A Idade do Casamento??



A Idade do Casamento??

Minha mãe se casou aos 20 anos. Eu sempre soube disso, mas quando comecei a me aproximar das duas décadas, ela contava-me compulsivamente a história do seu casamento. Não importava o que eu estava fazendo – abrindo uma lata de atum, por exemplo – e ela de alguma maneira associava isso com o fato de ter casado aos vinte anos.
Berenice Arnold, aliás, minha mãe, foi a mulher mais bonita de Washington Heights. Era uma beleza mignon, de cabelos escuros e olhos azuis. Não era só a opinião de seus pais e de Edward Granger, que a pediu em casamento com apenas 16 anos... Era a opinião de toda a vizinhança. Era a opinião também dos juízes, e de todas as pessoas importantes, que julgaram o concurso de Miss Coney Island 1984. Berenice Arnold entrou e ganhou.O problema é que eu me pareço com meu pai, e ele não é nenhuma Miss Coney Island. Amy Kati, a sortuda, é igualzinha a minha mãe.
A vida é injusta.
A srta. Berenice Arnold podia ter se casado com muitos homens. Alguém, que hoje em dia é advogado muito conhecido, quis se casar com ela, e até um maestro de uma orquestra sinfônica famosa quis se casar com ela. Mas ela se divertia à noite e trabalhava como modelo de meias de seda durante o dia. Berenice tinha, e ainda tem, pernas maravilhosas. Já eu... Eu tenho estrias.
Aos vinte anos, a mãe dela disse lhe que ela devia se casar. E ela, como gosta de contar, ouvia tudo o que a mãe dizia, porque sabia melhor das coisas. Tomou essa decisão escolhendo meu pai entre inúmeros admiradores. Meu pai é uma boa pessoa, mas porquê uma Miss Coney Island o escolheria em vez do maestro?
“- Por isso, me escute, Hermione, ouça que sua mãe está dizendo. Case-se enquanto é jovem. É melhor encontrar alguém quando ainda está na escola. Quando a gente sai de lá, fica cada vez mais difícil...”
Casada? Você está dizendo... Casada? Mamãe, essa é sua filha Hermione, que não foi programada para o casamento. Na sua época, as coisas eram diferentes. Na sua época, não existiam noivas feias. Todo mundo se casava. A magricela Sharon, a gorda Harriet, a compridona Bea. Nasci tarde demais, mamãe.
- HERMIONE, QUERIDA, É MELHOR ENCONTRAR ALGUÉM QUANDO AINDA ESTÁ NA ESCOLA. QUANDO A GENTE SAI DE LÁ, FICA CADA VEZ MAIS DIFÍCIL.
Bem, havia um código não expresso que se você já fosse veterana e não tivesse um namorado firme, um noivo ou um caso (ou CASADA!!), era melhor desistir de Syracuse. Já tínhamos sobrevivido a uma leva de calouras e não íamos sobreviver a mais outra.
Amélia Bones começou a sair com um calouro quando já era uma veterana, e todas nós rimos dela. Ela se vingou se casando com ele bem na frente de nossos olhares invejosos. Ouvi dizer, anos depois, que ela se divorciara e tornara a se casar. Isso não é justo, Amélia. Muitas de nós nunca tivemos uma chance. Mamãe, ela teve duas, e nem ao menos uma.
No ano em que eu era veterana, aproximadamente duas mil garotas pediram transferência, a maioria para a New York University, o lar das transferidas.
Gostariam que soubessem que na NYU eu já não era mais a Trepada Fácil do Campus.

