço mais escuro na cintura, de alças, que vinha com uma echarpe, também lilás. Tinha custado caro, mas eu ia morrer, então nunca ia pagar as prestações do vestido. Pelo menos não inteiras.
-Gosto do vestido.
-Estava pensando em me enterrar com ele.
-Não.
-O que quer dizer com “Não”? [Não? Talvez queira dizer “não, não morra?”]
-Devia ser enterrada nua e com o caixão aberto.
-Você está brincando?
-Não, não estou, Hermione. Você não acredita que tem um corpaço, mas acontece que ele me excita e aposto que excitaria todos os caras da funerária.
[E antes de sair, nos fizemos. Por acaso é algum crime?]

Fomos para a Times Square.
Gente. Centenas, milhões, bilhões de pessoas. E Deus, como eram feias. Aquela gente não ia ao dentista. Era uma massa de cheiros e barulhos. Draco me segurou com força, enterrando meu sutiã nas minhas costas. É preciso que você passe o ano novo na Times Square pelo menos uma vez na vida. Eu odiei tudo, mas fiquei contente de ter ido pelo menos uma vez. De alguma maneira, eu me senti bonita. É, eu era a mulher na Times Square com os dentes mais bonitos. Não ficamos até a meia noite, apenas chegamos, olhamos e fomos embora. Foi estranho.
Draco foi convidado para duas festas – a que tinha de ir e a que ele queria ir. Naturalmente, nos livramos depressa da “que tinha que ir”. Era dado pelo primo de Draco, Scorpius. Era em um apartamento velho e mal mobiliado na West End Avenue, onde estava a família inteira de Draco e é claro, a ex-mulher de Draco.
-Olá, Draco.
-Olá, Pasny, como vai você?
-Como se você se importasse com isso.
-E por que você acha que eu não me importo?
-As crianças voltaram imundas no último fim de semana.
- Tenho certeza que se divertiram mais com o pai imundo do que a semana inteira com a mãe esterilizada.
-O mesmo Draco de sempre.
-A mesma velha Pasny.
-Muito engraçadinho, Draco. Um dia desses, boto você na cadeia por falta de pagamento de pensão.
-Eu estou pagando.
-Está pagando a das crianças. E eu? O que espera que eu faça com cinqüenta e dois dólares e cinqüenta centavos por semana? Eu tive que arranjar um emprego de meio período enquanto as crianças estão na escola.
-Oóó, a coitadinha da Pasny tem que trabalhar.
-Você vai ver só e não vai demorar. Um dia desses vai acordar com uma intimação na cara.
-Que bom ter encontrado você, Pasny. Reafirmou a minha fé no divórcio.
-Vá pro inferno.
-Vá se foder... Afinal, ninguém mais que foder você.
Recentemente, algumas pessoas estavam falando que eu não devia me preocupar em me casar – que logo haverá uma nova onda de divorciados. Eu não quero ser a segunda esposa. Quero ser a primeira, aquela que ele abandona por não ser sua empregadinha e ter um gênio de megera.
Saímos da festa do primo Scorpius ás onze e meia e tentamos correr até a de Cho e Mark, um casal que está vivendo junto porque acha que o casamento já era. Draco é colega de Mark no Departamento de Assistência Social e eu conhecia Cho da UNY.
Qual é a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa quando é meia noite na noite de ano novo? A pior é estar sozinha. A segunda pior é estar no metrô. Ninguém se dá conta que chegou o ano novo. Alguns casais se beijam, mas já estavam se beijando desde que entraram lá. Alguns estão sozinhos e há um cheiro de vomito no ar. Os piores são o que estão voltando à meia noite do trabalho. São os o que não tem escolha, ou trabalham na noite de ano novo ou perdem o emprego. Meu Deus, é triste.
Por causa de tudo isso, quando Draco me beijou a meia noite, não foi grande coisa, foi comum.

Cho e Mark moravam num apartamento de três quartos, sendo que era o quarto deles, o quarto de Cho e o quarto de Mark.
Cho serviu a comida, a música era boa, as pessoas eram ótimas e mal podíamos esperar à hora de voltar ara casa e para a cama. Fomos de táxi para casa e já estávamos sem roupas quando chegamos na porta da frente. Outro orgasmo e eu já até perdi a conta.
-Draco?
-Sim?
-Cho e Mark pareciam felizes, não acha?
-Hermione, não faça isso.
-Não faça o que?
-Me pedir para morar com você.
Ele foi embora na manhã seguinte. Passou uma semana e não soube mais dele. Não liguei. Tive vontade, mas não liguei. Era esse o meu treinamento.
“Hermione, querida, os homens não gostam quando você parece desesperada”.
OK, eu estava desesperada, eu só não podia deixar que Draco soubesse disso, parecendo desesperada.
Mais outra semana e não pude resistir. Peguei o telefone, disquei o número e desliguei várias vezes. Na terceira semana, ligava regularmente todo o dia. Não – ligava a cada 10 minutos, mesmo de madrugada. Nunca consegui falar com ele e só pude presumir que ele tinha achado outra.
Fiquei feliz de não ter cancelado meus planos de me matar.
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