Fato: é difícil ser Trepada Fácil quando se mora longe e tem que tomar mais de um ônibus. .
Podia ser um novo começo. Poderia virar virgem outra vez. Desempenhei esse papel varias vezes... Até os 24 anos, quando essa história de ser pura já era ultrapassada.
Encontrar um homem - e não era isso que todas nós queremos, meninas? - era muito mais difícil na NYU, onde havia centenas de beldades, todas procurando o homem certo. Se ainda não era O Homem, seria em poucos anos, depois de alguns filhos, uma casa em Scarsdale, e um presente de casamento de cinco mil dólares dos pais da moça.
Não podia competir com elas. Não podia me sentar no Centro Estudantil Loeb dia após dia, fingindo ler Os problemas de comportamento das Crianças , de olhos grudados na porta...
“Desculpe, essa cadeira está ocupada?” (cedendo o lugar graciosamente) “Não, não está”. “Vejo que está lendo Os problemas de comportamento das Crianças (cruzando os braços e jogando a cabeça para trás) “Estou sim” “Posso lhe oferecer uma xícara de café?” “Eu adoraria!”.
Isso nunca aconteceu comigo. O único homem que falou comigo no Centro Estudantil Loeb foi o guarda, dizendo que era hora de fechar.
Por isso adotei a moda artística. Usava calças compridas, camisetas e tênis sem meia, mesmo na neve.
“Edd, não sei como essa menina não apanha uma pneumonia”.
Mamãe, você costumava me implorar para usar um vestido descente. Quase toda à noite, quando chegava em casa, havia uma caixa da Klein’s com “um encantador conjuntinho” (tamanho 44). Eu a fazia devolver, mas eles continuavam a chegar. Vestidos em tonalidades emagrecedoras, com suéteres e saias combinando, e um vestido preto para coquetel, para quando jantasse fora. Jantar fora?
Na NYU, arranjei um ménage à trois platônico.
“Ah, essa não, Hermione! Você jurou que tinha mudado! Isto é, achamos que as coisas iam melhorar, e agora essa! É demais”.
Acalmem-se. Acalmem-se todos.
Éramos eu e Colin. Dizia que não tinha sobrenome, mas tinha. Os boletins o registravam como Alan Goldstein. E havia também o professor Fudge, do Departamento de Dramaturgia da Faculdade de Educação.
Oh, meu Deus! A Faculdade de Educação! Nunca desejei ser professora, nunca. Quando Demelza e eu, ou Susana e eu, ou minha companheira de quarto,Gina falávamos horas e horas sobre o que queríamos ser, nunca falei em ensinar, nunca. Quando era bem pequena, queria ser esposa e mãe. Demelza, por mais banal que fosse, queria ser bailarina. Acho que sabia, naquela mesma época, que eu não podia ser bailarina. Freqüentei a escola de balé tantos anos quanto ela, mas nunca fui capaz de fazer nem uma estrela, ou mesmo atravessar a sala nas pontas dos pés. Cinco anos de sapatilhas e não dava nem para enganar. Por isso, queria ser uma esposa e mãe. Por que, não sei. Na época parecia uma boa idéia, e eu recebia a total aprovação dos parentes.
Quando entrei no colegial, havia decidido que não sabia o que queria ser. Claro que queria casar e ter filhos, mas também queria ter uma carreira profissional.
- Que curso está fazendo na faculdade, Hermione, querida?
- Belas-Artes.
- Acho que a educação é uma carreira tão boa para mulheres. Bons salários, boas férias, e é sempre uma coisa que se pode recomeçar a fazer. Mesmo se já estiver casada, é uma boa atividade para retornar depois que as crianças crescerem.
- Mas, mamãe, eu detesto ensinar! Detesto!
- Como é que pode saber sem nunca ter tentado? Quer saber? Faça o que bem entender, mas também seja professora. Seu pai não tem dinheiro para desperdiçar num curso universitário inútil. Eu não conseguiria ganhar um centavo se tivesse que trabalhar. Ainda bem que não preciso, mas não tive um pai que mandasse para a faculdade.
- Tá bom...
Por isso, lá estava eu, amarrada a um curso superior de dramaturgia e um de menor nível de inglês, na Faculdade de Educação, onde encontrei Colin e o professor Fudge. Nós três nos envolvemos por sermos as estrelas do Departamento de Teatro. Colin era a estrela principal, participando de todas as produções. O professor Fudge era o principal diretor, encarregado de todas as peças importantes. E Hermione? Hermione era a raladora numero um. Varria o palco, pintava os cenários, trabalhava como contra-regra, abria as cortinas e na festa da noite estréia cantava o ultimo hit (previamente escolhido por Colin). É claro que eu cantava desafinado.
Por que tinha escolhido dramaturgia? Por que queria ser aceita? Por que as provas finais eram fáceis? Não sei.
Colin, o Professor Fudge e eu dirigíamos o departamento e estávamos sempre juntos. Colin e eu alimentávamos o professor com café e rosquinhas. O professor e eu mantínhamos Colin alimentado e vestido. Meu pai não sabe, mas praticamente sustentou Colin na faculdade. Sempre que eu comia, ele também comia – e eu pagava. Mas eu não me incomodava com isso. Colin era uma dessas pessoas que a pobreza torna ainda mais atraente. Quando fazia aniversário, eu lhe comprava camisas e suéteres – na conta de Edward Granger.
E o professor Fudge nos fornecia um refúgio. Eu tinha que ir de Long Island e Colin do Brooklyn. Que maravilha ter um lugar para descansar. O bom professor deu para cada um uma chave de seu apartamento no West Village. E o bom professor também me deu nota 5 em Teatro Infantil.
Colin, o professor e eu nos amávamos uns aos outros. Era uma tarefa difícil tentar decidir com qual daqueles cavalheiros eu ficaria finalmente.
“HERMIONE, QUERIDA, TENTE ARRANJAR ALGUÉM QUANDO AINDA ESTÁ NA ESCOLA. DEPOIS QUE VOCÊ SAI, FICA MAIS DIFICIL”.
Colin tinha maravilhosos olhos azuis. Era a primeira coisa que eu notava nele. Também tinha um lindo cabelo castanho encaracolado. E eu sabia que ele ia vencer. Não no cinema – nós, do Departamento de Dramaturgia da NYU, não raciocinávamos assim. Colin ia ter certamente toda a Broadway a seus pés.
E podia também ter eu como esposa. Íamos viver no Central Park Oeste num enorme e velho ateliê. Seriamos fotografados pela Vogue ele, com um suéter de cola rule, e eu, vinte quilos mais magra. Nossos amigos seriam todos artistas.
Por outro lado, o Professor Fudge tinha muito a seu favor. Olhos negros e um ar bastante desafiador. Não exatamente bonito, mas bem acabado e combinado com jaquetas de veludo e um cachimbo. Ele, na verdade, não tinha essas coisas, mas a velha Hermione as comprava de presente de aniversario.
Ah, sim, Fudge também seria um vencedor. Não estava sempre envolvido com alguma produção off-Broadway ? No tempo em que eu conheci, foi oferecido a ele três trabalhos como diretor, e tão logo que ele conseguisse realmente um, ia comunicar sua demissão ao chefe do Departamento e parar de lecionar. Viveríamos em um velho sobrado do Village, de pé-direito alto e aluguel baixo.
Sim, esse era um problema e tanto. Colin ou Fudge? Não queria magoar nenhum dos dois. Será que eu poderia ter os dois? Esposa de um e amante do outro? Então? A história da pequena Hermione está ficando excitante? Não... A história da pequena Hermione fica deprimente. O que vocês esperavam?
Bem no meio do ultimo ano, quando eu estava decidindo por qual deles eu devia me apaixonar, eles se apaixonaram um pelo outro. Surpresos? Pode apostar que eu também.
Sei por que levei tanto tempo para perceber na ocasião. É difícil perceber quando um homem está de caso com outro. Não há marcas de batom nas camisas, nem roupas de baixo esquecidas por acaso.
Assim, como se pode perceber? Há maneiras. Garotas solteiras, escutem, para que não aconteça com vocês o que me aconteceu. A primeira coisa a observar são as roupas. Homens que estão dormindo juntos pegam roupas emprestadas um dos outros. Eu via uma camisa de Fudge vestida por Colin, ou o cinto de Colin usado por Fudge. A jaqueta era trocada a vontade.
Começaram também a mudar o jeito de falar. Em vez de “até amanhã”, falavam “até mais”, mas apenas um ouvido treinado pode perceber isso e outras mudanças.
A terceira maneira de ficar sabendo é pelos CDs. Quando homens são amigos, podem comprar CDs iguais, mas se estão dormindo juntos, compram um só. No dia em que eu vi All The Lost Souls, do James Blunt na casa do professor Fudge e eles chamaram de “nosso CD”, eu soube. Que desperdício.

Todo mundo sabe que as formaturas na NYU são simplesmente nojentas. O que há para comemorar? Eu nem ao mesmo tirei uma foto para o álbum. Era deprimente pensar que passara 4 anos na faculdade e tudo o que eu tinha era um diploma... E não um marido.
Ninguém do Departamento de Dramaturgia vai à festa de formatura. Dizemos tchau aos colegas no ultimo dia de provas e até nunca mais. Nunca ouvi ou vi nada ou quase nada sobre eles. Que classe de Arte Cênicas mais bem sucedida aquela! Vi um deles num comercial de TV uma vez, e foi tudo.
Hermione Granger estava planejando não aparecer na formatura, mas a mãe de Hermione Granger fez ela se sentir culpada por ter tais idéias.
Tap, Tap, Tap. Ouvi minha mãe tamborilar na porta do quarto.
- Hermione, é mamãe. – fala sério. Como se eu achasse que era meu pai batendo com longas unhas pontudas.
E entrou, preparada para dormir e coberta com hidratante. Não sei não, talvez isso funcionasse. Todo mundo ficava surpreso ao descobrir que ela tinha uma filha na faculdade. “Você que parece estar na faculdade”, diziam.
- Hermione, seu pai não sabe que eu estou falando com você. Você sabe que ele não é o tipo de pessoa que se expressa bem, mas é muito sentimental. Sei que ficaria arrasado em não assistir a formatura da filha mais velha.
- Está bem.
Homem de sorte. Assistir a formatura da filha e também ao velório. Que filha atenciosa!
Assim, eu me formei no dia mais quente do ano. Fiquei lá, orgulhosa e tristemente com os outros formandos da Faculdade de Educação, no campus norte da cidade, um lugar onde eu nunca tinha ido antes, e muito distante de onde os pais estavam sentados. Não nos entregaram nossos diplomas – isso levaria uns 4 dias. Não recitaram os nossos nomes no microfone. Todos os médicos formandos recitaram o Juramento de Hipócrates. Houve um discurso de como a formatura era o inicio, e o microfone estava meio defeituoso. Ninguém do Departamento de Engenharia se mexeu.
Eu me esforçava muito para sentir alguma coisa, mas tudo o que eu conseguia pensar era no meu cabelo. Tinha acabado de alisá-lo num lugar de Décima Avenida. Era freqüentado por um monte de garotas judias de cabelo crespo. Sentia meu cabelo enrolar, pronto para explodir. E foi tudo que eu senti, quando vi minha mãe com a câmera digital dela, e meu pai, que esticavam o pescoço para ver sua preciosa filha.
Como presentes de formatura me ofereceram ou uma plástica no nariz ou um casaco de peles de gola alta. Fiquei com o casaco.
“Nossa, Hermione acaba de se formar. Vai ser professora”.
Não! Eu não, eu não, eu não!
Minha mãe tinha que dizer a todo mundo que eu ia ser professora. Disse isso com tanto orgulho. Demelza, Susana, mamãe, será que mencionei a palavra “professora” alguma vez?
No momento em que entramos em casa naquele dia, papai se sentou para ler o jornal; minha esbelta irmã Amy Kati saiu com um simpático rapaz num Toyota Conversível Prateado; mamãe foi fazer um chá; e eu fui para o quarto planejar o resto da minha vida.


MEU PLANO DE VIDA:

1)Alisar o cabelo
2)Arranjar um trabalho criativo
3)Casar,ter filhos,etc,etc.

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